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343 ATLS – TRAUMA ABDOMINAL Capítulo 38 DO QUE VOCÊ PRECISA SABER? u A principal fonte de sangramento no choque hemorrágico por trauma é o abdome! u É contraindicada a realização de TC abdominal em paciente com instabilidade hemodinâmica. u Pacientes com lesão em transição toracoabdominais devem ser submetidos à laparoscopia! u O órgão mais acometido em trauma contuso é o baço, e por arma branca é o fígado. u É de suma importância sabermos especificamente sobre o trauma de órgãos específicos, principalmente diagnóstico e conduta, e as manobras envolvidas em cada situação. 1. ANATOMIA CIRÚRGICA DA CAVIDADE ABDOMINAL Vamos falar um pouco sobre a anatomia da cavidade abdominal voltada para a prática cirúrgica. 1.1. ANDARES ABDOMINAIS BASES DA MEDICINA A cavidade peritoneal é dividida pelo mesocólon transverso em dois andares: W Supramesocólico W Inframesocólico O andar supramesocólico contém o fígado, estômago, baço, ligamento falciforme, omento menor e a maior parte do omento maior, além da bolsa omental. Já o andar inframesocólico pode ser subdividido em direito (ou parte superior) e esquerdo (ou parte inferior), pela raiz do mesentério, e contém as alças jejunais e ileais, emoldura- das pelos colos ascendente, transverso e descendente. Figura 1. Imagem demonstrando o andar supramesocólico (em azul) e o andar inframesocólico (em vermelho). Essa divisão se dá pelo mesocólon transverso (amarelo). Fonte: Acervo do autor. ATLS – trauma abdominal Capítulo 38 344 1.2. BOLSA OMENTAL BASES DA MEDICINA A bolsa omental, ou retrocavidade dos epíplons, é um espaço virtual, amplo e irregular, situado em sua maior parte posterior ao estômago e omento menor. É uma dependência da cavidade peritoneal com a qual se comu- nica através do forame epiplóico (forame de Winslow). Os limites da bolsa omental são: W À esquerda: hilo esplênico. W À direita: comunica-se com a cavidade peritoneal, através do foram de Winslow. W Inferiormente: no recesso inferior da bolsa omental, entre a parede anterior e a parede posterior do omento maior (na altura do cólon transverso). W Superiormente: entre o fígado e o diafragma, como o recesso superior da bolsa omental. W Anteriormente: omento maior (ligamento hepatogás- trico e hepatoduodenal). W Posteriormente: pelo peritônio que recobre o pâncreas, suprarrenal esquerda, parte do rim esquerdo. O forame de Winslow (ou forame omental) esta- belece a comunicação entre a cavidade peritoneal maior e a retrocavidade dos epíplons (ou bolsa omental). Seus limites são representados pelo ligamento hepatoduodenal anteriormente, a veia cava posteriormente, o fígado superiormente e o duodeno inferiormente. Figura 2. Seta demonstrando o forame de Winslow. Fonte: Acervo do autor. Figura 3. Manobra de Pringle: clampeamento do pedículo hepático para controle vascular em sangramentos hepáticos. Note que o cirurgião coloca o dedo dentro do forame de Winslow para realizar essa manobra. Fonte: Acervo do autor. ATLS – trauma abdominal Cap . 38 345 Figura 4. Bolsa omental aberta. Fonte: Acervo do autor. 1.3. RETROPERITÔNIO BASES DA MEDICINA O retroperitônio é um espaço anatômico atrás (retro) da cavidade abdominal. Ele não possui estruturas anatômicas específicas que o delimitem. É a região situada entre a parede abdominal posterior e o peritônio parietal posterior. O conhecimento da anatomia retroperitoneal é essencial para a realização de cirurgias abdominais. As principais estruturas retroperitoneais são: X Pâncreas X Maior parte do duodeno (com exceção da parte inicial da 1ª porção) X Cólon ascendente, cólon descendente X Grandes vasos: aorta abdominal e veia cava inferior X Rins, ureteres e suprarrenais ATLS – trauma abdominal Capítulo 38 346 Figura 5. Cavidade retroperitoneal e suas principais estruturas. Note que no local do cólon ascendente e descendente não há peritônio na imagem, pois essas porções são retroperitoneais e foram retiradas na ilustração. Fonte: Acervo do autor. ATLS – trauma abdominal Cap . 38 347 Figura 6. Relação do cólon com o peritônio. Note que o cólon ascendente e o cólon descendente são fixos, pois são órgãos retroperitoneais. Já o cólon transverso e o sigmoide são móveis, pois situam-se na cavidade peritoneal. Fonte: Acervo do autor. FLASHCARD Qual a principal fonte de sangramento no choque he- morrágico por trauma? Abdome! Podemos dividir o tema em 4 partes: X Trauma abdominal fechado. X Trauma abdominal penetrante. X Trauma em transição toracoabdominal. X Trauma pélvico. X Trauma abdominal contuso. FLASHCARD Quais as principais vísceras acometidas no trauma abdominal contuso? Órgãos sólidos: baço e fígado. Não podemos esquecer que a principal etiologia do choque no trauma é a hemorragia e que o abdome é o principal foco de sangramento! As vísceras parenquimatosas (baço e fígado) são os principais órgãos lesados no trauma abdominal fechado! Mas como confirmar tudo isso? X Mecanismo de trauma é extremamente importante! X O exame físico só tem valor em pacientes cons- cientes e com peritonite! Nesses casos, a lapa- rotomia exploradora está indicada. X Temos 3 exames complementares que podemos usar para nos auxiliar: W Lavado peritoneal diagnóstico (LPD). W FAST (Focused Assessment Sonography for Trauma). W Tomografia computadorizada de abdome (TC). DICA Exame físico abdominal normal não garante que não exista lesão de vísceras! ATLS – trauma abdominal Capítulo 38 348 Quadro 1. Comparação entre LPD, FAST e TC no trauma abdominal contuso – ATLS. LPD FAST TC Vantagens • Diagnóstico precoce • Alta sensibilidade • Pode detectar lesão intestinal • Feito à beira-leito • Diagnóstico precoce • Não invasivo • Rápido • Pode ser repetido • Alta sensibilidade • Feito à beira-leito • Alta especificidade e sensibi- lidade • Não invasivo • Avalia bem retroperitônio, partes moles e ossos Desvantagens • Invasivo • Interfere nos achados de USG e TC subsequentes • Baixa especificidade • Não avalia retroperitônio nem dia- fragma • Operador dependente • Não avalia diafragma • Não avalia retroperitônio • Não pode ser feito à beira-leito • Estabilidade hemodinâmica é mandatória Indicações • Trauma fechado instável • Trauma penetrante sem indicação de laparotomia imediata • Trauma fechado instável • Trauma penetrante sem indi- cação de laparotomia imediata • Trauma fechado estável • Traumas penetrantes sem indi- cação de laparotomia imediata, especialmente de dorso e flanco Fonte: Autor. 1.4. FAST: FOCUSED ASSESMENT SONOGRAPHY FOR TRAUMA A avaliação ultrassonográfica direcionada para o trauma é de extrema importância e está indicada para pacientes INSTÁVEIS HEMODINAMICAMENTE, quando há suspeita de sangramento intra-abdomi- nal. O FAST possui alta sensibilidade e baixa espe- cificidade, isto é: ele consegue dizer se há líquido livre na cavidade, mas não identifica a origem do líquido (sangue, líquido entérico, bile, urina etc.). No cenário de trauma com um paciente instável, pode- mos assumir que esse líquido seja sangue, mas não conseguimos saber a etiologia do sangramento. FLASHCARD Trauma de abdome e choque. Exame? FAST ou LPD. DICA Trauma abdominal em paciente instável? FAST ou LPD. Não podemos esquecer que o FAST é um exame ope- rador-dependente! Mas, nas mãos de radiologistas experientes, possui uma alta sensibilidade quando há pelo menos 250-300 mL de líquido livre na cavi- dade. É bastante útil para detecção de sangramento proveniente de vísceras parenquimatosas (baço e fígado), mas possui baixa acurácia para lesões de vísceras ocas (estômago, delgado e cólon) devido ao baixo volume de líquido na cavidade. FLASHCARD Trauma de abdome, instabilidade hemodinâmica e FAST positivo. Conduta? Laparotomia! DICA Paciente instável e FAST positivo? Laparotomia exploratória é mandatória! FLASHCARD Quais são as 4 janelas do FAST? Espaço hepatorrenal, espaço esplenorrenal, janelasuprapúbica e saco pericárdico. ATLS – trauma abdominal Cap . 38 349 É um exame fácil, rápido e não invasivo. As janelas do FAST são: X Saco pericárdico (avalia tamponamento cardíaco). X Espaço hepatorrenal (espaço de Morrison). X Espaço esplenorrenal (quadrante superior es- querdo). X Janela suprapúbica (fundo de saco de Douglas). Figura 7. Janela pericárdica normal (AD: átrio direito; AE: átrio esquerdo; VD: ventrículo direito; VE: ventrículo esquerdo). Fonte: Bbertuzzi.1 Figura 8. Janela pericárdica positiva (setas demonstrando líquido no saco pericárdico). Fonte: Bbertuzzi.1 DICA O FAST avalia líquido livre na cavi- dade peritoneal; portanto, lesões retrope- ritoneais, de pâncreas ou de duodeno po- dem existir mesmo com o FAST negativo! Figura 9. A – Localização do probe US espaço hepatorrenal; B – imagem normal US; C – presença de líquido no espaço de Morrison (FAST+). Fonte: Flato.2 ATLS – trauma abdominal Capítulo 38 350 Figura 10. A – Localização do probe no espaço esplenorrenal; B – imagem ultrassonográfica normal; C – presença de líquido periesplênico. Fonte: Flato.2 Figura 11. FAST no espaço de Morrison. Fonte: Acervo do autor. Figura 12. FAST positivo em quadrante superior esquerdo: líquido entre o baço (Sp) e o diafragma (cabeça de setas brancas). PL é espaço pleural e o líquido livre está indicado pelo asterisco branco. Fonte: Acervo do autor. Figura 13. A – Posicionamento do transdutor em região de hipogástrio; B – corte transversal de um paciente do sexo masculino evidenciando bexiga e, posteriormente, o reto; C – presença de líquido livre posterior à bexiga e anteriormente ao reto. Fonte: Flato.2 ATLS – trauma abdominal Cap . 38 351 Figura 14. FAST positivo em janela suprapúbica em paciente com SVD (balonete insuflado). Fonte: Bbertuzzi.1 1.5. LAVADO PERITONEAL DIAGNÓSTICO O LPD ainda é tema frequente de prova, apesar de ser raramente realizado na prática. Na ausência do FAST ou de pessoa habilitada a fazê-lo, podemos utilizar o LPD. É um pequeno pro- cedimento cirúrgico realizado à beira-leito; portanto, existe a necessidade de médico com conhecimentos básicos de cirurgia. Pode ser realizado em trauma abdominal fechado em pacientes instáveis! Lembre-se: o abdome é a principal fonte de sangramento. E quando não devemos realizar o LPD? Caso nosso paciente já tenha indicação absoluta de cirurgia! X Ferimentos por arma de fogo. X Vítimas de FAB com peritonite. X Eviscerados. X Peritonite em pacientes com trauma fechado. 1.6. TÉCNICA Devemos entrar na cavidade peritoneal na linha média, geralmente em região infraumbilical (exceção para traumas pélvicos e gestantes). A fácil aspira- ção de sangue, conteúdo entérico ou bilioso, fibras vegetais ou fezes é indicativa de lesão de víscera oca, e a laparotomia está indicada! Caso contrário, devemos lavar a cavidade peritoneal com 1000 mL de solução cristaloide aquecida, aguardar que ela se espalhe adequadamente pela cavidade peritoneal e aspirar o líquido (mínimo de 200 mL). O teste será positivo se tivermos evidências diretas de conteúdo entérico, bilioso ou fecaloide. Se o teste for inconclusivo, o material deve ser enviado para análise laboratorial. DICA Assim como o FAST, o LPD avalia somente a cavidade peritoneal; portanto, lesões retroperitoneais, de pâncreas ou de duodeno podem existir mesmo com o LPD negativo! Tabela 1. LPD positivo • Conteúdo entérico, bilioso ou fecaloide (fibras vegetais) • Aspiração de sangue de forma fácil (> 10 mL) • > 100.000 hemácias por mm3 • > 500 leucócitos por mm3 • Presença de bactérias (Coloração por Gram) Fonte: Autor. ATLS – trauma abdominal Capítulo 38 352 1.7. TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA DE ABDOME FLASHCARD Trauma de abdome e estabilidade hemodinâmica. Exame? TC. A TC com contraste é mais completa e mais deta- lhada que o FAST ou LPD, pois pode trazer mais informações ao cirurgião. Possui alta sensibilidade e especificidade, podendo informar sobre a presença e a extensão de lesões de órgãos específicos, além de conseguir avaliar lesão de órgãos retroperitoneais e pélvicos. A TC consegue facilmente fazer o diagnós- tico de pneumoperitônio, de lacerações de vísceras parenquimatosas (especialmente baço, fígado e rins) e estimar o volume de líquido na cavidade. Entretanto, é um exame caro, nem sempre disponível e que requer a infusão de contraste. FLASHCARD Qual a contraindicação absoluta para realização de TC de abdome no trauma? Instabilidade hemodinâmica. DICA É condição obrigatória que o pa- ciente esteja hemodinamicamente ESTÁ- VEL para realizar a TC! Já sabemos que a TC faz facilmente o diagnóstico de lesões de órgãos sólidos. Mas e as vísceras ocas (estômago, delgado e cólon)? A sensibilidade da TC para lesões de vísceras ocas é menor, mas, havendo pneumoperitônio, a conduta é cirúrgica, pois ar livre na cavidade peritoneal significa que houve ruptura de alguma víscera oca. Em alguns casos, podemos encontrar líquido livre na cavidade. Como prosseguir? A grande maioria dos traumas hepáticos e esplê- nicos são de tratamento conservador (> 80%). Portanto, cirurgia na prova vai ser exceção! Fica reservada para pacientes muito graves, que não responderam à infusão de volume, transfusão e terapia por radiologia intervencionista. Quadro 2. Líquido livre na TC Conduta Com lesões de órgãos sólidos • Podemos assumir que esse líquido é sangue pro- veniente de lesão do órgão lesado (baço, fígado, pâncreas, rim etc.) • Conforme o órgão lesado e grau da lesão. • Conduta expectante em pacientes estáveis com traumas esplênicos ou hepáticos pequenos. • Conduta cirúrgica ou por radiologia intervencio- nista em pacientes instáveis com lesões maiores. Sem lesões de vísceras parenquimatosas • Um grande desafio para cirurgiões! • O líquido pode ser entérico/fecaloide (lesão de al- ças, estômago, cólon). • Sangue: pode ser secundário à lesão de mesentério • Urina: lesão de bexiga • Se paciente instável hemodinamicamente ou com peritonite: conduta cirúrgica. • Se paciente estável e sem peritonite: geralmente a videolaparoscopia diagnóstica está indicada para buscar as lesões descritas ao lado. • A conduta expectante, com exame físico seriado, não está completamente errada. Fonte: Autor. ATLS – trauma abdominal Cap . 38 353 Figura 15. Marca do cinto de segurança: tipicamente, esse achado está relacionado à lesão de mesentério. Na TC é possível visualizar líquido livre na cavidade abdominal (sangue), sem lesão de víscera parenquimatosa. Fonte: Prova da USP.3 DICA Grandes centros de trauma, espe- cialmente em São Paulo, costumam indi- car videolaparoscopia diagnóstica para pacientes com líquido livre em TC e sem lesão de víscera oca, mesmo para aque- les estáveis hemodinamicamente e sem peritonite! ATLS – trauma abdominal Capítulo 38 354 Fluxograma 1. Conduta do trauma abdominal fechado baseada em TC. TC de abdome Pneumoperitônio / Lesão de Víscera Oca Laparotomia Ausência de pneumoperitônio Lesão de víscera parenquimatosa Conduta conforme órgão lesado e grau de lesão Sem lesão de órgão sólido Sem líquido livre Presença de líquido livre Observação Suspeitar de lesão de mesentério ou de vísceras ocas - Líquido em grande quantidade - Mecanismo de trauma importante (marca do cinto de segurança) - Dor intensa - Alteração de sinais vitais Ausência de suspeita clínica Exame físico seriado Monitorização Exames laboratoriais seriado Provável Cirurgia Fonte: Acervo do autor. ATLS – trauma abdominal Cap . 38 355 Fluxograma 2. Fluxograma na conduta do trauma abdominal fechado. Trauma abdominal fechado Peritonite Cirurgia Ausência de peritonite ou impossibilidade de avaliar Estável hemodinamicamente Instabilidade hemodinâmica TC de abdome FAST ou LPD Se positivo = cirurgia Negativos: buscar outros focos de sangramento Fonte: Acervo do autor. 2. TRAUMA PÉLVICO A fratura de pelve tem alta mortalidadee correlação direta com choque hemorrágico e lesões intra-ab- dominais! Pelves instáveis sangram MUITO! A grande maioria dos sangramentos tem origem venosa e, portanto, cessa com a fixação óssea. Uma minoria tem origem arterial e, consequentemente, maior mortalidade. As fraturas pélvicas podem ser de alguns tipos: X Compressão anteroposterior (Fratura em livro aberto): 15-20% dos casos. X Compressão lateral: 60-70% dos casos. X Força de cisalhamento vertical – 5-15%. Após o atendimento inicial e exame físico da pelve, devemos fazer a radiografia de pelve, exame essen- cial na sala de trauma. ATLS – trauma abdominal Capítulo 38 356 Figura 16. Fratura em livro aberto. Note a importante disjunção da sínfise púbica. Fonte: Acervo do autor. Inicialmente, a estabilização da pelve pode ser feita com lençol, ainda na sala de trauma. O lençol deve ser colocado com tensão ao redor da pelve, a fim de fechar o anel pélvico, que está deformado. Ele deve ser colocado na altura dos trocanteres maiores! Além do lençol, existem dispositivos específicos para fixação temporária da pelve, como faixas e cintas. Mas elas não estão disponíveis facilmente no dia a dia. Figura 17. Opções de fixação temporária de pelve: lençol ou dispositivos específicos. Lembre-se: altura dos trocanteres maiores! Fonte: Acervo do autor. Essa fixação (lençol ou cinta) é temporária e irá reduzir o sangramento, mas não o cessar com- pletamente! E costuma ser eficaz somente para sangramentos venosos. FLASHCARD Três opções de tratamento para fratura de pelve? • Arteriografia com embolização. • Tamponamento pré-peritoneal. • Fixação externa. Lembre-se: existe uma relação direta de trauma pél- vico e lesões intra-abdominais. Portanto, devemos investigar se existe líquido livre na cavidade. Esse paciente provavelmente estará instável e, portanto, será submetido ao FAST ou LPD. Caso esses exames venham negativos, podemos assumir que o choque hemorrágico tem origem na fratura pélvica. E qual a conduta nesses casos? Temos 3 opções de tratamento para fratura de pelve: X Tamponamento pré-peritoneal (packing). X Arteriografia com embolização. X Fixação externa. A arteriografia com embolização é o melhor exame para tentar controlar sangramento com origem arterial e costuma ser a primeira opção antes da fixação externa. Quando indisponível, pode ser substituída pelo tamponamento pré-peritoneal com compressas. Após esses procedimentos, o paciente deverá ser submetido à fixação EXTERNA da pelve pela ortopedia. Quando a laparotomia exploradora está indicada, o cirurgião pode realizar o packing no mesmo tempo cirúrgico e depois encaminhar o doente para a fixação externa. Infelizmente, essa conduta não é regra absoluta. ATLS – trauma abdominal Cap . 38 357 Fluxograma 3. Avaliação inicial e fixação com lençol/cinta Sangue intraperitoneal? (FAST + ou LPD +) SIM Laparotomia ArteriografiaPacking Fixação externa NÃO Fonte: Autor. Figura 18. Exemplo de fixação externa da pelve. Fonte: AO.4 Figura 19. Exemplo de fixação externa da pelve. Fonte: Autor. ATLS – trauma abdominal Capítulo 38 358 2.1. TRAUMA PERINEAL O trauma perineal extenso costuma estar associado a pacientes politraumatizados graves e com fraturas pélvicas. A lesão nessa região, com perda de partes moles, requer um tratamento específico, devido às altas taxas de infecções e complicações. Figura 20. Extensa lesão perineal. Fonte: Prova da USP.3 Seu tratamento consiste em: X Limpeza do ferimento. X Desbridamento. X Hemostasia. X Tamponamento com compressas. X Colostomia/derivação de trânsito/transversos- tomia. X Lavagem do coto distal. X Antibioticoterapia sistêmica. X Curativos programados. O fechamento dessas lesões, seja com sutura pri- mária ou retalho cutâneo, nunca deve ser realizado! 3. TRAUMA DE TRANSIÇÃO TORACOABDOMINAL E LESÃO DIAFRAGMÁTICA Ferimentos penetrantes dessa zona podem cursar com lesão diafragmática em até 40% dos casos. No entanto, a real incidência é desconhecida pelo grande número de doentes com lesões assintomá- ticas. Lesões associadas ao trauma diafragmático estão presentes na maioria das vezes, sendo o pulmão, estômago, fígado, baço e colón os órgãos mais lesados. Também pode haver lesão diafragmática em trauma contuso, especialmente quando há compressão do abdome (aumento súbito da pressão intra-ab- dominal). A hérnia diafragmática é mais comum do lado esquerdo, pois à direita está o fígado, que, teorica- mente, impede que alças ascendam ao tórax. Mas isso não é regra absoluta! A lesão diafragmática pode vir a cursar com sintomas somente no futuro, secundária à compressão de vísceras ocas na hérnia diafragmática. Quadro 3. Limites da transição toracoabdominal. Anterior 4º espaço intercostal Posterior Ponta da escápula Lateralmente 6º espaço intercostal Fonte: Autor. Figura 21. Transição toracoabdominal. Fonte: American College of Surgeons.5 ATLS – trauma abdominal Cap . 38 359 No cenário de trauma, como podemos fazer esse diagnóstico? X Mecanismo de trauma. X R sugestivo (veja as imagens). X Bolha gástrica intratorácica ou presença de al- ças no tórax. X Presença de SNG no tórax. Figura 22. Rx de tórax com alças herniadas em hemitórax direito em cenário de trauma. Fonte: Diaphragmatic hernia.6 Figura 23. Rx de tórax hérnia diafragmática à esquerda. Fonte: Gerstenmaier.7 FLASHCARD Qual é a conduta de escolha para lesão em transição toracoabdominal? Videolaparoscopia. Mas então.... o que cai na prova? A conduta. Então, atenção agora! Pacientes com lesão em transição toracoabdominal devem ser submetidos à laparoscopia para avaliação do dia- fragma! Não existe exame de imagem que avalie bem sua integridade; assim, nada de pedir TC ou FAST! Veja as questões 12 e 13, no final do capítulo. DICA Hénia diafragmática = videolapa- roscopia diagnóstica e terapêutica! FLASHCARD Qual o órgão mais lesado em FAF e em FABs? FAF = delgado. FAB = fígado. 4. TRAUMA ABDOMINAL PENETRANTE Quadro 4. Quais os órgãos mais lesados, de acordo com o tipo de trauma? Tiro = Tripa (FAF = lesão de delgado) Batida = Baço (Trauma fechado = lesão esplênica) Facada = Fígado (FAB = lesão hepática) Fonte: Autor. O trauma abdominal penetrante pode ser decorrente de armas brancas (FAB) ou por projéteis de arma de fogo (FAF). Essa distinção é importante, pois o tipo de lesão intra-abdominal varia conforme o tipo de ferimento: ATLS – trauma abdominal Capítulo 38 360 FLASHCARD Conduta em FAF abdominal? Laparotomia. Tabela 2. Tipo de lesões conforme mecanismo de trauma. Trauma por arma de fogo Delgado (50%) Cólon (40%) Fígado (30%) Estruturas vasculares (25%) Trauma por arma branca Fígado (40%) Delgado (30%) Diafragma (20%) Cólon (15%) Fonte: Autor. Pacientes com FAF em região anterior do abdome têm uma chance extremamente elevada de lesões intra-abdominais. Por esse motivo, a conduta cirúr- gica é indicada na grande maioria dos casos de FAF! DICA TIRO NO ABDOME É IGUAL À LAPA- ROTOMIA EXPLORADORA! EM CASO DE FACADA, DEPENDE… Trauma penetrante por arma branca. Ferimentos por arma branca no abdome podem ou não penetrar a cavidade abdominal. Por esse motivo, a laparotomia nem sempre é indicada (dife- rentemente da conduta nos FAFs). E agora? Quando vamos indicar cirurgia nesses casos? Quadro 5. Indicações absolutas de cirurgia em casos de FAB. Cirurgia se: • Evisceração • Instabilidade he- modinâmica • Sinais claros de peritonite • Sangramento di- gestivo (hema- têmese, sangue em SNG ou san- gue retal) Fonte: Autor. O FAST é mandatório para FAB em andar superior, para avaliar pericárdio e afastar lesão cardíaca! Em pacientes estáveis e sem peritonite, a exploração digital da ferida deve ser realizada (com luva estéril e anestesia local) para avaliar se houve violação da cavidade peritoneal. Havendo violação da cavidade ou em caso de dúvida/ suspeita, a internação é mandatória, com exame físico seriado,exames laboratoriais e vigilância hematimétrica (Hb 8/8h) por 24 horas! DICA A penetração da cavidade por si só não é indicação absoluta de cirurgia! Se durante a internação o paciente apresentar insta- bilidade hemodinâmica ou peritonite, a laparotomia deve ser realizada. Caso ele permaneça estável e sem peritonite, mas apresente queda de hemoglo- bina (> 3g/dL) ou leucocitose, existem altas chances de laparotomia. Nesse caso, a tomografia compu- tadorizada pode auxiliar na conduta. Para facilitar a vida, veja o fluxograma! ATLS – trauma abdominal Cap . 38 361 Fluxograma 4. Conduta frente ao ferimento por arma branca (FAB). Exploração digital Estabilidade hemodinâmica, sem peritonite e sem evisceração Evidência de penetração na cavidade ou supeita de penetração Internação: exame �sico seriado e Hb 8/8h instabilidade hemodinâmica Cirurgia se queda de Hb, leucocitose, peritonite ou Sem penetração da cavidade Iniciar dieta, reavaliação e possível alta Instabilidade hemodinâmica, peritonite ou evisceração = CIRURGIA Fonte: Acervo do autor. Essa conduta mais conservadora é a apresentada pelo próprio Sabiston, mas sabemos que, cada vez mais, esses pacientes têm sido submetidos à videolaparoscopia diagnóstica quando aborda- dos em centros de referência para trauma. Ainda não há nenhum estudo significativo comparando a abordagem conservadora apresentada com a videolaparoscópica, mas é válido ressaltar que bancas de grandes centros de trauma podem cobrar a conduta como sendo a videocirurgia! Quadro 6. RESUMO PARA ÚLTIMA HORA. Trauma abdominal penetrante por arma de fogo • Delgado > Cólon > Fígado • Conduta é cirúrgica Trauma abdominal penetrante por arma branca • Fígado > Delgado > Diafragma > Cólon • Instabilidade hemodinâmica, peritonite ou evisceração: conduta cirúrgica • Pacientes estáveis e sem peritonite: exploração da ferida • Se exploração positiva: exame físico seriado e Hb 8/8h ATLS – trauma abdominal Capítulo 38 362 Trauma abdominal fechado • Vísceras parenquimatosas: Baço > Fígado. Risco de hema- tomas retroperitoneais • Sinais claros de peritonite = cirurgia • Exame físico normal não afasta lesão! • Instabilidade hemodinâmica = FAST ou LPD • Estabilidade hemodinâmica = tomografia de abdome • FAST ou LPD positivos e instabilidade = Laparotomia Trauma penetrante em transição toracoabdominal • Videolaparoscopia diagnóstica ou observação clínica seriada • Tomografia não avalia bem lesões diafragmáticas Fonte: Autor. Lembre-se de que, quando o ferimento por arma branca acomete flanco ou dorso e o paciente se apresenta estável, está indicada a tomografia com- putadorizada de abdome com triplo contraste (intra- venoso, oral e retal). 5. MANOBRAS CIRÚRGICAS NO TRAUMA Existem algumas manobras clássicas que podem ser utilizadas no intraoperatório para acessar órgãos lesados. Veja as explicações e imagens a seguir: Figura 24. Manobra de Pringle: clampeamento do pedículo hepático para controle vascular em sangramentos hepáticos. Fonte: Brunicard.8 Figura 25. Manobra de Cattel-Brasch: mobilização medial do cólon direito, a fim de acessar as estruturas retroperitoneais (veia cava inferior, aorta, vasos renais e vasos ilíacos). Fonte: Voglio.9 ATLS – trauma abdominal Cap . 38 363 Figura 26. Manobra de Kocher: mobilização medial do duodeno retroperitoneal (2ª porção) e cabeça do pâncreas: acesso ao pâncreas, face posterior do duodeno, veia cava inferior, aorta e vasos renais. Fonte: Mattox.10 Figura 27. Manobra de Kocher. Fonte: Kwon.11 Figura 28. Manobra de Mattox: mobilização medial do cólon esquerdo para exposição da aorta e seus ramos (em especial, controle vascular do tronco celíaco e artéria mesentérica superior). Fonte: Voglio.9 ATLS – trauma abdominal Capítulo 38 364 6. TRAUMA ABDOMINAL: LESÕES DE ÓRGÃOS ESPECÍFICOS 6.1. TRATAMENTO CONSERVADOR OU CIRÚRGICO? O tratamento conservador só pode ser considerado se tiver feito TC para estadiar o grau da lesão! Uma condição obrigatória para tratamento não operatório é a estabilidade hemodinâmica! Em caso de tratamento CIRÚRGICO, SEMPRE optar pela menor cirurgia possível, limitando-se a COR- RIGIR SOMENTE O QUE FOI LESADO. Por exemplo: Na laparotomia por um trauma esplênico, foi encon- trado um cisto ovariano. A conduta deve ser somente referente ao baço. Não devemos abordar o cisto. 6.2. BAÇO É o órgão mais acometido em traumas contusos! FLASHCARD Qual é o órgão mais acometido em traumas contusos? Baço. DICA Batida = lesão de Baço. Um sinal clínico clássico é o “sinal de Kehr”: dor referida em ombro ou escápula esquerda. FLASHCARD O que é o sinal de Kehr? Dor referida em ombro ou escápula esquerda. Quais os pré-requisitos para o TRATAMENTO CON- SERVADOR? X Estabilidade hemodinâmica (sinal de sangramen- to controlado). X Ausência de peritonite franca. X Lesões até grau 3 (isso é algo MUITO discutível, pois lesões grau 4 ou 5 em pacientes estáveis e sem peritonite podem ser submetidas a trata- mento conservador em alguns centros específi- cos de trauma). FLASHCARD Conduta cirúrgica na lesão esplênica? Instabilidade hemodinâmica + TC com lesão grau ≥ IV (“baço = 4 letras”). As indicações de laparotomia para lesão esplênica têm sido cada vez menores devido à presença da radiologia intervencionista com a embolização de vasos e melhores condições das UTIs. Tabela 3. Classificação do trauma esplênico. Grau Hematoma Laceração I • Subcapsular < 10% • < 1 cm II • Subcapsular 10 – 50% • Intraparenquimatoso < 5 cm • 1 – 3 cm, sem comuni- cação com vasos tra- beculares III • Subcapsular > 50% OU em expansão • Subcapsular roto • Intraparenquimatoso ≥ 5 cm OU em expansão • > 3 cm ou envolvendo vasos trabeculares IV — • Hilo esplênico (devas-cularização > 25%) V — • Fragmentação esplê- nica • Lesão hilar com desvas- cularização Fonte: Moore.12 ATLS – trauma abdominal Cap . 38 365 Figura 29. Classificação do trauma esplênico. Fonte: Moore.13 Quais as opções cirúrgicas terapêuticas? Quando o tratamento conservador não é possível, devido à piora clínica ou à ausência de radiologia intervencionista, podemos optar pela: X Esplenorrafia (sutura do parênquima). X Esplenectomia parcial. X Esplenecotmia total. A rafia do baço e a esplenectomia parcial vêm sendo pouco utilizadas. Como geralmente indicamos cirurgia somente para casos muito graves (grau V), em que há avulsão do hilo esplênico e desvas- cularização do órgão, a única conduta possível é a esplenectomia total. Mesmo lesões esplênicas graves, com múltiplas lacerações de parênquima, podem ser tratadas de forma conservadora se o paciente estiver muito bem clinicamente, sem peritonite e sem choque, como na Figura 30. Figura 30. Trauma esplênico grau IV/V. Fonte: Prova da USP.3 ATLS – trauma abdominal Capítulo 38 366 DICA A vacinação contra Pneumococo, Meningo e Haemophilus é mandatória após esplenectomias totais. A vacinação deve ser realizada somente 14 dias após a esplenectomia. 6.3. FÍGADO É o órgão mais acometido em perfuração por arma branca! E o segundo mais acometido em trauma fechado! FLASHCARD Qual o órgão mais acometido em perfuração por arma branca? Fígado. DICA Facada = lesão de Fígado. A opção pelo tratamento conservador segue a mesma linha de raciocínio do trauma de baço. O paciente deve estar hemodinamicamente estável e sem peritonite! FLASHCARD O que é a manobra de PRINGLE? Clampeamento das estruturas do hilo hepático. DICA Estabilidade hemodinâmica e au- sência de peritonite são critérios obrigató- rios para o tratamento conservador! Assim como no trauma de baço, a indicação de laparotomia tem sido cada vez mais rara, e o trata- mento conservador tem ganhado o cenário. Sempre que possível, iremos indicar observação clínica com exame físico e Hb seriado. Se existir a possibilidade de angioembolização pela parte da radiologia inter- vencionista, ela sempre deve ser optada antes da cirurgia(tratamento mais agressivo). Em traumas hepáticos muito graves, a cirurgia de controle de danos costuma ser uma opção (veja a seção de Cirurgia de Controle de Danos). Caso a conduta cirúrgica seja tomada, devemos sempre optar por ressecções hepáticas pequenas ou compressões manuais com compressas. O que é a manobra de PRINGLE? É o clampeamento do hilo hepático, isto é, da tríade portal (veia porta, artéria hepática e via biliar comum). Ao realizar essa manobra, todo o fluxo venoso e arterial do fígado é bloqueado. DICA A manobra de Pringle é essencial no trauma hepático. Caso o sangramento hepático cesse ao realizar essa manobra, podemos assumir que o sangra- mento tinha origem portal ou arterial. Por outro lado, sangramentos que não melhoram com essa conduta tendem a ser da veia cava inferior (segmento retro-hepático) ou das veias hepáticas. Figura 31. Manobra de Pringle: clampeamento do pedículo hepático para controle vascular em sangramentos hepáticos. Fonte: Brunicard.8 ATLS – trauma abdominal Cap . 38 367 Tabela 4. Classificação de trauma hepático. Graus Descrição da lesão I • Hematoma subcapsular, < 10 % de superfície de área • Ruptura capsular, < 1 cm de profundidade parenquimatosa II • Hematoma subcapsular, 10 – 50% de superfície de área • Intraparenquimatoso < 10 cm em diâmetro • Ruptura capsular 1-3 cm profundidade parenquimatosa, <10 cm de comprimento III • Hematoma subcapsular, > 50% de área superficial de ruptura subcapsular ou hematoma parenquimatoso; hematoma intraparenquimatoso > 10 cm ou em expansão • Laceração > 3 cm de profundidade parenquimatosa IV • Ruptura parenquimatosa envolvendo 25% a 75% do lobo hepático ou 1-3 segmentos de Couinaud V • Ruptura parenquimatosa envolvendo > 75% do lóbulo hepático ou > 3 segmentos de Couinaud dentro de um único lobo • Lesões venosas justapostas, ou seja, veia retro-hepática VI • Veias hepáticas principais centrais/Cava; avulsão hepática Fonte: Moore.13 Figura 32. Classificação do trauma hepático. Fonte: Asfar.14 ATLS – trauma abdominal Capítulo 38 368 6.4. VIAS BILIARES EXTRA-HEPÁTICAS FLASHCARD Conduta cirúrgica na lesão hepática? Instabilidade hemodinâmica ou TC com lesão grau ≥ VI (“fígado = 6 letras”). O reparo do colédoco pode ser primário (rafia sim- ples) em casos de lesões pequenas e simples. Muitos autores ainda acreditam que há necessidade do Dreno de Kehr (dreno em T dentro da via biliar), mas a medicina baseada em evidência vem trazendo essa discussão à tona novamente. Em transecções e perdas teciduais importantes, a anastomose biliodigestiva (hepaticojejunostomia em Y de Roux) passa a ser a conduta de escolha. DICA Independentemente do tipo de le- são, a drenagem da cavidade abdominal é mandatória. Não confunda: drenagem da cavidade (colocar o dreno na cavidade peritoneal, junto à rafia ou anastomose) é diferente de drenagem da via biliar (colocar o dreno dentro da via biliar). 6.5. LESÃO DE VESÍCULA BILIAR Muito simples: a conduta é a colecistectomia! 6.6. PÂNCREAS O pâncreas é órgão retroperitoneal e, por este motivo, o trauma pancreático tende a ser mais raro. Geralmente, lesões pancreáticas não são iso- ladas e costumam estar associadas a lesões de outros órgãos. Traumas da cabeça do pâncreas têm associação com o duodeno, enquanto traumas esplênicos podem estar associados a lesões da cauda do pâncreas. DICA Mecanismo de trauma pancreático clássico: acidentes de bicicleta com crian- ças, com trauma abdominal direto pelo guidão em abdome superior. O mecanismo de trauma mais comum para lesões de pâncreas e duodeno são traumas contusos em abdome superior (especialmente epigastro): impacto do guidão de bicicleta ou esmagamento por tanque de lavar roupa (síndrome do tanque – veja tópico específico abaixo). O tratamento difere dos traumas de baço e de fígado, porque a maioria possui indicação cirúrgica. Dida- ticamente, pode ser dividido em: X Porção proximal (cabeça + processo uncinado; à direita da v. mesentérica superior; íntima relação duodeno e colédoco). Frequentemente associa- da à lesão duodenal (2ª e 3ª porções) e lesões de via biliares. X Porção distal (corpo + cauda; à esquerda da veia mesentérica superior; próxima ao baço). Asso- ciação com trauma esplênico. Qual cirurgia? FLASHCARD Qual a principal complicação pós-operatória no trau- ma de pâncreas? Fístula pancreática. Depende se houve lesão do ducto pancreático prin- cipal e da localização do trauma! X Sem lesão do ducto pancreático principal → dre- nagem com ou sem reparo cirúrgico. X Com lesão do ducto pancreático principal: W Lesão do corpo e cauda → Pancreatectomia distal corpocaudal e drenagem da cavidade. W Lesão de cabeça → Duodenopancreactomia (cirurgia de Whipple): cirurgia muito mórbida e demorada. Casos muitos raros de trauma e alta mortalidade. ATLS – trauma abdominal Cap . 38 369 DICA A drenagem da cirurgia é parte fun- damental do tratamento, visto o altíssimo risco de fístula pancreática. A principal complicação pós-operatória no trauma de pâncreas é a fístula pancreática, acompanhada ou não de abscesso. DICA Quanto mais próxima à cabeça do pâncreas, maior a gravidade e maior o grau da lesão. Tabela 5. Classificação de trauma de pâncreas. Graus Descrição da lesão I • Contusão pequena sem lesão do ducto • Laceração superficial sem lesão do ducto II • Contusão importante sem lesão no ducto ou perda de tecido • Laceração importante sem lesão no ducto ou perda de tecido III • Transecção distal ou lesão parenquimatosa com lesão do ducto IV • Transecção proximal ou lesão parenquimatosa envolvendo ampola V • Ruptura maciça da cabeça pancreática Fonte: Moore.13 6.7. DUODENO Lembrar que duodeno é, em sua maior parte, RETRO- PERITONEAL (2ª e 3ª porções). Assim como o pân- creas, o duodeno é mais difícil de ser acometido! DICA Mecanismo de trauma duodenal clássico: acidentes de bicicleta com crian- ças (guidão em abdome superior) OU Coice de cavalos em epigastro. 6 .7 .1 . SINAIS RADIOLÓGICOS (RX/TC) X Gás no retroperitônio (retropneumoperitônio: delineando rins). 6 .7 .2 . TIPOS E CONDUTA X Retropneumoperitônio (perfuração) é sempre cirúrgico. X Contusão de duodeno: quadro clínico clássico é “COME E VOMITA”, pois o hematoma da parede duodenal vai levar a um afinamento da luz (cau- sando um quadro de obstrução alta). A conduta pode ser conservadora, de jejum oral por 2 sema- nas, com dieta por sonda nasoenteral e descom- pressão gástrica (sonda nasogástrica aberta). Tabela 6. Classificação de trauma de duodeno. Graus Descrição da lesão I • Hematoma envolvendo uma porção única do duodeno • Laceração de espessura parcial, sem perfuração II • Hematoma envolvendo mais de uma porção do duodeno • Ruptura < 50% da circunferência III • Ruptura de 50% – 75% da circunferência da se- gunda porção do duodeno • Ruptura de 50% – 100% da circunferência da primeira, terceira e quarta porções do duodeno IV • Ruptura envolvendo mais de 75% da circunfe- rência da segunda porção do duodeno • Envolvendo ampola ou ducto biliar comum distal V • Ruptura maciça duodenopancreático • Desvascularização do duodeno Fonte: Moore.13 7. FRATURA DE CHANCE É um tipo de fratura de vértebras toracolombares: envolve uma divisão horizontal da vértebra, come- çando no processo espinhoso e lâminas, estenden- do-se pelos pedículos e corpo vertebral, sem causar dano às estruturas ligamentares. ATLS – trauma abdominal Capítulo 38 370 FLASHCARD Quais órgãos abdominais têm correlação com fratura de vértebra lombar? Duodeno ou pâncreas. A fratura de Chance resulta do mecanismo de flexão- -distensão da coluna e apresenta forte associação com o uso do cinto de segurança e de lesões intra- -abdominais frequentes (especialmente duodeno e pâncreas). DICA Marca do cinto de segurança e fra- tura de vértebra lombar? Risco de lesão de duodeno e pâncreas. Figura 33. Fratura de Chance. Fonte: Heilman.15 7.1. SÍNDROMEDO TANQUE É um tipo específico de trauma provocado pela queda de um tanque de lavar roupas sobre uma criança. O mecanismo do trauma inicia-se quando uma criança, ao se dependurar no tanque não fixado apropriadamente no solo, cai sobre a própria criança. O epigástrio é a região mais atingida e nela os órgãos que mais sofrem o trauma são pâncreas e o duodeno. O tórax vem a seguir, podendo ocorrer traumatismos de arcos costais e lesão cardíaca. Na síndrome do tanque, o diagnóstico é habitualmente de um trauma fechado, que poderá ter uma ou mais vísceras atingidas e, consequentemente, os sinais e sintomas estarão na dependência da víscera atin- gida e das condições em que ocorreu o acidente. Figura 34. Síndrome do tanque. Fonte: Acervo do autor. 7.2. DELGADO Lesão de delgado não é lesão de duodeno: não confunda isso! DICA O sinal do cinto de segurança tem uma correlação direta com trauma de del- gado e trauma de mesentério. Qual a cirurgia? X Lesão pequena (< 50% da circunferência do del- gado): Rafia primária. X Lesão grande (> 50% da circunferência do delga- do): Ressecção e anastomose. A sutura de lesões grandes não pode ser realizada devido ao risco de estenose. ATLS – trauma abdominal Cap . 38 371 7.3. CÓLON E RETO O segmento mais afetado é o transverso, por ser mais anteriorizado que os demais. Qual a cirurgia? 1. Lesões pequenas (<50% da circunferência da parede): Rafia primária se: W Pouco tempo entra trauma e cirurgia (4 a 6h). W Estável hemodinamicamente. W Ausência de lesão vascular dessa área. 2. Colectomia segmentar com anastomose primária. W Paciente se encontra estável hemodinamica- mente, mas não preenche os critérios acima. 3. Colectomia segmentar com colostomia e sepul- tamento do coto distal (Cirurgia de Hartmann). W Paciente com instabilidade hemodinâmica = HARTMANN. (Sepultamento do coto distal e confecção de colostomia terminal com alça proximal) 4. Lesão de reto baixo (reto extraperitoneal): deri- vação de trânsito intestinal e drenagem de pelve e reto. Tabela 7. Classificação de trauma de cólon. Graus Descrição da lesão I • Contusão ou hematoma sem desvascularização • Laceração de espessura parcial, sem perfuração II • Laceração < 50% da circunferência III • Laceração ≥ 50% da circunferência sem transecção IV • Transecção do colón V • Transecção do cólon com perda de tecido seg- mentar • Segmento desvascularizado Fonte: Moore.13 Tabela 8. Classificação de trauma de reto. Graus Descrição da lesão I • Contusão ou hematoma sem desvascularização • Laceração de espessura parcial, sem perfuração II • Laceração < 50% da circunferência III • Laceração ≥ 50% da circunferência IV • Laceração de espessura total com extensão no períneo V • Segmento desvascularizado Fonte: Autor. 8. TRAUMA DE GRANDES VASOS: HEMATOMA DE RETROPERITÔNIO A principal causa de hematomas retroperitoneais são os ferimentos penetrantes de abdome. Por serem retroperitoneais, esses sangramentos geralmente são tamponados naturalmente pelo organismo. Por esse motivo, esses pacientes não apresentam franco choque hemorrágico nem líquido livre na cavidade peritoneal. Os hematomas retroperitoneais são divididos em 3 zonas. Figura 35. Divisão dos hematomas de retroperitônio (Zonas 1, 2 ou 3). Fonte: Mandell.16 ATLS – trauma abdominal Capítulo 38 372 Os hematomas de Zona 1 são hematomas da linha média secundários a lesões da aorta ou de seus principais ramos. São consideradas graves e deman- dam abordagem cirúrgica imediata. Os hematomas da Zona 2 têm localização lateral, ao redor da loja renal. Geralmente são decorren- tes de lesões dos vasos renais ou do parênquima renal. O hematoma ocasionado por lesão abdominal penetrante deve sempre ser explorado cirurgica- mente. No trauma abdominal fechado, devemos explorar somente os hematomas que estiverem em expansão! A Zona 3 é a porção inferior do abdome (região pél- vica). Hematomas dessa região são secundários a fraturas pélvicas (mais comum) ou lesão dos vasos ilíacos. De forma geral, a conduta não é cirúrgica, pois seu “destamponamento” pode resultar em intenso sangramento. Métodos alternativos como angioembolização ou packing (tamponamento pré- -peritoneal com compressas) são boas opções nesse caso. Tabela 9. Conduta conforme localização do hematoma retroperitoneal. Zona Principais estruturas Conduta I Aorta, veia cava inferior, origem dos vasos renais e principais vasos vis- cerais (tronco celíaco, mesentérica superior e mesentérica inferior), duodeno e pâncreas Abordagem cirúrgica sempre II Adrenais, rins, vasos re-nais, ureter e cólon Se ferimento penetrante = cirurgia Se ferimento contuso = exploração somente se hematoma em expansão ou sangramento ativo III Vasos ilíacos, ureter dis-tal, sigmoide e reto Conduta não cirúrgica: embolização ou packing pré-peritoneal Fonte: Autor. 9. TRAUMA UROLÓGICO Vamos dividir esse tópico em 3: X Trauma uretral. X Trauma vesical. X Trauma renal. 9.1. TRAUMA URETRAL A lesão uretral é associada mais frequentemente a fraturas pélvicas ou à “queda a cavaleiro”. Por ser mais longa e mais exposta do que a feminina, a ure- tra masculina é envolvida com maior frequência. A uretra pode ser lesionada em dois diferentes locais: X Uretra posterior. X Uretra anterior. A lesão de uretra posterior (segmentos prostático e membranoso) tem relação direta com fraturas pélvicas. Já a lesão de uretra anterior (uretra peniana e bulbar) tem associação com o trauma contuso, fratura peniana, queda a cavaleiro (esmagamento da uretra) e lesões iatrogênicas. DICA Trauma Pélvico tem relação com lesão de uretra Posterior (segmentos pros- tático e membranoso). Lesão de uretra Anterior (uretra peniana e bulbar) = queda A cavaleiro. Os principais sintomas são uretrorragia, retenção urinária com distensão da bexiga, equimose perineal, sangue no saco escrotal e próstata em posição alta identificada ao toque retal (próstata flutuante). FLASHCARD Qual a tríade clássica da lesão de uretra? Uretrorragia, retenção urinária e bexigoma. ATLS – trauma abdominal Cap . 38 373 E qual a tríade clássica da lesão de uretra? X Uretrorragia. X Retenção vesical: incapacidade de urinar. X Globo vesical palpável (bexigoma). Quadro 7. Quando suspeitar de lesão de uretra? • Trauma pélvico • Uretrorragia • Equimose perineal • Sangue no saco escrotal • Próstata cefalizada/Próstata flutuante • Globo vesical palpável (bexigoma) Fonte: Autor. O cateterismo vesical está formalmente contrain- dicado nesses casos, pois pode agravar a lesão. O diagnóstico é feito por meio da uretrografia retró- grada, e o tratamento consiste na cistostomia supra- púbica. A uretroplastia é realizada tardiamente. 10. TRAUMA VESICAL A lesão da bexiga é mais frequente após trauma- tismo fechado, geralmente associado à fratura de bacia (70% dos casos) ou à contusão, acometendo o andar inferior do abdome. FLASHCARD Qual é o exame de escolha para avaliar trauma vesical? Uretrocistografia retrógrada. A lesão da bexiga pode ser extraperitoneal ou intraperitoneal. As lesões extraperitoneais estão associadas à fratura da pelve por perfuração dos fragmentos ósseos. Já a ruptura intraperitoneal é secundária a traumatismos fechados em andar infe- rior de abdome, especialmente se a bexiga estiver cheia (ocorre explosão da bexiga). O principal sinal de lesão vesical é hematúria franca. Se estivermos frente a uma suspeita de lesão de bexiga, devemos solicitar uma cistografia retrógrada. DICA A Uretrocistografia retrógrada é o exame de escolha para avaliar trauma vesical. A cistografia da ruptura intraperitoneal é bastante clássica e tem mais chances de cair na prova! Nes- sas imagens, conseguimos ver contraste dentro da cavidade peritoneal (o contraste sobe e fica entre as alças). Veja as imagens a seguir: Figura 36. Cistografia retrógrada mostrando lesão intraperitoneal de bexiga (note o extravasamento do contraste para a cavidadeperitoneal). Fonte: Platter.17 ATLS – trauma abdominal Capítulo 38 374 Figura 37. Cistografia retrógrada com lesão intraperitoneal de bexiga: imagem em orelha de cachorro: o contraste sobe para as alças. Fonte: Platter.17 Já a cistografia da ruptura extraperitoneal é mais rara e de difícil visualização. Temos algumas ima- gens a seguir: Figura 38. Cistografia com lesão extraperitoneal de bexiga. Note que não há extravasamento para cavidade, somente pouco contraste junto à bexiga, especialmente à direita. Fonte: Bladder Rupture Intraperitoneal and Extraperitoneal.18 Figura 39. Cistografia com lesão extraperitoneal de bexiga. Note que não há extravasamento para cavidade, somente pouco contraste junto à bexiga. Fonte: Nourian.19 ATLS – trauma abdominal Cap . 38 375 Figura 40. Cistografia com lesão extraperitoneal de bexiga. Note que não há extravasamento para cavidade, somente pouco contraste junto à bexiga, em região inferior esquerda. Fonte: Christ emergency medicine.20 Cuidado! O tratamento varia de acordo com o tipo de lesão: X Lesões intraperitoneais: laparotomia com rafia da lesão. X Lesões extraperitoneais: conduta conservadora com descompressão vesical (sonda de Foley por pelo menos 14 dias). 10.1. TRAUMA RENAL O trauma renal é pouco frequente e está presente em somente 10% dos traumas abdominais fechados. Sempre devemos suspeitar em caso de acidentes automobilísticos com contusão direta e fratura de costelas inferiores, especialmente se houver hematúria! Lembre-se disso: a hematúria, apesar de inespecífica, é a manifestação mais frequente do trauma renal. FLASHCARD Quando pensar em trauma renal? Hematúria + história de contusão em flanco. DICA Trauma renal: Hematúria + história de contusão em flanco ou região lombar. Na suspeita de lesão renal, o exame padrão-ouro é a TC de abdome com contraste em três fases (arterial, venosa e excretora). Mas cuidado! Não podemos esquecer que a estabilidade hemodinâmica é con- dição obrigatória para a realização da tomografia. A lesão renal pode ser classificada conforme a Figura 41: Figura 41. Classificação do trauma renal. Fonte: Cury.21 Tabela 10. Classificação do trauma renal. Classificação do Trauma renal Conduta I Contusão ou hematoma subcapsular não expansivo. Sem laceração parenquimatosa. ConservadoraII Hematoma perirrenal não expansivo. Laceração do córtex renal com extensão inferior a 1 cm. Sem extravasamento urinário. III Laceração parenquimatosa superior a 1 cm. Sem ruptura do sistema coletor ou extravasamento urinário. ATLS – trauma abdominal Capítulo 38 376 Classificação do Trauma renal Conduta IV Laceração atingindo córtex, medula e sistema coletor. Lesão da artéria ou veia renais segmentares, com hemorragia contida. Controverso… V Várias lacerações de grau 4: rim completamente fragmentado. Avulsão do pedículo com desvascularização renal. Cirúrgico Fonte: Moore.13 A conduta conservadora representa quase 90% no trauma renal fechado! Lesões graus I, II e III sempre são de conduta expectante, com repouso, analgesia, reavaliação clínica e vigilância hematimétrica. Há quem defenda cirurgia para os traumas renais grau IV, mas a tendência atual é adotarmos uma conduta não operatória em pacientes hemodinamicamente estáveis, sobretudo quando a lesão do rim foi decor- rente de contusão abdominal. As indicações cirúrgicas em pacientes estáveis ficam reservadas para quando há extravasamento urinário extenso, lesão do “pedículo renal” ou trom- bose veia renal. 11. SÍNDROME COMPARTIMENTAL ABDOMINAL E CIRURGIA DE CONTROLE DE DANOS A síndrome compartimental abdominal (SCA) é uma complicação grave, secundária ao aumento exage- rado da pressão intra-abdominal (PIA), causando significativa morbidade e mortalidade. A pressão intra-abdominal (PIA) em situações fisiológicas não se mantém acima de 5-10 mmHg. Elevações acima de 12 mmHg já são consideradas patológicas e denominadas hipertensão intra-ab- dominal (HIA). Tabela 11. Classificação da HIA. Grau Pressão I 12 – 15 mmHg II 16 – 20 mmHg III 21 – 25 mmHg IV > 25 mmHg Fonte: Autor. A síndrome compartimental abdominal (SCA) é uma situação grave, decorrente da elevação sus- tentada e intensa da pressão intra-abdominal (PIA com consequentes disfunções orgânicas). Temos a ocorrência de SCA quando a PIA supera valores de 20 mmHg associados à disfunção orgânica! 11.1. ETIOLOGIA Qualquer anormalidade que induza a elevação da pressão no interior da cavidade abdominal pode levar à HIA. Destacaremos aqui as mais comuns para a sua prova: X Pós-operatório de hérnias volumosas com perda de domicílio. X Trauma abdominal e pós-operatório de trauma abdominal. X Complicações de abdome agudo inflamatório (em especial, pancreatite e diverticulite). X Pós-operatório de cirurgias abdominais complexas. X Transfusão maciça. X Sepse. O trauma contuso com hemorragia intra-abdomi- nal é a causa mais comum de HIA e SCA. Nesses casos, há distensão importante e edema das alças secundário ao trauma e à grande infusão de volume (cristaloides e sangue). 11.2. REPERCUSSÕES As consequências da SCA são muitas e multior- gânicas: ATLS – trauma abdominal Cap . 38 377 X No território abdominal ocorre redução da perfu- são esplâncnica (o que gera acidose e dilatação intestinal, piorando a HIA e pronunciada redução da perfusão renal – insuficiência renal). X A pressão comprime o diafragma e transmite-se ao tórax, gerando uma hipertensão intratorácica conjunta. Acontece um transtorno ventilatório restritivo e necessidade de elevação dos pa- râmetros ventilatórios na ventilação mecânica (PEEP). O retorno venoso também é prejudica- do, diminuindo a pré-carga e, por conseguinte, o débito cardíaco. Vamos traduzir isso para o português bem simples? A pressão dentro do abdome aumenta; portanto, tudo que está lá dentro fica apertado (sob pres- são). Se está apertado, não consegue funcionar direito, chegando menos sangue nas alças (isquemia mesentérica), menor perfusão renal (oligúria e IRA). A pressão intratorácica aumenta também, comprime os pulmões e impede uma ventilação adequada. Não é fácil? Fizemos um esquema para facilitar o entendimento: Fluxograma 5. Fisiopatologia da SCA. Aumento da pressão abdominal ⬆ Pressão Intratorácica ⬆ PIC ⬇ Retorno VenosoIRA ⬇ Fluxo renal ⬇ Débito Urinário ⬇ Débito cardíaco ⬇ Volume de ejeção ⬆ Volume diastólico final ⬆ Resistência vascular periférica Hipoxemia Hipercarbia Dificuldade de ventilação ⬆ Pressão venosa central ⬆ Pressão em via aérea Isquemia de extremidades Isquemia orgânica Fonte: Autor. Quadro 8. Repercussões clínicas da HIA. Repercussões clínicas Sistema nervoso central: • Elevação da PIC • Diminuição da PPC Sistema cardiovascular: • Hipovolemia • Diminuição do débito cardíaco • Diminuição do retorno venoso • Aumento da PAP e da PVC • Aumento da resistência vascular periférica Repercussões clínicas Sistema respiratório: • Elevação da pressão intratorácica • Aumento das pressões ventilatórias • Diminuição da complacência torácica • Alteração da relação ventilação/perfusão Sistema digestivo: • Diminuição do fluxo sanguíneo esplâncnico • Isquemia de mucosa e aumento da translocação bacteriana ATLS – trauma abdominal Capítulo 38 378 Repercussões clínicas Sistema urinário: • Diminuição do débito urinário • Diminuição da perfusão renal • Diminuição da taxa de filtração glomerular Parede abdominal: • Diminuição da complacência abdominal Fonte: Autor. 11.3. DIAGNÓSTICO O diagnóstico da SCA deve ser realizado por meio da mensuração da pressão intravesical. Esta deve ser realizada com instilação de 25 mL de solução salina estéril intravesical, e o transdutor de pressão deve ser “zerado” no ponto de cruzamento da projeção da linha axilar média com a crista ilíaca. 11.4. TRATAMENTO Os princípios básicos essenciais para o tratamento de HIA e SCA são os seguintes: X Monitorização seriadada PIA. X Otimização da perfusão sistêmica e da função orgânica. X Instituição de intervenções clínicas específicas para controle e redução da PIA. X Descompressão cirúrgica imediata para PIA re- fratária às medidas anteriores. Ações como reduzir o tônus da musculatura tora- coabdominal com sedação, analgesia e bloqueio neuromuscular potencialmente reduzem a PIA para níveis mais baixos. O uso de sonda nasogástrica, enema e descompressão endoscópica são outros métodos simples e minimamente invasivos que podem auxiliar no manejo desses pacientes. Agentes estimuladores da motilidade gastrintestinal, como bromoprida, metoclopramida ou neostigmina, ainda não demonstraram evidências confiáveis de seus efeitos sobre a evacuação do conteúdo intraluminal do intestino e a consequente diminui- ção do volume total da víscera. No entanto, tais medicamentos ainda são rotineiramente utilizados por diversos serviços. DICA Mas atenção: todas essas medidas são adjuvantes! O tratamento padrão-ouro é a descompressão cirúrgica por meio de laparotomia xifopúbica mediana. Uma vez aplicada a cirurgia de controle de danos no caso de pacientes politraumatizados ou resol- vidas as causas primárias que induziram a SCA, o abdome deve preferencialmente ser deixado aberto, em peritoniostomia. Quadro 9. Tratamento da SCA. • Reduzir o tônus da musculatura toracoabdominal • Sedação • Analgesia • Bloqueio neuromuscular • Redução da pressão intra-abdominal • Sonda nasogástrica • Sonda retais/enema • Descompressão endoscópica • Estimuladores da motilidade gastrintestinal • Bromoprida • Metoclopramida • Neostigmina • Laparotomia descompressiva Fonte: Autor. 11.5. CIRURGIA DE CONTROLE DE DANOS: DAMAGE CONTROL Esse não é um tema muito cobrado nas provas de R1, mas vamos aproveitar o contexto e rever alguns conceitos básicos! O paciente politraumatizado crítico apresenta um desarranjo metabólico importante, secundário a um ciclo vicioso composto por acidose metabólica, ATLS – trauma abdominal Cap . 38 379 hipotermia e coagulopatia. Esse ciclo, se não ces- sado, irá levar o paciente à exaustão fisiológica e morte, mesmo sob as mãos do mais habilidoso cirurgião. A cirurgia de controle de danos visa, por- tanto, controlar de maneira não definitiva as lesões do doente, antes que a tríade letal se instaure. FLASHCARD Qual é a tríade letal no paciente politraumatizado? Hipotermia, acidose metabólica e coagulopatia. A ideia é abreviar a cirurgia, levar o paciente para a UTI com o “abdome aberto” (curativo a vácuo, peri- toneostomia ou bolsa de Bogotá), tentar estabilizar o doente e melhorar seu estado clínico para, num segundo momento, realizar o tratamento cirúrgico definitivo. DICA Tríade letal: hipotermia, acidose metabólica e coagulopatia. Se estivermos à frente de um trauma MUITO grave, com um paciente chocado, recebendo muito volume de sangue e o autor nos disser que ele está hipotér- mico e com pH baixo, devemos lembrar da Cirurgia de Controle de Danos! Ela consiste em: X Controle do sangramento (tamponamento hepá- tico com compressas). X Controle da contaminação da cavidade: sutura de orifícios ou ressecção de alças. Não devemos reconstruir o trânsito ou realizar anastomoses nesse momento! Podemos deixar alças gram- peadas em fundo cego. Após um período de aproximadamente 24-72h na UTI, esses pacientes deverão ser submetidos a novo procedimento cirúrgico (second look) para controle definitivo das lesões. Figura 42. Grande edema de alças após cirurgia de urgência por diverticulite aguda complicada. Perceba que não há possibilidade de fechamento da cavidade abdominal sem aumento da pressão intra-abdominal. Fonte: Autor. Figura 42. Curativo de peritoneostomia a vácuo (Cirurgia de Controle de Danos). Fonte: Autor. ATLS – trauma abdominal Capítulo 38 380 DIA A DIA MÉDICO ULTRASSOM NA SALA DE TRAUMA O ultrassom em trauma vem ganhando espaço na literatura médica, especialmente nos serviços de emergência, desde a década de 1980. Na Europa, este método diagnóstico tem sido utilizado também na fase pré-hospitalar para a avaliação do doente traumatizado. Vários estudos com- parativos entre ultrassom, tomografia e lavado peritoneal já foram realizados a fim de avaliar a utilidade diagnóstica de cada método. O ultrassom em trauma é realizado na própria sala de reanimação, por equipe treinada, permitindo um diagnóstico oportuno de hemorragia potencialmente fatal e a indicação precoce de tratamento cirúrgico. Ini- cialmente, o exame foi dirigido para a região abdominal, e em 1996 adotou-se o termo FAST (Focused Abdominal Sonogram for Trauma). Posteriormente, no mesmo ano, o método foi incluído nos programas de treinamento do Suporte Avançado de Vida no Trauma (ATLS) do Colégio Americano de Cirurgiões e ampliou-se a definição do FAST para o que atualmente conhecemos como ava- liação focada por ultrassonografia para o paciente com trauma (Focused Assessment with Sonography for the Trauma patient). No Brasil, o ultrassom em emergências e trauma já é uti- lizado em diversos serviços de urgência, na maioria das vezes com o exame sendo realizado pelo médico radiolo- gista, com formação específica. Poucos serviços do país dispõem de radiologista de plantão nas 24 horas do dia, e menos ainda têm um aparelho de ultrassom disponível na sala de urgência do pronto-socorro. O ultrassom em emergências e trauma deve ser realizado por um médico com a devida capacitação. Sabe-se que é um método operador-dependente, com alta sensibilidade e espe- cificidade em mãos treinadas, usualmente de médicos radiologistas, mas o exame pode ser realizado por outro especialista desde que adequadamente treinado. É uma arma propedêutica importantíssima que vem ganhando cada vez mais espaço, mesmo em pacientes estáveis. Não temos dúvidas de que o ultrassom é o novo estetoscópio. REFERÊNCIAS (IMAGENS E TABELAS) 1. Bertuzzi. FAST / EFAST – focused assessment with sonography for trauma. [Internet]. Nerdicina. [acesso em 27 out 2019]. Dis- ponível em: http://www.nerdicina.com.br/nerdicina/2016/05/05/ ultrassonografia-a-beira-do-leito-o-que-e-isso/. 2. Flato UAP, Guimarães HP, Lopes RD, Valiatti JL, Flato EMS, Lorenza RG. Utilização do FAST-Estendido (EFAST-Extended Focused Assessment with Sonography for Trauma) em terapia intensiva 299. Rev Bras Ter Intensiva. 2010; 22(3): 291-9. 3. Prova da USP – acesso direto 2019. 4. AO. [Internet]. [acesso em 27 out 2019]. Disponível em: www. aofoundation.org. 5. American College of Surgeons. Advanced Trauma Life Support – ATLS. 9. ed. Chicago: American College of Surgeons; 2012. 6. Diaphragmatic hernia. Radiology – SVU Hospital. [Internet]. [acesso em 27 out 2019]. Disponível em: http://www.svuhradio- logy.ie/case-study/diaphragmatic-hernia/ 7. Gerstenmaier JF. Radiology Quiz 22191. Radiopedia. [Internet]. [acesso em 27 out 2019]. Disponível em: https://prod-images. static.radiopaedia.org/play/1758/entry/23570/case/22191/stu- dies/22216?lang=us. 8. Brunicard FC. Schwartz’s Principles of Surgery. 9th Ed. New York: The McGraw-Hill Companies; 2010. 9. Voglio EJ, Dubuisson V, Massalou D, Baudoin Y, Caillot JL, Létou- blon C, et al. Abbreviated laparotomy or damage control lapa- rotomy: Why, when and how to do it? J Visc Surg. 2016; 153(4 Suppl): 13-24. 10. Mattox KL, Moore EE, Feliciano DV. Trauma. 7th Ed. New York: The McGraw-Hill Companies; 2012. 11. Kwon E, Demetriades D. Duodenum. In Demetriades D., Inaba K., Velmahos G. (Eds.). Atlas of Surgical Techniques in Trauma. Cambridge: Cambridge University Press; 2015. 12. Moore EE, Cogbil TH, Malangoni MA, Jurkovich G, Champion HR. Scaling system for organ specific injuries. The American Asso- ciation for the Surgery of Trauma. [Internet]. [acesso em 27 out 2019]. Disponível em: http://www.aast.org/library/traumatools/ injuryscoringscales.aspx. 13. Moore EE, Cogbill TH, Jurkovich GJ, Shackford SR, Malangoni MA, Champion HR. Organ injury scaling: spleenand liver (1994 revision). J Trauma. 1994; 38(3): 323-4. 14. Asfar S, Khoursheed M, Al-Saleh M, Alfawaz AA, Farghaly MM, Nur AM, et al. Management of liver trauma in kuwait. Med Princ Pract. 2014; 23(2): 160-6. 15. Heilman J. A chance fracture of T10 and fracture of T9 due to a seatbelt during an MVC. Wikipedia. [Internet]; 2011. [acesso em 27 out 2019]. Disponível em: https://en.wikipedia.org/wiki/ Chance_fracture#/media/File:PchancefracCT.png. 16. Mandell SP. Overview of the diagnosis and initial management of traumatic retroperitoneal injury. UpToDate [Internet]; 2018. [acesso em 27 out 2019]. Disponível em: https://www.uptodate. com/contents/overview-of-the-diagnosis-and-initial-manage- ment-of-traumatic-retroperitoneal-injury. 17. Platter DL, Vaccaro JP, Nelson EL. Bladder Trauma Imaging. Medscape. [Internet]; 2018. [acesso em 27 out 2019]. Disponível em: https://emedicine.medscape.com/article/377735-overview. 18. Bladder Rupture Intraperitoneal and Extraperitoneal. Learning radiology. [Internet]. [acesso em 27 out 2019]. Disponível em: http://learningradiology.com/archives04/COW%20101-Blad- der%20Rupture/bladderrupturecorrect.htm. ATLS – trauma abdominal Cap . 38 381 19. Nourian A. Bladder Rupture. Radiopaedia. [Internet]. [acesso em 27 out 2019]. Disponível em: https://radiopaedia.org/cases/ bladder-rupture-5?lang=us>. 20. Christ emergency medicine. ACMC Emergency Medicine. [Internet]. [acesso em 27 out 2019]. Disponível em: http://www. christem.com/acmcem-conf-notes/2014/5/29/conference-no- tes-5-28-2014.htmL. 21. Cury J, Mesquita JLB, Pontes J, Oliveira LCN, Cordeiro M, Coelho RF. Trauma urológico. Rev Med (São Paulo). 2008; 87(3): 184-94. ATLS – trauma abdominal Capítulo 38 382 QUESTÕES COMENTADAS Questão 1 (SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE/SP – 2013) Um homem de 25 anos de idade foi vítima de ferimento por arma branca, próximo à cicatriz umbilical. Tem sangramento dis- creto. Não tem outras lesões. Glasgow: 15. PA: 110 × 80 mmHg. Pulso: 90 bpm. Nesse caso, ⮦ a exploração local do ferimento com anestesia local pode evitar laparotomia não terapêutica. ⮧ deve-se fazer FAST (Focused Assessment with Sonography for Trauma); se positivo, indicar lapa- rotomia. ⮨ deve-se fazer LPD (Lavagem Peritoneal Diagnós- tica); se positiva, indicar laparotomia. ⮩ o FAST (Focused Assessment with Sonography for Trauma) consegue diferenciar a dor de lesão de víscera da dor da lesão de parede abdominal. ⮪ se não tiver dor abdominal significativa, deve-se fazer tomografia, para decidir a conduta. dificuldade: Resolução: Se um ferimento penetrante de abdome estiver presente num paciente estável, sem peritonite e sem evidências grosseiras de penetra- ção da cavidade peritoneal, como evisceração de omento ou de alça intestinal, a exploração digital local, sob adequada técnica de assepsia/antissep- sia e anestesia local, é um recurso extremamente útil. Nos últimos anos, temos visto uma tendência maior na realização de tomografias e/ou exploração da cavidade abdominal com videolaparoscopia. Se essa questão fosse mais recente (depois de 2018), poderíamos pedir recurso, pois a letra “E” não está completamente errada nos dias atuais. Em pacientes estáveis, muitos centros de trauma costumam reali- zar exames de imagem para guiar a conduta. ✔ resposta: ⮦ Questão 2 (HOSPITAL CENTRAL DA POLÍCIA MILITAR/RJ – 2014) No trauma de bexiga, as opções abaixo estão corretas, EXCETO: ⮦ A associação com fratura de ossos da pelve é bastante comum. ⮧ Hematúria é o sinal mais frequente. ⮨ As lesões extraperitoneais costumam ser cau- sadas por perfuração de fragmentos ósseos adjacentes. ⮩ As lesões de reto associadas ocorrem principal- mente no trauma aberto. ⮪ O manejo da maioria das lesões intraperitoneais é conservador, não cirúrgico, devendo apenas manter sonda de Foley por 14 dias. dificuldade: Resolução: Discorre sobre trauma de bexiga, cujo sintoma típico é a hematúria macroscópica. O trauma de bexiga pode apresentar ruptura intraperi- toneal (trauma contuso) ou extraperitoneal (associa- do à fratura de bacia, podendo cursar com lesões de outros órgãos pélvicos, como o reto), e o tratamento diverge de acordo com o local da ruptura. O trauma de bexiga intraperitoneal é mais grave e necessita de intervenção cirúrgica para sutura do órgão, enquanto o trauma extraperitoneal é tratado de forma conser- vadora, apenas com sondagem vesical de demora por 10 a 14 dias. ✔ resposta: ⮪ ATLS – trauma abdominal Cap . 38 383 Questão 3 (UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO – 2019) Mulher de 24 anos, ví- tima de atropelamento por motocicleta, é admitida em centro hospitalar de trauma. Encontra-se com via aérea pérvia, murmúrios vesiculares presentes e simétricos, frequência cardíaca 90 bpm, pressão arterial 115 x 75 mmHg, tempo de enchimento ca- pilar normal, consciente, orientada, pupilas isocó- ricas e fotorreagentes. Dor abdominal em flanco e hipocôndrio esquerdos. Realizada tomografia de abdome, demonstrada a seguir. As demais fases do exame não trouxeram informações adicionais. Qual é a conduta? ⮦ Laparotomia para esplenectomia. ⮧ Laparotomia para “controle de danos”. ⮨ Tratamento não operatório. ⮩ Laparoscopia para hemostasia. dificuldade: Resolução: Tema cada vez mais cobrado em prova: tratamento conservador de trauma de vísceras parenquimatosas! Mesmo com um baço “explodido”, essa conduta é possível em pacientes estáveis he- modinamicamente, clinicamente bem e sem perito- nite! Nessas questões o autor vai nos colocar frente a dois cenários distintos: 1. Frente a um paciente grave, chocado, com muita dor e que responde mal à reanimação volêmica inicial. 2. Paciente também grave, mas que respondeu ao atendimento inicial: melhoraram os parâmetros clí- nicos (não está mais hipotenso nem taquicárdico) e tem dor, mas não tem peritonite. A conduta no paciente 1 é cirúrgica, já no paciente 2 é internação em UTI com Hbs seriados e exame físico constante! ✔ resposta: ⮨ Questão 4 (ASSOCIAÇÃO MÉDICA DO RIO GRANDE DO SUL – 2017) Em víti- mas de trauma abdominal penetrante por projétil de arma de fogo, é correto afirmar que: ⮦ A regra é a indicação cirúrgica, independente- mente do estado hemodinâmico da vítima. ⮧ A regra é a observação clínica, só operando se houver instabilidade hemodinâmica. ⮨ Se deve tratar todos os casos com laparotomia ressuscitativa. ⮩ Se deve tratar os casos com relaparotomias programadas. ⮪ Se deve tratar os casos com peritoniostomia. dificuldade: Resolução: Em mais de 90% dos casos de trauma penetrante por arma de fogo em abdome, a indicação é de cirurgia, independentemente do esta- do hemodinâmico do paciente. Porém, se o trauma for em flancos ou dorso e o paciente estiver estável, ATLS – trauma abdominal Capítulo 38 384 podemos solicitar uma TC de abdome para melhor investigação. Contudo, a regra é indicar cirurgia. ✔ resposta: ⮦ Questão 5 (HOSPITAL ISRAELITA ALBERT EINSTEIN/SP – 2017) Passagei- ro do banco da frente (carona), 34 anos de idade, com cinto de segurança, foi vítima de acidente automobilístico, contra um anteparo fixo. Chega ao pronto-socorro 30 minutos após o acidente, imobilizado em prancha longa, com colar cervical locado e hemodinamicamente normal. Ao exame físico nota-se equimose transversal e horizontal ao longo da região do hipogástrio, exatamente onde estava o cinto de segurança. Refere mínima dor à palpação abdominal. O exame Focused Abdominal Sonogram for Trauma – FAST mostra presença de líquido livre na cavidade abdominal confirmado por tomografia de abdome, a qual não mostra lesão de vísceras parenquimatosas. A principal causa dos achados de imagem é: ⮦ Perfuração de cólon. ⮧ Lesão de intestino delgado. ⮨ Hematoma duodenal. ⮩ Fratura de bacia. ⮪ Ruptura de estômago. dificuldade: Resolução: Vítima de acidente automobilísti- co, que estava no banco da frente (carona) do carro, apresenta-se com equimose transversal e horizontalao longo da região do hipogástrio, exatamente no local do cinto de segurança. Ao FAST, presença de líquido livre na cavidade abdominal, confirmado por TC de abdome, que NÃO MOSTRA LESÃO DE VÍS- CERAS PARENQUIMATOSAS, como fígado ou baço, as mais comuns no trauma contuso. Portanto, esta- mos diante de uma provável lesão de VÍSCERA OCA, bastante sugestiva diante de um quadro de trauma abdominal com Líquido livre + Ausência de lesão em víscera oca. Pela localização e maior exposição aos traumas, o INTESTINO DELGADO é que prova- velmente foi lesionado nesse paciente em questão. ✔ resposta: ⮧ Questão 6 (UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO – 2018) Homem de 24 anos de idade foi vítima de ferimento por faca em 7º es- paço intercostal, linha axilar média esquerda. Está hemodinamicamente estável e sua radiografia de tórax é normal. Qual é a conduta para o caso? ⮦ Ultrassom de abdome (FAST). ⮧ Tomografia de tórax e abdome. ⮨ Laparoscopia. ⮩ Drenagem de tórax. dificuldade: Resolução: Questão nos traz um paciente víti- ma de lesão diafragmática em região toracoabdomi- nal, e o exame padrão-ouro para avaliar essa região é a LAPAROSCOPIA. ✔ resposta: ⮨ Questão 7 (FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS DA UNICAMP/SP – 2018) Ho- mem, 34a, sem comorbidades, realizou tomografia computadorizada com contraste endovenoso por trauma abdominal contuso, onde se evidenciou lesão hepática. São indicações de tratamento não operatório, EXCETO: ⮦ Queda na hemoglobina de 12 g/dL para 9 g/dL. ⮧ Presença de extravasamento de contraste (blush) na lesão. ⮨ Moderada quantidade de líquido livre intraperi- toneal, em dois quadrantes. ⮩ Existe disponibilidade de hemoderivados. dificuldade: Resolução: O manejo de lesões hepáticas em trauma abdominal contuso, sem outros achados, pode ser realizado de maneira conservadora na maioria dos casos estáveis. Sinais de instabilidade hemodi- nâmica, peritonite e pneumoperitônio são indicativos de tratamento cirúrgico. A presença de Blush na le- são indica sangramento ativo, e a CD inicial pode ser ATLS – trauma abdominal Cap . 38 385 arteriografia com embolização. Se falhar, é indicado tratamento cirúrgico. ✔ resposta: ⮧ Questão 8 (SANTA GENOVEVA COMPLEXO HOSPITALAR – 2017) No trauma abdominal contuso, a víscera MAIS frequentemen- te lesada é: ⮦ Intestino delgado. ⮧ Diafragma. ⮨ Íleo. ⮩ Baço. dificuldade: Resolução: Esta é a típica questão que temos que decorar. Segundo o ATLS, o baço é o órgão mais acometido nos traumas abdominais fechados (40 a 55%), seguido do fígado (35-45%) e intestino delga- do (10%). ✔ resposta: ⮩ Questão 9 (SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DE SÃO PAULO – 2017) Homem, 23 anos, vítima de queda de moto com trauma em região lombar esquerda é atendido na sala de emergência. Seus dados vitais são: pressão arterial igual a 90 x 60 mmHg, pulso de 110 batimentos por minuto, frequência respiratória de 22 movimentos respiratórios por minuto e escala de coma de Glas- gow igual a 14. Ausculta pulmonar normal e FAST negativo. A sonda vesical mostra hematúria. O pa- ciente refere dor em região lombar esquerda, na qual se nota hematoma local. Foi realizada reposi- ção volêmica com 1 000 mL de solução cristaloide aquecida, com boa resposta. Devido à cinemática do trauma, realizou-se tomografia de corpo inteiro, que mostrou lesão renal grau IV, segundo a classi- ficação da American Association for the Surgery of Trauma (AAST), com blush. A melhor conduta em relação a esse achado é realizar: ⮦ lombotomia e nefrectomia esquerda. ⮧ tratamento não operatório. ⮨ laparotomia mediana e nefrectomia esquerda. ⮩ drenagem do hematoma guiado por ultrasso- nografia. ⮪ cistoscopia e passagem de duplo J, que deve ser mantido por duas semanas. dificuldade: Y Dica do autor: Lembre-se! Atualmente, cada vez mais indicamos tratamentos não operatórios e menos invasivos para as lesões traumáticas de ór- gãos sólidos! Alternativas A e C: INCORRETA. Paciente sem indica- ção de laparotomia exploradora, pois encontra-se estável hemodinamicamente e não apresenta lesão renal que exija tratamento operatório (Grau V) Alternativa B: CORRETA. Paciente apresenta lesão re- nal grau IV, no momento sem indicação de laparoto- mia. Todavia, essa lesão deve ser bem caracterizada quanto à presença de blush arterial, que indica san- gramento ativo e demanda algum tipo de controle do sangramento, podendo ser realizada arteriogra- fia; e quanto à lesão de via coletora, que demanda a colocação de um cateter duplo J para drenagem da via urinária. Alternativa D: INCORRETA. Não realizamos drenagem percutânea de hematomas renais, salvo em casos de eventuais infecções. Questão 10 (HOSPITAL MUNICIPAL DR. MÁRIO GATTI – 2015) Jovem de 16 anos é levado ao serviço de urgência, após ter sido vítima de ferimento por arma branca em região de mesogastro. Apresenta-se com pouca dor local, sem irritação peritoneal, eupneico e estável hemo- dinamicamente. Ao exame do ferimento, observa-se lesão cutânea de 10 mm e sem sangramento ativo. Qual a melhor conduta inicial? Assinale a alterna- tiva correta abaixo. ⮦ Lavado peritoneal. ⮧ Ultrassom Fast na sala de urgência. ⮨ Laparotomia exploradora imediata. ⮩ Exploração de ferimento para pesquisar da inte- gridade da aponeurose abdominal. ATLS – trauma abdominal Capítulo 38 386 dificuldade: Resolução: No trauma abdominal penetrante, devemos avaliar inicialmente se o abdome é cirúrgico (presença de peritonite, instabilidade hemodinâmica ou evisceração). No caso acima, não há informações que nos levem a pensar em dizer que o abdome é ci- rúrgico. Sendo assim, devemos realizar a exploração digital da ferida. Caso não haja violação do peritônio, deve-se suturar o ferimento, aplicar vacina antitetâ- nica e dar alta. Caso haja violação do peritônio, de- ve-se observar o paciente por 24 horas, com exame físico e hemograma seriados a cada 8 horas. Caso o paciente venha a desenvolver abdome cirúrgico neste período, indica-se laparotomia. Caso evolua com queda de hemoglobina maior que 3 pontos ou leucocitose, pode-se realizar TC ou LPD antes da abordagem cirúrgica. ✔ resposta: ⮩ Questão 11 (UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO – 2020) Homem, 37 anos de idade, foi vítima de ferimento por arma branca (faca de cozinha) na região periumbilical há 1 hora. Admitido no serviço: A: Falando (hálito etílico), sa- turação de 96% em ar ambiente B: Sem alterações C: FC: 76bpm, PA: 140x70 mmHg. Realizado FAST: negativo D: Glasgow 15 E: Obeso (IMC 41kg/m2), com ferimento na parede anterior do abdome, de 2 cm, próximo à cicatriz umbilical, sem sangramento ativo, com dor apenas no local. Dorso sem altera- ções. Qual é a melhor conduta? ⮦ Tomografia de abdome. ⮧ Laparoscopia diagnóstica. ⮨ Repetir FAST em 6 horas. ⮩ Radiografia de abdome em 3 posições. dificuldade: Resolução: Questão muito boa e atualizada! A laparoscopia diagnóstica tem sido cada vez mais utilizada para FAB de parede anterior! Perceba que o autor da questão nem colocou “exploração local do ferimento” nas alternativas. Lembre-se: essa conduta tem sido cada vez mais aceita em grandes centros de trauma e essa questão foi da USP, um dos maiores centros de trauma no Brasil. Mas e se o autor tivesse colocado “exploração local do ferimento” como uma das alternativas? Ainda assim deveria ser marcada a “ laparoscopia diagnóstica”, pois é a conduta que está na “moda” e caiu em um grande centro de trauma! ✔ resposta: ⮧ Questão 12 (UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO – 2018) Homem de 24 anos de idade foi vítima de ferimento por faca em 7º es- paço intercostal, linha axiliar média esquerda. Está hemodinamicamente estável e sua radiografia de tórax é normal. Qual é a conduta para o caso? ⮦ Tomografia de tórax e abdome. ⮧ Laparoscopia diagnóstica. ⮩ Ultrassom FAST ⮪ Drenagem de tórax dificuldade: Resolução: Questão fácil para aquele aluno que reconheceu que se trata de um ferimento em transição toracoabdominal, pois
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