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2 - Epidemiologia e Estrutura do Servico de Trauma

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Epidemiologia e Estrutura do Serviço de Trauma 
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“Estrela da Vida” 
- As pontas da estrela azul representam as funções da Emergência Médica.
- A serpente e o "bastão" fazem referência ao caduceu de Esculápio, símbolo da Medicina
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Epidemiologia 
- O trauma é um crescente problema de saúde em todo o mundo
- Estima-se que, diariamente, +20 mil pessoas morrem vítimas de causas externas
- Para cada vítima fatal, ocorrem outros milhares de traumatismos, muitos destes com sequelas 
permanentes
- Causas de trauma:
• acidentes
• violência
• Intencionais ou não
- O trauma é a principal causa de óbito nas primeiras 4 décadas de vida e representa um 
enorme e crescente desafio ao país em termos sociais e econômicos
- Os acidentes e as violências no Brasil configuram um problema de saúde pública, com forte 
impacto na morbidade e na mortalidade da população
- Em 2004, foram computadas 127.470 óbitos decorrentes de traumatismos, estimativas 
indicam ao redor de 800.000 internações anuais (rede pública)
- O SIATE, criado em 1990, atende em médias 500 ligações/dia e já registrou 300 mil 
atendimentos em 25 anos 
- Os custos econômicos envolvidos superam R$ 15 bilhões anualmente
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Diagnóstico 
- O sistema assistencial atualmente existente no Brasil não atende a demanda de forma 
satisfatória e necessita análise e reestruturação
- O atendimento ao doente traumatizado tem quatro componentes essenciais:
1. Atendimento pré-hospitalar 
2. Atendimento hospitalar 
3. Reabilitação 
4. Prevenção 
• Esses 4 componentes devem ter uma relação íntima, recíproca e extremamente 
monitorada
- No sistema atual existem inúmeros aspectos que dificultam o fluxo ideal do atendimento do 
doente traumatizado:
• Muitos serviços de resgate prestados por bombeiros funcionam dentro de uma lógica de 
“despacho”, ou seja, sem regulação médica. Isso gera duplicidade de acesso ao sistema 
de atendimento pré-hospitalar (ex: duas ambulâncias de pontos diferentes vão atender a 
mesma vítima, sem uma saber da existência da outra)
• Distribuição inadequada da oferta de serviços de urgência
• Os leitos de terapia intensiva são disputados pela urgência com o restante dos serviços 
hospitalares
• Os Pronto-Socorros dos grandes hospitais, improvisam os leitos de terapia intensiva 
necessários ao atendimento das urgências, nas áreas de observação
• Insuficiência da rede assistencial de média complexidade, constituída pelos Pronto-
Socorros dos pequenos hospitais e por UPA
• Pacientes internados em macas: escassa oferta de leitos de observação e/ou retaguarda
• Desqualificação estrutural: unidades que atuam, em geral, sem qualificação de recursos 
humanos e materiais e sem retaguarda diagnóstica
• Pulverização de recursos econômicos, materiais e humanos: devido a infindável demanda 
de pacientes, custo excessivo sem controle adequado dos resultados.
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Tratamento 
- O que pode ser feito para melhorar o atendimento ao traumatizado? 
- Quando inserido dentro da Política de Atendimento às Urgências, resolve-se apenas um dos 
seus componentes, o atendimento pré-hospitalar, que é a porta de entrada do sistema.
- O paciente não tem um fluxo definido após adentrar ao Pronto-Socorro, ele se perde nas 
inúmeras macas, ele disputa as vagas com os demais pacientes, ele fica sem destino
1ª AÇÃO
- A primeira ação objetiva a ser tomada é dar conhecimento a todos os Setores da sociedade, o 
aspecto conceitual: Trauma é uma doença!
- Os hospitais que detém maior experiência e que formam a massa crítica responsável pelos 
atendimentos de excelência em trauma localizam-se na sua maior parte dentro dos hospitais 
universitários (HUs)
- A superlotação deste hospitais afeta o atendimento do doente traumatizado e dos demais 
setores hospitalares 
2ª AÇÃO
- A segunda ação proposta é a caracterização da necessidade de difundir o conceito de 
Sistema de Trauma 
- Um sistema de trauma é o resultado de um esforço coordenado e organizado, em um área 
geográfica definida para prover todos os cuidados necessários, para todos os pacientes 
traumatizados e que seja integrado com o sistema de saúde público local
- Os sistemas de trauma devem ser regionalizados e devem oferecer os cuidados necessários 
de acordo com as características específicas da população, seja rural ou urbana.
- Devem ainda identificar e enfatizar a prevenção dos traumatismos, dentro do contexto da 
comunidade.
- Deve permitir que todos os cidadãos tenham acesso a um cuidado adequado rápido e 
coordenado, dentro de um contexto de custo-benefício, em qualquer localidade 
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Objetivos 
- Redução das mortes causadas por trauma
- Redução do número e da gravidade dos inválidos
- Aumentar o número de anos de vida produtiva
- Diminuir os custos do atendimento inicial e da reabilitação
- Reduzir a responsabilidade que recai sobre a comunidade em dar apoio aos incapacitados
- Diminuir o impacto da doença trauma na segunda vítima, as famílias
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Metas e Prazos 
- Em quanto tempo esperamos colher os resultados e quais serão estes?
- Dados da literatura apontam para os seguintes números em um prazo de 5 anos (2005):
• Redução dos óbitos por trauma em 15%
• Redução dos acidentes automobilísticos em 9%
• Redução das mortes evitáveis em 25%
• Redução dos custos hospitalares em 15%
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Método de Ação 
- Diante da complexidade do repasse dos recursos e da dificuldade de caracterização da 
responsabilidade desta ou daquela esfera de governo no Brasil, é necessário um 
Planejamento Estratégico para implantação destes conceitos, que visam oferecer uma 
melhor qualidade de vida.
- Os resultados ideais só serão colhidos a longo prazo
- Precisa ser reconhecido o sistema trauma
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Ações a Curto Prazo 
- Criação do Comitê Nacional de Trauma
- Devem compor o comitê:
• Cirurgião especializado em trauma
• Neurocirurgião
• Ortopedista
• Epidemiologista
• Enfermeira especializada em trauma
- Outro aspecto crítico que deve ser contemplado é a necessidade de haver um caráter de 
continuidade deste Comitê, para evitar ingerências políticas ou pontuais.
-
- Além disto, o comitê deve possuir autoridade legal
- 1) O reconhecimento de que estamos vivenciando uma Epidemia da doença Trauma no Brasil
- 2) Tornar obrigatório que todas as Unidades da Federação implantem os chamados Sistemas 
de Trauma.
- 3) Tornar o óbito decorrente de traumatismo, de notificação compulsória.
- 4) Tornar obrigatório o Banco de dados em Trauma em todas as unidades da federação.
- 5) Considerando o caráter único da doença trauma e que para seu tratamento é necessário 
uma abordagem especializada, o atendimento não pode ser realizado em qualquer serviço, 
fato corrente nos dias atuais.
- 6) Para tal devemos organizar a rede hospitalar, que será credenciada para atendimento a 
estes doentes, que deverá cumprir metas para que seja reconhecida como tal e para que seja 
efetivamente remunerada.
TAREFAS DO COMITÊ NACIONAL DE TRAUMA 
I. Delinear, a prevalência da doença trauma no Brasil em todas seus aspectos quantitativos e 
qualitativos.
II. Criar e implantar os Comitês Regionais de Trauma,
a. Auxiliar e orientar os Comitês Regionais para a implantação dos Sistemas de Trauma
III. Criar o Comitê de Óbito para os traumatizados
IV. Criar a Avaliação de Performance dos Serviços de Trauma (etapa pré-hospitalar, hospitalar e 
pós-hospitalar).
V. Normatizar critérios de acesso aos Centros de Trauma pelo sistema pré-hospitalar
VI. Categorização dos Hospitaisque atenderão os doentes traumatizados
VII. Propor diretrizes do atendimento no âmbito assistencial (elaboração de protocolos)
VIII. Propor a elaboração de normas e protocolos a serem adotados em casos de desastres e 
catástrofes.
IX. Categorizar os profissionais médicos e não médicos necessários no atendimento integral ao 
traumatizado
X. Opinar em relação aos investimentos e em relação aos custos diretos e indiretos inerentes ao 
trauma e ao seu atendimento apontando eventuais formas de diminuí-los
XI. Elaborar o conteúdo programático mínimo para a formação do médico, da enfermeira e dos 
demais profissionais envolvidos no atendimento ao traumatizado (graduação)
XII. Propor estratégias voltadas para a prevenção.
XIII. Propor estratégias para a reabilitação das vítimas
XIV. Discutir mecanismos para financiamento do custeio para combater a doença TRAUMA.
TAREFAS DO COMITÊ REGIONAL DE TRAUMA 
- Implantação dos Sistemas de Trauma, incluindo-se aqui o número de hospitais, em cada nível 
necessário, para cada região, de acordo com a incidência de traumatizados em cada área.
- Em função dos números obtidos, deve-se organizar a rede prevendo-se para cada 1,5 milhão 
de habitantes:
- a) 1 Centro de Trauma terciário
- b) 2 Centros Secundários nesta mesma área
- c) 4 Unidades de Trauma
TAREFAS DO COMITÊ MUNICIPAIS DE TRAUMA 
- Implantação do Banco de Dados
- Análise periódica dos resultados (Avaliação de Performance e Óbitos)
- Identificar fatores causais e medidas que podem ser efetuadas para prevenção
- Fiscalizar a gestão de cada Hospital da rede do Município e da atenção pré-hospitalar
- Representar o gestor (secretário de saúde) no controle do sistema
ATENÇÃO PRÉ-HOSPITALAR 
- A triagem adequada é o dado mais significativo de um bom sistema de trauma, sendo 
fundamental para atingir resultados satisfatórios no atendimento ao doente. O objetivo de cada 
sistema é alocar as necessidades dos pacientes na categoria hospitalar adequada.
- Deve-se instituir o conceito da necessidade do pré-acionamento, ou seja, o hospital que irá 
receber o doente deve ser notificado, tão logo seja possível para que ocorra ativação da 
estrutura interna do hospital para absorção da vítima.
- Importante é o conceito de sub-triagem e supertriagem. Estima-se que um sistema razoável 
deva ter 5 a 10% de sub-triagem e ao redor de 50% de supertriagem.
ALGORITMO DE DECISÃO PRÉ-HOSPITALAR PARA TRANSPORTE DE TRAUMA 
1- Características fisiológicas:
• Glasgow < 14
• PA Sistólica < 90
• FR < 10 ou > 29
2- Características anatômicas das lesões
• Lesões penetrantes em cabeça, pescoço, tronco ou extremidades (proximais ao joelho e 
cotovelo)
• Tórax flácido
• Abdômen rígido/ doloroso
• Trauma associado a queimaduras
• Duas ou mais fraturas de ossos longos
• Fratura de pelve
• Fratura de crânio
• Lesão neurológica (paralisia)
• Amputação proximal ao punho ou tornozelo 
• Queimaduras
3- Mecanismo de trauma:
• Ejeção do veículo
• Óbito na cena
• Tempo de remoção > 20 minutos
• Queda > 6 metros
• Acidente de carro > 70 Km/ h
• Acidente de motocicleta > 40 km/h
4- Outras situações
• Idade < 2 ou > 65 e comorbidades significativas
CARACTERIZAÇÃO E FUNÇÕES DOS HOSPITAIS 
HOSPITAL PRIMÁRIO:
- Deve servir ao atendimento inicial do doente traumatizado, em geral de menor gravidade, ou 
na eventualidade de ter servido de suporte ao atendimento pré-hospitalar, em áreas distantes, 
para estabilização do doente.
- Quando houver necessidade de transferência, deve haver acordos prévios com os hospitais 
que compõe o sistema.
- Deve ter programas de educação e prevenção destinados a médicos, enfermeiras e demais 
profissionais.
HOSPITAL SECUNDÁRIO:
- Existem 2 possibilidades de atuação desta categoria de hospital: 
• A primeira, diz respeito a uma ação conjunta com o hospital terciário do sistema, quando se 
trata de grandes cidades e elevada densidade populacional. Funciona numa ação de 
cooperação para otimizar os recursos
• A segunda, diz respeito a uma ação de liderança deste hospital, em virtude da inexistência 
de hospital terciário geograficamente acessível, em uma área de baixa densidade 
populacional.
- Em quaisquer situações, o hospital secundário deve possuir Diretor de Trauma e Enfermeira de 
Trauma, com o intuito de selecionar as equipes e a habilitação das mesmas para compor o 
grupo de Trauma.
- Além disso deve dispor de:
• Acompanhamento horizontal
• Comitê de Óbitos
• Avaliação de performance (hospital e individual)
HOSPITAL TERCIÁRIO:
- Deve servir a grandes cidades com elevada densidade populacional.
- Deve ter capacidade de absorver 100 paciente/ mês, sendo que cerca de 20 a 30% serão 
graves (ISS > 16).
- Deve possuir:
• Diretor de Trauma
• Enfermeira de Trauma
• Acompanhamento horizontal
• Comitê de Óbitos
• Avaliação de performance (hospital e individual)
• Programa de Educação Continuada
• Atividades de Pesquisas
• Enfoque em prevenção 
• Atendimento 24 horas (equipes completas para realizar procedimentos)
- O hospital terciário líder de cada sistema pode ser responsável pelo treinamento dos médicos, 
das enfermeiras e dos demais profissionais de saúde envolvidos no atendimento ao doente 
traumatizado.
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Fluxo de Pacientes no Sistema de Trauma 
- Uma vez inserido no sistema de trauma, o doente sai de um hospital de maior complexidade 
para um de menor apenas se houver capacitação técnica e de recursos, ou absoluta exceção 
se não houver erro de avaliação.
- Como regra, o doente deve avançar dentro do sistema.
- Deve haver dentro sistema de trauma, uma pré-concordância a respeito dos critérios de 
transferência entre os hospitais que compõem a rede.

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