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PARASITOLOGIA ASCARIDÍASE ASCARIDÍASE INTRODUÇÃO A Ascaridíase ou Ascaríase é uma parasitose intestinal, causada no homem pelo helminto Ascaris lumbricoides, conhecido na população brasileira como “lombriga” ou “bicha”. Esse verme faz parte do Reino Animalia, Filo Nematoda, Classe Secernentea, Ordem Ascaridida, Família Ascarididae, Gênero Ascaris e Espécie Ascaris lumbricoides. O homem é o seu reservatório natural mais comum. Outra espécie de Ascaris – o A. suum – pode infestar o ser humano, mas não é habitual. Sendo esse mais frequente nos suínos. EPIDEMIOLOGIA A Ascaridíase apresenta ampla distribuição mundial, sendo mais frequentes nas regiões tropicais e subtropicais, de clima quente e úmido. Sobretudo encontrada nos países em desenvolvimento, onde existem baixas condições socioeconômicas e sanitárias. Juntamente com a ancilostomíase e a tricuríase, forma o grupo de helmintos transmitidos pelo solo. Cerca de 807 milhões a 1,2 bilhão de pessoas são infestadas pelo Ascaris lumbricoides no mundo por ano, das quais 2.000 morrem devido a complicações da doença, como a obstrução intestinal ou biliar. O grupo de maior risco de desenvolvimento dessa parasitose é o de crianças menores de 12 anos, sendo nível de parasitismo elevado na faixa escolar. Higiene pessoal precária, hábitos coprofágicos e utilização de fezes humanas como adubo da terra, também são fatores de risco para a Ascaridíase. MORFOLOGIA O Ascaris lumbricoides apresenta como formas evolutivas: ovo (embrionado ou não-embrionado), larva (L1 a L5) e verme adulto (fêmea e macho). Os ovos de Ascaris lumbricoides podem ser ou não embrionados, são considerados grandes, medindo cerca de 80 a 90 µm (não-embrionado) e 45 a 75 µm (embrionado) de comprimento, com formato oval a redondo, acastanhados e possuem cápsula espessa em razão de sua membrana externa mamilonada – sua característica marcante (mais espessa nos ovos embrionados e mais delgada nos não-embrionados). Esta casca possui 3 camadas: externa (maminolada), média (composta de quitina e proteínas) e a interna (impermeável à água, constituída de 25% de proteínas e 75% de lipídios – sendo a responsável pela capacidade de resistência às condições adversas fornecidas pelo ambiente). Os ovos não-embrionados, mais alongados, com citoplasma granuloso, interior desorganizado e sem estruturas muito visíveis, podem ser encontrados quando não houve ou foi insuficiente a fecundação das fêmeas adultas. Essas situações podem ocorrer ou quando a população de machos adultos é menor que a de fêmeas, ou no início da ovipostura de uma fêmea. Os ovos são liberados no ambiente juntamente com as fezes do hospedeiro humano infestado. Ovo não-embrionado com Ovo embrionado com massa o interior desorganizado germinativa no interior Ovo embrionado com larva L3 no seu interior Imagens de domínio público As larvas do Ascaris lumbricoides se diferem dos vermes adultos por serem menores e sexualmente imaturas. São originadas a partir da massa germinativa presente no ovo embrionado e evoluem de L1 a L3 no interior do ovo. Sendo o estágio L3 o último encontrado no interior do ovo e a forma infectante ingerida pelo homem juntamente com a água e alimentos contaminados. As larvas L1 e L2 são do tipo rabditoide, ou seja, possuem o esôfago com duas dilatações – cada uma em uma extremidade, com uma constrição no meio. Enquanto as larvas L3, L4 e L5 são do tipo filarioide, ou seja, possuem o esôfago retilíneo. Larva L3 sendo liberada do ovo Larva L3 (filarioide e infectante) Imagens de domínio público As formas adultas desse parasita são longas (15 a 35 cm de comprimento), robustas, com formato cilíndrico, cor leitosa, extremidades afiladas e vestículo bucal na extremidade anterior com boca trilabiada, sem interlábios e com papilas sensoriais. Apresentam dimorfismo sexual. Os machos são menores, apresentando de 15 a 30 cm de comprimento. O reto é encontrado em região próxima a extremidade posterior do helminto e apresenta dois espículos idênticos que vão funcionar como órgãos auxiliares na cópula. Sua extremidade posterior é fortemente encurvada para a face ventral do helminto e é o caráter sexual externo que mais diferencia o macho da fêmea. As fêmeas são maiores, mais robustas, medindo de 20 a 35 cm de comprimento. Porém, a extremidade posterior da fêmea é retilínea. A vulva está presente no terço anterior e a vagina é única. Cada fêmea realiza a ovipostura de 200 mil ovos por dia, em condições ideais de quantidade populacional e nutrientes. Vermes adultos Vestíbulo bucal com seus três lábios fortes (boca trilabiada) e sem interlábios HABITAT Quando o indivíduo estiver infestado com o Ascaris lumbricoides em quantidades moderadas, os vermes adultos podem ser encontrados no interior de seu intestino delgado, principalmente no jejuno e no íleo. Porém, quando ocorrem infestações mais intensas, estes helmintos poderão ocupar toda a extensão do seu intestino delgado. Além disso, podem ficar presos à mucosa intestinal com o auxílio de seus lábios, ou ainda podem migrar pela luz intestinal. CICLO BIOLÓGICO O ciclo biológico desses helmintos é do tipo monoxênico, ou seja, ele possui um único hospedeiro: ser humano. Cada fêmea que é fecundada é capaz de liberar por dia cerca de 200.000 ovos que chegam ao ambiente externo junto com as fezes do hospedeiro. A primeira larva (L1) se forma no interior do ovo e é do tipo rabditoide. Decorridos 10 a 12 dias, as larvas ainda dentro do ovo irão sofrer uma evolução e se transformarão em L2 e logo após, se desenvolverão em L3. Estas sim, infectantes, para o hospedeiro e possuindo o esôfago do tipo filarióide (retilíneo). As larvas L3 poderão ainda ser encontradas no solo do ambiente externo por vários meses a 1 ano, correndo o risco de ser ingeridas pelo mesmo hospedeiro ou por outro. Após a ingestão dessas larvas do tipo L3, os ovos que as contêm atravessam todo o trato digestivo do paciente até que chegam ao intestino delgado e eclodem. A eclosão irá ocorrer em virtude de alguns fatores externos ou estímulos fornecidos pelo próprio hospedeiro, como por exemplo: a presença de certos agentes redutores, o pH, a temperatura, os sais e até mesmo a concentração de monóxido de carbono, cuja ausência inviabiliza a eclosão dos mesmos. Depois que as larvas são liberadas, elas atravessam a parede do intestino na altura do ceco e caem no sistema linfático e nas veias, chegando até o fígado em torno de 18 a 24 horas após a infestação. Dois a três dias depois, elas são encontradas no coração direito, onde chegaram pela veia cava inferior (ou superior, em alguns casos), atingindo os pulmões 5 dias depois. A esse processo de passagem pelo pulmão denominamos de Ciclo de Loss. Alguns pacientes inclusive podem desenvolver a Síndrome de Löffler, que consiste em manifestações pulmonares, broncoespasmo, hemoptise e pneumonite, cursando ainda com uma eosinofilia importante – Pneumonia Eosinofílica. As larvas irão eclodir em L4 oito dias depois, rompendo os capilares do pulmão e atingindo os alvéolos, local aonde irão se transformar em L5. Subindo pela árvore brônquica elas chegam até a traqueia e a faringe, podendo ser devolvidas ao meio ambiente com a expectoração, ou até mesmo serem deglutidas novamente e chegarem ao intestino. No intestino delgado, sobretudo jejuno e íleo, atingirão a maturidade sexual, originando os vermes adultos. Macho e fêmea irão acasalar e a ovipostura se iniciará, dando continuidade ao ciclo. Esses vermes adultos podem sobrevivem no ambiente intestinal de 12 a 24 meses.TRANSMISSÃO A transmissão do Ascaris lumbricoides irá ocorrer quando um indivíduo ingere indiretamente os ovos contendo a larva do tipo L3 na água ou alimentos contaminados com fezes humanas. Ou, diretamente, quando o homem leva a mão contaminada à boca. Ademais, pode ocorrer a transmissão pelos vetores mecânicos: insetos (como moscas e baratas) que carreiam os ovos embrionados aderidos às suas patas de um local para o outro. PATOGENIA As alterações provocadas pelo helminto estão diretamente relacionadas com o número de formas evolutivas presentes deste parasito. Este possui um período de incubação relativamente curto, chegando em torno de 20 dias, enquanto que o período pré-patente da infecção (período que vai desde a infecção com ovos embrionados até a apresentação dos mesmos nas fezes do hospedeiro) varia em torno de 60 a 75 dias. Em relação às larvas, quando a infecção for de baixa intensidade, na maioria dos casos não se observa nenhuma alteração. Já em infecções maciças, podem ser encontradas lesões hepáticas e pulmonares. No fígado, podem ser vistos pequenos focos hemorrágicos e necróticos que futuramente irão se tornar focos de fibrose, enquanto que nos pulmões ocorrem vários pontos hemorrágicos devido à passagem das larvas pelos alvéolos. Estes ainda ficam edemaciados e com infiltrado parenquimatoso eosinofílico, além de manifestações alérgicas, febre, bronquite e pneumonia. A este conjunto de sinais denomina-se de Síndrome de Löffler. Quanto aos vermes adultos, sua patogenia é definida de acordo com a sua ação espoliadora, tóxica, mecânica e de acordo com algumas localizações erráticas. Quanto a ação espoliadora, os vermes irão consumir grande quantidade de proteínas, carboidratos, lipídios e vitaminas A e C, levando o indivíduo infestado (sobretudo as crianças), a um quadro de subnutrição e depauperamento físico / mental. Em relação a sua ação tóxica, ocorre uma reação entre os antígenos parasitários e os anticorpos alergizantes do hospedeiro infestado, que irá provocar edema, urticária, convulsões epileptiformes, entre outras. A ação mecânica pode causar uma irritação na parede do intestino e enovelamento na luz intestinal, levando à obstrução. Outras condições também podem ocorrer, como por exemplo: a obstrução biliar, colangite, abscesso hepático e peritonite, porém não são muito comuns, assim como a icterícia. Cólicas abdominais, náuseas e vômitos podem ser encontrados com mais frequência do que esses. Outro tipo de manifestação clínica pode aparecer de acordo com as localizações ectópicas dos vermes. Nos casos de pacientes que possuem altas cargas de parasitas, ou ainda, naqueles em que o verme tenha passado por algum processo irritativo, como por exemplo: febre, o uso impróprio de medicamentos e a ingestão de alimentos muito condimentados, nesses casos o parasita pode se deslocar de seu habitat natural e atingir locais não naturais. A esses vermes que podem realizar essa migração, dá-se o nome de “áscaris errático”. Esse tipo de localização é muito comum de acarretar uma clínica baseada em alterações cutâneas, principalmente quando ocorre em crianças. Os achados cutâneos do áscaris errático são manchas circulares que se disseminam pelo rosto, tronco e braços do paciente infestado, conhecidas também como “pano” e se relacionando muito frequentemente com a infestação pelo Ascaris lumbricoides. DIAGNÓSTICO O diagnóstico pode ser estabelecido por meio de critérios clínicos ou laboratoriais. Quanto ao diagnóstico clínico dessa parasitose, ele não é muito utilizado, pois a ascaridíase em humanos não é muito sintomática, tornando o diagnóstico difícil. A não ser quando ocorre visualização direta das larvas ou vermes adultos, liberados nas fezes ou exteriorizados pelo nariz, olhos, entre outros. Em relação ao diagnóstico laboratorial, é realizado por meio da pesquisa de ovos nas fezes do indivíduo infestado. Uma vez que as fêmeas são capazes de eliminar milhares de ovos por dia, as técnicas de EPF podem ser amplamente usadas. A técnica de sedimentação espontânea (Técnica de Lutz ou Hoffman, Pons e Janer) é suficiente para estabelecer o diagnóstico pelo áscaris. Todavia, a técnica de Kato-Katz é bastante utilizada e recomendada atualmente pela Organização Mundial de Saúde, permitindo a quantificação dos ovos e também realizando uma estimativa do grau de parasitismo desse hospedeiro (carga parasitária por grama de fezes), além de demonstrar maior rigor no controle de cura dos doentes. Exames de imagem como radiografias e métodos endoscópicos também podem auxiliar no diagnóstico. TRATAMENTO Os medicamentos utilizados no tratamento dessa helmintíase na sua forma não complicas são: • Albendazol, 400 mg para adultos e 100 mg para crianças em dose única, via oral - medicamento ovicida, larvicida e vermicida. É contraindicado para gestantes (categoria C) e menores de 2 anos. • Mebendazol, 100 mg, 12/12h, por 3 dias, via oral, preferencialmente nos menores de 2 anos (crianças com peso maior que 10kg) ou 10mg/kg (crianças com peso menor que 10kg). É contraindicado para gestantes (categoria C). • Ivermectina, 150 a 200 mg/kg, pela via oral, em dose única. É contraindicado para gestantes (categoria C). • Menos comumente: o Pamoato de Pirantel - produto sintético capaz de bloquear a atividade neuromuscular, produzindo uma paralisia espástica no helminto. Administrado em dose única, 11 mg/kg (crianças) ou 500 mg a 1g (adultos), via oral, sendo a droga de escolha para gestantes. Cloridrato de Levamisol, 2,5 a 5 mg/kg (crianças) ou 150 mg (adultos), dose única, via oral. Na presença de obstrução intestinal, a droga de escolha será a Piperazina (100mg/kg), sendo administrado antes óleo mineral (40 a 60 mL). Em associação, antiespasmódicos, hidratação vigorosa e sonda nasogástrica, por 2 a 3 dias, para evitar complicações. Em casos que a carga parasitária é muito elevada, deve-se avaliar a extração cirúrgica ou endoscópica dos vermes adultos. O tratamento da fase pulmonar baseia-se no uso de sintomáticos, incluindo os broncodilatadores inalatórios (salbutamol) e os corticosteroides. CONTROLE Em geral, são quatro as medidas conhecidas para o controle das infecções por helmintos. O tratamento em massa dos indivíduos que vivem em áreas endêmicas com medicamentos ovicidas, o adequado tratamento das fezes dos humanos que eventualmente possam ser utilizadas como fertilizantes, o saneamento básico das cidades e a educação em saúde (como a lavagem frequente das mãos antes das refeições, após a ida ao banheiro e antes e depois da manipulação dos alimentos). ASCARIDÍASE INTRODUÇÃO EPIDEMIOLOGIA MORFOLOGIA HABITAT CICLO BIOLÓGICO TRANSMISSÃO PATOGENIA DIAGNÓSTICO TRATAMENTO CONTROLE
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