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FENÔMENO RELIGIOSO NA CONTEMPORANEIDADE E EDUCAÇÃO (UNIFATECIE)

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Prévia do material em texto

Fenômeno Religioso na 
Contemporaneidade
e Educação
Professora Ma. Laís Azevedo Fialho
Professor Me. Giovane Marrafon Gonzaga
Diretor Geral 
Gilmar de Oliveira
Diretor de Ensino e Pós-graduação
Daniel de Lima
Diretor Administrativo 
Eduardo Santini
Coordenador NEAD - Núcleo
de Educação a Distância
Jorge Van Dal
Coordenador do Núcleo de Pesquisa
Victor Biazon
Secretário Acadêmico
Tiago Pereira da Silva
Projeto Gráfico e Editoração
André Dudatt
Revisão Textual
Kauê Berto
Web Designer
Thiago Azenha
UNIFATECIE Unidade 1
Rua Getúlio Vargas, 333,
Centro, Paranavaí-PR
(44) 3045 9898
UNIFATECIE Unidade 2
Rua Candido Berthier
Fortes, 2177, Centro
Paranavaí-PR
(44) 3045 9898
UNIFATECIE Unidade 3
Rua Pernambuco, 1.169,
Centro, Paranavaí-PR
(44) 3045 9898
UNIFATECIE Unidade 4
BR-376 , km 102, 
Saída para Nova Londrina
Paranavaí-PR
(44) 3045 9898
www.unifatecie.edu.br/site/
As imagens utilizadas neste 
livro foram obtidas a partir
do site ShutterStock
FICHA CATALOGRÁFICA
FACULDADE DE TECNOLOGIA E 
CIÊNCIAS DO NORTE DO PARANÁ. 
Núcleo de Educação a Distância;
FIALHO, Laís Azevedo.
GONZAGA, Giovane Marrafon.
Fenômeno Religioso na Contemporaneidade e Educação.
Laís Azevedo Fialho.
Giovane Marrafon Gonzaga.
Paranavaí - PR.: Fatecie, 2021. 94 p.
Ficha catalográfica elaborada pela bibliotecária
Zineide Pereira dos Santos.
AUTORES
Professora Ma. Laís Azevedo Fialho
●	 Mestra em História, Cultura e Narrativas (PPH-Universidade Estadual de
 Maringá).
●	 Especialista em História da África e Cultura Afro-brasileira (DCS-
 Universidade Estadual de Maringá).
●	 Licenciada em História (DHI-Universidade Estadual de Maringá).
●	 Tutora Educacional no Centro Universitário Cidade Verde (UniFCV).
●	 Professora Conteudista na UniFatecie.
●	 Experiência como professora de História da Rede básica de Educação em 2016.
●	 Atuou como Pesquisadora Bolsista Capes em 2018 e 2019.
●	 Coordenou e organizou diversos Projetos de Extensão abordando as Religiões 
 e Religiosidades Afro-brasileiras, na Universidade Estadual de Maringá, 
 entre 2015 e 2019.
●	 É integrante do Laboratório de Religiões e Religiosidades da Universidade Esta 
 dual de Maringá (LERR/UEM).
Áreas de concentração: História das Religiões e Religiosidades com ênfase
nas Práticas Afro-brasileira; História Cultural, Epistemologias decoloniais.
Endereço para acessar este CV: http://lattes.cnpq.br/8724898233397030
Professor Me. Giovane Marrafon Gonzaga
●	 Doutorando em História, Cultura e Narrativas (PPH – Universidade Estadual de 
 Maringá)
●	 Mestre em História, Cultura e Narrativas (PPH-Universidade Estadual de Maringá).
●	 Licenciado em História (DHI-Universidade Estadual de Maringá).
●	 Experiência como professor de História da Rede básica de Educação de 2018 
 a 2020.
●	 Pesquisador/discente no Laboratório de Estudos em Religiões e Religiosidades 
 (UEM) e Laboratório de Estudos em Religiosidades e Cultura (UEM).
Áreas de concentração: História das Religiões e Religiosidades com ênfase
nas Práticas Afro-brasileira; História Cultural.
Endereço para acessar este CV: http://lattes.cnpq.br/2869647069753158
APRESENTAÇÃO DO MATERIAL
Caros (as) estudantes, produzimos esse material com dedicação e comprometi-
mento	a	fim	de	proporcionar	para	você	uma	oportunidade	de	aprendizado	sobre	fenômenos	
religiosos, a religião na contemporaneidade, as diversas manifestações religiosas e suas 
particularidades, além de pontuar as relações entre tais assuntos, a educação e o Ensino 
Religioso.
A religião pode ser analisada a priori como um conjunto de crenças e ritos. Por outro 
lado, pode-se pensar que o essencial na religião só é compreendido como algo que emana 
do alto, de Deus. O ponto de vista analítico adotado importa pois o tema é complexo, não 
podemos perder isso de vista. Desse modo, o que priorizamos neste estudo são modos 
de enquadrar teoricamente as representações das religiões como experiências vividas e 
passíveis de observação, ou seja, os fenômenos religiosos. 
Iniciaremos nossa discussão com uma incursão teórica sobre fenômenos religio-
sos	e	sociedade.	Abordaremos	diversos	conceitos,	definições	e	disputas	analíticas	para	
compreender	nossa	temática.	Apresentaremos	estudos	inaugurais	que	influenciaram	con-
sideravelmente a Ciência das Religiões e alguns debates sobre modos de se perceber os 
fenômenos religiosos a partir de diferentes áreas do conhecimento. Destacaremos, também, 
algumas características dos fenômenos religiosos na contemporaneidade.
Na segunda unidade, nos dedicaremos a pensar sobre como as pessoas se com-
portam em relação à religião em nossa sociedade. Abordaremos o contato cultural como 
catalisador para formação e adaptação das religiões em diferentes sociedades no mundo 
e no tempo, bem como nos deteremos sobre as imbricações desse processo na história 
das	religiões	no	Brasil	com	o	poder	e	com	o	cotidiano.	Posto	isso,	refletiremos	sobre	como	
o indivíduo contemporâneo se orienta em relação a multiplicidade de religiões, crenças e 
práticas presentes no mundo.
Já em nossa terceira unidade, apresentaremos um debate teórico sobre fundamen-
talismos religiosos. Analisaremos algumas manifestações desse fenômeno em diferentes 
tempos históricos e culturas religiosas, bem como a própria historicidade do termo. Apresen-
taremos algumas características típicas desse fenômeno e contextualizamos o crescimento 
de fundamentalismos religiosos no Brasil contemporâneo.
	Por	fim,	veremos	na	última	unidade	qual	pode	ser	o	papel	do	Estado	em	relação	à	
religião. Lançaremos luz sobre o conceito de Estado laico e seu desenvolvimento histórico 
no Brasil. Em diálogo com tais discussões, pensaremos também sobre alguns tabus religio-
sos. Esperamos que você possa se interessar pelas discussões aqui iniciadas!
Bons Estudos!
SUMÁRIO
UNIDADE I ...................................................................................................... 6
Fenômenos Religiosos e Sociedade
UNIDADE II ................................................................................................... 24
As Religiões Contemporâneas
UNIDADE III .................................................................................................. 49
Fundamentalismo Religioso
UNIDADE IV .................................................................................................. 69
Religião e Políticas
6
Plano de Estudo:
●	 Homem como um ser religioso e social.
Objetivos da Aprendizagem:
●	 Definir	o	fenômeno	religioso.
●	 Estabelecer as múltiplas vertentes conceituais em torno dos fenômenos religiosos.
●	 Apresentar algumas características dos fenômenos religiosos na contemporaneidade.
UNIDADE I
Fenômenos Religiosos e Sociedade
Professora Me. Laís Azevedo Fialho
Professor Me. Giovane Marrafon Gonzaga
7UNIDADE I Fenômenos Religiosos e Sociedade
1. HOMEM COMO UM SER RELIGIOSO E SOCIAL 
1.1 A religião e o fenômeno religioso
A	palavra	“religião”	vem	do	latim,	significa	“religare”	e	refere-se	etimológicamente	à	
uma	confluência	de	pessoas	em	torno	de	algo	que	as	conecta	com	o	sobrenatural.	Histori-
camente, o termo se relaciona às crenças e práticas de um grupo. Esse aspecto da vida é 
essencial e permanente na humanidade, um fenômeno coletivo que gera a criação de laços 
solidários entre pares e consolida padrões éticos baseados na crença de um determinado 
grupo.
Sobre a tentativa de indicar o que seria religião e porque é relevante enquadrá-la 
como um aspecto importante da vida humana, mesmo com todas as problemáticas envoltas 
em	conflitos	religiosos,	Beter	Berger	(2003,	p.	112)	diz	o	seguinte:
Pode-se dizer que a religião aparece na história quer como força que sus-
tenta, quer como força que abala o mundo. Nestas duas manifestações, ela 
tem	sido	tanto	alienante	quanto	desalienante.	É	mais	comum	verificar-se	o	
primeiro caso, devido a características intrínsecas da religião como tal, mas 
há exemplos importantes do segundo. 
Trouxemos esse texto, porque é importante problematizar o modo comoalguns 
discursos buscam atribuir à religião a origem dos problemas sociais. Será mesmo que 
ela não é só mais um modo por onde a existência humana se manifesta? A religião está 
atrelada aos princípios de moralidade e ética que circundam os indivíduos. É essa ética que 
determina o que é certo fazer e o que deve ou não ser feito. 
8UNIDADE I Fenômenos Religiosos e Sociedade
Figura 1 - Tirinha sobre religião e ética. Fonte: https://www.satirinhas.com/wp-content/
uploads/2013/03/satirinhas-religi%C3%A3o-n%C3%A3o-define-car%C3%A1ter.jpg
O	autor	Schiavo	(s/d)	diz	que	a	religião	é	também	cultura,	pois	atribui	significados	
a questionamentos e respostas sobre a existência humana e o sentido da vida. Para ele, a 
religião não é patrimônio exclusivo das igrejas, mas dos povos que a construíram e cons-
troem como aspecto importante de suas culturas. O autor postula que a religião “antes de 
ser a estruturação de certa experiência religiosa é, e representa, o anseio humano de se 
transcender e de se encontrar com aquele Ser, no qual a humanidade encontra respostas 
às suas perguntas profundas” (SCHIAVO. s/d, p. 77). 
Desse modo, prezado(a) estudante, o estudo das religiões é importante para 
compreendermos a condição humana em seus aspectos mais profundos e misteriosos. A 
religião contribui para a formação de estruturas imaginativas elementares sobre como nos 
orientamos ou deveríamos nos orientar no cosmos. 
A religião dá forma e ensaia no ritual nossos mais importantes laços, uns com 
os outros e com a natureza, e provê a lógica tanto ao porque destes laços 
serem	 importantes	 como	 ao	 o	 que	 significa	 estar	 comprometido	 com	 eles	
(NEVILLE; WILDMAN, apud NEVILLE, 2005, p. 37)
Compreendemos que a religião está para além das instituições, mesmo que seja 
organizada por ela. É um aspecto da cultura e que organiza pessoas com as mesmas 
crenças. Mas então o que difere o fenômeno religioso do fenômeno social? O pesquisador 
9UNIDADE I Fenômenos Religiosos e Sociedade
Zilles (2004) nos auxilia a pensar sobre a questão apontando que a estrutura especial do 
homem	é	definida	por	sistema	de	relações	com	os	outros	homens:
No fundo de toda a situação verdadeiramente religiosa encontra-se a refe-
rência	aos	fundamentos	últimos	do	homem:	quanto	à	origem,	quanto	ao	fim	
e quanto à profundidade. O problema religioso toca o homem em sua raiz 
ontológica.	Não	se	trata	de	fenômeno	superficial,	mas	implica	a	pessoa	como	
um todo. Pode caracterizar-se o religioso como zona do sentido da pessoa. 
Em outras palavras, a religião tem a ver com o sentido último da pessoa, da 
história e do mundo (ZILLES, 2004, p. 5-6).
Assim, caro(a) estudante, a religião pode ser compreendida como uma dimensão 
pela qual as pessoas se unem e organizam um modelo de diversos aspectos sociais. A re-
ligiosidade se mantém em nosso horizonte como um aspecto da cultura que funciona como 
lentes pelas quais os sujeitos religiosos veem o mundo. Muitos aspectos da vida social são 
diretamente	orientados	pelo	filtro	da	religião,	como	o	modo	de	vestir,	se	alimentar,	cuidar	
do corpo, etc. 
A prática do Candomblé, por exemplo, é toda baseada em comidas. Os alimentos 
fazem parte dos rituais ligados às divindades africanas. Nos cultos, come-se para transmitir 
o axé às entidades às quais se reza – orixás e espíritos ancestrais. Logo, o alimento passa 
a	figurar	cotidianamente	a	mesa	do	adepto	da	religiosidade	Afro-brasileira.	É	o	caso	do	aca-
rajé,	historicamente	relacionado	à	cozinha	baiana,		já	que	o	estado	figura	o	maior	estado	
negro fora da África e possui uma grande população Afro-religiosa.
Figura 2 - Baiana de Acarajé
Fonte: https://veja.abril.com.br/gastronomia/acaraje-da-cira-e-eleito-o-
melhor-de-salvador-pelo-juri-veja-comer-beber/
10UNIDADE I Fenômenos Religiosos e Sociedade
Pensando na vestimenta, nós podemos citar uma série de elementos relacionados 
à	indumentária	necessária	para	o	serviço	religioso	no	Judaísmo.	Quipá,	 talit,	pejot,	 teflin	
são	os	nomes	de	alguns	deles,	todos	com	algum	significado	imaterial.	As	roupas	para	esse	
adepto,	portanto,	deixam	de	ter	somente	uma	finalidade	prática	e	passam	a	ter	também	um	
aspecto simbólico, que se relaciona intimamente ao rito.
Figura 3 - Indumentária utilizada por alguns grupos de judeus
Fonte: http://2.bp.blogspot.com/-4gqxH_9zJCs/ThkIzgZDm_
I/AAAAAAAAAvE/XcJzjqEUYD0/s1600/Roupas+de+Judeu.jpg
Já sobre a relação que o homem religioso possui com o corpo, podemos citar o 
caso de alguns grupos indígenas em que tatuagens e marcações na pele são realizadas, 
como	modo	de	comunicar	e	identificar	um	rito	iniciático.	Sobre	o	assunto,	Vidal	(1992,	p.	
13) diz o seguinte:
Apenas	 recentemente	 a	 pintura,	 a	 arte	 gráfica	 e	 os	 ornamentos	 do	 corpo	
passaram a ser considerados como material visual que exprime a con-
cepção tribal de uma pessoa humana, a categorização social e material e 
outras mensagens referentes à ordem cósmica. Em resumo, manifestações 
simbólicas e estéticas centrais para a compreensão da vida em sociedade
Agora que nós já vimos alguns exemplos práticos de como essa dimensão da vida 
social	comunica	as	práticas	e	modos	com	que	o	homem	religioso	significa	o	mundo,	passa-
11UNIDADE I Fenômenos Religiosos e Sociedade
remos a apresentar alguns estudos que organizam de modo teórico a análise do fenômeno 
religioso. Para isso, apresentaremos alguns conceitos e autores que balizam as análises 
sobre	o	tema.	Inicialmente,	apresentamos	um	breve	panorama	sobre	o	estudo	científico	que	
apresenta o espaço delimitado para a Religião no Ocidente e organiza as bases utilizadas 
pela Antropologia, para pensar fenômeno religioso e sociedade. 
1.2 Estudos inaugurais sobre o fenômeno religioso
Max-Muller é reconhecido por ter criado a metodologia de religião comparada e por 
ter traduzido os Upanishads, textos sagrados da cultura hindu, em meados do século XIX 
(SILVA, 2009).
Figura 4 - Friedrich Max-Müller, Junho de 1857
Fonte: National Portrait Gallery, London.
Já	o	antropólogo	britânico	Edward	Burnett	Tylor	 influenciou	consideravelmente	a	
Ciência das Religiões, por ser o responsável pela criação da teoria animista. O intelectual 
utilizou-se de princípios próprios do evolucionismo de Darwin, para o estudo das culturas 
e das religiões. Tylor (1920) postulava que todos os seres humanos tinham uma única 
origem, portanto assumia uma postura “monogenista”, em confronto à teoria de que o ser 
humano não tem uma única origem, chamado portanto plurigenismo. Outro posicionamento 
que o coloca como importante intelectual do período é que ele negou a perspectiva degra-
12UNIDADE I Fenômenos Religiosos e Sociedade
dacionista. Esta corroborou uma sentença bíblica de que o homem foi criado perfeito, e ao 
longo da história foi se encaminhando para a degradação (SILVA, 2009). 
Desse modo, o intelectual defendia que o homem, ao longo da história, foi evo-
luindo e se desenvolvendo. Ou seja, baseava-se na crença no progresso e universalidade 
do	ser	humano.	Por	outro	lado,	o	fundador	da	antropologia	britânica	classificou	todas	as	
diferenças	em	uma	escala	evolutiva.	Foi	o	primeiro	pesquisador	a	publicar	uma	definição	
formal de cultura: 
Cultura	 ou	 civilização,	 tomada	 em	 seu	 mais	 amplo	 sentido	 etnográfico,	 é	
aquele todo complexo que inclui conhecimento, arte, moral, lei, costume e 
quaisquer outras capacidades e hábitos adquiridos pelo homem na condição 
de membro da sociedade” (TYLOR, [1871] 2005, p. 69).
Figura 5 - Edward Burnett Tylor, Londres, Outubro de 1832
Fonte: Encicolpédia Britannica. 
Historicamente, não podemos perder de vista que o século XIX no Ocidente foi 
marcado	pela	 consolidação	do	 cientificismo.	Um	dos	marcos	principais	 desse	momento	
foi a divulgação do estudo de Charles Darwin (1859), intitulado “A origem das espécies”. 
Desse modo, temos um grande distanciamento entre o sistema de pensamento religioso 
(judaico-cristão)	e	o	sistemade	explicação	científico	da	época.	Diversos	fatores	corrobora-
ram esse afastamento, tais como a Reforma Protestante e o Iluminismo (BELLOTTI, 2011).
O historiador Michel de Certeau (2002) indica que a Reforma Protestante enfra-
queceu consideravelmente o poder do cristianismo como único sistema explicativo admitido 
13UNIDADE I Fenômenos Religiosos e Sociedade
pela sociedade europeia. Ela instituiu a concorrência religiosa com a Igreja Católica, o 
que culminou nas guerras religiosas do século XVII. Sobre o assunto, a historiadora das 
Religiões Karina Kosicki Bellotti (2011, p. 16), diz o seguinte:
Se até então religião e política formavam uma só instância de poder, a partir 
desse período a instância religiosa rivalizará com outras instâncias sociais e 
políticas, além da ciência, que surge cada vez mais distanciada de elemen-
tos	religiosos	em	suas	explicações.	Se	na	chamada	revolução	científica	do	
século XVII muitos estudiosos buscavam aliar observações e experimentos a 
conceitos	religiosos/filosóficos,	explicando	os	mecanismos	de	funcionamento	
da	“criação”,	no	Iluminismo	houve	um	antagonismo	ferrenho	entre	filósofos	e	
cientistas e a religião, seja a encarnada pelas instituições religiosas, seja a 
religião popular. 
Novos	distanciamentos	em	relação	à	religião	organizada	também	marcam	o	fim	do	
século XIX, tais como:
●	 Deísmo, crença em uma inteligência divina que não se vincula a ritualismo ou dogma.
●	 Ateísmo, a negação de Deus. 
Todos esses acontecimentos contribuíram para demarcar um lugar limitado para a 
religião no Ocidente. Ou seja, esses acontecimentos corroboram a transformação da reli-
gião em um objeto de pesquisa, enquadrável e analisável, como qualquer outro fenômeno 
humano.	Sobre	o	assunto	Bellotti	(2011,	p.	17)	diz	o	seguinte:	“para	que	o	estudo	científico	
da religião surgisse, foi necessário dessacralizá-la”.
No entanto, não podemos assumir que houve um completo distanciamento en-
tre	os	princípios	religiosos	ocidentais	e	a	linguagem	científica	no	campo	da	antropologia.	
Assim, assinalamos que o período foi marcado, também, por um enorme interesse dos 
pesquisadores	para	com	as	culturas	consideradas	“exóticas”	ou	“primitivas”.	Influenciados	
por ideias de Darwin quanto ao mundo natural, cientistas europeus, como o próprio Tylor, 
já	citado,	preocuparam-se	em	classificar	a	espécie	humana,	a	partir	dos	seus	costumes	e	
especificidades	culturais	e	raciais.	
Precisamos, portanto, considerar que o estudo acadêmico das religiões foi inau-
gurado por evolucionistas que, na segunda metade do século XIX, se empenharam em 
qualificar	o	desenvolvimento	humano	a	partir	de	uma	perspectiva	a-histórica	e	atemporal.
Da mesma forma que antropólogos criminais, frenologistas e eugenistas qui-
seram provar as diferenças “raciais”, hierarquizando diversos grupos étnicos 
que se tornaram conhecidos pela empresa imperialista antropólogos e etnó-
logos como Müller, Tylor e James Frazer (O Ramo de Ouro, 1890), partiram 
de premissas evolucionistas para hierarquizar os povos e suas crenças re-
ligiosas:	comumente	encontram-se	nesses	trabalhos	classificações	que	atri-
buem aos povos “primitivos” o domínio da magia e aos povos “civilizados” 
a presença da religião institucionalizada. Povos que se atrasaram na esca-
la evolutiva jamais poderiam alcançar o nível de organização religiosa dos 
povos ocidentais europeus, por estarem desprovidos de uma “verdadeira” e 
complexa cultura (BELLOTTI, 2011, p. 18).
14UNIDADE I Fenômenos Religiosos e Sociedade
No século XIX, diversas nações europeias conheceram povos não europeus. Es-
ses foram tidos como o “Outro”, considerando que o homem branco olhava para si mesmo 
como a norma. Não estavam em jogo as perspectivas relacionais ou de alteridade, e sim de 
classificação	hierárquica	em	que	a	cultura	europeia	era	superior	às	demais.	Isso	gera	um	
grande	debate	científico	sobre	o	conceito	de	cultura.	Os	grupos	não	europeus	eram	classifi-
cados como primitivos já que, sob o olhar do homem branco, eles não teriam desenvolvido, 
ainda,	instrumentos	suficientes	para	dominar	a	natureza	(BELLOTTI,	2011).
De	acordo	com	Belotti	(2011),	o	pensamento	inglês	da	época	solidificou	a	noção	de		
“cultura civilizada” relacionada ao cultivo das faculdades humanas “superiores”, manifes-
tada por meio da arte ou ciência. Essa seria a “alta cultura”, que se diferenciaria da “baixa 
cultura”,	predominante	nas	esferas	populares.	Isso	significa	que,	para	os	antropólogos	que	
balizaram	os	estudos	sobre	fenômenos	religiosos	na	época,	não	ter	ciência	significava	não	
ter	cultura,	e	ter	religião	significava	ser	inferior	culturalmente	à	quem	tem	ciência.	
Se formos adiante no debate entenderemos como, além disso, na escala de evo-
lução cultural, quem tinha religião, mas não tinha ciência, ainda era considerado superior à 
quem	cultivava	elementos	“mágicos”.	Assim,	houve	também	uma	tentativa	de	classificação	
e hierarquização entre religião e magia. 
Religião compreenderia uma organização social e hierárquica complexa de 
rituais e crenças, espelhando-se na experiência cristã europeia e norte-ame-
ricana e na tradição judaico-cristã, monoteísta e patriarcal. Magia seria uma 
forma	infantil	e	simplória	de	se	acessar	a(s)	divindade(s),	identificadas	com	
elementos	da	natureza,	sem	grandes	hierarquizações,	dependentes	da	figura	
de um líder que dominaria o contato com as entidades naturais (BELLOTTI, 
2011, p. 18). 
A	 definição	 apontava	 para	 uma	 perspectiva	 atemporal	 da	 evolução	 religiosa,	 e	
inferiorizava o homem religioso não europeu, desconsiderando as construções relacionais 
entre crenças e práticas religiosas, e suas sobreposições para usos sociais. Cabe des-
tacar	também,	que	a	significação	histórica	da	categoria	“magia”	relaciona-se	ao	contexto	
religioso ocidental cristão. A palavra era utilizada para designar algo negativo perante a 
Igreja Católica durante a Idade Média e a Idade Moderna, em especial durante o período 
da Inquisição. Desse modo, o termo foi empregado pelos antropólogos do século XIX com 
sentidos que inferiorizavam os outros não ocidentais. 
Pesquisadores do início do século XX que marcaram a relação entre antropologia 
e o estudo do fenômeno religioso, e se distanciaram da teoria evolucionista, foram B. Ma-
linowski e Émile Durkheim. Os autores consideravam outros elementos da sociedade em 
que religião e magia seriam pesquisados. 
15UNIDADE I Fenômenos Religiosos e Sociedade
Malinoswki (1884-1942) se difere pela teoria do “funcionalismo”, que admitia todos 
os elementos de uma cultura como funcionais. Conforme o autor, todas as sociedades 
desenvolvem	conhecimentos	científicos	para	transformar	a	natureza.	Assim,	ciência,	magia	
e religião estariam presentes no início do desenvolvimento da cultura. 
Já Durkheim (2001) postulou que os primeiros sistemas de representação do mundo 
pertenciam a uma ordem religiosa, pois determinavam noções de tempo, espaço, número, 
causalidade, estabelecendo o que ele denomina como “ossatura da inteligência humana”. 
O autor considerava que sociedades primitivas e civilizadas pertenciam a etapas diferen-
tes da mesma história. Ele distanciou-se do evolucionismo porque buscou compreender 
a religião como âmbito real, a qual expressa sentimentos, urgências, angústias, anseios 
e pensamentos reais. Partindo desse pressuposto, toda religião seria verdadeira à sua 
maneira	e	responderia	a	condições	particulares	de	sociedades	específicas.	
Agora que nós já temos conhecimento sobre os estudos que inauguraram e deli-
mitaram a religião como objeto de estudos acadêmicos, podemos passar para um debate 
mais	específico	sobre	o	campo	definido	para	o	nosso	capítulo.	Vamos	então	apresentar	
algumas noções sobre o fenômeno religioso, presentes em diferentes linhas teóricas.
1.3 Debates teóricos sobre o fenônemo religioso
O historiador Gerardus van der Leeuw [1933] (2009), nos traz contribuições im-
portantes para pensar o fenômeno religioso, poisadmite a importância do sentimento e 
do irracional como parte explicativa da religião. Para ele, essa seria uma das dimensões 
primordiais da experiência religiosa. Contudo, tal perspectiva se apresenta como um grande 
desafio	para	os	estudiosos,	já	que	a	dimensão	subjetiva,	não	é	facilmente	capturável	em	
explicações racionais.
O psicanalista Sigmund Freud (2006) também participou do debate acerca do 
fenômeno religioso, ao utilizar a psicologia para examinar as origens das religiões e sua 
relação com a consciência humana. “O futuro de uma ilusão” é a obra escrita em 1927 que 
demonstra	como	o	pesquisador	classificou	a	religião	como	um	sistema	de	crenças	falsas	
e infantilizadas. Para ele, o ser humano, impotente diante da natureza e das angústias da 
vida, cria a imagem de um deus onipotente, do mesmo modo que uma criança indefesa vê 
seu pai como o protetor. 
O desamparo do homem, porém, permanece e, junto com ele, seu anseio 
pelo pai e pelos deuses. Estes mantêm sua tríplice missão: exorcizar os terro-
res da natureza, reconciliar os homens com a crueldade do Destino, particu-
larmente a que é demonstrada na morte, e compensá-los pelos sofrimentos 
e privações que uma vida civilizada em comum lhes impôs (FREUD, [1927] 
2006, p. 26).
16UNIDADE I Fenômenos Religiosos e Sociedade
Para o psicanalista, a ideia de um deus humanizado é consequência da neurose psí-
quica humana e do complexo paterno produzido pelo homem religioso. Isso seria negativo, 
pois seria fruto de delírios, imaginações e desejos de acreditar em algo transcendente além 
do que, resultaria na criação de dogmas, duelos e efeitos psicológicos e sociológicos ruins 
para a humanidade. Quando Freud (2005) indica que o fenômeno religioso é constituído 
por uma ilusão, não determina necessariamente que é falso, mas que existiria unicamente 
para contentar os desejos e as neuroses dos que creem .
Desse modo, o pensador busca representar o homem moderno extinguindo a no-
ção de transcendência e focando na ideia de imanência. Com isso, ele torna a religião um 
produto dispensável e coloca em dúvida a consciência religiosa transcendente e elaborando 
uma nova consciência vazia.
Mircea Eliade (1989), por sua vez, busca compreender e explicar o fenômeno reli-
gioso a partir das categorias sagrado/profano. Analisando a religião de diferentes culturas 
religiosas, o autor chega a conclusão de que em sociedades arcaicas e tradicionais existiria 
uma busca pela experiência sagrada, que acarretaria na sacralização de momentos e 
ocasiões do cotidiano. Somente a partir dessa consagração e portanto, dessa experiência 
religiosa, seria possível a existência do que ele chama de “homem total”, um sujeito que 
não	é	definido	somente	pela	sua	dimensão	racional.	
[...] a experiência religiosa enquadra o homem na sua totalidade e, por conse-
guinte, também afecta as zonas profundas do seu ser. Isto não quer dizer que 
se reduza a religião aos seus componentes irracionais mais simplesmente 
do que se reconheça a experiência religiosa tal como ela é: a experiência da 
existência total, que revela ao homem a sua modalidade de ser no Mundo 
(ELIADE, 1989, p. 12).
Eliade (2008) buscou demonstrar como nas sociedades modernas, o homem reli-
gioso	vivencia	um	conflito	entre	resistir	e	renunciar	ao	sagrado.	Desse	modo,	o	pesquisador	
buscou analisar o lugar das religiões tanto nas sociedades antigas, como nas contemporâ-
neas, a partir do método comparativo. O autor defende que:
[...] um fenômeno religioso somente se revelará como tal com a condição de 
ser apreendido dentro da sua própria modalidade, isto é, de ser estudado à 
escala	religiosa.	Querer	delimitar	este	fenômeno	pela	fisiologia,	pela	psico-
logia, pela sociologia e pela ciência econômica, pela linguística e pela arte, 
etc... é traí-lo, é deixar escapar precisamente aquilo que nele existe de único 
e de irredutível, ou seja, seu caráter sagrado (ELIADE, 2008, p. 1).
Não seria possível nos estender mais nesse levantamento, nosso esforço foi de 
selecionar alguns estudos e pesquisadores para demonstrar para você, caro(a) estudante, 
que o nosso tema de debate é muito complexo e pode ser visto de diferentes ângulos. 
É	possível	abarcar	o	discurso	historiográfico,	sociológico,	antropológico,	geográfico,	psi-
17UNIDADE I Fenômenos Religiosos e Sociedade
canalítico e outros, e mesmo dentro de cada disciplina, teremos diferentes abordagens, 
que privilegiam uma ou outra dimensão do fenômeno religioso. Todos esses estudos são 
ferramentas que nos possibilitam olhar com maior criticidade para a complexidade desse 
objeto. Agora que temos uma compreensão teórica e analítica mais ampla sobre o assunto, 
passaremos a algumas características do fenômeno religioso na contemporaneidade.
1.4 Características do fenômeno religioso na contemporaneidade
Para	 refletir	 sobre	os	 fenômenos	 religiosos	na	 contemporaneidade	é	 importante	
que a gente considere a abordagem interdisciplinar. Não é possível admitir a ciência a partir 
de um método unicamente empírico, limitando o conhecimento ao nível da aparência. A 
complexidade	da	realidade	social	contemporânea	exige	uma	reflexão	sistemática	e	crítica.	
Filoramo e Prandi (2003, p.25) postulam: 
O interesse crescente pelas religiões vivas, por exemplo, obrigou sociólogos 
e	psicólogos	da	religião	a	sair	dos	confins	de	uma	sociologia	e	psicologia	cris-
tianocêntrica para confrontar-se com a globalidade do fenômeno religioso.
Ou seja, estamos buscando elucidar que o nosso objeto de estudo exige um olhar 
crítico,	científico,	interdisciplinar	ou	transdisciplinar,	que	convoque	várias	ciências	(filosofia,	
história, sociologia, psicologia, lingüística, física etc.) para a análise do fenômeno religioso 
na sua pluralidade. 
É importante situar historicamente a questão do desencantamento ocidental para 
compreender a difusão de um certo agnosticismo e rejeição da religião nos dias atuais. 
Essa passa a ser uma das estruturas básicas do que conhecemos como a modernidade. 
Os	movimentos	e	modificações	na	esfera	religiosa	demandaram,	a	partir	desse	marco,	um	
tipo de crítica, de distanciamento, de repulsa ou de reavaliação da religião fundante da 
civilização ocidental. 
As	reformulações	do	campo	religioso	ou	filosófico	exigem	uma	compreensão	das	
alterações que se dá também no campo cristão. Visto que a solução que apresentou-se 
por meio da elite constituída por céticos e agnósticos foi reformular radicalmente o que 
compreendia-se	por	cristianismo,	sobretudo	enquanto	postura	filosófica.	
Surgiram assim, no século XIX, vários cristianismos - heterodoxos, hereges, e 
por isso mesmo, modernos -, como os formulados por Schopenhauer, Kierke-
gaard e Nietzsche. Além disso, outras tradições religiosas foram - talvez pela 
primeira vez na história do Ocidente - trazidas à discussão sem que fossem 
a priori consideradas inferiores; não necessariamente para ocupar o espaço 
do	cristianismo,	mas	para	qualificá-lo,	se	assim	se	pode	dizer	(CARVALHO,	
1992, p. 138).
18UNIDADE I Fenômenos Religiosos e Sociedade
É importante também pensar em outro viés da religiosidade contemporânea, o mo-
vimento esotérico. Reatualizado no século XIX em um contexto marcado pela crise histórica 
e cultural que convencionou-se chamar de desencantamento do mundo, o esoterismo 
esteve fundamentalmente ligado à elite intelectual européia. Contudo, paulatinamente, por 
meio	de	diversas	mediações,	influenciou	uma	parcela	significativa	de	indivíduos	e	trouxe	à	
tona questões relevantes sobre a religiosidade na era moderna como um todo.
O esoterismo moderno pode ser compreendido como um grande movimento, 
intelectual e espiritual, que constitui a religiosidade contemporânea, e que trava com o 
cristianismo	 uma	 posição	 conflituosa.	 O	 esoterismo	 cresceu	 com	 base	 em	 uma	 crítica	
ao catolicismo, indicando que esse havia perdido o seu caráter iniciático, a dimensão do 
auto-conhecimento, além do seu aspecto político,que se distanciou da vida comunitária e 
legitimou o controle do Estado sobre o indivíduo. Sobre o assunto José Jorge de Carvalho 
(1992, p. 143) diz o seguinte:
Talvez a maior consequência, para o cristianismo, dessa presença cada vez 
maior das tradições esotéricas e orientais, reside no fato de que começa a 
surgir	um	deslocamento	da	figura	de	Jesus	Cristo,	na	medida	em	que	cres-
cem as propostas de diálogo inter-religioso: o Cristo passa a ser entendido 
como um princípio divino (como a natureza búdica, o Ishwara) e Jesus como 
uma encarnação, um avatar, uma manifestação histórica da divindade, equi-
valente ao Budha Shakya Muni, a Krishna, a Zoroastro, a Maomé, etc.
Cabe salientar que esse processo de hibridização, sincretismos e deslocamento 
foi iniciado pelas tradições religiosas africanas no Brasil. Existem diversos pesquisadores 
que estudam sobre essas disputas no mercado religioso contemporâneo, como Reginaldo 
Prandi (2004). O autor indica que existem manejos distintos de cada elemento simbólico, 
por parte de diferentes organizações religiosas, e por isso haveria enormes confrontos e 
tentativas de deslegitimar as práticas religiosas e crenças umas das outras. 
Esse campo de disputas não é recente. A partir do século XX, quando a Igreja 
Católica começa a perder sua posição hegemônica, inaugura uma abertura diplomática 
em relação aos “povos não-crentes” e passa a admitir o esforço pelo reconhecimento 
das religiões não ocidentais e de outros ramos do cristianismo. Desse modo, abandona a 
prática	convencional	de	combate	direto	a	outros	cultos,	o	que	já	não	tinha	muita	eficácia,	
criando aberturas para que outros cultos disputassem a legitimidade de sua presença no 
espaço social. Autores como Almeida e Monteiro (2000) postulam que o enfraquecimento 
da hegemonia católica possibilitou que a liberdade religiosa viesse a ser uma experiência 
social de mais amplo espectro.
Outro elemento relevante para o estudo dos fenômenos religiosos na contempora-
neidade é perceber o enfraquecimento dos papéis das instituições. Por mais que elas ainda 
19UNIDADE I Fenômenos Religiosos e Sociedade
sejam expressivas, não podemos perder do horizonte a experiência de religiosidade não 
comportada em modelos tradicionais. 
O homem de hoje, que não se destina intimamente a uma religião [...] encon-
tra-se diante deste fato em uma situação de indescritível inquietude. [...] No 
entanto, estas diferenças afetam unicamente os conteúdos da fé religiosa, 
mas não a posição da fé a respeito da realidade (SIMMEL, 2005, p.13). 
Simmel,	(2005)	identifica	que	a	deterioração	dos	grandes	sistemas	religiosos	está	
diretamente relacionada às instituições tradicionais. Nas palavras de Simmel, o que sub-
sistiria “não seria a forma vazia da transcendência, que busca novo conteúdo com que se 
encher, mas algo muito mais profundo” (SIMMEL, 2005, p. 15). Simmel julgou possível pos-
tular	isso	evocando	a	mudança	de	postura	inaugurada	por	Kant	(à	qual	se	filiou),	segundo	
a qual a religiosidade seria “uma íntima maneira de se conduzir a alma”. 
Avaliando	as	modificações	recentes	no	campo	religioso,	Steil	(2003)	referencia	os	
tipos ideais construídos por Troeltsch: igreja, seita e mística. O autor postula que para 
compreender	a	reconfiguração	do	fenômeno	religioso	na	contemporaneidade,	é	 imprete-
rível olhar para um movimento histórico mais amplo da Igreja e da comunidade voltadas à 
mística. A mística indicaria formulações bastante variáveis, rápidas, congregando muitos, 
mas de forma instável, caracterizando-se por seus aspectos entusiastas e vibrantes em 
torno	de	uma	figura	carismática	ou	de	um	santo	(	STEIL,	2003,	p.148).	
Dessa forma, a secularização contribui para uma tendência de afastamento cada 
vez maior entre muitos indivíduos e as instituições religiosas, na contemporaneidade. Não 
significa	 necessariamente	 um	 esfriamento	 das	 religiões,	mas	 sim	 um	 fortalecimento	 da	
autonomia individual sobre as escolhas religiosas. Podemos observar que no Brasil existe 
uma porcentagem crescente de pessoas que se declaram sem religião, mas que possuem 
crenças religiosas. Por isso, ao nos debruçarmos sobre o estudo das religiões enquanto 
conjunto de crenças e práticas, devemos manter em perspectiva tanto as crenças coletivas 
e	individuais,	quanto	as	práticas	como	definidoras	de	identidade.	
Conforme discussão sobre autonomia religiosa, as crenças religiosas são 
mantidas tanto pelas instituições religiosas, que assumem papel de autorida-
de e de guardiãs de dogmas, doutrinas, teologias; quanto pelos sujeitos que 
se apropriam de tais crenças em seu cotidiano, podendo tanto reforçar o sen-
tido recebido por meio da tradição familiar ou institucional como retrabalhá-lo 
e questioná-lo, especialmente em momentos de crise e de decisão pessoal 
(BELLOTTI, 2011, p. 300).
Para concluir esse debate, que pretendemos nos aprofundar nas próximas unida-
des, indicamos que a história do campo religioso brasileiro deve ser analisada como a do 
embate	de	dois	vetores:	a	persistência	do	tradicional	habitus	flexibilizador,	que	pode	levar	
a formas de sincretismo, e sua resistência às investidas das sucessivas racionalidades 
“modernas” (SANCHIS, 2003).
20UNIDADE I Fenômenos Religiosos e Sociedade
SAIBA MAIS
Na história brasileira, e não só no campo religioso do Brasil, pesa a presença de uma 
predisposição estrutural à porosidade, mas não à confusão das identidades. Já que se 
trata de um habitus ancorado em sociogênese, o meio religioso, sobretudo o popular, 
mas não exclusivamente, vive e continua vivendo certo clima “espiritualista” que parece 
compartilhado – e modulado – por várias mentalidades segmentárias no Brasil. Orixás 
para alguns, mortos, santos ou entidades para outros, Nossas Senhoras que aparecem 
e vêm com homens, anjos, espíritos, forças cósmicas, demônios, ou tudo isso ao mes-
mo	tempo,	espírito,	enfim	[...]	A	presença	desta	terceira	dimensão	do	mundo	está	em	
toda a parte detectada (SANCHIS, 2003, p. 30).
Fonte: SANCHIS, Pierre. A religião dos brasileiros. In: PEREZ, Léa Freitas; QUEIROZ, Rubem Caixeta 
de & VARGAS, Eduardo Viana (Orgs.). Teoria e Sociedade, Belo Horizonte, número especial: Passagem 
de milênio e pluralismo religioso na sociedade brasileira, p. 16-5, 2003. 
REFLITA 
Caro(a)	estudante,	você	já	havia	parado	para	refletir	sobre	a	relação	da	religiosidade	
com a pertença e notoriedade pública proporcionada por ela? Esse também é um as-
pecto que constitui capital cultural individual e coletivo, pois possibilita a construção 
identitária e pertencimento a um grupo.
Fonte: A autora.
21UNIDADE I Fenômenos Religiosos e Sociedade
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Caro(a) estudante, concluímos aqui a incursão sobre Fenômenos religiosos e 
sociedade, proposto para a primeira Unidade. No corpo deste texto buscamos abordar 
diversos	conceitos,	definições	e	disputas	analíticas	para	compreender	nossa	temática.
Compreendemos que a religião representa o anseio do indivíduo de transcendência, 
no qual a humanidade encontra respostas às suas perguntas profunda. Postulamos que a 
religião contribui para a formação de estruturas imaginativas elementares sobre como nos 
orientamos ou deveríamos nos orientar no cosmos. Destacamos a importância desse estu-
do porque ele revela a condição humana em seus aspectos mais profundos e misteriosos.
Indicamos que o fenômeno religioso está para além das instituições, mesmo que 
por vezes seja organizada por elas. Abordamos a religiosidade como um aspecto da cultura 
que organiza pessoas com as mesmas crenças. Consideramos que muitos aspectos da 
vida	social	são	diretamente	orientados	pelo	filtro	da	 religião,	como	o	modo	de	vestir,	se	
alimentar, cuidar do corpo, etc. 
Apresentamos	estudos	inaugurais	que	influenciaram	consideravelmente	a	Ciência	
das Religiões, desde Max Müller, passando Tylor até Durkheim. Demonstramos também a 
existência de um debate teórico sobre modos de se perceber os fenômenosreligiosos por 
parte de pesquisadores de diferentes áreas do conhecimento, como o historiador Gerardus 
van der Leeuw, o psicanalista Sigmund Freud e o mitólogo Mircea Eliade.
Por	 fim,	 destacamos	 algumas	 características	 dos	 fenômenos	 religiosos	 na	 con-
temporaneidade, como a perda de centralidade da Igreja Católica, a abertura para outras 
filosofias	 que	 influenciaram	o	 campo	 religioso,	 as	 disputas	 de	 diferentes	 religiões	 pelos	
elementos simbólicos e a diminuição da força das instituições.
Com isso concluímos nossa proposta inicial e esperamos que o tema suscite seu 
interesse para buscar outras obras e autores que possibilitem o seu desenvolvimento inte-
lectual e uma formação sólida e singular. 
Bons estudos!
22UNIDADE I Fenômenos Religiosos e Sociedade
LEITURA COMPLEMENTAR
●	 BERKENBROCK, Volnei J. A experiência dos Orixás. Um estudo sobre a expe-
riência religiosa no Candomblé. Petrópolis: Vozes, 1998. 
Frei Volney faz aqui um amplo e profundo estudo sobre o Candomblé: como é a 
cosmovisão	que	lhe	está	subjacente;	a	idéia	da	divindade;	o	que	é	orixá;	o	que	significa	o	
axé... Em seguida, procura esboçar uma resposta à pergunta: qual deverá ser a atitude de 
um cristão diante da experiência religiosa do Candomblé? Será possível um encontro fra-
ternal e um diálogo frutuoso entre os seguidores de caminhos aparentemente tão díspares?
●	 MOREIRA, Alberto da Silva. O futuro da religião no mundo globalizado: painel 
de um debate. In: MOREIRA, Alberto da Silva; OLIVEIRA, Irene Dias (Organizadores). O 
futuro da Religião na sociedade global. Uma perspectiva multicultural. São Paulo – Goiânia: 
Paulinas – UCG, 2008, pp. 17-35.
O tema gerador deste livro é a necessidade de um olhar multicultural para o futuro 
que a sociedade global reservada à religião. O debate sobre o presente e as tendências 
que se prospectam para o fenômeno religioso, no acelerado processo de globalização em 
que	vivemos,	envolve	pesquisadores	do	mundo	inteiro	que,	desde	as	especificidades	de	
cada ciência e de cada país ou região, procuram compreender um fenômeno de alcance 
global. 
●	 Jungblut, A. L. (2014). Globalização e religião: Efeitos do pluralismo global no 
campo religioso contemporâneo. Civitas - Revista De Ciências Sociais, 14(3), 419-436. 
https://doi.org/10.15448/1984-7289.2014.3.16483
Neste artigo discute-se alguns dos efeitos da globalização sobre a religião. São 
abordados as relações entre globalização e tradição e o efeito destradicionalizante deste 
processo ao favorecer a pluralização religiosa e, consequentemente, uma grande autono-
mia identitária dos indivíduos em busca de bens religiosos. Para tanto, são analisados dois 
casos reveladores de dinâmicas distintas frente a esses processos todos.
23UNIDADE I Fenômenos Religiosos e Sociedade
MATERIAL COMPLEMENTAR
LIVRO
Título: Expressões	 do	 Sagrado:	 Reflexões	 sobre	 o	 Fenômeno	
religioso
Autor: Antonio Magalhães e Rodrigo Portella
Editora: Santuário
Sinopse: Embarcar no conhecimento das religiões pode tornar-se 
uma aventura prazerosa. Nessa obra, os autores perpassam, 
por	meio	de	ensaios	e	reflexões,	elementos	básicos	do	universo	
religioso, descrevendo o caráter simbólico, antropológico e social 
da religião, além de tecerem considerações sobre identidades 
religiosas do povo brasileiro.
FILME/VÍDEO
Título: Uma Amizade Sem Fronteiras
Ano: 2003
Sinopse:	O	dono	de	uma	mercearia	em	Paris	fica	amigo	de	um	
garoto de 13 anos. O homem é muçulmano. O menino, judeu. Com 
o tempo, desenvolvem uma amizade transformadora para a vida 
dos dois.
24
Plano de Estudo:
●	 A disseminação das religiões pelo mundo.
●	 As religiões no Brasil – do Catolicismo ao Islamismo
Objetivos da Aprendizagem:
●	 Compreender o contato cultural como catalisador para formação e adaptação das 
religiões em diferentes sociedades no mundo e no tempo.
●	 Refletir	como	tal	processo	se	deu	na	história	das	religiões	no	Brasil,	suas	 ligações	
com o poder e com o cotidiano.
●	 Discutir como o indivíduo contemporâneo se orienta em relação a multiplicidade de 
religiões, crenças e práticas presentes no mundo.
UNIDADE II
As Religiões Contemporâneas
Professora Ma. Laís Azevedo Fialho
Professor Me. Giovane Marrafon Gonzaga
25UNIDADE II As Religiões Contemporâneas
INTRODUÇÃO
Olá estudante da disciplina “Fenômeno Religioso na contemporaneidade e educa-
ção”, na unidade a seguir, iremos conversar como as pessoas se comportam em relação à 
religião em nossa sociedade. Para retomarmos a unidade anterior, o debate começa com 
uma	reflexão	a	partir	de	uma	cena	idílica,	como	a	humanidade	a	milhares	de	anos	atrás	
sentia a manifestação do sagrado e como esse sentimento se tornou as religiões que 
conhecemos hoje?
Caso convivêssemos com determinada prática todos os dias, uma religião comple-
tamente estranha aos nossos padrões, por quanto tempo permaneceria assim? Por que 
os	conflitos	religiosos,	em	pleno	século	XXI,	ainda	são	um	problema	sério	para	vivermos	
melhor em sociedade? Como a história do Brasil pode nos ensinar a compreender a im-
portância do poder, do tempo e do convívio nas transformações observadas em nossa 
sociedade? Perguntas difíceis que, de coração, espero contribuir para o aperfeiçoamento 
de sua interpretação sobre o assunto.
Bons estudos!
26UNIDADE II As Religiões Contemporâneas
1. A DISSEMINAÇÃO DAS RELIGIÕES PELO MUNDO 
1.1 Indivíduo, religião e poder.
Você já se perguntou como foi a primeira vez que uma pessoa sentiu o que depois 
iríamos denominar de sagrado, a manifestação da presença divina na Terra? 
Imagine homens e mulheres na beira de uma caverna esculpida entre montanhas. 
Na sua frente, uma planície é ocupada por árvores espaçadas no meio da vegetação 
gramínea, paisagem que se estende ao horizonte, onde o céu anuncia a transição do dia 
para a noite em um espetáculo de cores quentes e frias de uma forma que nós, modernos 
e	com	a	natureza	bastante	modificada	por	essa	modernidade,	talvez	apenas	em	sonhos	
muito bons podemos imaginar.
Um ambiente bastante seguro também, a caverna nas montanhas, além da vista 
maravilhosa, fornece proteção a predadores, abafa a conversa e a luz das fogueiras, dá 
visão para estrangeiros que se aproximarem. Depois de um dia de atividade intensa, cansa-
das e seguras na caverna, poderia essas pessoas acalmar seus instintos de sobrevivência, 
e assim contemplassem um pôr-do-sol? Sem tantas preocupações, não que isso aconte-
cesse sempre, mas basta uma ocasião pra começar, é possível que ali a humanidade, na 
forma de seus indivíduos, tenha se dado o espaço de se perguntar: quem sou eu? Qual a 
minha função nisso tudo? Quem me criou? 
Como indica Mircea Eliade (1992), em O Sagrado e o profano,	o	firmamento	éo	
principal símbolo de diferentes culturas para se referir à morada dos deuses. Sioux, aborí-
27UNIDADE II As Religiões Contemporâneas
genes, vikings, tupis ou fulanis, em cada canto do mundo a principal relação religiosa com 
o céu é que, além da abóbada, se encontra a divindade suprema e criadora do universo. 
Outro ponto em comum entre esses povos é que suas crenças datam de datas milenares 
em distância, sendo improvável estabelecer um ponto de início. 
A relação com o sagrado se perde no tempo e é possível que já tenha nascido 
com nós, uma genética de buscar enxergar o invisível. No entanto, quando passamos do 
possível para o provável, o tempo ainda tem mostrado a religião intrinsecamente ligada ao 
poder.
Na	unidade	anterior	já	pudemos	perceber	tal	configuração.	Com	o	racionalismo	do	
século	XIX,	a	sociedade	europeia	buscou	explicar	cientificamente	a	superioridade	cultural	
de certos povos sobre os outros. Para retomarmos, Edward Tylor, em Primitive Culture, 
publicado em 1871, compreende que as religiões evoluem em hierarquia, da mais simples 
e instintiva às mais complexas e racionais. Em linhas gerais, temos o animismo na base, 
a crença de que o mundo está repleto de deuses que semanifestam em todo tempo, até 
o topo onde se concentra o protestantismo monoteísta, que compreende que as formas 
da natureza não são deuses com vontade própria e por isso não deveriam adorá-los, pois 
o que vem adiante é o pensamento abstrato de um único deus, complexo, que não se 
encontra em lugar nenhum, mas está em todos os lugares. 
No Brasil, a visão de Tylor foi compartilhada em escritos de Raimundo Nina Ro-
drigues	ao	final	do	século	XIX	no	Brasil.	Os	dois	cientistas	concordavam	em	praticamente	
tudo, a não ser por uma diferença. Para Nina Rodrigues, o catolicismo com seus santos é 
que representavam a máxima evolução dos pensamentos religiosos na humanidade de seu 
tempo. 
Curiosamente, ambos os cientistas adotaram como superior algo muito próximo 
da religião que praticavam. Outra coincidência importante, é o fato de que no período que 
escrevem, elites da Europa e América crescem com a exploração de suas colônias ou 
ex-colônias. Ao mesmo tempo, nos países colonizadores aumenta em adeptos as ideias de 
que todo indivíduo tem o mesmo valor e portanto os mesmo direitos, como na Constituição 
Americana e no lema da Revolução Francesa. 
Como submeter a condições que você não gostaria, alguém que é igual a você? 
Para contornar este dilema, foi incentivado a crença na existência de indivíduos biológica 
e culturalmente superiores a outros. E isso poderia se medir por meio de avanços tecno-
lógicos, nos costumes, na língua, entre outros. A religião foi um importante instrumento 
de	classificação	nessa	análise,	e	era	comum	ser	considerada	superior	a	mesma	religião	
28UNIDADE II As Religiões Contemporâneas
praticada	pelo	grupo	de	cientistas	que	a	qualificou	assim.	Na	II	Guerra	Mundial,	a	ideia	de	
pureza racial e cultural culminou no extermínio de milhares de judeus, antes submetidos a 
condições	de	subnutrição,	frio,	tortura	e	trabalhos	forçados.	Foi	mais	do	que	suficiente	para	
qualquer ideia como essa ser veemente combatida e considerada crime em muitos lugares. 
O pensamento de superioridade racial/cultural perde o sentido se seu grupo está para ser 
qualificado	assim.
1.2 O espanto, o encanto e a distância.. 
Quando nos deparamos com a realidade de uma religião diferente, automaticamente 
comparamos	com	a	nossa	cultura.	O	fato	do	diferente	existir,	significa	que	existem	pessoas	
indo para outras direções, o que coloca em cheque nossas visões de mundo e a coesão do 
grupo do qual pertencemos. Uma cultura diferente costumava causar mais estranheza a al-
guns séculos atrás, quando os meios de comunicação quase não eram acessíveis. Quando 
alguém viajava para um lugar desconhecido não fazia ideia do que esperar. Algumas coisas 
espantavam,	outras		encantavam,	mas	dificilmente	os	primeiros	registros	de	um	viajante	do	
período medieval, por exemplo, consideram uma cultura estrangeira superior à sua cultura 
de origem. O relato a seguir quase foge a essa regra.
Jean de Léry, missionário calvinista francês, se estabelece no Brasil por dez meses, 
onde escreveria os relatos reunidos em História de uma viagem à terra do Brasil, publicada 
pela primeira vez em 1578. Sua narrativa tem as terras brasileiras como lindas e produti-
vas, vastas e ricas em recursos naturais. Respeitoso, considerando os padrões da época, 
descreve os costumes dos tupinambás com bastante detalhes, constituindo-se uma das 
principais para o estudo das práticas religiosas indígenas no início da exploração europeia. 
No entanto a nudez dos tupinambás é tida como estranha e sedutora
coisa não menos estranha e difícil de crer para os que não os viram, é que 
andam todos, homens, mulheres e crianças, nus como ao saírem do ventre 
materno. Não só não ocultam nenhuma parte do corpo, mas ainda não dão 
nenhum sinal de pudor ou vergonha (LÉRY, 1960, p. 112).
quero responder aos que dizem que a convivência com esses selvagens nus, 
principalmente entre as mulheres, incita à lascívia e à luxúria. (…) Os atavios, 
arrebiques postiços, cabelos encrespados, golas de rendas, anquinhas, so-
bre-saias e outras bagatelas com que as mulheres de França se enfeitam e 
de que jamais se fartam, são causas de males incomparavelmente maiores 
do que a nudez habitual das índias, as quais, entretanto, nada devem às ou-
tras quanto à formosura (LÉRY, 1960, p. 171-172).
Esta dinâmica de encanto e repulsa é percebida por François Hartog (1999), em O 
Espelho de Heródoto. Ao trabalhar com os relatos de Heródoto em suas viagens a povos 
vizinhos de sua nação, Hartog nota que o grego só consegue descrever aquilo que enxerga 
29UNIDADE II As Religiões Contemporâneas
por meio de uma tradução, ou seja comparando o que vê com palavras e objetos de sua 
cultura com o que conhecia nas jornadas. Por exemplo, na narrativa de uma viagem ao 
Egito, a tradução denominaria um deus do Olimpo para cada deus egípcio. 
Ao escrever para sua sociedade politeísta, o grego consideraria os povos que 
cultuavam um menor número de deuses, como menos desenvolvidos. O que nos lembra 
o caso de Tylor e Nina Rodrigues, pois partiram do cristianismo e considerando ignorantes 
aqueles politeístas, menos complexos conforme a maior quantidade de divindades de 
culto. 
Hartog também defende que a distância entre observador e observado é essencial 
para que se produza ou encanto ou espanto no processo de tradução para a própria rea-
lidade.	É	uma	distância	material,	geográfica,	entre	duas	cidades,	por	exemplo.	E	trata-se	
de quão distante o observador se coloca diante da cultura e pessoas que ele observa. Se 
alguém é visto como inferior, tem ressaltada apenas características ruins. O pensamento 
de uma cultura superior, uma religião superior ou uma raça impedem um diálogo produtivo 
entre as partes. Visto que tudo que é produzido por quem é inferior, logo suas ideias e 
cultura, também é inferior. 
Com	o	distanciamento	se	 justificam	massacres	 religiosos	como	o	 imposto	pelos	
romanos aos cristãos e, depois, o que os cristãos impuseram aos hereges. Nos dois casos 
aquilo que era diferente foi considerado inferior e perigoso. Principalmente para as autori-
dades religiosas da época que lidavam com uma crença concorrente. Admitir a possibili-
dade do outro crer em algo diferente, e conduzir uma vida comum, coloca em questão as 
estruturas	e	práticas	de	sua	sociedade,	lentamente	podendo	modificá-las.	
Uma mudança que põe em cheque não a vida do indivíduo, mas a saúde das 
instituições cujas normas são contraditas por uma nova visão de mundo. O cidadão ro-
mano comum teria uma religião a mais para escolher com o cristianismo, nada mais, nem 
menos.	O	mesmo	pode	se	dizer	do	camponês	na	 Idade	Média	em	relação	aos	conflitos	
entre protestantes e católicos. 
Depois de muita perseguição, nos dois casos foi o que aconteceu, uma ou várias 
religiões foram criadas. Mas como uma instituição que controla, como a Igreja ou o Império 
Romano podem ter falhado em combater crenças formadas nos calabouços e outros locais 
secretos, com cultos realizados quase em silêncio não por uma opção de prática religiosa, 
mas por sobrevivência?
30UNIDADE II As Religiões Contemporâneas
1.3 O contato e a fronteira.
A partir de Hartog (1999), podemos compreender que a resposta é: o contato. Se o 
distanciamento provoca estranheza, medo, preconceito, a aproximação com o tempo tende 
a atenuar as diferenças e inclusive unir elementos que antes aparentavam irreconciliáveis. 
Para tanto, é necessário perceber o outro como um igual.
Voltemos ao caso de Jean de Léry para ilustrar essa situação. Ele estava entre os 
colonos e dois ministros anglicanos enviados para abrir um braço da Igreja Reformada de 
Genebra	na	Baía	de	Guanabara,	considerando	igreja	um	pequeno	grupo	de	fiéis	reunidos,	
sem	a	necessidade	de	um	templo	ou	local	fixo,	a	primeira	igreja	protestante	no	Brasil	fun-
cionou por meio de Léry e seu grupo. 
Essas pessoas atendiam a um pedido de Nicolas Durand de Villegaignon, expe-dicionário francês que tentava conquistar parte do território da América Portuguesa. No 
entanto, Villegaignon que se dizia simpático ao protestantismo, não gostou das ideias dos 
missionários e passou a acusá-los de heresia. 
O grupo de Léry viveu oito meses bem desconfortáveis na colônia e mais dois 
meses junto a índios tupinambás porque a convivência com o expedicionário-chefe tornou- 
se arriscada. Dez meses depois da chegada dos reformados franceses ao Brasil, o navio 
que os levaria de volta à França estava pronto, mas por falta de espaço, cinco homens 
precisariam aguardar a próxima embarcação. Dentro de algumas semanas foram presos, 
condenados	na	inquisição	francesa	e	executados	na	fogueira	após	uma	carta	de	confissão	
onde assinavam negando a fé católica. 
No período em que foi acolhido por tupinambás, os missionários e os índios se 
tornaram iguais. O francês descreve que todos foram o tempo todo muito bem tratados. 
Ou seja, na companhia dos nativos, de maneira geral considerados incultos, pagãos e 
transformados em escravos pela maioria que chegava ao Brasil, os franceses protestantes 
receberam mais respeito do que os franceses católicos. 
Não por acaso, em suas últimas páginas, Léry mostra sinais de que as diferenças 
culturais	e	de	contato	o	fazem	refletir.	O	missionário	relativiza	a	violência	dos	ritos	canibais	
dos tupinambás com os povos considerados inimigos, o trecho a seguir sucede a descrição 
dos preparos para o banquete do inimigo capturado
Poderia aduzir outros exemplos de crueldade dos selvagens para com seus 
inimigos, mas creio que o que disse já basta para arrepiar os cabelos de hor-
ror. É útil, entretanto, que ao ler semelhantes barbaridades, não esqueçam os 
leitores do que se pratica entre nós [...] Não abominemos portanto demasia-
do a crueldade dos selvagens antropófagos. Existem entre nós criaturas tão 
abomináveis, se não mais, e mais detestáveis do que aqueles que só inves-
tem contra nações inimigas de quem tem vingança a tomar. Não é preciso ir 
à América, nem mesmo sair de nosso país, para ver coisas tão monstruosas 
(LÉRY, 1960, p. 203-204).
31UNIDADE II As Religiões Contemporâneas
Se, em dez meses, Jean de Léry chegou a comentar que os tupinambás eram 
melhores companhias que seus compatriotas franceses, imaginem como um contato 
prolongado,	de	décadas,	modificaria	sua	opinião.	No	mundo	contemporâneo,	cercado	de	
informações, o indivíduo tem contato frequente com o diferente. Mas o que diz se ele vai 
olhar para aquela cultura como um igual ou sentir medos e preconceitos é a hierarquia, a 
distância com que enxerga o outro.
Em Hibridismo Cultural, Peter Burke (2003) entende que é na fronteira que as tro-
cas culturais acontecem. Essa região de fronteira pode ser pensada no seu sentido físico, 
quando o território de uma nação se encontra com o de outra. Mas também zonas de 
intensa movimentação de pessoas e mercadorias, como os portos e cidades turísticas.
É	em	locais	fronteiriços	que	os	principais	conflitos	do	mundo	contemporâneo	acon-
tecem: a faixa de Gaza entre Israel e a Palestina, a divisa entre Norte e Sul nas Coreias, 
os muçulmanos que moram entre a China e o Afeganistão e Cazaquistão, os latinos e 
estadunidenses na América do Norte, a linha vermelha que separa favela e cidade no Rio 
de Janeiro. 
O encontro de dois governos, dois modos de vida, duas realidades. Se prolongado, 
no contato com o diferente todos os dias, a depender das circunstâncias, a violência dá 
lugar ao convívio de tolerância e, naturalmente, conforme relações de amizade, comércio, 
trabalho e amor são construídas, uma identidade nova surge que não é exatamente igual a 
nenhum	dos	lados	do	conflito.	Mas	o	que	dizer	dos	embates	e	preconceitos	que	se	arrastam	
por décadas ou séculos? Nesses casos, é difícil não existir um interesse político que de 
alguma	forma	obtém	vantagens	dessa	polarização.	É	o	que	podemos	refletir	ao	olhar	mais	
detidamente para a disseminação das religiões no Brasil.
32UNIDADE II As Religiões Contemporâneas
2. AS RELIGIÕES NO BRASIL DO CATOLICISMO AO ISLAMISMO
2.1 Poder e fragmentação religiosa em Portugal e no Brasil.
Durante o período europeu das Grandes Navegações, a Igreja Católica exerceu 
papel fundamental, visto que representava a postura diplomática interna e externa de um 
continente. Aqui destacamos algumas das funções que a instituição eclesiástica dispunha 
aos europeus:
● firmava	tratados	de	exploração	sobre	as	terras	que	recém-conheciam;
● atestava sua presença em determinado território (com a construção de templos
destinados a santos ou ordens religiosas comuns àquela nação);
● registrava empréstimos e relações comerciais, condições de juros e consequên-
cias de não pagamento de dívida.
Por funções tão importantes, a Igreja Católica é personagem das narrativas primor-
diais sobre o Brasil. Como na missa realizada em 1500 por frei Henrique de Coimbra, assim 
que os portugueses pisaram no solo que se tornaria nosso país. Logo que uma colônia 
apresentava sinais de crescimento, determinada ordem religiosa poderia ser requisitada 
para prestar serviços básicos de saúde, alimentação ou comunicação, por exemplo, algo 
que	expressamente	 fazia	parte	da	missão	de	angariar	novos	fiéis.	Quando	a	escravidão	
passa	ser	adotada	como	principal	mão-de-obra,	o	discurso	católico	define	as	diferenças	
entre a alma indígena, africana e europeia e os motivos de cada uma ocupar um papel 
desigual na hieraquia daquela sociedade (OLIVEIRA, 2007). 
33UNIDADE II As Religiões Contemporâneas
O	catolicismo	era	a	religião	oficial,	a	única	permitida	de	construir	templos	e	reali-
zar cerimônias públicas. Nas vilas e cidades que se formavam, o padre ou o bispo eram 
autoridades de grande poder e representavam a conexão entre os interesses das elites 
(membros da Coroa, grandes fazendeiros) e todo restante da população. Conforme, Lísias 
Nogueira Negrão (2008), no Brasil Colonial ser católico não era uma questão de escolha
O catolicismo foi, no passado colonial brasileiro, uma religião obrigatória: os 
que aqui nasciam o aceitavam por pressuposto de cidadania, exceto 
os indígenas, aos quais se exterminava ou se convertia. Os que aqui 
não nasciam tinham que adotá-lo, mesmo que não o compreendessem: 
os negros escravizados eram batizados no porto de procedência ou de 
desembarque. Já os judeus, sob a pressão de serem perseguidos pelos 
inquisidores, de perderem seus bens ou mesmo suas vidas, preferiram, em 
geral, tornar-se “cristãos novos’’. (NEGRÃO, 2008, p. 263).
Para que uma coisa seja proibida é por que ela é usualmente praticada, certo? Não 
tem sentido proibir algo que ninguém faz. A prática de outras religiões em Portugal já era 
considerada um problema muito antes do descobrimento do Brasil. 
A península ibérica entre os séculos VIII e XI era território muçulmano, e não ca-
tólico. Sob regime islâmico, os portugueses experimentaram algo próximo da liberdade 
religiosa, havendo relatos da presença das crenças católica, muçulmana, judia e dos povos 
chamados bárbaros que ali viviam, como godos e visigodos. Os muçulmanos fundaram as 
primeiras universidades da Europa, como a Universidade de Salamanca, em 1134. Sem 
o conhecimento produzido e compartilhado nesses locais, Portugal, Espanha não teriam 
sido os primeiros estrangeiros a colonizar a América, visto que tal feito apenas foi possível 
com a herança árabe das habilidades matemáticas de engenharia, tecnologia náutica e 
construção.
Figura 1 – Mesquita de Córdoba, Espanha, construída
 entre os séculos X e XI sob domínio muçulmano
Fonte: https://umpouquinhodecadalugar.com/europa/espanha/a-grande-mesquita-de-cordoba/
34UNIDADE II As Religiões Contemporâneas
Figura 2 - Catedral Sé de Lisboa, Portugal, fundada no século XII e construída a partir da 
antiga Mesquita de Lisboa. A arquitetura	gótica	de	influência	árabe	foi	adotada	em	templos	
católicos de todo o mundo. 
Fonte:https://www.cidadeecultura.com/se-de-lisboa/
Os judeus formaram grupos de habitantes na Europa, ao menos desde o século 
IX, e foram mais ou menos perseguidos, conforme a atmosfera política e religiosa. Com 
as Cruzadas, o contato entre católicos e judeus se tornou comum, sobretudo na atividade 
financeira.	Da	Europa	Oriental,	o	povo	israelita	se	desloca	para	diferentes	regiões,	confor-
me oportunidades de comércio, trabalho e ambiente de tolerância religiosa. A Península 
Ibérica, mesmo conquistada pelos católicos, foi adotada como destino de judeus, pois além 
de serem mercados efervescentes, Portugal e Espanha conservaram certo nível de convi-
vência entre religiões, até as Inquisições dos séculos XVI e XVIII. 
As rotas católicas estabelecidas com as Cruzadas e os caminhos islâmicos sobre a 
África do Norte foram também meios de acesso dos povos romani e tingi, depois a ambos se 
denominaria ciganos. Não sendo famosos por seu poder político ou econômico, tais povos 
formavam comunidades em diferentes regiões da Europa, seguindo critérios semelhantes 
aos dos judeus sobre onde se estabelecer. Não eram um grupo isolado e em Portugal, 
após o Descobrimento, muitas famílias ciganas se mesclaram à população local. Possuem 
até hoje práticas religiosas características onde, além de divindades próprias, adotaram 
preceitos e ideias cristãs, hinduísmo, zoroastrismo e islamismo. 
35UNIDADE II As Religiões Contemporâneas
No	Brasil	do	final	do	século	XIX,	indícios	apontam	ciganos	e	africanos	realizando	
juntos um culto de dimensão pública para Oxumaré, divindade símbolo da mudança e dos 
ciclos, representada pelo arco-íris e pelas serpentes. 
A sacerdotisa é uma portuguesa reforçada, que se chama Maria Matos da Sil-
va.Só são permitidos pescadores na festa, e os pescadores vão de toda parte 
ao	culto	singular.	A	casa	de	Maria	Silva	fica	mesmo	no	ponto	dos	bondes,	e	
nos dias de festa está toda adornada de folhagens e galhardetes. Todos, la-
vados e de roupas claras, a dona da devoção manda buscar os negros 
feiticeiros para preparar os ebós e fazer a matança dos animais. Ela própria 
deita as cartas para saber quem deve ir levar os sacrifícios e os desejos sutis 
do Arco-íris. (RIO, 1906, p. 70).
É possível que Maria Matos da Silva, a portuguesa sacerdotisa do mar, seja de 
descendência cigana. De bagagem cultural muito diferente do almejado pelos reinos de 
Espanha e Portugal, os ciganos possuíam práticas religiosas, roupas e inclusive um idioma 
próprio, tornando-os alvo de tentativas de normatização por meio de medidas integradoras. 
Logo, os ciganos não poderiam se comportar como tal.
Entre as punições aos desvios estava o exílio nas colônias portuguesas, como 
o Brasil dos séculos XVI ao XVIII, fato que não impedia migrações voluntárias. Dado esse 
quadro, não é difícil imaginar um contexto social no Brasil Império e República Velha, no 
qual as duas culturas, afro-brasileira e cigana, partilham de ambientes comuns.
Voltando	a	Portugal	pré-descobrimento,	os	reinados	oficialmente	católicos	escon-
diam uma sociedade de identidade religiosa fragmentada. Onde hábitos e crenças cató-
licas, muçulmanas, judias, ciganas e pagãs (o período dos godos e visigodos deixaram 
marcas na cultura religiosa, ainda que o cristianismo tenha sido adotado pelos reis góticos 
a partir de 240, a crença politeísta e suas práticas se embrenharam no cotidiano popular).e 
contrastavam	com	a	pressão	do	Estado	por	uma	religião	e	oficial.
A partir do século XVI, com a exploração das Américas e com Estados que cami-
nham para o Absolutismo, onde a Reforma Protestante não conseguiu chegar de maneira 
a desestruturar a instituição católica (caso de Portugal, Espanha e França, por exemplo), a 
Igreja se consolida como a grande representante da cultura. Para isso, contou com o apoio 
da nobreza e ao mesmo tempo a fortaleceu. 
36UNIDADE II As Religiões Contemporâneas
1.2 A cultura nunca para, religiões proibidas e praticadas.
Nas colônias, o catolicismo fazia parte irrestrita do dia-a-dia. Conforme Negrão 
(2008), a obrigação de ser católico fazia com que uma pessoa praticasse a mesma religião 
com diferenças marcantes conforme o setor da sociedade em que estava inserido. 
A Igreja trabalhava junto aos senhores de engenho e altos funcionários da Corte, 
o padre realizava cultos públicos nas residências e muitas vezes era responsável pela 
educação das crianças. Comportava-se como a voz calma e benevolente do patrão para 
seus	 funcionários,	escravos	e	filhos,	 já	que	o	patriarca	deveria	ser	austero,	o	padre	era	
quem negociava com palavras dóceis a tranquilidade do local. Este era o catolicismo dos 
portugueses. 
Indígenas, africanos e seus descendentes embora fossem católicos, ou forçados 
a assim dizerem, não abandonaram suas religiões de origem. Ao contrário, sempre que 
houve uma brecha no catolicismo, ela foi ocupada por uma prática religiosa africana ou 
indígena quando se relacionava com a cultura da grande população.
Mais do que isso, muitos preceitos religiosos oriundos de culturas não-monoteístas 
foram absorvidos no comportamento brasileiro, independente de uma religião. Por exemplo
●	 a crença em espíritos;
●	 a crença em mal-olhado ou ‘olho gordo’; 
●	 os	rituais	de	fim	de	ano,	como	vestir-se	de	branco	e	pular	sete	ondas;	
●	 o recurso de práticas divinatórias, como as cartas de tarô e os búzios;
●	 a	 presença	 das	 benzedeiras	 como	 autoridades	 religiosas	 que	 identificam	 e	
tratam problemas do dia-a-dia, doenças e partos.
Neste	universo	religioso	brasileiro,	que	Negrão	(2008)	identifica	como	catolicismo	
popular, as crenças se misturam e ganham particularidades conforme o povo que ali habita. 
Em Salvador, os africanos em sua maioria do povo iorubá, manteve certas caracte-
rísticas tradicionais de sua terra natal, como os orixás, os ritos de iniciação e cânticos em 
língua iorubana, são os primeiros anos do que se chamaria depois de Candomblé. 
No Rio de Janeiro, o povo banto consistia na maior nação de pessoas escraviza-
das, de seu culto aos ancestrais, onde os mortos estão sempre participando da vida dos 
vivos, se popularizaram os exus, caboclos, pombagiras, divindades que representavam 
personagens do cotidiano daquela época, o homem violento ou o malandro habilidoso, 
que sobreviviam no contexto urbano insalubre e perigoso, o indígena que lutava contra o 
37UNIDADE II As Religiões Contemporâneas
pretenso processo civilizatório, a mulher que por alguma razão foi posta à margem e pra 
existir precisava assumir uma postura impositiva, sem medo de se mostrar como ser dotado 
sexualidade ou de usá-la como bem entendesse. Em um processo de embranquecimento, 
como estudado por Ortiz (1978), os cultos cariocas serviriam de base para a Umbanda. 
Apesar de observarmos nuances regionais, o contato entre diferentes culturas 
africanas, indígenas e europeias produziu semelhanças. Por exemplo, a adoção de santos 
católicos para representar também os orixás é algo presente em religiões afro-brasileiras 
de todo país. A crença na reencarnação e na atividade dos espíritos na terra, bem como 
a elaboração de ritos que visam controlá-los (acalmar, ordenar, expulsar, proteger, entre 
outros). E a crença em Jesus Cristo e em um deus onipotente e onisciente é praticamente 
unanimidade. Diferente do que pode ser apontado na tradição africana, onde não existe um 
culto a Zambi ou Orunmilá, o Criador. Pois parte do pressuposto de que o culto é uma forma 
de ajudar a si mesmo e outras pessoas mas também de ajudar as divindades, Deus-Criador 
não precisaria dessa ajuda. 
Figura	3	–	Altar	identificado	à	Tenda	Mãe	Maria	de	Camargo,	de	Umbanda e Candomblé
Fonte: https://maemariadecamargo.blogspot.com.	Na	foto	podemos	identificar	entre	outras	representações,	a	de	
São Sebastião (à esquerda, dorso nu) que também é Oxóssi, Jesus (acima, em posição central), que é Oxalá, 
São Jorge (lateral inferior direita,montado em um cavalo), que é Ogum, os gêmeos São Cosme e São Damião 
(lado	inferior	esquerdo,	não	conseguimos	identificar	a	figura	entre	os	dois,	mas	por	ser	de	tamanho	menor,	pode	
ser a representação de uma criança, um símbolo de Ibeji e da qual eles são protetores) também são Ibeji.
38UNIDADE II As Religiões Contemporâneas
Essa atmosfera multipolarizada e a relação com a Igreja Católica, pode ser com-
preendida também por meio de H. Bhabha (2005), onde constatamos a existência de 
duas realidades diferentes: a primeira, fundada na presença de uma tradição católica, 
na memória e nos escritos do país com uma abrangência, que teria como consequência 
“produzir autoridade sem a necessidade de uma ação imperativa” (BHABHA, 2005, p.182). 
Ou seja, chega um momento, depois de gerações de conversão compulsória, que 
um indivíduo nascido nessa sociedade simplesmente acredita naquilo que as instituições 
predominantes engenharam. 
Dessa forma, a relação entre Igreja e elite social, devido a presença maciça do 
catolicismo no dia-a-dia do Brasil Colônia e Império, produziu o efeito de realidade mencio-
nado. Como consequência, o passado torna-se uma reprodução das intervenções dessas 
instituições. 
O mesmo efeito corrobora para que outras manifestações religiosas passem des-
percebidas. Por exemplo, podemos concordar que há algum tempo atrás a cultura religiosa 
africana ou indígena não era nem mesmo mencionada em livros didáticos. Algo que só 
mudaria com a lei 10.639, que institui o ensino da história e cultura africana e indígena 
obrigatório nas escolas.
Não se trata necessariamente de uma conversão, muito menos a vitória de uma 
crença sobre outra. Na verdade, é prudente questionar como diversas religiões/culturas 
religiosas que demoraram milênios para se desenvolverem, praticadas por milhões de 
indivíduos, desapareceram, em alguns casos por completo, em menos de 300 anos. No 
meio acadêmico, as respostas têm passado pela violência do Estado e perseguição social. 
Mas e as outras religiões, como islamismo, judaísmo e as próprias religiões protes-
tantes, por exemplo, não adotaram os santos católicos ou algo do tipo? Esta é uma questão 
de difícil resposta. Ao pensarmos o Brasil Colônia e Império, comparado a africanos e indí-
genas, o contingente de árabes e judeus que se estabeleceram aqui é bastante reduzido. 
A respeito dos protestantes, o período da Reforma coincide com os Descobrimen-
tos,	o	que	faria	esperar	um	número	considerável	de	fiéis	chegando	ao	Brasil.	No	entanto,	
em Portugal, os questionamentos à Igreja Católica não surtiram as mesmas consequências 
como na Holanda, Alemanha e Inglaterra. Sendo assim, não há registros de portugueses 
protestantes no período colonial. Entretanto, havia franceses e holandeses calvinistas. 
A respeito do primeiro grupo relatamos seus desdobramentos no tópico 1, para 
pensar a importância do contato na disseminação de religiões pelo mundo. No caso holan-
dês,	o	anglicanismo	havia	sido	adotado	como	religião	oficial	dos	Países	Baixos.	A	Igreja	
39UNIDADE II As Religiões Contemporâneas
Reformada Potiguara, foi fundada entre 1624-1625 com o trabalho de europeus e indígenas. 
Inclusive,	dois	brasileiros	nativos	foram	enviados	para	Holanda,	a	fim	de	que	recebessem	
instrução teológica, assim que ajudaram a concluir as obras do templo. 
Fixados principalmente na região de Pernambuco, os holandeses permaneceram 
no	Brasil	até	1654,	chefiados	por	Maurício	de	Nassau,	quando	o	exército	da	corte	portugue-
sa pressionou ao ponto de rendição. Na colônia holandesa, a liberdade religiosa e política 
era garantida por lei. Assim foi possível criticar qualquer rei sem o risco da pena de traição, 
ou construir um templo para sua religião, agendar cultos sem a necessidade de aprovação 
prévia	ou	professar	uma	fé	específica.	
Neste ponto a história do judaísmo se cruza no Brasil com o anglicanismo em ter-
ras brasileiras. No contexto de tolerância religiosa, instituído nas colônias da Holanda, que 
a primeira sinagoga do Brasil foi fundada, a Sinagoga Kahal Zur Israel (‘Rocha de Israel’). 
Formada por judeus que vieram para América com a promessa de liberdade religiosa, logo 
que os portugueses reconquistaram Recife, os israelitas migraram de lá, desembarcando 
em Nova Amsterdã, colônia inglesa que depois se tornaria a cidade de Nova Iorque.
Figura 4 – Fachada da Sinagoga Kahal Zur Israel, a primeira do continente americano 
Fonte: http://senhorahistoria.blogspot.com/2010/07/
Porém essas não foram as únicas e nem as primeiras pessoas judias a se esta-
belecerem no Brasil. Os chamados cristãos novos são os judeus portugueses e espanhóis 
que tiveram seus rituais e práticas proibidos, e imposta a obrigação de cultuar a fé cristã. 
40UNIDADE II As Religiões Contemporâneas
É provável que muitos continuaram com seus ritos em espaço íntimo, fora dos olhos 
da sociedade. Aqueles que eram vistos em práticas consideradas judaicas, como nunca 
comer carne de porco, jejuar em determinados períodos ou não frequentar as missas, seria 
denunciado e condenado na Inquisição. Deste contexto, não existem relatos de qualquer 
organização judia na América portuguesa antes do século XIX.
 As transformações ocorridas no mundo durante o século XIX (Rev. Francesa/ Rev. 
Industrial/ Independência dos Estados Unidos) afetam radicalmente a forma como a Igreja 
Católica tratam os praticantes de outras religiões. Entretanto, a Coroa Portuguesa embora 
cedesse em alguns aspectos, não reagiu com grandes mudanças. 
Somente com a passagem do Brasil para República, entre as décadas de 1870 e 
1890 é que os primeiros templos não-católicos foram permitidos por lei. De início, vemos 
surgir as primeiras organizações religiosas, como os protestantes do Rio de Janeiro, à 
época capital do Império. Na cidade de Belém, a segunda sinagoga do Brasil, e a mais 
antiga ainda em funcionamento, é construída por judeus marroquinos, em 1824.
Os muçulmanos organizaram em 1835 a Revolta dos Malês, um movimento de re-
sistência liderado por africanos de regiões onde o Islã constituía uma das crenças principais. 
A	devassa	finda	com	com	seus	participantes	mortos	em	batalha	ou	presos	e	deportados.	
No período, acompanhamos um desenvolvimento econômico mais acentuado no 
país, além de uma notável expansão das metrópoles. O aumento da população urbana 
e a concentração de pessoas na cidade fez com que a diversidade religiosa se tornasse 
impossível de disfarçar. 
1.4 Brasil, entre as crenças plurais e a conversão. 
Logo no início do século XX, em 1906, As religiões no Rio, do escritor e jornalista 
João do Rio, descreve uma cidade com a presença de pelo menos quinze diferentes cultos 
bastante organizados. 
Com a imigração de europeus, japoneses e sírio-libaneses, a diversidade religiosa 
se torna uma característica brasileira. Templos budistas são erguidos no interior e na capital 
paulista. Variadas religiões cristãs, como a Congregação, surgem e formam suas sedes 
brasileiras nas duas primeiras décadas dos anos de 1900, quando percebem que a perse-
guição do Estado brasileiro realmente foi amainada. No Sul, o luteranismo alemão surge, 
assim como o catolicismo ortoxo dos ucranianos, por exemplo.
Mesmo	em	um	Estado	 laico,	de	 tolerância	 religiosa,	aconteceram	conflitos	entre	
católicos e membros de outras crenças, muitas vezes apoiada pela própria instituição cató-
41UNIDADE II As Religiões Contemporâneas
lica e autoridades públicas. Embora legalmente, todas religiões estivessem protegidas, leis 
específicas	para	ritos	africanos	ou	tornavam	seus	praticantes	criminosos	ou	os	obrigavam	a	
se adaptarem a um modelo melhor visto pela cultura cristã-ocidental. Por exemplo, o artigo 
284 do código penal brasileiro delimita o seguinte:
Exercer o curandeirismo:
I – prescrevendo, ministrando ou aplicando, habitualmente, qualquer substância;
II – usando gestos, palavras ou qualquer outro meio;
III

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