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Geografia Geral & Brasil 01 Processo de Desenvolvimento do Capitalismo O capitalismo, como sistema econômico e social, passou a ser dominante no mundo ocidental a partir do século XVI. A transição do feudalismo para o capitalismo, porém, ocorreu de forma bastante desigual no tempo e no espaço: foi mais rápida na porção ocidental da Europa e muito mais lenta na porção central e na oriental. O Reino Unido foi, por várias razões, o país no qual a transição foi mais acelerada. O capitalismo evoluiu gradativamente e foi se transformando à medida que novas dificuldades surgiam. O sistema capitalista sempre apresentou, ao longo de sua história, grande dinamismo. Isso se explica devido ao seu profundo enraizamento histórico e cultural, pois sua origem é muito antiga (final da Idade Média) e sua evolução histórica foi muito lenta, particularmente na Europa Ocidental e na América Anglo-Saxônica. Gradativamente, ele foi se sobrepondo a outras formas de produção, até se tornar hegemônico, o que, em âmbito mundial, ocorreu em sua fase industrial. Considerando seu processo de desenvolvimento, costuma-se dividir o capitalismo em três fases: Século XVI XVII XVIII XIX 1850 XX 1914/1918 CAPITALISMO COMERCIAL CAPITALISMO INDUSTRIAL Feudalismo MERCANTILISMO Expansão Marítima Europeia Acumulação Primitiva de Capitais Colonialismo (partilha da América) Carbonífero Petrolífero Têxtil Elétrica Naval Química Siderúrgica Motores Primeira Revolução ------- Segunda Revolução Industrial Industrial Reino Unido Estados Unidos FrançaAlemanha Alemanha Estados UnidosJapão Canadá Rússia L I B E R A L I S M O Imperialismo 1885 Congresso de BerlimRevolução (partilha da África) Russa 1914/1918 1929 1939/1945 1950 1960 1970 1980 1990 CA P I T A L I S M O F I N A N C E I R O Nuclear Informática Robótica Segunda Guerra Telecomunicações Mundial Imperialismo DESCOLONIZAÇÃO Terceira Revolução Monopólios e Oligopólios Subdesenvolvimento Industrial (trustes e Cartéis) Conglomerados Estados Unidos / Japão L I B E R A L I S M OK E Y N E S I A N I S M O (Clássico) intervenção do Estado na economia (welfare State) NEOLIBERALISMO Formação da Thatcher (Reino Unido) União Soviética Reagan (Estados Unidos) Crise de 29: queda da Globalização da Economia Bolsa de Nova Iorque Colapso do Socialismo Fim da União Soviética Primeira Guerra Mundial Revolução Técnico Cientifico Geografia Geral & Brasil 02 O CAPITALISMO COMERCIAL Essa etapa do capitalismo estendeu-se desde fins do século XV até o século XVIII. Foi marcada pela expansão marítima das potências da Europa Ocidental na época (Portugal e Espanha), em busca de uma nova rota para as Índias, objetivando romper a hegemonia italiana no comércio com o Oriente via Mediterrâneo. Foi o período das Grandes Navegações e descobrimentos, das conquistas territoriais, e também da escravização e genocídio de milhões de nativos da América e da África. O grande acúmulo de capitais se dava na esfera da circulação, ou seja, por meio do comércio, daí o termo capitalismo comercialpara designar o período. A economia funcionava segundo a doutrina mercantilista, que, em sentido amplo, pregava a intervenção governamental na economia, a fim de promover a prosperidade nacional e aumentar o poder do Estado. Nesse sentido, defendia a necessidade de acumulação de riquezas no interior dos Estados, e a riqueza e o poder de um país era medido pela quantidade de metais preciosos (ouro e prata) que possuíam. Esse princípio ficou conhecido como metalismo. Após a descoberta de ouro e prata na América, houve um enorme afluxo de metais preciosos para a Europa, sobretudo para a Espanha, o Reino Unido e Portugal. Outro meio de acumular riquezas era manter uma balança comercial sempre favorável, daí o esforço para exportar mais do que importar, garantindo saldos comerciais positivos. Assim, o Estado deveria ser forte para apoiar a expansão marítima e o colonialismo, que garantiriam alta lucratividade, já que as colônias eram obrigadas a vender seus produtos às metrópoles a preços baixos e a comprar delas o que necessitavam a preços altos. O mercantilismo foi fundamental para o desenvolvimento do capitalismo, pois permitiu, como resultado de um comércio altamente lucrativo, da exploração das colônias e da pirataria, grande acúmulo de capitais nas mãos da burguesia europeia. Karl Marx designou essa fase como a da acumulação primitiva, primária ou inicial de capitais, somada a outros fatores, que veremos a seguir, criou as condições, primeiro no Reino Unido e depois na Europa continental, para que ocorresse a Revolução Industrial, projetando o capitalismo para sua fase seguinte. Política econômica desenvolvida pelos Estados europeus entre os séculos XVI e XVIII, baseada no absolutismo estatal e na empresa privada. Corresponde à transição do feudalismo para o capitalismo, portanto à era de acumulação do capital. Caracteriza-se pela interferência do governo na economia, na acumulação de metais preciosos, na balança comercial favorável (exportação maior que importação) e na exploração colonial. O fortalecimento do poder real depende de sua capacidade de acumular riquezas e de proteger a nação da concorrência militar e econômica de outros países. Com a formação das Monarquias nacionais surge o desejo das nações de se tornar potências, apoiadas pela burguesia. Nessa época, a riqueza de uma nação é determinada pela quantidade de metais preciosos (ouro e prata) que possui. Os países que não têm acesso direto às minas procuram aumentar seu comércio. Para isso iniciam sua expansão marítima e comercial, conquistando e explorando novos territórios.Para controlar a riqueza e a economia da nação, os Estados utilizam-se de barreiras alfandegárias, tarifas de comércio, incentivo às empresas privadas, controle da produção interna e promoção das atividades comerciais. A criação de companhias de comércio para a exploração colonial também é um elemento da política mercantilista. São empresas privadas nas quais se associam o governo e empresas comerciais de um país para ampliar e defender, inclusive militarmente, os negócios nos territórios então descobertos. Um exemplo é a Companhia Holandesa das Índias Ocidentais, cujo objetivo era garantir para a Holanda (Países Baixos) o mercado fornecedor de açúcar. Com a Revolução Industrial, em meados do século XVIII, o mercantilismo é substituído pelo liberalismo econômico, que defende a não interferência do Estado na economia. Geografia Geral & Brasil 03 O CAPITALISMO INDUSTRIAL O capitalismo industrial foi marcado por grandes transformações econômicas, sociais, políticas e culturais. As maiores mudanças resultaram do que se convencionou chamar Revolução Industrial (estamos nos referindo aqui à Primeira Revolução Industrial; ocorrida no Reino Unido na Segunda metade do século XVIII). Um de seus aspectos mais importantes foi a enorme potencialização da capacidade de transformação da natureza, por meio da utilização cada vez mais disseminado de máquinas movidas a vapor produzido pela queima de carvão, tornando acessível aos consumidores uma quantidade cada vez maior de produtos, o que multiplicava os lucros dos produtores. O comércio não era mais a essência do sistema. O lucro – objetivo dessa nova fase do capitalismo – advinha fundamentalmente da produção de mercadorias. Mas de que modo se lucrava com a produção em série de tecidos, máquinas, ferramentas, armas? Ou com os rápidos avanços nos transportes, graças ao surgimento dos trens e barcos a vapor? Foi Karl Marx, um dos mais influentes pensadores alemães do século passado, quem desvendou o mecanismo da exploração capitalista, que é a essência do lucro, chamando-o de mais- valia. O trabalho assalariado é uma relação tipicamente capitalista, pois se dissemina à medida que o capital começa a ser reproduzido, provocando uma crescente necessidade de expansão dos mercados consumidores. O trabalhador assalariado, além de apresentar maior produtividade que o escravo, tem renda disponível para o consumo, ao contrário daquele. Assim, a escravidão, uma relação de trabalho típica da fase comercial do capitalismo, foi extinta quando o trabalho assalariado passou a predominar. Com o aumento da produção industrial, a partir de meados do século XIX, mais e mais fábricas necessitavam de matérias-primas, de energia, de mão de obra e de mercados para seus produtos. A industrialização não se restringia somente ao Reino Unido; já se expandira para a Bélgica, a França, a Alemanha, a Itália, a Rússia e até para além da Europa: os Estados Unidos e, de forma incipiente, o Japão. Sistema de governo no qual o poder é centralizado nas mãos do monarca, característico dos regimes da maioria dos Estados europeus entre os séculos XVII e XVIII. Os reis controlam a administração do Estado, organizam Exércitos permanentes, dominam a padronização monetária e fiscal, procuram estabelecer as fronteiras de seus países e intervêm na economia nacional por meio de políticas mercantilistas e coloniais. Também criam uma organização judiciária nacional, a justiça real, que se sobrepõe ao fragmentado sistema feudal. A centralização do poder desenvolve-se a partir da crise do feudalismo. Com o crescimento comercial, a burguesia tem interesse em disputar o poder político com os nobres e apoia a centralização do poder. A Reforma Protestante do século XVI também colabora para o fortalecimento do poder monárquico, pois enfraquece o poder papal e coloca as igrejas nacionais sob o controle do soberano. Com a evolução das leis, a partir do estudo do direito romano, surgem teorias que justificam o absolutismo, como as de Nicolau Maquiavel, Jean Bodin (1530-1596), Jaques Bossuet (1627-1704) e Thomas Hobbes (1588-1679). O Estado absolutista típico é a França de Luís XIV (1638-1715). Conhecido como o Rei Sol, a ele é atribuída a frase que se torna o emblema do poder absoluto: "O Estado sou eu". Luís XIV atrai a nobreza para o Palácio de Versalhes, perto de Paris, onde vive em um clima de luxo inédito na história do Ocidente. Na Inglaterra, no início do século XVI, Henrique VIII, segundo rei da Dinastia Tudor, consegue impor sua autoridade aos nobres com o apoio da burguesia e assume também o poder religioso. O processo de centralização do poder completa-se no reinado de sua filha Elizabeth I. No século XVIII surge o despotismo esclarecido, uma nova maneira de justificar o fortalecimento do poder real, apoiada pelos filósofos iluministas. O processo de extinção do absolutismo na Europa começa na Inglaterra com a Revolução Gloriosa (1688), que limita o poder real com a Declaração de Direitos (Constituição), assinalando a ascensão da burguesia ao controle do Estado. Na França, o absolutismo termina com a Revolução Francesa (1789). Nos outros países ele vai sendo derrotado com as Revoluções Liberais do século XIX. Geografia Geral & Brasil 04 Se, no mercantilismo (fase comercial), o Estado absolutista era favorável aos interesses da burguesia comercial, no tocante à atuação da nova burguesia industrial, ou capitalista, era um empecilho. Ele não deveria intervir na economia, que funcionaria segundo a lógica do mercado, guiada pela livre concorrência. Consolidava-se, assim, uma nova doutrina econômica: o liberalismo. Dissemina-se entre os capitalistas essa nova ideologia, difundida por economistas britânicos, como Adam Smith lançou as bases do liberalismo no livro A riqueza das nações, publicado na Inglaterra em 1776. Essas novas ideias interessavam principalmente à Inglaterra, “oficina do mundo” – devido ao seu avanço industrial – e “rainha dos mares” – devido ao seu poderio naval. O país vendia seus produtos aos quatro cantos do planeta. Dentro das fábricas, mudanças importantes estavam acontecendo: a produtividade e a capacidade de produção aumentavam velozmente; aprofundava-se a divisão de trabalho e crescia a produção em série. Nessa época, segunda metade do século XIX, estava ocorrendo o que se convencionou chamar de Segunda Revolução Industrial. Uma das características mais importantes desse período foi à introdução de novas tecnologias e novas fontes de energia no processo produtivo. Pela primeira vez, tendo como pioneiros os Estados Unidos e a Alemanha, a ciência era apropriada pelo capital, ou seja, era posta a serviço da técnica, não mais como na Primeira Revolução Industrial, ocorrida no século XVIII, quando os avanços tecnológicos eram resultado de pesquisas espontâneas e autônomas. Agora havia uma verdadeira canalização de esforços por parte das empresas e do Estado para a pesquisa científica com o objetivo de desenvolver novas técnicas de produção. A siderurgia avançou significativamente, assim como a indústria mecânica, graças ao aperfeiçoamento da fabricação do aço. Na indústria química, com a descoberta de novos elementos e materiais, ampliaram-se às possibilidades para vários novos setores, como o petroquímico. A descoberta da eletricidade beneficiou as indústrias e a sociedade em geral, pois promoveu grande melhoriana qualidade de vida. O desenvolvimento do motor a combustão interna, e a consequente utilização de combustíveis derivados do petróleo, abriu novos horizontes para os transportes, que se dinamizaram imensamente, em virtude da expansão das indústrias automobilística e aeronáutica. Os fragmentos a seguir, do livro de Michel Beaud, nos dão uma ideia clara de como foi esse período. Com o brutal aumento da produção, pois a industrialização expandia-se para outros países, acirrou-se cada vez mais a concorrência. Era cada vez maior a necessidade de se garantirem novos mercados consumidores, novas fontes de matérias-primas e novas áreas para investimentos lucrativos. Foi dentro desse quadro que ocorreu a expansão imperialista na Ásia e na África. Em 1885, na Conferência de Berlim, retalhou-se o continente africano, partilhado entre as potências europeias. Às duas potências hegemônicas da época, Reino Unido e França, couberam as maiores extensões de territórios coloniais. Portugal e Espanha há muito decadentes, tentaram conservar seus domínios, conquistados no século XVI. Bélgica e Países Baixos, apesar de terem perdido muito do poderio alcançado no século XVIII, ocuparam importantes possessões. Finalmente, Alemanha e Itália, recentemente unificadas, apoderaram-se de pequenas porções territoriais. A partilha imperialista das potências industriais consolidou a divisão internacional do trabalho, pela qual as colônias se especializavam em fornecer matérias-primas baratas para os países que então se industrializavam. Tal divisão, delineada no capitalismo comercial, consolidou-se na fase do capitalismo industrial. Assim, estruturou-se nas colônias uma economia complementar e subordinada à das potências imperialistas. Nessa época, também surgia uma potência industrial fora da Europa: os Estados Unidos da América. Em 1823, o então presidente norte- americano James Monroe decretou a Doutrina Monroe, que tinha como lema “A América para os Americanos”. Assim, os Estados Unidos delimitavam a América Latina como sua área de influência econômica e geopolítica. Na Ásia, também em fins do século XIX, o Japão emergiu como potência, sobretudo após a ascensão do imperador Mitsuhito, que deu início à chamada Era Meiji. O império do Sol passou a competir com as potências europeias na conquista de territórios no leste da Ásia, como a rica China, disputado como os britânicos e os russos. Geografia Geral & Brasil 05 A Alemanha, por ter se unificado tardiamente (1871), perdeu a fase mais importante da corrida imperialista e sentiu-se lesada, especialmente frente ao Reino Unido e à França. Além disso, como a sua indústria crescia em ritmo mais rápido que a dos demais países, também se ressentia mais da falta de mercados consumidores. O choque de interesses internos e externos entre as potências imperialistas europeias acabou levando o mundo à Primeira Guerra Mundial (1914-1918). Assim, a primeira metade do século XX, marcada por significativos avanços tecnológicos, foi também um período de grande instabilidade econômica e geopolítica. Além da Primeira Guerra Mundial, ocorreu a Revolução Russa de 1917, a crise de 1929 e a Grande Depressão, a ascensão do nazismo e o fascismo na Europa e a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Nessas poucas décadas, o capitalismo passou por crises e transformações, adquirindo novos contornos. O CAPITALISMO FINANCEIRO Uma das consequências mais importantes do crescimento acelerado da economia capitalista foi brutal processo de concentração e centralização de capitais. Várias empresas surgiram e cresceram rapidamente: indústrias, bancos, corretoras de valores, casas comerciais, etc. A acirrada concorrência favoreceu as grandes empresas, levando a fusões e incorporações que resultaram, a partir de fins do século XIX, na monopolização ou oligopolização de muitos setores da economia. O capitalismo entrava desse modo, em sua fase financeira e monopolista. É consenso marcar como o início dessa nova etapa da evolução capitalista a virada do século XIX para o século XX, coincidindo com o período da Expansão Imperialista (1875- 1914). No entanto, a consolidação só ocorreu efetivamente após a Primeira Guerra Mundial, quando as empresas tornaram-se muito mais poderosas e influentes, acentuando a internacionalização dos capitais. Boa parte dos grandes grupos econômicos da atualidade surgiu nesse período. Consolidou-se, particularmente nos Estados Unidos, um vigoroso mercado de capitais: as empresas foram abrindo cada vez mais seus capitais através da venda de ações em bolsa de valores. Isso permitiu a formação das gigantescas corporações da atualidade, cujas ações estão Doutrina política e econômica que visa assegurar a liberdade dos indivíduos e limitar o poder do Estado. As ideias liberais - formuladas na Europa entre os séculos XVII e XIX - desafiam os Estados absolutistas e mercantilistas vigentes em favor da instituição de governos constitucionais baseados no livre mercado. Sua difusão está ligada ao desenvolvimento do capitalismo e à ascensão da classe burguesa. Liberalismo político – As diretrizes do Estado liberal são expostas pelo inglês John Locke (1632-1704) em Dois Tratados sobre o Governo (1690). Locke formula a teoria dos direitos naturais, segundo a qual os indivíduos possuem, por natureza, direitos inalienáveis à vida, à liberdade e à propriedade. E a sociedade civil - formada livremente pelos homens - existe para preservar e consolidar esses direitos, agora sob o amparo da lei. Na França, o filósofo Montesquieu (1689-1755) escreve Do Espírito das Leis (1751), em que defende a separação dos poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário), princípio incorporado às futuras constituições liberais. A doutrina recebe, mais tarde, a contribuição de Stuart Mill (1806-1873). O liberalismo influencia movimentos importantes da Idade Moderna. A Revolução Gloriosa inglesa de 1689 assinala o triunfo completo do Parlamento sobre o poder do rei. Nos EUA, os preceitos liberais são fixados na Declaração de Independência de 1776. E, na França, tornam-se hegemônicos após a Revolução Francesa. Seus teóricos condenam as políticas mercantilista, apoiadas na intervenção estatal. Acreditam que a dinâmica de produção, distribuição e consumo de bens é regida por leis naturais. Dessa forma, a função do Estado é garantir o funcionamento dessas leis e a propriedade privada. O principal expoente é o escocês Adam Smith (1723-1790), autor de Uma Investigação sobre a Natureza e Causas da Riqueza das Nações (1776). Nela, propõe um modelo econômico baseado no jogo livre da oferta e da procura, o laissez-faire (deixai fazer, em francês). Para o autor, a riqueza está no trabalho humano, que deve ser dirigido pela livre iniciativa dos empreendedores. Sua teoria é enriquecida pelos trabalhos de Thomas Malthus (1766-1834) e David Ricardo (1772-1823). As ideias liberais permanecem hegemônicas até o fim do século XIX. A partir de então se vão atenuando e dando lugar a uma maior participação dos governos em setores como saúde e educação, com o objetivo de superar as desigualdades sociais. Geografia Geral & Brasil 06 pulverizadas entre milhares de acionistas. Em geral, essas grandes empresas têm um acionista majoritário, que pode ser uma pessoa, uma família, uma empresa, um banco ou uma holding, e o restante, muitas vezes milhões de ações, está nas mãos de pequenosinvestidores. No Brasil, uma empresa de capital aberto leva em sua razão social o termo S. A. (sociedade anônima). Não é mais possível distinguir o capital industrial do capital bancário. Fala-se agora em capital financeiro. Os bancos passam a ter um papel cada vez mais importante como financiadores da produção. Bancos incorporam indústrias e, por outro lado, indústrias incorporam ou constituem bancos para lhes dar retaguarda. O liberalismo restringe-se cada vez mais ao plano da ideologia, pois o mercado passa a ser oligopolizado, dominado por grandes corporações, substituindo a livre concorrência e o livre mercado. O Estado, por sua vez, passa a intervir na economia, seja como agente planejador ou coordenador, seja como agente produtor ou empresário. Essa atuação do Estado na economia intensificou-se após a crise de 1929, que viria a sepultar definitivamente o liberalismo clássico. A crise de 1929 deveu-se ao excesso de produção industrial e agrícola, pois os baixos salários pagos na época impediram a expansão do mercado de consumo interno; à recuperação da indústria europeia, que passou a importar menos dos Estados Unidos; e à exagerada especulação com ações na bolsa de valores. A ideologia capitalista vigente na época, porém foi decisiva: acreditava-se, segundo os preceitos liberais, que o Estado não deveria intervir na atividade econômica. Mesmo depois da fase mais aguda da crise, que foi a quebra da bolsa de valores de Nova Iorque, o Estado ainda relutou durante meses antes de intervir na economia para evitar o aprofundamento da crise. Resultado: milhares de indústrias e bancos foram à falência, gerando cerca de quatorze milhões de desempregados em 1933. Assim, sucumbindo às evidências, foi elaborado um plano de combate à crise. Colocado em prática em 1933, pelo então presidente Franklin Roosevelt, o New Deal (“novo plano” ou “novo acordo”), foi um clássico exemplo de intervenção do Estado na economia. Baseado em um audacioso plano de obras públicas, com o objetivo principal de acabar com o desemprego, o New Deal foi fundamental para a recuperação da economia norte-americana. Essa política de intervenção estatal numa economia oligopolizada, que acaba favorecendo o grande capital, ficou conhecida como Keynesianismo, por ter sido o economista inglês John Maynard Keynes (1883 - 1946) seu principal teórico e defensor. Em cada setor da economia - petrolífero, elétrico, siderúrgico, têxtil, naval, ferroviário, etc. - passam a predominar alguns grandes grupos. São os trustes, que controlam todas as etapas da produção, desde a retirada da matéria-prima da natureza, passando pela transformação em produtos até a distribuição das mercadorias. Quando esses trustes fazem acordos entre si, estabelecendo um preço comum, dividindo os mercados potenciais e, portanto, inviabilizando a livre concorrência, criam um cartel. No cartel não há, como no truste, a perda de autonomia das empresas envolvidas. O truste é resultado de processos tipicamente capitalistas (concentração e centralização de capitais), que levam a fusões e incorporações de empresas de um mesmo setor de atividade. Já o cartel surge quando as empresas fazem acordos visando partilhar entre si determinados mercados ou setores da economia. Em 1928, constituiu-se um dos mais famosos e poderosos cartéis de todos os tempos, reunindo as companhias petrolíferas Exxon, Chevron, Gulf Oil, Mobil Oil, Texaco, British Petroleum e Royal Dutch/Shell, mundialmente conhecido como as “sete irmãs” do petróleo. Essas empresas (as cinco primeiras, norte-americanas; a outra, britânica e a última, anglo-holandesa) tinham, e ainda têm, mais poder do que muitos Estados; controlam, em muitas regiões, todas as etapas da atividade petrolífera (extração, transporte, refino e distribuição do petróleo). Muitos trustes, surgidos no final do século XIX e início do século XX, transformaram-se em conglomerados. Resultantes de um processo mais amplo de concentração e centralização de capitais, de uma brutal ampliação e diversificação dos negócios, visando dominar a oferta de determinados produtos ou serviços no mercado, os conglomerados, também chamados grupos ou corporações, são os exemplos mais perfeitos de empresas que atuam no capitalismo monopolista. Controlados por um holding eles estendem seus Geografia Geral & Brasil 07 “tentáculos” (fazendo analogia com um polvo, a holding seria a cabeça) por diferentes setores da economia. O objetivo fundamental é a manutenção da estabilidade do conglomerado, garantindo uma lucratividade média, já que há rentabilidades diferentes em cada setor. Os maiores conglomerados surgem hoje no Japão. O Mitsubishi Group, o maior do mundo, fabrica desde alimentos e lapiseiras até navios e aviões, passando por automóveis, aço, aparelhos de som, videocassetes, televisores, etc., sem contar que as indústrias Mitsubishi têm tradicionalmente, como agente financiador, o Banco Mitsubishi. Este, que já constava na lista dos maiores bancos do mundo, após a fusão com o Banco Tokyo, transformou-se no maior do planeta, o Tokyo - Mitsubishi. Outros exemplos de grandes conglomerados que atuam em vários e têm interesses globais são AT&T (Estados Unidos), General Motors (Estados Unidos), Daimler-Benz (Alemanha), Siemens (Alemanha), Fiat (Itália), Nestlé (Suíça), Matsushita (Japão), Hitachi (Japão), Unilever (Países Baixos Reino - Unido). As necessidades do capitalismo industrial- liberal – matérias-primas, fontes de energia e mercados – continuaram existindo no capitalismo financeiro - monopolista? Na verdade, tais necessidades se ampliaram, pois a produção industrial, movida pela Segunda Revolução Industrial, aumentou cada vez mais. Até meados deste século, a maior parte do mundo ainda era formada por colônias que apresentavam uma economia complementar à das potências, definindo a tradicional divisão internacional do trabalho. O imperialismo continuou, garantindo a expansão nos países que estavam se industrializando. O desfecho da Segunda Guerra Mundial agravou o processo de decadência das antigas potências europeias, que se verificava desde o final da Primeira Guerra Mundial. Aos poucos, elas foram perdendo os seus domínios coloniais na Ásia e na África e, com a destruição provocada pela guerra, houve o deslocamento do centro de poder mundial com a emergência de duas superpotências: os Estados Unidos e a União Soviética. Do ponto de vista econômico, o período do pós- guerra foi marcado por acentuada mundialização da economia capitalista, sob o comando dos grandes conglomerados, agora chamados de multinacionais ou transnacionais. Foi o período de gestação das profundas transformações econômicas pelas quais o mundo iria passar, principalmente a partir dos anos 80, ou seja, o atual processo de globalização da economia. Características das Fases do Capitalismo Características Capitalismo Comercial Capitalismo Industrial Capitalismo Financeiro PERÍODO APROXIMADO Século XVI a 1850 1850 ao inicio do século XX Século XX PRÁTICA ECONÔMICA Mercantilismo Liberalismo económico Keynesianismo Neoliberalismo ESCALA ESPACIAL Formação de grandes impérios Soberania para o Estado- Nação e neocolonialismo Imperialismo e domínios dos blocos econômicos PAPEL DO ESTADO Intervenção na economia Regulação da economia, defesa da propriedade e da livre iniciativa. Desregulamentação, abertura da economia para as transnacionais. CENTRO DE DECISÕES Nacional Nacional Supranacional PRINCIPAIS INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS Transporte marítimo,armamentos e técnicas de navegação. 1ª Revolução: maquina 2ª Revolução: motores, química, petróleo, automóveis. 3ª Revolução: Computação, química fina, nuclear, telecomunicações, robótica, biotecnologia. MERCADO Protecionismo alfandegário Barreiras Alfandegárias Internacionalização da economia ORGANIZAÇÃO DE TRABALHO Artesanal Produção em massa e padronizada (fordismo/taylorismo) Toyotismo, inovações, ajustes flexíveis, just in time. ECONOMIA Expansão comercial Produção industrial Período técnico-científico: informação e comunicação. PRINCIPAIS ESPAÇOS DE REFERÊNCIA Portugal, Espanha, Inglaterra, Holanda e França. Grã-Bretanha, França, Alemanha, EUA, Japão. EUA, Japão, União Europeia, Tigres Asiáticos, China e Índia. Geografia Geral & Brasil 08
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