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GESTÃO DE PROCESSOS EDUCACIONAIS NÃO ESCOLARES Maria Elena Roman de Oliveira Toledo Gestão na educação não formal Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Descrever as metas da educação não formal. Identificar os aspectos que necessitam de aperfeiçoamento na edu- cação não formal. Caracterizar a gestão da educação não formal. Introdução Para conhecer as metas e os desafios da educação não formal, você precisa compreender o conceito e as modalidades da educação. Durante muito tempo, a educação foi encarada como competência da escola e restrita ao ambiente escolar. Contudo, recentemente, a crescente complexidade da sociedade e a diversificação das atividades educativas fizeram com que o conceito de educação fosse revisto e ampliado. Uma sociedade mais complexa traz novas demandas educativas, que precisam ser contempladas em diferentes espaços. Assim, os meios de co- municação, os movimentos sociais e os grupos sociais organizados passam a desempenhar um papel educativo em espaços não escolares. Nesse contexto, a educação passa a ser vista como um fenômeno plurifacetado, que ocorre em locais institucionalizados ou não, sob diferentes modalidades. As metas da educação não formal De acordo com a intencionalidade e a estruturação das ações, há três moda- lidades educativas distintas. Veja a seguir. Educação formal: tem objetivos educacionais explícitos e há uma ação educativa intencional e estruturada. A educação escolar é um exemplo desse tipo de educação. Educação informal: contempla as aprendizagens que os indivíduos terão ao longo da vida, durante todo o seu processo de socialização, em diferentes instâncias, como família, bairro, religião, entre outras. Essas aprendizagens não são nem organizadas, nem intencionais. Elas ocorrem na interação do sujeito da aprendizagem com outros sujeitos. Educação não formal: é realizada em instituições que não integram os sistemas de ensino formal, tendo certo grau de sistematização e intencionalidade. São exemplos de espaços de educação não formal os museus, as bibliotecas e as casas de cultura. Uma vez definidas as modalidades de educação, agora você vai conhecer melhor a educação não formal, que enfrenta desafios e possui uma função social. Além disso, a educação não formal envolve metas que podem contribuir para a efetivação de sua função social. A seguir, veja as principais metas da educação não formal: capacitar todo sujeito para que possa tornar-se um cidadão do mundo, no mundo (GOHN, 2006); garantir espaço de interação com a comunidade para que os objetivos educacionais do grupo possam emergir; promover ações que reafirmem os princípios de igualdade e de justiça social; transmitir informação, formação política e sociocultural a todos os que dela participarem; enfrentar a barbárie do mundo por meio da civilidade e do senso de coletividade e solidariedade. Gestão na educação não formal2 Como você viu, as metas da educação não formal estão associadas à for- mação do cidadão em seus princípios humanos. Assim, quando se pensa nessa modalidade, é necessário considerar sua organização e seu planejamento, além de prever a ação de um gestor comprometido e envolvido com o processo formativo das pessoas. A educação não formal e suas finalidades Quando se fala em educação, é preciso diferenciar a educação intencional da educação não intencional (também chamada de informal ou paralela). Segundo Libâneo (2010), a educação não intencional é resultante de múl- tiplos fatores, como valores, costumes, ideias, religião, leis, sistema de governo, criação dos fi lhos, meios de comunicação, entre outros. Como tal, ela ocorre de maneira não sistemática e não planejada. Contudo, o fato de não ser intencional não diminui importância desse tipo de aprendizagem no percurso de desenvolvimento dos indivíduos. Sua relevância decorre do fato de que a educação não intencional promove a socialização dos indivíduos e está presente em diferentes espaços. A educação intencional surge como fruto do desenvolvimento da socie- dade, da cultura e das tecnologias. Há dois tipos de educação intencional: a educação formal e a educação não formal. Aqui, você vai aprofundar os seus conhecimentos sobre a educação não formal. Libâneo (2010, p. 89) conceitua a educação não formal como “[...] aquelas atividades com caráter de intencio- nalidade, porém com baixo grau de estruturação e sistematização, implicando certamente relações pedagógicas, mas não formalizadas”. A educação não formal surge da intenção de melhorar as condições de determinado grupo em dado local. Como a intenção do educador é melhorar as condições de determinado grupo, ao gestor cabe a conscientização dos diferentes papéis que todos assumem. Assim como o educador possui as suas responsabilidades no processo formativo, assumidas quando ele se propõe a desenvolver qualquer ação na educação não formal, os alunos também precisam se comprometer. Cabe a eles assumir o compromisso com a própria formação e com os demais envolvidos no processo, uma vez que na educação não formal não há rigidez ou horários como na educação formal. 3Gestão na educação não formal A situação apresentada a seguir aconteceu em uma comunidade desprivilegiada socialmente. O hospital mais próximo à comunidade começou a receber, em caráter de emergência, várias crianças com vergões em diferentes partes do corpo. O fato chamou a atenção dos médicos, que passaram a investigar as causas dos ferimentos. Descobriu-se, então, que as crianças estudavam em um dos períodos em uma mesma escola e levavam lição para casa. No outro período, ficavam sozinhas em casa, uma vez que os responsáveis trabalhavam fora. As lições não estavam sendo feitas e a escola passou a enviar bilhetes para os pais, cobrando deles uma atitude. Com a intenção de ajudar, os pais começaram a bater nas crianças. Um vizinho, sabendo da história, passou a “fabricar” chicotes de fios de cobre e vender para os pais sob a promessa de “consertar os filhos”. A direção do hospital entrou em contato com uma Organização Não Governamental (ONG) e relatou o problema. A ONG instalou, dentro da comunidade, um espaço de contraturno escolar voltado para o atendimento às crianças da comunidade, com a oferta de acompanhamento de lição de casa, além de outras atividades educativas. Assim, para que as crianças possam se desenvolver no seu percurso escolar, cabe aos educadores atendê-las, diariamente, no acompanhamento de suas tarefas. Con- tudo, esse atendimento não acontecerá se os pais não assumirem o compromisso de enviar seus filhos para a participação no acompanhamento e se os alunos não cumprirem as suas tarefas. Para que todos os envolvidos assumam seus papéis, é preciso conscientizá-los, por meio de ações de interação com a comunidade, sobre a importância do atendimento para a formação e o desenvolvimento das crianças. Essa tarefa é de responsabilidade do gestor. Veja o que afirma Gohn (2006, documento on-line): A educação não formal designa um processo com várias dimensões tais como: a aprendizagem política dos direitos dos indivíduos enquanto cidadãos, a capacitação dos indivíduos para o trabalho, por meio da aprendizagem de habilidades e/ou desenvolvimento de potencialidades; a aprendizagem e exer- cício de práticas que capacitam os indivíduos a se organizarem com objetivos comunitários, voltadas para a solução de problemas coletivos cotidianos; a aprendizagem de conteúdos que possibilitem aos indivíduos fazerem uma lei- tura do mundo do ponto de vista de compreensão do que se passa ao seu redor; a educação desenvolvida na mídia e pela mídia, em especial a eletrônica, etc. Ações educativas desenvolvidas em movimentos sociais, atividades de animação cultural, trabalhos comunitários, meios de comunicação social e outras ações desenvolvidas nos equipamentos culturais e de lazer são exemplos da educação não formal.Gestão na educação não formal4 Considere uma ONG que atua em uma comunidade carente que precisa sair da linha de pobreza. Tal ONG orienta as pessoas a desenvolverem suas potencialidades, transformando-as em habilidades que podem levar à inserção no mercado de trabalho. Essa ONG é uma promotora da educação não formal. Outro exemplo é uma costureira que, estando em uma comunidade carente, pode ensinar o seu ofício para outras mulheres e com elas formar uma coope- rativa de costureiras que prestem serviços a confecções. Assim, elas podem trazer retorno financeiro para a sua comunidade de origem. Embora possam ter diferentes objetivos e ser desenvolvidas em espaços distintos, todas as ações da educação não formal, promovidas tanto por ONGs quanto por empresas e comunidades religiosas, têm em comum a meta de am- pliar as relações de pertencimento a uma comunidade específica (imigrantes, por exemplo) e à sociedade como um todo. Para que essa meta seja atingida, é necessário organizar e gerir as ações desenvolvidas. Desafios da educação não formal A educação não formal se consolida no cenário social com o propósito de reavivar a cultura dos indivíduos nela envolvidos. De acordo com Sinson (2003 apud PARREIRA; JOSÉ FILHO, 2010, documento on-line), “[...] a educação não formal se caracteriza por possibilitar a transformação social dando condições ao sujeito que participe deste processo de interferir na história por meio de refl exão e de transformação”. Um grande desafio que se coloca nesse contexto é a formação dos profis- sionais para atuar na educação não formal. Esse tipo de educação demanda um profissional consciente de seu papel e de sua importância para a superação dos problemas sociais. Para que os educadores possam cumprir o seu papel na educação não formal, sua formação inicial deve oferecer subsídios para que sejam capazes de atuar em contextos educativos distintos, adequando suas práticas às diferentes demandas do público da ação educativa. Historicamente, no entanto, os cursos de formação pedagógica têm sido pensados para a formação de um profissional que atuará nos contextos es- colares. Nesse sentido, um dos grandes desafios da educação não formal é a formação dos profissionais, que deve ser pensada para transcender os muros da escola. A “nova” formação pedagógica deve ser capaz de desenvolver profissionais que reflitam sobre o seu papel e sobre as especificidades do contexto no qual a ação educativa ocorre, criando e recriando suas práticas a partir dessas especificidades e dos conhecimentos teóricos. 5Gestão na educação não formal Enquanto essa “nova” formação não se efetiva nas instituições de formação inicial, cabe ao gestor oportunizar aos educadores a formação em serviço. É o gestor que conhece as particularidades e as necessidades da comunidade na qual as ações educativas são desenvolvidas. Por isso, ele é que deve elencar os principais conteúdos necessários ao embasamento das práticas educativas e propor ações de formação aos educadores. Para o planejamento das ações de formação, o gestor deve, inicialmente, fazer um levantamento dos conhecimentos prévios dos educadores sobre os conteúdos importantes. Ao longo do processo de formação, atividades avaliativas devem ser desenvolvidas para verificar se as ações estão sendo efetivas. Caso não estejam, elas precisam ser replanejadas. Ao final de cada etapa, uma avaliação deve ser feita para que se tenha a certeza de que os objetivos propostos foram atingidos. A avaliação deve ser realizada coletivamente, dando voz tanto aos educadores como aos educandos, garantindo, assim, uma gestão democrática. Diretrizes curriculares para a formação pedagógica Em 1º de julho de 2015, começou a vigorar a Resolução nº 2 do Conselho Nacional de Educação e do Conselho Pleno, que defi ne as Diretrizes Curri- culares Nacionais para a formação inicial, em nível superior, para os cursos de licenciatura, bem como para a formação continuada. O art. 3º, § 1º, do Capítulo I, sobre as disposições gerais, afi rma o seguinte: Por educação entendem-se os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino, pesqui- sa e extensão, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas relações criativas entre natureza e cultura (BRASIL, 2015, documento on-line). O perfil do egresso da formação inicial e continuada está presente no terceiro capítulo, art. 7º: O(A) egresso(a) da formação inicial e continuada deverá possuir um repertório de informações e habilidades composto pela pluralidade de conhecimentos teóricos e práticos, resultado do projeto pedagógico e do percurso formativo vivenciado cuja consolidação virá do seu exercício profissional, fundamentado em princípios de interdisciplinaridade, contextualização, democratização, pertinência e relevância social, ética e sensibilidade afetiva e estética (BRASIL, 2015, documento on-line). Gestão na educação não formal6 De acordo com os referenciais legais, o egresso da formação pedagógica deve estar apto a realizar o levantamento das características e demandas do contexto no qual irá atuar, sendo responsável pelo planejamento de ações educativas que atendam a essas demandas. O perfil do egresso deve ser construído ao longo de todo o seu curso de formação. No projeto pedagógico do curso, devem estar presentes os elementos listados a seguir: I – estudo do contexto educacional, envolvendo ações nos diferentes es- paços escolares, como salas de aula, laboratórios, bibliotecas, espaços recreativos e desportivos, ateliês, secretarias; II – desenvolvimento de ações que valorizem o trabalho coletivo, inter- disciplinar e com intencionalidade pedagógica clara para o ensino e o processo de ensino-aprendizagem; III – planejamento e execução de atividades nos espaços formativos (ins- tituições de educação básica e de educação superior, agregando outros ambientes culturais, científicos e tecnológicos, físicos e virtuais que ampliem as oportunidades de construção de conhecimento), desenvol- vidas em níveis crescentes de complexidade em direção à autonomia do estudante em formação; IV – participação nas atividades de planejamento e no projeto pedagógico da escola, bem como participação nas reuniões pedagógicas e órgãos colegiados; V – análise do processo pedagógico e de ensino-aprendizagem dos con- teúdos específicos e pedagógicos, além das diretrizes e currículos edu- cacionais da educação básica; VI – leitura e discussão de referenciais teóricos contemporâneos educa- cionais e de formação para a compreensão e a apresentação de propostas e dinâmicas didático-pedagógicas; VII – cotejamento e análise de conteúdos que balizam e fundamentam as diretrizes curriculares para a educação básica, bem como de conhe- cimentos específicos e pedagógicos, concepções e dinâmicas didático- -pedagógicas, articuladas à prática e à experiência dos professores das escolas de educação básica, seus saberes sobre a escola e sobre a mediação didática dos conteúdos; VIII – desenvolvimento, execução, acompanhamento e avaliação de proje- tos educacionais, incluindo o uso de tecnologias educacionais e diferentes recursos e estratégias didático-pedagógicas; IX – sistematização e registro das atividades em portfólio ou recurso equivalente de acompanhamento (BRASIL, 2015, documento on-line). 7Gestão na educação não formal Para saber mais sobre a Resolução nº 2, de 1º de julho de 2015, que define as Diretrizes Curriculares Nacionais para a formação inicial em nível superior (cursos de licenciatura, cursos de formação pedagógica para graduados e cursos de segunda licenciatura) e para a formação continuada, acesse o link a seguir. https://qrgo.page.link/c5iBG A análise da legislação demonstra que ainda há uma ênfase maior nas atividades relacionadas à educação básica em contextos escolares. Contudo, o texto prevê também a atuação em diferentes espaços formativos. Além disso, as habilidades ecompetências pensadas para os contextos escolares são aplicáveis a contextos extraescolares. Assim, o educador que vai atuar na educação não formal deve estar apto a utilizar os conhecimentos adquiridos no curso de formação para embasar suas ações, visando à promoção de uma aprendizagem significativa para todos os envolvidos no processo educativo. Como nem sempre essas habilidades são contempladas no curso de formação inicial, é papel do gestor promover o desenvolvimento delas em ações de formação continuada em serviço. Para que haja uma educação de qualidade, é necessária a promoção de boas práticas de ensino, isto é, de práticas que contemplem as necessidades de todos os alunos envolvidos no processo de aprendizagem. Portanto, o gestor tem um papel fundamental na promoção dessa educação de qualidade, na medida em que cabe a ele realizar a formação continuada dos educadores, acompanhar os processos de ensino e avaliar os resultados. A gestão da educação não formal O termo “gestão” signifi ca gerenciamento ou administração de uma instituição, empresa ou entidade social. Libâneo (2002) acrescenta ao conceito de gestão a dimensão da atividade pela qual são mobilizados meios e procedimentos para se atingirem os objetivos de determinada organização, envolvendo aspectos gerenciais e técnico-administrativos. Nesse sentido, segundo o autor, cabe ao gestor canalizar o trabalho conjunto das pessoas envolvidas, orientando-as e integrando-as em prol dos melhores resultados. Gestão na educação não formal8 O objetivo da gestão é garantir que, em determinado espaço, as finalidades estabelecidas sejam cumpridas. Nos contextos educativos, o conceito de gestão está associado ao fortalecimento da democratização do processo pedagógico, pressupondo a participação de todos os envolvidos na tomada de decisões e na sua efetivação, tendo em vista resultados cada vez mais efetivos e significativos. A participação de todos os envolvidos nos processos educativos está prevista na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996), que afirma o seguinte: Art. 14 – Os sistemas de ensino definirão as normas da gestão democrática do ensino público na educação básica, de acordo com as suas peculiaridades e conforme os seguintes princípios: Participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto peda- gógico da escola; Participação das comunidades escolar e local em conselhos escolares ou equivalentes. Art. 15 – Os sistemas de ensino assegurarão às unidades escolares públicas de educação básica que os integram progressivos graus de autonomia pedagó- gica e administrativa e de gestão financeira, observadas as normas de direito financeiro público (BRASIL, 1996, documento on-line). Para saber mais sobre a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, acesse o link a seguir e leia o texto na íntegra. https://qrgo.page.link/8mFF2 A gestão democrática deve ser implementada na educação formal por lei, como você viu, pois a história dos espaços característicos dessa modalidade educativa não favoreceu o desenvolvimento das ações de participação, ao contrário do que ocorreu no caso da educação não formal, que surgiu a partir de uma concepção democrática. Assim, falar em gestão democrática é necessário porque os novos pedagogos são formados em espaços de educação formal, mas poderão atuar em diferentes âmbitos. Nos espaços da educação não formal, é importante que os pedagogos realizem a formação de um indivíduo ou de um coletivo, quer seja nos espaços comunitários, quer seja nas igrejas ou em outros espaços. Esses espaços têm 9Gestão na educação não formal uma organização intencional e apoiada no diagnóstico da comunidade em que estão inseridos, demandando, por parte da gestão, um olhar atento para a orien- tação dos educadores, visando a agregar a comunidade em uma participação ativa, democrática e que sirva para monitorar o desenvolvimento das ações. Para que isso ocorra, cabe ao gestor da educação não formal, em um primeiro momento, conhecer de maneira pormenorizada a realidade na qual as ações educativas serão desenvolvidas, para que as necessidades da comu- nidade sejam atendidas. Ao conhecer a comunidade e suas demandas, cabe a ele envolver as pessoas na tomada de decisões e nas providências para a implementação das ações planejadas. Em uma ONG localizada em uma comunidade carente, eram oferecidas oficinas de cerâmica para os jovens em situação de vulnerabilidade. As oficinas eram oferecidas em dois períodos: matutino e vespertino. Os alunos do período vespertino começaram a reclamar para o gestor que estavam encontrando o ateliê sujo, com peças fora do lugar e restos de alimentos nas mesas. O gestor, em vez de chamar a atenção dos alunos do período matutino, convocou uma assembleia com os estudantes dos dois períodos para discutir os problemas. A partir da discussão, foram elaboradas, coletivamente, as regras do ateliê, pensadas para que o convívio e o trabalho educativo ocorressem da melhor maneira possível. O gestor digitou as regras elaboradas e afixou-as na parede. Desse dia em diante, o ateliê passou a ser mantido limpo e em ordem. Todos os atores envolvidos nas ações devem participar não só do processo de tomada de decisões, mas também do funcionamento da organização educa- tiva. Dessa maneira, o conceito de gestão democrática no espaço não escolar é resultante de uma nova concepção de gestão organizacional. A gestão democrática se coloca como um desafio na medida em que rompe com os modelos tradicionais de gestão. Ao mesmo tempo, ela se impõe como uma necessidade na busca constante pela qualidade das ações educativas oferecidas. Na medida em que as ações educativas não formais surgem e são procuradas para o atendimento de demandas sociais, é fundamental que os sujeitos que delas participam tenham assegurada uma educação de qualidade. Gestão na educação não formal10 BRASIL. Lei n. 9.394 de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da edu- cação nacional. Brasília, 2019. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ leis/l9394.htm. Acesso em: 12 dez. 2019. BRASIL. Ministério da Educação. Resolução n. 2, de 1º de julho de 2015. Define as Diretrizes Curriculares Nacionais para a formação inicial em nível superior (cursos de licenciatura, cursos de formação pedagógica para graduados e cursos de segunda licenciatura) e para a formação continuada. Brasília: MEC, 2019. Disponível em: http://portal.mec. gov.br/docman/agosto-2017-pdf/70431-res-cne-cp-002-03072015-pdf/file. Acesso em: 12 dez. 2019. GOHN, M. da G. Educação não formal, participação da sociedade civil e estruturas colegiadas em escolas. Ensaio: Avaliação e Políticas Públicas em Educação, v. 14, n. 50, jan./mar. 2006. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/ensaio/v14n50/30405.pdf. Acesso em: 12 dez. 2019. LIBÂNEO, J. C. Pedagogia e pedagogos, para quê? São Paulo: Cortez, 2010. LIBÂNEO, J. C.; PIMENTA, S. G. Formação dos profissionais em educação: visão crítica e perspectiva de mudança. In: PIMENTA, S. G. Pedagogia e pedagogos: caminhos e perspectivas. São Paulo: Cortez, 2002. PARREIRA, L. A.; JOSÉ FILHO, M. A Educação não formal: desafios de uma prática pe- dagógica. Serviço Social & Realidade, v. 19, n. 1, 2010. Disponível em: https://ojs.franca. unesp.br/index.php/SSR/article/viewFile/442/429. Os links para sites da Web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu fun- cionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links. 11Gestão na educação não formal