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Saúde Coletiva e Promoção da Saúde Esses fatores comumente são chamados de “determinantes sociais, políticos, econômicos e culturais e estão associados ao meio em que os indivíduos se encontram na convivência como sociedade, influenciando diretamente ou indiretamente na saúde de forma geral”. As duas abordagens são muito importantes, de forma que ao considerar o individual estamos valorizando as particularidades de cada um, geralmente relacionadas a fatores biológicos, enquanto o coletivo estudará a interação de todos outros fatores que podem implicar na saúde de um grupo de pessoas. Neste contexto, a saúde coletiva busca assimilar todo esse conjunto de informações para estabelecer e aplicar políticas e práticas de saúde que culminem na promoção da saúde e prevenção de doença e outros agravos. Ao refletirmos sobre a diversidade de fatores envolvidos na definição de saúde coletiva, poderíamos classificá-la então como um campo de estudo muito variável e mutável. A promoção pode ser definida em um conceito mais amplo ou mais restrito, no conceito mais amplo, a promoção da saúde é um processo que tem como objetivo alcançar e manter um estado de bem-estar na vida das pessoas e da comunidade. Já no conceito mais restrito, a promoção da saúde está ligada à compreensão e prática de ações preventivas para evitar o surgimento de doenças específicas. Ao observamos o conceito mais restrito, a prevenção está interligada à promoção da saúde, de forma que através dessas ações de prevenção podemos evitar que doenças atrapalhassem esse estado de bem-estar social. O filósofo Hans-Georg Gadamer desenvolveu pensamentos similares aos de Canguilhem, ressaltando que a saúde tinha caráter privado, pessoal e radicalmente subjetivo. Em contrapartida, sua proposição de que “A saúde é inapelavelmente totalizante porque seu conceito indica diretamente integralidade ou totalidade”, contribuiu para um avanço na formulação alternativa de saúde como ciência. Neste sentido, a definição de saúde como subjetiva não impedia seu estudo como objeto científico e daí surgiu uma visão de saúde pública (científica), como complemento da saúde individual (subjetiva). No próximo tópico desta unidade, veremos como a epidemiologia considera a interação de diversos fatores para determinar a instalação de saúde ou de doença, através da aplicação de análises matemáticas. A partir do século XIX, com a evolução científica e tecnológica, cada vez mais era possível o estudo da saúde através da utilização de métodos de pesquisa experimentais. Através do estudo das bases moleculares, Bernard relacionou esse equilíbrio com a homeostase, um mecanismo de estabilidade utilizado pelo corpo humano para o desenvolvimento de funções fisiológicas. Introdução à Saúde Coletiva e Promoção da Saúde Outra perspectiva interessante na contribuição do conceito de saúde foi a de Darwin, que considerou o contexto da evolução para compreender doenças infecciosas. Infecção era um acidente na competição entre duas espécies, na qual o início seria marcado por uma enfermidade grave e até mesmo mortal, porém, evoluiria para um estado mais ameno devido à adaptação natural entre dois organismos após um período longo de tempo. Um exemplo que ilustraria muito bem esse caso seria a doença diabete, no qual o seu diagnóstico e terapêutica baseia-se no aumento ou diminuição da concentração de glicose no sangue. Sob condições normais, um indivíduo deveria manter uma quantidade ideal de glicose no sangue, através de funções fisiológicas, para garantir o funcionamento de todos os outros sistemas interligados. Nesse caso, a cura da doença para estabelecer um estado de saúde é dependente do reequilíbrio dos processos metabólitos e sistêmicos, buscando a concentração ideal de glicose plasmática. O termo funcionalidade relaciona-se ao funcionamento normal do organismo de forma eficiente para culminar em um estado normal, e consequentemente, saudável, em contrapartida, a patologia está associada à ineficiência da função normal. No caso da saúde como ausência de doença, a saúde individual é definida como uma capacidade ótima de desempenhar funções sociais devido à ausência de doença. O ambiente interage entre si para promover um estímulo ao indivíduo, que culminará na doença no período de patogênese. Portanto, podemos definir o primeiro período como um estágio de preparação. Por exemplo, uma pessoa idosa naturalmente apresenta problemas de imunidade e consequentemente estará mais suscetível a desenvolver uma gripe grave após contato com um vírus (agente) que pode ser inofensivo para outras pessoas. Meio pode envolver fatores relacionados ao território geográfico e ainda fatores sociais, políticos, culturais e econômicos que podem afetar diretamente ou indiretamente na suscetibilidade individual. Nós poderíamos pensar em diversas situações diferentes ao mudar qualquer um dos fatores dos três elementos (agente, suscetibilidade e meio), mas não podemos nos esquecer de que um está interligado ao outro e a interação deles pode determinar estímulos diferentes. Após a integração de todos os elementos e o estimulo ter sido desencadeado, podemos partir para o período de patogênese, no qual observamos o início das alterações nos tecidos e sintomas da doença, determinando o horizonte clínico. Atenção primária preocupa-se com a promoção da saúde de forma a evitar o desenvolvimento de doenças, e por esse motivo, encontra-se logo no início pareado ao estado de pré-patogênese, no qual o indivíduo ainda não adoeceu. A prevenção primária nesse diagrama está dividida em promoção da saúde e proteção específica, de forma que o primeiro termo se refere ao desenvolvimento de práticas que incentivem a saúde de forma geral, como através do incentivo de uma alimentação saudável e a prática de exercícios físicos. Para ilustrar essa medida preventiva específica, podemos utilizar o exemplo da pessoa idosa que ao ter sido exposta a um vírus poderia desenvolver um caso sério de gripe. Uma forma de evitar essa situação seria através de incentivar os idosos a utilizarem máscara quando fossem ficar expostos a ambiente com aglomeração de pessoas, ou ainda, no caso da gripe temos a vacinação disponível no serviço público de saúde. Vale ressaltar também que desde já conseguimos perceber a importância da comunicação multiprofissional, visto que cada elemento pode tornar-se muito complexo e lidar com eles de forma conjunta pode facilitar a compreensão, além de contribuir para instalação de medidas de saúde mais completas. CONTEXTUALIZAÇÃO DA EPIDEMIOLOGIA E PROMOÇÃO DA SAÚDE Neste tópico vamos conhecer um pouco sobre a história da saúde, explorando quais foram os principais fatores envolvidos no processo de evolução da saúde coletiva. Essa evolução ocorreu de forma natural e gradual com o passar do tempo, perante diferentes momentos políticos, sociais, econômicos e culturais que contribuíram na mudança no modo de pensar. Para eles, os fatores físicos do ambiente tinham forte influência sobre o corpo humana, além disso, também defendiam a prática da higiene e de uma nutrição equilibrada para manter uma vida saudável. Complementando esse modo de pensar, os romanos foram os principais responsáveis pelo aprimoramento de condições sanitárias através do desenvolvimento de um sistema de suprimento de água por aquedutos, que permitia o transporte e utilização de água à distância. Esse sistema de suprimento permitiu a distribuição de água para fontes, banheiros e outras estruturas públicas, contribuindo para as necessidades básicas da vida civil. Inclusive, alguns autores defendem que algumas epidemias da época ocorreram com menor frequência e duração devido ao sistema de suprimento de água, ao cuidado com o destino de água de esgoto e tambémà prática de tomar banho. Além disso, os povos enfrentaram muitas epidemias graves que tiveram grande impacto na saúde pública, como a peste bubônica, a lepra, a varíola, a tuberculose e muitas outras. A preocupação da população em viver mais veio acompanhada de regulamentações como medidas preventivas acerca da higiene, nutrição, inspeção de alimentos, cuidados pessoais com habitação, limpeza e sono. Além disso, também surgiram construções de hospitais e instituições beneficentes para atender grupos especiais como idosos, homens, mulheres e crianças, marcando o início do que se concretizou mais tarde como grupos de atenção. A partir daí, o caminho para implementação de medidas de controle de saúde pública específicas foi aberto e cada vez mais explorado. O Estado começou a considerar que o bem-estar da sociedade era equivalente ao bem-estar do Estado, uma vez que uma população saudável representava maior produtividade, contribuindo para o crescimento da indústria e consequentemente, do país como um todo. Louis Pasteur descobriu que era possível alterar a virulência dos micróbios e, baseado nos princípios da vacinação da varíola por Edward Jenner, passou a defender a prevenção de doenças através da produção de vacinas com cepas atenuadas de microrganismos. Nesse contexto, a imunologia ganhou força com a elucidação e desenvolvimento de testes diagnósticos e da imunização ativa e passiva, impulsionando vários estudos experimentais de vacinação. A partir disso, os desinfetantes químicos começaram a ser utilizados para assegurar um campo operatório estéril nas cirurgias, evoluindo para o princípio da assepsia que ajudou a saúde pública no controle de doenças transmissíveis. Introdução à Saúde Coletiva e Promoção da Saúde Agora que já contextualizamos como a epidemiologia e a promoção da saúde desenvolveu-se no decorrer do processo evolutivo e histórico, vamos conhecer quais fatores influenciaram na transformação dos serviços de assistência à saúde e na criação de políticas públicas. Século XIX representa o momento chave da revolução da saúde pública, sendo marcado por mudanças na administração da saúde pública e fundação do movimento sanitário. O contexto histórico era o da Revolução Industrial, que ocorreu com grande força na Inglaterra e causou muitos efeitos nocivos, desencadeando movimentos de saúde pública de forma mais precoce nessa região. As doenças que ameaçavam o período eram principalmente a peste, a febre amarela e a varíola, entre estas, a varíola merece atenção especial, pois foi a principal responsável por causar altas taxas de mortalidade infantil. Introdução à Saúde Coletiva e Promoção da Saúde Algumas outras doenças importantes eram a cólera, a disenteria e a febre tifoide, todas estas doenças intestinais transmitidas através de água e alimentos contaminados. A luta contra os problemas trazidos pela industrialização na maioria das vezes surgia de um padrão que partia do reconhecimento de um mal social por um pequeno grupo influente, que se organizavam pautados em uma iniciativa, estudos, experimentos ou melhorias, e levava essa agitação até os olhos do governo. Os primeiros movimentos surgiram da exigência de melhorias das condições de trabalho precárias e miseráveis nas minas e fábricas, além da proteção ao trabalho infantil. Várias associações e hospitais beneficentes foram criados com focos especiais de atendimento, como por exemplo, o Hospital de Londres que atendia principalmente manufatureiros, marinheiros e seus familiares, o Hospital de Middlesex para atendimento de pessoas com varíola e o Hospital de São Lucas, voltado para pacientes com doenças mentais. Com o tempo, perceberam que essa além dos custos altíssimos, contribuía para a diminuição da oferta de trabalhadores para a indústria, já que os pobres desempregados estavam sendo sustentados por essa lei. Dentro dessa renovação da Lei dos Pobres, Edwin Chadwick propôs o uso de informações estatísticas para relacionar a saúde às condições sociais e físicas da vida dos pobres, com o intuito de prevenir de doenças, e consequentemente, melhorar o aspecto econômico. Nesse cenário de desamparo, imundície, pobreza e doença, impulsionada em sua maior parte pelo interesse econômico do governo, iniciou-se a reforma sanitária, pois preservar o trabalhador era essencial o crescimento industrial. Como vimos no tópico anterior, os estudos epidemiológicos de doenças estavam em alta e, através deles, era possível relacionar as condições de saúde com dados geográficos sobre o clima e modo de vida dos habitantes. O ponto que marcou esse início da reforma sanitário foi justamente a aplicação de inquéritos populacionais, em que Chadwick especificou os achados e descreveu quais ações deveriam ser tomadas para resolver os problemas. Concomitantemente a essa organização da administração pública, surgiram as Associações de saúde das cidades, que eram constituídas por um grupo de médicos e leigos, que lutaram pela correção dos problemas da vida urbana através do apoio público. Por fim, o sistema administrativo estava organizado de uma forma eficaz e as associações formadas por sanitaristas tinham grande influências sobre os órgãos governamentais, contribuindo com conselhos para melhorias de saúde. Foi apenas nesse momento, que ações visando melhoria da saúde pública começaram a acontecer com maior força, pois nos momentos anteriores, apesar do conhecimento teórico, pouco era colocado em prática. De modo geral, o desenvolvimento da reforma sanitária, nesses outros países foi impulsionado pelos mesmos problemas encontrados na Inglaterra, como as condições insalubres das comunidades que estavam se formando nas cidades em busca de trabalho, que levavam à disseminação de doenças. A saúde moderna organizou-se no âmbito mundial sobre o fato de que o Estado deve ser responsável pela saúde pública, contando com a participação da comunidade, seguindo duas regras principais. Em 1948, foi criada a Organização Mundial da Saúde (OMS) por iniciativa da Organização das Ações Unidas (ONU), com o objetivo de promover o acesso universal à saúde, considerando o bem-estar físico, mental e social do indivíduo. As ações de saúde devem ser voltadas para melhorias no saneamento, na área familiar, de capacitação de profissionais da área da saúde, no fortalecimento dos serviços médicos e na luta contra doenças. A história da saúde no Brasil foi marcada por acontecimentos semelhantes aos abordados na cronologia histórica da saúde coletiva no mundo. A proclamação da República despertou o espírito capitalista no Brasil, no qual as decisões políticas eram fortemente influenciadas por pessoas de classe alta envolvidas na economia. No contexto de epidemias de varíola, febre amarela, peste bubônica, febre tifoide e cólera, o governo tentava promover medidas de higiene pública intermediadas por médicos sanitaristas. Oswaldo Cruz foi um médico sanitarista, bacteriologista e epidemiologista que representa uma das figuras mais importantes desse período, colocando-se a frente do combate das principais epidemias que atingiam o Rio de Janeiro e contribuindo para erradicá-las. Nesse contexto, os centros de pesquisa começar a surgir com maior força para dar suporte ao serviço sanitário, porém, esse progresso acontecia nos estados do Rio de Janeiro e São Paulo, enquanto o restante do país enfrentava os problemas com escassez. Introdução à Saúde Coletiva e Promoção da Saúde Além disso, o homem do campo também vivia sob condições precárias de atenção e essa realidade foi representada na obra de Monteiro Lobato pelo personagem Jeca Tatu, que transparecia a situação do homem rural brasileiro através de um homem fraco, desanimado e enfermo. A preocupação com a mão de obra iniciou com foco em projetosvoltados à saúde, educação, alimentação, habitação e trabalho, chamados de políticas de saúde ou sociais. A chegada de imigrantes incentivados pelo trabalho agravou essas condições, surgindo cortiços e favelas marcados pelo aumento das doenças infecciosas. As ações do MESP eram voltadas à centralização político-administrativa, na qual os médicos foram quase que totalmente excluídos das decisões sanitárias, que ficaram nas mãos de políticos e burocratas. A concepção de seguro social vigente nesse período assegurava os seguintes benefícios: aposentadoria, pensão e alguns outros serviços, como assistência médica e hospitalar e socorros farmacêuticos. Em 1934, a nova Constituição passou a oferecer outros direitos aos trabalhadores, entre estes a assistência médica, a licença remunerada à gestante e a jornada de trabalho de 8 horas. Quase 10 anos depois, foi criada a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), que instituiu o salário mínimo, indenização aos acidentados, tratamento médico aos doentes, férias remuneradas, entre outros benefícios à classe operária. As medidas de educação em saúde tornaram-se mais fortes a partir de 1938, através de ações do MESP baseada na preocupação com os hábitos de higiene da população. Algumas campanhas de educação popular foram feitas através da divulgação de informações pelo rádio, panfletos, cartazes, e até mesmo enfermeiras sanitárias, que percorriam bairros ensinando sobre higiene. O governo seguinte, de Eurico Gaspar Dutra, ficou responsável por lidar com as exigências por atendimento à saúde dos trabalhadores, que representavam grande parcela da população urbana assalariada. Com o aumento da demanda de atendimento médico, houve diminuição da qualidade do serviço de saúde e os hospitais não davam mais conta de acomodar toda a população, que muitas vezes ficava sem atendimento ou recebia atendimento de má qualidade. O setor privado passou a pressionar o governo para incentivar o desenvolvimento da assistência médica privada através do financiamento por empréstimos federais e assim, formaram-se redes de hospitais privados que atendiam os doentes que podiam pagar. As medidas tomadas foram o aumento de serviços de higiene e postos de puericultura, que tinham o objetivo de acompanhar e vacinar as crianças, além de oferecer assistência às mães. Apesar das ações de saúde desenvolvidas, as crianças continuavam morrendo por doenças intestinais associadas ao consumo de água poluída, visto que ainda não existia de sistemas de tratamento e distribuição de água e coleta de esgoto nas regiões mais pobres. O período a seguir foi marcado pelo regime militar, e o governo focou seus investimentos nos ministérios militares, de transportes, indústria e comércio, enquanto os ministérios da saúde, educação e agricultura recebiam pouca atenção. Nesse contexto, surgiram fraudes envolvendo serviços médicos, na tentativa de receber o pagamento do governo, e isso contribuiu para deterioração da assistência médica prestada aos trabalhadores. Ao invés de pagar a cota previdenciária, comprometiam-se a prestar assistência médica diretamente aos funcionários, recebendo subsídios do governo. Na década de 80, a criação do Plano CONASP (Plano de Reorientação da Assistência à Saúde no âmbito da Previdência Social) e implantação dos AIS (Ações Integradas de Saúde), o sistema de assistência à saúde passou a destinar recursos financeiros às prefeituras municipais, facilitando a organização da assistência à saúde advinda do Estado. Esse período ficou marcado pelo aumento de faculdades de medicina e pela criação de Conselhos Populares de Saúde, que buscavam melhorias de saneamento básico e criação de centros de saúde nas comunidades mais carentes. Em 1987, surgiu uma proposta de criar um sistema que integrasse a rede de serviços de saúde públicos e privados e que contribuísse na consolidação dos AIS. O movimento de Reforma Sanitária, determinando que a assistência à saúde fosse oferecida pelo Estado de forma pública sem a participação de empresas particulares, através do Sistema Único de Saúde (SUS). Sistema Único de Saúde HISTÓRICO E IMPLANTAÇÃO DO SUS A implantação do Sistema Único de Saúde (SUS) representou um grande avanço para a modernização do serviço de saúde no Brasil. O novo cenário foi instituído em 1990, mas nasceu de uma sequência de acontecimentos históricos anteriores que incentivaram a criação de um sistema capaz de oferecer assistência à saúde para a população. Vamos pontuar alguns desses acontecimentos para entender como eles estão relacionados com os princípios, diretrizes e modo de funcionamento do SUS. A evolução do sistema de saúde no mundo, inclusive no Brasil, compartilha de um momento histórico em comum que impulsionou o conhecimento tecnológico, científico e produziu mudanças mais marcantes na administração da saúde pública. Esse momento ocorreu a partir do início do século XIX, no contexto de ascensão do capitalismo e da revolução industrial. Ambos incentivaram a criação de fábricas e indústrias visando o crescimento econômico de cada país. Por um lado, a industrialização trouxe muitos problemas associados à saúde, mas por outro fez render bons frutos, pois forçou a população se organizar para lutar por direitos e fazer exigências de assistência à saúde. De modo geral, o padrão desses problemas surgiu de um crescimento desordenado das cidades pela migração de pessoas em busca de trabalho. Nesse contexto, foram surgindo problemas sanitários associados às condições de moradia e higiene que impactaram a saúde de trabalhadores e também o seu rendimento no trabalho. Ao desviarmos nosso olhar para o Brasil, observamos esse padrão principalmente em São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais que representavam os principais centros de produtividade. A situação de aglomerados em que as comunidades eram formadas facilitava a disseminação de doenças infecciosas, associadas também à escassez de higiene e de sistema de esgoto. Como nessa época o Estado não oferecia um serviço de saúde público e essas pessoas não tinham condições para pagar elas acabavam não recebendo atendimento médico, e isso culminava no aumento da morbidade e a mortalidade, principalmente da população pobre. Essas doenças impediam a população de trabalhar e prejudicava a ascensão das fábricas e indústrias, e consequentemente, do país. A preocupação com a mão de obra fez com que o governo começasse a dar maior atenção a esses problemas e tentasse criar planos de combate contra as enfermidades que prejudicavam a vida produtiva. Na tentativa de melhorar essa situação, o governo fortaleceu práticas sanitárias que visavam combater problemas coletivos que favoreciam o desenvolvimento de doenças. Com o crescimento da classe operária, foi necessário oferecer benefícios aos trabalhadores, inclusive no que dizia respeito à assistência médica. Para garantir serviços médicos e hospitalares, os órgãos previdenciários precisaram firmar contratos com o setor privado porque a demanda era muito alta. O atraso de recursos e fraudes atrapalhou esses convênios e marcou o início da medicina de grupo, mais conhecidos hoje como planos de saúde. O Ministério da Saúde desenvolveu algumas ações voltadas para crianças, mães e puérperas visando combater a mortalidade infantil que apresentava números altos. A intenção era oferecer serviços de higiene e realizar a vacinação de crianças, além de dar atendimento às gestantes. As escolas também eram foco de ações de atenção primária em saúde, na qual foram desenvolvidas atividades que incentivavam a higiene e cuidados com a preparação de alimentos. Uma vez que as doenças infecciosas de cunho sanitário muitas vezes são transmitidas pela água ou alimentos não tratados, o cuidado com os alimentos mostrava ser um ponto importante a ser melhorado.A volta da democracia após o período de censura da ditadura incentivou a população a organizar-se para lutar por melhorias. O crescimento da classe médica, e a formação de grupos compostos por profissionais da saúde, sanitaristas e outros unificou os interesses em relação à saúde. Os Conselhos Populares de Saúde foram criados com a intenção de desenvolver ações voltadas principalmente para melhorias relacionadas ao saneamento básico e assistência médica em comunidades carentes. Esse olhar voltado para comunidades que exigiam maior atenção ficou conhecido como medicina comunitária, na qual era colocada em prática através de ações de atenção primária. Essa atenção era focada principalmente em ações preventivas, como vinha sendo desenvolvido também pelo Ministério da Saúde anteriormente com foco em mães e crianças. A reforma sanitária foi firmada em um processo de redemocratização e de movimentos sociais que buscavam construir os ideais de assistência à saúde, que se relacionavam com algumas concepções da medicina comunitária. Esse compartilhamento idealizações fez com que ambos os movimentos contribuíssem para o fortalecimento um do outro. A partir da aplicação desses dois princípios (medicina comunitária e reforma sanitária), o oferecimento de serviços de saúde passou a ser tratado de forma institucionalizada, e não mais com sentido de caridade humanitária. A reforma sanitária foi firmada em um processo de redemocratização e de movimentos sociais que buscavam construir os ideais de assistência à saúde, que se relacionavam com algumas concepções da medicina comunitária. Esse compartilhamento idealizações fez com que ambos os movimentos contribuíssem para o fortalecimento um do outro (PAIVA e TEIXEIRA, 2014). A partir da aplicação desses dois princípios (medicina comunitária e reforma sanitária), o oferecimento de serviços de saúde passou a ser tratado de forma institucionalizada, e não mais com sentido de caridade humanitária. Em 1986 ocorreu a 8ª Conferência Nacional de Saúde que reuniu diferentes setores da sociedade e incluiu os seguintes temas de discussão: ● Dever do Estado e direito do cidadão no tocante à saúde; a reformulação do sistema nacional de saúde; e o financiamento do setor. ● Temas específicos, como a hierarquização dos cuidados médicos segundo sua complexidade e especialização, e a participação popular nos serviços de saúde. ● Principais demandas do movimento sanitarista: fortalecer o setor público de saúde, expandir a cobertura a todos os cidadãos e integrar a medicina previdenciária à saúde pública, constituindo assim um sistema único. Essas discussões culminaram na criação de um projeto de reforma sanitária, que foi encaminhado à Assembleia Nacional Constituinte. Junto com esse projeto, foi encaminhada a proposta de criação de um sistema de saúde que visava integrar os serviços de saúde públicos e privados. Esse sistema seria o Sistema Único Descentralizado de Saúde (SUDS), porém, o seu projeto de criação recebeu forte resistência de empresas particulares. O projeto de reforma sanitária direcionou para a criação de uma nova constituição e de um sistema de saúde que não envolvia a participação do setor privado e, por isso, o SUDS nunca foi colocado em prática. A constituição de 1988 implementou mudanças significativas no papel do Estado, instituindo que a partir de então a saúde deveria ser tratada como um direito de todos e um dever do Estado. Art. 196: A saúde é direito de todos e dever do estado, garantindo mediante políticas sociais e econômicas que visem a redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação”. Além disso, a constituição também estabelece a criação do Sistema Único de Saúde (SUS) através do exposto no artigo 198: As ações e serviços públicos de saúde integram uma rede regionalizada e hierarquizada e constituem um sistema único, organizado de acordo com as seguintes diretrizes: I - descentralização, com direção única em cada esfera de governo; II - atendimento integral, com prioridade para as atividades preventivas, sem prejuízo dos serviços assistenciais; III - participação da comunidade. Parágrafo único. O sistema único de saúde será financiado, nos termos do art. 195, com recursos do orçamento da seguridade social, da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, além de outras fontes. A criação do SUS teve seu desfecho em 1990, com a criação das leis número 8.080 e 8.142. A lei 8.080 especifica o modo de funcionamento do SUS ao dispor sobre a direção, gestão, objetivos e atribuições, princípios e diretrizes, financiamento, planejamento e orçamento, além de discorrer sobre os serviços privados. Já a lei 8.142 dispõe sobre participação da comunidade na gestão do sistema e também sobre as transferências de recursos financeiros na área da saúde, surgindo como um complemento da lei 8.080. A lei 8.142 estabelece instâncias colegiadas envolvidas no controle social, que são a Conferência de Saúde e o Conselho de Saúde, que como vimos anteriormente tiveram papel fundamental no processo de construção do movimento de reforma sanitária e mais tarde foram eternizadas como constituintes do SUS (BRASIL, 1990). No próximo tópico desta unidade, conheceremos de modo detalhado sobre todas as características do SUS expostos nessas leis citadas anteriormente, vale destacar aqui, que mesmo as empresas particulares não foram integradas na atuação do SUS, o estado ficou como responsável por regulamentar e fiscalizar os serviços de saúde oferecidos pela iniciativa privada. PRINCÍPIOS, DIRETRIZES E ATRIBUIÇÕES DO SUS. À medida que conhecemos todos os pontos em que o SUS está relacionado com a área da saúde, podemos afirmar que toda pessoa provavelmente faz uso desse sistema. Nas situações em que não utilizamos o SUS para obter assistência médica ou hospitalar, ainda assim estamos em contato com a assistência epidemiológica, sanitária ou ambiental. Portanto, o simples fato de alguém beber uma água tratada já classificaria este alguém como um usuário do SUS. Neste tópico, iremos conhecer as diretrizes, os princípios, o campo de atuação e os objetivos desse sistema, e a partir disso, ficará ainda mais fácil pontuar e compreender como os serviços que utilizamos estão interligados ao SUS. Objetivos, campo de atuação e atribuições A lei 8.080 de 19 de novembro de 1990 estabelece que o SUS deve atender aos seguintes objetivos: I - A identificação e divulgação dos fatores condicionantes e determinantes da saúde; II - A formulação de política de saúde destinada a promover, nos campos econômico e social; III - A assistência às pessoas por intermédio de ações de promoção, proteção e recuperação da saúde, com a realização integrada das ações assistenciais e das atividades preventivas. Esses objetivos devem ser cumpridos dentro do campo de atuação do SUS, colocando em prática ações de vigilância sanitária e epidemiológica, de saúde do trabalho e de assistência terapêutica integral, incluindo a farmacêutica. Os fatores condicionantes e determinantes de saúde estão diretamente associados com estudos epidemiológicos e serão abordados com maior detalhamento na última unidade. A vigilância sanitária é definida como um conjunto de ações que buscam diminuir os riscos à saúde causados por problemas associados ao meio ambiente, produção e circulação de bens ou prestação de serviços de interesse da saúde. No Brasil, é representada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária, que é responsável por inspecionar alimentos, bebidas de consumo humano, medicamentos, cosméticos, saneantes e produtos, estabelecimentos e serviços de saúde que podem comprometer a segurança do paciente. A vigilância ambiental é definidacomo um conjunto de ações que monitoram fatores do meio ambiente que podem interferir na saúde, buscando implementar medidas que diminuam esses riscos e previnam de doenças ou agravos. Alguns riscos que podemos pontuar relacionados ao trabalho são as exposições à produtos químicos tóxicos, corrosivos ou cancerígenos, o desenvolvimento de ações repetitivas ou posturas que podem ocasionar problemas a longo prazo, ou ainda, os acidentes por manusear equipamentos perigosos e exposição à ambientes com risco de queda ou outros tipos de acidentes. PRINCIPAIS TIPOS DE VIGILÂNCIA E SUAS AÇÕES NO ÂMBITO DA VIGILÂNCIA EM SAÚDE Vigilância em saúde Vigilância sanitária: Inspeção de produtos e serviços de saúde, incluindo alimentos, bebidas, medicamentos, cosméticos, saneantes e produtos e estabelecimentos de saúde. Vigilância epidemiológica: Investigação de causas de mortes; Coordenação, execução e incentivo de ações de alimentação e nutrição; Monitoramento e análise dos casos de doenças, acidentes, violências ou agravos; Ações de promoção da saúde; Criação de planos de contingência. Vigilância ambiental: Qualidade da água, solo e ar; Controle de desastres naturais, acidentes e de vetores de doenças. Vigilância em saúde do trabalhador: Diminuição de riscos e dos casos de morbimortalidade associados ao trabalho. Esses serviços de vigilância já ilustram muito bem como as pessoas utilizam o SUS independente da busca ao atendimento médico ou hospitalar. Além disso, também, podemos usá-las de exemplo para exemplificar o cumprimento de objetivos previstos na lei 8.080. No caso das vigilâncias, as ações de promoção e proteção são desenvolvidas em maior proporção do que as ações assistenciais e de recuperação de saúde, pois estas são oferecidas por outros tipos de serviços que envolvem o atendimento médico, de diagnóstico ou de tratamento, ou ainda, de serviços especializados que podem ajudar a promover a reabilitação do paciente. No que diz respeito às atribuições SUS, algumas já foram implicitamente citadas pois estão relacionadas com alguns objetivos, como a formulação de políticas de saúde e sanitárias, e a ação das vigilâncias que inclui o controle, avaliação e fiscalização de ações e serviços de saúde, a valorização do desenvolvimento científico e tecnológico por meio de pesquisas e estudos, e ainda, o desenvolvimento de recursos humanos para a saúde. Além destas, também podemos pontuar: ● A administração dos recursos financeiros, incluindo planejamento e orçamento; ● O acompanhamento, avaliação e divulgação do nível de saúde da população e das condições ambientais; ● A organização e coordenação do sistema de informação de saúde; ● A elaboração de normas e padrão de qualidade para atividades ou estabelecimentos de assistência à saúde, inclusive no âmbito de serviços privados; ● A implementação do sistema nacional de suprimento de sangue, componentes e derivados; ● A articulação entre diferentes órgãos e setores da sociedade; ● A celebração de convênios e acordos internacionais relacionados à saúde, ao saneamento e ao meio ambiente; ● Execução de estratégias de atendimento emergencial; Diretrizes e princípios De acordo com a constituição de 1988 e a lei número 8.080 de 19 de novembro de 1990, os serviços do SUS devem ser desenvolvidos de acordo com diretrizes e princípios previstos nesta lei. As três diretrizes são: a descentralização, o atendimento integral e a participação da comunidade. A seguir, vamos definir cada uma delas para compreender melhor o modo de funcionamento do sistema de saúde. A descentralização está diretamente associada com a gestão do sistema e implica que as decisões sobre a assistência da saúde devem ser tomadas seguindo uma direção única em cada esfera de governo, partindo da esfera federal, para a estadual e por fim, a municipal. Na prática, isso funciona através do envolvimento de órgãos responsáveis. por cada uma dessas esferas, sendo o Ministério da Saúde responsável pela União, as Secretarias Estaduais de Saúde pelos Estados e Distrito Federal e as Secretarias de Saúde Municipais pelos Municípios. A segunda diretriz é a integralidade que pretende oferecer saúde de forma completa, através de ações voltadas para a promoção da saúde, prevenção de riscos e agravos, assistência à doença e recuperação da saúde. De acordo com a constituição, as atividades preventivas devem ser desenvolvidas com prioridade, porém, essa prioridade não deve causar prejuízo dos outros serviços assistenciais. A terceira e última diretriz é a participação da comunidade que garante o direito de ressaltar os pontos de necessidade e ao mesmo tempo valoriza toda a luta que antecedeu a implantação do serviço de saúde público. Essa participação é guiada principalmente pelos Conselhos de Saúde, previstos na lei 8.142 de 28 de dezembro de 1990. O Conselho de Saúde é um órgão composto por representantes do governo, sejam estes prestadores de serviço, profissionais de saúde e/ou usuários, e que atuam na formulação de estratégias e no controle da execução da política de saúde na instância correspondente. As decisões são tomadas em cada esfera do governo a partir da divisão de poder em Conselho Nacional de Secretários de Saúde (CONASS) e Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde (CONASEMS). Essa participação popular também é valorizada nas Conferências de Saúde, também prevista na lei 8.142, que são espaços de saúde democráticos nos quais vários segmentos sociais são reunidos para avaliar a situação de saúde e também propor melhorias ou novas formulações de políticas de saúde. Geralmente essas conferências ocorrem a cada quatro anos, ou podem ser convocadas extraordinariamente pelo conselho da saúde ou pelo poder executivo. O SUS apresenta três princípios doutrinários: a integralidade, a universalidade e a equidade que devem guiar a forma que o serviço de assistência à saúde é oferecido à população. Além desses, também existem os princípios organizativos: regionalização, hierarquização, participação popular e descentralização. A integralidade corresponde à diretriz do atendimento integral e reconhece o atendimento de todas as necessidades do indivíduo. Além do que já foi pontuada, a atenção total também pode ser interpretada quanto ao oferecimento de suporte ao estado de saúde física e psicológica valorizando o contexto social que a pessoa está inserida. Nesse sentido, as necessidades devem ser avaliadas para atender o indivíduo e também coletividade. A universalidade é a garantia de acesso aos serviços de saúde do nível mais básico até o mais complexo de assistência. Esse princípio está diretamente correlacionado com a equidade, que pretende que as ações e serviços sejam entregues à população valorizando a justiça social, sem qualquer tipo de preconceito ou privilégio. A equidade está relacionada com o conceito de igualdade, porém devemos tomar cuidado para não confundir esses dois termos. A equidade busca reconhecer quais são as necessidades de cada grupo e atuar promovendo medidas que aproxime o usuário do que ele precisa, visando reduzir o impacto das diferenças existentes entre outros grupos. Isso pode significar oferecer menos a um grupo que requer menos cuidado e mais ao grupo que apresenta mais necessidades. A regionalização e hierarquização estão relacionadas com a organização dos serviços de assistência à saúde. A regionalização é aplicada para delimitar a área de atendimento, enquanto a hierarquização dispõe sobre a classificação da atenção em níveis de complexidade. Ambos os princípios estão interligados por um sistema de funcionamento denominado redes de atenção. NÍVEIS E REDES DE ATENÇÃO À SAÚDE Os serviços oferecidos pelo SUS são agrupados de acordo com a sua complexidadedo atendimento em níveis de atenção (primária, secundária e terciária) e oferecidos à população através de uma organização chamada redes de atenção. A Atenção Primária em Saúde (APS), também chamada de Atenção Básica (AB) é o nível de mais baixa complexidade, enquanto a atenção secundária refere-se à média complexidade e a atenção terciária à alta complexidade. A atenção primária é considerada como a de menor complexidade porque lida com problemas em estágios iniciais e busca interrompê-los antes que atinjam a complexidade, através da realização de atividades de prevenção e promoção da saúde. A APS é muito valorizada pelo sistema de saúde justamente devido a sua capacidade de resolver os problemas de forma precoce. Como mencionado anteriormente, o SUS estabelece que no contexto do atendimento integral, as atividades preventivas devem ser tratadas como prioridade. Nesse sentido, a APS é prestigiada na Política Nacional de Atenção Básica (PNAB) que surgiu para revisar todas as portarias referentes à atenção básica e estabelecer as diretrizes e normas para a sua organização dentro do sistema de Rede de Atenção à Saúde. De acordo com a PNAB, a atenção básica é definida como: Conjunto de ações de saúde individuais, familiares e coletivas que envolvem promoção, prevenção, proteção, diagnóstico, tratamento, reabilitação, redução de danos, cuidados paliativos e vigilância em saúde, desenvolvida por meio de práticas de cuidado integrado e gestão qualificada, realizada com equipe multiprofissional e dirigida à população em território definido, sobre as quais as equipes assumem responsabilidade sanitária. Além disso, este documento também define que a APS é a principal porta de entrada do sistema de saúde. Isso significa que o primeiro contato do usuário em busca de assistência à saúde será através desse nível de atenção. Algumas estratégias para fortalecer esse primeiro contato e garantir que o atendimento fosse ofertado através dos princípios e diretrizes do SUS. A atenção secundária envolve atendimentos de nível de complexidade médio pois lida com pessoas que apresentam um grau de risco mais elevado que ao da atenção primária. Geralmente essa atenção está associada ao oferecimento de serviço a nível de diagnóstico ou de cuidados progressivos. A atenção terciária trata de problemas específicos e/ou em estágios mais avançados e que necessariamente exigem assistência especializada ou hospitalar, sendo necessária a atuação de profissionais especializados e tecnologias de alto custo. Todos esses níveis de atenção, juntamente com os princípios de diretrizes do SUS e da APS, são aplicados dentro das redes de atenção à saúde e através dessas redes, o serviço é entregue. Esse sistema de redes horizontal ou transversal substituiu o sistema hierárquico, representado pela pirâmide na imagem. No sistema piramidal, os serviços naturalmente eram divididos verticalmente por ordem de importância conferindo a sensação de que um serviço prevaleceria sobre o outro devido uma maior importância. Por esse motivo, foi substituído por essa nova representação em rede, que ressalta todos os serviços em um mesmo nível hierárquico de importância. A horizontalidade ilustra que todos os níveis de complexidade possuem a mesma importância, comunicando-se uns com os outros de igual para igual através de um sistema de referência e contrarreferência, representado pelas flechas. Esse sistema permite troca de informações nos dois sentidos e é essencial para garantir a atenção completa e contínua, direcionando o usuário à níveis mais complexos de atenção de acordo com as suas necessidades. A regionalização é aplicada à essa classificação ao delimitar o território de responsabilidade que cada nível de atenção tem responsabilidade de atender. Por exemplo, a atenção primária fica responsável por atender uma micro área, enquanto a secundária uma microrregião e a terciária uma macrorregião. Essa divisão é feita para organizar o serviço de forma proporcional às necessidades. Podemos compreender essa comparação ao imaginar o serviço na prática. As ações de promoção e prevenção devem ser realizadas em alta proporção para evitar a complexidade, e por isso, a atenção primária fica responsável por uma região pequena na tentativa de atingir o maior número de pessoas possível. O território de abrangência fica maior à medida que a complexidade aumenta, pois geralmente não há a necessidade de ter um serviço complexo por região. Para que o sistema de rede funcione, os estabelecimentos de saúde devem fortalecer os vínculos entre si e evitar a fragmentação da atenção, ou seja, a interrupção da continuidade do atendimento. A fragmentação é evitada quando a interação intra e inter equipe funciona. A interação intraequipe diz respeito aos profissionais que atuam no serviço e valorizam o trabalho em conjunto, intervindo de forma multidisciplinar para atingir o cuidado completo. Já a interação Inter equipe tem a ver com a comunicação entre os setores que oferecem diferentes níveis de atenção. Ao aplicar todas as diretrizes e princípios espera-se alcançar um sistema de saúde universal, integral, unificado e articulado em redes regionalizadas e descentralizadas. Esse sistema inicia com a atenção no menor território sanitário, no qual encontra-se a nascente das necessidades de saúde e partir dele os outros setores de saúde de comunicam de forma dependente, buscando integrar todas as ações de saúde para atingir a atenção integral ao indivíduo e no território. Em 2003 foi criada a Política Nacional de Humanização (PNH) com o objetivo de fortalecer a aplicação de princípios do SUS na prática de atenção e gestão da saúde. A proposta desta política é incentivar a comunicação entre os gestores, os funcionários e os usuários do SUS. Acesse o link a seguir do Ministério da Saúde para saber mais sobre o HumanizaSUS. A Equipe Saúde da Família e seus Núcleos de Apoio ESF – CONSTITUIÇÃO E ATRIBUIÇÕES DAS EQUIPES Concomitante à criação do SUS, surgiu o Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS) que era formado por auxiliares de saúde que desenvolviam um serviço social focado em atividades de promoção à saúde da família. Essas ações eram voltadas principalmente para a saúde materno-infantil, e através da transmissão de informações e acompanhamento sobre vacinação, higiene, aleitamento e cuidados na gravidez resultaram em impacto positivo na saúde desses grupos, com destaque para: - Redução da mortalidade infantil; - Aumento do acompanhamento pré-natal e puericultura; - Diminuição dos atendimentos emergenciais. Apoiado nesses frutos e na precariedade de acesso aos serviços de saúde, surgiu a proposta de criação do Programa Saúde da Família (PSF) que tinha o objetivo de ampliar a atenção primária em saúde para a comunidade. Nesse sentido, esse programa foi estruturado sobre os valores da atenção primária e representava a porta de entrada dos serviços, sendo responsável pelo vínculo inicial das redes de atenção em saúde que vimos anteriormente. O crescimento do PSF fez o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (CONASS) criar a Estratégia Saúde da Família (ESF) e a Política Nacional de Atenção Básica (PNAB) com a intenção de organizar e fortalecer o serviço de atenção básica nos princípios do SUS. A ESF deve funcionar pautada em princípios e diretrizes da atenção básica previstos na PNAB, que formam características próprias dessa estratégia. Os princípios são: universalidade, equidade e integralidade, e as diretrizes são regionalização e hierarquização, territorialização, população adstrita, cuidado centrado na pessoa, resolutividade, longitudinalidade do cuidado, coordenação do cuidado, ordenação da rede e participação da comunidade. Para compreendermos a essência dessa estratégia, vamos conceituarcada um desses princípios e diretrizes a seguir, seguindo a Política Nacional de Atenção Básica: Princípios - Universalidade: aplicação de mecanismos que possibilitem o acesso universal aos serviços de saúde e os acolhimentos dos usuários, de modo a promover um vínculo que facilite o desenvolvimento de estratégias para atender as necessidades. Equidade: refere-se à oferta de cuidado através do reconhecimento das necessidades e diferentes condições pessoais, atendendo a diversidade em busca de diminuir as desigualdades e a exclusão de grupos. - Integralidade: conjunto de serviços que atenda às necessidades biológicas, psicológicas, ambientais e sociais nos campos da promoção da saúde, prevenção de doenças e agravos, cuidado, cura e reabilitação. Diretrizes - Regionalização e hierarquização: estabelecimento de regiões de saúde em um território geográfico a fim de facilitar o planejamento, organização e gestão dos serviços de saúde. Essas regiões devem comunicar-se entre si através de um fluxo horizontal, como determinado no esquema de redes de atenção. - Territorialização: determinação de uma unidade geográfica específico de atendimento buscando definir as suas características sociais, econômicas, epidemiológicas, assistenciais e culturais, possibilitando o desenvolvimento de ações para atender as necessidades da população adscrita ou de populações específicas. - População adscrita: é a população que representa o território de atendimento da unidade básica de saúde. - Cuidado centrado na pessoa: desenvolvimento de ações de cuidado para a pessoa de forma singularizada, construído com base das necessidades individuais e considerando o meio (família, comunidade e coletividade) como elementos relevantes para a vida das pessoas. - Resolutividade: articulação de diferentes serviços, meios e tecnologias a fim de ampliar a resolução de problemas de saúde da população. - Longitudinalidade do cuidado: desenvolvimento de relação de cuidado entre a equipe profissional e paciente, com responsabilidade e conhecimento da vida do indivíduo através da criação e manutenção de um vínculo que permite ao usuário a confiança e a segurança da atenção. - Coordenação do cuidado: acompanhamento e organização do fluxo de usuários através da comunicação horizontal, contínua e integrada entre os diferentes serviços da rede de atenção à saúde e da articulação intersetorial. - Ordenação da rede: reconhecimento e organização das necessidades da população a fim de planejar e programar ações de saúde voltadas à essas necessidades. - Participação da comunidade: estimular a participação da comunidade nas ações de saúde para melhorar a capacidade de construção do cuidado a partir do controle social. A ESF é constituída por uma equipe multiprofissional denominada Equipe Saúde da Família (eSF) composta pelos seguintes membros: (I) médico generalista, ou especialista em Saúde da Família, ou médico de Família e Comunidade; (II) enfermeiro generalista ou especialista em Saúde da Família; (III) auxiliar ou técnico de enfermagem; e (IV) agentes comunitários de saúde; Além dos profissionais listados, também podem ser acrescentados profissionais de saúde bucal: “(V) cirurgião-dentista generalista ou especialista em saúde da família, auxiliar e/ou técnico em Saúde Bucal.” O fato de a equipe ser constituída por profissionais de diferentes áreas contribui para garantir a integralidade do cuidado. A quantidade de cada médicos, enfermeiros, auxiliares e agentes comunitários de saúde depende da extensão e da demanda do território que a equipe possui responsabilidade de atendimento. De acordo com a PNAB (2017), recomenda-se cobertura de 100% da população com número máximo de 750 pessoas por ACS. A equipe atua dentro da unidade básica de saúde (UBS), que representa a porta de entrada ao sistema de saúde. Nesse modelo, o primeiro contato do paciente em busca de atendimento à saúde ocorrerá pelo contato com essa equipe. Diante dos objetivos da atenção básica, espera-se detectar os problemas de saúde em estágios iniciais e para proporcionar isso é necessário oferecer fácil acesso e disponibilidade a esse ambiente. A eSF tem papel fundamental para diminuir as barreiras de acesso entre a população e o serviço de saúde. A acessibilidade está diretamente relacionada com a organização do serviço em horários flexíveis, utilizando de meios de comunicação e visitas, atendendo principalmente as necessidades de idosos e deficientes que apresentam dificuldades para deslocar-se até o serviço de saúde. Além disso, também deve ser valorizado o acesso geográfico dos quais exige que a unidade de saúde exista em locais não muito distantes e que possibilitem a chegada através de meios de transporte. A característica de porta de entrada também inclui o acolhimento através da aplicação da abordagem “ver, esperar e observar”. Essa tática permite selecionar os problemas quanto a gravidade e organizar o atendimento, controlando o custo e a demanda, e consequentemente, garantindo a qualidade do serviço. A eSF tem a responsabilidade de cadastrar todos os indivíduos que estão recebendo atendimento no território, independente da utilização da UBS. Isso é importante porque os serviços de vigilância em saúde precisam ser desenvolvidos pautados nas características populacionais e esse cadastramento contribui para implementação dessas ações para atender as necessidades da coletividade. Nesse sentido, é comum que a eSF realize visitas domiciliares periódicas tanto para atender a população que exige essa proximidade, quanto também para caracterizar o território e fiscalizar quanto aos riscos de transmissão de doenças associadas às condições de higiene e do ambiente. As informações coletadas são registradas em uma ficha de cadastramento familiar e inclui dados demográficos, sociais, econômicos e sobre a utilização do serviço de saúde propriamente dito. Esse controle facilita o planejamento de ações de saúde e a organização do atendimento da população, uma vez que estas são responsabilidades da equipe. Para facilitar o acesso aos dados, as informações são disponibilizadas em um Sistema de Atenção Básica (SIAB) sob responsabilidade do gestor do serviço. Esses dados são encaminhados para as esferas governamentais superiores e são disponibilizados para a população através do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde, garantindo a transparência. Além de todas essas responsabilidades gerais da eSF, cada profissional inserido na equipe apresenta atribuições gerais, relativas a todos independente do cargo, e atribuições específicas, relacionadas à classe profissional para serem seguidas durante o exercício da profissão. No que diz respeito as atribuições comuns a todos os profissionais ressalta-se a participação do processo de territorialização e mapeamento da área de atuação da equipe, manter o cadastro das famílias, garantir atenção através da integralidade, participar do acolhimento dos usuários, realizar o cuidado de saúde, notificar doenças e agravos, garantir a qualidade do serviço, promover a participação da comunidade, valorizar as ações intersetoriais, participar de atividades de educação permanente, planejar e realizar as ações de saúde de modo integrado com outras equipes. Enfermeiro: I - realizar atenção à saúde aos indivíduos e famílias cadastradas nas equipes e, quando indicado ou necessário, no domicílio e/ou nos demais espaços comunitários (escolas, associações etc), em todas as fases do desenvolvimento humano: infância, adolescência, idade adulta e terceira idade; II - realizar consulta de enfermagem, procedimentos, atividades em grupo e conforme protocolos ou outras normativas técnicas, observadas as disposições legais da profissão, solicitar exames complementares, prescrever medicações e encaminhar, quandonecessário, usuários a outros serviços; III - realizar atividades programadas e de atenção à demanda espontânea; IV - planejar, gerenciar e avaliar as ações desenvolvidas pelos ACS em conjunto com os outros membros da equipe; V - contribuir, participar, e realizar atividades de educação permanente da equipe de enfermagem e outros membros da equipe; VI - participar do gerenciamento dos insumos necessários para o adequado funcionamento da UBS. Auxiliar e do Técnico de Enfermagem: I - participar das atividades de atenção realizando procedimentos regulamentados no exercício de sua profissão na UBS e, quando indicado ou necessário, no domicílio e/ou nos demais espaços comunitários (escolas, associações etc); II - realizar atividades programadas e de atenção à demanda espontânea; III - realizar ações de educação em saúde a população adstrita, conforme planejamento da equipe; IV- participar do gerenciamento dos insumos necessários para o adequado funcionamento da UBS; V- contribuir, participar e realizar atividades de educação permanente. Médico: I - realizar atenção à saúde aos indivíduos sob sua responsabilidade; II - realizar consultas clínicas, pequenos procedimentos cirúrgicos, atividades em grupo na UBS e, quando indicado ou necessário, no domicílio e/ou nos demais espaços comunitários (escolas, associações etc); III - realizar atividades programadas e de atenção à demanda espontânea; IV - encaminhar, quando necessário, usuários a outros pontos de atenção, respeitando fluxos locais, mantendo sua responsabilidade pelo acompanhamento do plano terapêutico do usuário; V - indicar, de forma compartilhada com outros pontos de atenção, a necessidade de internação hospitalar ou domiciliar, mantendo a responsabilização pelo acompanhamento do usuário; VI - contribuir, realizar e participar das atividades de Educação Permanente de todos os membros da equipe; VII - participar do gerenciamento dos insumos necessários para o adequado funcionamento da USB. Agente Comunitário de Saúde: I - trabalhar com adscrição de famílias em base geográfica definida, a micro área; II - cadastrar todas as pessoas de sua micro área e manter os cadastros atualizados; III - orientar as famílias quanto à utilização dos serviços de saúde disponíveis; IV - realizar atividades programadas e de atenção à demanda espontânea; V - acompanhar, por meio de visita domiciliar, todas as famílias e indivíduos sob sua responsabilidade. As visitas deverão ser programadas em conjunto com a equipe, considerando os critérios de risco e vulnerabilidade de modo que famílias com maior necessidade sejam visitadas mais vezes, mantendo como referência a média de 1 (uma) visita/família/mês; VI - desenvolver ações que busquem a integração entre a equipe de saúde e a população adscrita à UBS, considerando as características e as finalidades do trabalho de acompanhamento de indivíduos e grupos sociais ou coletividade; VII - desenvolver atividades de promoção da saúde, de prevenção das doenças e agravos e de vigilância à saúde, por meio de visitas domiciliares e de ações educativas individuais e coletivas nos domicílios e na comunidade, como por exemplo, combate à Dengue, malária, leishmaniose, entre outras, mantendo a equipe informada, principalmente a respeito das situações de risco; VIII - estar em contato permanente com as famílias, desenvolvendo ações educativas, visando à promoção da saúde, à prevenção das doenças, e ao acompanhamento das pessoas com problemas de saúde, bem como ao acompanhamento das condicionalidades do Programa Bolsa Família ou de qualquer outro programa similar de transferência de renda e enfrentamento de vulnerabilidades implantado pelo Governo Federal, estadual e municipal de acordo com o planejamento da equipe. IX - ocorrendo situação de surtos e epidemias, executar em conjunto com o agente de endemias ações de controle de doenças, utilizando as medidas de controle adequadas, manejo ambiental e outras ações de manejo integrado de vetores, de acordo com decisão da gestão municipal. NÚCLEO AMPLIADO DE SAÚDE DA FAMÍLIA E ATENÇÃO BÁSICA (NASF-AB) E GRUPOS DE ATENÇÃO Os Núcleos de Apoio à Saúde da Família e Atenção Básica (NASF-AB) forma criados a fim de dar apoio às equipes saúde da família que constituem a ESF, auxiliando na ampliação as ações de atenção básica e o cuidado ao usuário do sistema de saúde. O NASF é composto por profissionais de diversas áreas da saúde, formando uma equipe multiprofissional e interdisciplinar que complementa as equipes da atenção básica. De acordo com o Ministério da Saúde. Os diferentes profissionais devem estabelecer e compartilhar saberes, práticas e gestão do cuidado, com uma visão comum e aprender a solucionar problemas pela comunicação, de modo a maximizar as habilidades singulares de cada um. O compartilhamento de saberes e as práticas intersetoriais contribuem para identificar as necessidades da população, sejam estas clínicas ou sanitárias, e as dificuldades da própria equipe. A partir disso, cabe ao NASF-AB participar do planejamento de ações com as equipes das quais está vinculado. As competências do NASF-AB são colocadas em práticas através de ações de apoio que incluem discussão de casos, atendimento ao usuário individual, compartilhado ou interconsulta, construção de projetos terapêuticos, educação permanente, intervenções no território e voltadas para grupos populacionais específicos, ações Inter setoriais, de prevenção e promoção da saúde e discussão do processo de trabalho das equipes. Dessa forma, espera-se que através de um relacionamento e atuação integrada com as equipes e as redes de atenção básica, os profissionais do NASF contribuam para melhorar a longitudinalidade e a integralidade do cuidado, além da prestação de serviços à população. A definição de quais profissionais irão compor o NASF- AB é de decisão do gestor local baseando-se nas necessidades da população que está sendo atendida, sendo possível incluir as seguintes ocupações: Médico Acupunturista; Assistente Social; Profissional/Professor de Educação Física; Farmacêutico; Fisioterapeuta; Fonoaudiólogo; Médico Ginecologista/Obstetra; Médico Homeopata; Nutricionista; Médico Pediatra; Psicólogo; Médico Psiquiatra; Terapeuta Ocupacional; Médico Geriatra; Médico Internista (clínica médica); Médico do Trabalho; Médico Veterinário; Profissional com formação em arte e educação (arte educador); Profissional de saúde sanitarista, ou seja, profissional graduado na área de saúde com pós-graduação em saúde pública ou coletiva ou graduada diretamente em uma dessas áreas conforme normativa vigente. O NASF pode atuar através de diferentes estabelecimentos além da unidade básica de saúde (UBS), como as academias da saúde, os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), Centros de Referência de Assistência Social (CRAS), Centro de Referência em Saúde do Trabalhador (CEREST), ambulatórios especializados, escolas, além de outras redes sociais e comunitárias. É importante destacar que todos esses serviços devem estar integrados e em constante comunicação a partir dos critérios previstos no funcionamento das redes de atenção à saúde. Os CAPS são serviços ambulatoriais de atenção básica que funcionam diariamente e realizam atendimento interdisciplinar principalmente de pessoas com transtornos mentais ou pelo uso de álcool e outras drogas. O atendimento inclui a atenção individual, em grupos, em oficinas terapêuticas, à família, visitas domiciliares e atividades comunitárias. O principal foco do atendimento individual e em grupos é o oferecimento de psicoterapia, suporte social, prescrição de medicamentos e orientações diversas que possibilitem a integração do usuário com a comunidade e a família. O tamanho e composiçãoda equipe profissional do CAPS pode variar de acordo com a modalidade do serviço, que depende principalmente da extensão do território, pelo grupo de atenção, da faixa etária e do horário de atendimento. Alguns CAPS atendem pessoas de todas as faixas etárias e outros são focados em atender crianças e adolescente. Em algumas situações são focados em atender pessoas com transtornos mentais graves e persistentes e/ou em outras pessoas com transtornos do álcool de outras substâncias psicoativas. Além disso, dependendo da necessidade da população os CAPS podem oferecer serviço durante o período noturno, aos finais de semana e ainda, ofertar refeições às pessoas que precisam ficar várias horas unidade. Todas essas estratégias contribuem para o aumento da acessibilidade e ajudam a aproximar o usuário do serviço de saúde. De modo geral, tende a ser composta minimamente por: médico com formação em saúde mental; (II) enfermeiro; (III) psicólogo, assistente social, terapeuta ocupacional, pedagogo ou outro profissional capaz de dar suporte ao projeto terapêutico; profissionais de nível médico como técnica e/ou auxiliar de enfermagem, técnico administrativo, técnico educacional e artesão. Em algumas situações dependendo do público de atendimento, também são incluídos médicos pediatras e fonoaudiólogos. Na UBS e nesses outros serviços é comum dividir o atendimento em grupos de atenção, para facilitar a promoção de saúde em pontos que sejam em comum a vários usuários. Essa organização além de direcionar as ações, também permite criar laços entre profissional e comunidade, além de aproximar os usuários e incentivar a convivência social. A seguir, vamos pontuar alguns grupos que podem ser formados no dia-a-dia da atenção básica. A família O grupo de atenção à família volta o cuidado para cada um dos seus integrantes, considerando o convívio entre eles e o contexto familiar que estão expostos. A abordagem deve ser complexa e envolve vários fatores e situações, como por exemplo, as condições sociais, econômicas, culturais, de saúde mental e física, entre outros. Também é importante valorizar os meios de sobrevivência dos membros, como o trabalho, e o ciclo de vida que se relaciona com a idade e fase da vida que esses usuários se encontram. Os idosos apresentarão necessidades diferentes das crianças, que também apresentam necessidades diferentes do que as de seus pais. A interação entre todos integrantes pode ser objeto de investigação, uma vez que pode implicar em complicações que afetam a família. No ambiente familiar podem estar presentes situações específicas como a de violência, violência doméstica ou uso de drogas, entre outras, e por isso, além de cada integrante precisar receber um olhar individualizado, também deve-se considerar a interação com os outros membros uma vez que a convivência pode implicar em complicações que afetam a família e também a comunidade externa. A equipe da saúde da família desenvolve esse trabalho através da criação de vínculos, que facilita a detecção de problemas e implantação de estratégias individualizadas ou comunitárias. O atendimento a esse grupo é incentivado justamente devido a sua complexidade e capacidade de trazer tantas informações para o sistema de saúde. A partir dele, conseguimos detectar e afunilar o desenvolvimento de ações para outros grupos específicos. Mas lembre-se que esses grupos deverão ser integrados através do serviço de saúde, pois já vimos que a proposta do sistema não é a fragmentação e sim a integração. A criança e ao adolescente A atenção à criança pode ser oferecida desde o momento do nascimento, no qual são desenvolvidas consultas periódicas com a realização de exames físicos para controle do peso, estatura, dentição, audição, fala, locomoção, situação intelectual, entre outros pontos envolvidos na saúde geral da criança, além de manter um contato com as mães e observar a sua condição de vida. Nessas consultas, a equipe pode desenvolver ações de educação em saúde orientando sobre amamentação, higiene e outros cuidados. Os adolescentes exigem um tipo de atenção específica para as situações encaradas nesse período da vida, que envolvem mudanças físicas, cuidados com a higiene e pessoais, atenção às alterações hormonais e acompanhamento para detecção de distúrbios, atividade sexual e uso de drogas. Usualmente, por facilidade de abordar esses pacientes, as ações de promoção e educação da saúde são realizadas nas escolas, mas também podem ocorrer dentro da atenção à família. O adulto A atenção ao adulto é subdividida de acordo com necessidades específicas, sendo comuns os mais diversos problemas de saúde como: hipertensão, diabetes, problemas circulatórios, cardíacos, doenças da tireoide, infecções urinárias, doenças respiratórias, alérgicas, imunológicas, infecciosas e ainda doenças que estão associadas ao sexo feminino ou masculino. Portanto, podemos direcionar o desenvolvimento de grupos com foco na atenção da mulher, do homem, à hipertensão, à diabetes, e assim por diante. A atenção à mulher compreende situações associadas ao ciclo menstrual, problemas hormonais usam de contraceptivos, doenças de mama ou uterinas. A atenção ao homem é voltada ao câncer de próstata, hábito de fumar, de beber e ainda dependência de drogas. Além disso, o grupo dos homens exige um pouco mais de divulgação para aproximá-los do serviço, pois geralmente eles não procuram atendimento à saúde. É importante ressaltar que tanto na atenção à mulher e ao homem, existe um foco nos exames preventivos como o Papanicolau e mamografias para as mulheres e o exame de próstata para os homens, que são oferecidos e geralmente divulgados através de campanhas. Como os adultos representam a maioria das pessoas que trabalham, a estratégia de oferecer atendimento em horários flexíveis é muito importante para facilitar o atendimento desses pacientes. Gestante A atenção à gestante é voltada para o acompanhamento da gravidez, com consultas periódicas para acompanhamento da saúde da mulher e do bebê e compartilhamento de dicas sobre como se manter saudável durante o período gestacional. Além disso, também são desenvolvidas ações de educação quanto aos direitos trabalhistas, sociais, nos serviços de saúde e outros assuntos como a adoção, comorbidades, violência na gravidez, e informações sobre cuidados com o recém-nascido, alimentação, amamentação, higiene e vacinas. O idoso A atenção ao idoso é focada principalmente em problemas associadas à velhice, diminuição da imunidade, problemas com equilíbrio e risco de quedas, fragilidade óssea e doenças generativas e crônicas como incontinência urinária e fecal, Parkinson, Alzheimer, câncer, entre outras. Vale ressaltar que as quedas geralmente estão associadas à necessidade de atendimento de alta complexidade, com atuação de ortopedistas, exigindo cirurgias e hospitalizações. Doenças infecciosas Além do trabalho voltado para a prevenção dessas doenças, também existem os grupos que dão suportes específicos quando existe a necessidade. As ações são realizadas no sentido de oferecer acompanhamento terapêutico e também suporte psicológico e social. Alguns exemplos que podemos citar são os pacientes HIV positivos ou com AIDS, com tuberculose e hanseníase que apresentam programas de tratamento e suporte para o acompanhamento da doença ou do estado fragilizado. Com relação às doenças sexualmente transmissíveis, também são desenvolvidas atividades para prevenção, além da oferta de preservativos de fácil acesso na UBS. A dengue também é acompanhada de perto através do serviço dos ACS que fazem na territorialização investigam em busca de fatores de risco para o desenvolvimento de larvas de mosquitos, inclusive nos quintais dos usuários. INFRAESTRUTURA, FINANCIAMENTOE DESAFIOS. Infraestrutura As unidades básicas de saúde (UBS) representam o local de atuação das equipes saúde da família e a estrutura física dessas unidades deve apresentar requisitos mínimos para oferecer todo o suporte aos profissionais que nela atuam e também à comunidade que utiliza dos seus serviços de saúde. O estabelecimento físico da UBS deve permitir o atendimento organizado, com infraestrutura, equipamentos e insumos suficientes para fornecer a atenção à saúde. O porte de UBS é determinado de acordo com a quantidade de equipes atuando na unidade, de forma que quanto mais equipes maior o território atendido e também maior a infraestrutura requerida. A PNAB prevê os ambientes para cada tipo de unidade, recomendando para a Unidade Básica de Saúde. Consultório médico e de enfermagem, consultório com sanitário. No consultório de enfermagem são realizadas as pré-consultas ou acolhimento, nas quais o paciente compartilha a sua situação de saúde e o(a) enfermeiro(a) com auxílio de um técnico ou auxiliar de enfermagem realiza alguns exames físicos de triagem para avaliar a pressão arterial, o peso corporal, a frequência cardíaca e a temperatura corporal, entre outros. Nesse momento o profissional é capaz de triar a situação de saúde do paciente e aperfeiçoar o atendimento médico. Dependendo da necessidade do paciente, ele é direcionado à consulta com o médico ou esta é agendada para outro momento. No consultório médico, o paciente passa pela consulta médica propriamente dita e partir desse atendimento poderá ser encaminhado à realização de exames ou atendimento por outras especialidades em outro serviço ligado à rede de atenção básica. Usualmente, o médico pode direcionar o paciente à sala de medicação ou de procedimento para que este fique em observação enquanto recebe algum medicamento ou caso seja necessário realizar algum outro procedimento. Além destas, também há outros ambientes como a sala de curativos, de inalação, de coleta de exame, ou ainda, a farmácia, sala de procedimentos, sala de vacinas, sala de inalação coletiva, sala de coleta/exames, sala de curativos, sala de observação e área para assistência farmacêutica; Todas estas salas devem existir na UBS, sendo que em algumas situações uma mesma sala pode servir para mais de um procedimento, por exemplo, a sala de procedimentos pode ser a mesma sala que a sala de curativos. Entretanto, na maioria dos casos é ideal ter uma sala para cada situação, como os próprios nomes sugerem. Sala de expurgo e sala de esterilização A sala de expurgo é destinada à lavagem e desinfecção de materiais ou para armazenar pouco volume de dejetos que logo irão ser direcionados ao destino correto. A sala de esterilização é um ambiente em que os materiais são empacotados, esterilizados e normalmente armazenados, até o uso em algum procedimento. Sala de atividades coletivas para os profissionais da Atenção Básica A sala de atividade coletiva são ambientes separados para que os profissionais da equipe de atenção básica possam se reunir para discutir e compartilhar informações sobre a comunidade e as suas necessidades, além de realizar o planejamento de ações de saúde e da própria rotina diária. Esse ambiente é compartilhado entre os profissionais atuantes na UBS, como também em conjunto com as equipes do NASF. Consultório odontológico com equipo odontológico completo O consultório odontológico é a sala que os profissionais de saúde bucal atuam, sendo necessários vários equipamentos e insumos específicos para atendimento da população. Área de recepção, local para arquivos e registros, sala multiprofissional de acolhimento à demanda espontânea, sala de administração e gerência, banheiro público e para funcionários, entre outros ambientes conforme a necessidade A área de recepção é o ambiente que os pacientes farão o primeiro contato com algum profissional atuante na UBS para relatar sobre os seus problemas, e a seguir, aguardar pelo atendimento. ). A partir de tudo que comentamos sobre a porta de entrada ao serviço de saúde, esta sala representa o início de todo o vínculo que será criado com aquele paciente que direcionou-se por vontade própria à unidade. Também é necessário um local destinado para o armazenamento de arquivos e registros, atuação da equipe de administração e também os banheiros para a utilização por funcionários ou pela população. A sala multiprofissional de acolhimento à demanda espontânea é um ambiente chave para acolher pacientes que não apresentam condições de esperar por todo o fluxo de atendimento que inicia no acolhimento, sendo de extrema importância para dar suporte em situações mais urgentes ou de alta demanda. Financiamento A Estratégia Saúde da Família já passou por vários sistemas de financiamento desde a sua criação. No início, existia o Piso de Atenção Básica (PAB) que era transferido do Fundo Nacional de Saúde aos municípios mensalmente de acordo com o tipo, número e composição das equipes implantadas. Uma nova proposta chamada Projeto de Expansão e Consolidação do Saúde da Família (PROESF) surgiu com a intenção de ajudar na ampliação do programa nos grandes centros urbanos e regiões metropolitanas e focava o incentivo financeiro para municípios com mais de 100.000 habitantes. Em 2006, o financiamento passou a ser realizada na forma de blocos de financiamento destinada a atenção básica, atenção de média e alta complexidade ambulatorial e hospitalar; vigilância em saúde; assistência farmacêutica; e gestão do SUS. A seguir, foram criados alguns programas de incentivo financeiros específicos para o NASF, questões estruturais de UBS, implementação de equipes de saúde bucal, entre outras. A partir de 2019, o novo modelo de financiamento da APS no âmbito do SUS foi instituído pelo Programa Previne Brasil, no qual o repasse de recursos é determinado através de três critérios: capitação ponderada; pagamento por desempenho; incentivo para ações estratégicas. Na capitação ponderada é realizado um cálculo que considera a população e a equipe cadastrada no sistema de informação, a vulnerabilidade socioeconômica da população, o perfil demográfico por faixa etária da população e a classificação geográfica definida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Para determinar o valor do recurso que será transferido é atribuído um peso através de um valor numérico por pessoa cadastrada. De modo geral, quanto maior a vulnerabilidade e dificuldade de acesso geográfico, maior é o valor atribuído, e consequentemente, maior o financiamento destinado ao serviço ou equipe responsável por aquele território. Aqui podemos ressaltar a importância do trabalho de cadastramento das famílias pela territorialização e a alimentação do sistema de informação, uma vez que estas são as duas principais fontes de consulta para determinar o financiamento. Também é importantes que as equipes estejam credenciadas ao Ministério da Saúde e cadastradas no Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde. O pagamento por desempenho considera o desempenho da equipe a partir de cálculos condicionados ao cumprimento de meta para cada indicador. É importante ressaltar que os indicadores devem ser escolhidos com base na relevância clínica e epidemiológica, na disponibilidade, simplicidade, baixo custo de obtenção, adaptabilidade, estabilidade, rastreabilidade e representatividade. Observe no quadro 3 abaixo alguns exemplos desses indicadores. Esses indicadores podem mudar de um ano para o outro de acordo com a necessidade em saúde, mas de modo geral representam ações que impulsionem o serviço de promoção e prevenção à saúde em diversos pontos específicos. Para 2021 e 2022, a Secretaria de Atenção Primária à Saúde (SAPS) determinou os seguintes
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