Buscar

Resistencia-de-Criancas-em-territorios-perifericos-cearenses

Prévia do material em texto

See discussions, stats, and author profiles for this publication at: https://www.researchgate.net/publication/351845091
Resistência de Crianças em territórios periféricos cearenses
Article  in  Agenda · March 2021
CITATIONS
0
READS
58
5 authors, including:
Some of the authors of this publication are also working on these related projects:
Pobreza, Raça e Políticas Públicas em contextos rurais: análises de discurso de comerciantes e donos de imóveis do Maciço de Baturité/CE View project
MULHERES, CRIANÇAS E A REORGANIZAÇÃO ESPACIAL: observando as famílias e a circulação de crianças na comunidade da Estrada Velha/Acarape-CE View project
Erica Atem
Universidade Federal do Ceará
5 PUBLICATIONS   3 CITATIONS   
SEE PROFILE
Francisca Temoteo
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
1 PUBLICATION   0 CITATIONS   
SEE PROFILE
Paula Autran Nunes
Universidade Federal do Ceará
1 PUBLICATION   0 CITATIONS   
SEE PROFILE
James Ferreira Moura Jr
Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab)
87 PUBLICATIONS   257 CITATIONS   
SEE PROFILE
All content following this page was uploaded by James Ferreira Moura Jr on 25 May 2021.
The user has requested enhancement of the downloaded file.
https://www.researchgate.net/publication/351845091_Resistencia_de_Criancas_em_territorios_perifericos_cearenses?enrichId=rgreq-ddb695d5738350f9d4c3ad6068aeb530-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzM1MTg0NTA5MTtBUzoxMDI3MzQwNDA2NjMyNDUyQDE2MjE5NDg0NDg2MTQ%3D&el=1_x_2&_esc=publicationCoverPdf
https://www.researchgate.net/publication/351845091_Resistencia_de_Criancas_em_territorios_perifericos_cearenses?enrichId=rgreq-ddb695d5738350f9d4c3ad6068aeb530-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzM1MTg0NTA5MTtBUzoxMDI3MzQwNDA2NjMyNDUyQDE2MjE5NDg0NDg2MTQ%3D&el=1_x_3&_esc=publicationCoverPdf
https://www.researchgate.net/project/Pobreza-Raca-e-Politicas-Publicas-em-contextos-rurais-analises-de-discurso-de-comerciantes-e-donos-de-imoveis-do-Macico-de-Baturite-CE?enrichId=rgreq-ddb695d5738350f9d4c3ad6068aeb530-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzM1MTg0NTA5MTtBUzoxMDI3MzQwNDA2NjMyNDUyQDE2MjE5NDg0NDg2MTQ%3D&el=1_x_9&_esc=publicationCoverPdf
https://www.researchgate.net/project/MULHERES-CRIANCAS-E-A-REORGANIZACAO-ESPACIAL-observando-as-familias-e-a-circulacao-de-criancas-na-comunidade-da-Estrada-Velha-Acarape-CE?enrichId=rgreq-ddb695d5738350f9d4c3ad6068aeb530-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzM1MTg0NTA5MTtBUzoxMDI3MzQwNDA2NjMyNDUyQDE2MjE5NDg0NDg2MTQ%3D&el=1_x_9&_esc=publicationCoverPdf
https://www.researchgate.net/?enrichId=rgreq-ddb695d5738350f9d4c3ad6068aeb530-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzM1MTg0NTA5MTtBUzoxMDI3MzQwNDA2NjMyNDUyQDE2MjE5NDg0NDg2MTQ%3D&el=1_x_1&_esc=publicationCoverPdf
https://www.researchgate.net/profile/Erica-Atem?enrichId=rgreq-ddb695d5738350f9d4c3ad6068aeb530-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzM1MTg0NTA5MTtBUzoxMDI3MzQwNDA2NjMyNDUyQDE2MjE5NDg0NDg2MTQ%3D&el=1_x_4&_esc=publicationCoverPdf
https://www.researchgate.net/profile/Erica-Atem?enrichId=rgreq-ddb695d5738350f9d4c3ad6068aeb530-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzM1MTg0NTA5MTtBUzoxMDI3MzQwNDA2NjMyNDUyQDE2MjE5NDg0NDg2MTQ%3D&el=1_x_5&_esc=publicationCoverPdf
https://www.researchgate.net/institution/Universidade-Federal-do-Ceara?enrichId=rgreq-ddb695d5738350f9d4c3ad6068aeb530-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzM1MTg0NTA5MTtBUzoxMDI3MzQwNDA2NjMyNDUyQDE2MjE5NDg0NDg2MTQ%3D&el=1_x_6&_esc=publicationCoverPdf
https://www.researchgate.net/profile/Erica-Atem?enrichId=rgreq-ddb695d5738350f9d4c3ad6068aeb530-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzM1MTg0NTA5MTtBUzoxMDI3MzQwNDA2NjMyNDUyQDE2MjE5NDg0NDg2MTQ%3D&el=1_x_7&_esc=publicationCoverPdf
https://www.researchgate.net/profile/Francisca-Temoteo?enrichId=rgreq-ddb695d5738350f9d4c3ad6068aeb530-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzM1MTg0NTA5MTtBUzoxMDI3MzQwNDA2NjMyNDUyQDE2MjE5NDg0NDg2MTQ%3D&el=1_x_4&_esc=publicationCoverPdf
https://www.researchgate.net/profile/Francisca-Temoteo?enrichId=rgreq-ddb695d5738350f9d4c3ad6068aeb530-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzM1MTg0NTA5MTtBUzoxMDI3MzQwNDA2NjMyNDUyQDE2MjE5NDg0NDg2MTQ%3D&el=1_x_5&_esc=publicationCoverPdf
https://www.researchgate.net/institution/Universidade_Federal_do_Rio_Grande_do_Norte?enrichId=rgreq-ddb695d5738350f9d4c3ad6068aeb530-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzM1MTg0NTA5MTtBUzoxMDI3MzQwNDA2NjMyNDUyQDE2MjE5NDg0NDg2MTQ%3D&el=1_x_6&_esc=publicationCoverPdf
https://www.researchgate.net/profile/Francisca-Temoteo?enrichId=rgreq-ddb695d5738350f9d4c3ad6068aeb530-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzM1MTg0NTA5MTtBUzoxMDI3MzQwNDA2NjMyNDUyQDE2MjE5NDg0NDg2MTQ%3D&el=1_x_7&_esc=publicationCoverPdf
https://www.researchgate.net/profile/Paula-Nunes-13?enrichId=rgreq-ddb695d5738350f9d4c3ad6068aeb530-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzM1MTg0NTA5MTtBUzoxMDI3MzQwNDA2NjMyNDUyQDE2MjE5NDg0NDg2MTQ%3D&el=1_x_4&_esc=publicationCoverPdf
https://www.researchgate.net/profile/Paula-Nunes-13?enrichId=rgreq-ddb695d5738350f9d4c3ad6068aeb530-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzM1MTg0NTA5MTtBUzoxMDI3MzQwNDA2NjMyNDUyQDE2MjE5NDg0NDg2MTQ%3D&el=1_x_5&_esc=publicationCoverPdf
https://www.researchgate.net/institution/Universidade-Federal-do-Ceara?enrichId=rgreq-ddb695d5738350f9d4c3ad6068aeb530-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzM1MTg0NTA5MTtBUzoxMDI3MzQwNDA2NjMyNDUyQDE2MjE5NDg0NDg2MTQ%3D&el=1_x_6&_esc=publicationCoverPdf
https://www.researchgate.net/profile/Paula-Nunes-13?enrichId=rgreq-ddb695d5738350f9d4c3ad6068aeb530-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzM1MTg0NTA5MTtBUzoxMDI3MzQwNDA2NjMyNDUyQDE2MjE5NDg0NDg2MTQ%3D&el=1_x_7&_esc=publicationCoverPdf
https://www.researchgate.net/profile/James-Moura-Jr?enrichId=rgreq-ddb695d5738350f9d4c3ad6068aeb530-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzM1MTg0NTA5MTtBUzoxMDI3MzQwNDA2NjMyNDUyQDE2MjE5NDg0NDg2MTQ%3D&el=1_x_4&_esc=publicationCoverPdf
https://www.researchgate.net/profile/James-Moura-Jr?enrichId=rgreq-ddb695d5738350f9d4c3ad6068aeb530-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzM1MTg0NTA5MTtBUzoxMDI3MzQwNDA2NjMyNDUyQDE2MjE5NDg0NDg2MTQ%3D&el=1_x_5&_esc=publicationCoverPdf
https://www.researchgate.net/institution/Universidade_da_Integracao_Internacional_da_Lusofonia_Afro-Brasileira_Unilab?enrichId=rgreq-ddb695d5738350f9d4c3ad6068aeb530-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzM1MTg0NTA5MTtBUzoxMDI3MzQwNDA2NjMyNDUyQDE2MjE5NDg0NDg2MTQ%3D&el=1_x_6&_esc=publicationCoverPdf
https://www.researchgate.net/profile/James-Moura-Jr?enrichId=rgreq-ddb695d5738350f9d4c3ad6068aeb530-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzM1MTg0NTA5MTtBUzoxMDI3MzQwNDA2NjMyNDUyQDE2MjE5NDg0NDg2MTQ%3D&el=1_x_7&_esc=publicationCoverPdf
https://www.researchgate.net/profile/James-Moura-Jr?enrichId=rgreq-ddb695d5738350f9d4c3ad6068aeb530-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzM1MTg0NTA5MTtBUzoxMDI3MzQwNDA2NjMyNDUyQDE2MjE5NDg0NDg2MTQ%3D&el=1_x_10&_esc=publicationCoverPdf
ISSN: 1981-9862 
 
 
CARA, D.; GAUTO, M. Juventude: percepções e exposição à violência. In: 
ABRAMOVAY, M.; ANDRADE, E.; ESTEVES, L. Juventudes: outros olhares sobre 
a diversidade. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Continuada, 
Alfabetização e Diversidade; UNESCO, 2007. 
 
GONÇALVES, H. S. Juventude brasileira, entre a tradição e a modernidade. Tempo 
Social, Revista de Sociologia da USP, v. 17, n. 2 , 2005. 
 
HARTOG, F. Regimes de historicidade: presentismo e experiências do tempo. Belo 
Horizonte : Autêntica Editora, 2015. 
 
SANTANA, M. S. de. A categoria Juventude na pesquisa histórica: notas 
metodológicas. Anais do XXVI Simpósio Nacional de História – ANPUH, São Paulo, 
2011. 
 
TELLES, V. Silva. A “Nova Questão Social” brasileira: ou como as figuras de nosso 
atraso viraram símbolo de nossa modernidade. Caderno CRH. Revista do Centro de 
Recursos Humanos da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade 
Federal da Bahia. n 30/31, Salvador, EDUFBA, 1999. 
 
VILLAS, S.; NONATO, S. Juventude e projetos de futuro. In: CORREA, L. M.; 
ALVES, M. Z.; MAIA, C. L. (Org.) Cadernos temáticos: juventude brasileira e Ensino 
Médio. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2014. 
 
WALLERSTEIN, I. Capitalismo histórico e civilização capitalista. - Rio de Janeiro: 
ContrapontoAgenda Social, vol. 15, n.2, 2020, p. 204 - 225 
 
205 
Costa; Temoteo; Moura Jr; Pereira; Nunes, Resistência de Crianças e 
territórios periféricos cearenses 
RESISTÊNCIAS DE CRIANÇAS EM TERRITÓRIOS PERIFÉRICOS 
CEARENSES 
RESISTANCE OF CHILDREN IN PERIPHERAL REGIONS OF CEARÁ 
 
Érica Atem Gonçalves de Araújo Costa59 
Orcid: 0000-0002-4341-8138. 
Francisca Raquel de Oliveira Temoteo60 
Oricd: 0000-002-5858-4665. 
James Ferreira Moura Jr61 
Orcid: 0000-0003-0595-5861. 
João Paulo Barros Pereira62 
Orcid: 0000-0003-0281-9944. 
Paula Autran Nunes63 
Orcid: 0000-0002-4988-3006. 
Resumo: 
A proposta deste texto é analisar processos 
de invenção de territórios das infâncias 
instaurados nos encontros e interlocuções 
com crianças de três regiões 
periféricas/favelas do Ceará: Estrada 
Velha, na cidade de Acarape; Nova 
Canudos e Serviluz, na cidade de 
Fortaleza. Embora as crianças ocupem 
diferentemente e constituam presenças 
cotidianas em espaços como escolas, 
praças, ruas, mídia, praia, sertão e cidade, 
sua visibilidade e/ou invisibilidade 
guardam relação com o reconhecimento 
de que ocupam um lugar social constituído 
por uma complexa rede de opressões e de 
práticas de resistência. Sendo esses 
territórios não apenas espaços 
geográficos, mas também territórios 
existenciais, e uma vez atravessados por 
racionalidades políticas específicas, como 
se fazem escutar crianças das favelas, 
comunidades e periferias? Como 
compõem alianças e movimentos de 
Abstrat: 
The purpose of this text is to analyze 
invention processes of children's 
territories established in the meetings and 
dialogues with children from three 
periphery regions / slums of Ceará: 
Estrada Velha, at Acarape municipality; 
Nova Canudos and Serviluz, at Fortaleza 
city. Although children occupy differently 
and constitute daily presence in spaces 
such as schools, squares, streets, media, 
beach, backcountry and city, their 
visibility and / or invisibility are related to 
the recognition that they occupy a social 
place, constituted by a complex network 
of oppressions and practices of resistance. 
Since these territories are not only 
geographic spaces, but also existential, 
and once crossed by specific political 
rationalities, how can children from 
favelas, communities and peripheries be 
heard? How do they form alliances and 
resistance movements towards 
recognition as a subject? The theoretical-
 
59 Professora Doutora em Educação Brasileira pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Docente do 
Departamento de Psicologia da UFC. ericaatem@ufc.br. 
60 Graduanda em Antropologia, Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-brasileira 
(UNILAB). rakelwho@gmail.com. 
61 Professor doutor em Psicologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul.(UFRGS) Docente do 
Instituto de Humanidades. Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira 
(UNILAB). james.mourajr@unilab.edu.br. 
62 Professor Doutor em Educação Brasileira pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Docente do 
Departamento de Psicologia da UFC.joaopaulobarros07@gmail.com. 
63 Mestranda em Psicologia pela Universidade Federal do Ceará, autranpaula@gmail.com. 
mailto:ericaatem@ufc.br
mailto:rakelwho@gmail.com
mailto:james.mourajr@unilab.edu.br
mailto:joaopaulobarros07@gmail.com
mailto:autranpaula@gmail.com
ISSN: 1981-9862 
 
resistência que reivindicam seu 
reconhecimento como sujeito? Os 
referenciais teórico-metodológicos nas 
três intervenções dialogam em torno de 
perspectivas decoloniais e críticas dos 
modos de subjetivação capitalista. Nos 
três territórios, o percurso metodológico 
foi desenvolvido por meio da pesquisa-
intervenção, tendo a cartografia como 
inspiração para a pesquisa em Psicologia 
no campo das políticas públicas voltadas 
às infâncias e adolescências. A cartografia 
é um método para acompanhar processos 
de produção subjetiva, linhas que 
desenham movimentos e fluxos dos 
grupos de crianças. Como estratégia de 
análise, destacamos acontecimentos 
vividos nestes territórios que funcionaram 
como analisadores das relações entre 
crianças e pesquisadores, entre lugares, 
pertencimentos e resistências que se 
desenharam com sua presença e 
subversão. As experimentações com as 
crianças moradoras de territórios 
periféricos nos reterritorializaram em 
meio às realidades atravessadas pela 
desigualdade social. Nas três experiências, 
os modos de participação das crianças nos 
territórios implodem resistências 
micropolíticas à medida que as ocupações 
desses diferentes “espaços” tensionam 
regimes de (in)visibilidade que 
atravessam os modos de vida de crianças 
periferizadas. 
 
Palavras-chave: infâncias, resistências, 
territórios periféricos. 
 
 
methodological references in the three 
interventions do dialogue around 
decolonial perspectives and criticisms of 
capitalistic subjectivation modes. The 
theoretical-methodological references in 
the three interventions do dialogue around 
decolonial perspectives and criticisms of 
capitalistic subjectivation modes. 
Cartography is a method to accompany 
subjective production processes, lines that 
draw movements and flows of children 
groups. As an analysis strategy, we 
highlight experienced events in these 
territories that worked as relationships 
analyzers between children and 
researchers, between places, belongings 
and resistances that were designed with 
their presence and subversion. 
Experiments with children living in 
peripheral territories do reterritorialized us 
between the realities crossed by social 
inequality. In the three experiences, the 
modes of participation of children at the 
territories implodes micropolitical 
resistances as the occupations of these 
different “spaces”do tension regimes of 
(in) visibility that cross the ways of life of 
peripheral children. 
 
 
 
 
 
 
Keyswords: childhood, resistance, 
peripheral territories. 
 
 
 
1. A PRODUÇÃO DE INFANCIAS DESIGUAIS 
O objetivo deste texto é analisar processos de invenção dos territórios 
existenciais das infâncias periféricas, instaurados nos encontros e interlocuções com 
crianças de três territórios/periferias do Ceará: Estrada Velha, na cidade de Aracape; Nova 
Canudos e Serviluz, na cidade de Fortaleza. A partir da articulação entre os projetos 
 
 
Agenda Social, vol. 15, n.2, 2020, p. 204 - 225 
 
207 
Costa; Temoteo; Moura Jr; Pereira; Nunes, Resistência de Crianças e 
territórios periféricos cearenses 
“Maquinarias: infâncias em invenção”, vinculado ao Grupo de Pesquisas e Intervenções 
sobre Violência, Exclusão Social e Subjetivação (VIESES64/UFC), e “Infâncias 
reapoderadas" da Rede de Estudos e Afrontamentos das Pobrezas, Discriminações e 
Resistências (reaPODERE), vinculada à Universidade da Integração Internacional da 
Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab), foi possível acompanhar movimentos traçados nestas 
experiências e experimentar a análise dos processos de invenção e interlocuções com as 
crianças nos três diferentes contextos. O primeiro projeto (Maquinarias) tem como 
objetivo criar dispositivos para problematizar territórios das infâncias, atuando em 
diálogo com Nova Canudos e Serviluz, na cidade de Fortaleza. O segundo projeto 
(reaPODERE) é entendido como espaço de ensino, pesquisa e extensão universitária, 
atuando na produção e difusão de um conhecimento localizado e crítico sobre o território 
do Maciço de Baturité65, no Ceará. 
Desse modo, este artigo resulta da aliança entre perspectivas que dialogam com 
crianças cearenses que vivem em contextos periféricos urbanos e rurais: Nova Canudos, 
Serviluz e Acarape, sob a ótica das singularizações, transbordando os muros das escolas 
e nos convocando a ocupar com elas outros cenários. Com efeito, ao perspectivar a 
invenção de territórios existenciais, considerando as narrativas das crianças, este textoorienta-se pelas seguintes questões: Como as crianças formam alianças e movimentos de 
resistência no sentido do seu reconhecimento como sujeitos? As expressões das crianças 
ocupam um lugar de indiferença? Se são invisíveis à cidade/território, como isso as afeta? 
Como se tornam visíveis em relação ao próprio território periférico onde vivem e diante 
das narrativas oficiais de cidade? A (in)visibilidade histórica das crianças brasileiras na 
construção da sociedade se mantém presente, fazendo com que reflitamos como atravessa 
as existências das crianças nos três territórios: Estrada Velha/Acarape-Ce, Nova 
Canudos/Fortaleza-Ce e Serviluz/Fortaleza-Ce com os quais dialogamos. 
As marcas históricas das negligências e violências relacionadas ao processo de 
escravização de crianças negras e ao descaso com as crianças indígenas no processo de 
colonização do Brasil se atualizam cotidianamente quando estamos diante dos modos de 
se perceber as infâncias periféricas/periferizadas, assim como nas vulnerabilizações a que 
 
64 Grupo de Pesquisa e Intervenções sobre Violências, Exclusão Social e Subjetivação -VIESES, 
vinculado ao Departamento de Psicologia da Universidade Federal do Ceará (UFC). 
65 Formação geográfica que compõe parte do sertão central cearense, sendo a cidade de Acarape, um dos 
seus 
municípios. 
ISSN: 1981-9862 
 
estão submetidas e nos enfrentamentos que mobilizam em seus contextos. As crianças 
filhos(as) de sujeitos escravizados, e consequentemente escravizadas, muitas vezes não 
chegavam vivas das embarcações de navios negreiros aos portos cariocas ou sobretudo 
não alcançavam a fase adulta (GOÉS; FLORENTINO, 2018). Dados do Comitê Cearense 
pela Prevenção de Homicídios na Adolescência (CEARÁ, 2020) indicam um aumento de 
homicídios entre crianças de 10 a 12 anos, apontando uma matriz colonial de poder que 
se atualiza em termos de uma necropolítica em nossos dias. De acordo com o pensamento 
do camaronês Mbembe (2017), a necropolítica tem a raça e o racismo como estruturantes 
do Estado moderno. Mantém uma lógica perversa advinda dos processos de colonização, 
onde a população negra, pensando com Judith Butler (2018), não é reconhecida enquanto 
vidas enlutáveis o que consequentemente produz contra elas uma política de morte, de 
vidas precárias que valem menos. 
A Lei Áurea (1888) e a suposta libertação da população negra escravizada, 
sequestrada dos países Africanos e forçada a trabalhar no Brasil, não interromperam a 
situação de subserviência a que estava submetida, ou seja, “situação de sujeição, 
submissão da subjetividade” (PEREIRA, 2017, p. 23). Com a modernidade emergindo, 
houve a entrada excessiva de imigrantes e os resquícios do sistema escravista produziram 
reflexos na realidade social das cidades brasileiras (SANTOS, 2018), culminando no 
imaginário social e subjetivo, criminalizando as populações pobres (dentre elas, as 
crianças) como sujeitos perigosos que devem ser objeto de vigilância e tutela 
(NASCIMENTO, 2002). Compreende-se que a pobreza é consequência desse formato de 
colonização no Brasil, sendo a população pobre eminentemente não branca 
(PITOMBEIRA et al, 2019). 
 A nova racionalidade política repercutiu diferentemente na vida das infâncias 
desvalidas e das mais afortunadas, embora o modelo político do Brasil República passasse 
a ter um pensamento voltado para “a” criança como germinadora de um país promissor, 
tornando-se uma preocupação constante das autoridades. Essa questão foi percebida por 
meio de ideologias eugenistas relacionadas ao movimento higienista, em que a pobreza 
das classes sociais menos abastadas eram geradoras de degenerescências (JUNIOR; 
GARCIA, 2018). A realidade brasileira convive, desde então, com três representações 
sociais: a de proteção social, controle e disciplinamento social e de repressão social, por 
meio de práticas sociais em instituições, nas políticas e nos discursos científicos 
(PINHEIRO, 2006). 
 
 
Agenda Social, vol. 15, n.2, 2020, p. 204 - 225 
 
209 
Costa; Temoteo; Moura Jr; Pereira; Nunes, Resistência de Crianças e 
territórios periféricos cearenses 
Documentos legais, como a Convenção Internacional sobre os Direitos das 
Crianças (1989), passam a configurar uma globalização política e cultural relacionada à 
concepção de infância. A conquista jurídica dos direitos da criança proporciona uma nova 
compreensão da criança como voz ativa, a exemplo do que se materializou no Estatuto da 
Criança e do adolescente (1990). Porém, em países desiguais como o Brasil, essa outra 
normatividade jurídica ganha contornos específicos diante da realidade de crianças 
brasileiras, pobres, negras, indígenas, ciganas e em situação de rua. Diferentes condições 
de subalternidade as excluem da sua condição peculiar e/ou da experiência de sua infância 
(MARCHI; SARMENTO, 2017). 
Percebe-se que a pobreza e o racismo impactam de forma significativa a vida e o 
desenvolvimento das crianças. Para essas infâncias racializadas e em situações de 
pobreza, modos de subjetivação se expressam em formas de pensar e se relacionar 
consigo, com a família e com a comunidade em que vivem e em suas ações cotidianas, 
nas quais muitas das vezes prevalece ajudar a família ao invés de se dedicarem ao meio 
escolar. O efeito do co-engendramento entre racismo e pauperização no desenvolvimento 
infantil “são a violência e a crise que predominam na imagem relatada dos quotidianos 
das crianças” (SARMENTO, 2003, p. 267). Considerar as histórias brasileiras e a 
produção das desigualdades, dos silenciamentos, dos apagamentos subjetivos nos levam 
a construir olhares que considerem diferentes planos dessas sujeições e exclusões 
(intersecciolizando) e, concomitantemente, a compor com as crianças em seus contextos 
como atitude ética de decolonializar nossas práticas: eis a aposta deste texto. 
 
2. POR QUE FALA EM TERRITÓRIOS EXISTÊNCIAS E DE INFÂNCIAS 
PERIFÉRICAS? 
A pesquisa-inter(in)venção como ferramenta para acompanhamento dos 
processos nos territórios intervém nos modos de produção das infâncias, como também 
nas singularidades/expressões que constituem os próprios territórios: Estrada Velha, o 
Serviluz e Nova Canudos (AGUIAR; ROCHA, 2007). Ao intervimos, maquinamos um 
plano comum entre infâncias, pesquisadores, e territórios, transformando e criando 
conhecimentos (KASTRUP; PASSOS, 2016). Essa forma de intervir/inventar segue uma 
proposta interseccional a partir do momento que é guiada pelas sociabilidades e trajetórias 
dessas crianças periféricas em seus espaços de existências. Há um processo de 
ISSN: 1981-9862 
 
questionamento constante sobre as atuações desenvolvidas em que as crianças são 
centrais para balizar, propor, avaliar e desenvolver conjuntamente as atividades (COSTA; 
MOURA JR; BARROS, 2020). 
As movimentações cotidianas das crianças, dos pesquisadores, planejando e 
participando das atividades dos projetos e/ou, posteriormente, a partilha dos aprendizados 
forjam um “território existencial” (ALVAREZ; PASSOS, 2015). Por sua vez, nesses 
encontros, acontecem os revezamentos entre pesquisa e extensão universitárias. Para o 
VIESES, os territórios urbanos são atravessados por diversas ações que subvertem a 
lógica institucionalizada da cidade, constituindo-se por práticas de resistência política. 
No reaPODERE, as intervenções estão para além dos muros da Unilab, criando uma ponte 
entre universidade e comunidade, nesse ir e vir de corpos e suas ações diante do 
inesperado como forma de identificar resistências, potencialidades e desafios na 
intervenção comunitária em um contexto ruralizado e atravessado por violências. 
Foi preciso habitar os territórios, dialogar com as crianças, com seus responsáveis, 
com articuladores, moradores e organizações atuantes e parceiras como o Centro de 
Valorização da Vida Hebert de Souza (CDVHS), em Nova Canudos; o Projeto de Vida 
Titanzinho, parte do InstitutoTrêsmares, no Serviluz. Essas composições aparecem nos 
usos inusitados dos espaços para as atividades, a exemplo da casa, cedida por uma 
moradora para as oficinas no Serviluz (seus dois enteados participam das atividades) e 
que a noite volta a dar lugar ao bar, seu ganha pão. Na Estrada Velha, a rua e/ou a casa 
da dona Terezinha e o Bar da dona Solange (mães de algumas crianças) também se 
reconfiguram para acolher as ações propostas pelo reaPODERE. 
As pesquisas cartografaram processos de produção subjetiva, isto é, o próprio 
desenho de territórios existenciais (e não apenas geográficos), nas experiências 
partilhadas com as crianças. Invenção brincante que transborda das ondas do mar 
(Serviluz), seguindo a resistência de Canudos (Nova Canudos)66, subindo até o Maciço 
de Baturité, ressoando de forma concreta e crítica o seu movimento abolicionista 
(Acarapé)67. Reinventando-se nessas linhas que se atravessam entre territorialidades e 
 
66 O nome do território Nova Canudos é em homenagem à luta e resistência de Canudos. 
67 Redenção foi a primeira cidade a declarar a abolição da escravatura, fazendo parte do Maciço de Baturité 
e sendo vizinha de Acarape. 
 
 
Agenda Social, vol. 15, n.2, 2020, p. 204 - 225 
 
211 
Costa; Temoteo; Moura Jr; Pereira; Nunes, Resistência de Crianças e 
territórios periféricos cearenses 
vulnerabilizações, potencializando vidas que resistem à herança do pensamento social 
brasileiro, em que pobreza, raça e periferia são sinônimos de criminalidade. 
Compor territórios existenciais é implicar-se neles, observando o inesperado, 
abrindo-se para possibilidades que emergem dessa relação afetiva com as crianças e que 
os encontros permitem. Afinal, sob a inspiração de Deleuze e Guattari (1997), a 
cartografia como método de pesquisa-inter(in)venção considera que “o território 
existencial está em constante processo de produção” (ALVAREZ; PASSOS, 2015, p. 
132). As crianças, sujeitos sociais, mesmo diante das invisibilidades atreladas às políticas 
de subjetivação excludentes e de subalternização (NASCIMENTO, 2002), fazem da 
participação nos encontros um meio de exercer um protagonismo e visibilidade nos 
territórios, recobrando um sentido político para sua presença. A presença e ação dessas 
crianças trafegando pelas ruas, no dia-a-dia das obrigações/afazeres domésticos, indo 
comprar um detergente que acabou, comprando a “merenda” na padaria, a caminho da 
escola junto com a(o) irmã(o) ou amiga(os): todas essas cotidianidades exercitam uma 
micropolítica de produção subjetiva, a qual requer uma atenção à espreita daquele/a que 
visa traçar, cartograficamente, o plano coletivo das forças produtoras de infâncias 
diversas. 
As insurgências moleculares na produção dos modos de vida das crianças nos 
cotidianos confrontam-se com processos de subjetivação modelizados pelo capital, a 
exemplo dos regimes de dizibilidade que tentam capturá-las, nas formas de denominações 
pejorativas e inferiorizantes bastante comuns no contexto cearense, tais como: “pirraias”, 
“pivetes”, “vetins”68, “mirins”, “menores”, “elementos”. Formas de nomeação e formas 
de sujeição que são torcidas pelos vetins, manos, manas, outras musicalidades presentes 
nos cotidianos e trocas entre as crianças no território. Estar em cena, ocupar os espaços, 
aparecer, é, isso mesmo, uma prática de resistência micropolítica em um contexto 
adultocentrado. Sua presença no cotidiano instaura sua posição social pelas quais 
performam suas infâncias, “[…] a resistência muito mais que uma simples reação, como 
resposta à ação de outro - mas uma nova ação, com curso próprio e possibilidade de afetar 
a ação de outros” (PEREIRA, 2017, p. 24). 
 
68 “Vetins” emerge tanto como efeito de captura como de subversão para nomear experiências dos 
segmentos infantojuvenis periféricos cearenses. Para a compreensão desse analisador, indicamos a leitura 
do artigo Cidade, arte e criação social: novos diagramas de culturas juvenis da periferia (2020) da 
pesquisadora Glória Diógenes. 
ISSN: 1981-9862 
 
O sentido do termo resistência, aqui, alarga-se de modo que as crianças sejam 
percebidas em seus movimentos inscritos em agenciamentos coletivos. Guattari e Rolnik 
(2005) propõem que a produção de subjetividade é de caráter maquínico, sendo elaborada, 
modelada, recebida e consumida pelo tecido social, por meio do sistema capitalista: 
tudo o que é produzido pela subjetivação capitalística - tudo o que nos chega 
pela linguagem, pela família e pelos equipamentos que nos rodeiam - não é 
apenas uma questão de idéia ou de significações por meio de enunciados 
significantes. Tampouco se reduz a modelos de identidade ou a identificações 
com pólos maternos e paternos. Trata-se de sistemas de conexão direta entre 
as grandes máquinas produtivas, as grandes máquinas de controle social e as 
instâncias psíquicas que definem a maneira de perceber o mundo 
(GUATTARI; ROLNIK, 2005, p.35). 
A produção do Capitalismo Mundial Integrado (CMI) coexiste através de uma 
relação entre sistema econômico e construção das subjetividades por meio da memória, 
linguagem, imaginação e comportamentos. Os seres humanos são colocados em 
diferentes níveis de valor como força produtiva, elaborando uma relação de serventia na 
qual os sujeitos se tornam objeto, máquinas. Há, então, uma fabricação de subjetividades 
capitalistas, em uma dimensão global. Ocorre, assim, uma modelização no que diz 
respeito aos comportamentos, à sensibilidade, à percepção, à memória, às relações 
sociais, não sendo diferente em relação à produção de um modelo específico em que se 
valoriza uma determinada noção de infância (moderna). Esse modo de estruturar o 
sistema tem como finalidade o controle social por meio das instâncias psíquicas que 
produzem a maneira de existir/estar no mundo e suas relações sociais (GUATTARI; 
ROLNIK, 2005). 
A produção inventiva de territórios de infâncias nos possibilita enfrentar os planos 
das homogeneizações, atentando para como as crianças em contextos periféricos 
produzem cultura, modos de ser criança e de habitar esses diferentes espaços. Trata-se de 
rachar um regime de verdade em que pesam discursos e imagens que as aprisionam às 
vulnerabilidades a que são acometidas e ao silenciamento imanente ao adultocentrismo, 
naturalizando seus efeitos como condições intrínsecas dessas crianças (DELEUZE, 
2005). Os territórios de infância pedem passagem para a escuta de seus movimentos de 
composição, dos quais fazem parte não apenas linhas de opressão e exclusão, mas também 
planos de forças que agenciam resistências, encontros, desejos, sonhos que materializam 
geografias nada óbvias aos seus lugares de pertença. 
 
 
Agenda Social, vol. 15, n.2, 2020, p. 204 - 225 
 
213 
Costa; Temoteo; Moura Jr; Pereira; Nunes, Resistência de Crianças e 
territórios periféricos cearenses 
3. A POTENCIA COLETIVA DAS CRIANÇAS: TRÊS EXPERIENCIAS EM 
DIÁLOGO 
As inter(in)invenções das quais nos ocupamos em narrar a seguir e que dão nome 
às sessões - Entre cores e dança: “... andar tranquilamente na favela onde eu nasci”69; 
Passear, brincar, organizar, decidir, festejar, negociar: infinitivos e invenções das crianças 
de Nova Canudos; Serviluz: as andanças brincantes nas ruas do mar - acionam algo do 
que é possível fazer juntos. A produção de territórios comuns se dá diante das diferenças 
e não apenas das desigualdades que insistem em capturar/colonizar/despolitizar modos 
de estar com as crianças, distanciando-nos de uma perspectiva assistencialista e tutelar, 
que ignora a agência política dos sujeitos aos quais se dirige. 
3.1.Entre cores e dança: “... andar tranquilamente na favela onde eu nasci” 
A Rede de Estudos e Afrontamentos das Pobrezas, Discriminações e 
Resistências (reaPODERE), grupo de pesquisa, ensino e extensão vinculado à Unilab, 
vem atuando na comunidade da Velha/Acarape-Ce desde 2016, quando se iniciou ainserção comunitária. A localidade foi escolhida pelo fato de ser “um campo de atuação 
da extensão universitária que sofre com o processo de estigmatização da própria 
população de Acarape e cidades vizinhas, a qual ficou reconhecida pelo tráfico de drogas, 
violência e a pobreza” (MOURA JR; LIMA; SILVEIRA, 2018, p.437). As atividades 
socioeducativas da rede que vêm se desenvolvendo no local têm o intuito de fortalecer 
vínculos, trabalhar o lúdico e estimular o cooperativismo entre as crianças. “Portanto, o 
papel da extensão desenvolvida na reaPODERE é o de fortalecer a comunidade e os 
processos de resistência desenvolvidos por indivíduos em contextos de privação” 
(MOURA JR; LIMA; SILVEIRA, 2018, p.435). 
Tendo tudo isso em vista, a rede começou com o Grupo de Crianças em 2017, 
desenvolvendo atividades semanais com foco na ludicidade, no fortalecimento de 
vínculos e no reconhecimento das potencialidades das crianças da Estrada Velha. 
Narramos algumas ações a partir do caráter in(ter)ventivo, como: as interações sobre 
negritude no Dia da Consciência Negra com a exibição do curta Dúdú e o Lápis Cor da 
 
69 “Rap da Felicidade” é uma música da dupla de MCs Cidinho & Doca, lançada em 1994, no Rio de 
Janeiro. 
ISSN: 1981-9862 
 
Pele70; as oficinas de funk, que mais tarde culminaram na formação de um grupo de dança 
de meninas da comunidade intitulado 'As Afrontosas'; e a festividade do natal 
comunitário, realizado na própria comunidade. 
Sobre o primeiro momento, a oficina contou com a exibição do curta Dúdú e o 
Lápis Cor da Pele. O propósito era trazer a discussão sobre o racismo e sua necessidade 
de debate constante, principalmente no Dia da Consciência Negra. A princípio, 
perguntamos a elas se sabiam da história que cercava o dia. Não demorou muito para as 
mesmas iniciarem a discussão, através da visão delas sobre a importância da data e 
vincular com o que viam na comunidade, na escola e na TV. Depois da exibição do curta, 
queríamos saber o que elas tinham entendido. Há muito uma ideia de que a criança não 
consegue problematizar questões sociais e raciais. No entanto, identificamos o contrário 
dessa compreensão estigmatizante da infância. As crianças de 10 a 14 anos presentes 
discutiram e trouxeram vivências suas e de amigos para enriquecer o diálogo. As menores, 
de 04 a 08 anos, fizeram desenhos sobre o que tinham entendido, uma delas desenhou 
várias pessoas com cores diferentes. 
Na oficina de Funk, o objetivo era entender como as crianças veem o funk através 
dos seus diferentes tipos, compreendendo, assim, o que elas pensam sobre as letras. A 
história do funk demonstra que esse gênero, em meados da década de 70, “era produzido 
na periferia e para a periferia'' (CHAGAS, 2018), ou seja, faz parte da comunidade. É esse 
o modo deles e delas se expressarem e de se divertirem. E, além disso, o funk faz parte 
da cultura brasileira, estando presente principalmente nas periferias, onde surgem muitos 
MCs, dançarinas e letras de resistência. Então, dançamos e dialogamos sobre outros 
estilos presentes dentro do gênero, como o ostentação, o brega funk, o antigo e o 
proibidão. 
Levamos as letras de cada estilo com cuidado, pois nosso público é infanto-juvenil 
entre 04 a 14 anos. A maioria das músicas já eram conhecidas por elas, porém as canções 
referentes ao estilo antigo não eram. Perguntávamos o que elas entendiam das letras, a 
que se referiam. Diante disso, percebemos que o brega funk era o que elas dançavam, 
mais por causa da batida e menos pela letra. Como resultado da oficina, as crianças se 
interessaram pela história de re(existir) e as letras de protesto fundadas no funk antigo, 
 
70 Produção da Take a Take Films, roteiro de Gleber Marques e direção de Miguel Rodrigues, disponível 
no Youtube em: https://www.youtube.com/watch?v=-VGpB_8b77U 
https://www.youtube.com/watch?v=-VGpB_8b77U
 
 
Agenda Social, vol. 15, n.2, 2020, p. 204 - 225 
 
215 
Costa; Temoteo; Moura Jr; Pereira; Nunes, Resistência de Crianças e 
territórios periféricos cearenses 
principalmente, pela música Rap da Felicidade, que mais tarde as crianças iriam expressar 
em uma nova versão. 
As oficinas possibilitaram nossa aproximação com os moradores da comunidade 
e compreensão das suas dinâmicas e vivências. As atividades relatadas aqui são as que 
culminaram na apresentação das As Afrontosas – grupo de dança das meninas da Estrada 
Velha – no evento “O Natal da Família Estrada Velha”, que fizemos em conjunto com a 
comunidade. O nome, dado por eles, é uma forma de afirmar que são unidos. Na fala das 
moradoras “as coisas ruins não saem daqui”, se referindo ao preconceito recebido pela 
cidade e demonstrando resistência a esse processo de estigmatização. Há um forte 
processo de estigmatização das pessoas em situação de pobreza, sendo reconhecidas 
como criminosas e violentas. No entanto, há também processos de resistência que 
questionam esses reconhecimentos estigmatizantes (MOURA JR; SARRIERA, 2016). 
No natal comunitário, temos a “venda” de roupas, que acontece em um terreno 
que fica na parte mais acima da rua, próximo do local das atividades desenvolvidas com 
as crianças. Este terreno foi cedido por uma das lideranças da comunidade. Junto com 
os moradores, organizamos as roupas no terreno e distribuímos democraticamente fichas 
representando dinheiro da comunidade para a aquisição dos produtos. Assim, a pessoa 
pode entrar no espaço e comprar suas roupas e calçados até atingir o valor recebido. A 
ideia surgiu das moradoras, como forma de organização e para que todas as pessoas 
pudessem ter acesso às roupas no natal comunitário. As roupas são arrecadadas por nós 
da rede durante dois meses antes do evento, juntamente com os alimentos. Fazemos 
cartazes e divulgações nas redes sociais, ruas e mercados de Redenção e Acarape. 
No evento, tivemos a apresentação: As Afrontosas. Elas fizeram algo especial 
neste ano de 2019, criaram a seguinte cena: uma mulher branca era assaltada e gritava 
para um policial, também branco, pegar o ladrão. O policial correu e algemou uma 
mulher negra que estava dançando com as amigas. A mulher começou a se defender para 
o policial, pedindo que a soltasse, pois não era ladra. Em meio a confusão, a mulher 
consegue se soltar e escuta o trecho da música que toca no som do natal comunitário: 
“eu só quero é ser feliz, andar tranquilamente na favela onde eu nasci...”. Então, todas 
as crianças presentes cantam novamente o mesmo trecho. O policial se afasta, e as 
meninas começam a dançar. Foi um momento de arrepiar a todos, sendo fortemente 
aplaudido pelos moradores da comunidade presentes. 
ISSN: 1981-9862 
 
O que podemos perceber desta encenação é que essas crianças enxergam e 
sentem o preconceito dado a elas pela cor da pele, pelo gênero musical e pelo território 
onde moram. De acordo com Bissoli (2014), as vivências das crianças possibilitam a 
elas se relacionar e expressar sobre seu entorno. Elas expõem através de palavras, 
silêncios, brincadeiras e danças o processo de invisibilidade de seus corpos e as maneiras 
de se fazer resistência nessa desigualdade social capitalista. Juntamente com as 
atividades socioeducativas desenvolvidas, elas vão identificando e trabalhando as 
formas de potencialidade e subalternização de ser criança em territórios periféricos, 
neste caso, em uma comunidade interiorana do Maciço de Baturité. 
3.2.Passear, brincar, organizar, decidir, festejar, negociar: infinitivos e 
invenções das crianças de Nova Canudos 
Invenções das crianças de Nova Canudos é uma acontecimentalização em nossos 
modos de fazer pesquisa e extensão, impulsionando em “uma direção construcionista que 
potencializa a vida pela imersão no acaso, pelas intensidades no lugar das representações” 
(FONSECA et al, 2006, p.659). Em 2019, quinze (15) crianças de idades diferentes, entre 
meninas e meninos pobres, negras e negros, pesquisadoras,estudantes, articuladores e 
militantes dos movimentos sociais, moradores passam a se encontrar quinzenalmente no 
Centro de Cidadania e Valorização Humana (CCVH), associação comunitária em Nova 
Canudos, localizada na região do Grande Bom Jardim na cidade de Fortaleza/CE. 
Este território existencial, que as crianças intitulam “Invenções das crianças de 
Nova Canudos”, campo de forças no qual cartografamos formas, movimentos, tensões e 
no qual insurgem as ações das crianças relaciona-se à presença e transversalização da 
Psicologia Social e política com outros saberes. Tem como produção correlata o projeto 
de extensão Maquinarias: infâncias em invenção (2019), ligado ao VIESES. Neste 
encontro entre territórios de vida e de conhecimento, partilhamos eixos éticos comuns. 
Entendemos crianças como sujeitos ativos, em processos formativos que se dão no 
encontro, onde experimentamos coletivamente os efeitos desta agência. O caminho por 
esta escuta dos cotidianos e seus processos inventivos termina por problematizar modos 
institucionalizados pelos quais nos acostumamos a perceber a presença e ação das 
crianças. 
 
 
Agenda Social, vol. 15, n.2, 2020, p. 204 - 225 
 
217 
Costa; Temoteo; Moura Jr; Pereira; Nunes, Resistência de Crianças e 
territórios periféricos cearenses 
Compor com os territórios traz a possibilidade de olhar criticamente para uma 
rede de práticas voltadas às crianças no âmbito da assistência social, dos direitos 
humanos, da cultura, em suas relações com práticas familiares e escolares. Passamos a 
lidar com planos de forças que operam silenciamentos da posição social das crianças e 
com a produção de sua invisibilidade social em uma sociedade capitalista, desigual, 
colonial, adultocêntrica, menorista e racista. Há também junto a essas sujeições e 
opressões um conjunto de forças que se mobilizam em sentidos diferentes, disputando as 
narrativas sobre si, sobre o território, se organizando politicamente para a efetivação de 
direitos, denunciando violações, deslocando geografias oficiais e recompondo mapas para 
fazer outras cidades. A partir deste olhar não totalizador sobre processos de opressão e 
resistência, compomos essa narrativa a partir das experiências do Invenções das crianças 
de Nova Canudos e que impulsionam à invenção de problemas de pesquisa e modos de 
subjetivação. 
Nova Canudos é uma ocupação urbana e Zona Especial de Interesse Social 
(ZEIS) que, para as crianças, não se resume à “favela”. “As amigas dela são da favela, 
tia!”, “Favela, não menina, comunidade!” Falas de uma das meninas parceiras que 
emergem em meio às conversas e brincadeiras do grupo, cortando o plano das evidências 
e obviedades nas adjetivações sobre as vidas periféricas e explicitando polissemias e 
multiplicidades concernentes a tais vidas. Saber sobre o significado do nome Nova 
Canudos, sobre suas lutas como “comunidade” e seus problemas vai tecendo os encontros 
em meio às brincadeiras (pega-pega americano, pular corda, estátua, teatro e faz de conta), 
aos desenhos livres sobre o bairro, às denúncias e desabafos que trazem sobre escolas mal 
cuidadas: “a escola é pôde, feia!”, e aos riscos de andarmos pelas ruas faccionadas, 
próximas ao CCVH. Ao mesmo tempo, esse transitar imaginário e real no mapa do bairro, 
por dentro e fora, pelas bordas, nas vizinhanças, pelos desenhos e mapas da cidade que 
levamos ao grupo, torna-se uma das pautas dos encontros, agitando as consultas 
recorrentes que fazíamos a cada sábado sobre as atividades que preferiam fazer 
conjuntamente. 
O grupo-acontecimento vai se realizando na conjugação do infinitivo - passear, 
brincar, fazer festas, ir comprar o lanche, planejar uma rifa. O agenciamento Maquinarias- 
crianças-território-articuladores-moradoras de Nova Canudos torna visíveis situações em 
que as crianças em seus movimentos e desejos são vistas como “problema”, com 
desconfiança como na disputa pelo uso do espaço da Associação Comunitária (CCVH) 
ISSN: 1981-9862 
 
com o grupo de mulheres da igreja que também usavam o espaço. Precisamos negociar 
dia e horário. As crianças reivindicaram o espaço como sendo delas. Sim, queriam 
brincar, fazer bagunças, tramar ações em meio ao que nós levávamos de ideias, sempre 
sem muita diretividade. As suspeitas pesam sobre o projeto/universidade também, “afinal, 
o que vocês estão fazendo?”, nos perguntam as mulheres da igreja. Outras alianças se 
fortalecem na insistência e teimosia do grupo, na vizinha da Associação que garante a 
chave para abrir o espaço e faz pipocas para o lanche e na presença de alguns responsáveis 
nos passeios. Vamos escutando as crianças e acolhendo as revoltas pelo cerceamento do 
uso do espaço (salas trancadas e materiais de limpeza e de uso comum guardados com 
chave). As ações com as crianças exigem que professora, adulta, jovens articuladores, 
jovens bolsistas, avós, mães, pais, moradores da comunidade revejam imaginários 
conformados socialmente e associados a desigualdades e não apenas a diferenças 
geracionais. 
A presença afetiva da jovem e atuante articuladora amplia os horizontes e 
trânsitos do grupo. Reuniões menores são articuladas para comprar lanche e material para 
realizar festas surpresas. Convites chegam às crianças para se juntarem a outras ações na 
sede do CDVHS, telefonemas durante a semana e entre os intervalos dos sábados, 
conversas no aplicativo, compartilhamento de notícias sobre Nova Canudos. “Queremos 
passear, tia!” As provocações-desejo das crianças de Novas Canudos trazem para os 
encontros as desigualdades e segregações socioespaciais que marcam suas relações com 
as várias cidades dentro da Fortaleza oficial. Torna-se um analisador da produção desigual 
das subjetividades e das cidades. “Finalmente, nosso “passeio chique”, disse-nos, 
entusiasmado, um dos meninos parceiros diante do ônibus com ar condicionado, 
espaçoso, conseguido em articulação do CDVHS com a Casa Civil e por decorrência da 
realização do Festival Internacional de teatro infantil (2019) que acontecia com algumas 
apresentações no Centro Cultural do Bom Jardim, no próprio bairro, e que nos 
organizamos para levar o grupo em um dos sábados. 
Dar uma volta no carro da professora no quarteirão irregular e estreito de Nova 
Canudos, ver o mar, ir à praia, conhecer a UFC e equipamentos culturais da cidade vai 
nos trazendo o aprisionamento simbólico a que as crianças estão submetidas e como sua 
favelização ou vulnerabilização é produzida com seu distanciamento de diversos pontos 
da cidade e por onde deveriam poder circular e interrogar em sua condição de espaço 
comum e público. “Tia, é aqui que você trabalha?”, interpela um dos meninos ao chegar 
 
 
Agenda Social, vol. 15, n.2, 2020, p. 204 - 225 
 
219 
Costa; Temoteo; Moura Jr; Pereira; Nunes, Resistência de Crianças e 
territórios periféricos cearenses 
ao Centro Cultural Dragão do Mar71. Esse outro território existencial do qual as crianças 
tomam parte se estende aos pertencimentos de professores e bolsistas e também às 
relações que a nós são possíveis em nossos usos da cidade. UFC que era Dragão do Mar, 
que era Nova Canudos, que precisava devir-cidade, pois as crianças queriam que o trajeto 
já fosse outro, para incluir o encontro com o mar, que não apenas a distância física 
impossibilita de ver e sentir (CORDEIRO; MENEZES, 2001). 
A interpelação do menino funciona como um analisador das relações entre as 
crianças e o espaço urbano. O risco e a impossibilidade de atravessar a cidade são uma 
das linhas que traçam este território existencial, onde criam suas experiências e que seu 
desejo mobiliza como ação política. As crianças de Nova Canudos querem sair, se 
deslocar; pois resistem às violências cotidianas que desenham e criam para elas um 
destino. 
3.3.Serviluz: as andanças brincantes nas ruas do mar. 
 O Serviluz, como é reconhecido por seus moradores e pela população, é uma 
territorialidadeperiférica praieira localizada na cidade de Fortaleza. Sua emergência 
começou a se dar por volta de 1950 com a construção do porto nas redondezas 
(ESPÍNOLA, 2007). O nome do território surgiu como alusão à Companhia de Serviços 
Força e Luz (SERVILUZ), que se tornou ponto de referência do lugar. Nos dias atuais a 
população é composta por cerca de 22 mil habitantes, sendo cerca de 5 mil crianças com 
faixa etária de 0 a 12 de idade e adolescentes com 13 e 14 anos (IBGE, 2010)72, as crianças 
são ¼ dos moradores. 
O lugar tem como expressões os coletivos73 e articulações entre os moradores que 
repercutem em resistências cotidianas ressoando em um fazer micropolítico. Território 
esse que é disputado entre os moradores/nativos/locais74, que carregam a herança dos seus 
ancestrais da cultura pesqueira contra as políticas de remoções75 da Prefeitura de 
 
71 Equipamento cultural público da cidade, situado a 18 quilômetros de Nova Canudos Em setembro de 
2019, as crianças estiveram no Curta o gênero (2019), evento realizado pela Fábrica de imagens: Ações 
Educativas em Cidadania e Gênero, ONG parceira em nossas atividades. 
72 Os dados usados foram pesquisados com o nome Cais do Porto, pois o poder municipal não reconhece o 
nome Serviluz como oficial do bairro em questão. 
73 Associação dos Moradores do Titanzinho (AMT), Coletivo Servilost, Coletivo de AudioVisual, Núcleo 
do Serviluz, entre outros. 
74 No surf, esporte de prática popular nas ondas das praias do Serviluz sendo a praia mais conhecida como 
Titan ou Titanzinho, o termo local ou nativo é para diferenciar os moradores daquele território com os 
surfistas visitantes de outros bairros da cidade. 
75 Temos como exemplo de projeto mais recente o Aldeia da Praia (2019), que tem como proposta remover 
parte dos moradores para a construção de um calçadão e uma praça . 
ISSN: 1981-9862 
 
Fortaleza e de precarizações periféricas, violentamente impostas. Além das praias, é no 
Serviluz que fica o antigo Farol do Mucuripe, que tem importância histórica e cultural 
também para a cidade como patrimônio público. 
 As infâncias, em sua potência inventiva e brincante, agenciam esses fluxos de re-
existir e resistir. As crianças, assim como o marulho, são onipresentes no território e, tal 
qual as resistências, contaminam, enxertam e deslocam o dentro (PEREIRA, 2017). As 
crianças, então, em 2016, passaram a entalhar um barquinho76 com o Projeto de Vida 
Titanzinho para navegar nas águas do Serviluz, onde semanalmente ocorrem os encontros 
com sujeitos entre 6 e 12 anos de idade, na casa de uma moradora, e que, em 2019, passou 
a ser parte do Instituto TrêsMares. Parte da pesquisa-inter(in)venção no território 
aconteceu, também, a partir desse mesmo ano e do seguinte, diante da pesquisa de 
mestrado que tem como vínculos o Projeto de Pesquisa e Extensão Maquinarias 
(VIESES) e o Projeto de Vida Titanzinho (INSTITUTO TRÊSMARES). 
 O dispositivo metodológico usado nesta experiência inter(in)ventiva teve como 
atravessamentos os estudos desenvolvidos por meio do Maquinarias, transformando-se 
em uma pesquisa de mestrado com crianças, moradoras do Serviluz, que participam do 
projeto. A cartografia, como estratégia utilizada para acompanhar cenas do cotidiano de 
crianças, como analisadoras de seus processos de produção de subjetividades nessa 
territorialidade periférica, propõe como ferramenta de pesquisa-inter(in)venção as 
andanças nas ruas, as brincadeiras, idas às praias (das Pedrinhas, do Titanzinho, do Portão 
e do Vizinho), os becos, as casas, a Praça da Estiva, ao Farol do Mucuripe, os lugares 
afetivos ou não do território. Essas andanças tornam-se uma estratégia metodológica de 
produção de confiança (SADE; FERRAZ; ROCHA, 2016) e de mergulho no plano da 
experiência das crianças naquele território (PASSOS; BARROS, 2015). Dessa forma, 
essas andanças foram percorridas com as crianças, guiando de acordo com os seus 
interesses os espaços que gostariam de ir e também o que desejavam fazer. 
 Em diferentes ocasiões, estar com as crianças nessas movimentações entre uma 
casa e outra para convidá-las para a rua é uma experiência performativa brincante. Seja 
com uma criança “implicando” de modo afetivo outra criança ou planejando, durante os 
percursos no território, o que vamos brincar quando chegarmos ao destino acordado entre 
todos. Assim, o território fruto de muitas invenções ao mesmo tempo que construímos e 
partilhamos do território existencial (ALVAREZ; PASSOS, 2015). São cenas como essas 
 
76 Símbolo do Projeto de Vida Titanzinho. 
 
 
Agenda Social, vol. 15, n.2, 2020, p. 204 - 225 
 
221 
Costa; Temoteo; Moura Jr; Pereira; Nunes, Resistência de Crianças e 
territórios periféricos cearenses 
do cotidiano no Serviluz que ilustram como tomamos a brincadeira no território como 
analisador dessas produções coletivas de potências e resistências tecidas por crianças em 
seus cotidianos. As brincadeiras nos trajetos que levam à praia, sendo esse um dos lugares 
mais apreciados no Serviluz, sofrem restrições, pois nem todas as crianças têm acesso ao 
mar por motivos de demarcações simbólicas oriundas dos conflitos entre facções 
criminosas que atuam no local. 
A brincadeira é uma ação de conhecimento por meio do afeto (KASTRUP, 2019), 
como podemos perceber no sentido/significado que a palavra brincadeira tem para uma 
criança de 10 anos: “é estar contente e amado” (NARANJO, 2018, p.28). Ela é uma 
conexão com as relações entre pares, com os adultos e também socialmente. Portanto, as 
brincadeiras no território são produtoras de cultura sobre as infâncias e que mutuamente 
se constituem (DAMIÃO, 2012). Sobre as crianças e as andanças, Damião (2012) reforça 
que o corpo dessas se faz como presença afetiva no espaço, extraindo a potência brincante 
de si e do território, sendo “...a infância que se corporifica nas ruas do bairro” (p. 45). É 
essa multiplicidade de interesses que faz com que as crianças habitem as ruas de 
diferentes modos no seu cotidiano. Como que por meio da brincadeira, sonhando em cima 
da estrutura elevada do farol ou se fazendo equilibrista nas ondas do mar com suas 
pranchas ou “taubinhas”77. 
Em um dos nossos encontros no Serviluz, a brincadeira teve como cenário a Praia 
das Pedrinhas, onde duas crianças, com 11 e 6 anos de idade, que eram irmãos, tinham 
como interesse nas andanças tomar um banho de mar. Essas crianças brincavam entre os 
corais e pedras, elementos naturais dessa praia, quando, em determinado momento, uma 
delas me mostrou uma “pedra-escorregador”, moldada por meio do desgaste provocado 
pelos movimento das marés e coberta por musgos que habitavam sua superfície, que 
impulsionava um divertido mergulho no mar. Isso acontecia cotidianamente, mesmo 
tendo na entrada da praia uma proeminente boca de esgoto desaguando no paraíso 
oceânico dessas crianças, e assim, contaminando-os e, muitas vezes, provocando doenças 
de pele, entre outras mazelas. 
 
77 Na praia do titanzinho (Serviluz) tem a cultura surf de tábua, tendo como modelo de pranchas as 
taubinhas. As taubinhas são feitas de modo artesanal a partir de materiais como madeirite, que foram 
retiradas de construções de prédios. 
 
ISSN: 1981-9862 
 
A lógica desse banho supostamente impróprio por conta do descaso dos órgãos 
responsáveis pela destinação do esgoto é subvertida por essas crianças, por meio da 
brincadeira no mar e também por outras formas de vidas, como peixes, moreias, siris, que 
habitam e resistem naquelas águas. Nesse balanço das ondas, a potência do mar implode 
o devir-criança que “é a abertura ou o desdobramento da infância retraída” (SCHÉRER, 
2009, p.199), retraída muitas vezes pelas precarizações que o território sofre. 
 Como destaca Schérer (2009, p.206), “a criança está em posição permanente de 
resistência, de defesa contra o mundo adulto; ela elabora uma estratégia da qual traça as 
linhas. A subjetividadeem elaboração, a subjetivação da criança é indissociável do meio, 
da subjetivação do meio”. Desse modo, as crianças, na experimentação do território-
Serviluz, por meio das brincadeiras, produzem outros territórios-infância, como também 
outros sentidos que escapam à lógica que estigmatiza contextos periféricos. 
 
4. COMPOSIÇÕES PERIFERIZADAS 
Embarcamos aqui para continuar ocupando e afrontando, como nos deslocam 
signos dos territórios das infâncias periféricas cearenses presentes na composição desta 
escrita. Nomeá-las infâncias periféricas têm relação com regimes de dizibilidade em que 
as periferias são seu próprio centro. Ver-se e dizer-se periferizado mobiliza regimes de 
poder e ações de constituição de um centro e de uma periferia, com as assimetrias e 
(in)visibilizações que isso implica. O uso do signo “periféricos” pelos moradores desses 
territórios é, desse modo, afirmação política do periférico; uma certa ação de periferização 
insurgente (LACAZ, LIMA & HECKERT, 2015). Travamos uma luta (permanente e 
atenta) para não falar “do outro”, em nome do outro, sobre o outro, promovendo 
reterritorializações ainda mais duras e operando a naturalização do periférico. As 
movimentações das crianças na Estrada Velha, Nova Canudos e Serviluz são percebidas 
como modos de resistências enquanto coletividade. Ao ocupar esses espaços (ruas, 
associações, ONGs, cidades) elas produzem a si e ao território mutuamente. Sua presença 
torna-se subversiva diante do controle e vigilância policial, do domínio das facções e/ou 
das relações de poder-saber adultocêntricas, pois brincam e constroem outros sentidos, 
produzindo potencialidade e subvertendo as lógicas instituídas que impedem a criação de 
suas existências. 
 
 
Agenda Social, vol. 15, n.2, 2020, p. 204 - 225 
 
223 
Costa; Temoteo; Moura Jr; Pereira; Nunes, Resistência de Crianças e 
territórios periféricos cearenses 
 Cartografar os movimentos dessas infâncias, estar presente nesses três 
territórios, têm demonstrado a importância de escutá-las e produzir como efeito desta 
escuta seu reconhecimento como sujeitos de ação, tornando possível que elas falem, 
sejam presenças em nossas narratividades e não apenas objetificadas. Ao mesmo tempo, 
perseguindo como horizonte ético a não romantização das vidas periféricas, compondo 
com o enfrentamento das violências e exclusões a que são submetidas em suas 
determinantes estruturais, associadas ao modo de vida capitalista, e, assim, ecoando em 
suas diferentes lutas e conquistas. A invisibilidade social e política das crianças, levando 
em conta não apenas o critério etário e geracional, mas também sua condição de classe, 
raça e etnia, vai se confirmando como uma linha-luta associada às ações cotidianas das 
crianças. Quando reunidas, mobilizam, torcem, provocam tensões. Sua participação e 
ação política pode ficar invisibilizada justamente pelos referenciais adultocêntricos e 
racionalistas (saber, ter consciência, ser competente, maduro). Os efeitos de nossas ações, 
pela constituição conjunta de um território existencial, pode numa cartografia processual 
e intergeracional nos dizer sobre outros aspectos dessa difícil tarefa de se fazer cidadã ou 
cidadão em nosso país. A ação política implica imaginar impossíveis. As crianças buscam 
ocupar espaços que na ótica adultocêntrica não são adequados e nisto reside subverter, 
lançar problemas às lógicas instituídas de entender as sociabilidades entre gerações. 
Passear é ocupar, ser presença com seu corpo, suas semióticas, seus modos de 
narrar. “É nois que inventa!”, diz alegre uma das meninas, parceira em Nova Canudos. 
Pensamos o espaço público (rua, cidade, centros comunitários) como constitutivo de 
nosso modo de subjetivação e como lugar de gestar infâncias como experiências 
intergeracionais. No caso das crianças periféricas, isso vem sendo expropriado por uma 
necropolítica que em contextos pandêmicos, como o que enfrentamos em 2020, revelou 
faces ainda mais cruéis. Estas vivências que nos interrogavam antes da pandemia de 
COVID-19 e que ainda enfrentamos no momento de escrita deste texto, desafia-nos 
quanto às desigualdades que nos repartem cotidianamente. O diálogo com crianças de 
regiões periféricas da nossa cidade fissura o imaginário burguês de infância, pedindo 
passagem para outra ética de co-responsabilização entre gerações. Gerações essas que 
atuam no presente e que, nessa presença, confabulam seus futuros tendo muito que 
desaprender e aprender, assim como dizer e narrar. 
 
ISSN: 1981-9862 
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
AGUIAR, K. F; ROCHA, M. L. Micropolítica e o Exercício da Pesquisa-intervenção: 
Referenciais e Dispositivos em Análise. Psicologia. Ciência e Profissão, 2007, 27 (4). p. 
648 - 663. 
ALVAREZ, J.; PASSOS, E. Cartografar é habitar um território existencial. In: PASSOS, 
E.; KASTRUP, V.; ESCÓSSIA, L. (Orgs). Pistas do método da cartografia: Pesquisa-
intervenção e produção de subjetividade. Porto Alegre, Sulina, 2015. p. 131 - 149. 
BISSOLI, M. F. Desenvolvimento da personalidade da criança: o papel da educação 
infantil. Psicologia em Estudo, Maringá, v. 19, n. 4, p. 587-597, out./dez. 2014. 
BUTLER, J. Quadros de Guerra: quando a vida é passível de luto?. Tradução: Sergio 
Tadeu de Niemeyer Lamarão e Arnaldo Marques da Cunha. 4ª. ed. Rio de Janeiro: 
Civilização Brasileira, 2018. 
CEARÁ. Coronavírus e homicídios: o Ceará sob duas epidemias. Nota técnica 
(01/2020) do Comitê Cearense pela Prevenção de Homicídios na Adolescência. 
Assembleia Legislativa do Estado do Ceará. Fortaleza. Ceará. 2020. 
CORDEIRO, A. C. F.; MENEZES, J. A. Fortaleza de leste a oeste: progresso e beleza 
‘pra turista ver’. In: CASTRO, L. R. (Org). Subjetividade e Cidadania: um estudo com 
crianças e jovens em três cidades brasileiras. Rio de Janeiro: 7 letras, 2001. p. 21 - 62. 
CHAGAS, I. Como o funk surgiu no Brasil e quais são suas principais polêmicas. 
Poletize!, 2018. Disponível em: <https://www.politize.com.br/funk-no-brasil-e-
polemicas/>. Acesso em: 10 jun. 2020. 
COSTA, E. A.; MOURA JR., J. F.; BARROS, J. P. P. Pesquisar n(as) margens: 
especificidades da pesquisa em contextos periféricos. In: Elder Cerqueira-Santos e 
Ludgleydson Fernandes de Araújo. (Org.). Metodologias e Investigações no Campo da 
Exclusão Social. 1ª. ed. Teresina: EDUFPI, 2020. p. 13 - 31. 
DAMIÃO, F. J. Primeira infância, afrodescendência e educação no Arraial do Retiro. 
1 ª ed; Salvador: EDUFBA, 2012. p. 156. 
DELEUZE, G. Foucault/Gilles Deleuze. Tradução: Claudia Sant’ Anna Martins. São 
Paulo: Brasiliense, 2005. 
DELEUZE, G.; GUATTARI, F. Mil Platôs: Capitalismo e Esquizofrenia Vol 4. 
Tradução: Suely Rolnik. São Paulo: Ed 54, 1997. p. 176. 
DIÓGENES, G. Cidade, arte e criação social: novos diagramas de culturas juvenis da 
periferia. Estudos Avançados, Ceará, 34 (99), p. 373 - 390, Jul. 2020. 
FONSECA, T. M et al. Pesquisa e acontecimento: o toque no impensado. Psicol. estud., 
Maringá, v. 11, n. 3, p. 655 - 660, Dec. 2006. 
ESPÍNOLA, R. Caravelas Jangadas e Navios uma História Portuária. 2ª. ed. 
Fortaleza: Editora Omni, 2007. 
GUATTARI, F; ROLNIK, S. Micropolítica: Cartografias do Desejo. 7ª. ed. Petrópolis: 
Vozes, 2005. 
https://www.politize.com.br/funk-no-brasil-e-polemicas/
https://www.politize.com.br/funk-no-brasil-e-polemicas/
 
 
Agenda Social, vol. 15, n.2, 2020, p. 204 - 225 
 
225 
Costa; Temoteo; Moura Jr; Pereira; Nunes, Resistência de Crianças e 
territórios periféricos cearenses 
GOÉS, J. R.; FLORENTINO, M. Crianças escravas, crianças dos escravos. In: PRIORE, 
M. D. (Org.). História das Crianças no Brasil. 7ª. ed. São Paulo: Contexto, 2018. p. 177 
– 191. 
IBGE. Censo do IBGE 2010. População do bairro Cais do Porto em Fortaleza, CE. 
Ceará: IBGE, 2010. Disponível em: <https://applocal.com.br/populacao/bairro/cais-do-
porto/fortaleza/ce#:~:text=A%20popula%C3%A7%C3%A3o%20do%20bairro%20Cais
,10.867%20homens%20e%2011.515%20mulheres.>.Acesso em: 23 de agosto de 2020. 
JUNIOR, N. G. S. S.; GARCIA, R. M. Higienismo no Brasil no Início do Século XX: 
Uma breve análise sobre o instituto de proteção e assistência à infância. In: LOBO, L. F.; 
FRANCO, D. A. (Orgs). Infâncias em Devir: Ensaios e Pesquisas. 1ª. ed. Rio de Janeiro: 
Garamond, 2018. p. 47 - 52. 
KASTRUP, V. Abecedário Virgínia Kastrup: Cartografias da Invenção. 2019. 
(2h24m49s). Disponível em: 
<https://www.youtube.com/watch?v=mTWns8ACYDU&t=890s>. Acesso em: 03 de 
jun. de 2020. 
KASTRUP, V; PASSOS, E. Cartografar é traçar um plano comum. In: PASSOS, E; 
KASTRUP, V; TEDESCO, S. (Orgs). Pistas do Método da Cartografia: a experiência 
e o plano comum. Porto Alegre: Sulina, 2016. p. 15 - 41. 
LACAZ, A. S.; LIMA, S. M.; HECKERT, A. L. C. Juventudes Periféricas: Arte e 
Resistência no contemporâneo. Psicol. Soc., Belo Horizonte, v. 27, n. 1, p. 58 - 67, Apr. 
2015. 
MARCHI, R. C.; SARMENTO, M. J. Infância, Normatividade e Direitos das Crianças: 
Transições Contemporâneas. Educ. Soc., Campinas, v. 38, nº. 141, p. 951 - 964, out.-
dez., 2017. 
MBEMBE, A. Políticas da Inimizade. 1ª. ed. Lisboa: Antígona, 2017. 
MOURA JR, J. F; SARRIERA, J. C. Práticas de resistência à estigmatização da pobreza: 
caminhos possíveis. In: XIMENES, V.M.; NEPOMUCENO, B. B.; CIDADE, E. C.; 
MOURA JR. J. F. (Org.). Implicações Psicossociais da pobreza. Fortaleza: Expressão 
Gráfica e Editora, 2016. p. 263 - 288. 
MOURA JR, J. F; LIMA, A. A. S; FERREIRA, F. G. S. Infância em situação de pobreza: 
relatos de experiências interseccionais da extensão universitária na Estrada Velha-
Acarape/CE. In: COSTA, G; Silva; E. R. O. (Org). Experiências em ensino, pesquisa 
e extensão na Unilab: caminhos e perspectivas. 1ª. ed. Fortaleza: Imprece, 2018, v. 3, p. 
434 - 448. 
NARANJO, J. Casa das Estrelas: o universo pelo olhar das crianças. 2ª. ed. São Paulo: 
Planeta do Brasil, 2018. p. 144. 
NASCIMENTO, M. L. (Org). Pivetes: a produção de infâncias desiguais. Niterói: 
Intertexto; Rio de Janeiro Oficina do Autor, 2002. 
PASSOS; E.; BARROS, R. B. A cartografia como método de pesquisa-intervenção. In: 
PASSOS, E; KASTRUP, V; ESCÓSSIA, L. (orgs). Pistas do método da cartografia: 
Pesquisa-intervenção e produção de subjetividade. Porto Alegre: Sulina, 2015. p. 17 - 31. 
https://applocal.com.br/populacao/bairro/cais-do-porto/fortaleza/ce#:~:text=A%20popula%C3%A7%C3%A3o%20do%20bairro%20Cais,10.867%20homens%20e%2011.515%20mulheres
https://applocal.com.br/populacao/bairro/cais-do-porto/fortaleza/ce#:~:text=A%20popula%C3%A7%C3%A3o%20do%20bairro%20Cais,10.867%20homens%20e%2011.515%20mulheres
https://applocal.com.br/populacao/bairro/cais-do-porto/fortaleza/ce#:~:text=A%20popula%C3%A7%C3%A3o%20do%20bairro%20Cais,10.867%20homens%20e%2011.515%20mulheres
https://www.youtube.com/watch?v=mTWns8ACYDU&t=890s
ISSN: 1981-9862 
 
PEREIRA, E. Resistência Descolonial: Estratégias e Táticas Territoriais. Terra Livre, 
São Paulo, v. 2, n, 43, p. 17 - 55, 2017. 
PINHEIRO, A. Criança e Adolescente no Brasil: Porque o Abismo entre a Lei e a 
Realidade. 1ª. ed. Fortaleza: Editora UFC, 2006. 
PITOMBEIRA, D. ; MELO, J. F. ; MOURA JR., J.F.; BOMFIM, Z. Reflexões 
decoloniais sobre as relações entre pobreza e racismo no contexto brasileiro. Capoeira- 
Revista de Humanidades e Letras, v. 5, p. 197 - 215, 2019. 
SADE, C; FERRAZ, G. C; ROCHA, J. M. O Ethos da Confiança na Pesquisa 
Cartográfica: experiência compartilhada e aumento da potência de agir. In: PASSOS, E; 
KASTRUP, V; TEDESCO, S. (Orgs). Pistas do Método da Cartografia: a experiência 
e o plano comum. Porto Alegre: Sulina, 2016. p. 66 - 91. 
SANTOS, M. A. C. Criança e Criminalidade no Início do Século. In: PRIORE, M. D. 
(Org.). História das Crianças no Brasil. 7ª. ed. São Paulo: Contexto, 2018. p. 210 – 230. 
SARMENTO, M. J. Imaginário e culturas da infância. Cadernos de Educação, Pelotas, 
v. 12, n. 21, p. 51 - 69, 2003. 
SCHÉRER, R. Infantis: Charles Fourier e a infância para além das crianças. 
tradução: Guilherme João de Freitas Teixeira. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2009. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
View publication statsView publication stats
https://www.researchgate.net/publication/351845091

Continue navegando