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Prévia do material em texto

HISTÓRIA
HISTÓRIA REGIONAL
Eber Mariano Teixeira
Thiago Thomaz Garcia
http://unar.info/ead2
 
 
 
 
HISTÓRIA REGIONAL 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Prof. Ms. Eber Mariano Teixeira 
Prof. Esp. Thiago Thomaz Garcia
2 
 
SUMÁRIO 
 
APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA .............................................................................................. 3 
PROGRAMA DA DISCIPLINA ..................................................................................................... 4 
UNIDADE 1. CONCEITOS E ABORDAGENS HISTORIOGRÁFICAS ......................................... 6 
UNIDADE 2. REGIÃO: CONSTITUIÇÃO DO ESPAÇO URBANO E RURAL ............................ 10 
UNIDADE 3. O RURAL NO URBANO OU O URBANO NO RURAL? .................................... 13 
UNIDADE 4. ECONOMIA, SOCIEDADE E HISTÓRIA REGIONAL .......................................... 17 
UNIDADE 5. CIDADE E PATRIMÔNIO – PARTE I ................................................................... 23 
UNIDADE 7. CULTURA E IDENTIDADE REGIONAL ................................................................ 30 
UNIDADE 8. FRINTEIRAS, TERRITÓRIOS E PODER LOCAL ................................................... 35 
UNIDADE 9. O LOCAL E O REGIONAL .................................................................................... 40 
UNIDADE 10. UM NOVO CONCEITO PARA O REGIONAL ................................................... 44 
UNIDADE 11. HISTORIOGRAFIA BRASILEIRA: ESTUDOS REGIONAIS – PARTE I ............... 49 
UNIDADE 12. HISTORIOGRAFIA BRASILEIRA – ESTUDOS REGIONAIS – PARTE II ........... 53 
UNIDADE 13. REGIÃO: UMA CATEGORIA HISTÓRICA ......................................................... 58 
UNIDADE 14. REGIONALISMO HISTORIOGRAFIA BRASILEIRA ........................................... 62 
UNIDADE 15. A MICRO HISTÓRIA .......................................................................................... 67 
UNIDADE 16. A HISTÓRIA REGIONAL: AINDA NOVOS PARADIGMAS .............................. 71 
UNIDADE 17. A NOVA HISTORIOGRAFIA: ESCOLA DOS ANNALES................................... 76 
UNIDADE 18. ESCOLA DOS ANNALES: SEGUNDA GERAÇÃO ............................................ 80 
UNIDADE 19. HISTÓRIA REGIONAL NA SALA DE AULA – PARTE I .................................... 84 
UNIDADE 20. HISTÓRIA REGIONAL NA SALA DE AULA – PARTE II ................................... 88 
 
 
3 
 
APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA 
 
Esta obra é parte do material didático que dá suporte às suas atividades 
de autoestudo e autoformação no curso Licenciatura em História na 
modalidade a distância, pelo Centro Universitário de Araras Dr. Edmundo Ulson 
- UNAR. 
Procure conhecer e explorar o máximo possível todo o material 
disponibilizado para o seu curso. 
É importante ter consciência de que este é um material básico, 
especialmente preparado para lhe oferecer uma visão essencial ao estudo do 
conteúdo de cada unidade proposta sobre História Regional. Portanto, ele não 
tem o objetivo de ser o único material para pesquisa e estudo. Pelo contrário, 
durante o decorrer dos textos, o próprio módulo sugerirá outras leituras, 
apontando onde você poderá encontrar fontes para aprofundar, verticalizar ou 
trazer outros olhares sobre os assuntos abordados. 
Então estudante, encare este material como um parceiro de estudo, 
dialogue com ele, procure as leituras que ele indica, desenvolva as atividades 
sugeridas e, junto com seus colegas, busque o apoio dos tutores. 
Bons estudos! 
Professor Eber Mariano Teixeira 
 
 
 
 
 
 
 
4 
 
PROGRAMA DA DISCIPLINA 
 
Ementa 
Contribuir para uma reflexão mais acurada sobre a História Regional, a 
fim de fazer emergir os diferentes sujeitos sociais nas formas improvisadas de 
organizar a sobrevivência material, as lutas, as resistências, as tensões e os 
conflitos. Neste sentido, o trabalho com a História Regional e local se coloca, 
hoje, como um campo de reflexão que pode render frutos à produção 
historiográfica, pois constitui um suporte material ao desenvolvimento de 
pesquisa a partir de temáticas regionais/locais. O estudo das muitas memórias e 
histórias em múltiplos lugares se insere num campo da luta política pelo direito 
à memória, ao buscar fazer leituras diferentes das versões 
autorizadas/estabelecidas pelos agentes dos poderes instituídos nas 
cidades/municipalidades. 
 
Objetivos 
∑ Contribuir na atualização e capacitação do profissional da área de 
história, partindo de uma integração entre ensino e pesquisa. 
∑ Desenvolver um diálogo de modo a formar alunos capacitados ao 
trabalho como o ensino e a pesquisa histórica em diferentes campos de 
atuação profissional. 
 
Bibliografia Básica 
FERRO, Marc. História Vigiada. São Paulo: Martins Fontes, 1989. 
GINZBURG, Carlo. A Micro-História e Outros Ensaios. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 
1989. 
SILVA, Marcos (Org.). República em Migalhas: História Local e Regional. São Paulo: 
Marco Zero, 1990. 
5 
 
Bibliografia Complementar 
ALMEIDA, Carla Maria Carvalho; OLIVEIRA, Monica Ribeiro. Exercícios de micro-
história. Rio de Janeiro: FGV, 2009. 
BRAUDEL, Fernand. Civilização Material, Economia e Capitalismo (Séculos XV-
XVIII). Vol. 3 (O Tempo do Mundo). São Paulo: Martins Fontes, 1996. 
BURKE, Peter (Org.). A Escrita da História: Novas Perspectivas. São Paulo: UNESP, 
1992. 
MANIQUE, A.P.; PROENÇA, M. C. Didactica da história: Patrimônio e história local. 
Lisboa: texto, 1994. 
MATOS, Alvaro. Primeiras jornadas de história local e regional. Portugal: Colibri, 
1994. 
 
6 
 
UNIDADE 1. CONCEITOS E ABORDAGENS 
HISTORIOGRÁFICAS 
 
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE 
Objetivo 
Nesta unidade, propõe-se introduzir o conceito de História Regional na 
historiografia. É possível compreendermos as proposições enunciadas através de 
abordagens teóricas, exercícios, reflexões e atividades práticas. 
 
ESTUDANDO E REFLETINDO 
O conceito de região é derivado da palavra latina regere, do radical reg – que 
expressa a ideia de relações de poder, rei, gerente, regra, dirigir, comandar. Durante o 
Império Romano, regione, era a denominação que designava uma área que possuía 
uma administraçao local, mas estava suborinada às ordens centrais de Roma. Desde 
sua origem, traz em si a conexão entre o particular e o geral, entre o específico e o 
universal, entre diversidade e unidade. 
A todo o momento ouvimos alguma referência, perguntas, dúvidas sobre o 
conceito de região, regional ou local e até mesmo as diferenças regionais. O que é 
região? Você mora naquela região da cidade? Como foram divididas as regiões do 
Brasil? Quando, quem e por que fez a divisão? 
A historiadora Janaína Amado (1990) chama atenção para pensarmos que o ser 
humano procurou “enquadrar”, classificar os locais, conforme as semelhanças, negando 
assim aquilo que fugia do convencionado, como aquela região. Nessa concepção, não 
há lugar para especificidades. No Brasil, em vários momentos, houve o combate às 
especificidades das diferentes regiões, “em nome da unidade territorial, todos os 
movimentos de caráter regional eram sufocados, mesmo os que não tinham 
reivindicações separatistas.” (AMADO, 1990). 
 
 
 
7 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A primeira divisão do território do Brasil em grandes regiões foi proposta em 
1913, para ser usada no ensino de geografia. Os critérios usados para fazê-la foram 
físicos: levou-se em consideração o relevo, o clima e a vegetação, por exemplo. Não foi 
à toa! Na época, a natureza era considerada duradoura e as atividades humanas, 
mutáveis. 
Fonte: <www.geografiaparatodos.com.br>. Acesso em 02/12/2014. 
 
Estas ideias sobre região como divisão meramente natural, deterministas e 
naturalistas foram perdendo terreno, em detrimento de perspectivas que levavam em 
Nas primeiras décadas do século 20, início da República, a primeira 
divisãoregional do Brasil tomou por base as diferenças naturais, na qual, 
“os olhos dos brasileiros responsáveis pelo ‘desenho’ do território nacional 
só são capazes de perceber as diferenças das paisagens desenhadas pela 
natureza”. A idéia de região como algo natural, intocável e indiscutível 
permaneceu durante bom tempo como predominante em várias áreas do 
conhecimento, principalmente na História e na Geografia. (Adaptado de 
AMADO, 1990). 
8 
 
conta uma ideia de região feita ou construída antes de tudo por homens e mulheres e, 
portanto submetida a uma determinada historicidade. 
A partir de 1980, houve mudanças de pensamentos e começaram a surgir 
pesquisas direcionadas à história regional. Diversas foram as correntes que se 
apropriaram do conceito de região, modificando segundo seus pressupostos teórico-
metodológicos. 
Para garantir a permanência e unificação dos habitantes de uma região em 
torno de alguns princípios supostamente comuns a todos, para obter o progresso, o 
desenvolvimento, historicamente têm sido construídos discursos de homogeneização e 
de igualdade de tudo e todos. Nesses discursos, os diferentes ou as diversidades da 
região são sufocados ou minimizados. 
Para Barros (2004), "Quando um historiador se propõe a trabalhar dentro do 
âmbito da História Regional, ele mostra-se interessado em estudar diretamente uma 
região específica." Ainda segundo o autor, o espaço regional não está relacionado 
apenas a um recorte administrativo ou geográfico, podendo se reportar a qualquer 
outro recorte proposto pelo historiador de acordo com o problema a que se propuser 
a pesquisar. Ele aponta que o interesse central do historiador regional é o estudo deste 
espaço, ou as relações sociais que se estabelecem dentro dele. 
 
 
 
 
 
 
 
 
Podemos considerar que a história regional, quando trabalhada 
adequadamente, torna-se um vasto campo para os pesquisadores, pois ela possibilita 
aos historiadores conhecerem particularidades históricas que, perante a história geral 
como um todo, seriam ignoradas se não estudadas em partes. 
O interesse central do historiador regional é estudar especificamente este 
espaço, ou as relações sociais que se estabelecem dentro deste espaço, mesmo que 
eventualmente pretenda compará-lo com outros espaços similares ou examinar em 
algum momento de sua pesquisa a inserção do espaço regional em um universo 
maior (o espaço nacional, uma rede comercial) (BARROS, 2004, p. 153). 
9 
 
A história regional sofreu modificações ao longo do tempo, passou de uma 
situação de descaso para outra de relativo sucesso acadêmico. O desenvolvimento de 
pesquisas históricas e acadêmicas geraram maior credibilidade às elaborações 
históricas regionais. Assim, podemos dizer que região é uma categoria espacial que 
expressa uma especificidade, uma singularidade dentro de uma totalidade, 
configurando um espaço particular, dentro de uma determinada organização social 
mais ampla, com a qual se articula”. (BARROS, 2004). 
 
BUSCANDO CONHECIMENTO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Leia o fragmento retirado do trecho da obra do historiador José 
Mattoso para ajudá-lo em uma melhor compreensão dos conceitos 
abordados ao longo desta unidade. 
A história local e regional deve partir de um estudo da relação entre o 
homem e o espaço habitado que o rodeia. Necessitando subsistir num 
determinado território, juntamente com outros habitantes que ali buscam 
também a subsistência, integra-se num grupo, e este, por sua vez, associa-se a 
outros grupos, que constituem um conjunto vasto. Os círculos em que o homem 
se situa vão-se assim alargando até atingirem as fronteiras daqueles que se 
consideram inimigos ou totalmente desconhecidos. A descrição e o estudo do 
quadro territorial na história regional e local não são, portanto, como que a 
enunciação das premissas das quais, depois as consequências de uma causa; são 
a apresentação de um quadro dos materiais ainda informes que, ao mesmo 
tempo, envolvem e limitam o homem, lhe fornecem os elementos que depois 
não só consome, mas também transforma, compõe e recria. 
 MATTOSO, José. “A história regional e local”. In: A escrita da história. Lisboa: Editorial 
Estampa 1988 p 169 175 
 
10 
 
UNIDADE 2. REGIÃO: CONSTITUIÇÃO DO ESPAÇO 
URBANO E RURAL 
 
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE 
Objetivo 
Nesta unidade, convido você para refletir sobre os processos de constituição do 
espaço urbano e rural, para além de um espaço meramente geográfico, mas, 
constituídos de fronteiras simbólicas que ordenam as categorias sociais e os grupos 
sociais em suas mútuas relações. 
 
ESTUDANDO E REFLETINDO 
 Como vimos na unidade anterior, muitos são os termos e significações 
adotados para descrever o conceito de região. Porém, para o estudo da história, 
tomemos como base os conceitos que não colocam o termo apenas como delimitação 
de uma área, mas, como as relações sociais históricas que se estabelecem e se 
constroem dentro de diferentes espaços. Portanto, a importância de refletirmos 
historicamente sobre a construção dos espaços urbanos e rurais. 
Nos últimos anos, as pesquisas sobre a cidade tomaram um novo rumo. Hoje os 
estudiosos têm à disposição um volume muito grande de dados, como registros fiscais, 
censos, licenças, listas telefônicas e profissionais, além dos mais diversos tipos de livros 
(paroquiais, de registro civil, entre outros). A pesquisa nos dias atuais tornou-se viável 
com o auxílio de computadores, capazes de agilizar leituras de inúmeros materiais. O 
estudo das cidades tem proporcionado o surgimento de equipes interdisciplinares, 
encarregadas de desenvolver investigação de grande amplitude. Consequentemente, 
os objetos de pesquisa também se ampliaram, reconstruindo a complexidade da 
estrutura social, destacando as relações presentes entre os vários segmentos sociais do 
espaço urbano. 
 A “nova história urbana” possui também a característica de empregar teorias 
para poder organizar a grande quantidade de material disponível. Vainfas e 
Cardoso (1997) apontam três núcleos principais de reflexão para os historiadores 
11 
 
ficarem atentos sobre as pesquisas em história da cidade e os processos de 
constituição dos espaços urbanos: (1) as funções da cidade e seu vínculo com o 
fomento da urbanização; (2) os efeitos da vida urbana sobre os ciclos vitais dos 
indivíduos, sobre o trabalho e a família; (3) as mudanças espaciais e ecológicas na 
cidade, provocadas pelo desenvolvimento econômico e social. 
 Desta forma, a urbe torna-se um campo amplo para a pesquisa, pois é um 
espaço heterogêneo, construído historicamente pelos mais diversos sujeitos que 
organizam e reorganizam, inventam e reinventam o espaço onde habitam, dotando-o 
de uma racionalidade própria. 
De acordo com Petuba (2001), a construção dos conceitos de cidade, urbano e 
espaço, são noções fundamentais que orientam a pesquisa e o trabalho para que os 
historiadores interessados comecem a refletir sobre esta temática. 
Para Toledo (2009), a história local é entendida como uma modalidade de 
estudos históricos que contribui para a construção dos processos interpretativos sobre 
como os atores sociais se constituem historicamente em seus modos de viver, situados 
em espaços socialmente construídos e representados pelo poder político e econômico 
na forma estrutural de “bairros” e “cidades”. Para isso, metodologicamente, adentra um 
conjunto de práticas sociais vinculadas a experiências históricas que são trazidas à tona 
pelas mais diversas fontes. 
Por meio desta definição, podemos concluir que a cidade torna-se um objeto 
excepcional de estudo, no qual se destaca o papel das vivências e experiências sociais 
como definidoras dos espaços de sociabilidade, ou seja, da localidade. 
 A região engloba diversos aspectos e se divide em unidades menores (cidades) 
que, por sua vez, se subdividem em bairros e comunidade. 
 
DEFINIDO CONCEITOSPodemos verificar abaixo a conceituação de algumas dessas unidades 
pertencentes à região. Lembrando que estas definições são meramente didáticas, para 
facilitar sua compreensão sobre o capítulo abordado. 
 
 
12 
 
Região – é propriamente o espaço social construído historicamente, sendo que essa 
construção histórica estaria ligada muito á cultura do historiador, a idéia de espaço, 
tempo e história do próprio historiador. (PRIORI, 1994). 
Cidade – pode ser considerada como a expressão concreta de processos sociais vividos 
por diferentes sujeitos na forma de um ambiente físico construído sobre o espaço 
geográfico. Ou seja, a cidade reflete as características de uma sociedade, constituindo 
um importante local de acumulação de capital. (CORRÊA, 1989). 
Bairro – pode ser entendido como uma mediação entre o espaço privado (da casa, da 
família) e o público, entre a vida familiar e as relações societárias mais amplas. De tal 
forma que o bairro é o locus de uma sociabilidade intermediária, baseada em larga 
medida no compartilhamento de referenciais espaciais comuns, como o espaço do 
encontro, construído no nível da vida cotidiana. (RAMOS, 2001). 
Comunidade – nas condições globalizantes do mundo é que “as pessoas resistem ao 
processo de individualização e atomização, tendendo a agrupar-se em organizações 
comunitárias que, ao longo do tempo, geram um sentimento de pertença e, em última 
análise, em muitos casos, uma identidade cultural, comunal”. (CASTELLS, 1999). 
Espaço urbano é constituído pela ação dos múltiplos sujeitos que o habitam e por isso 
mesmo é heterogêneo, está sempre em movimento e constante reelaboração, é de 
grande importância para compreendermos a relação existente entre o grupo estudado 
e o próprio fazer-se da cidade. (ARANTES, 1994). 
 
BUSCANDO CONHECIMENTO 
Para aprofundar o conhecimento sobre o conceito região, segue a sugestão de 
leitura abaixo: 
BREITBACH, Áurea Corrêa de Miranda. Estudo sobre o conceito de região. Porto 
Alegre, Fundação de Economia e Estatística Siegfried Emanuel Heuser, 1988. 
 
 
13 
 
UNIDADE 3. O RURAL NO URBANO OU O URBANO NO 
RURAL? 
 
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE 
Objetivos 
Nesta unidade, convido você para refletir sobre os processos de constituição do 
espaço urbano e rural, para além de um espaço meramente geográfico, mas, 
constituídos de fronteiras simbólicas que ordenam as categorias sociais e os grupos 
sociais em suas mútuas relações. 
 
ESTUDANDO E REFLETINDO 
 Para você que tem interesse em debruçar sobre os estudos da História Regional 
refletindo sobre temáticas das vivências no campo, no mundo rural. O desafio 
contemporâneo é pensar a relação campo-cidade de forma interdependente e não de 
forma antagônica e dissociada. As novas relações produtivas e sociais aproximam de tal 
forma o rural e urbano que os dois se completam. Se, de um lado o mundo rural se 
reinventa e se requalifica mantendo sua ruralidade, isso não significa que haja oposição 
em relação à cidade. Ao contrário, a convivência, as relações comerciais e culturais, as 
relações de amizade e parentesco, a mobilidade entre campo e cidade, a relação de 
interdependência - indicam que não existe qualquer dicotomia campo-cidade, ao 
contrário, existe uma relação simbiótica que permite uma cooperação mútua entre a 
cidade e o campo. O campo e a cidade são realidades históricas em transformação 
tanto em si próprias quanto em suas inter-relações. (WILLIAMS, 1990). 
É interessante pensar em alguns itens que podem ajudá-lo a problematizar 
possíveis temáticas de pesquisas históricas da sua região. 
Dentre estas reflexões destacam-se as seguintes problemáticas para o historiador: 
∑ A preocupação do historiador em identificar o processo de migração – a 
vivência de homens e mulheres que se deslocaram do campo para a cidade; 
∑ A dinâmica social que possibilita as permanências, as desistências e as 
recriações culturais de elementos do campo vistos na cidade; 
14 
 
∑ Problematizar os laços de convivência, os valores e as estratégias de 
sobrevivência de homens e mulheres que vivem no campo; 
∑ Transformações econômicas, políticas, sociais e ambientais sobre o campo. 
Leia o texto de Raquel Rolnik, que é arquiteta, urbanista, relatora especial da 
Organização das Nações Unidas para o direito à moradia adequada e Professora da 
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo. Seus trabalhos 
vêm sendo utilizados para reflexões de vários pesquisadores no Brasil, inclusive para 
aqueles que têm interesse em refletir sobre os projetos de história local, o 
reordenamento dos espaços constitutivos das cidades e os problemas sociais locais. 
 
Lixão de “Avenida Brasil”: realidade ou ficção? 
27/04/12 
 
Em “Avenida Brasil”, novela do horário nobre da Globo, o público vem 
acompanhando o drama amoroso de Nina e Jorginho, cujo cenário é um lixão do Rio 
de Janeiro. Até cena de amor os personagens de Débora Falabella e Cauã Reymond já 
viveram no local. Seria o lixão de Nina 
e Jorginho (ou Rita e Batata) ficção ou 
realidade? 
Infelizmente, nem mesmo na Cidade 
Maravilhosa os lixões são ficção de 
novela. Recentemente foi anunciado o 
fechamento do lixão do Jardim 
Gramacho, o maior da América Latina, 
muito conhecido por conta do documentário “Lixo Extraordinário”. 
Finalmente a montanha de lixo de 60m de altura que ocupa uma área de 1,3 
milhão de metros quadrados sairá da paisagem do Rio de Janeiro, dando fim ao 
desastre ambiental que vem causando há varias décadas. Durante mais de 30 anos, 
todo o lixo produzido na capital fluminense e em mais quatro cidades foi jogado ali. 
Os mais de 1.200 catadores que trabalham no lixão do Jardim Gramacho estão 
preocupados com o futuro, já que é daquele lugar que eles tiram o seu sustento e de 
15 
 
seus familiares. No total, mais de 13 mil pessoas moram na área, que depende 
economicamente do lixão. Com toda razão, eles esperam que o fechamento só 
aconteça depois que todos os catadores forem indenizados e as condições de 
sobrevivência econômica sejam asseguradas. Em São Gonçalo, trabalhadores do lixão 
de Itaoca, que foi fechado em fevereiro, reclamam não ter recebido a indenização que 
os catadores do Jardim Gramacho receberão e se encontram em situação pior do que a 
que tinham quando catavam no lixão: sem casa nem sustento. 
Em todo o Brasil, do total de 5.565 municípios, mais de 4.400 (80%) ainda têm 
lixões. Em Brasília, por incrível que pareça, ainda está em funcionamento o lixão da 
Estrutural, surgido na década de 1960 logo após a inauguração da cidade. Uma das 
metas da Política Nacional de Resíduos Sólidos, instituída em 2010 pela Lei 12.305, é 
justamente acabar com os lixões em todas as cidades do país. O prazo estabelecido 
para isso está perto: é 2014. Os dois casos que eu comentei, no entanto, mostram que 
o processo de desativação de lixões é complexo, com impactos não apenas ambientais, 
mas também econômicos e sociais. 
“Avenida Brasil”, em que pesem as licenças poéticas da vida no lixão e a visão 
estereotipada do subúrbio carioca, tem ao menos o mérito de deslocar da telinha o 
16 
 
entediante mundo repetitivo da zona sul e mostrar uma realidade pouco vista nas 
novelas. 
Fonte: https://raquelrolnik.wordpress.com/2012/04/27/lixao-de-avenida-brasil-
realidade-ou-ficcao/ 
 
Texto complementar: Couto, Ana Magna Silva. Das sobras a indústria da 
reciclagem: a invenção do lixo na cidade (Uberlândia-MG, 1980-2002). Tese de 
Doutorado, defendida na PUC-SP, 2006. Disponível na Biblioteca digital da PUC/SP: 
http://lumen.pucsp.br 
 
BUSCANDO CONHECIMENTO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SAIBA MAIS! 
SANTANA, Charles D'Almeida. Fartura e Ventura Camponesas: trabalho, 
cotidiano e migrações Bahia: 1950-1980. São Paulo: Anablume, 1998. 
Produzindo fontes orais a partir de entrevistas com homens e 
mulheres que vivenciaram a perdade suas possibilidades de trabalho no 
Recôncavo Baiano, Charles Santana surpreende, nas representações 
presentes nas memórias destes trabalhadores rurais, costumes, valores, 
tradições - enfim, dimensões de uma cultura popular rural constituída na 
luta pela sobrevivência na região. 
Trabalhadores do recôncavo baiano. 
 
17 
 
UNIDADE 4. ECONOMIA, SOCIEDADE E HISTÓRIA 
REGIONAL 
 
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE 
Objetivos 
Esta unidade tem como objetivo refletir sobre possibilidades de pesquisa 
histórica com temas relacionados a produção e economia local. Introduzimos uma 
breve reflexão sobre a historiografia Econômica a partir dos trabalhados da historiadora 
Alice Canabrava. Para essa unidade disponibilizamos um artigo publicado no Jornal da 
Unicamp, com reflexões da Tese: “Uma dinastia do capital nacional: a formação da 
riqueza dos Lacerda Franco e a diversificação da economia cafeeira paulista (1803 a 
1897)” do historiador Gustavo Pereira da Silva. 
 
ESTUDANDO E REFLETINDO 
Muitos pesquisadores estão discutindo a história regional com temas voltados 
aos aspectos econômicos e a produção local. Nesse aspecto a autora Janaina Amado 
chama atenção para compreensão de algumas características, que delimitam o trabalho 
da pesquisa regional e as atividades econômicas locais: 
 [...] o estudo regional oferece novas óticas de análise ao estudo de cunho 
nacional, podendo apresentar todas as questões fundamentais da História 
como as atividades econômicas, a partir de um ângulo de visão que faz aflorar 
o específico, o próprio, o particular. A historiografia nacional ressalta as 
semelhanças, a regional lida com as diferenças e a multiplicidade. (AMADO, 
1990, p. 12-13). 
 
Os critérios econômicos escolhidos pelos historiadores como temáticas são: 
cultura agrícola, as zonas canavieiras, cafeeiras, algodoeiras, mineradoras, de pecuárias 
dentre outras. 
 
 
 
18 
 
Historiografia econômica: algumas abordagens a partir da historiadora Alice 
Canabrava 
Alice Piffer Canabrava (1911-2003) foi uma mulher de fibra. Ainda menina, 
rompera com os preceitos recomendados às garotas de sua época. Na maturidade, 
superou as barreiras do machismo vigente e tornou-se a primeira professora 
catedrática da Universidade de São Paulo (USP). Foi também diretora da Faculdade de 
Ciências Econômicas e Administrativas (FCEA – hoje, FEA) entre 1954 e 1957. Já 
aposentada, ascendeu aos títulos de Professora Emérita da faculdade e sócia honorária 
da Associação Brasileira de Pesquisadores em História Econômica (ABPHE). 
Alice nasceu em Araras, interior de São Paulo, em 1911. Destemida, após 
completar os estudos primários nessa cidade, transferiu-se, acompanhada da irmã, para 
a capital do estado, onde cursou o ginásio como interna do Colégio Stafford e a Escola 
Normal Caetano de Campos, a conhecida escola da Praça da República. Após a 
experiência na cidade grande, regressou ao interior e dedicou-se durante quatro anos 
ao magistério público primário. A atividade era louvável, porém a privava de seus 
maiores desejos: realizar estudos em São Paulo e ampliar seus horizontes culturais. 
 Alice Piffer Canabrava apresentou uma obra pioneira dentro da História 
Econômica, sempre abordando temas que começam nas fontes primárias do 
escravismo às manufaturas e indústrias, estudos estes que serviram de base e 
referência para a composição de diversas pesquisas sobre a história econômica. 
 Dentre suas pesquisas estão: O Comércio Português no Rio da Prata (1580-
1640), A Indústria do Açúcar nas Ilhas Inglesas e Francesas do Mar das Antilhas (1697- 
1755), O Desenvolvimento da Cultura de Algodão na Província de São Paulo (1861- 
1875), obras estas que foram as fundadoras da historiografia moderna econômica do 
Brasil. 
 
O Comércio Português no Rio da Prata (1580-1640) – ampla pesquisa documental e 
bibliográfica, baseada em fontes primárias impressas de origem espanhola e argentina 
que toma como tema a história do Brasil e de Portugal. A contribuição deste estudo diz 
respeito à expansão comercial ocorrida na época descrita e a penetração econômica 
intensa e ampla, feita pela terra e pelos rios, além de tratar sobre assuntos relacionados 
19 
 
à política comercial, os conflitos ocorridos pelas disputas de rotas de navegação no 
Atlântico e Pacífico. 
A Indústria do Açúcar nas Ilhas Inglesas e Francesas do Mar das Antilhas (1697- 
1755) – A primeira parte da pesquisa traz os fatos históricos relevantes sobre o período 
estudado, mostrando as origens da lavoura canavieira e da manufatura do açúcar na 
região das Antilhas. Na segunda parte ela analisa as relações de produção, a evolução 
dos preços e a concorrência entre os mercados que comercializavam o açúcar. 
 
BUSCANDO CONHECIMENTO 
 O texto a seguir faz parte da Tese: “Uma dinastia do capital nacional: a formação 
da riqueza dos Lacerda Franco e a diversificação da economia cafeeira paulista (1803 a 
1897)” do historiador Gustavo Pereira da Silva. Suas considerações sobre a economia e 
produção local são interessantes para que tenha interesse em debruçar sobre este 
tema. 
 
DNA da riqueza paulista 
Tese revela como trajetória da família Lacerda Franco forjou a ‘locomotiva do 
Brasil’ 
 
CARMO GALLO NETTO 
Tese desenvolvida por 
Gustavo Pereira da Silva junto ao 
Instituto de Economia (IE) da 
Unicamp procura elucidar como se 
deu a formação, a acumulação e a 
diversificação da riqueza dos 
membros da família Lacerda Franco 
durante o século XIX. Estudando a 
trajetória desta família, o autor 
procura desvendar a dinâmica da 
riqueza paulista no século que antecedeu a transformação da São Paulo do café na 
20 
 
capital industrial do Brasil. Para ele, os Lacerda Franco testemunham o que acontecia 
na província em uma época: “Parti do micro para entender o macro”, diz. A pesquisa 
documental foi realizada no Arquivo Público do Estado de São Paulo e nos arquivos da 
Associação Comercial de Santos e das fazendas Montevidéo (Araras/SP) e Paraizo (São 
Carlos/SP), ambas pertencentes a descendentes da família. Silva recebeu orientação da 
professora Lígia Maria Osório Silva e contou com financiamento da Fapesp. 
Criando porcos, gado, cavalos, mulas, produzindo gêneros básicos da 
alimentação paulista como arroz, feijão, milho – e inclusive cachaça – para o mercado 
interno, dinastias nacionais chegaram à exportação de açúcar e de café que as levaram 
à acumulação de capitais que alavancariam os primórdios da indústria paulista, 
transformando São Paulo na “locomotiva do Brasil”. (...) Na segunda metade do século 
XIX ocorreu a transição das lavouras paulistas da cana para o café ao longo do Oeste 
Paulista (região hoje coberta pela via Anhanguera). A elevada demanda internacional 
da bebida dinamizava economicamente São Paulo no Império e impunha a busca de 
novas terras, mais distantes de Santos, aumentando os custos de transporte. 
Simultaneamente, o fim do tráfico negreiro agravou a escassez de mão de obra. As 
famílias dos produtores paulistas enfrentam esses obstáculos utilizando os capitais, até 
então acumulados, na construção no Oeste Paulista das ferrovias necessárias, valendo-
se da constituição de sociedades anônimas. A imigração europeia subsidiada introduziu 
o trabalho assalariado e o governo provincial, respondendo a uma demanda da elite 
cafeeira, encarregava-se de financiar “os intentos orquestrados pelos cafeicultores”, diz 
o autor do estudo. 
Também durante a segunda 
metade do século XIX o 
associativismo marcou os Lacerda 
Franco. A riqueza familiar era 
reorganizada através de 
matrimônios e de heranças 
disponibilizando capitais que 
passaram a ser empregados na 
formação de sociedades que tinham 
21 
 
como característica predominante a preferência pela associação entre familiares. Foi 
assim que surgiu a Lacerda & Irmãos – sociedade agrícola que produzia café; a J. F. de 
Lacerda & Cia. – casacomissária e exportadora de café; a Lacerda, Camargo & Cia. – 
firma industrial que importava e produzia máquinas para outras indústrias; e o Banco 
União de São Paulo – que, entre seus ativos, contava com uma fábrica têxtil, a atual 
Votorantim. Essas empresas atendiam à crescente economia cafeeira paulista e às 
demandas da nova organização social. 
 
Exportação e importação 
A casa comissária era o principal dos empreendimentos dos Lacerda Franco por 
englobar o maior número de familiares e por se constituir fonte de recursos e expertise 
aos outros negócios da família. Inicialmente, a casa comercializava diferentes gêneros 
agrícolas, como café, comprando dos produtores paulistas e vendendo aos 
exportadores, em geral estrangeiros, no porto de Santos. Mas, simultaneamente, 
adquiria de importadores bens que revendia a fazendeiros e lojistas que 
comercializavam esses produtos no varejo. Assim, a comissária atuava como 
intermediária na exportação agrícola e na importação de bebidas, móveis, sal, cal, vidro, 
ferro, papel, tintas, enfim tudo que não era produzido no país. 
Todavia, a casa se distinguiu das congêneres nacionais ao expandir suas 
atividades tornando-se também uma firma exportadora. Segundo Gustavo, “a J. F. de 
Lacerda & Cia. merece destaque por englobar atividades exercidas pelos demais 
empreendimentos porque, como casa exportadora, mantinha laços com firmas 
estrangeiras que lhe possibilitavam a importação de matérias-primas – como ferro aço 
e vidro – necessárias a outras empresas do grupo. Além disso, importava máquinas, 
equipamentos e bens consumidos pela elite”. 
Para o pesquisador, a elevada lucratividade da casa comissária levou um dos 
seus membros a participar da constituição do Banco União de São Paulo, em 1890, um 
dos poucos bancos com o privilégio de emitir moeda no início da República. Outros 
sócios da empresa fundaram a Lacerda, Camargo & Cia que importava e produzia 
máquinas no Brasil. Os lucros revertiam para a própria economia paulista ao serem 
22 
 
investidos em ações de ferrovias, bancos, empresas de serviços públicos, além de 
imóveis e novos cafezais. 
Gustavo Pereira da Silva explica que em um mundo pós-Revolução Industrial a 
demanda por café por parte dos trabalhadores crescia na mesma proporção que a 
necessidade de matérias-primas. Nesse mundo novo, aberto às novas possibilidades e 
à livre iniciativa, o café constituía o estimulante perfeito às novas necessidades do 
homem moderno, dinâmico e produtivo. O capitalismo industrial que movia as 
sociedades centrais era o mesmo que engatinhava na ex-colônia portuguesa. Após a 
Abolição, a formação de um mercado de trabalho e consumidor estabelecia as bases 
para o capitalismo brasileiro. Para ele, a pujança e diversificação dos investimentos da 
família Lacerda Franco dão mostras da força do capitalismo nacional no século XIX, na 
figura dos representantes do grande capital cafeeiro, através de figuras que, apesar 
terem seus capitais originários da lavoura, embrenharam-se nos mais diversos 
empreendimentos ligados à produção e comércio, possibilitando a formação de uma 
riqueza portentosa e diversificada, conforme permitiram apreender as análises dos 
vários documentos da fazenda Montevidéo e Paraizo, encontrando-se esta última ainda 
nas mãos dos Lacerda Franco. Sobre a dimensão da riqueza acumulada pelos 
cafeicultores, o autor lembra que o café tornou-se o primeiro produto da pauta de 
exportação brasileira por volta de 1830 e só perdeu essa posição depois de 1950, 
ocupando o primeiro lugar na economia brasileira por cerca de 130 anos. 
(...) As associações de capitais, familiares ou não, visam à ampliação de mercados e dos 
domínios econômicos e políticos. Antes isso se fazia com a aquisição de terras e 
escravos, o concurso das uniões familiares e utilização de heranças. À semelhança da 
dinastia dos Lacerda Franco na São Paulo do café, ainda hoje, grandes grupos 
familiares exercem elevado poder na economia nacional. 
 
Adaptado de. DNA da riqueza paulista. Jornal da Unicamp. Campinas, 19 a 25 de 
março de 2012 – ANO XXVI – Nº 520. 
Acesso em 
http://www.unicamp.br/unicamp/unicamp_hoje/ju/marco2012/ju520_pag03.php# 
 
23 
 
UNIDADE 5. CIDADE E PATRIMÔNIO – PARTE I 
 
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE 
Objetivos 
Nesta unidade serão apresentados a problematização dos conceitos cidade e 
patrimônio, que levará a debater questões como história, memória, passado, 
preservação e espaços públicos. A partir das considerações dos historiadores Pierre 
Nora, Cristina Helou Gomide e Maria Célia Paoli, você compreenderá que as políticas 
patrimoniais têm se aproximado das discussões travadas no âmbito da cultura e 
incorporado valores que não se restringem somente ao passado colonial ou às formas 
tradicionais acabadas, definidas. Atualmente, tem-se revisto o próprio conceito de 
patrimônio aproximando-o, de elementos do cotidiano, constituindo muitas memórias 
e trazendo outras histórias. 
 
ESTUDANDO E REFLETINDO 
História e Memória: uma breve reflexão para o historiador 
Muito se fala e se reflete que vivemos numa sociedade marcada pela aceleração 
do tempo presente, pelo instantâneo, pelo efêmero e pela crescente diminuição de 
densidade temporal entre os acontecimentos e a sua percepção. É o tempo da 
aceleração da história que nos leva a um sentimento de ruptura com passado e ao 
sentimento de que a relação entre o passado e o presente vivido está ficando cada vez 
mais residual. Neste momento, o tema da memória está cada vez mais em voga, 
inclusive quando queremos discutir sobre patrimônio. (MENESES, 1992). 
 Lembrar o passado é essencial para a construção de nossas identidades atuais e 
para as indagações de nosso presente. É a partir do presente que lembramos o passado. 
Nesse sentido, estamos entendendo a memória como um processo subordinado à 
dinâmica social e cuja elaboração só ocorre a partir do presente para responder às 
solicitações do presente. (MENESES, 1992). 
24 
 
 De acordo com Nora (1993), memória e história, podem ser considerados 
termos diferentes, opostos. Segundo o autor a memória é criada a partir de um 
processo de vivência, conduzida por grupos vivos, portanto: 
 “A memória é vida, sempre carregada por grupos vivos e, nesse sentido, ela 
está em permanente evolução, aberta à dialética da lembrança e do 
esquecimento, inconsciente de suas deformações sucessivas, vulnerável a 
todos os usos e manipulações, susceptível de longas latências e de repentinas 
revitalizações” (NORA, 1993). 
 
 Com o qualquer experiência humana, a memória é um campo de luta, de luta 
política, no qual se confrontam memórias hegemônicas com outras infindáveis 
memórias produzidas na vida cotidiana por diversos sujeitos sociais, cujas narrativas nos 
mostram formas de resistências diárias, conquistas, crenças, sonhos e projetos mesmo 
que ainda não realizados. Não podemos entender memória como um lugar de 
depósitos informações, um lugar onde se recorda a história. Os sujeitos são múltiplos e 
experiências vivenciadas por cada um também diversas memórias são tecidas no seio 
dessa multiplicidade num refazer-se e num embate constante. Segundo Alessandro 
Portelli (2001) a memória deve ser encarada como história, como “sinal de luta”, como 
“processo em andamento”. De acordo com Nora: 
 “A história é reconstrução sempre problemática e incompleta do que não 
existe mais. A memória é um fenômeno sempre atual, um elo vivido no eterno 
presente; a história, uma representação do passado. Porque é afetiva e 
mágica, a memória não se acomoda a detalhes que a confortam; ela se 
alimenta de lembranças vagas, telescópicas, globais ou flutuantes, particulares 
ou simbólicas, sensível a todas as transferências, cenas, censura ou projeções. 
A história, porque operação intelectual e laicizante, demanda análise e 
discurso crítico. A memória instala a lembrança no sagrado, a histórialiberta, e 
a torna sempre prosaica. A memória emerge de um grupo que ela une, o que 
quer dizer, como Halbwachs o fez, que há tantas memórias quantos grupos 
existem; que ela é, por natureza, múltipla e desacelerada, coletiva, plural e 
individualizada. A história, ao contrário, pertence a todos e a ninguém, o que 
lhe dá uma vocação para o universal. A memória se enraíza no concreto, no 
espaço, no gesto, na imagem, no objeto. A história só se liga às continuidades 
temporais, às evoluções e às relações das coisas. A memória é um absoluto e 
a história só conhece o relativo” (NORA, 1993). 
25 
 
 Toda pessoa carrega em si diversas lembranças, seja do seu passado, de sua 
interação com a sociedade, com grupos ou instituições. É partir dessas conexões que 
são feitas ao longo da vida que o indivíduo constrói sua memória. 
 Um dos fatores mais importantes, quando falamos em memória é a linguagem. 
As trocas entre os elementos de um ou mais grupos só é possível através da 
linguagem. Preservar é uma ação fundamental quando se pensa em memória, e traz à 
mente o conceito de respeito, proteção, cuidado e zelo. Preservar não é apenas 
guardar – preservar a memória também significa trabalhar com cadastros, 
levantamentos, dados estatísticos, registros, inventários, entre outros. 
A preservação do patrimônio histórico, artístico e cultural é necessária pois 
esse patrimônio é o testemunho vivo da herança cultural de gerações 
passadas que exerce papel fundamental no momento presente e se projeta 
para o futuro, transmitindo às gerações por vir as referências de um tempo e 
de um espaço singulares, que jamais serão revividos, mas revisitados, criando 
a consciência da intercomunicabilidade da história. Compreendendo a 
memória social, artística e cultural é que se pode perceber e controlar o 
processo de evolução a que está inevitavelmente exposto o saber e o saber 
fazer de um povo. (MAIA, 2003) 
 
Nessa perspectiva é possível lidar com “memória” e com “patrimônio” 
entendendo-os como processos em constante formação e como campos de disputas, 
procurando contribuir sobre questões de cidadania em pauta hoje, que também passam 
pelo direito à memória. 
 
BUSCANDO CONHECIMENTO 
Como sugestão, segue abaixo o link de um documentário produzido pelo 
Centro de Documentação da Universidade de Brasília (CEDOC-UnB), Intitulado História 
e Memória em Construção. 
Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=IzUzUfCh2JK>. Acesso em 15 de 
janeiro de 2015. 
Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=Fkw6pgKHjAE>. Acesso em 16 de 
janeiro de 2015. 
26 
 
UNIDADE 6. CIDADE E PATRIMÔNIO – PARTE II 
 
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE 
Objetivos 
Nesta unidade serão apresentados a problematização dos conceitos cidade e 
patrimônio, que levará a debater questões como história, memória, passado, 
preservação e espaços públicos. A partir das considerações dos historiadores Pierre 
Nora, Cristina Helou Gomide e Maria Célia Paoli, você compreenderá que as políticas 
patrimoniais têm se aproximado das discussões travadas no âmbito da cultura e 
incorporado valores que não se restringem somente ao passado colonial ou às formas 
tradicionais acabadas, definidas. Atualmente, tem-se revisto o próprio conceito de 
patrimônio aproximando-o, de elementos do cotidiano, constituindo muitas memórias 
e trazendo outras histórias. 
 
ESTUDANDO E REFLETINDO 
Cidade e Patrimônio: pelo direito à memória e à história 
Para você que tem interesse em problematizar questões sobre patrimônio, 
imediatamente este tema te levará a debater questões como história, memória, 
passado, preservação, espaços públicos e cidades. 
Quando se fala em patrimônio histórico, pensa-se quase sempre em uma 
imagem congelada do passado. Um passado paralisado em museus cheios de objetos 
que ali estão para atestar que há uma herança coletiva – cuja função social parece 
suspeita. Monumentos arquitetônicos e obras de arte espalhadas pela cidade, cuja 
visibilidade se achata no meio da paisagem urbana. Documentos e material 
historiográfico que parecem interessar somente a exóticos pesquisadores. 
(PAOLI,1992). 
Nos últimos anos os historiadores têm ampliado a noção de “patrimônio 
histórico” evocando as imagens de um passado vivo: acontecimentos e coisas que 
merecem ser preservadas porque são coletivamente significativas em sua 
heterogeneidade. 
27 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Políticas patrimoniais têm se aproximado das discussões culturais e tentado 
trazer valores que não se restringem somente ao passado colonial ou às formas 
tradicionais acabadas, definidas. Atualmente, tem-se revisto o próprio conceito de 
patrimônio aproximando-o, nas reflexões, de elementos que têm constituído as 
memórias e a vida das pessoas que residem em lugares históricos. 
Na própria Constituição da República de 1988, a discussão sobre o alargamento 
da noção de patrimônio se faz presente. No Título VIII (Capítulo III/Seção II) Da cultura. 
O Artigo 216 destaca o patrimônio cultural, incluindo nas formas de vigilância e 
preservação dos bens culturais a participação de comunidades locais: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Etimologicamente, ‘patrimônio’ vem do latim patrimonium e está associado à ideia de uma 
propriedade herdada do pai ou de ouro ancestral. No contexto das narrativas nacionalistas de 
preservação histórica do Brasil, a palavra é usada para significar uma determinada espécie de 
propriedade nacional’. [...] a ‘propriedade’ é o que define a pessoa. Em outras palavras, sou 
um indivíduo, no sentido moderno do termo, na medida em que sou proprietário de algum 
bem. Assim, as nações modernas, que são ‘indivíduos coletivos’ ou ‘coleções de 
indivíduos’[“...] individualizam-se ao assumirem suas propriedades, particularmente, suas 
propriedades culturais, seus ‘patrimônios’”. 
Ver GONÇALVES, José Reginaldo Santos. A retórica da perda – os discursos do patrimônio 
cultural Brasil. Rio de Janeiro: Editora UFRJ/Ministério da Cultura - IPHAN, 2002, p. 78-79 
 
 
 
Art. 216. Constitui patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, 
tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à 
memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem: 
I - as formas de expressão; 
II – os modos de criar, fazer e viver; 
III – as criações científicas, artísticas e tecnológicas; 
IV – as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às 
manifestações artístico-culturais; 
VI – os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico paisagístico, artístico, arqueológico, 
paleontológico ecológico e científico. 
 
28 
 
O conceito patrimônio possui diversas abordagens, dentre elas podemos 
destacar algumas visões algumas perspectivas que dividem didaticamente a noção para 
facilitar a compreensão: 
A Unesco define como Patrimônio Cultural Imaterial " as práticas, 
representações, expressões conhecimentos e técnicas - junto com os instrumentos, 
objetos, artefatos e lugares culturais que lhes são associados - que as comunidades, os 
grupos e, em alguns casos, os indivíduos reconhecem como parte integrante de seu 
patrimônio cultural." 
O Patrimônio Imaterial é transmitido de geração em geração e constantemente 
recriado pelas comunidades e grupos em função de seu ambiente, de sua interação 
com a natureza e de sua história, gerando um sentimento de identidade e 
continuidade, contribuindo assim para promover o respeito à diversidade cultural e à 
criatividade humana. 
O Patrimônio Material com base em legislações específicas é composto por um 
conjunto de bens culturais classificados segundo sua natureza nos quatro Livros do 
Tombo: arqueológico, paisagístico e etnográfico; histórico; belas artes; e das artes 
aplicadas. Eles estão divididos em bens imóveis como os núcleos urbanos, sítios 
arqueológicos e paisagísticos e bens individuais; e móveis comocoleções 
arqueológicas, acervos museológicos, documentais, bibliográficos, arquivísticos, 
videográficos, fotográficos e cinematográficos. 
 
BUSCANDO CONHECIMENTO 
Para a historiadora Cristina Helou Gomide em seu trabalho: Antiga Vila Boa de 
Goiás – experiências e memórias na/da cidade patrimônio, estudou este tema e 
tratou a noção de patrimônio mais do que uma temática de estudo; é uma problemática 
social, vivido e construído ao longo do tempo, enquadrando certas cidades em padrões 
semelhantes de exposição. Dentro desses padrões, lugares, sujeitos, valores e imagens 
são colocados em destaque, realimentando forças hegemônicas na própria cidade, 
numa articulação entre valores culturais, interesses políticos, tendências de mercado e 
formas midiáticas de comunicação social. (GOMIDE, 2007). 
Em seus estudos destacou o trabalho sobre patrimônio através de usos de 
29 
 
folders do poder público para divulgar a cidade, as festas e a região. 
De acordo com a historiadora é significativo levar em conta que interesses 
políticos que envolvem a preservação de uma história local e seu papel de destaque na 
configuração de espaços considerados de importância patrimonial na cidade, forjando 
imagens que alimentam imaginário de cidade histórica. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Os folders trazem um diálogo com o tempo, com valores, expressões e sentimentos 
preservação e noções de patrimônio articulando presente-passado e possibilidades 
futuras. Valorizando práticas artesanais e pessoas com visibilidade pública que 
compõem uma história mais recente, tendências patrimoniais se expressam nesses 
materiais que servem de fontes para os historiadores. Também a imprensa ocupa um 
papel fundamental na divulgação de conceitos que cristalizam no imaginário popular. 
A imprensa, aborda valores patrimoniais, constrói narrativa realimentada de valores 
patrimoniais sobre determinados lugares, projetos e interesses (GOMIDE, 2007). 
 
Cabe a você prezado (a) historiador (a) ter a sensibilidade e perceber estas 
problemáticas na sua cidade e região. 
 
30 
 
UNIDADE 7. CULTURA E IDENTIDADE REGIONAL 
 
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE 
Objetivos 
Nesta unidade, estudaremos o conceito de cultura a partir das reflexões de 
Raymond Williams: a cultura e a identidade regional e como esses dois fatores 
contribuem para o desenvolvimento da sociedade. Abordaremos, ainda, um pouco do 
regionalismo paulista, os costumes, o processo de urbanização dessa região e como ela 
influencia os demais estados. 
 
ESTUDANDO E REFLETINDO 
Cultura: reflexões e conceitos 
Entende-se o conceito de cultura como o de Raymond Williams, que vai além da 
classificação geral das “artes”, religião, crenças, instituições e prática de significados e 
valores alcançando o significado do termo como um processo social constitutivo, que 
cria “modos de vida” específicos e diferentes e não podemos dissociar cultura da 
produção da vida material, porque ela é produzida pelos homens por meio de seu 
trabalho e nas relações que estabelecem entre si na sociedade. (WILLIAMS,1979). 
 
 
 
 
 
 
 
Nesse sentido, a cultura abrange diferentes aspectos da vida: costumes, valores, 
língua, conhecimentos, símbolos, comportamento seja ele social, econômico ou 
político, formas de tomar decisões e de exercer o poder. 
 Segundo Claxton (1994) a cultura também abrange uma interpretação global da 
natureza, constituindo um sistema totalizante para compreensão e transformação do 
Nessa concepção, a compreensão do significado de cultura não está separada 
da esfera da vida cotidiana. As complexas relações que os homens estabelecem em 
sociedade estão materializadas na produção cultural que, segundo Williams, 
encontram-se entrelaçadas entre os sistemas de decisão, de comunicação, de 
aprendizagem, de manutenção, de geração e criação. (WILLIAMS, 1979). 
 
31 
 
mundo, e estabelecendo, por outro lado, relações sistemáticas entre todos os aspectos 
da vida humana, todas as expressões produtivas das comunidades, sejam elas 
tecnológicas, econômicas, artísticas ou domésticas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura: Personagens típicos de cada região do Brasil 
Fonte: http://www.mundodastribos.com/folclore-brasileiro-tudo-que-voce-quer-saber.html 
 
 A identidade cultural na pós-modernidade 
Natural de Kingston – Jamaica, nascido em 03 de fevereiro de 1932, Stuart Hall, 
vive na Grã-Bretanha desde 1951. Estudou como um bolsista Rhodes no Merton 
College, na Universidade de Oxford, onde obteve o seu mestrado. Nos anos 1950, após 
ter trabalhado na Universities and Left Review, juntou-se a E. P. Thompson, Raymond 
Williams e outros para fundar a revista New Left Review, sua carreira deslanchou após 
ser coautor com Paddy Whannel “The popular arts” em 1964. 
Hall sempre trata em seus textos questões que envolvem identidade, estudos 
culturais, mídia, relações de poder, preconceito racial. E nesta obra A identidade cultural 
na pós-modernidade, que possui seis capítulos, que vão tratar, ao decorrer da obra, da 
famosa "crise de identidade" e o que ela é e como ela surgiu 
O autor já no inicio da obra aponta que a identidade não possui padrão, ela não é 
32 
 
única, mesmo que se estabeleça uma unidade a ela, a identidade não é fixa, ela muda 
de acordo com nossas identificações no decorrer da historia. É as conexões que a 
globalização proporciona, em que transforma aquela sociedade considerada fixa, para 
uma sociedade em constante mudança, descentrada, da mesma forma como os 
sujeitos, não tendo um centro, 
mas vários centros de poder. 
Não existe identidade única, pois 
ela é composta por várias outras, 
só temos a impressão de ser única 
por sermos dominados pelo 
exercício de um poder cultural, 
que estabelece as identidades 
nacionais como unificadas. 
Dessa forma, com a 
globalização que atua de maneira 
ofensiva sobre as identidades 
culturais, por integrar as 
comunidades, os discursos nelas 
existentes, não estabelecendo 
fronteiras, desintegrando os 
padrões, formando identidades 
hibridas e às vezes reforçando 
identidades locais que resistem a essa globalização. Contudo, podemos ter identidades 
compartilhadas, a medida que as migrações populacionais crescem, as culturas vão 
sendo deslocadas dos seus tempos, territórios, historias e tradições, se tornando 
pluralizada, sendo possível escolher minha identidade, pois no país em que estou 
posso provar da culinária, participar da religião, ter uma roupa, entre outros, que fazem 
parte de outro país, outra identidade, outra cultura 
 
 
33 
 
HALL, S. A identidade cultural na pós-modernidade. Tradução Tomás Tadeu da Silva, 
Guaracira Lopes Louro. 11. ed. Rio de Janeiro DP&A, 2006. Leia mais 
em: http://www.webartigos.com/artigos/a-identidade-cultural-na-
posmodernidade/89167/#ixzz1xRvACDgY 
 
Identidade cultural ou identidades culturais? 
 “A identidade cultural é um conjunto vivo de relações sociais e patrimônios 
simbólicos historicamente compartilhados que estabelecem a comunhão de 
determinados valores entre os membros de uma sociedade. Sendo um conceito de 
trânsito intenso e tamanha complexidade, podemos compreender a constituição de 
uma identidade em manifestações que podem envolver um amplo número de 
situações que vão desde a fala até a participação em certos eventos.” (SOUSA, 2012). 
 Durante muito tempo, a ideia de uma identidade cultural não foi devidamente 
problematizada no campo das ciências humanas. Com o desenvolvimento das 
sociedades modernas, muitos teóricos tiveram grande preocupação em apontar o 
enorme “perigo” que o avanço das transformações tecnológicas, econômicas e políticas 
poderiam oferecer a determinados grupos sociais. Nesse âmbito, principalmente os 
folcloristas defendiam a preservação de certas práticas e tradições. (SOUSA, 2012). 
 Por outro lado, algumas recentes teorias culturais desenvolvidas no campo das 
ciências humanasdesempenharam o papel inovador de questionar o próprio conceito 
de identidade cultural. De acordo com essa nova corrente, muito em voga com o 
desenvolvimento da globalização, a identidade cultural não pode ser vista como sendo 
um conjunto de valores fixos e imutáveis que definem o indivíduo e a coletividade da 
qual ele faz parte. (SOUSA, 2012). 
 De acordo com Rainer Souza (2012), um dos mais conhecidos exemplos dessa 
nova tendência que pensa a questão das identidades pode ser encontrada na obra do 
pesquisador Nestor Garcia Canclini. Em vários de seus escritos, este pensador tem a 
recorrente preocupação de analisar diversas situações nas quais mostra que a cultura e 
as identidades não podem ser pensadas como um patrimônio a ser preservado. Longe 
disso, ele assinala que o intercâmbio e a modificação são caminhos que orientam a 
formulação e a construção das identidades. 
34 
 
 Com esses referenciais, antigos problemas que organizavam os estudos 
culturais perdem a sua força para uma visão de natureza mais ampla e flexível. Para 
Rainer Souza, (2012) a antiga dicotomia que propunha a cisão entre “cultura popular” e 
“cultura erudita”, por exemplo, deixa de legitimar a ordenação das identidades por 
meio de pressupostos que atestavam a presença de esferas culturais intocáveis em uma 
mesma sociedade. Além disso, outras investigações cumpriram o papel de questionar 
profundamente o clássico conceito de aculturação. 
 Partindo dessas novas noções de identidade, antigos temas relacionados à 
cultura que aparentavam completo esgotamento ganharam um novo fôlego 
interpretativo. 
 
 
 
 
 
 
 
Quanto à identidade cultural dos brasileiros, ela vai muito além das relações 
interpessoais sendo representadas também pelas características físicas, comidas típicas, 
vestuário, festas, a paixão pelo futebol, o uso de pronomes e demais costumes de um 
povo. 
 
BUSCANDO CONHECIMENTO 
Documentário - TV Escola Pluralidade Cultural Quem são eles Índios no Brasil. 
Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=7MBH2qRQVzk>. Acesso em 19 de 
janeiro de 2015. 
 
 
 
 
As identidades passaram a ser trabalhadas com definições menos rígidas. Diversos 
estudos vão contra a ideia de que uma população deve abraçar a sua cultura e 
garantir todas as formas possíveis de cristalizá-la. “Dessa forma, presenciamos a 
abertura de novas possibilidades de entender o comportamento do homem com seu 
mundo”. (SOUSA, 2012). 
 
35 
 
UNIDADE 8. FRINTEIRAS, TERRITÓRIOS E PODER LOCAL 
 
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE 
Objetivos 
Nesta unidade, serão estudados os conceitos de fronteiras, mandonismo, 
identidades e territorialidades e como estes termos se relacionam e estão posicionados 
na produção da historiográfica. A partir do diálogo interdisciplinar estabelecido com 
historiadores, urbanistas, sociólogos, é possivel identificarmos alguns elementos para 
pensarmos na produção de pesquisas em história regional. 
 
ESTUDANDO E REFLETINDO 
Território e Poder Local: possibilidades de pesquisa na história regional 
Muito já se estudou sobre o coronelismo e o mandonismo local na história do 
Brasil. As relações de poder locais e regionais constituídas no final do século XIX e 
início do século XX , como se sabe, se sustentaram sobre o controle de um chefe 
oligárquico, comumente chamado de coronel. As bases agrárias da economia 
garantiam esse controle, também favorecido pelas relações pactuadas com o centro 
político nacional que mantinham, reciprocamente, a reedição periódica deste poder. 
(AMARAL, 2007). 
Hoje, tais relações estão permeadas de novos atores e componentes políticos e 
econômicos, como a expansão da industrialização e a migração para os centros 
urbanos. Mas, basta observar os cenários políticos regionais para vermos presentes e 
atuantes representantes do mandonismo local. Eleições são ainda definidas pela troca 
de favores e pelas ameaças de retaliação. Não cabe aqui um aprofundamento desta 
discussão, mas apenas situar esse dado para que se discuta como isso ainda repercute 
sobre o ensino dos conteúdos regionais e locais. (AMARAL, 2007). 
Por outro lado, o conceito de território tem retornado muito importante para as 
políticas públicas nas diferentes escalas de poder. Para Milton Santos: 
 
36 
 
Por território entende-se geralmente a extensão apropriada e usada. (...) O uso 
do território pode ser definido pela implantação de infraestruturas, para as 
quais estamos igualmente utilizando a denominação sistemas de engenharia, 
mas também pelo dinamismo da economia e da sociedade. São os 
movimentos da população, a distribuição da agricultura, da indústria e dos 
serviços, o arcabouço normativo, incluídas a legislação civil, fiscal e financeira, 
que, juntamente com o alcance e a extensão da cidadania, configuram as 
funções do novo espaço geográfico. (Santos; Silveira, 2003). 
 
 Moraes (2003) relaciona o poder ao território: 
Um espaço de exercício de um poder, o qual no mundo moderno se 
apresenta como um poder basicamente centralizado no Estado. Trata-se, 
portanto, da área de manifestação de uma soberania estatal, delimitada pela 
jurisdição de uma dada legislação e de uma autoridade. O território é, assim, 
qualificado pelo domínio político de uma porção da superfície terrestre. 
(Moraes, 2003 p. 23) 
 
 Giddens (1998) define o poder como o uso de recursos, de qualquer natureza 
para assegurar resultados. O poder pode ser entendido como uma ação ou intervenção 
de que um agente é capaz ou também pode ser definido como a capacidade de um ser 
humano em intervir e transformar o curso natural dos acontecimentos. 
A produção do espaço, o território nacional, espaço físico, balizado, 
modificado, transformado pelas redes, circuitos e fluxos que se instalam: 
estradas, canais, estradas de ferro, circuitos comerciais e bancários, auto-
estradas e rotas aéreas, etc. É, portanto um espaço material - natural - no qual 
se inscrevem os atos das gerações, das classes, dos poderes políticos como 
produtores de objetos e de realidades duráveis (não só as coisas, os produtos, 
os utensílios e as mercadorias) (Lefebvre, 1978). 
 
 Raffestin (1993) afirma que a apropriação do espaço e a territorialização é 
consequência da ação conduzida por um ator coletivo, resulta no fato de que o Estado, 
a empresa ou outras organizações organizam o território através da implantação de 
novos recortes e ligações. 
 
 Desenvolvimento territorial 
37 
 
 Raffestin (1993) descreve a territorialidade como: 
A territorialidade adquire um valor bem particular, pois reflete a 
multidimensionalidade do “vivido” territorial pelos membros de uma 
coletividade, pelas sociedades em geral. Os homens “vivem”, ao mesmo 
tempo, o processo territorial e o produto territorial por intermédio de um 
sistema de relações existenciais e/ou produtivistas. Quer se trate de relações 
existenciais ou produtivistas, todas são relações de poder, visto que há 
interação entre os atores que procuram modificar tanto as relações com a 
natureza como as relações sociais. (Raffestin, 1993, p. 46) 
 
 Partindo dessa definição, o desenvolvimento de micro e macro localidades ou 
regiões por meio de mudanças estruturais, sociais, políticas e econômicas consistem no 
desenvolvimento territorial. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fronteiras e Espaços: breve discussão dos conceitos 
 Segundo Jones (1959), as limes, nome que deram às fronteiras, designavam 
originalmente o caminho ao longo do limite de uma propriedade. Anos depois esse 
termo passou a ser usado pelos militares para designar uma estrada fortificada em 
zona de fronteira e tempos depois significava apenas zona de fronteira. 
Para alguns historiadores que possuem como objeto de estudo temas 
relacionados às experiências de moradores em praças, bairros, guetos, tem 
problematizado o conceito de território como uma categoria de análise que 
permitepensar os espaços em termos de identidades, já que neles grupos e 
sujeitos, através de suas relações sociais e experiências de vida, imprimem marcas, 
histórias e memórias que lhes permitem viver um sentimento de pertencimento e 
ao mesmo tempo de reconhecimento nesses lugares. 
 
In: ROLNICK, Raquel. História Urbana: História na Cidade? In: FERNANDES, Ana e 
GOMES Marco Aurélio de Filgueiras (orgs). Cidade e História. Modernização das 
cidades brasileiras nos séculos XIX XX. Salvador: UFBA, 1992.p. 27-29. 
 
38 
 
 O conceito de fronteira parte de duas ideias centrais, segundo Silva (2001): 
- Expansão de povos ou sistemas sobre território adjacente, compreendendo, 
inicialmente, operações de guerra e controle militar; 
- Consolidação do processo de apropriação de territórios através da colonização das 
terras conquistadas, fazendo uso do expediente de distribuição de terras entre a 
população vencedora; 
 Ambos são reencontrados em outros lugares e outros tempos, um dos casos 
mais famosos foi a expansão para o oeste nos Estados Unidos do século XIX. 
 O conceito de fronteira está diretamente ligado a assuntos imperiais e militares 
e também a processos territoriais como colonização, interação e povoamento. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Segundo Freitas (2012) 
Diversas vezes a expressão limite é confundida com fronteira, no entanto, essa 
corresponde a toda extensão da linha limite de um país (exemplo fronteira 
entre Argentina e Brasil). Todo país que possui litoral detém parte do território 
em áreas marinhas até certo ponto do oceano, denominada de fronteira 
marítima. 
 
 O objetivo de definir limites é para identificar onde começa e onde termina um 
território. Essas delimitações são firmadas por meio de acordos e contratos que 
definem onde começa, por exemplo, uma cidade; como as linhas de divisão são 
imaginárias, é muito comum utilizar como ponto de referência alguns elementos 
naturais, como rios, montanhas, entre outros. 
A fronteira é: “à primeira vista é o lugar do encontro dos que por diferentes 
razões são diferentes entre si (...) a um só tempo é o lugar de descoberta do outro, 
e de desencontro. O desencontro e o conflito decorrentes das diferentes 
concepções de vida e visões de mundo de cada um (...). O desencontro nas 
fronteiras é o desencontro de temporalidades históricas.” A fronteira está, portanto, 
nos homens. 
 
39 
 
A ideia é não conceber o espaço de forma estática, pois longe de ser um 
cenário fixo, pois nos espaços, territórios, nas fronteiras se desenrolam as histórias, 
devem ser vistos como construção histórica reinventada por múltiplas temporalidades. 
É imprescindível estudar as relações dos homens e mulheres não num cenário, mas 
com um cenário também fluido, instável, histórico, como resultante momentâneo de 
posições e relações entre os agentes. Conforme Albuquerque (2008, p. 71-72): 
Podemos dizer que hoje estamos diante de uma nova forma de se relacionar 
com e perceber os espaços, que é da ordem da relação, que é da ordem do 
posicionamento. O posicionamento é definido pelas relações de vizinhança, 
de aproximação, de convivência de coextensão, de coabitação, de conflito, de 
tensão, de afrontamento, entre diversos pontos ou elementos, formando 
séries, organogramas, redes, reticulados, tramas.[...] Cada atividade humana 
carrega em si uma dimensão espacial que a ela pertence e por ela é definida. 
(ALBUQUERQUE, 2008) 
 
BUSCANDO CONHECIMENTO 
As fronteiras, identidades e territorialidades se fazem e desfazem ao sabor de 
suas relações, e estes conceitos se constituem, portanto, em locus privilegiados da 
análise do historiador. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
As fronteiras, as identidades espaciais, os territórios, os lugares passam a ser 
pensados como tendo sido definidos a partir de contendas, de conflitos, sendo 
frutos de relações que se estabeleceram entre diferentes agentes e agências em 
um dado momento histórico, sendo, portanto, passíveis de dissolução, 
desconstrução, sempre que as relações sociais que os engendraram sejam 
modificadas, que os saberes que os puseram de pé sejam desmontados e que as 
relações de poder que os sustentaram sofram deslocamentos. (ALBUQUERQUE, 
2008) 
 
40 
 
UNIDADE 9. O LOCAL E O REGIONAL 
 
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE 
Objetivos 
Refletir e sobre as diferenças entre o local e o regional. 
 
ESTUDANDO E REFLETINDO 
 Até o século XVIII, no mundo inteiro as regiões constituíam “países”, no sentido 
de que elas eram não apenas a unidade apropriada para o estudo das sociedades, mas 
porque elas eram, de fato, os habitats dos homens e mulheres pré-modernos. Para a 
quase totalidade das populações comuns da Antiguidade, da Idade Média e da Idade 
Moderna – que trabalhavam, comiam e dormiam, procuravam cônjuges e geravam 
filhos, elaboravam saberes variados e realizavam festas e ritos numerosos -, a faina 
diária transcorria em limites espaciais estreitos, no interior de círculos cujos raios 
alcançavam pequena distância percorrida em um ou dois dias de marcha a pé ou a 
cavalo. 
 Assim, os reinos, impérios e países pré-modernos eram justa-posiçoes de 
regiões que conservavam alto grau de autonomia econômica, social e cultural. Cada 
uma das regiões era dotada de hábitos e costumes específicos, possuía suas próprias 
normas de convívio e formas de hierarquia social, empregava técnicas e instrumentos 
diversos. Cada região pouco sabia do que se passava na outra. Material e 
ideologicamente, a identidade dos homens dessas sociedades pré-modernas se 
assentava no conjunto de aldeias e de regiões onde desenrolavam suas limitadas 
experiências. A centralidade do “local” e do “regional” é exemplo, portanto, de uma 
estrutura que moldou a via social por milênios, seja no Egito faraônico ou na França 
dos Bourbon. 
 Todavia, a partir dos séculos XV e XVI, as barreiras espaciais começaram a ser 
progressivamente destruídas, promovendo o desencravamento de muitas regiões. A 
irradiação planetária do domínio europeu fez surgir a “verdadeira história universal” e 
colocou as escalas nacional e internacional no topo das preocupações dos 
41 
 
historiadores. A expansão da modernidade, do Estado, do capitalismo e das filosofias 
universalistas (típicas do renascimento e do Iluminismo) tentou pôr fim às 
singularidades e autonomias das antigas regiões. O ataque à independência da 
fortaleza regional é o trabalho contínuo da modernidade. 
 
O regional e o global na modernidade 
 O deslocamento da posição destacada que as regiões ocupavam na vida das 
pessoas está associado ao desenvolvimento da economia global. Entre os séculos XV e 
XVII, as grandes navegações e o sistema colonial conectaram organicamente a Europa, 
a América e o litoral africano, ao mesmo tempo em que ampliaram os intercâmbios 
comerciais com a Ásia. A expansão da economia de mercado no continente europeu foi 
suficiente para gerar forças unificadoras/ integradoras no seu interior. Vastas redes de 
comerciantes surgiram para distribuir os grandes carregamentos vindos da América e 
da Ásia. Grandes companhias de comércio e de financistas começaram a atuar em toda 
a Europa e nas colônias ultramarinas. Dessa forma, processos de abertura e assimilação 
de novas influências (hábitos, gostos, técnicas, ideias, valores) aproximaram e 
aplainaram as diferenças regionais. 
Outro vetor que contribuiu decisivamente para esmaecer o colorido intenso dos 
mosaicos regionais foi a constituição/ consolidação do Estado moderno. Desde o final 
da Idade Média, um processo histórico complexo logrou a eliminação de centenas de 
casas principescas, que cederam lugar a algumas dezenas de dezenas de Estados. As 
trajetórias dos Estados modernos alimentaram impulsos homogeneizadores. Afinal, no 
plano interno, essas novas formas de dominação combateram sem trégua os 
particularismos e buscaram alcançar a condição de lugar principal aoredor do qual se 
organizam as identidades e as lealdades individuais e coletivas. O Estado moderno 
investiu no “nacional” em detrimento do grupo de parentesco, da comunidade local e 
da organização religiosa. A batalha do estado contra os regionalismos alcançou o ápice 
com o nacionalismo político dos séculos XIX e XX. Lançando mão de um trabalho sobre 
a memória, a partir da manipulação de referenciais e símbolos históricos, o Estado 
moderno forjou a ideia de “nação” e, por conseguinte, alcançou significativa 
uniformidade dos comportamentos das pessoas no interior de seus territórios. 
42 
 
 
 
 O Estado moderno. Fonte: <http://www.webquestfacil.com.br/webquest.php?pg=processo&wq=4237>. 
Acesso em 15/12/2014. 
 
 Assim, por exemplo, o Estado criou bandeira, hinos, festas cívicas, moedas com 
efígies de heróis e governantes, animais e monumentos característicos do país e, 
sobretudo, difundiu uma história e um idioma oficiais ensinados com diligência numa 
rede crescente de escolas fundamentais públicas. Com estes e diversos outros recursos, 
o Estado moderno tornou mais uniformes os hábitos, costumes, valores, crenças e 
ideias de seus habitantes, independentemente das regiões de onde eles provinham. 
 Um terceiro vetor que concorreu para dissolver a importância do “regional” e do 
“local” como foco da vida dos grupos e indivíduos foi o Iluminismo, movimento 
intelectual do século XVIII. As novas ideias iluministas apostaram firmemente na 
uniformização das sociedades, como resultante da marcha da história sob escudo do 
progresso material, científico e moral da humanidade. Para os iluministas, todos os 
povos e todas as partes da Terra, num futuro não muito longínquo e a despeito das 
especificidades sociais e das crises históricas, convergiriam para padrões muito 
similares de instituições econômicas, políticas e culturais. No andamento do século XIX, 
tanto os pensadores europeus conservadores quanto os de esquerda acreditavam que 
as diferenças entre os povos e as regiões diminuiriam continuamente. Todos os 
espaços do mapa ficariam preenchidos com indústrias, cidades, campos de energia, 
43 
 
minas sob a terra, redes de estradas, meios de comunicação, monumentos grandiosos 
e invenções maravilhosas. No século XX, a corrente principal dos marxistas acreditou 
que a modernização capitalista de tipo anglo-saxão abarcaria todo o planeta, porque 
corresponderia a uma transformação histórica não só inevitável como iminente. Para 
esses marxistas, as diferenças culturais seriam manifestações superficiais de forças 
econômicas, que desapareceriam ou encolheriam até a insignificância, por causa do 
avanço do conhecimento e da tecnologia. 
 Entretanto, aos observadores atentos da história as duas últimas décadas do 
século XX e dos acontecimentos do início do terceiro milênio, fica claro qie o planeta 
não caminha no sentido de ser libertado das originalidades regionais e locais. É 
verdade que a globalização afeta cada quilômetro quadrado da superfície terrestre, 
aumentando a pressão sobre as culturas tradicionais e sobre as regiões. A compressão 
do espaço-tempo que a globalização produz tem o efeito de tornar cada canto do 
mundo muito parecido com os demais, porque difunde os mesmos valores e 
comportamentos, torna as comunicações instantâneas, da visibilidade a um conjunto 
restrito de marcas, sons e imagens, induzindo em milhões de pessoas um gosto 
padrão, mas também é verdade que isso ocorre de maneira desigual. Os impactos da 
globalização não desencadeiam processos iguais no Brasil e na China, no interior 
mineiro ou na metrópole paulista. Enfim, o regional continua sendo importante. 
 
BUSCANDO CONHECIMENTO 
Segue o link para o texto “A história local e regional: dimensões possíveis 
para os estudos histórico-educacionais” de autoria do pesquisador Carlos Henrique 
de Carvalho. 
Disponível em: <http://www.seer.ufu.br/index.php/che/article/view/273/281>. 
Acesso em 20 de janeiro de 2015. 
 
 
44 
 
UNIDADE 10. UM NOVO CONCEITO PARA O REGIONAL 
 
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE 
Objetivos 
 Aprofundar e problematizar o conceito regional (regionalismo). 
 
ESTUDANDO E REFLETINDO 
 O desenvolvimento do capitalismo provoca inevitáveis transformações. Ao se 
expandir, o capitalismo encontra espaços com peculiaridades sociais, políticas e 
culturais diante das quais precisa adaptar-se para lograr sua implantação. Flexível, o 
capitalismo assume, por conseguinte, colorações diversas sobre a superfície do planeta, 
conservando e/ou dando novos significados a certos aspectos das culturas e dos 
espaços nacionais, regionais e locais. Assim, o capitalismo japonês não é inteiramente 
igual ao capitalismo norte-americano, nem este coincide perfeitamente com o 
capitalismo francês. Essas diferenças se manifestam tanto na cultura e nas instituições 
quanto no espaço. Uma lógica complexa de uniformização versus diferenciação é a 
marca da globalização capitalista. De modo mais preciso, há homogeneização do 
espaço capitalista, mas ela ocorre no interior e através da reorganização dos espaços 
regionais. 
 O que se observa é, portanto, a resistência do “regional” e do “local”, porque 
certas diferenças não desaparecem. Mais do que isso: as pessoas e os grupos sociais, 
submetidos às tensões da “sociedade global” – os riscos ecológicos, o medo (do 
desemprego, do terrorismo, da competição), o individualismo exagerado, as frustrações 
do consumismo, etc. -, sinalizam para uma “perda de direção”. Questionam a realidade, 
refletem sobre a “perda de história”, reexaminam suas experiências de vida. Enfim, são 
assaltadas pela inquietação relativa à identidade. A globalização, ao deslocar antigas 
certezas e filiações, exige que os indivíduos e as nações repensem suas identidades. 
 Neste momento, reaparecem as regiões, de mãos dadas com a revalorização da 
memória. Ao olharem ao redor, as pessoas buscam encontrar elementos de 
continuidade, alguma quantidade de símbolos de permanência, certo legado do 
45 
 
passado. Sem essas referências, tudo se torna insuportavelmente fugido, transitório, 
sem sentido. O “lugar” e a “região” respondem a demandas individuais e coletivas por 
segurança, continuidade histórica e pertencimento a algum tipo de comunidade de 
destino. Para novamente se sentirem sujeitos, as pessoas querem “voltar a viver em 
lugares”, entendidos como espaços concretos tecidos por relações sociais que 
conformam cotidianamente suas experiências individuais. Principalmente nas grandes 
metrópoles, justamente os pontos mais afetados pelo vetor da homogeneização 
capitalista, mais e mais gente busca especificidades, algo que seja querido, práticas e 
“cantinhos” que sejam seus, de seus vizinhos e amigos, experiências pessoais e 
comunitárias para rememorar e criar identidades. Almejam conhecer e reconhecer o 
espaço onde vivem, pertencer a ele e apropriar-se dele, na medida exata em que 
participam das redes de significados e sentidos que a vida ali gera, no trajeto da 
história. Mais e mais pessoas querem ver a cidade ou o campo como espaço para 
realizar sua vida interior, na moldura de uma paisagem multifacetada, rica e diversa, 
que é muito mais do que simples terreno dominado por mercadorias e fluxos 
organizados pelo relógio e pelo desejo do lucro. 
 Como decorrência desse desejo, as diferenças entre as regiões e as 
especificidades dos lugares destacam-se, investidas de novas significações. Os vestígios 
do passado, as ruínas, os monumentos, os museus, recebem atenção especial. Crescem 
as exigências por novas narrativas e interpretações da história local e regional. Para os 
que lidam com a História, especialmente os professores, cabe a tarefa difícil de ajudar 
as pessoas a enxergarem que a marca do avanço do capitalismo pelo planeta é a sua 
enorme plasticidade. O capitalismo cresce em muitas variedades, porque se ajusta às 
crenças religiosas, relações familiares,características geográficas e tradições regionais e 
locais nas quais se incorpora. Logo, as regiões não desaparecerão, embora o seu 
destino seja o de nunca mais desfrutar da grande autonomia que tiveram nos tempos 
pré-modernos. 
 Essa tendência de as pessoas buscarem raízes, fontes de identidade e segurança 
psicológica, mobilizando elementos do espaço sócio histórico, aumenta a 
responsabilidade dos profissionais da História ao mesmo tempo que estimula a 
46 
 
produção de estudos históricos regionais e locais e valoriza a abordagem regional em 
sala de aula. 
 
BUSCANDO CONHECIMENTO 
Leia esta resenha sobre a obra do historiador Durval Muniz de Albuquerque 
Júnior, “A Invenção do Nordeste e outras artes” (Cortez Editora, 2006), escrita pelo 
jornalista Gutenberg, coordenador de comunicação dos municípios da Bahia, A partir 
deste texto, propomos algumas questões. 
Vivemos um momento de desidentificação com a memória nacional e regional. 
O livro de Durval Muniz de Albuquerque Júnior, “A Invenção do Nordeste e outras 
artes” (Cortez Editora, 2006) é uma boa prova disso. O trabalho de pesquisa para a 
realização do 
doutorado em 
História na 
Unicamp, defendido 
em 1994, apresenta 
o surgimento de um 
recorte espacial, de 
um lugar imaginário 
e real no mapa do 
Brasil, que todos 
nós conhecemos 
profundamente, não 
importa de que 
maneira, mas que 
nunca pudemos 
imaginar com uma 
existência tão 
recente. 
 
 
Fonte:<http://blogdogutemberg.blogspot.com.br/2009/03/invencao-do-nordeste-3.html>. Acesso em 
10/12/2014 
 
47 
 
E falar do Nordeste é inventariar os muitos estereótipos e mitos que emergiram 
com o próprio espaço físico reconhecido no mapa composto por alguns estados e 
cidades. É mobilizar todo o universo de imagens negativas e positivas, socialmente 
reconhecidas e consagradas, que criaram a própria ideia de Nordeste. 
Este trabalho de pesquisa aprofundado desconstrói os discursos que deram 
visibilidade e que tornaram dizível a região nordestina. O que o livro interroga não é 
apenas por que o Nordeste e o nordestino são discriminados, marginalizados e 
estereotipados pela produção cultural do país e pelos habitantes de outras áreas, mas 
também investiga por que há quase 90 anos dizemos que somos discriminados com 
tanta seriedade e indignação. 
Em sua conclusão, Durval Muniz escreveu que o Nordeste é uma invenção 
recente na história brasileira, se gestou no cruzamento de uma série de práticas 
regionalizantes, motivadas pelas condições particulares com que se defrontam as 
províncias do Norte, no momento em que o dispositivo da nacionalidade, que passa a 
funcionar entre nós, após a Independência, coloca como tarefa, para os grupos 
dirigentes do país, a necessidade de se construir a nação. “O Nordeste é, portanto, filho 
da modernidade, mas é filho reacionário, maquinaria imagético-discursiva gestada para 
conter o processo de desterritorialização por que passavam os grupos sociais desta 
área, provocada pela subordinação a outra área do país que se modernizava 
rapidamente: o Sul”. 
“O Nordeste, na verdade, está em toda parte desta região, do país, e em lugar 
nenhum, porque ele é uma cristalização de estereótipos que são subjetivados como 
característicos do ser nordestino e do Nordeste. Estereótipos que são operativos, 
positivos, que instituem uma verdade que se impõem de tal forma, que oblitera a 
multiplicidade das imagens e das falas regionais, em nome de um feixe limitado de 
imagens e falas-clichês, que são repetidas, seja pelos meios de comunicação, pelas 
artes, seja pelos próprios habitantes de outras áreas do país e da própria região”. 
Assim a obra de Muniz questiona esta representação regional e a prisão dos 
discursos a este dispositivo de força que a sustentou e a sustenta. “É preciso fugir do 
discurso da súplica ou da denúncia da miséria; é preciso novas vozes e novos olhares 
que compliquem esta região, que mostrem suas segmentações, as cumplicidades 
48 
 
sociais dos vencedores com a situação presente deste espaço. Se o Nordeste foi 
inventado para ser este espaço de barragem da mudança, da modernidade, é preciso 
destruí-lo para poder dar lugar a novas espacialidades de poder e de saber.” 
 
 
 
 
49 
 
UNIDADE 11. HISTORIOGRAFIA BRASILEIRA: ESTUDOS 
REGIONAIS – PARTE I 
 
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE 
Objetivos 
Propiciar conhecimentos sobre a historiografia brasileira e discutir a sua 
contribuição para o “fazer” histórico na contemporaneidade. 
 
ESTUDANDO E REFLETINDO 
Vale a pena apresentar uma breve trajetória dos estudos históricos regionais no 
país, ainda que seja para mostrar o que não convêm mais fazer nesse campo hoje. E 
também para indicar algumas diretrizes que devem nortear o trabalho (no ensino e na 
pesquisa) daqueles que se interessam pela história regional. 
Durante o século XIX e boa parte do século XX, os estudos históricos regionais foram 
feitos sobre a poderosa influência do Instituto Histórico e Geográfico do Brasil (IHGB) e 
seus parceiros provinciais e/ou estaduais. 
Nesse período, viveu-se o auge da corografias, escritas quase sempre por 
membros dos institutos históricos, pessoas bem situadas nas hierarquias sociais e 
políticas de suas épocas. As corografias eram monografias municipais e regionais, que 
misturavam história, tradição e memória coletiva. Pode-se atribuir a corografia, a 
definição de estudo ou descrição geográfica de um país, região, província ou 
município, as suas características mais notáveis. 
Esses trabalhos tomavam como fundamento espaços bem recortados 
politicamente, que eram estudados em si mesmos. O relacionamento do “nacional” 
com o “regional” e o “local” era reduzido à descrição de impactos de grandes 
acontecimentos da história do país nos espaços subnacionais. A narrativa, a seleção e o 
encadeamento dos fatos, a referencia recorrente a determinados tipos de personagens, 
tudo isso objetivava mostrar que a região é o resultado do protagonismo de figuras 
extraordinárias. Muitas vezes, os corógrafos tenderam a considerar as regiões e seus 
50 
 
povos como dotados de características definidas e abundantes, configurando um 
contexto histórico imutável. 
 As corografias alcançaram padrão formal estereotipado. Traziam descrições 
fisiográficas das regiões, exposições da fauna e da flora, inventários dos recursos 
naturais. Em seguida, havia relato das atividades econômicas; por último, os autores 
das corografias elaboravam efemérides e pequenas biografias de pessoas destacadas 
da história regional ou local. Para escrever as corografias, os autores baseavam-se, livre 
de crítica, nas informações orais obtidas de “testemunhas” de episódios do passado ou 
originárias da tradição coletiva ou dos grupos familiares. 
 
O mapa de Araxá traz ilustrações de dois serviços urbanos diretamente relacionados às idéias de progresso 
e civilização: a eletricidade (representações da sub-estação de energia e da usina hidrelétrica) e a 
salubridade da água (representação do sistema de captação de água potável). Fonte: 
<http://www.ichs.ufop.br/conifes/anais/CMS/cms1105.htm>. Acesso em: 05/01/2015. 
 
 O conjunto de corografias do período mencionado possuía defeitos graves. O 
primeiro deles é a frágil ou inexistente articulação entre geografia e história; outro era 
o modo como elas relacionavam as dimensões “micro” e “macroespaciais”. Um terceiro 
defeito era o viés conclusivo em forma de laudo das narrativas, antes de tudo exercício 
51 
 
de exaltação dos feitos das elites regionais e locais. Por último, cite-se o fato de que as 
corografias eram concebidas como instrumentos para fazer despertar o amor ao 
passado e o patriotismo. 
 Apesar de suas evidentes limitações, as corografias forneceram, até pelo menos 
a década de 1960, os moldes e os elementos informativos para a elaboração de 
material didático usado nas escolas das localidades e regiõesbrasileiras, quando não 
foram, elas próprias, os textos de consulta direta das crianças nas aulas sobre história 
local e regional. 
 Nas décadas de 1960 e 1970, quando o grosso da produção historiográfica 
brasileira já ocorria no âmbito da universidade, assistiu-se ao embaralhamento do 
nacional e do regional. A Universidade de São Paulo (USP) lançou uma corrente de 
pesquisas históricas, atualizadas e rigorosas (teoria e método), abordando 
principalmente aspectos da história paulista. A hegemonia econômica e acadêmica de 
São Paulo possibilitou a identificação de sua história com a história do Brasil mais 
recente. Ainda hoje nos livros didáticos empregados no s ensinos fundamental e 
médio, a trajetória republicana brasileira é examinada à luz do “modelo paulista”. São 
Paulo torna-se o Brasil quando o assunto é café, imigração, industrialização, trabalho e 
conflito social urbano, movimentos sindicais e populares, vida metropolitana, 
vanguardas artísticas etc. Se São Paulo assumia toda e qualquer positividade contida na 
ideia do Brasil moderno, urbano e industrial, nas outras partes do pais frequentemente 
os estudos regionais adotaram uma perspectiva da negatividade, da falta, da carência 
deste ou daquele elemento que marcaria a distância em relação ao êxito paulista. O 
“espelho São Paulo” era o instrumento por meio do qual as diversas regiões brasileiras 
deveriam buscar a autocompreensão e ação transformadora. 
 A partir da década de 1980, o pleno funcionamento de cursos de pós-
graduação fora de São Paulo permitiu corrigir distorções resultantes da generalização, 
para todo Brasil, da trajetória paulista e alimentou nova onda de estudos regionais, 
assentada em bases mais adequadas do que as antigas corografias. No interior dos 
programas de pós-graduação em História, os estudantes ampliaram o trabalho com 
temas e acervos documentais regionais, preocupando-se com a construção de bancos 
de dados variados e com a “história ao microscópio”, conforme a conhecida expressão 
52 
 
de Pierre Goubert, renomado historiador francês, autor de obras clássicas sobre a 
demografia, a economia, a sociedade e a cultura de antigas regiões da França. 
Desenvolveu-se, portanto, nas novas gerações de historiadores brasileiros o apreço 
pelas conexões intrincadas e oblíquas entre o regional, o local e o nacional, em que o 
elemento espacial ganha relevância, ombreando-se ao tempo. 
 
BUSCANDO CONHECIMENTO 
Segue link com a etimologia e o significado das palavras corografia e 
topografia, bem como em que situações se devem utilizar cada uma delas. 
Disponível em: <http://www.ciberduvidas.com/pergunta.php?id=25428>. Acesso em 19 
de janeiro de 2015. 
 
 
53 
 
ESTADO: O Estado é uma instituição 
que cria parâmetro e administra uma 
nação, politicamente organizada pela 
existência de uma lei máxima – 
constituição e dirigida por um governo. 
 
NAÇÃO: é a sociedade que compartilha 
um destino comum e logra ou tem 
condições de dotar-se de um estado 
tendo como principais objetivos a 
segurança ou autonomia nacional e o 
desenvolvimento econômico (Bresser 
Pereira). 
UNIDADE 12. HISTORIOGRAFIA BRASILEIRA – ESTUDOS 
REGIONAIS – PARTE II 
 
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE 
Objetivos 
Propiciar conhecimentos sobre a historiografia brasileira e discutir a sua 
contribuição para o fazer histórico na contemporaneidade. 
 
ESTUDANDO E REFLETINDO 
Historiografia Brasileira e o Instituto Histórico e Geográfico do Brasil IHGB. 
Na Europa, o pensar a história passa a articular-se em torno do problema da 
questão nacional. No Brasil, os historiadores brasileiros também estão inseridos nesta 
preocupação e não conseguem escapar incólumes acerca dessa nova perspectiva 
historiográfica. Portanto, o 
historiador, no Brasil, no século 
XIX, colocava-se no papel de 
pensar a origem da nação, ao 
mesmo tempo em que tentava 
incutir nas elites dirigentes uma 
memória comum que servisse 
como elemento aglutinador do 
território considerado parte do 
Estado brasileiro. 
Todavia, para os primeiros historiadores, ao contrário de seus pares na Europa, 
a nação brasileira era constituída tanto pelo Estado como pela Nação. 
Os historiadores europeus, em meio a inúmeras nações trans-nacionais, 
disputas e guerras, muitas de cunho étnico, viam a necessidade de diferenciar a noção 
de Estado e de Nação. Diferentemente, os historiadores brasileiros, ao não 
diferenciarem os conceitos de Estado e Nação, colocavam a própria forma deste Estado 
- monárquico - como uma particularidade da identidade da nação. 
54 
 
Na verdade, essa defesa da monarquia revela o temor causado pelas 
repúblicas vizinhas, que se desfragmentava, em inúmeras repúblicas. Ao erigir a 
memória da monarquia atrelada à própria memória da nação, qualquer outra forma de 
governo era vista como o outro, representado muitas vezes pela figura do não 
civilizado, que deveria ser evitado. Essa primeira perspectiva historiográfica concebia a 
Nação brasileira como a portadora do processo civilizatório no Novo mundo, o que 
também explica a exagerada ênfase nos valores da cultura branca, na constituição do 
panteão de heróis nacionais e na memória nacional que, então, começava a delinear-
se. 
A ideia de criar um Instituto Histórico que buscasse definir uma identidade 
nacional, segundo Guimarães, partiu primeiramente da Sociedade Auxiliadora da 
Indústria, SAIN, que buscava estabelecer uma ordem dentro do território nacional, com 
vistas a buscar uma forma de viabilizar, efetivamente, a existência de uma totalidade 
“Brasil”. Segundo o autor, inicialmente, o objetivo do IHGB era o de coletar e publicar 
documentos relevantes à história do Brasil e o incentivo ao ensino público da ciência 
História em todo o território nacional. 
Os membros do IHGB concebiam a história numa narrativa linear, presos ainda 
a uma concepção de história marcada pela noção de progresso. Desta forma, os 
historiadores do IHGB, buscavam explicitar essa linha dedutiva nos grandes 
acontecimentos da Nação brasileira, pois, “coincidindo com a estabilização do poder 
central monárquico e de seu projeto político centralizador. 
Escrever a história brasileira, no contexto de atuação de um Estado iluminado, 
esclarecido e civilizador, constituía-se o empenho, para o qual se concentram os 
esforços do Instituto Histórico. Assim, torna-se claro a preocupação de tais 
historiadores em enfatizar as “raízes” europeias – ou raízes “civilizadas” - e a 
importância dada por estes historiadores à presença do homem branco, enquanto 
agente da civilização, este, o responsável pelo processo civilizatório da nação. Nessa 
perspectiva, somente o homem branco poderia ser genuinamente brasileiro. Vale dizer 
que esse argumento criou uma acirrada disputa entre os historiadores do século XIX 
com a literatura daquele período, pois a última, veiculava a imagem do indígena como 
portador de uma certa “brasilidade”. A leitura da história compreendida por esta 
55 
 
primeira produção historiográfica tinha como projeto inserir a ideia de civilização e 
progresso à gênese da identidade brasileira, para Guimarães, “a Nação, cujo retrato o 
instituto se propõe traçar, deve, portanto, surgir como desdobramento nos trópicos, de 
uma civilização branca e europeia.” 
A afirmação de uma influência francesa, na constituição do IHGB, foi motivada, 
segundo Guimarães, pela necessidade do IGHB de atrelar-se a instituições de pesquisa 
históricas francesas, em busca de uma legitimidade metodológica. Afirma o autor que o 
Institut Historique de Paris fornecia os parâmetros de trabalho historiográfico do IHGB. 
Além disso, a presença francesa corroborava e legitimava a tese de que o Brasil e seus 
homens brancos teriam o papel civilizador no Novo Mundo. 
Além disso, o projeto de constituição de uma identidade nacional permeava o 
temor das classes dirigentes brasileiras, em repetir, no Brasil, aquilo que haviaacontecido nas repúblicas vizinhas que se desmembraram em disputas sangrentas. Os 
políticos, comprometidos com o processo de consolidação de uma monarquia 
constitucional num Estado forte centralizado, concordavam que era preciso criar na 
população laços efetivos que propiciasse coesão cultural suficiente para afastar os 
famigerados separatistas. Assim, pode-se afirmar que o apoio concebido ao IGHB pelo 
o Estado demonstra que as elites que governam o país reconheceram a história como 
um meio indispensável, para forjar esta desejosa nacionalidade. 
Não é de se espantar que o Instituto Histórico tenha sido inaugurado e 
sediado no Rio de Janeiro, capital do Império, a partir do qual seriam fundados outros 
institutos nas províncias, diretamente subordinados aos princípios formulados na 
capital do Império, onde deveriam somar-se todos os conhecimentos do Brasil. 
Porém, aproximando-se da posição dos literatos que defendiam a apreensão 
de símbolos nativos da América, para engendrarem tais símbolos numa “essencialidade 
brasileira”. Para Von Martius, os indígenas mereciam um estudo cuidadoso, pois 
poderiam fornecer uma gama de mitos para a constituição da nacionalidade. O branco, 
para Von Martius, logicamente, ainda deveria ser alvo prioritário, pois o mesmo 
carregava consigo a bandeira da civilização; o negro, no entanto, não tinha um papel 
preponderante, pois o negro neste momento era visto como um símbolo do passado. 
56 
 
O meio, pelo qual o empreendimento de constituição da história da Nação é 
produzido e tornado público, é a revista trimestral publicada pelo IHGB. Os principais 
temas tornam claro quais eram os objetivos dos historiadores, destacando-se, neste 
momento: a problemática indígena, as viagens científicas pelo território brasileiro e o 
debate da história regional. 
 Segundo Guimarães (1988), o debate acerca da problemática indígena gira 
em torno da busca da integração física do território brasileiro e a discussão relativa às 
origens da Nação. Portanto, explicitar a origem do indígena era essencial, tanto pela 
questão de produzir um saber que se erigisse como memória e assim ser integrado à 
memória coletiva da nação, estes estudos também obedeciam aos interesses do Estado 
brasileiro que pretendia estender o seu controle aos mais longínquos povoados do 
território. 
A jovem monarquia que ansiava construir a sua identidade, a partir da 
construção de uma memória também entendia que inserir as populações indígenas 
fronteiriças em sua esfera cultural significava não só a inserção, muitas vezes de forma 
arbitrária, desses povoados a uma memória oficial, mas também um controle estatal 
mais preciso sobre o espaço físico da “nação”. O que também explica o foco 
privilegiado dado pelo IGHB, no mesmo período, dirigido aos relatos de viagens e 
exploração através do território brasileiro. Essa situação nos leva a crer que a 
Monarquia tinha plena consciência que para a constituição da identidade nacional de 
uma Nação é igualmente importante estabelecer a sua imagem física, e claro, 
integrando a esta imagem os elementos - entre outros -, continentalidade e riquezas 
naturais inumeráveis, que tornaria o Brasil o eterno país do futuro. 
 
BUSCANDO CONHECIMENTO 
Historiografia Brasileira e o Instituto Histórico e Geográfico do Brasil IHGB. 
 Os objetivos da instituição, estabelecidos no Art. 1º do Estatuto de 1838, são 
mantidos até a atualidade, adaptados às conjunturas nacionais e internacionais, de que 
é o primordial, "coligir, metodizar, publicar ou arquivar os documentos necessários 
para a História e a Geografia do Brasil...", hoje alargadas em leque abarcando as demais 
Ciências Sociais. 
57 
 
 
Disponível em: < http://www.ihgb.org.br/>. Acesso em 19 de janeiro de 2015. 
 
 
 
58 
 
UNIDADE 13. REGIÃO: UMA CATEGORIA HISTÓRICA 
 
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE 
Objetivos 
Aprofundar a compreensão do conceito história regional através das dinâmicas 
históricas de um determinado espaço e na diferenciação de áreas. 
 
ESTUDANDO E REFLETINDO 
 Nesta unidade chegou o momento de caracterizar melhor o que é História 
regional. Não se trata simplesmente da História que lida com pequenas porções de um 
país: uma área determinada pela geografia física (por exemplo, a Amazônia ou o semi-
árido), um estado ou um município. História Regional é aquela que toma o espaço 
como terreno de estudo, que enxerga as dinâmicas históricas no espaço e através do 
espaço, obrigando o historiador a lidar com os processos de diferenciação de áreas. A 
História Regional é a que vê o lugar, a região e o território como a natureza da 
sociedade e da história, e não apenas como o palco imóvel onde a vida acontece. Ela é 
História Econômica, Social, Demográfica, Cultural, Política, etc., referida ao conceito 
chave de região. Os temas e os problemas da História Regional são os mesmos da 
História, idênticos. Na verdade, a História Regional constitui uma abordagem específica, 
uma proposta de estudo da experiência de grupos sociais historicamente vinculados a 
uma base territorial. 
 Os “historiadores regionalistas” trabalham com regiões e localidades não 
porque afirmam a dicotomia entre o geral e o particular. Fazem isso porque 
questionam e criticam as narrativas e interpretações históricas dominantes e as 
crônicas triunfalistas do progresso, seus pressupostos e implicações político – 
identitárias. 
 Existe uma longa, complexa e muito interessante discussão na Geografia sobre 
o conceito de região, que os profissionais da história devem conhecer. Desse debate, 
algumas evidências destacam-se. Em primeiro lugar, a região – um determinado 
recorte da superfície terrestre – é espaço natural, político, técnico e cultural. Em 
59 
 
segundo lugar, para pensar a região é necessário ultrapassar o puro dado material, a 
paisagem natural, na direção do espaço vivido. Por si sós, relevo, clima, vegetação, 
hidrografia e ecossistemas não são suficientes para definir uma região, porque é 
preciso saber como seus habitantes se vêem, estabelecem relações entre si e com os 
“forasteiros”, quais sentimentos nutrem pelo espaço que historicamente ocuparam e 
construíram. Em terceiro lugar, a região precisa ser vista como totalidade aberta e em 
movimento, atravessada por fluxos de energia, matérias (como água, sedimentos, 
partículas trazidas pelos ventos, resíduos de atividades humanas, etc.), bens, ideias, 
interesses, poderes, seres vivos. O recorte regional deve ser pensado de forma 
dinâmica, sem perder de vista a existência de processos que implicam no contínuo 
reajustamento das “fronteiras”. Em quarto lugar, o recorte da região precisa levar em 
conta a totalidade do espaço segmentado a definir o nível em que se fracionará o 
espaço (o problema de escala), bem como as variáveis que presidirão o fracionamento 
do espaço. Por exemplo, há estudos que requerem que o Brasil seja dividido de acordo 
com critérios político administrativo: capitanias, províncias, estados comarcas. Outros 
exigema adoção de recortes baseados em critérios econômicos: zona açucareira 
nordestina, área de mineração aurífera e diamantífera, zona da pecuária gaúcha etc. 
Existem muitas outras possibilidades. Observe abaixo: 
 
60 
 
 Para os profissionais da história, o importante é que o procedimento de 
regionalização não produza anacronismo, confusão. Para pensar e regionalizar o 
espaço construído por sociedades do passado é preciso levar a sério a historicidade 
das formações espaciais. Devem ser reunidos dados contemporâneos, isto é, “de 
época”, sobre a produção e percepção do espaço, que foram gerados pelas pessoas 
componentes da sociedade que se quer investigar. Os possíveis recortes – que muito 
provavelmente serão diferentes das regiões administrativas, de planejamento ou 
econômicas de hoje, empregadas pelos técnicos governamentais – não devem ter a 
pretensão de alcançar elevada precisãoe limites rígidos. Certa dose de flexibilidade na 
regionalização é necessária, em razão do fato de que o historiador frequentemente lida 
com fontes possuidoras de lacunas, imprecisas e com base de dados pouco 
sistemáticas. Dessa forma, os profissionais da História precisam abandonar o apego aos 
recortes oficiais, baseados numa territorialidade meramente política (estados, 
municípios, etc.). Mais do que linhas de um mapa político ou características 
fisiográficas, são as redes de relações sociais e alguma forma consciência de 
pertencimento que indicam a existência dinâmica das regiões. 
 As regiões e os lugares são tensionados pelo embate entre o “tempo do 
mundo” e o “tempo dos lugares”, segundo a formulação de Fernand Braudel. O tempo 
do mundo remete à noção de um tempo uniforme, comum a todos os espaços. É o 
tempo da modernidade, imposto às regiões e aos lugares a partir dos “centros 
irradiadores” da história global, que coloca em sincronia as áreas plenamente inseridas 
no movimento de expansão do capitalismo. Para Braudel, o tempo do mundo 
repercute nos espaços marginais, porém não se realiza neles em toda a sua 
potencialidade. Já o tempo dos lugares se refere ao tempo realmente vivido pelas 
inúmeras localidades, um tempo específico, relacionado a experiências distintas às dos 
pólos hegemônicos em um mesmo momento histórico. A noção de tempo dos lugares 
indica que, na história, sempre há muitos tempos sociais que convivem na realidade do 
mundo e do país. Compreender esse jogo intrincado de tempo do mundo e tempo dos 
lugares, em uma determinada base territorial, é a tarefa do “historiador regionalista”. 
 
 
61 
 
BUSCANDO CONHECIMENTO 
 A seguir temos a introdução de um artigo sobre o conceito região. Para ler o 
artigo na íntegra acesse o link indicado. 
A região em Milton Santos é concebida, em princípio, como funcional em 
relação ao modo de produção global, que dá sentido à sua realidade interna. Isso não 
significa que cada região não tenha suas particularidades. Pelo contrário, no 
desenvolvimento de sua obra, Milton Santos chega ao conceito de lugar, que abrange 
tanto um espaço de determinações externas quanto um espaço de solidariedade, de 
vivências internas. Região e lugar se identificam na cidade, onde há o encontro e o 
desencontro de múltiplos vetores da modernidade, no teatro das ações humanas. 
Desse modo, na cidade, Milton Santos se encontra com a dialética do global e do local, 
com a totalidade das relações socioespaciais construída no movimento que não omite 
a relevância das particularidades do lugar ou da região. 
 
Disponível em: 
<http://www.uff.br/geographia/ojs/index.php/geographia/article/viewArticle/268>. 
Acesso em 21 de janeiro de 2015. 
 
 
 
 
62 
 
UNIDADE 14. REGIONALISMO HISTORIOGRAFIA 
BRASILEIRA 
 
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE 
Objetivos 
Compreender as características elementares da história local e regional na 
historiografia brasileira. 
 
ESTUDANDO E REFLETINDO 
Nesta unidade temos o estudo do artigo abaixo. 
DOMINGOS, Juliete Rosa; LIMA, Adilson Carlos de. A inserção da historia 
local e regional na historiografia e sua abordagem em sala de aula. In: X 
CONGRESSO DE EDUCAÇÃO DO NORTE PIONEIRO Jacarezinho. 2010. Anais. ..UENP 
– Universidade Estadual do Norte do Paraná – Centro de Ciências Humanas e da 
Educação e Centro de Letras Comunicação e Artes. Jacarezinho, 2010. ISSN – 
18083579. p. 107 – 117.1 
 
O LOCAL E O REGIONAL NA HISTORIOGRAFIA BRASILEIRA 
No Brasil a historiografia local e regional ainda tem sido caracterizada pelo 
seu diletantismo. Diferente de outros países europeus, como a França, Espanha, 
Alemanha, nossa história local e regional ainda tem um longo caminho pela frente 
para se desenvolver e tomar forma mais consolidada, encarnada, enquanto campo 
de pesquisa. A posição ocupada pela historia local na Europa é descrita por Silvio 
Correa: 
A relação entre história local e historiografia nacional na Europa também 
assume contornos no caso da América Latina, pois a história local européia 
é majoritariamente escrita por profissionais, enquanto a latino-americana 
tem o diletantismo como predominância. Além disso, o diálogo entre 
 
1 Disponível em: <http://www.cj.uenp.edu.br/files/Eventos/congressoeducacao/2010/08.pdf>. Acesso 
em 08/01/2015. 
63 
 
amadores e profissionais europeus da historia local tem gerado bons 
resultados em que, não raro, os primeiros recebem suporte teórico 
metodológico dos segundos em troca de informações ou fontes, ás vezes 
inéditas (CORREA, 2003, p.11). 
 
Os motivos que colocam essa historiografia numa posição marginal, tem sido, 
primeiramente, o fato de ser ainda um campo recente em relação aos países citados 
anteriormente. As pesquisas voltadas para o local e o regional começaram a se 
desenvolver, como a pensamos hoje, apenas a partir da década de 70 e 80. Os 
fatores que contribuíram foram vários, dos quais podemos sublinhar a multiplicação 
dos cursos de pós-graduação que começam a surgir juntamente com uma 
“demanda” em se conhecer as particularidades fora das abordagens que orbitavam 
em torno da historiografia paulista, carioca, mineira, ou gaúcha. A larga produção de 
monografias que também surge nesse contexto contribui bastante. Soma-se a tudo 
isso a transformação que o próprio conceito de “região” sofreu dentro da geografia. 
Porém, apesar de um solo fértil, as dificuldades são tamanhas. A preservação 
e organização dos materiais, dos documentos históricos se apresentam de forma 
bastante precária, dificultando o trabalho do pesquisador. Essa dificuldade é 
perceptível em vários relatos de pesquisadores da história local e regional, como nos 
relata Janaina Amado sobre uma de suas investigações: 
A esse respeito, lembro-me de um episódio ocorrido durante uma 
pesquisa em um cartório situado em Porangatu, interior de Goiás. 
Temendo que eu estivesse ali em busca de dados referentes a uma enorme 
e recente grilagem de terras realizada (ao que se sabe, com a colaboração 
dos proprietários do Cartório), a encarregada não me permitiu, de modo 
algum, consultar a documentação [...] (AMADO, 1990, p.12). 
 
Essa dificuldade encontrada pela pesquisadora ainda está presente nos 
trabalhos mais recentes. É visível que muitas pessoas ou instituições se denominam 
donas das fontes, colocando o pesquisador numa posição de recuo, pois a utilização 
do poder é sempre frequente quando existe receio de que a divulgação de alguns 
dados possa pôr em risco e prejudicar os interesses desses grupos, e de 
comprometer sua imagem. A pesquisadora ainda aponta para outras dificuldades 
64 
 
presentes no caminho do historiador da história local, como o pequeno apoio 
financeiro, a carência de bibliografia básica e a dificuldade em publicar os trabalhos. 
Podemos somar a tudo isso a dificuldade também em termos de teorias e 
metodologias, que carecem de uma definição mais precisa. 
Mesmo com tanta dificuldade, os trabalhos vêm sendo produzidos e 
enfrentando os desafios. As universidades têm aberto espaço para as pesquisas na 
área e estimulado esses estudos através de linhas pesquisas específicas sobre local e 
regional. 
Essa mudança que vem ocorrendo no campo da historiografia brasileira, 
onde se propõe diferentes abordagens de forma mais crítica, tem testado a validade 
e a credibilidade das macro abordagens. Enfatizar uma pesquisa como de cunho 
regional tornou-se importante, mesmo havendo questionamentos sobre tal ênfase, 
pois se toda história pode ser considerada regional, essa “totalidade da história” não 
tem ultrapassado os limites dos centros administrativos, políticos e econômicos do 
país. Dessa forma, quando falamos em história local e regional, estamos falando 
também, e principalmente, das localidades e regiões que estão esquecidas ou 
mesmo desconhecidas, pela historiografia.É nesse sentido que devemos pensar a 
importância do estudo sobre o local e o regional, pelas suas análises 
transformadoras e inovadoras, como reforça Janaina Amado: 
A historiografia regional tem ainda a capacidade de apresentar o concreto 
o cotidiano, o ser humano historicamente determinado, de fazer a ponte 
entre o individual e o social. Por isso, quando emerge das regiões 
economicamente mais pobres, muitas vezes ela consegue também 
retratar a História dos marginalizados, identificando-se com a chamada 
“História popular” ou “História dos vencidos” (AMADO, 1990, p.13). 
 
Essas renovações no campo da historiografia, que a tem caracterizado como 
heterogênea, tem suas raízes já no inicio do século XX, com as contestações sobre a 
metodologia positivista e metódica, pelos historiadores dos Annales. A História Nova 
que vai conquistando seus espaços, vai abrindo um leque pluralizado de temáticas e 
de abordagens. A linearidade cronológica que caracterizava a historiografia 
tradicional vai sendo transformada num “saco de pancada”, pelos “novos 
65 
 
historiadores”. Esse contexto não é um momento de transformação apenas no campo 
da história, diversas áreas do conhecimento têm seu referencial teórico-
metodologico repensado. A geografia não fica atrás e assume um ponto importante 
nessa configuração que, conforme Le Goff: “[...] a geografia foi umas das primeiras 
ciências humanas a se renovar graças ao desenvolvimento da geografia humana” 
(1995). Le Goff ressalta também a influência dos geógrafos dessa geografia humana 
sobre os ícones da história nova, Lucien Febvre, Marc Bloch e Fernand Braudel. 
A partir então dessa aproximação, já no século passado, tornou-se perceptível 
a contribuição do diálogo entre a história e a geografia. E como já definimos 
anteriormente, com a geografia “crítica”, “humana”. O diálogo apresenta como 
destaque dois instrumentos específicos de cada área, que num processo dialético 
resulta numa aparente dependência entre esses instrumentos, o tempo e o espaço. A 
história conversa ainda com diversas outras ciências que vão construindo seu 
espaço nesse momento, como a Antropologia, a Sociologia, a Psicologia, entre 
outras. Essa interdisciplinaridade permite também produtivas análises sobre o local e o 
regional. 
No Brasil, apesar dessa renovação ter começado tarde a se estabelecer em 
solo firme, já tem, no mínimo, despertado o olhar do historiador para a importância 
de se estudar, conhecer e compreender as diferenças culturais existentes em nosso 
país, e até mesmo dentro de nossa própria região ou ainda no local onde moramos. 
No entanto, a diferenciação entre homogeneidade e heterogeneidade deve 
ser feita de forma coerente, pois, se as macro-abordagens tendem a homogeneizar 
culturas diferentes, a história local, dependendo da metodologia, pode fazer o mesmo. 
Isso ocorre quando o autor da história local se confunde com a própria fonte. 
No caso de ter sido testemunha ocular de fatos e acontecimentos 
considerados de relevância histórica, o historiador diletante pode correr o 
risco de confundir sua biografia com a história da comunidade local 
(CORREA, 2003, p.14). 
 
Esse equívoco tem sido constante na historiografia local. Apesar de toda 
crítica que vem sendo feita e dos debates nos meios acadêmicos, a subjetividade e o 
66 
 
empirismo ainda assombram as produções na área. E esse tem sido um dos principais 
motivos da marginalização do local dentro da historiografia brasileira. 
O outro caráter da historiografia local e regional tem sido aquele que carrega 
consigo uma ideologia, através do interesse de grupos que ocupam o poder. 
Essa vertente é bastante visível na historiografia sul-rio-grandense, aliás, a que mais 
tem chamado a atenção dos críticos e uma das mais presentes em artigos sobre 
historiografia local regional. Essa ideologia é transmitida pelo grupo de intelectuais, 
que Gramsci denomina de “intelectuais orgânicos” (GRAMSCI, 1979, p.3), e Sandra 
Pesavento reforça em defini-los como “um grupo funcional que tem por tarefa teorizar, 
tornar coerentes e difundir os valores e as idéias da classe dominante por todo o corpo 
social” (PESAVENTO,1990, p. 73). 
A relação assumida entre a história e a legitimação da hegemonia e do poder 
apresenta-se de forma escancarada, e segundo Pesavento: 
Nesse sentido, pode-se dizer que a história foi sempre um dos campos 
preferidos de recrutamento desta categoria de intelectuais defensores do 
sistema, uma vez que se desincumbe da tarefa de resgatar para a classe 
dominante um passado que a enobreça, pleno de atos de bravura e 
honradez, aos quais no presente ela dá continuidade (PESAVENTO, 1990, 
p.73). 
 
O desafio maior do pesquisador nessa área, então, parece ser o de 
enfraquecer essas tendências, enfrentar as dificuldades apresentadas e a 
marginalização da proposta da história local e regional. Isso significa ainda a 
demanda de uma profissionalização na produção historiográfica em local e regional. 
 
BUSCANDO CONHECIMENTO 
Milton Santos foi um dos maiores geógrafos da história do pensamento 
geográfico. Acesse o link abaixo e conheça um pouco mais sobre sua vasta atuação 
acadêmica. 
Disponível em: <http://www.brasilescola.com/geografia/milton-santos.htm>. Acesso 
em 21 de janeiro de 2015. 
 
67 
 
UNIDADE 15. A MICRO HISTÓRIA 
 
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE 
Objetivos 
Propiciar conhecimentos sobre a micro história, sustentada por uma base 
discursiva baseada no relato. 
 
ESTUDANDO E REFLETINDO 
A Micro História 
 Uma figura ímpar na historiografia contemporânea, ligada à história cultural e 
que faz parte de nosso trabalho é Carlo Ginzburg. Para um historiador, a palavra 
investigar é a peça chave do manual de um curioso. Mas, primeiramente, vamos 
abordar uma série de questões para discernir sobre o significado do termo: 
"investigar". O que é importante para o historiador em sua vida cotidiana de trabalho? 
Essa indagação nos remete ao fundamento científico de uma prática e a como pensar a 
questão da cientificidade dentro de uma tese. 
 Uma referência que sempre resulta atrativo e proveitoso é recorrer ao que 
chamamos de paradigma do "investigador”. Um de seus pontos básicos de pesquisa 
parte do princípio do paradigma indiciário Neste, o foco de interesse está na forma de 
operar de determinadas práticas ou disciplinas, como, por exemplo, na crítica da arte 
para atribuir autorias disputadas (Morelli); ou no método detetivesco, para achar 
provas (Sherlock Holmes); ou na psicanálise, para detectar os sintomas da psique 
profunda (Freud). Com isso, estamos observando que os três exemplos são ligados à 
prática médica, peça chave para o paradigma indiciário. Dessa forma, pode-se afirmar 
que a sintomatologia médica é presente e manifesta. A história e a medicina se 
coadunam como práticas baseadas em testemunhos indiretos, observações indiciárias e 
inferências conjecturais. Carlo Ginzburg procura assinalar em seus estudos indiciários 
que a história é a disciplina do concreto, é o método nuclear de suas operações, como 
a abdução. Em contraposição está o propósito de uma macro história que é o 
estabelecimento de regras que permitem explicar o processo histórico. O problema 
68 
 
que se apresenta é a distinta natureza das leis históricas, em relação às leis das ciências 
naturais. Ginzburg é o primeiro que nos propõe conhecer a natureza das hipóteses na 
perspectiva do conhecimento histórico. Vale dizer que, neste caso, a postura do caráter 
dedutivo ou indutivo está na relação do historiador com seu material de pesquisa, ou 
seja, o pesquisador interage com o objeto. 
 A micro história é o centro da atenção para Ginzburg. Para ele, é tal análise que 
tende a se sustentar, quando documentos excepcionais são vistos, estudados e levados 
para um objeto excepcional de acordo com um olhar analítico ou interpretativo. A sua 
observação se faz quando “areconstrução analítica (...) tornou-se necessária, a fim de 
podermos reconstruir a fisionomia, parcialmente obscurecida, de sua cultura e contexto 
social no qual ela se moldou” (Ginzburg, 198, p.12). 
 A história cultural está presente como parte de um rico método em Ginzburg. 
Ele observa que qualquer vestígio de uma realidade cultural necessita de um critério 
crível de verificação que permite evitar que exageremos, portanto, Ginzburg enfrenta-
se com a documentação “heterogênea”, frente a qual propõe novos instrumentos de 
análise, apropriando-se de um modelo inferencial, a abdução. 
 É neste ponto que a micro história “cultural” de Ginzburg se separa da história 
das mentalidades. Todavia, devemos frisar que a mentalidade se refere ao que existe de 
menos individual e deixa claro que se liga a um contexto social de que faz depender a 
compreensão global, geral, dos casos estudados. A cultura que Ginzburg estuda, ao 
contrário, é singular, mas desprende-se de um contexto de mentalidade. 
 A base de sua proposta metodológica de trabalho sustenta-se numa forma 
discursiva baseada no relato. Seu êxito prende-se, entre outras coisas, à forma 
narrativa, dando base em que se confronta a saturação da “história científica”. Carlo 
Ginzburg defende seu método, compelindo que a história é uma disciplina baseada no 
procedimento da argumentação. Sua força, neste caso, reside na convicção e no 
argumento de que é a presença física no lugar dos fatos, ao modo do historiador 
clássico grego, é uma testemunha direta do que acontecia. 
69 
 
O problema do investigador da idade 
moderna recente e da idade média é a 
ausência de uma documentação suficiente. A 
opinião metodológica de Ginzburg adquire 
sentido aqui, pois uma das fontes escassas 
outorga maior valor à documentação nominal 
que fala da cultura das classes populares. O 
problema é como remontar-se desde 
informação secundária até uma realidade mais 
complexa, afinal, se a história é abdutiva, a 
solução é desenvolver mais habilmente esse 
paradigma indiciário que permite ler os rastros 
mudos, formando uma sequência narrativa. 
 
BUSCANDO CONHECIMENTO 
 Dando sequência aos nossos estudos, temos agora uma reflexão acerca da 
influência da micro história. Texto produzido pelo historiador Leandro Vilar2 
 
A influência da micro história 
 A micro história surgiu nos anos 70 com dois historiadores italianos, Carlo 
Ginzburg e Giovanni Levi. Os dois historiadores passariam a ser conhecidos no mundo 
a partir da abordagem de pesquisa e estudo, posteriormente chamada micro história. 
Aqui é importante ressalvar que a micro história é uma abordagem, uma metodologia 
de estudo e não uma área de estudo como a história política, social, econômica, etc. No 
início, tal metodologia foi confundida com a história das mentalidades, estudos de 
cultura material, história cultural, história descritiva, etc. Porém, o certo é que a micro 
história é uma metodologia de estudo que visa estudar acontecimentos em um recorte 
temporal de curta duração, ao mesmo tempo aprofundar a pesquisa o máximo que for 
 
2 Disponível em: <http://seguindopassoshistoria.blogspot.com.br/2013/11/a-escola-dos-annales-
legados.html>. Acesso em 29 de julho de 2014. 
70 
 
possível, pois uma das críticas que estes historiadores fizeram, era que os estudos 
históricos estavam "superficiais", exploravam pouco as possibilidades, assim como, 
certos fatos só poderiam ser conhecidos a partir de uma análise mais meticulosa, daí 
Burke [2009] referir-se a micro história como "um estudo da História sob a lente do 
microscópio". Burke também dá três motivos para o surgimento da micro história: 
 “A micro historia foi uma reação contra um certo estilo de história social que 
seguia o modelo da história econômica, empregando métodos quantitativos e 
descrevendo tendências gerais, sem atribuir muita importância à variedade ou à 
especificidade das culturas locais". (BURKE, 2009, p. 61). 
 "A micro história foi uma reação ao encontro com a antropologia. Os 
antropólogos ofereciam um modelo alternativo, a ampliação do estudo de caso onde 
havia espaço para a cultura, para a liberdade em relação ao determinismo social e 
econômico, e para os indivíduos, rostos na multidão. O microscópio era uma alternativa 
atraente para o telescópio, permitindo que as experiências concretas, individuais ou 
locais, reingressassem na história". (BURKE, 2009, p. 61). 
 "A micro história era uma reação à crescente desilusão com a chamada 
'narrativa grandiosa' do progresso, da ascensão da moderna civilização ocidental, pela 
Grécia e Roma antigas, a Cristandade, Renascença, Reforma, Revolução Científica, 
Iluminismo, Revolução Francesa e Industrial. Essa história triunfalista passava por cima 
das realizações e contribuições de muitas outras culturas, para não falar dos grupos 
sociais do Ocidente que não haviam participado dos movimentos acima mencionados". 
(BURKE, 2001, p. 62). 
 
 
 
71 
 
UNIDADE 16. A HISTÓRIA REGIONAL: AINDA NOVOS 
PARADIGMAS 
 
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE 
Desenvolver conhecimentos sobre a história cultural. Após estudarmos e 
conhecermos um pouco a respeito da Terceira geração dos Annales e do nascimento 
de novos paradigmas em Michel Foucault e Carlo Ginzburg, vamos agora completar 
nossos estudos com a História 
cultural, entendida como um novo 
paradigma a ser estudado. 
 
 
 
 
 
 
 
ESTUDANDO E REFLETINDO 
História Cultural 
Procuremos, antes de tudo, determo-nos em como os homens do passado se 
compreendiam, como eles constituíam sua totalidade e sua própria história. Esse fato 
tornou-se uma nova missão para os historiadores da Nova História, principalmente, no 
que diz respeito aos aspectos da cultura. Aqui, o pretérito passou a ser visto como um 
feixe de práticas discursivas, como uma sucessão de versões que se sobrepunham 
umas às outras, numa regressão quase infinita. Os objetos, antes inscritos e recortados 
de uma história social, fragmentaram-se e dissolveram-se no difuso território da 
indeterminação. 
72 
 
A própria dimensão do cultural ganhou novos contornos: o modo de expressão 
e de auto elaboração de grupos sociais, no correr da história, tornou-se problema de 
conflitos, de lutas, de possíveis não equivalentes. A cultura passou a ser vista como 
uma dimensão mais viva da prática humana diária. Assim, a história cultural pôde ser 
geralmente redefinida, como um estudo dos processos e práticas das quais se constrói 
um sentido e se forjam os significantes do mundo social e mental. Além disso, a 
história cultural é 
centrada, por sua vez no estudo das práticas e representações sociais, sem 
que aí se percam de vista, porém, as relações do cultural com certo social e de 
ambos, o cultural e o social, com a linguagem (FALCON, 2004, p. 81). 
 
A história cultural aponta para uma antropologia social, cujo sentido busca 
compreender, historicamente, como determinados fenômenos culturais de uma 
formação social específica se construíram, foram aceitos ou impostos. Nesse processo 
de compreensão, é mister considerar se a produção e a assimilação dos fenômenos 
ocorreram de forma consciente ou não, se foram consideradas as múltiplas relações 
que estão presentes na produção das estruturas sociais . Para Duby 
um dos problemas da história cultural e um dos obstáculos para a elaboração 
de sistemas conceituais adequados decorre da elucidação das relações entre 
esse movimento criador que arrasta a evolução de uma cultura e as estruturas 
profundas (DUBY, 1989, p.126). 
 
Quando falamos em história cultural, estamos dizendo que é “algo que tem a 
ver muito mais com uma ideia plural de cultura do que propriamente com a sua 
idealização genérica” (Falcon, 2004, p.81). Podemos dizer que, nos últimos anos, a 
história cultural e social tem abandonado os espaços das chamadas “grandesnarrativas” ou os esquemas estruturalistas, sejam o de inspiração marxista ou de 
“longue durée”, da escola dos Annales, a favor de estudos mais focalizados, ou a “micro 
história”, no que enfatizam a contingência e autonomia das formas culturais. 
 
A História cultural em Chartier 
73 
 
Roger Chartier, talvez, seja o historiador, mais citado entre nós, a dispor de um 
modelo específico de história cultural. Roger Chartier lançou, no número de 
comemoração dos sessenta anos da revista Annales, um artigo em que defendia a 
investigação das representações como caminho para a renovação da história das 
mentalidades ou da História Cultural, como preferiu denominar (Chartier,1991). 
Ao mencionar este viés historiográfico como aquele que teria por objetivo 
“identificar o modo como em diversos lugares e momentos uma determinada realidade 
social é construída, pensada, dada a ler” (1991, p.16/17), propõe uma abordagem 
peculiar do campo social que tomaria forma pelo viés do cultural. Dessa maneira, 
podemos nos inteirar que o cultural seria visto como o terreno de união entre os 
diversos sistemas simbólicos de uma sociedade historicamente identificada, cujos 
produtos e práticas sociais seriam encarados como sistemas de signos, ou de 
representações, a partir dos quais se poderiam compreender tanto os aspectos 
comunicacionais dos fatos tomados como objetos de atenção, no sentido de 
repertórios culturais dominados e postos em funcionamento efetivo, em graus 
variáveis, por formações sociais afins, quanto à formação dos aspectos de dominação 
consensual histórica, simbolicamente construída e aceita como verdadeira e, 
consequentemente, naturalizada. 
A chave para podermos entender a cultura é estarmos dispostos a 
compreender, a partir dos bens culturais, como determinadas formações sociais, em 
suas práticas efetivas, forneceram suas identidades e suas diferenças, tanto de uma 
forma deliberada e ostensiva quanto de uma maneira não-consciente. É nesse sentido 
que Chartier aponta que 
os grupos modelam deles próprios ou dos outros, (...) a história cultural que 
pode regressar utilmente ao social, já que faz incidir a sua atenção sobre as 
estratégias que determinam posições e relações e que atribuem a cada classe, 
grupo ou meio um ‘ser-apreendido’ constitutivo da sua identidade (CHATIER, 
1991, p. 23). 
 
Ressalte-se que, com Peter Burke, deparamo-nos com novas tendências da 
história cultural, o que nos conduz a afirmar que não é nada fácil falar sobre cultura e 
sobre história cultural, já que tudo hoje parece impregnado e medido pela cultura. A 
74 
 
"cultura" transformou-se na categoria-chave para a compreensão do mundo 
contemporâneo e até os níveis ideológicos devem ser desemaranhados de seu modo 
primário de representação que é cultural. O tema da história cultural está em estreita 
relação com os modos de estudo sobre o imaginário e a representação. 
Uma noção ampla de cultura e central a nova história. O estado, em grupos 
sociais e ate mesmo o sexo ou a sociedade em si são considerados como 
culturalmente construídos. Contudo, se utilizam o termo em sentido amplo, 
temos, pelo menos, que nos perguntar o que não deve ser considerado como 
cultura? (BURKE, 1992, p.22). 
 
Os novos estudos de história cultural revelam-nos um tipo de comportamento e 
condutas sociais, até agora muito pouco investigados, ante a dificuldade que existe em 
explicar fenômenos mentais de longa duração, com resistências culturais construídas 
ao longo de muitos anos de imposição de corpos dirigentes e círculos dominantes, o 
que se segue é que a “história cultural se propõe observar no passado, entre os 
movimentos de conjunto de uma civilização, os mecanismos de produção de objetos 
culturais” (Duby,1989,p.126). 
Como os historiadores da cultura dizem, é demasiado complexo fixar regras de 
comportamento para o conjunto de uma comunidade. Deve-se reconhecer que é 
importante submeter investigações coletivas ao filtro da relatividade das circunstâncias 
concretas e pessoais. Um dos pressupostos tradicionais dos historiadores era a 
inocência da fonte, ou seja, o historiador deveria localizar fontes, explicá-las, analisá-las, 
pois essas fontes vinham dadas de uma forma inocente, no sentido de que, em si 
mesmas, não eram o fruto de uma criação. 
Possivelmente, a mudança mais importante na historiografia e que marca a 
história cultural nos últimos anos se localiza precisamente na consideração das próprias 
fontes como fatos criativos, uma vez que, são também, o fruto de uma construção. 
Nesse sentido, o meio, a mensagem e a própria difusão podem ser considerados 
construções humanas. Portanto, ao se estudar um arquivo, uma carta, ou a ordem de 
uma biblioteca, não os considera-los apenas dados, mas elementos a serem analisados 
organicamente, no contexto em que foram produzidos. O estar dentro da história 
cultural é ser parte integrante daquilo que se entende como a mais Nova História. 
75 
 
BUSCANDO CONHECIMENTO 
Em entrevista, Peter Burke, um dos historiadores mais renomados do mundo, 
comenta a função do historiador no século XXI. Segue o link. 
 
Disponível em: <http://redeglobo.globo.com/globouniversidade/noticia/2013/08/em-
entrevista-peter-burke-comenta-funcao-do-historiador-no-seculo-xxi.html>. Acesso 
em 22 de janeiro de 2015. 
 
 
 
76 
 
UNIDADE 17. A NOVA HISTORIOGRAFIA: ESCOLA DOS 
ANNALES 
 
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE 
Objetivos 
Propiciar conhecimentos sobre a origem da Escola dos Annales e a sua visão do 
regional. 
 
ESTUDANDO E REFLETINDO 
 
Fonte: <http://www.pianetalibri.com/capitalismo-e-civilta-materiale.html> Acesso em 23 de julho de 2014. 
 
 
77 
 
Os Annales: Início de Uma Nova Historiografia 
O princípio da Escola dos Annales está ligado, basicamente, em contraposição à 
Escola Positivista. A sua emergência está na busca de uma nova tendência em seus 
escritos e isso começou a ser feito nas duas primeiras décadas do século XX. Contudo, 
existe uma história que se faz presente nesse período e antecede a famosa revista Les 
Annales d´ Histoire Économique et Sociale em 1929. 
 Em 1900, o filósofo Henri Berr propõe a criação da chamada “Revista de 
Síntese", num modo de reagir contra a chamada "escola metódica". Nesse caminho, 
vários intelectuais que não congregavam as ideias de erudição da escola positivista vão 
se alinhar, entre eles, os historiadores Lucien Febvre e Marc Bloch. 
Para Lucien Febvre e Marc Bloch já era tempo de dar uma nova dimensão, um 
novo caminho para a história. Fundam, assim, a chamada Revista Les Annales d´ Histoire 
Économique et Sociale, no ano de 1929. O que tinham basicamente em mente era 
proporcionar uma interdisciplinaridade e ligar as ciências humanas em seus vários 
momentos de pesquisa e análise. 
A preocupação da Revista dos Annales está em fugir das linhas da erudição 
pressuposta pela "escola metódica" e também do viés político. Ao contrário, ela quer 
uma acentuação maior em relação ao acontecimento e a chamada “longa duração". A 
sua atenção se detém para uma história que não seja basicamente política, mas com 
viés econômico, geográfico, sociológico, psicológico. O intuito dos Annales centra-se 
em ligar fortemente a história a outras ciências. É com esse objetivo e a nova tendência 
que uma nova historiografia surge (nouvelle histoire). Ela associa-se á École des Annales 
e a Revista Annales: ecónomies, societés, civilisations. A Nouvelle Histoire pode ser 
definida como uma posição de análise das estruturas. Podemos entender uma nova 
historiografia que não se particulariza agora no efeito data, mas nos aspectos que 
tangem toda forma de estrutura. 
Um dos filhos da geração dos Annales é Fernand Braudel, com quem se 
inaugura a segunda fase. Para esse historiador, dentro do mundo dos Annales inscreve-
se a "História de Longa Duração". Mas como podemos definir melhor isso, entender 
essa “longaduração”? Para Braudel, a história particulariza-se pelo sentido de 
superfície; a história dos acontecimentos numa visão positivista; a outra também 
78 
 
conhecida como meia encosta, que é uma história conjuntural, lenta; em num plano 
mais profundo, uma de longa duração, uma história de décadas, séculos. 
O tempo histórico é modificado pela Nouvelle Histoire. As ciências sociais 
adquirem um novo estágio e forma de ver o tempo. Agora, a história vê uma nova 
dimensão de tempo e junto uma análise dita progressiva, contínua que leva junto de si 
uma observação mais global dos acontecimentos sem ser puramente cronológica. 
A história, agora, não está sozinha. Conta com o auxílio das ciências sociais. 
Sofre com isso uma guinada no campo de métodos e técnicas próprias. O que é a 
documentação, nesse momento, para o historiador? Qual o seu significado para essa 
historiografia? Para José Carlos Reis, 
Os documentos se referem à vida cotidiana das massas anônimas, à sua vida 
produtiva, à sua vida comercial, ao seu consumo, às suas crenças, às suas 
diversas formas de vida social. (REIS, 1994, p. 126) 
 
A nova história agora vê a documentação de forma diferente, quando 
comparada aos demais os momentos, são lados, vieses. A documentação não é mais 
oficial, mas arqueológica, arquitetural, pictográfica, iconográfica (grafites), fotográfica 
(imagens), cinematográfica, história oral, ou seja, constitui-se de todo tipo de 
documentação possível que represente a presença social do homem em meio a uma 
civilização. As fontes agora gritam junto aos documentos. 
A nouvelle histoire tem em mente um tempo que seja múltiplo, de diversas 
fases, caminhos dentro do mesmo. História de uma cultura, da moda, da sexualidade, 
do beijo, enfim, multifaces num único olhar, sem a existência de um tempo apenas frio 
e progressivo. O tempo não é cronologicamente linear, como os positivistas. Os 
Annales reviram, agora, o fator tempo para uma nova atenção ao cotidiano dos 
homens e da sociedade. 
 
BUSCANDO CONHECIMENTO 
O vídeo indicado abaixo aborda os principais conceitos de história, a relação da 
história com tempo, memória e narrativa e as principais concepções históricas: 
positivismo, marxismo, annales e nova história. 
79 
 
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=fNIZkaYzTeU> Acesso em 23 de 
julho de 2014. 
Para aprofundar os conceitos discutidos nesta unidade acesse o link abaixo. O 
texto proposto busca refletir acerca das transformações teórico-metodológicas pelas 
quais o conhecimento histórico passou com o desenvolvimento e a atuação da Escola 
dos Annales. 
Disponível em: 
< http://www.historiaehistoria.com.br/materia.cfm?tb=professores&id=53> Acesso em 
23 de julho de 2014. 
 
 
 
 
 
 
 
80 
 
UNIDADE 18. ESCOLA DOS ANNALES: SEGUNDA 
GERAÇÃO 
 
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE 
Objetivos 
Propiciar conhecimentos sobre a segunda geração da Escola dos Annales e a 
sua visão do regional. 
 
ESTUDANDO E REFLETINDO 
A Segunda Geração dos Annales 
 Uma ênfase maior deve ser dada inicialmente a Fernand Braudel. O seu 
sentido de trabalho historiográfico, agora, reveste-se de um determinado período da 
história, pauta-se nele e em seu interior, busca todos 
os pontos possíveis de análise, em que o homem era 
incluso. Agora é a figura dos homens, de uma 
sociedade que se faz por ela e plenamente em sua 
pluralidade de ações. Chega até ao ambiente de uma 
geo-história. 
Fernand Braudel foi um historiador de 
destaque do século XX e importante membro da 
Escola dos Annales. Nascido na França em 
Luméville-em-Ornois no dia 24 de agosto de 1902, 
formou-se em História pela importante 
Universidade de Sorbonne. A partir de 1933, integrou o grupo de intelectuais 
franceses que colaborou na organização da Universidade de São Paulo, na qual 
exerceu o cargo de Professor entre os anos de 1935 e 1937. Foi também 
administrador da Maison de Sciences de l’Homme e diretor da Revista dos 
Annales. Fernand Braudel introduzindo significativas mudanças nos métodos 
historiográficos tradicionais e mudando a perspectiva do tema político com 
81 
 
aspectos mais amplos, como a economia da região. Sua brilhante carreira se 
encerrou na cidade de Cluses, quando faleceu no dia 27 de novembro de 1985. 
Mas, ainda assim, outras cinco obras suas foram publicadas após a morte. 
Fonte: <http://www.infoescola.com/biografias/fernand-braudel/> Acesso em 23 de 
julho de 2014. 
 Gostaria de salientar que uma segunda geração dos annales nasce. Porém, o 
foco pela busca incessante da interdisciplinaridade continua sendo propósito dos 
annales. Nesse processo, a geografia toma um espaço social importante. Um dos 
clássicos da Escola dos Annales é o livro “O Mediterrâneo”, de Fernad Braudel. Sua 
intenção está em procurar descrever uma geo-história da região do mediterrâneo, ao 
longo de um processo. 
 Braudel assume a direção da revista, após a morte de Febvre. Ao seu lado, 
novos historiadores vão aparecer como Le Goff, Emanoel Roy, Marc Ferro. No fundo, 
Braudel irá renovar a Revista, buscando com mais veemência uma boa relação com as 
demais ciências sociais. 
 Nesta segunda geração, a ênfase em estudos econômicos vem ao encontro da 
história. As ideias de Marx com Ernest Labrousse despontam como alternativa para 
projetar esses estudos econômicos. O quantitativo começa a ter uma dimensão maior, 
ao serem vistos e buscados documentos relativos à história demográfica, que fará parte 
da história cultural. Cresce, assim, a relação entre as demais ciências sociais e a história, 
a partir desse momento, passa a ser analisada como fenômeno serial e local. Essa é a 
segunda geração dos Annales: demográfica, interdisciplinar, regional e serial. 
 Constrói-se uma realidade histórica de espaços, permanece o intuito e a prática 
da interdisciplinaridade tão exacerbada por Fevbre. Outra importante ajuda foi à 
inovação no conceito de tempo, que para ele é movido entre a distinção de curta e 
longa duração, ou seja, os eventos históricos, podem se dar em larga ou restrita 
dimensão temporal. Neste caso, outro conceito é capital, a noção de estruturas, que 
interage no transcorrer desses eventos com a categoria temporal. 
 Segundo Peter Burke (1997, p. 55), Braudel realiza um movimento de “combinar 
um estudo da longa duração com o de uma complexa interação entre o meio, a 
economia, a sociedade, a política, a cultura e os acontecimentos”. 
82 
 
 Todos esses ares sedimentados por um domínio que se tem sobre sua forma 
em relação a seus discípulos. Sobre seu amparo a história discorre com outros 
conhecimentos, narra a história quantitativa serial, regional, demográfica, entre outras. 
Uma visão do todo, uma história global é proposta, mesmo que Braudel destine suas 
inquietações para o problema da liberdade individual. Seriam as coletividades 
coadjuvantes de sua escrita? 
 A Escola dos Annales tem na sua história o marco de uma “revolução” 
historiográfica francesa (BURKE, 1997). O início do século XX tem suas particularidades, 
os Annales são, portanto frutos de seu tempo. 
 Seus maiores subsídios consistem no implemento da história-problema, da 
ampliação das fontes, do enquadramento da história como “ciência humana e social”, 
através de uma relação interdisciplinar, porém tudo isso motivado ainda por um ideal 
de metodologia científica. 
 Ideal esse que se diferencia da filosofia da história do século XIX e do advento 
do saber histórico com o positivismo. A história produz leis? Qual a função do 
historiador? A história é feita apenas de acontecimentos políticos, de heróis e tratados? 
Se contrário a esses fundamentos pode ser o grande aporte dos Annales. Se na 
primeira geração temos uma função de conhecimento (Febvre/Bloch) e na segunda 
geração a individualização da liderança, isso de forma alguma retira da revista e/ou da 
escola da grandezae importância dessa revolução no conhecimento histórico. “A 
historiografia jamais será a mesma” e nisto Peter Burke tem razão. 
 
BUSCANDO CONHECIMENTO 
 Agora que você já teve uma breve ideia sobre o assunto, que tal ler alguns 
textos sobre a temática? 
 
TEXTO 1 
 Já foi sugerido que a expansão do campo do historiador implica o repensar da 
explicação histórica, uma vez que as tendências culturais e sociais não podem se 
analisadas da mesma maneira que os acontecimentos políticos. Elas requerem mais 
explicação estrutural. Quer gostem, que não, os historiadores estão tendo de se 
83 
 
preocupar com questões que por muito tempo interessam a sociólogos e a outros 
cientistas sociais. Quem são os verdadeiros agentes na história, os indivíduos ou os 
grupos? Será que eles podem resistir com sucesso as pressões das estruturas sociais, 
políticas ou culturais? São essas estruturas meramente restrições a liberdade de ação, 
ou permitem aos agentes realizarem mais escolhas? 
BURKE, P. A escrita da História – Novas perspectivas. São Paulo. Ed. UNESP,1991. 
 
TEXTO 2 
 “A volta mais importante e a da história política. Aqui também, embora a Escola 
dos Annales tenha tido razão em combater uma história política superficial a fatual de 
visão curta, uma história da política no sentido politiqueiro do termo, e preciso 
construir uma história do político que seja uma história do poder sob todos os seus 
aspectos, nem todos os políticos, uma história que inclua notadamente o simbólico e o 
imaginário.” 
 Le Goff, J. A história nova. Introdução. São Paulo: Martins Fontes, 1978. 
 
 
 
 
 
 
84 
 
UNIDADE 19. HISTÓRIA REGIONAL NA SALA DE AULA – 
PARTE I 
 
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE 
Oferecer a você, estudante de um curso de licenciatura, subsídios para o 
trabalho em sala de aula com a história regional. 
 
ESTUDANDO E REFLETINDO 
No mundo globalizado a forma do local e do regional fazerem face ao global é 
através da revalorização de sua cultura e de seu ambiente. Esse fato transforma a 
História Regional e Local num artigo de primeira necessidade. Por outro lado, no 
campo da historiografia, a História Regional e Local tem incentivado a busca de 
explicação das sociedades nas suas múltiplas determinações e complexidades e tem 
proporcionado ocasião para testar generalizações da História Geral, por meio da 
redução da escala das investigações. Goubert assinalou ainda que a prática cautelosa 
da História Regional e Local, mas do que destruir concepções gerais equivocadas, 
porém arraigadas em tantos livros didáticos e discursos, tem a virtude de descobrir 
novos problemas e hipóteses. Tudo isso justifica que a História Regional e Local 
adentre as salas de aula em todos os níveis de ensino, mesmo que os Parâmetros 
Curriculares Nacionais (PCNs) privilegiem o estudo histórico das localidades (bairros, 
cidades, municípios) e das regiões (estados) nas séries iniciais do ensino fundamental. 
Não se trata de tarefa fácil. Os professores de história estão sabidamente 
sobrecarregados e enfrentam, frequentemente, condições de trabalho adversas nas 
escolas brasileiras. Na maioria dos municípios e estados são raros os estudos históricos 
de boa qualidade sobre aspectos das trajetórias locais e regionais. Quando existem, há 
dificuldades para cessá-los. Mas os professores não podem desanimar. Precisam 
ampliar suas leituras, prestar mais atenção às especificidades locais e regionais, visitar 
museus e arquivos existentes nas áreas onde residem, acumular informações diversas 
sobre suas localidades, municípios, regiões e estados, procurar saber o que se está 
pesquisando nas universidades mais próximas. Sem dúvida, é mais trabalho. Todavia, 
85 
 
esse trabalho não tem que ser realizado de uma só vez. Os professores de História, 
para levar às salas de aula a História Regional e Local, terão que virar pesquisadores. 
Ensino e pesquisa, teoria e prática terão que ser definitivamente associados, 
respeitando-se, é claro, as situações concretas vividas pelos profissionais da História. O 
que não se poderá fazer é ficar de braços cruzados, à de alguma universidade ou 
algum pesquisador consagrado produzir material didático suficiente para atender as 
demandas dos professores espalhados pelo Brasil, pais de dimensões continentais 
multifacetadas. 
 
Análise de corografias, memórias e sites 
Em praticamente cada município e estado brasileiros pode ser encontrado certo 
número de textos memorialísticos ou corográficos, escritos geralmente nos séculos XIX 
e XX. O professor pode selecionar esses textos e submetê-los aos seus estudantes, no 
todo ou parcialmente. A partir de um roteiro mais aberto de leitura, promover na sala 
de aula discussão sobre objetivos e procedimentos utilizados pelos autores das 
memórias e corografias, incluindo os critérios para seleção dos fatos narrados, as 
características das interpretações propostas (por exemplo, o papel da natureza e dos 
líderes na história), as representações contidas nesses textos sobre os lugares e as 
regiões abordadas, as características das populações, das relações sociais e das práticas 
culturais assinaladas pelos autores. O professor pode chamar a atenção dos estudantes 
para as fontes empregadas na elaboração das memórias e corografias, falar sobre seus 
vieses e limitações, bem como desafiar os estudantes a indicar coisas (fatos, pessoas, 
grupos sociais e processos) que são deixadas de fora dos referidos textos. E convidar a 
turma a pensar sobre as implicações desses “ocultamentos” na compreensão do 
passado da região ou do lugar. 
Trabalho similar pode ser realizado com os sites de prefeituras, governos 
estaduais e organizações civis, colocando-se o foco da análise sobre os conteúdos 
relacionados ao modo como eles apresentam a história, o patrimônio cultural e os 
“atrativos turísticos” que os municípios e os estados possuem. 
 
 
86 
 
 
 
Crítica dos textos da “Macro-História” 
 Nas cidades e nos estados onde há acúmulo de estudos históricos modernos, 
acessíveis graças ao maior dinamismo do mercado editorial, o professor pode 
emprega-los para pedir aos estudantes que critiquem as informações e interpretações 
presentes nos livros didáticos e obras de síntese de História do Brasil disponíveis na 
biblioteca escolar. Mais precisamente, os estudantes poderão ser colocados para 
verificar incongruências entre os livros didáticos e os resultados das pesquisas 
históricas recentes, guiados pelo professor. Estabelecer quadros comparativos entre as 
imagens da região que resultam da leitura dos livros didáticos, das obras de síntese e 
das pesquisas recentes. 
 Na mesma linha, outra atividade que o professor poderá propor para os 
estudantes é identificar e analisar os conjuntos de imagens que as pessoas 
escolarizadas da região, os políticos, artistas, intelectuais e jornalistas, que são 
“formadores de opinião” possuem, seja por meio da leitura e interpretação de textos, 
das obras artísticas e dos discursos dessas pessoas, seja entrevistando-as. Ao lidar com 
as representações sobre a região presentes nas falas desses “formadores de opinião”, 
os estudantes serão desafiados a pensar sobre as origens delas e suas possíveis 
relações com o que há nos livros de História. Com sorte, os estudantes poderão 
87 
 
identificar alguns equívocos e generalizações indevidas sobre o Brasil e sua região ao 
fazerem esse tipo de trabalho com os resultados da pesquisa mais recente. Além disso, 
esse trabalho tem a vantagem de mostrar que a escrita da História muda, 
possibilitando discutir as razões e as consequências político culturais desse fenômeno. 
 
BUSCANDO CONHECIMENTO 
 Para reforçar o conteúdo proposto nesta unidade, segue resumo e link para 
leitura do artigo “História Regional em Sala de Aula”. 
 A proposta do projeto de pesquisa é o incentivo da prática do Ensino de 
História queinclua a História Regional e a formação de material paradidático que possa 
servir de apoio para essa prática. Neste breve texto procuramos expor a possibilidade e 
a contribuição do Ensino de História Regional, levando-se em conta a reflexão sobre a 
conjuntura educacional na qual o ensino de história está inserido e a própria 
concepção de História que o professor tem sobre sua disciplina. 
 
Disponível em: 
<http://www.encontro2012.rj.anpuh.org/resources/anais/15/1338434591_ARQUIVO_His
toriaRegionalemSaladeAula.pdf>. Acesso em 22 de janeiro de 2015. 
 
 
 
88 
 
UNIDADE 20. HISTÓRIA REGIONAL NA SALA DE AULA – 
PARTE II 
 
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE 
Objetivos 
Oferecer a você, estudante de um curso de licenciatura, subsídios para o 
trabalho em sala de aula com a história regional. 
 
ESTUDANDO E REFLETINDO 
Observação direta de sobrevivências e permanências 
 Professor e estudantes podem planejar e realizar trabalhos de campo, isto é, 
percorrer sua cidade ou região com olhos e ouvidos atentos. Assim poderão encontrar 
elementos indicativos de permanências e sobrevivências seculares, observáveis 
diretamente, que configuram realidades de longa duração, capazes de ensejar a 
iluminação recíproca de passado e presente. Tais sobrevivências podem ser atividades 
econômicas, relações sociais e práticas culturais marcadas por enorme longevidade, 
que ainda conservam parte expressiva de sua “lógica antiga”: construções, 
equipamentos, utensílios, comidas, brinquedos, remédios, modos de fazer, de celebrar 
e de pensar. Professor e estudantes devem fazer o registro iconográfico dessas 
sobrevivências e colher depoimentos orais a respeito delas. De volta à sala de aula, 
debater as influencias dessas “formas arcaicas” sobre o cotidiano das populações, suas 
interações com a cultura moderada e as razões pelas quais essas tradições encontram-
se ameaçadas nas localidades e regiões onde residem os estudantes e o professor. 
Esse tipo de trabalho favorece a compreensão das dinâmicas históricas, levando 
os estudantes a perceber que a história é trama complexa de permanências e 
mudanças. O trabalho de campo, ao possibilitar a leitura mais atenta do universo 
cultural dos estudantes, abre oportunidade para que eles identifiquem componentes 
dos vários tempos de sua construção, participando, assim, da relação dialógica entre a 
situação atual do local ou da região e o seu passado. O que acaba por problematizar a 
89 
 
identidade dos estudantes, fazendo-os refletir sobre o legado do passado, o que dele 
desejam conservar, transformar ou simplesmente abandonar. 
 
Leitura da literatura regional e de relatos de viajantes 
 Escritores produziram e continuam produzindo obras com fortes traços 
regionais, que lançam luz sobre aspectos das histórias de diversas regiões brasileiras. 
Autores como Érico Veríssimo, Graciliano Ramos, Guimarães Rosa e Jorge Amado 
fornecem retratos instigantes do povo, dos costumes, da vida social e política, das 
paisagens e dos problemas de partes do país. Essas obras constituem, portanto, 
recursos fundamentais para a abordagem da História Regional, de preferência no 
âmbito de projetos de ensino integrados com outras disciplinas (Língua e Literatura, 
Geografia, Sociologia). Como várias dessas obras geraram filmes ou séries de tv, o 
professor pode contar com esse material para dinamizar ainda mais suas abordagens 
da História Regional. As premissas fundamentais que devem nortear o trabalho são 
duas: (1) a literatura e os filmes são obras de ficção – e não a reprodução fiel e 
verdadeira do passado; (2) a arte não constitui mero “reflexo” dos contextos sócio-
históricos nos quais foi produzida, porque há uma autonomia própria do fazer artístico, 
em todo lugar e época. Com essas ressalvas, o professor criativo encontrará muitas 
formas de falar de História Regional servindo-se da literatura. 
 O mesmo pode ser feito com os relatos de viagem. Muitas regiões e lugares do 
Brasil foram visitados, desde o século XVIII, por viajantes ilustrados estrangeiros e 
nacionais. Gente como Euclides da Cunha ou o francês Auguste de Saint-Hilaire, para 
citar somente dois nomes. Os relatos deixados por esses viajantes costumam conter 
muitas informações, descrições e comentários sobre as áreas por eles visitadas, suas 
companhias, suas economias, padrões sociais e modos da vida cotidiana. Ao trabalhar 
com esses relatos, as gravuras e os mapas que os acompanham, os estudantes 
encontram uma via de acesso ao passado. Para vastas áreas interioranas do Brasil, eles 
constituem, não raro, as únicas narrativas que falam de épocas passadas. Esses relatos 
são fontes importantes que os estudantes devem conhecer e criticar. O docente deve 
chamar atenção dos estudantes para as dificuldades dos viajantes entenderem a lógica 
das relações sociais e culturais das áreas que visitaram. Apontar a fome do “exótico” e 
90 
 
do “pitoresco” que marcou seus escritos, discutindo com os estudantes como essa 
inclinação distorce a compreensão histórica dos locais e regiões. 
 
BUSCANDO CONHECIMENTO 
Caminho de Goyazes3 
 
Fonte: <https://santarosadeviterbo.wordpress.com/2013/10/13/caminho-de-goyazes/>. Acesso em 
14/01/2015. 
 
O Caminho de Goyazes foi uma estrada aberta no leste e nordeste do Estado de 
São Paulo por bandeirantes paulistas para chegarem à Capitânia de Goyaz, onde hoje 
fica os estados de Goiás e Tocantins, no centro-oeste brasileiro. 
Por volta de 1720 foram encontradas minas de ouro na região recém-
conquistadas do centro do Brasil, desviando a atenção dos bandeirantes paulistas da 
Capitânia das Minas Gerais para a Capitânia de Goyaz. 
 
3 Publicado por Leandro Queiroz em 13 de outubro de 2013 em Geopolítica. Disponível em: 
<https://santarosadeviterbo.wordpress.com/2013/10/13/caminho-de-goyazes/>. Acesso em 15 de 
janeiro de 2015. 
91 
 
Então foi aberto o caminho na meio Mata Atlântica que cobria o leste e 
nordeste paulista rumo ao centro-oeste brasileiro, utilizada pelos bandeirantes para 
chegar às minas de ouro. 
O caminho saía de São Paulo, passava pelas atuais cidades de Jundiaí, 
Campinas, Mogi Mirim, Casa Branca, Tambaú, Cajuru, Altinópolis, Batatais, Patrocínio 
Paulista, Franca e Ituverava, até chegar ao Rio Grande, de onde seguia rumo à Capitânia 
de Goyaz. 
Esse caminho passou a ser utilizado também por tropeiros e posseiros, que 
também desejavam encontrar as minas goianas. Mas muitos deles não chegavam ao 
seu destino ou se perderam e ficavam às margens do caminho, onde tomam posse das 
terras formando fazendas e vilarejos, que futuramente transformariam nas cidades da 
região. 
Com aumento do movimento de pessoas, esse trajeto passou a ser conhecido 
como Caminho de Goyazes, pois ia rumo à Capitânia de Goyaz, criada em 1978, 
desmembrada da Capitânia de São Paulo, e ganharia status de estrada. 
O Caminho de Goyazes foi fundamental para o povoamento do nordeste do 
Estado de São Paulo e consequentemente, o nascimento da cidade de Santa Rosa de 
Viterbo. 
O botânico, naturalista e viajante francês Auguste de Saint-Hilaire percorreu o 
Caminho de Goyazes no início do século XIX e deixou vários relatos no seu livro 
“Viagem à província de São Paulo”. 
Seguindo boa parte do trajeto foi construída a Rodovia Anhanguera, mas ainda 
há esteios no meio das matas por onde os tropeiros transitavam na época do Caminho 
de Goyazes. 
 
92 
 
Fonte: < https://santarosadeviterbo.wordpress.com/2013/10/13/caminho-de-goyazes/>. Acesso em 
14/01/2015. 
 
HISTÓRIA
HISTÓRIA REGIONAL
Eber Mariano Teixeira
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	História Regional - Robson
	APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA
	PROGRAMA DA DISCIPLINA
	UNIDADE 1. CONCEITOS E ABORDAGENS HISTORIOGRÁFICAS
	UNIDADE 2. REGIÃO: CONSTITUIÇÃO DO ESPAÇO URBANO E RURAL
	UNIDADE 3. O RURAL NO URBANO OU O URBANO NO RURAL?
	Lixão de “Avenida Brasil”: realidade ou ficção?
	Fonte: https://raquelrolnik.wordpress.com/2012/04/27/lixao-de-avenida-brasil-realidade-ou-ficcao/
	Texto complementar: Couto, Ana Magna Silva. Das sobras a indústria da reciclagem: a invenção do lixo na cidade (Uberlândia-MG, 1980-2002). Tese de Doutorado, defendida na PUC-SP, 2006. Disponível na Biblioteca digital da PUC/SP: http://lumen.pucsp.br
	UNIDADE 4. ECONOMIA, SOCIEDADE E HISTÓRIA REGIONAL
	UNIDADE 5. CIDADE E PATRIMÔNIO – PARTE I
	UNIDADE 7. CULTURA E IDENTIDADE REGIONAL
	UNIDADE 8. FRINTEIRAS, TERRITÓRIOS E PODER LOCAL
	UNIDADE 9. O LOCAL E O REGIONAL
	Segue o link para o texto “A história local e regional: dimensões possíveis para os estudos histórico-educacionais” de autoria do pesquisador Carlos Henrique de Carvalho.
	Disponível em: <http://www.seer.ufu.br/index.php/che/article/view/273/281>. Acesso em 20 de janeiro de 2015.
	UNIDADE 10. UM NOVO CONCEITO PARA O REGIONAL
	UNIDADE 11. HISTORIOGRAFIA BRASILEIRA: ESTUDOS REGIONAIS – PARTE I
	UNIDADE 12. HISTORIOGRAFIA BRASILEIRA – ESTUDOS REGIONAIS – PARTE II
	UNIDADE 13. REGIÃO: UMA CATEGORIA HISTÓRICA
	UNIDADE 14. REGIONALISMO HISTORIOGRAFIA BRASILEIRA
	UNIDADE 15. A MICRO HISTÓRIA
	UNIDADE 16. A HISTÓRIA REGIONAL: AINDA NOVOS PARADIGMAS
	UNIDADE 17. A NOVA HISTORIOGRAFIA: ESCOLA DOS ANNALES
	UNIDADE 18. ESCOLA DOS ANNALES: SEGUNDA GERAÇÃO
	UNIDADE 19. HISTÓRIA REGIONAL NA SALA DE AULA – PARTE I
	UNIDADE 20. HISTÓRIA REGIONAL NA SALA DE AULA – PARTE II
	Capa

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