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1 MOTIVAÇÃO NO ESPORTE E NA ATIVIDADE FÍSICA 1 Sumário NOSSA HISTÓRIA .................................................................................. 2 INTRODUÇÃO ..................................................................................... 3 ATIVIDADES DO ESPORTE ............................................................... 4 CONDIÇÕES DO ESPORTE ............................................................... 6 ORIENTAÇÕES SUBJETIVA DOS PARTICIPANTES ......................... 8 DEFINIÇÃO DE ESPORTE: UMA PROPOSTA ................................. 10 MOTIVAÇÃO À PRÁTICA DE ATIVIDADES FÍSICAS: UM ESTUDO COM PRATICANTES NÃO-ATLETAS ......................................................... 12 RESULTADOS E DISCUSSÃO ......................................................... 19 CONCLUSÃO .................................................................................... 24 A MOTIVAÇÃO NO CONTEXTO DA TEORIA DA AUTODETERMINAÇÃO DE DECI E RYAN ................................................. 26 MÉTODO ........................................................................................... 29 RESULTADOS ................................................................................... 31 CONCLUSÕES, LIMITAÇÕES E PERSPECTIVAS PARA NOVOS ESTUDOS .................................................................................................... 40 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................... 43 2 NOSSA HISTÓRIA A nossa história, inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós-Graduação. Com isso foi criado a instituição, como entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior. A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação. A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. 3 INTRODUÇÃO Quando amigos discutem o resultado de uma partida de futebol ou alguém lê a seção de esportes de algum jornal, ou ainda quando um hotel anuncia que oferece esportes aos hóspedes, ninguém fica confuso sobre o significado do termo. Contudo, para entender o esporte do ponto de vista acadêmico, é necessário desenvolver algo mais do que uma simples definição do termo. Embora seja óbvio que nenhuma disciplina acadêmica pode progredir sem desenvolver definições precisas daquilo que ela estuda, toda tentativa para desenvolver uma definição científica de um termo largamente usado na linguagem popular apresenta problemas. Para definir precisamente uma palavra muito comum como esporte, muito de suas conotações precisam ser eliminadas e seus significados devem ser limitados de maneira que restringirão seu uso. A intenção aqui não é confundir ou mistificar, apenas definir esporte de modo que ajude a entender sua relação com a vida social. Poderíamos dizer que um grupo de crianças jogando bola durante o recreio, no pátio de uma escola do ensino fundamental estão praticando esporte? Esta atividade é bem diferente daquela que ocorre no estádio do Morumbi, Pacaembu ou Maracanã. Será que correr é esporte? E fazer musculação? Jogar Ping Pong? Corridas de carros? E xadrez? Para responder perguntas como essas se precisa especificar que tipo de atividades pode ser classificado como esporte. Há ainda a possibilidade que algumas atividades possam ser classificadas como esporte sob certas circunstâncias, mas não quando essas circunstâncias mudam. Por exemplo, o surfe, escalada, paraquedismo, são sempre atividades descritas como esporte? É claro que não, por isso devemos nos preocupar com as condições necessárias para certas atividades serem classificadas como esporte. 4 Finalmente, pode o esporte ser diferenciado de outras atividades, como a brincadeira ou o trabalho, sem considerar outra coisa além da natureza da atividade e do contexto que ele ocorre? Ou temos que considerar o envolvimento subjetivo e a motivação dos participantes? Quando o único objetivo da participação é uma expressão pessoal espontânea (como no caso dos meninos jogando bola no recreio), podemos dizer que os participantes estão envolvidos no esporte ou numa brincadeira? E se o objetivo dos participantes é entreter uma audiência com o propósito de receber um salário, isso é esporte ou trabalho? Com essas questões, parece que há três condições a considerar no desenvolvimento de uma definição de esporte: 1 – Esporte refere-se a tipos específicos de atividades; 2 – Esporte depende das condições sob as quais as atividades acontecem; 3 – Esporte depende da orientação subjetiva dos participantes envolvidos nas atividades. ATIVIDADES DO ESPORTE Muitas definições de esporte incluem a noção que ele é uma atividade física. Em outras palavras, ele envolve o uso de atividades motoras, proeza física ou esforço físico. Isto já delimita o conceito, mas diferentes atividades físicas claramente variam na sua caracterização de habilidade motora, proeza ou esforço. Por exemplo, os fatores físicos de jogar xadrez são mínimos. A habilidade motora exigida não vai além de ser capaz de mover as peças sem derrubar as outras do tabuleiro. Apesar da possibilidade da partida ser longa e ser cansativa emocionalmente e fisicamente, a concentração e outras habilidades cognitivas são os fatores determinantes nesse jogo. Assim, xadrez não envolve o uso de habilidades motoras relativamente complexas, nem esforço físico vigoroso, por isso não seria esporte. O mesmo poderia se dizer do jogo de cartas, dama, trilha, etc. Embora elas exigem estratégias cognitivas complexas, nenhuma delas exige esforço físico vigoroso e embora elas 5 envolvam movimentos, as habilidades motoras são limitadas a ações simples com variações simples. Uma outra atividade difícil de classificar é a corrida de carros. Ela envolve a combinação de pessoa e máquina, exigindo uma concentração mental intensa e um grande conhecimento das limitações mecânicas do carro, além de habilidades motoras como reações rápidas e altamente coordenadas. Qual destes elementos é o mais importante é difícil de dizer. A atividade física exigida é cada vez menor e não necessita de um programa de treinamento como aqueles usados pelos participantes de outras atividades esportivas mais vigorosas, no entanto exige uma prática considerável para conseguir a velocidade de reação e as habilidades motoras necessárias para dirigir o carro. Nesse caso pode-se argumentar que a corrida de carros é um esporte porque envolve o uso de habilidades motoras complexas. Estes dois exemplos, xadrez e automobilismo ilustram que a determinação do que é atividade física complexa e o que não é, pode ser difícil. Onde a linha é colocada entre física e não física, entre complexa e simples e entre vigorosa e não vigorosa é puramente arbitrária. Até agora ninguém desenvolveu um conjunto de critérios testados para classificar consistentemente várias atividades como esporte e não esporte em termos de fatores físicos. Além das diferenças em atividade física, também há diferenças nos vários movimentoscorporais usados na participação esportiva. Habilidades motoras complexas podem se referir à coordenação, equilíbrio, rapidez ou precisão, enquanto proeza física e esforço implicam no uso da velocidade, força, resistência ou a combinação das três. As atividades compreendidas por estes termos são numerosas. Elas incluem desde uma rotina simples na trave de equilíbrio, a levantar pesos ou derrubar um oponente na luta de judô ou ainda manobrar uma motocicleta numa competição de motocross. Certamente, nem todas atividades que envolvem habilidades motoras complexas ou esforços físicos vigorosos estariam classificados como esporte. As atividades devem acontecer sob certas condições. 6 CONDIÇÕES DO ESPORTE Para uma atividade física ser classificada como esporte, ela deve ocorrer sob um conjunto particular de circunstâncias. A participação em atividades físicas pode acontecer em situações que vão do informal e desestruturada ao formal e organizada. Por exemplo, dois amigos decidem espontaneamente “chutar bola” no gol de futebol. Isso é obviamente diferente de um jogo de campeonato entre São Paulo e Santos, no qual há um resultado e regras específicas que devem ser cumpridas, daí a presença de um árbitro e auxiliares. Mas ambas as situações envolvem uma atividade física descrita como futebol. Serão eles ambos esportes? Se a nossa definição não diferenciar o que ocorre no bate bola dos dois amigos com o que ocorre no Morumbi entre São Paulo e Santos, teremos dificuldades para relacionar o esporte com a sociedade. A natureza e as consequências dessas duas atividades são diferentes. E a definição deve refletir as diferenças. De acordo com muitos sociólogos do esporte, o esporte é caracterizado por alguma forma de competição que ocorre sob condições formais e organizadas. Isto significa que São Paulo e Santos no exemplo acima estão fazendo o que chamamos de esporte, mas os dois amigos chutando bola não! Em outras palavras, o fenômeno esporte envolve uma atividade física competitiva que é institucionalizada. Competição neste caso é definida como um processo através do qual o sucesso é medido diretamente pela comparação das realizações daqueles que estão executando a mesma atividade física, com regras e condições padronizadas. Institucionalização é um conceito sociológico que se refere a um conjunto de comportamentos normalizados ou padronizados durante um certo tempo e de uma situação para outra. Quando dizemos que o esporte é uma atividade física institucionalizada, competitiva, os elementos da institucionalização geralmente incluem o seguinte: 1 – As regras da atividade são padronizadas. 7 Isto significa que as regras não são simplesmente o produto de um simples grupo que se reúne informalmente e não são apenas expressões espontâneas de interesses e preocupações individuais. No esporte, as regras do jogo definem um conjunto de procedimentos com guias e restrições. 2 – O cumprimento das regras é feito por entidades oficiais. Quando os resultados individuais ou de equipes são comparados de uma competição ou campeonato para outras é necessário que alguma entidade oficial que programa as competições assegure que as regras foram obedecidas e as condições padronizadas. 3 – Os aspectos técnicos e organizacionais da atividade se tornam importantes. A competição combinada com a exigência de regras externas conduz a atividade para se tornar cada vez mais racionalizada. Isto significa que os jogadores e treinadores têm que desenvolver estratégias e programas de treinamento para aumentar suas chances de sucesso. Também os equipamentos esportivos, tênis, uniformes, materiais, etc. são desenvolvidos e produzidos para aumentar o rendimento. 4 – A aprendizagem das habilidades esportivas se torna mais formalizada. Com a organização e as regras da atividade se tornam mais complexas elas devem ser aprendidas sistematicamente. E como a preocupação de ter sucesso aumenta, os participantes procuram a orientação de especialistas. Além do treinador, outros elementos são requisitados como preparador físico, médico, psicólogo, massagista, fisioterapeuta, nutricionista, etc. Em resumo, a transformação de uma atividade física competitiva em esporte, geralmente envolve a padronização e imposição de regras e o desenvolvimento formal de habilidades. Em outras palavras, a atividade se torna padronizada e regularizada. Em termos sociológicos, ela passa por um processo de institucionalização. 8 ORIENTAÇÕES SUBJETIVA DOS PARTICIPANTES Será que a existência do espore depende das orientações subjetivas daqueles que estão envolvidos na atividade? Alguns dizem que as orientações subjetivas dos participantes são irrelevantes, enquanto que outros argumentam que a participação no esporte é necessariamente caracterizada por um “espírito esportivo”, onde os participantes devem estar primeiramente motivados pela satisfação intrínseca do envolvimento na atividade. Outros ainda argumentam que nos esportes de alto nível, altamente organizados extinguem a existência do “espírito esportivo” e que os participantes são motivados somente por fatores externos como dinheiro, troféus, medalhas e fama. Todos esses enfoques podem ser convincentes. Pensando no meu próprio envolvimento no esporte (isto é, na atividade física competitiva, organizada) lembro-me bem das vezes em que a força principal da minha participação era o espírito esportivo. O esporte era chamado “amador” para diferenciar do esporte “profissional”. No amador não havia recompensas financeiras. Contudo, também posso me lembrar das vezes em que eu ia competir apenas por causa da equipe e da bolsa de estudo que eu recebia. Então meus motivos eram intrínsecos e às vezes extrínsecos. Por isto é difícil descartar totalmente as opiniões. Parece que há possibilidade de reconciliar os argumentos. Um sociólogo do esporte de nome Stone ofereceu uma explicação em um artigo clássico sobre a natureza do esporte. Para ele o esporte é composto de dois tipos de comportamentos: brincar e exibir. “Brincar” refere-se ao comportamento que surge da preocupação pessoal do participante com a dinâmica da própria atividade. A brincadeira é “uma atividade livre que se coloca de maneira bastante conscienciosa fora da vida normal, sendo “não séria” não ligada a interesses materiais... confinada em seus próprios limites... e que acontecem de acordo com regras fixas, como conceituou HUIZINGA (1955). Na mesma linha, CALLOIS (1979) considera a brincadeira uma atividade livre, separada, incerta, improdutiva e governada pelo “faz de conta” e regras. “Exibir”, ao contrário, refere-se ao comportamento que 9 simbolicamente representa a ação da atividade com o objetivo de torná-la divertida para a assistência. O que Stone sugeriu é que o esporte é diferente da brincadeira. O esporte não tem a liberdade e a espontaneidade da brincadeira. Ele é organizado e estruturado, mas não a ponto de destruir as brincadeiras que dele se originam. O esporte não é desempenhado de acordo com um roteiro pré-planejado; ao contrário, ele se revela de um momento para outro de acordo com as escolhas e as ações das pessoas envolvidas. Em outras palavras, a organização e a estrutura coexistem com a liberdade e a espontaneidade. Usando a argumentação de Stone podemos dizer que o esporte depende de uma combinação de orientações subjetivas dos participantes. O esporte ocorre quando a motivação baseada na satisfação intrínseca do envolvimento coexiste com a motivação baseada nas recompensas externas. Se esse equilíbrio for quebrado de forma que a motivação intrínseca substitua todas as preocupações pelos motivos externos, a organização e a estrutura da atividade esportiva se transformam em uma forma de pura brincadeira. É o caso do nosso futebol aos sábados com os amigos. Jogamospara nos divertir, embora muitos acham que é por causa da cerveja depois do jogo. Se o equilíbrio for quebrado na outra direção, de forma que os motivos externos substituam todas as satisfações intrínsecas associadas com o envolvimento, a atividade muda de enfoque para o poderíamos chamar de “espetáculo”. Nas sociedades industrializadas contemporâneas, as chances de motivação intrínseca substituir a extrínseca são muito pequenas. O contrário é mais provável. Fatores externos como dinheiro, fama, prêmios, estão se tornando cada vez mais predominantes no esporte durante estes últimos anos. Porém, se isto substituir toda motivação intrínseca, o esporte se transformará em espetáculo. O próprio STONE (1955) já previu esta possibilidade ao dizer que se o esporte se tornar comercializado, os espectadores serão em número muito maior do que os participantes, e os espectadores, como o próprio nome indica, encorajariam o espetacular, a exibição. Quando os participantes começam a “perder a esportiva” e quando as recompensas externas e a satisfação da audiência se tornarem predominantes, qualquer esporte está em perigo de se transformar em uma forma de espetáculo. Isto já aconteceu com muitos 10 esportes, basta verificar o calendário extenso do futebol ou nos horários de jogos para satisfazer a televisão. A existência do esporte depende do equilíbrio entre a motivação intrínseca e a motivação extrínseca. Não precisa ser um equilíbrio de 50 por cento para cada um, mas quando uma delas se tornar insignificante, a atividade se transformará em qualquer coisa, com estrutura diferente, dinâmica diferente e consequências diferentes para as pessoas envolvidas. Deve ser colocado que durante um evento esportivo é possível para os participantes alterar as fontes de motivação da intrínseca para a extrínseca e vice-versa. Isto significa que em certas ocasiões o espírito esportivo pode ser a fonte maior de motivação e em outras os participantes estão motivados pelos fatores externos como dinheiro, troféu, aprovação dos pais, treinadores, ou dos espectadores. Muitas pessoas que estiveram envolvidas no esporte podem dar exemplo disto, quando elas estiveram tão absorvidas na própria atividade que ela parecia até conduzi-los. Contudo, esse estado de motivação intrínseca não dura para sempre. Quando ele diminui, a fonte de motivação intrínseca deve ser suplementada por motivação extrínseca. Desta maneira o espírito esportivo é substituído temporariamente com preocupações com motivos externos. DEFINIÇÃO DE ESPORTE: UMA PROPOSTA À luz das três condições discutidas é possível definir esporte da seguinte maneira: “Esporte é uma atividade competitiva institucionalizada que envolve esforço físico vigoroso ou o uso de habilidades motoras relativamente complexas, por indivíduos, cuja participação é motivada por uma combinação de fatores intrínsecos e extrínsecos”. Avaliando esta ou qualquer outra definição, deve ser lembrado que uma definição é somente um instrumento. Serve para especificar em algum nível de precisão, o significado subentendido por uma certa palavra. No caso, deverá haver ainda uma certa confusão em relação à precisa aplicação do termo esporte como foi definido. 11 Esta definição proposta é do ponto de vista sociológico e se refere ao que é popularmente descrito como esporte organizado. Isto foi feito para distinguir o que acontece num recreio de escola com o que ocorre nos Jogos Olímpicos. Os eventos de corridas durante os Jogos estão claramente de acordo com a definição, mas não é o caso para os corredores que vem à USP no sábado. Correr com os amigos sábado de manhã, certamente envolve esforço físico vigoroso, mas, não é uma forma de competição institucionalizada. Em vez de descrevermos tal atividade como esporte, seria mais apropriado chamá-la recreação. Recreação é uma atividade em sua maior parte engajada voluntariamente pela pessoa, diferente em caráter daquelas atividades que exercem pressão física ou mental sobre a pessoa na sua vida diária e que tem efeito de “refrescar” a mente e o corpo. A recreação é mais relacionada com a brincadeira do que com o esporte, mas, ao contrário da brincadeira, é geralmente uma resposta às preocupações da vida e não totalmente sem relação com elas, ou seja, quase sempre o objetivo é se separar temporariamente das pressões e responsabilidades associadas com as posições ocupadas no dia-a-dia. Faz-se recreação para o alívio ou liberação, para uma recriação do indivíduo em relação a fatores pessoais como as tensões emocionais, frustrações, estresses, etc. Se um corredor desafiar outro corredor para uma corrida, essa corrida se torna uma forma de competição ou contenda. Ela é competitiva, mas se desenvolve de uma maneira mais ou menos informal. Somente quando os dois corredores seguirem as regras formalizadas e se confrontarem sob as condições padronizadas podemos dizer que estão praticando esporte, de acordo com nossa definição. Muitos podem arguir que esta definição exclui muito daquilo que o povo e a imprensa costumam chamar de esporte. Este argumento é legítimo, não é necessário alterar seu conceito de esporte quando você conversa com seus amigos ou lê alguma revista esportiva. Contudo quando se discute coisas tais como: se o esporte é relacionado à agressão; se a participação esportiva afeta as crianças e jovens; se o esporte deve ser patrocinado por empresas estatais ou se as pessoas de classes sociais mais baixas têm mobilidade social através do esporte, é necessário ser capaz de expressar o que você entende por esporte. 12 A descrição e explicação científica exigem precisão. Isto é necessário tanto para assuntos de relevância prática ou teórica. Claro que nem todos podem concordar com esta definição, mas ela nos permite distinguir o esporte da brincadeira, recreação, disputa ou espetáculo e permite estudá-lo em seus relacionamentos com outras partes importantes da vida social. O esporte é um fenômeno cultural e social que influencia e sofre influência da sociedade e muitas vezes seus problemas são os mesmos da própria sociedade. Cada vez mais o esporte se torna parte do nosso mundo social. Ele se relaciona com a vida familiar, com a educação, política, economia, artes e religião. Com maior entendimento é possível mudá-lo de forma que mais pessoas se beneficiem das coisas positivas que ele tem a oferecer. MOTIVAÇÃO À PRÁTICA DE ATIVIDADES FÍSICAS: UM ESTUDO COM PRATICANTES NÃO-ATLETAS O estudo da motivação no contexto da atividade física e do esporte tem sido alvo de parte da literatura produzida na área da Psicologia do Esporte. Entretanto, alguns estudos têm buscado verificar a motivação em atletas de alto rendimento que precisam estar motivados para alcançar seus objetivos, conquistar recordes e vitórias. Outras pesquisas centram-se na compreensão dos fatores e processos associados à adesão, persistência e abandono da atividade física regular, buscando identificar o que motiva as pessoas "não- atletas" a praticar atividade física regularmente e, assim, deixar de ser indivíduos sedentários (Biddle, 1997; Dishman, 1994; Gauvin & Spence, 1995; Gouveia, 2001). Nesse sentido, a presente pesquisa busca investigar a motivação à prática de atividades físicas em uma amostra de praticantes "não-atletas". A atividade física (AF) é definida como "todo movimento corporal produzido pela musculatura esquelética, que resulte em um gasto energético maior do que os níveis de repouso" (Caspersen, Powell & Christenson, 1985, p. 16). Nessa definição percebe-se que a AF engloba os exercícios físicos e os esportes, mas também o equivalente em gastos de energia em outros tipos de 13 atividades, como lazer ativo, trabalho ocupacional e tarefas domésticas (Miragaya, 2006). O presente estudo irá investigar a motivação para praticar AF,considerando como AF regular a prática de algum tipo de exercício físico ou esporte. Os benefícios alcançados pela prática regular de AF são inúmeros. Segundo a Organização Mundial de Saúde (2006), esta prática reduz o risco de mortes prematuras, doenças do coração, acidente vascular cerebral, câncer de cólon e mama e diabetes tipo II. Atua na prevenção ou redução da hipertensão arterial, previne o ganho de peso (diminuindo o risco de obesidade), auxilia na prevenção ou redução da osteoporose, promove bem-estar, reduz o estresse, a ansiedade e a depressão. Como afirma Miragaya (2006), há evidências científicas apontando que a prática de AF é uma ferramenta essencial para a promoção da saúde, porque ela inibe o surgimento e o desenvolvimento de fatores de risco que predispõem ao aparecimento de disfunções crônico-degenerativas. Vários estudos epidemiológicos têm demonstrado que indivíduos fisicamente ativos vivem mais que indivíduos sedentários e têm menor propensão a desenvolver vários tipos de doenças crônicas. Entretanto, apesar de ser considerável o número de estudos (Andreotti & Okuma, 2003; Epiphanio, 1999; Ferrareze, 1997; Mello, Boscolo, Esteves & Tufik, 2005; Miragaya, 2006) que apontam a importância da prática de atividades físicas na manutenção da saúde, no aumento do bem-estar e da qualidade de vida em geral, tais razões não parecem ser suficientes para levar indivíduos sedentários a praticarem e a se manterem praticando alguma AF por um período superior a seis meses (Robertson & Mutrie, 1989, citados por Andreotti & Okuma, 2003). De acordo com o Conselho Federal de Educação Física (2004), a evolução da indústria de bens de consumo tem deixado a vida cada vez mais confortável, de modo que o aparato tecnológico e informacional contribui para que, a cada dia, as pessoas façam menos movimento, aumentando, consequentemente, o risco ao sedentarismo. O sedentarismo, caracterizado 14 pela ausência de AF regular, atualmente é considerado tão prejudicial à saúde quanto qualquer outro tipo de doença, podendo acarretar um custo econômico a médio e longo prazo, para o indivíduo, a família e para a sociedade (CONFEF, 2004). Nesse sentido, pesquisas sobre motivação à prática de AF tornam-se relevantes, a fim de viabilizar futuros estudos que visam minimizar o sedentarismo entre a população. A motivação, um processo psicológico básico que auxilia na compreensão das diferentes ações e escolhas individuais, é um dos fatores determinantes do modo como uma pessoa se comporta (Schultz & Schultz, 2002). E apesar da quantidade considerável de teorias e perspectivas na busca por compreender a motivação humana (ver Allport, 1961; Bandura, 1977; Kelly, 1955; Maslow, 1970; McClelland, 1955; Murray, 1967; Rotter, 1990, citados por Schultz & Schultz, 2002), no presente estudo, dar-se-á ênfase a Teoria da Autodeterminação (Deci & Ryan, 1985), por possuir representatividade no contexto da atividade física, tendo sido utilizada em diversas pesquisas da área (Fernandes, 2003; Fernandes & Vasconcelos-Raposo, 2005; Moreno, Cervelló & González-Cutre, 2006; Ntoumanis, 2001; Frederick & Ryan, 1993; Ryan, Frederick, Lepes, Rubio & Sheldon, 1997, entre outros). A Teoria da Autodeterminação - TAD é uma macroteoria da motivação humana que tem relação com o desenvolvimento e o funcionamento da personalidade dentro dos contextos sociais. Essa teoria analisa o grau em que as condutas humanas são volitivas ou autodeterminadas, isto é, o quanto as pessoas realizam suas ações em um nível maior de reflexão e se comprometem com essas ações de forma voluntária, por sua própria escolha. Dessa forma, o indivíduo pode ser motivado intrínseca ou extrinsecamente para tentar satisfazer suas necessidades e, assim, atingir a autodeterminação (Deci & Ryan, 1985; Ryan & Deci, 2000). No contexto da atividade física, a TAD serviu de respaldo teórico para o desenvolvimento de alguns instrumentos de medida com a finalidade de investigar e medir a motivação à prática de atividades físicas. Um desses instrumentos é a escala Motives for Physical Activity Measure - MPAM, de Frederick e Ryan (1993), que mede três motivos para se praticar AF: 15 Interesse/Diversão; Competência e Motivos relacionados com o corpo. Posteriormente, a revisão desta escala (Motives for Physical Activity Measure- Revised - MPAM-R) foi feita por Ryan e cols. (1997) e a mesma passou a medir cinco motivos: 1) Diversão, onde quer ser fisicamente ativo porque considera a atividade divertida, o torna feliz, é interessante, estimulante e agradável; 2) Competência, que visa praticar atividade física para ser melhor naquela atividade, encontrar desafios e adquirir novas habilidades; 3) Aparência, em que busca a atividade para se tornar mais atraente, ter músculos definidos e alcançar ou manter um peso desejado; 4) Saúde, que refere-se a ser fisicamente ativo para ter saúde, força e energia; e 5) Social, onde se busca praticar atividade física para estar com os amigos e conhecer novas pessoas. Os achados de algumas pesquisas que utilizaram as escalas MPAM e MPAM-R são apresentados a seguir. Frederick e Ryan (1993), contando com a participação de 376 adultos americanos praticantes de esportes individuais (tênis, iatismo) e exercícios físicos (correr, aeróbica) e utilizando a MPAM, identificaram que os praticantes de esporte pontuaram mais alto nos motivos de diversão e competência, enquanto os praticantes de exercícios apresentaram médias maiores nos motivos relacionados ao corpo. Já na pesquisa realizada por Ryan e cols. (1997), com uma amostra composta por 40 estudantes de uma universidade americana, advindos de programas voluntários de AF (não ofereciam créditos aos participantes), sendo 24 praticantes de tae kwon do e 16 praticantes de aeróbica, estes responderam a escala MPAM e algumas variáveis sobre abandono e frequência da atividade. Os resultados indicaram que os praticantes de tae kwon do (esporte) apresentaram motivos relacionados com competência e diversão, enquanto os praticantes de aeróbica (exercício físico) apresentaram motivos relacionados com a aparência, não havendo diferença significativa no nível de adesão dos dois grupos. Em um segundo estudo, desta vez utilizando a versão revisada da Escala de Motivação à Prática de Atividades Físicas (MPAM-R), esses mesmos autores identificaram que a adesão foi associada com motivos centrados em diversão, competência e interação social, mas não com motivos de aparência. E no que 16 se refere às diferenças de gênero, verificou-se que as mulheres pontuaram mais alto que os homens nos fatores aparência e saúde, e ambos, homens e mulheres, relataram a mesma ordem de significância para os cinco fatores: saúde, aparência, competência, diversão e social. Em uma pesquisa realizada na Espanha por Moreno, Cervelló e Martínez (2007), estes autores apresentaram a validação da MPAM-R para o espanhol e buscaram comprovar os efeitos dos cinco motivos sobre o gênero, a idade, a forma da atividade, o tempo e os dias de prática contando com a participação de 561 adultos praticantes de atividades físicas não competitivas. Os resultados indicaram que as pessoas de maior idade deram mais importância aos motivos relacionados com a saúde, enquanto os mais jovens priorizaram os motivos relacionados com a aparência. Em relação ao gênero, as mulheres deram menos importância aos motivos de competência do que os homens. As pessoas que praticavam por mais tempo apresentaram motivos de diversão e saúde, e os que praticavam há mais dias apontaram motivos de saúde. Os sujeitos que praticavam em programas orientados mostraram motivos relacionados ao social, à saúde e à competência. Outras pesquisas sobre motivação à prática de AF também foram conduzidas, no entanto sem utilizar as escalas MPAM ou MPAM-R como instrumentode investigação. Por exemplo, na pesquisa de Hellín, Moreno e Rodriguez (2004), esses autores contaram com a participação de 1107 praticantes de AF da região de Murcia na Espanha, com idades entre 15 e 64 anos, e identificaram que os sujeitos mais jovens tinham uma maior inclinação para as competições e uma maior preocupação com a imagem corporal e a estética, enquanto os sujeitos com idade mais avançada praticavam por motivos lúdicos, relaxantes e de relação. Em relação ao gênero, esses mesmos autores encontraram que as mulheres apresentaram uma maior preocupação com a imagem corporal e a estética do que os homens. Já em uma pesquisa realizada com estudantes universitários americanos por Kilpatrick, Hebert e Bartholomew (2005), esses autores identificaram que os homens apresentaram uma maior motivação acerca do desafio, competição, 17 força, resistência e reconhecimento social, enquanto as mulheres apresentaram maior motivação na variável de controle do peso, e ambos, homens e mulheres, reconheceram a importância da AF para um estado de saúde positivo. Esses mesmos autores também verificaram que existia uma maior motivação entre praticantes de exercício, para aspectos como força, resistência, aparência, controle do estresse e controle do peso, enquanto os praticantes de esporte apresentaram maior motivação para aspectos como afiliação, desafio, competição e reconhecimento social. No Brasil, não foram encontradas pesquisas que tenham utilizado as escalas MPAM ou MPAM-R para identificar motivos de adesão à prática de AF, entretanto alguns estudos com praticantes não-atletas foram conduzidos, por exemplo, por Andreotti e Okuma (2003), com a participação de 44 idosos que iniciavam a prática de AF, que verificaram que as principais razões para a adesão inicial desses indivíduos em um programa de AF foram: indicação de amigos, crença nos benefícios da AF para saúde, indicação médica e busca de convívio social. Já Santos e Knijnik (2006), num estudo com 30 adultos, com idades entre 40 e 60 anos, identificaram que os principais motivos iniciais de adesão à prática de AF foram: ordem médica; lazer e qualidade de vida; estética e saúde (ou condicionamento físico). Diante do exposto, e buscando acrescentar dados à literatura brasileira sobre motivação à prática de atividades físicas, a presente pesquisa objetivou verificar as médias dos participantes nos cincos motivos (diversão, competência, aparência, saúde e social) da escala MPAM-R, em relação às variáveis sociodemográficas: idade, gênero, IMC (índice de massa corporal), tipo de AF (exercício ou esporte), forma de praticar (sozinho ou acompanhado) e o tempo de prática. O método utilizado para atingir tal objetivo é apresentado a seguir. Amostra A amostra foi de tipo acidental (de conveniência) e não-probabilística, sendo incluídos os participantes que concordaram em fazer parte do estudo e que não eram atletas profissionais. Nesse sentido, contou-se com a colaboração de 309 praticantes de atividades físicas, classificadas em exercícios 18 físicos (musculação, ginástica, caminhada, hidroginástica e dança) e esportes (futebol, vôlei, basquete, natação, artes marciais, tênis e ciclismo), da cidade do Natal-RN. Estes tinham idades variando entre 16 e 74 anos (M=35 anos; DP=14,11), distribuídos equitativamente quanto ao sexo, sendo 152 homens (49,2%) e 157 mulheres (50,8%). Instrumentos Escala de Motivação à Prática de Atividades Físicas Revisada (MPAM-R) Esta escala mede cinco motivos para se praticar AF: diversão, competência, aparência, saúde e social, cujos parâmetros psicométricos são apresentados por Ryan e cols. (1997), indicando índices de consistência interna (alfas) de 0,92; 0,91; 0,88; 0,78 e 0,83, respectivamente. A adaptação e validação dessa escala para o espanhol podem ser vistas em dois estudos recentes, um na Colômbia, por Celis-Merchán (2006), e outro na Espanha, por Moreno e cols. (2007). Entretanto, nenhuma pesquisa foi encontrada no Brasil em que esta escala tenha sido empregada, demandando que se comprove sua adequação. Para tanto, sua adaptação e validação foi realizada para o contexto brasileiro por Gonçalves (2008). A versão em português da MPAM-R ficou composta por 26 itens, sendo exemplificados a seguir: 1) Diversão: "Porque acho essa atividade estimulante"; "Porque essa atividade me faz feliz"; 2) Competência: "Porque gosto do desafio"; "Para adquirir novas habilidades físicas"; 3) Aparência: "Para definir meus músculos e ter uma boa aparência"; "Porque quero ser atraente para os outros"; 4) Saúde: "Porque quero ser fisicamente saudável"; "Para ter mais energia"; e 5) Social: "Para estar com meus amigos"; "Porque quero conhecer novas pessoas". Os índices de consistência interna (alfas) para cada um dos fatores foram de 0,88; 0,85; 0,79; 0,84 e 0,75, respectivamente. Os participantes responderam à questão "Pratico atividade física..." por meio dos itens que compõem a escala, sendo estes exemplificados acima. Esses itens são respondidos por uma escala tipo Likert de sete pontos (1=Discordo totalmente a 7=Concordo Totalmente). Questões sociodemográficas 19 Foram elaboradas questões de caráter sociodemográfico (por exemplo, idade, sexo, estado civil, IMC e escolaridade) e outras que permitissem avaliar a atividade física realizada por esses participantes (atividade que pratica, tempo de prática, horas de prática por semana, entre outras). Procedimento Todos os dados foram coletados na cidade do Natal-RN, em alguns locais onde as pessoas praticam AF (por exemplo: calçadão, parques, academias e clubes). Para a realização da coleta de dados em locais privados, tais como clubes ou academias, inicialmente entrou-se em contato com os gerentes ou administradores desses estabelecimentos solicitando permissão para abordar seus clientes a responderem o questionário. Já em locais públicos, as pessoas foram diretamente abordadas por pesquisadores previamente treinados, sendo solicitadas a responderem o questionário. Destaca-se que, para cada participante, foram explicados previamente os objetivos da pesquisa, bem como da sua participação voluntária, assegurando-lhes o anonimato e a confidencialidade de suas respostas. Em média, 10 minutos foram suficientes para concluir sua participação. Análises dos dados A tabulação dos dados, as estatísticas descritivas (medidas de tendência central e dispersão) e as análises de variância (ANOVA e MANOVA) foram realizadas por meio do SPSSWIN 15 (Statistical Package for the Social Science). RESULTADOS E DISCUSSÃO Com a finalidade de testar o objetivo proposto nesta pesquisa, procurou- se cumprir dois procedimentos específicos: 1- caracterizar os participantes verificando suas pontuações médias em relação à escala de resposta do instrumento utilizado (MPAM-R) e 2- verificar se os participantes se diferenciavam no construto estudado em função do sexo, idade, índice de massa 20 corporal (IMC), tipo de atividade física (exercício ou esporte), forma de praticar (sozinho ou acompanhado) e o tempo de prática. A escala de motivação utilizada varia de 1=Discordo totalmente a 7=Concordo totalmente, avaliando assim o grau de discordância/concordância dos participantes nos motivos para se praticar atividade física. No que se refere ao primeiro procedimento antes descrito, realizou-se uma MANOVA para medidas repetidas a fim de verificar se as médias dos participantes nos cinco fatores de motivação apresentavam diferenças estatisticamente significativas em relação a mediana teórica da escala (4). Os resultados demonstraram que foi observado um efeito multivariado entre os fatores de motivação e o ponto médio teórico da escala de resposta [Lamda de Wilks=0,174; F(4,000)=355,109, p<0,001]. O teste de Post Hoc realizado demonstrou índices de significância adequados(intervalo de confiança ajustado: Bonferroni; p<0,05), para as diferenças de média obtidas. Dessa forma, os participantes apresentaram motivos de Diversão (M=5,49, DP=1,05; p<0,001); Saúde (M=6,32, DP=0,70; p<0,01); A parência (M=4,72, DP=1,29; p<0,05)e Competência (M=4,36, DP=1,62; p<0,05) maiores do que o ponto médio da escala (4). Entretanto, no fator Social (M=3,60, DP=1,29; p<0,05) verificou-se que a média dos participantes foi estatisticamente inferior ao ponto mediano da escala. Em relação a esse resultado, verificou-se que para os participantes desse estudo em geral, o motivo principal para praticar AF foi a preocupação com a saúde, o que corrobora estudos anteriores (Hellín & cols., 2004; Howley & Don Franks, 2000; Kilpatrick & cols., 2005; Moreno & cols., 2007; Ryan & cols., 1997). Ademais, de acordo com Fernandes (2003), nesses casos o comportamento do indivíduo é motivado pela apreciação dos resultados e benefícios da participação numa atividade. Por exemplo, quando se busca a atividade física com ênfase na prevenção de doenças ou melhoria da condição física, o indivíduo pode considerar a atividade desagradável ou desinteressante, mas ainda assim se motiva pelo benefício que ela causa, sendo esta considerada uma motivação extrínseca. 21 Dando continuidade, em seguida, realizou-se uma MANOVA, objetivando verificar se os participantes apresentariam diferenças estatisticamente significativas nos fatores de motivação (diversão, saúde, aparência, competência e social), considerando como variáveis independentes o gênero (masculino e feminino); a faixa etária (jovens, adultos jovens, adultos intermediários e idosos) e o índice de massa corporal - IMC (baixo peso, normal, obesidade graus I, II e III), sendo estas variáveis características dos participantes da amostra. Essa técnica estatística permite verificar a relação entre diversas categorias de variáveis independentes discretas (VI's) em relação a diversas categorias de variáveis dependentes métricas (VD's) (Hair, Anderson, Tatham & Black, 2003; Pérez, 2001; Tabachnick & Fidel, 2001). A seguir, foram dispostos na Tabela 1 os resultados da MANOVA indicando as diferenças de média estatisticamente significativas. Como pode ser observada na tabela acima, a diferença de média verificada para as variáveis sexo e idade em relação ao fator saúde foi a única estatisticamente significativa. Assim, de fato, na motivação para praticar atividade física verificou-se que as mulheres (M=6,43, DP=0,11) praticavam mais por questões de saúde do que os homens (M=6,12, DP=0,09). A preocupação com a saúde atribuída mais às mulheres pode ser explicada por Boltanski, 1979; Lins, 1999; Messner, 1995, citados por Salles-Costa, Heilborn, Werneck, Faerstein e Lopes (2003), os quais consideram que a inserção da prática de atividades físicas no universo feminino está associada à manutenção da saúde e valorização dos cuidados com a imagem corporal, ressaltando-se que as mulheres apresentam uma percepção mais sensível do corpo e por isso buscam mais praticar atividades físicas do que o homens. Atualmente a prática de atividades físicas no universo feminino ganha grande proporção por meio da busca do corpo delineado e controle do peso corporal, ressaltando-se que em comparação a qualquer outro período, as mulheres estão gastando muito mais tempo com o tratamento e a disciplina dos seus corpos (Salles-Costa & colaboradores, 2003). No que se refere à variável idade, os idosos (M=6,52, DP=0,14) apontaram praticar atividade física mais por motivos de saúde do que 22 os jovens (M=6,34, DP=0,16), adultos jovens (M=5,85, DP=0,14) e adultos (M=6,44, DP=0,10). Esse resultado seria de se esperar, tendo em vista que com o aumento da idade as pessoas tornam-se mais suscetíveis a certos tipos de doença e, com isso, a prática de AF regular passa a ser recomendada pelos médicos como forma de tratamento ou controle de algumas doenças. Nessa perspectiva, estudos como os de Andreotti e Okuma (2003) e Santos e Knijnik (2006) revelaram que a indicação médica foi relatada pelos participantes, adultos e idosos como um dos principais motivos para se iniciar a prática de AF. Esses resultados também são coerentes com a literatura, como por exemplo no estudo realizado por Moreno, Cervelló e Martínez (2007), em que as pessoas de maior idade deram mais importância aos motivos relacionados com a saúde, enquanto os mais jovens priorizaram os motivos relacionados com a aparência. No que se refere ao índice de massa corporal, não foram encontrados resultados estatisticamente significativos, no entanto, ressalta-se a importância de estudos futuros que verifiquem a relação da motivação com a prática de atividade e a obesidade, por exemplo, tendo em vista que em alguns estudos (por exemplo, Kilpatrick & cols., 2005) a variável de controle do peso tem sido identificada como relevante para se compreender a motivação à prática de AF. Ademais, conhecendo-se as principais motivações das pessoas com sobrepeso ou obesas, seria de extrema relevância para viabilizar estratégias de intervenção que visem diminuir o sedentarismo entre essas pessoas. Por último, como visto na tabela acima, verificou-se que o efeito de interação entre sexo, idade e IMC não foi estatisticamente significativo, o que indica que no presente estudo, essas variáveis não interagem. Dando continuidade, realizou-se outra MANOVA, objetivando agora verificar se os participantes apresentariam diferenças estatisticamente significativas nos fatores de motivação (diversão, saúde, aparência, competência e social), considerando como variáveis independentes: o tipo de AF (exercício ou esporte), a forma de praticar (sozinho ou acompanhado) e o tempo de prática (um a seis meses, sete meses a um ano, mais de um ano), sendo essas variáveis características da AF praticada pelos participantes da amostra. A seguir, foram 23 dispostos na Tabela 2 os resultados da MANOVA indicando as diferenças de média que foram estatisticamente significativas. Como pode ser observada na tabela abaixo, a diferença de média verificada para as variáveis tipo de AF e forma de praticar foi a única estatisticamente significativa. Assim, de fato, na motivação para praticar atividade física verificou-se que os praticantes de exercício (M=5,08; DP=0,15) praticavam mais por questões de aparência do que as praticantes de esporte (M=4,57; DP=0,20). Tais resultados também corroboram com os resultados verificados na literatura (Frederick & Ryan, 1993; Ryan & cols., 1997), apontando que as pessoas que praticam exercícios o fazem mais por motivos de aparência do que os que praticam esportes, e dependendo do tipo da atividade praticada, as pessoas podem apresentar diferentes tipos de motivação. Ressalta-se ainda que Kilpatrick e cols. (2005) verificaram em seus estudos que existia uma maior motivação entre praticantes de exercício para aspectos como força, resistência, aparência, controle do estresse e controle do peso, enquanto para os praticantes de esporte havia uma maior motivação para aspectos como afiliação, desafio, competição e reconhecimento social. Já no que se refere à forma de praticar, verificou-se que aqueles que praticavam AF acompanhados (M=3,88; DP=0,15), faziam mais por motivos sociais do que aqueles que praticavam AF sozinhos (M=3,32; DP=0,17). Resultado semelhante a este pode ser visto nos estudos de Moreno, Cervelló e Martínez (2007), onde verificaram que os sujeitos que praticavam AF em programas orientados tinham maiores motivos de diversão, saúde e competência, enquanto os que praticavam com os amigos tinham motivos mais relacionados ao fator social. Em relação à variável tempo de prática, não foram encontrados resultados estatisticamente significativos. No entanto, sugere-se a realização de novos estudos para verificar a influênciado tempo na motivação para praticar AF, uma vez que se acredita que as pessoas que praticam atividade física há menos tempo sejam propícias a abandonar a prática regular de AF, enquanto as pessoas que praticam há mais tempo possivelmente possuem menos chances de abandonar essa prática e assim manter hábitos saudáveis de vida. Por último, 24 observou-se que o efeito de interação entre tipo de AF, forma de praticar e tempo de prática foi testado, no entanto, como visto na tabela acima, essas variáveis não interagiram. No geral, verificou-se que os participantes deste estudo praticavam atividade física mais por motivos de saúde, diversão, aparência e competência e menos por motivos sociais, tendo em vista que apresentaram médias superiores ao ponto médio teórico da escala nesses quatro fatores, com exceção apenas do fator social. Entretanto, no geral, deve-se ressaltar que o fator saúde foi o que apresentou maior média. Destaca-se ainda que os participantes do sexo feminino e os idosos indicaram praticar atividade física mais por motivos de saúde do que os homens e os participantes mais jovens. Observa-se também que os participantes de exercício indicaram praticar AF mais por questões de aparência do que os praticantes de esporte e, ainda, aqueles que praticavam AF acompanhados o faziam mais por motivos sociais do que os que praticavam sozinhos. A seguir são apresentadas as conclusões da presente pesquisa. CONCLUSÃO Compreender o que motiva as pessoas a praticar AF tem sido um dos maiores desafios dos profissionais envolvidos com esta área, tendo em vista que algumas pesquisas indicam que apesar de se conhecerem os diversos benefícios associados à prática regular de AF, o número de sedentários ainda é crescente e tem se tornado algo preocupante no que diz respeito à saúde da população brasileira (Andreoti & Okuma, 2003; Epiphanio, 1999; Mello & cols., 2005). Nesse sentido, pode-se dizer que os resultados apresentados e discutidos anteriormente acerca dos motivos para se praticar AF e algumas variáveis sociodemográficas, permitem afirmar que os objetivos da presente pesquisa foram alcançados, pois a maior parte dos resultados foi coerente com os encontrados na literatura, bem como acredita-se que estudos desta natureza 25 podem vir a contribuir com a construção do conhecimento nessa área, pois tais achados possibilitam uma maior compreensão acerca do que motiva as pessoas a praticar atividade física. Entretanto, deve-se ter em mente que as variáveis aqui investigadas não são as únicas relevantes no estudo da motivação à prática de AF, de modo que se sugerem novos estudos para verificar o papel de diferentes variáveis na motivação. A seguir, dispõem-se as principais limitações e sugestões de pesquisas futuras. Algumas limitações da presente pesquisa são apontadas. Ressalta-se que, apesar da tentativa, nem todas as variáveis se mostraram balanceadas, apenas o sexo, que apresentou quase a mesma quantidade de homens (50,8%) e mulheres (49,2%); e a forma de prática, com quase o mesmo número de praticantes sozinhos (47%) e acompanhados (53%). Assim, novos estudos devem ser realizados buscando utilizar as variáveis de forma mais bem equilibrada. Destaca-se, ainda, que não se contou com a colaboração de pessoas que praticavam AF em programas orientados, bem como não houve a participação de pessoas de todas as classes sociais, pois os participantes deste estudo foram abordados principalmente em bairros nobres da cidade do Natal, e a maioria em academias (46,9%), local onde se paga para praticar AF. Dessa forma, sugere- se que em futuros estudos a variável renda também seja considerada, buscando contar com a participação de pessoas de todas as classes sociais e levando em consideração uma maior variabilidade de locais onde se pratica AF. Acrescenta-se ainda que os resultados aqui obtidos não são generalizáveis para além da amostra considerada, pois, relembrando, tal como apontado no método, tratou-se de uma amostra não-probabilística. Assim, novos estudos poderiam ser úteis a fim de verificar a adequação dos resultados aqui observados. Apesar das limitações, acredita-se estar contribuindo para o acréscimo de dados empíricos à literatura brasileira sobre motivação à prática de atividades físicas. No entanto, futuras investigações considerando novas 26 variáveis são necessárias na busca por melhor compreender a motivação à prática de AF e, assim, minimizar o risco ao sedentarismo. A MOTIVAÇÃO NO CONTEXTO DA TEORIA DA AUTODETERMINAÇÃO DE DECI E RYAN Elaborada por Deci e Ryan (1985, 2000a), a Teoria da Autodeterminação é amplamente difundida e utilizada em diversas áreas do conhecimento acadêmico (Deci, Ryan, & Koestner, 1999), dentre os quais o esporte e atividade física (Barbosa, 2006; Deci & Olson, 1989; Frederick & Ryan, 1995). Esta teoria preconiza que um sujeito pode ser motivado em diferentes níveis (intrínseca ou extrinsecamente), ou ainda, ser "amotivado" durante a prática de qualquer atividade. Quando intrinsecamente motivado, o sujeito ingressa na atividade por sua própria vontade, ou seja, pelo prazer e satisfação do processo de conhecê-la, explorá-la, aprofundá-la. Atividades intrinsecamente motivadas são comumente associadas ao bem estar psicológico, interesse, alegria e persistência (Ryan & Deci, 2000b). Autores têm subdividido a motivação intrínseca em 3 tipos: "para saber", "para realizar" e "para experiência". A motivação intrínseca "para saber" ocorre quando se executa uma atividade para satisfazer uma curiosidade, ao mesmo tempo em que se aprende tal atividade; a motivação intrínseca "para realizar" ocorre quando um indivíduo realiza uma atividade pelo prazer de executá-la e a motivação intrínseca "para experiência" ocorre quando um indivíduo realiza uma atividade para experienciar as situações estimulantes inerentes à tarefa (Brière, Vallerand, Blais, & Pelletier, 1995). A motivação extrínseca, por sua vez, ocorre quando uma atividade é efetuada com outro(s) objetivo(s) que não o(s) inerente(s) à própria atividade (Ryan & Deci, 2000a). Estes motivos podem variar grandemente em relação ao seu grau de autonomia, criando, basicamente, três categorias desta motivação: 1) a "regulação externa": esta categoria da motivação extrínseca ocorre quando 27 o comportamento é regulado por premiações materiais ou medo de consequências negativas, como críticas sociais (este tipo de motivação pode ser observado no âmbito esportivo quando o treinador impõe punições aos atletas, quando não realizam as tarefas propostas); 2) a "regulação interiorizada": é a categoria que ocorre quando o comportamento é regulado por uma fonte de motivação que, embora inicialmente externa, é internalizada, como comportamentos reforçados por pressões internas como a culpa, ou como a necessidade de ser aceito; c) a 'regulação identificada': é a categoria da motivação extrínseca que ocorre quando um sujeito realiza uma tarefa (ou comportamento), a qual não lhe é permitida a escolha; uma atividade que é considerada como importante de ser realizada, mesmo que não lhe seja interessante. Há ainda um terceiro tipo de motivação. Trata-se da "amotivação", construção motivacional que pode ser encontrada em indivíduos que ainda não estão adequadamente aptos a identificar um bom motivo para realizar alguma atividade física (Ryan & Deci, 2000a). No ponto de vista destes indivíduos, a atividade ou não lhes trará nenhum benefício, ou eles não conseguirão realizá- la de modo satisfatório (Brière et al., 1995). Detalhados os níveis do contínuo motivacional, cabe salientar que a Teoria da Autodeterminação (Ryan & Deci, 2000a) é uma meta-teoria. Desta maneira, estes níveis de autodeterminação são explicados por cinco subteorias: "Teoria da Avaliação Cognitiva", "Teoria da IntegraçãoOrgânica", "Teoria da Orientação Causal", "Teoria das Necessidades Básicas", e "Teoria de Orientação de Metas". A Teoria de Orientação de Metas pressupõe que a orientação das metas pessoais em uma atividade explica os níveis de autodeterminação. Este estudo toma como base esta última subteoria. À luz destas diferentes subteorias, destaca-se que há ao menos dois caminhos para medir a motivação: um, é medindo os níveis de autodeterminação, como fez Fernandes e Vasconcelos-Raposo (2005) e outro é medindo os motivos que levam estes sujeitos a esta prática, como fizeram Ryan, Frederick, Lepes, Rubio e Sheldon (1997). Este estudo adota o segundo destes dois caminhos. A motivação no plano empírico 28 Partindo destes pressupostos teóricos, vários pesquisadores, com o intuito de melhor conhecer diversos aspectos sobre os fatores motivacionais, buscaram relacionar a motivação à prática de atividades físicas ao gênero, à idade (Balbinotti & Capozzoli, 2008; Barbosa, 2006; Castro, 1999; Lores, Murcia, Sanmartín, & Camacho, 2004), e a outras variáveis (Wang & Wiese-Bjornstal, 1996), que poderiam interferir na motivação do sujeito em praticar atividades físicas. Alguns destes pesquisadores usaram o "Inventário de Motivação à Prática Regular de Atividade Física e Esportiva (IMPRAFE-126)" (Balbinotti & Barbosa, 2008). Trata-se de um instrumento desenvolvido na realidade brasileira que avalia seis dimensões motivacionais (Controle do Estresse, Saúde, Competitividade, Sociabilidade, Estética e Prazer). Um destes estudos (Barbosa, 2006) incluiu 1377 sujeitos com idade entre 13 e 83 anos. Foram encontradas diferenças significativas entre faixas etárias nas dimensões motivacionais: Saúde, Competitividade, Sociabilidade e Estética, e entre os sexos nas dimensões Controle do Estresse, Saúde e Competitividade. Um segundo trabalho (Balbinotti & Capozzoli, 2008), realizado com 300 praticantes de atividade física em academia com idades entre 18 e 65 anos, encontrou diferenças significativas nas dimensões motivacionais Controle do Estresse, Competitividade, Sociabilidade e Prazer, quando as faixas etárias foram comparadas, e nas dimensões motivacionais Competitividade e Sociabilidade, quando a comparação foi realizada entre os sexos. Estudos realizados em outros países e utilizando outros instrumentos também encontraram diferenças entre faixas etárias e sexos, sempre que foram comparadas dimensões motivacionais (Castro, 1999; Lores et al., 2004). Estas evidências empíricas afirmaram a existência de diferenças significativas entre as dimensões motivacionais quando as variáveis sexo e idade são controladas. Cabe saber se estas diferenças persistem quando os níveis gerais de motivação são comparados. Questão central desta pesquisa 29 Partindo-se dos conteúdos teóricos e empíricos apresentados anteriormente, foi possível formular a seguinte questão central desta pesquisa: "existem diferenças significativas nas médias dos escores dos níveis gerais de motivação à prática de atividade física, nos sujeitos investigados, segundo o sexo e a faixa etária dos praticantes?" Para adequadamente responder a esta questão foram empregados procedimentos metodológicos, éticos e estatísticos. Estes procedimentos serão apresentados a seguir. MÉTODO Sujeitos Uma amostra de 635 praticantes de atividade física regular de ambos os sexos e com idades que variaram de 18 a 55 anos foi selecionada para esse estudo. Salienta-se que esta amostra foi escolhida pelos critérios de disponibilidade e acessibilidade (Maguirre & Rogers, 1989). Como se vê na Tabela 1, as idades foram divididas em três grupos, conforme sugerido por Papalia, Olds e Feldman (2006), a saber: de 18 a 20 anos (adolescente; 21,1%); de 21 a 40 anos (jovem adulto; 59,5%); e, de 41 a 55 anos (meia-idade; 19,4%). Destaca-se, ainda, que esta amostra é composta por 49,6% de sujeitos do sexo masculino e 50,4% do sexo feminino. Instrumentos https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-294X2011000100013&lng=pt&tlng=pt#tab01 30 Para a realização da pesquisa foram utilizados dois instrumentos: "Questionário Sócio-Demográfico Simples" (QSDS), apenas para controle das variáveis sexo e idade; "Inventário de Motivação à Prática Regular de Atividade Física e Esporte" (IMPRAFE-126) (Balbinotti & Barbosa, 2008). O IMPRAFE-126 é um inventário que avalia seis das possíveis dimensões associadas à motivação à prática regular de atividades físicas. Embora deva ser respondido individualmente, pode ser aplicado a várias pessoas ao mesmo tempo. Tratam-se de 120 itens agrupados 6 a 6, seguindo a sequência das dimensões a serem estudadas, a saber: controle do stress (por exemplo: "liberar tensões mentais"), saúde (ex.: "manter a forma física"), sociabilidade (ex.: "estar com amigos"), competitividade (ex.: "vencer competições"), estética (ex.: "manter bom aspecto") e prazer (ex.: "meu próprio prazer"). Mais, seis itens que compõem uma escala de verificação: trata-se de itens tomados aleatoriamente (um de cada dimensão) e repetidos no final da escala. A comparação entre as respostas obtidas nos itens em pontos aleatórios da escala e as respostas obtidas na escala de verificação permite avaliar a confiabilidade das respostas. Responde-se aos itens do IMPRAFE-126 conforme uma escala bidirecional, de tipo Likert, graduada em 5 pontos, indo de "isto me motiva pouquíssimo" (1) a "isto me motiva muitíssimo" (5). O tempo de aplicação é em torno de 20 minutos. As propriedades métricas foram avaliadas (Balbinotti & Barbosa, 2008) e os resultados indicaram tratar-se de um instrumento válido e fidedigno. Considerando que cada dimensão tem o mesmo número de itens e que as correlações entre as dimensões são todas positivas e altamente significativas (r de Pearson variou de 0,37 a 0,69; p < 0,001), pode-se avaliar o nível geral de motivação à prática regular de atividade física somando-se os resultados das seis dimensões do IMPRAFE-126. Procedimentos de aplicação do Inventário Inicialmente, os sujeitos foram contatados nos locais onde são praticadas regularmente atividades físicas (clubes, academias, escolas) para que se pudesse obter o aceite e agendar o dia e o horário da aplicação do Inventário. No dia da aplicação, todos assinaram o Termo de Consentimento Livre e 31 Esclarecido (TCLE), que em seus termos assegurava a confidencialidade das respostas. O tempo necessário para responder ao IMPRAFE-126 foi de, aproximadamente, 20 minutos. Foram observados os princípios de respeito à pessoa, da beneficência, da não-maleficência (Goldim, 2003) e, ainda, os princípios e regras fundamentais do consentimento informado (Balbinotti & Wiethaeuper, 2002), todos conforme as diretrizes da Resolução n. 196, de 10 de outubro de 1996, do Conselho Nacional de Saúde. O projeto de pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (número: 2007721). RESULTADOS A fim de responder, adequadamente, a questão central desta pesquisa, procedeu-se à exploração dos escores obtidos através do IMPRAFE-126, segundo princípios norteadores comumente aceitos na literatura especializada (Bryman & Cramer, 1999; Pestana & Gageiro, 2003; Reis, 2001; Trudel & Antonius, 1991). Sendo assim, apresentam-se, sucessiva e sistematicamente, os resultados das análises de itens, das estatísticas descritivas e das comparações de médias conforme cada variável controlada (sexo, faixa etária). Destaca-se que a apresentação formal da "análise de itens", neste estudo, tem por objetivo demonstrar a confiabilidade dos valores das médias observadas; pois estas, pela possibilidade de sofrer efeitos negativos pela presença de casos extremos (Pestana & Gageiro, 2003), poderiam não ser representativas dos comportamentos inventariados, diminuindoo valor das conclusões (Balbinotti, 2005). Análise de Itens Destaca-se que as médias encontradas para cada um dos 120 itens estudados individualmente variaram entre 1,73 e 4,51; com desvios-padrões associados variando entre 0,81 a 1,49. Esses resultados indicam que, em média, os jovens respondem as questões do IMPRAFE-126 de forma um pouco mais 32 positiva que negativa. Mesmo assim, interpretam-se esses resultados preliminares como sendo satisfatórios, pois não houve aderência predominante (seja positiva ou negativa) a nenhum dos itens isolados, ou seja, itens com médias semelhantes aos valores extremos (1 ou 5), o que indicaria ausência de variabilidade de respostas – condição que impediria o prosseguimento das análises. Destaca-se, então, que a variabilidade dos resultados indica adequada homogeneidade na dispersão avaliada, diga-se, não houve desvios-padrões com valores nominais maiores que os das médias por item. Já a média encontrada para o instrumento total foi de 385,27, com um desvio-padrão associado de 73,66. Posto que o intervalo total esperado era de 120 a 600 pontos (com média esperada de 360 pontos) e o observado foi de 169 a 592 (com um intervalo interquartil de 93 pontos), observam-se valores próximos entre as médias esperada e observada. As médias, embora próximas, não são exatamente as mesmas, portanto procedeu-se ao teste t para uma amostra e seus resultados (t > 8,644; gl = 634; p < 0,001) demonstraram que, embora essas diferenças nominais sejam pequenas, elas foram estatisticamente significativas. Esse resultado vai ao encontro daqueles das médias dos itens e não surpreendem, já que as pessoas que praticam regularmente atividades físicas são, obviamente, motivadas para tal atividade. Ainda, classifica-se a mediana das correlações item-total como moderada (r = 0,46), e nenhum índice mostrou-se inferior a 0,20. Estes resultados satisfatórios culminam com os índices Alpha de Cronbach. Os índices Alpha, quando se supõe excluir algum dos 120 itens do inventário, variaram de 0,970 a 0,971. O índice Alpha observado para a escala total (portanto sem a exclusão de nenhum item) é de 0,971. Estes últimos resultados indicam que, efetivamente, todos os itens do questionário contribuem para a consistência interna da medida do construto em estudo. Ainda, considerando que os 120 itens apresentam saturações fatoriais importantes (variando de 0,395 a 0,902, independente da dimensão em estudo) e que todos explicam 51% da variância total deste construto (Barbosa, 2006), pode-se interpretar, pelo viés da validade de construto, que se está avaliando o que se deseja, ou seja, a motivação à prática regular de atividade física. 33 Estatísticas descritivas gerais Como se pode observar na Tabela 2, os índices obtidos nas médias da motivação (índice geral de motivação), independente da variável controlada, variaram, em valores nominais, moderadamente (315,15 a 406,07). Os desvios- padrões seguiram esta mesma ordem, variando de 70,2 a 77,0. Com o objetivo de verificar a adequação do uso de testes paramétricos para a comparação destas médias, e com base nos resultados dos desvios, a igualdade estatística das variâncias foi testada, comprovada e assumida com ajuda do cálculo F de Levène para as variáveis: sexo (F(1, 633) = 0,334; p = 0,564) e faixa etária (F(2, 632) = 1,119; p = 0,327). De maneira geral, esses resultados são excelentes indicadores para o uso de instrumentais paramétricos de comparação das médias. Ainda, conduziu-se o cálculo Kolmogorov-Smirnov, com correção Lilliefors, a fim de testar a aderência à normalidade para a amostra em questão: seus resultados (KS = 0.036; gl = 635; p > 0,050) também se mostraram satisfatórios (p > 0,05). Os valores referentes às estatísticas de dispersão (ver Tabela 2), precisamente quanto aos valores mínimos observados (que variaram de 169 a 592 pontos, independente do grupo em análise), nota-se que existe um relativo afastamento do valor mínimo esperado (que é de 120 pontos). Uma diferença de, no mínimo, 49 pontos. Pode-se dizer que não ocorreu o fenômeno da aquiescência negativa. Isso significa que não houve respondentes inclinados em afirmar que os motivos apresentados no IMPRAFE-126 são, todos, pouquíssimos motivadores para a realização de atividades físicas regulares! https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-294X2011000100013&lng=pt&tlng=pt#tab02 https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-294X2011000100013&lng=pt&tlng=pt#tab02 34 Interpretam-se positivamente esses resultados, podendo-se dizer que ninguém da amostra em estudo classifica-se como 'amotivado' à prática regular de atividade física. Sendo assim, e segundo as observações de Brière et al. (1995), pode-se afirmar que a construção motivacional percebida pelos sujeitos investigados encontra-se em níveis satisfatórios. Ou seja, estes indivíduos estão adequadamente aptos a identificar um bom motivo para realizar alguma atividade física regular, indicando que esta lhes trará algum benefício, ou que eles conseguirão realizá-la de modo satisfatório, dentro de seus próprios pontos de vista. No que se refere aos valores máximos (que variaram de 533 a 592 pontos), destaca-se que houve, no mínimo, um (1) respondente que afirmou sentir-se altamente motivado por quase todos os itens apresentados no IMPRAFE-126. Ao verificar o(s) grupo(s) que ele(s) pertence(m), trata-se de alguém do sexo masculino e da faixa etária entre 18 e 20 anos. Isso, a princípio, poderia ser interpretado como um possível indicador de que manifestações individuais de aquiescência positiva (relativa à motivação à prática regular de atividade física) são mais comumente encontradas em homens desta faixa etária. Outros estudos deveriam testar esta hipótese. Enquanto isso, poder-se- ia pensar que esse resultado está de acordo com aquele de Lores et al. (2004) que afirmaram ser comum em homens desta faixa etária demonstrarem comportamentos mais extremos que as mulheres quando se trata de competitividade e a superação de limites. Além disso, pode-se ainda acreditar que, na medida em que a faixa etária aumenta, aumenta-se a capacidade discriminatória de respostas dos sujeitos avaliados. Diz-se isso em função do "decréscimo linear na manifestação aquiescente positiva" de respostas ao IMPRAFE-126 (ver valores máximos na Tabela 2). Pode-se interpretar esse resultado considerando que, na medida em que a idade aumenta (ao menos considerando as faixas etárias em estudo), deve existir uma menor probabilidade de aparecerem casos com comportamentos de resposta mais impulsiva. Parece que as pessoas de faixas etárias mais altas discriminam com mais "rigor" quais os motivos que julgam mais positivos e que as levam a praticar uma atividade física regular, assim como https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-294X2011000100013&lng=pt&tlng=pt#tab02 35 aqueles que não as levam. O ineditismo desta análise não permite comparar esses resultados com os de outros estudos (do construto em questão). Entretanto, conforme um estudo recente (Balbinotti, Wiethaeuper, & Barbosa, 2004), este comportamento de resposta tem sido observado com outros construtos da personalidade humana, tais como: interesses (gostos e preferências), maturidade (capacidade de enfrentar tarefas de desenvolvimento com as quais se é confrontado, como consequência do próprio desenvolvimento social, biológico e das necessidades da sociedade em relação às pessoas que alcançam este estado de desenvolvimento), e autoconceito (ideias que as pessoas fazem de si mesmo). Sendo assim, futuras ocorrências de casos extremos à direita da curva de distribuição de dados, além de poderem ser interpretadas como sendo características de respostas individuais que, conforme Balbinotti (2005), logicamente podemocorrer, pode-se também imaginar que alguns comportamentos de resposta, relacionados a certas características da personalidade humana, são mais sensíveis e de resposta mais diferenciada, com o avanço da idade. Após a apresentação e discussão dos resultados referentes à dispersão dos comportamentos de resposta com a amostra em estudo, apresentam-se e discutem-se os procedimentos e resultados referentes às comparações das médias conforme as variáveis de controle, em estudo. Comparações de médias por sexo Quanto à variável sexo, um teste t para amostras independentes foi conduzido e seus resultados (t(633) = -0,039; p = 0,969) indicaram não existir diferenças significativas (p > 0,05) entre os níveis gerais de motivação à prática regular de atividade física. Inicialmente, pode-se dizer que a pequena diferença nominal encontrada nas médias das respostas segundo o sexo dos respondentes não é suficiente para poder-se afirmar que esta variável, quando controlada diretamente, tem um papel importante no construto em questão. Na realidade, seria um tanto surpreendente se um dos sexos se mostrasse mais motivado que o outro. Diga-se, se o fato de pertencer a um ou o outro sexo fosse determinante para se encontrar comportamento de respostas (à motivação) 36 estatisticamente diferentes, seria muito difícil explicar objetivamente tal fenômeno. Embora homens e mulheres tenham se mostrado igualmente motivados (sob o viés da significância estatística), cabe salientar que ambos os sexos apresentam médias observadas (ver Tabela 2) com cerca de 25 pontos nominais acima da média esperada (360 pontos). A fim de se testar os níveis de significância para essas diferenças, realizou-se uma comparação, com a ajuda do teste t para uma amostra, que indicou tratar-se de índices de motivação estatisticamente iguais ao esperado para o instrumento, tanto para os homens (t(314) = 0,036; p > 0,971) quanto para as mulheres (t(319) = 0,093; p > 0,926). Interpretam-se esses resultados de forma positiva, pois este pode ser um dos indicadores de que, em média, os sujeitos que compuseram esta amostra em estudo não estão expressando a intenção iminente de abandonar a prática regular de atividade física. As vantagens de tal decisão afetam diretamente a saúde geral desses sujeitos, o que tem sido observado na literatura nacional (Balbinotti & Capozzoli, 2008; Graça & Bento, 1992) e internacional (Capdevila, Niñerola, & Pintanel, 2004; Morgan & Goldston, 1987; Wankel, 1993). Por outro lado, pode-se imaginar a possibilidade de que o instrumento tenha sido construído de forma a favorecer respostas equilibradas, mas isso só poderá ser verificado com pesquisas continuadas a partir de diversas amostras independentes. Assim, espera-se que outros estudos, com outras amostras, testem e discutam estas propriedades métricas, verificando se este comportamento de resposta se repete. Considerando esses resultados referentes às comparações estatísticas gerais em relação ao sexo, pode-se ficar inclinado a supor que, possivelmente, não existam diferenças entre as dimensões constitutivas do construto em estudo (Motivação à Prática Regular de Atividade Física), mas isso não deve ser suposto. Mesmo que não seja um dos objetivos deste estudo a descrição das médias por dimensão constitutiva desta motivação, cabe dizer que essas diferenças podem ocorrer e, se assim for o caso, novos estudos devem apresentá-las e discuti-las, efetiva e sistematicamente. https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-294X2011000100013&lng=pt&tlng=pt#tab02 37 Na verdade, alguns estudos têm avaliado as diferenças entre as dimensões da motivação. Por exemplo, o estudo realizado por Lores et al. (2004) testou a existência de possíveis diferenças entre homens e mulheres praticantes de atividade física na dimensão estética. Seus resultados indicam que as mulheres são significativamente (p < 0,001) mais motivadas por aspectos relacionados à estética, do que os homens. Em contrapartida, o mesmo estudo demonstrou que os homens são significativamente (p < 0,001) mais motivados do que as mulheres quando a dimensão avaliada é a competitividade. Resultados similares foram encontrados por Balbinotti e Capozzoli (2008). Sendo assim, parece que, em média, as dimensões se acomodam de forma que o índice geral da motivação resta indiferente entre homens e mulheres. Comparações de médias por faixa etária Quanto à variável faixa etária, realizou-se a estatística ANOVA one-way e seus resultados (F(2, 632) = 7,214; p = 0,001) indicaram existir ao menos uma diferença altamente significativa (p > 0,01) entre as médias observadas nas três faixas etárias, em estudo. O teste complementar de Bonferroni (considerando que as variâncias são homogêneas) permitiu localizar duas diferenças significativas (p < 0,05). Uma delas, altamente significativa (p < 0,01), foi localizada entre as médias do grupo de adolescentes (18 a 20 anos) e do grupo de jovens adultos (21 a 40 anos); e outra diferença significativa (p < 0,05), localizada entre as médias do grupo de adolescentes (18 a 20 anos) e do grupo de meia idade (41 a 55 anos); ambas favoráveis aos adolescentes (ver Tabela 2). O comportamento do índice geral de motivação ao longo das idades (considerando os três grupos estudados) pode ser simbolicamente representado por uma letra "V", com a segunda "perna" um pouco mais curta (ver Figura 1). Estes resultados podem ser discutidos tanto à luz da teoria da autodeterminação, quanto à luz da teoria do desenvolvimento humano. https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-294X2011000100013&lng=pt&tlng=pt#tab02 https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-294X2011000100013&lng=pt&tlng=pt#tab02 https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-294X2011000100013&lng=pt&tlng=pt#fig01 38 No que diz respeito à teoria da autodeterminação, os elevados índices de motivação entre os adolescentes observados neste estudo podem ser interpretados como um indicador de que a motivação destes sujeitos é predominante intrínseca. Esta interpretação é sustentada por achados teóricos e empíricos que indicam que níveis elevados de motivação estão associados à motivação intrínseca (Ryan et al., 1997). No que diz respeito à teoria do desenvolvimento humano, pode se pensar que os adolescentes (18 a 20 anos) enfrentam tarefas de desenvolvimento que incluem a exploração e teste das potencialidades e limites de seus corpos, que, diga-se de passagem, estão em pleno processo de transformação (Aberastury & Knobel, 1981). As atividades físicas, por um lado, propiciam a exploração deste corpo, testando seus limites e, por outro lado, favorecem o aprendizado e seu condicionamento geral; que conduzem à realização de novas tarefas, reiniciando este processo, de caráter dinâmico. Ainda sob o mesmo viés (da teoria do desenvolvimento humano), outros aspectos poderiam contribuir para explicar os altos índices de motivação na adolescência, tais como o aumento e a diversificação de atividades sociais nesta fase. Segundo Weinberg e Gould (2001), as atividades físicas, de maneira geral, favorecem a socialização, o que contribui na transposição das tarefas desta fase. 39 Esta explicação é reforçada pelos resultados de estudos como aquele realizado por Balbinotti e Capozzoli (2008), onde se viu que os mais jovens são significativamente (p < 0,05) mais motivados por aspectos ligados à socialização. Quanto à redução dos índices de motivação observada na segunda faixa etária (jovens adultos, 21 a 40 anos), pode-se pensar que, teoricamente, quando estes sujeitos entram na vida adulta, as tarefas próprias da adolescência (aprendizado, experimentação, exploração do corpo) estão concluídas ou em fase de conclusão. As tarefas típicas dos adultos jovens são as de estabelecimento
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