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PRÁTICAS PEDAGÓGICAS DA EDUCAÇÃO NO CAMPO UNIASSELVI-PÓS Autoria: Marlei Adriana Beyer Floriani 1ª Edição Indaial - 2019 CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090 Reitor: Prof. Hermínio Kloch Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD: Carlos Fabiano Fistarol Ilana Gunilda Gerber Cavichioli Jóice Gadotti Consatti Norberto Siegel Julia dos Santos Ariana Monique Dalri Marcelo Bucci Revisão Gramatical: Equipe Produção de Materiais Diagramação e Capa: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Copyright © UNIASSELVI 2019 Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Impresso por: F635p Floriani, Marlei Adriana Beyer Práticas pedagógicas da educação no campo. / Marlei Adriana Beyer Floriani. – Indaial: UNIASSELVI, 2019. 141 p.; il. ISBN 978-85-7141-358-0 ISBN Digital 978-85-7141-359-7 1. Educação no campo. - Brasil. II. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. CDD 370 Sumário APRESENTAÇÃO ........................................................................05 CAPÍTULO 1 Educação do Campo: História, Legislação e Modalidades Destas Escolas no Brasil ..................................07 CAPÍTULO 2 Organização do Tempo e do Espaço Escolar no Campo ......45 CAPÍTULO 3 Práticas Pedagógicas no Campo ..............................................91 APRESENTAÇÃO O processo educativo depende de vários fatores, como proposta política, prática pedagógica, processo de concepção de construção do conhecimento, espaço escolar, acompanhamento familiar, desempenho pessoal e interação entre as pessoas envolvidas no processo - gestores, pais, alunos e professores. As características de cada educador, consequentemente de suas ações pedagógicas, estabelecem-se de acordo com as peculiaridades de sua formação pessoal e profissional, seu público-alvo (no caso alunos) e a realidade deles, por meio de suas relações interpessoais e suas interações com o meio físico, social e cultural em que estão inseridos. Esta gama de possibilidades, em muitos casos, não consegue compreender uma Educação Básica igualitária: tanto o meio físico, quanto o social ou o cultural, bem como suas características, requerem modelos diferenciados de Educação. No Brasil, a Educação Básica, compõe-se das áreas de Educação Infantil, Ensino Fundamental, Médio (que pode também ser profissionalizante) e de Educação de Jovens e Adultos. A Educação Superior se dividiu em cursos e programas (Cursos Sequenciais, Graduação, Pós-graduação e de Extensão). Considerando a realidade e a diversidade, algumas peculiaridades são consideradas para atender as modalidades de ensino. Como exemplo destas especificidades, em determinadas regiões brasileiras, têm-se os projetos e práticas que englobam a Educação Indígena, de áreas remanescentes de Quilombos ou de Educação no Campo. Há diferentes escolas do campo e diferentes formas de organização do trabalho pedagógico: a escola multisseriada, a escola nucleada e a pedagogia da alternância são algumas destas formas de organização. Primeiramente, a história e a legislação que fundamenta, abordadas no Capítulo 1. No segundo capítulo, vamos estudar o Projeto Político Pedagógico da Escola do Campo e a organização do tempo e o espaço destas escolas. Vale ressaltar que a educação para a área rural está prevista com adequações necessárias às características da vida no campo de cada região. Sua organização pedagógica considera conteúdos curriculares e metodologias apropriadas a reais necessidades e interesses dos estudantes da zona rural. Por isso, a organização escolar é própria, incluindo, muitas vezes, adequação do calendário escolar às fases do ciclo agrícola, por exemplo, ou ainda às condições climáticas da região, bem como adequação à natureza do trabalho na zona rural. Todas estas particularidades serão abordadas ao longo do segundo capítulo. No último capítulo, serão abordados o planejamento, a construção e a metodologia das atividades pedagógicas no campo, além dos desafios encontrados pelas escolas rurais. Será uma jornada interessante! Seja bem-vindo à disciplina de Práticas Pedagógicas no Campo! CAPÍTULO 1 Educação do Campo: História, Legislação e Modalidades Destas Escolas no Brasil A partir da perspectiva do saber-fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: � conhecer a história da Educação Rural Brasileira; � conhecer a legislação que norteia as práticas escolares no campo; � distinguir as modalidades de ensino presentes na Educação do Campo brasileira; � reconhecer as diferenças presentes no cenário educacional brasileiro; � analisar as modalidades de ensino presentes na Educação do Campo brasileira, suas particularidades e suas funcionalidades. 8 Práticas Pedagógicas da Educação no Campo 9 Educação do Campo: História, Legislação e Modalidades Destas Escolas no Brasil Capítulo 1 1 Contextualização A Educação no Campo tem vários modelos: a escola multisseriada, a escola nucleada e a pedagogia da alternância são alguns deles. Para fins de definição, abordar-se-á o termo classe multisseriada à sala de aula em que um só professor leciona para mais turmas. Em muitos casos, ainda, manipula alimentos e realiza todas as atividades burocráticas pertinentes à rotina escolar em geral. A maioria das escolas nestas condições está na área rural, tem apenas uma sala de aula - o que pode ser chamada de escola multisseriada, ou ainda, escola ou classe unidocente, termos utilizados pelo Ministério da Educação (MEC). Por vezes, também, chamada de escola isolada. É este tipo de escola, majoritariamente rural, que vamos estudar neste capítulo. Primeiramente, sua história, as bases deste modelo, serão abordados na Seção 1 do capítulo: Educação do Campo no Brasil: Recortes Históricos. Estudaremos como esta modalidade de educação se estabeleceu em nosso país. De maneira geral, a educação rural é destinada à população agrícola, sendo esta constituída por todas aquelas pessoas que a agricultura representa o seu principal meio de sustento, sendo essas pessoas os camponeses, ou seja, aqueles indivíduos que residem e ao mesmo tempo trabalham nas zonas rurais e recebem os menores rendimentos por seu trabalho, seja este um salário, um lucro ou um juro (RIBEIRO, 2012). Por conseguinte, a legislação que fundamenta esta modalidade será apresentada na Seção 2, trazendo recortes legais sobre o tema. Veremos como leis, programas e planos para a Educação formalizaram a Educação no Campo. Por fim, as modalidades de ensino presentes na Educação Rural Brasileira serão apresentadas na Seção 3: Educação do Campo: as Modalidades de Ensino. Quando abordaremos como, na prática, as escolas rurais fazem a educação acontecer. É importante ressaltar que: a educação para a área rural está prevista com adequações necessárias às características da vida no campo de cada região. Sua organização pedagógica considera conteúdos curriculares e metodologias apropriadas às reais necessidades e interesses dos estudantes da zona rural. Por isso, a organização escolar é própria, incluindo, muitas vezes, adequação do calendário escolar às fases do ciclo agrícola, por exemplo, ou ainda às condições climáticas da região, bem como adequação à natureza do trabalho na zona rural. Todas estas particularidades serão abordadas ao longo deste capítulo. A educação para a área rural está prevista com adequações necessárias às características da vida no campo de cada região. Sua organização pedagógica considera conteúdos curriculares e metodologias apropriadas às reais necessidades e interesses dos estudantes da zona rural. 10 Práticas Pedagógicasda Educação no Campo 2 Educação do Campo: Recortes Históricos 2.1 Contexto da Educação Rural na Educação Brasileira A história da Educação Brasileira se funde com a própria história do Brasil. As primeiras influências na área educacional brasileira foram europeias, devido à natureza da nossa colonização, a partir do século XVI. A educação, não prioritária no período colonial, estava ao encargo de jesuítas portugueses advindos da metrópole portuguesa, que tinham por missão “catequisar” os povos primitivos, e a partir daí, torná-los escravos. Assim, o trabalho dos jesuítas foi muito mais missionário do que pedagógico, garantindo a supremacia católica e o poder dos colonizadores. Os jesuítas promoveram uma “ação maciça na catequese dos índios, educação dos filhos dos colonos, formação de novos sacerdotes e da elite intelectual, além do controle da fé e da moral dos habitantes da nova terra” (ARANHA, 1996, p. 99). De certa forma, pode-se dizer que aqui se encontra o germe das escolas multisseriadas atuais. A ação jesuítica ocorreu basicamente a partir de 1549, com a instalação da ordem jesuítica Santo Ignácio de Loyola, na cidade Salvador, Bahia, onde comandavam o setor educacional “segundo os métodos e conteúdos do Ratio Studiorum, que se inspirava nos valores medievais da filosofia escolástica”, até o ano de 1759, quando foram expulsos, sob a acusação do governo português de estarem promovendo reformas de conservadorismo cultural (BEYER, 2007, p. 30). “Dificilmente poderemos entender a história da educação e da Igreja no Brasil sem nos debruçarmos sobre a presença e a atuação dos jesuítas”, acredita o Prof. Dr. Carlos Ângelo de Meneses Sousa, da Universidade Católica de Brasília (UCB), um dos organizadores do livro “Os Jesuítas no Brasil: entre a Colônia e a República”. Se quiser saber mais sobre o tema, conheça o Portal Jesuítas Brasil. Lá, você pode encontrar gratuitamente o livro. Vale a pena o acesso. Disponível em: <http://www.jesuitasbrasil.com/ newportal/>. Acesso em: 4 dez. 2018. 11 Educação do Campo: História, Legislação e Modalidades Destas Escolas no Brasil Capítulo 1 Segundo Aranha (1996), essa expulsão jesuítica não levou ao fim desses missionários no Brasil. A influência do trabalho deles, seja na educação, na cultura, na religião, na sociedade ou na política, perdurou até o século XIX, resultando em um ensino clássico destinado principalmente à elite, aumentando o desnível entre letrados e analfabetos – a maioria da população. FIGURA 1 - RATIO STUDIORUM, DE 1599: CONTEÚDO ELABORADO PELA IGREJA FONTE: <https://www.gazetadopovo.com.br/educacao/a-historia- da-educacao-no-brasil-uma-longa-jornada-rumo-a-universalizacao- 84npcihyra8yzs2j8nnqn8d91/>. Acesso em: 24 out. 2018. Com a instalação do Império Português no Brasil, em 1808, a Independência do país, em 1822 e a elaboração da 1ª Constituição Brasileira do Império, em 1824, passou a se delinear na Educação, uma pedagogia com algumas nuances próprias, além de leis e mais escolas. Instalam primeiro, instituições de Educação Superior. A educação básica ou formação básica, ficava a cargo de professores particulares, pertencentes a ordem religiosa ou não, contratados pelas famílias para a matemática, retórica e filosofia, em geral. Por exemplo, segundo Pardal (1985), nos cursos de Engenharia, a maioria dos alunos que entrava mal sabia ler e escrever ou efetuar as quatro operações numéricas. Sem uma formação básica necessária. A corte portuguesa, assim que chegou ao Brasil, mediante as necessidades da época, determinou as primeiras ações relacionadas à Educação Superior. No entanto, os mesmo feitos não atingiram a Educação Elementar. A educação básica ou formação básica, ficava a cargo de professores particulares, pertencentes a ordem religiosa ou não, contratados pelas famílias para a matemática, retórica e filosofia, em geral. 12 Práticas Pedagógicas da Educação no Campo Embora o Artigo 179, da já referida Constituição (que responsabilizava as Assembleias Legislativas das Províncias, hoje Unidades Federativas da Nação, a legislar sobre a instrução pública), decretava que “a instrução primária fosse aberta e gratuita para todos” e a Lei de 15 de outubro de 1827, “obrigava a criação das escolas de primeiras letras em todas as vilas e lugarejos”, a defesa ao “princípio da instrução primária gratuita para todos os cidadãos, o Ensino Fundamental permaneceu no abandono” (BEYER, 2007, p. 31). A maioria destas escolas era frequentada por homens, uma vez que a cultura social vigente assumia a posição da mulher de dependência e inferioridade – dedicando-se aos trabalhos domésticos e à aprendizagem de boas maneiras. Assim, registra-se nesta época, 85% de analfabetos numa população de 14 milhões de habitantes, no final do Período Imperial. É neste mesmo período que se têm os primeiros registros da formação de professores. As primeiras escolas normais para formar professores eram distantes “das questões teóricas, técnicas e metodológicas relacionadas com a atuação profissional do professor, além de funcionar de maneira precária e irregular” (ARANHA, 1996, p. 155). Havia apenas 20 escolas primárias femininas em todo o Império, em 1832. E, 40 anos depois, em 1873, a província de São Paulo já contava com 174 unidades, um avanço significativo (ARANHA, 1996). Com o fim do Império no Brasil em 1889, passou a surgir o ensino regular em áreas rurais. A sua promoção se deve, em grande parte, às necessidades decorrentes da própria evolução do país. Por interesses diversos, não se tratou ainda de uma pedagogia própria preocupada com a Educação em geral, e, muito menos com a Educação Rural (CALAZANS, 1993). O desgaste da monocultura da cana de açúcar, a ascensão da cultura cafeeira, o prenúncio do término da escravatura e a imigração aceleraram este processo, pois o contexto acenava para um novo panorama econômico e uma necessidade maior de qualificação para o trabalho, que esperava, fosse oferecida pela escola. “Desse modo, o ensino da escola elementar começou a impor- se como uma forma de suprir as necessidades que se esperava que fossem atendidas a partir do ensino escolar” (BEYER, 2007, p. 35). É essencial destacar que as classes dominantes brasileiras, especialmente as que vivem do campo, sempre demonstraram desconhecer o papel fundamental da educação para a classe trabalhadora. As revoluções agroindustriais e suas consequências no contexto brasileiro, principalmente a industrialização, provocaram alterações que obrigaram os detentores do poder no campo a concordar com algumas mudanças, como, por exemplo, a presença da escola em seus domínios (CALAZANS, 1993, s.p.). A maioria destas escolas era frequentada por homens, uma vez que a cultura social vigente assumia a posição da mulher de dependência e inferioridade – dedicando-se aos trabalhos domésticos e à aprendizagem de boas maneiras. 13 Educação do Campo: História, Legislação e Modalidades Destas Escolas no Brasil Capítulo 1 A colonização europeia tem grande participação nisso. Religiosos, os imigrantes, além de uma igreja, sempre se preocupavam com uma escola, segundo seus preceitos europeus. Assim também o foi com as ideias pedagógicas. De origem europeia, imigravam com seus gentios, de acordo com a etnia (BEYER, 2007). FIGURA 2 - ESCOLA ALEMÃ, EM IBIRAMA/SC, EM 1910, APROXIMADAMENTE FONTE: <http://www.jws.com.br/2017/05/memoria-da- imigracao-no-brasil/>. Acesso em: 25 de out. 2018. Na década de 1920, uma escola rural típica acomodava os interesses e as necessidades da região, formalizando, assim, o Ensino Elementar no Campo, articulado com o meio ambiente local: rico em tendências e origens sociais, políticas e culturais distintas, características de onde procediam os colonizadores que habitavam as áreas rurais. Segundo Calazans (1993 apud BEYER, 2007), a partir da década de 1930,havia colônias agrícolas na forma de cooperativas, administradas pelos próprios imigrantes – outro modelo europeu. Entre os anos 1940 e 1950, a quantidade de projetos e programas se multiplica, sendo de responsabilidade do Ministério da Agricultura como do Ministério da Educação e Saúde. Com a expansão econômica e a exigência de especialização no trabalho, surgiram iniciativas em educação de adultos e capacitação de trabalhadores, que naquele momento, compunham as surpreendentes estatísticas que revelavam os altíssimos índices de analfabetismo e baixa escolarização da população”, em toda América Latina. Historicamente, a “difusão do ensino elementar entre adultos, com o intuito de promover a alfabetização em massa, tanto no campo quanto na cidade, teve uma primeira visibilidade nacional no período imediatamente posterior à Primeira Guerra Mundial (SOUZA; CAVALCANTE, 2016). Na década de 1920, uma escola rural típica acomodava os interesses e as necessidades da região, formalizando, assim, o Ensino Elementar no Campo, articulado com o meio ambiente local 14 Práticas Pedagógicas da Educação no Campo Os profissionais da educação, nesta fase desvinculando sua função de um movimento alfabetizador apenas, incitam o que hoje é chamado de “ruralismo pedagógico”. Surge daí, uma nova concepção da expansão escolar, em que o rural e o agrícola fossem respeitados nas suas características fundamentais e nas suas necessidades específicas aliadas às providências concretas, substituindo a "escola desintegradora” – responsável pelo êxodo das populações rurais, por “uma escola cujo objetivo essencial fosse o ajustamento do indivíduo ao meio rural” (BEYER, 2007, s.p.). Fatos dessa natureza culminaram no Manifesto dos Pioneiros da Escola Nova: a tomada de consciência educacional, contrariando, conforme conceitua Souza (2006), uma política pública de perspectiva e cultura intolerante, que caracterizava a Educação Rural como intolerante aos valores sociais e ao modo de vida do homem rural, ou seja, um projeto de subordinação da cultura popular à cultura moderna, concebendo ainda o adulto, rural e analfabeto como ícone do atraso econômico brasileiro e identificando-o como um empecilho à plena realização do desenvolvimento econômico necessário ao ingresso do território campestre na modernidade pretendida pelo processo capitalista. A partir das décadas de 1960 e 1970, vislumbraram-se as tão atuais diferenças regionais. A franca expansão do Centro-Oeste, Sudeste e Sul se confrontavam com os mais variados problemas do Norte e Nordeste. Assim, a Educação, nestas circunstâncias, é planejada, estruturada e realizada a partir das necessidades educacionais de cada local. Segundo Calazans (1993), nenhum modelo de Educação esteve relacionado para toda e qualquer região, conforme explanava quem planejava a educação e os recursos humanos da época. As exigências de planejamento e efetivação da educação rural estão correlacionadas à política do desenvolvimento e à transformação das estruturas do setor primário. O modelo de desenvolvimento é uma variável que interfere no estabelecimento de diretrizes e políticas para a educação rural (CALAZANS 1993, p. 30). Além da preocupação educacional, o que se teve foram tentativas de desenvolvimento da comunidade objetivando uma conscientização e reintegração da população aos seus valores e hábitos e, ainda, de estímulo à participação na vida política do país. Calazans (1993 apud BEYER, 2007), afirma que muitos desses programas, executados pela Superintendência de Desenvolvimento do Sul (SUDESUL) e pela Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE) visavam o desenvolvimento da comunidade, a educação popular e de adultos. Beyer (2007) relaciona uma série destes programas, organizados sob a forma de projetos rurais integrados: 15 Educação do Campo: História, Legislação e Modalidades Destas Escolas no Brasil Capítulo 1 − Plano Setorial de Educação visou à coordenação e à vinculação dos diversos organismos responsáveis por sua execução, na respectiva área; − SUPRA (Superintendência da Política de Reforma Agrária), em 1962; − IBRA (Instituto Brasileiro de Reforma Agrária); − INDA (Instituto Nacional do Desenvolvimento Agrário), criados com a extinção da Supra, em 1964; − INCRA (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), que emergiram no final da década de 1960 da fusão do Ibra e do Inda; − PIPMOA - Programa Intensivo de Preparação de Mão de Obra Agrícola (1963), fundido com o Pipmoa em 1972; − PRODAC (Programa Diversificado de Ação Comunitária), do Mobral, com incursão permanente no meio rural; − SENAR - Serviço Nacional de Formação Profissional Rural (1976); − CRUTAC - Centro Rural Universitário de Treinamento e de Ação Comunitária (1965) e Cimcrutac (1969); − Projeto Rondon (1968); − II PND (Plano Nacional de Desenvolvimento), com recursos do BIRD (Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento); − Polonordeste, Poloamazônia e Polocentro, todos com incursões em Educação e treinamento de mão de obra; − II Plano Setorial de Educação (1975-79) estabeleceu entre seus objetivos e diretrizes, criar condições para o desenvolvimento de programas de educação no meio rural que venham a repercutir na melhoria socioeconômica das populações dessas áreas; − Formação de Educadores: a Secretaria Geral do MEC, com a participação do CNRH / Seplan e PNDU / Unesco - Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento - realizou cursos de formação para educadores do meio rural; − III PSECD (Plano de Educação, Cultura e Desporto), do Ministério de Educação e Cultura - 1980, cujo enfoque atribui à educação um importante papel na política social, surge o PRONASEC, entendido como um dos elementos significativos na luta contra a pobreza. Percebe-se claramente a base política destes programas. De acordo com as características de cada projeto, fica clara a intenção da Educação pelo desenvolvimento, preparando os envolvidos a participar, responsável e produtivamente, dos processos de mudança e desenvolvimento socioeconômico: “o papel da educação seria, pois, o de ‘propor elementos para que o homem, ao invés de subordinar- se, ingresse nesse mundo inovado e consiga situar-se nele como no seu mundo, e definir o papel que nele lhe compete, propiciando um novo entendimento sobre si e sua relação com seu meio, suas coisas e pessoas” (CALAZANS, 1993, s.p.). Entretanto, não se pode notar a presença direta da Educação em todos os projetos, na maioria deles, ela permeia ações com outras áreas. Fica clara a intenção da Educação pelo desenvolvimento, preparando os envolvidos a participar, responsável e produtivamente, dos processos de mudança e desenvolvimento socioeconômico. 16 Práticas Pedagógicas da Educação no Campo ATIVIDADE DE ESTUDO: 1 Estudamos neste capítulo, brevemente sobre a história da educação brasileira. Analisando-a, como você classifica a contribuição dos jesuítas para a educação em nosso país? R.: ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ___________________________________________________ ____________________________________________________. 2 A 1ª Constituição passou a delinear as primeiras propostas de educação no Brasil. Dela surgiram leis e estruturas para promover formalmente a formação básica. Comente sobre estas propostas, especialmente, com relação à educação rural. R.: ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ________________________________________________________________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ___________________________________________________. 17 Educação do Campo: História, Legislação e Modalidades Destas Escolas no Brasil Capítulo 1 3 Educação no Campo: Recortes Legais 3.1 A História e a Legislação se Entrelaçam Com o término da Monarquia e o prenúncio da República, o Governo Provisório criou o Ministério da Instrução Pública, Correios e Telégrafos, movido pelas ideias Positivistas de Augusto Conte e defendidas por Benjamim Constant. Com a duração de dois anos, a extinção desse Ministério deixa a Educação ao encargo do Ministério do Interior e da Justiça. A partir de 1891, no início do período Republicano, promulgava-se a nova Constituição, que decretava como responsabilidade dos Estados “organizar seus sistemas educativos e à União legislar sobre o Ensino Superior; ao Congresso atribuiu-se a possibilidade de criação de Instituições de Ensino Superior e Médio, e a competência para decidir sobre o Ensino Secundário no Distrito Federal” (BEYER, 2007, p. 32). Por quase 1930 anos, ocorreram várias reformas educacionais. Entre elas, destaca-se que a Escola Pública perdeu seu caráter religioso. Mesmo aumentando o número de escolas básicas, estas atendiam apenas as classes economicamente mais favorecidas. Assim, o analfabetismo era ainda muito grande. Pressionados por agentes econômicos externos, em 1924 foi criada a Associação Brasileira de Educação que impulsionou a renovação do Ensino, o que resultou, em 1932, no Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova – que se empenhou em garantir. Ensino Fundamental público, laico, gratuito e obrigatório. Em 1930 é criado o Ministério da Educação e Saúde Pública (BEYER, 2007, p. 32). 18 Práticas Pedagógicas da Educação no Campo FIGURA 3 - MATERIAL DIDÁTICO DE PORTUGUÊS, UTILIZADO EM 1915 FONTE: <https://www.gazetadopovo.com.br/educacao/a-historia- da-educacao-no-brasil-uma-longa-jornada-rumo-a-universalizacao- 84npcihyra8yzs2j8nnqn8d91/>. Acesso em: 24 out. 2018 Nesse Ministério, o ministro Francisco Campos promove nova reforma da educação. Dentre as propostas, o Ensino Secundário foi dividido em duas etapas: Curso Fundamental, com duração de cinco anos e com a finalidade de formar “o homem através de hábitos e atitudes para que ele pudesse viver integralmente e tomar decisões”, e, “a segunda, de dois anos – cuja finalidade era adaptá-la a futuras especializações profissionais” (BEYER, 2007, p. 32). O Manifesto de 1932 consolidou a visão de uma elite intelectual que, embora com posições ideológicas diferentes, vislumbrava a possibilidade de interferir na organização da sociedade brasileira do ponto de vista educacional (BEYER, 2007). Lançado em meio ao processo de reordenação política advindo da Revolução de 1930, o mesmo tornou-se o marco inaugural do projeto de renovação educacional do país ao considerar a Educação como fenômeno social. Baseada nesse preceito, a Educação Brasileira, passa por novas e significativas mudanças. Aranha (1996, p. 203), garante que “de 1930 a 1940 o desenvolvimento do ensino primário e secundário alcança níveis jamais registrados no país. Entre os anos de 1936 a 1951 o número de escolas primárias dobra e o de secundárias quase quadruplica”. Getúlio Vargas, através de eleições indiretas, tornou-se Presidente em 1934. A Constituição de 1934, elaborada em seu Governo, foi a primeira a incluir um capítulo exclusivo sobre Educação. Estabelecida constitucionalmente, a Educação existiria como direito de todos através da obrigatoriedade da escola primária integral e da gratuidade do Ensino Primário. A Constituição de 1934, elaborada em seu Governo, foi a primeira a incluir um capítulo exclusivo sobre Educação. 19 Educação do Campo: História, Legislação e Modalidades Destas Escolas no Brasil Capítulo 1 FIGURA 4 - VARGAS AO LADO DOS DEPUTADOS QUE DISCUTIRAM A CONSTITUIÇÃO DE 1934 FONTE: <https://mundoeducacao.bol.uol.com.br/historiadobrasil/ constituicao-1934.htm>. Acesso em: 24 out. 2018. Gustavo Capanema assumiu o Ministério da Educação no Governo Vargas entre os anos de 1934 a 1945. A presença de intelectuais famosos, defensores de propostas educativas ou autores de programas de governo, junto ao Ministro foram marcantes. Exerciam cargos de consultores e formuladores de projetos. A reforma do ensino primário só é regulamentada após o Estado Novo, em 1946: “a escola segundo os defensores da Reforma Capanema, devia ser uma Escola Nova, funcional e ativa, e os currículos deviam estar adaptados aos interesses naturais dos alunos” (BEYER, 2007, p. 33). É nesta mesma década que se iniciam os Cursos do Ensino Profissionalizante no país. As Universidades continuavam elitizadas. A Educação Cívica foi enfatizada. Ênfase também foi dada à Educação Física - que despertava a disciplina e o dever, e aos Trabalhos Manuais - que estimulavam as profissões. FIGURA 5 - MINISTRO DA EDUCAÇÃO GUSTAVO CAPANEMA FONTE: <https://epoca.globo.com/ideias/noticia/2016/03/o- ministro-que-virou-peixe.html>. Acesso em: 24 out. 2018. 20 Práticas Pedagógicas da Educação no Campo No período da Escola Nova, ainda sob a liderança de Capanema, foram promulgadas as Leis Orgânicas do Estado. Em 1942, pelo Decreto 4244, o Ensino Secundário, destinado a adolescentes, ficou assim definido: Ensino Ginasial - de quatro anos, e Colegial - de três anos, com duas modalidades: o Científico e o Clássico. Pelo Decreto 8529, determinou-se que a Escola Primária devesse estar baseada em um regime de vida social e de trabalho em cooperação, servindo às necessidades peculiares do meio e grupo social a que pertencia, integrando- se e satisfazendo às tendências da criança. Desenvolvendo ainda, segundo Beyer (2007, p. 33) o sentimento de responsabilidade individual e de trabalho de solidariedade e de cooperação”. Oferecendo às crianças, educação integral em que tenham preponderância sobre a aquisição de conhecimentos de pura memória, a formação intelectual, moral e cívica, criando ambientes sadios à criança, conduzindo-a por uma educação física, racional, além de lhes formar hábitos higiênicos, proporcionando-lhe desenvolvimento corporal e contribuindo para que descubram as aptidões naturais da infância, orientando-as para a profissão que mais lhe convenha. Ainda por este Decreto, a Educação Primária ficou assim dividida: em Ensino Primário Fundamental, para crianças de sete a doze anos, oferecido em dois cursos sucessivos - o Primário Elementar, com a duração de quatro anos e o Primário Complementar, de um ano. O Ensino Primário Supletivo era destinado aos adolescentes e adultos. Por outro, o Decreto n. 8.530, foi estabelecida a Lei Orgânica do Ensino Normal, cuja finalidade além de formar professores ou habilitar administradores para Escolas Primárias, era desenvolver e difundir conhecimentos sobre a educação da infância. Organizado em dois ciclos, o primeiro - com duração de quatro anos, formava o regente de ensino primário, e o segundo de três anos, formava, apenas o professor primário. Segundo Beyer (2007, p. 34), as Escolas Normais ao mesmo tempo em que instruíam e formavam mestres primários, fazia- os adquirir o próprio método para ensinar as matérias do curso primário: “anexo a cada Escola Normal, funcionava um curso primário para a prática dos alunos mestres”. 21 Educação do Campo: História, Legislação e Modalidades Destas Escolas no Brasil Capítulo 1 FIGURA 6 - REGISTRO DE UMA ESCOLA NORMAL, DA DÉCADA DE 1930 FONTE: <http://itaunadecadas.org/escola-normal- nossos-livros/>. Acesso em: 25 out. 2018. No início da década de 1960, iniciam-se as discussões do anteprojeto da Lei deDiretrizes e Bases (LDB) e movimentos em prol da Educação Popular. Entretanto, no período da Ditadura Militar, estagnam-se as renovações no Ensino. O que se tem são reformas: na LDB de 1961; extinção da cátedra e sistema de matrícula por disciplina na Universidade, ampliação da obrigatoriedade do ensino de quatro para oito anos; alterações curriculares; desativação da Escola Normal; instituição da Habilitação Magistério - programa responsável pela formação de professores, e a criação do Mobral - programa de alfabetização. Os dois últimos programas, reconhecidamente, fracassaram (ARANHA, 1996). Na década de 1980, discutia-se o fracasso das reformas realizadas: o retrocesso nas mudanças da LDB, as alterações curriculares, a iniquidade relacionada às escolas profissionalizantes, à falência do tecnicismo. O período, também, é marcado por uma abertura lenta e gradual de tendências, cujas ideias, aplicações e contribuições pedagógicas ainda são percebidas atualmente. Nesse sentido, uma das críticas relacionadas à educação rural é o objetivo ao qual essa educação era proporcionada. Objetivo esse, em que a escola era responsável pela capacitação do aluno, sendo assim, ela buscava “treinar ao invés de educar” e, esse “treinamento” tinha por finalidade atender os interesses das elites. Em contraposição a essa visão da escola como “treinadora” de alunos e da interferência de fatores e modelos externos na Educação Rural, como os interesses das elites e as novas técnicas de melhorias na produção de puro No início da década de 1960, iniciam- se as discussões do anteprojeto da Lei de Diretrizes e Bases (LDB) e movimentos em prol da Educação Popular. 22 Práticas Pedagógicas da Educação no Campo interesse das classes dominantes, surge a Educação do Campo. Construída através de movimentos populares, organizados por movimentos de camponeses, onde lutam por uma educação escolar que articula o trabalho produtivo com a educação escolar, ambos baseados no princípio da cooperação e alicerçada na solidariedade daqueles que vivem no campo (RIBEIRO, 2012). A definição “Educação do Campo” surgiu como Educação Básica do Campo no contexto de preparação da I Conferência Nacional por uma Educação Básica do Campo, realizada em Luziânia, Goiás, de 27 a 30 de julho 1998. A partir daí, passou a ser chamada Educação do Campo por meio das discussões do Seminário Nacional realizado em Brasília de 26 a 29 de novembro 2002, decisão posteriormente reafirmada nos debates da II Conferência Nacional, realizada em julho de 2004 (CALDART, 2012). Podemos notar que o conceito de educação do campo é um fato relativamente recente. Ele é produto das demandas dos movimentos dos camponeses na construção de uma política educacional para os assentamentos da reforma agrária. Por meio dessa demanda também nasceu o Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (PRONERA) e a Coordenação Geral de Educação do Campo (FERNANDES, 2006). Ademais, a década de 1990 ainda é marcada pelo Plano Nacional de Educação, pelos Parâmetros Curriculares Nacionais, pela efetivação de investimentos e demais diretrizes relacionadas à Educação estabelecidas pela Constituição de 1988 e a reformulação da LDB (ARANHA, 1996). A propósito, a LDB, de dezembro de 1996, na questão educação rural, no artigo 28, expunha: Art. 28 – Na oferta de educação básica para a população rural, os sistemas de ensino promoverão as adaptações necessárias à sua adequação às peculiaridades da vida rural e de cada região, especialmente: I - Conteúdos curriculares e metodologias apropriadas às reais necessidades e interesses dos alunos da zona rural; II - Organização escolar própria, incluindo adequação do calendário escolar às fases do ciclo agrícola e as condições climáticas; III - Adequação à natureza do trabalho na zona rural (BRASIL, 1996). Em 2014, este artigo recebeu um parágrafo tratando sobre o fechamento de escolas, incluído pela Lei nº 12.960: 23 Educação do Campo: História, Legislação e Modalidades Destas Escolas no Brasil Capítulo 1 Parágrafo único. O fechamento de escolas do campo, indígenas e quilombolas será precedido de manifestação do órgão normativo do respectivo sistema de ensino, que considerará a justificativa apresentada pela Secretaria de Educação, a análise do diagnóstico do impacto da ação e a manifestação da comunidade escolar (BRASIL, 2014, s.p.). De acordo com o Plano Nacional da Educação, de 1998, a escola do meio rural, demanda um tratamento diferenciado, pois a oferta de ensino fundamental precisa chegar a todos os recantos do país, e a ampliação da oferta de quatro séries regulares em substituição às classes isoladas unidocentes é meta a ser perseguida, consideradas as peculiaridades regionais e a sazonalidade (BRASIL, 1998). Neste período, se organizou o Programa Escola Ativa. Este programa foi mais uma política do governo neoliberal de Fernando Henrique Cardoso, cuja parte metodológica tinha como base um ambiente pedagógico centrado no aluno e na não diretividade, na qual o professor é apenas um facilitador e o aluno o centro do processo, com conteúdos flexíveis, de acordo com suas necessidades (BEYER, 2007). A sua fundamentação teórica se pautava no construtivismo de Piaget. Alvo de várias discussões, desde políticas até metodológicas, o programa passou por várias alterações. Em 2011, estas alterações, desde a concepção teórico-metodológica até o nome, evidenciaram a perspectiva histórico-cultural de Vygotsky. Logo, passou a ser designado de Escola da Terra. Em novo formato, o Programa Escola da Terra busca promover a formação continuada de professores para que atendam às necessidades específicas de funcionamento das escolas do campo e daquelas localizadas em comunidades quilombolas; e oferecer recursos didáticos e pedagógicos que atendam às especificidades formativas das populações do campo e quilombolas (MEC, 2018). Em consequência ao PNE, o decreto nº 7.352, de 4 de novembro de 2010, vêm tratar sobre a Política de Educação do Campo - PRONACAMPO - e o Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária - PRONERA. A Política de Educação do Campo destina-se à ampliação e qualificação da oferta de Educação Básica e Superior às populações do campo. O decreto prevê regime de colaboração entre a União, com os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, de acordo com as diretrizes e metas estabelecidas no Plano Nacional de Educação e o disposto neste Decreto. Objetiva ainda estabelecer um conjunto de ações articuladas que atenderá escolas do campo e quilombolas em quatro eixos: gestão e práticas pedagógicas, formação de professores, educação de jovens De acordo com o Plano Nacional da Educação, de 1998, a escola do meio rural, demanda um tratamento diferenciado, pois a oferta de ensino fundamental precisa chegar a todos os recantos do país 24 Práticas Pedagógicas da Educação no Campo e adultos e educação profissional e tecnológica. Em 2013, a Portaria 86, de 1º de fevereiro do Ministério da Educação, instituiu oficialmente o PRONACAMPO, definindo suas diretrizes gerais. Para saber mais sobre o PRONACAMPO, acesse: <http://pronacampo.mec.gov.br/>. Atualmente, o Ministério da Educação (MEC) além de dar continuidade aos Programas, Ações e Projetos relacionados às áreas de Educação Superior, Ensino de Pós-Graduação, Educação Profissional e Tecnológica, Ensino Médio e Fundamental, Educação Infantil, Educação a Distância, Alfabetização e Educação de Jovens e Adultos, Educação do Campo, Indígena e Ambiental, institui-se, gradativamente, o Ensino Médio Integral - previsto na BNCC - Base Nacional Comum Curricular, documento curricular importante para atender as últimas e significativas mudanças na Educação Brasileira. Em 2006, uma emenda aumentou em um ano a duração do Ensino Fundamental, agora com nove anos, fazendo com que as crianças ingressem nesta etapa aos 6 anos de idade.No ano seguinte, com esta alteração, o FUNDEF foi alterado para FUNDEB (Fundo da Educação Básica), assim, os recursos podem também ser aplicados na Educação Infantil. Em 2008, ocorreram mudanças em relação ao Ensino Técnico, Profissional e Tecnológico. No ano de 2013, a ampliação das etapas em que o ensino é obrigatório, passou a incluir, além do Fundamental, o Ensino Médio e a Pré-Escola, para crianças com 4 e 5 anos. A mudança decorre da Emenda Constitucional 59, de 11 de novembro de 2009, que garante a educação “básica obrigatória e gratuita” dos 4 aos 17 anos de idade (BRASIL, 2009). A propósito, desde 2013, os estudantes do primeiro ao quinto ano do ensino fundamental de escolas públicas da área rural, seriadas e multisseriadas, receberam livros didáticos específicos. As obras são selecionadas dentro do 25 Educação do Campo: História, Legislação e Modalidades Destas Escolas no Brasil Capítulo 1 Programa Nacional do Livro Didático do Campo (PNLD Campo) e substituem os cadernos de ensino e aprendizagem e outros materiais impressos usados nas salas de aula. Em 22 de dezembro de 2017, foi publicada a Resolução CNE/CP nº 2, que institui e orienta a implantação da Base Nacional Comum Curricular a ser respeitada obrigatoriamente ao longo das etapas e respectivas modalidades no âmbito da Educação Básica. Lembrando que a BNCC aprovada se refere à Educação Infantil e ao Ensino Fundamental, sendo que a Base do Ensino Médio é discutida atualmente, já que o MEC divulgou, no último dia 3 de abril de 2018, a proposta de Base Nacional Comum Curricular para o Ensino médio, que será um instrumento de orientação dos currículos a serem desenvolvidos pelos diversos sistemas de ensino estaduais e municipais do Brasil. A última alteração da LDB ocorreu em 2018. Conheça mais sobre a Base Nacional Comum Curricular! Acesse o QR-Code e saiba mais sobre as diretrizes da Base: FONTE: <http://midias.baseemacao.org.br/BNCC/BNCC_AS_ DEZ_COMPETENCIAS.mp4>. Acesso em: 25 out. 2018. 3.2 A Educação do Campo no Atual Contexto Brasileiro A Educação Brasileira foi influenciada pelo desenvolvimento industrial e urbano. Assim, assumir e apoiar a educação como “rural”, na forma multisseriada sugere uma visão do ultrapassado, pobre e isolado, visto apenas como um território agrícola, zona não urbana, não desenvolvida. 26 Práticas Pedagógicas da Educação no Campo A dificuldade em encontrar um projeto de Educação Rural pode ser justificada por essa visão unilateral. Entretanto, torna-se necessário rediscutir a nova territorialidade do rural; atualizar as percepções de local, regional e global (e suas inter-relações) e finalmente, discutir objetivos e parâmetros para a cidadania no mundo rural” (BEYER, 2007, p. 39). Os termos rural e agrícola sugerem semelhanças. A área rural tradicionalmente era voltada exclusivamente às atividades agrícolas. Já a agricultura de subsistência mantinha as famílias quanto à produção de alimentos, até o final dos anos 1960. Nas últimas décadas, com as condições econômicas, ligadas diretamente ao mercado, a agricultura familiar, atualmente, produz 38% do valor da produção, ocupa 77% das pessoas que trabalham no campo e possuem 30% das áreas dos imóveis rurais. Hoje, sua renda não é mais exclusivamente agrícola. Estima- se que cerca de 35% da renda familiar dessa população vem de atividades não agrícolas desenvolvidas na zona rural ou nas sedes dos municípios (PIMENTA, 2010, s.p.). Além dessa mudança, outro dado importante é populacional. Segundo o sítio eletrônico do Governo Brasileiro, o Brasil possui 208,4 milhões de habitantes, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). GRÁFICO 1 - POPULAÇÃO URBANA E RURAL NO BRASIL FONTE: <https://urbe.me/lab/em-30-anos-a-populacao-urbana-mundial-deve- ultrapassar-as-6-mil-milhoes-de-pessoas/>. Acesso em: 24 de out. 2018. Os dados mostram um deslocamento migratório do interior para as áreas urbanas, que já concentram quase 85% da população. Conforme Webber (2015), entre 1980 e 2010, data do último censo demográfico, registra-se o crescimento da população urbana em 20% aproximadamente, marcando o crescimento mais 27 Educação do Campo: História, Legislação e Modalidades Destas Escolas no Brasil Capítulo 1 acelerado na segunda metade do século XX. A autora complementa que o este aumento da população urbana acontece em nível mundial: o planeta passou por um processo de urbanização rápido nas últimas décadas: em 1950, mais de dois terços da população do mundo vivia em área rural; foi em 2007 que a população urbana mundial ultrapassou a população rural, mantendo-se predominante desde então (WEBBER, 2015). GRÁFICO 2 - POPULAÇÃO URBANA E RURAL NO MUNDO FONTE: <https://urbe.me/lab/em-30-anos-a-populacao-urbana-mundial-deve- ultrapassar-as-6-mil-milhoes-de-pessoas/>. Acesso em: 24 de out. 2018. Este êxodo rural não muda apenas a cidade. Mas, transforma, principalmente, a área rural. Especialmente, a agricultura do local: os agricultores familiares não moram mais exclusivamente na zona rural, como ocorria há quatro ou cinco décadas. “Em 14 unidades da Federação, mais de 20% moram nas sedes dos municípios; em sete estados mais de 30% dos agricultores familiares estão nas cidades” (PIMENTA, 2010, s.p.). Essa tendência é mundial, aumentando cada vez mais a integração e a divisão do trabalho entre o campo e os núcleos urbanos. Entretanto, estudos realizados com jovens moradores das áreas rurais da Região Sul do país, mostram que: − 70% dos rapazes desejam ficar no campo, como produtores rurais; − 81% têm como dificuldade a falta de recursos para investimento; − 40% apontam a falta de alternativas de geração de renda; − 30% apontam falta de terra (só 21% acham que herdarão terras em quantidade e qualidades necessárias) (BEYER, 2007) Este êxodo rural não muda apenas a cidade. Mas, transforma, principalmente, a área rural. 28 Práticas Pedagógicas da Educação no Campo O mesmo estudo aponta que cerca de 50% das moças pretendem continuar no meio rural como proprietárias; ou trabalhando em tempo parcial ou trabalhando em atividades não agrícolas, pois pensam que não terão condições de optar: as mais pobres acham que ficarão no campo por necessidade ou que terão que procurar emprego nas cidades, embora, nesse caso, quisessem ficar no meio rural (PIMENTA, 2010, s.p.). Mediante estas informações, podemos afirmar que estes percentuais, aliados à reconhecida diversidade socioculturais e o direito à igualdade e a diferença, previstas na Constituição Brasileira, é um desafio para qualquer área, bem como à Educação. Algumas propostas tentam dar suporte a concretização de uma Educação Rural, neste sentido. Segundo o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira - INEP -, conforme dados do Censo Escolar de 2017, o Brasil tem 48,6 milhões de matrículas distribuídas em 184,1 mil escolas, e 2,2 milhões de docentes. Estas matrículas estão assim distribuídas: 8,5 milhões de matrículas na Educação Infantil, 27,3 milhões no Ensino Fundamental e 7,9 milhões no Ensino Médio. Dos matriculados nesta última etapa, apenas 7,9% cursam o ensino médio em tempo integral. Dos 2,2 milhões de docentes que atuam na Educação básica brasileira, 63,8% estão no Ensino Fundamental. De 2013 a 2017, o número de docentes que atua na Educação Infantil cresceu 16,4%, enquanto o que atua no Ensino Médio caiu 2,5% desde 2015. Em relação à escolaridade, 78,4% dos/as professores/ as que atuam na educação básica possuem nível superior completo. Desses/as docentes com graduação, 94,7% têm curso de licenciatura. Conforme dados do Censo Escolar de 2017, o Brasil tem 48,6 milhões de matrículas distribuídas em 184,1 mil escolas, e 2,2 milhões de docentes. GRÁFICO 3 - NÚMERO DE MATRÍCULAS NA EDUCAÇÃO BÁSICA POR DEPENDÊNCIA ADMINISTRATIVA E LOCALIZAÇÃO (URBANA/RURAL)DA ESCOLA - BRASIL 2017 FONTE: INEP/Notas Estatísticas – Censo Escolar 2017. 29 Educação do Campo: História, Legislação e Modalidades Destas Escolas no Brasil Capítulo 1 O Sistema Multisseriado de Ensino, de acordo com o Censo Escolar de 2002, detinha 63.928 turmas, nos 100.084 estabelecimentos rurais de ensino. Conforme o levantamento mais recente, são 53.713 escolas com classes multisseriadas do primeiro ao quinto ano do ensino fundamental, no Brasil. De acordo com estas notas estatísticas, podemos perceber que há escolas resistindo, em determinadas regiões do Brasil, às iniciativas de êxodo rural ou nucleação escolar. As Escolas Multisseriadas reconhecem a territorialidade própria do espaço rural, desenvolvendo adequações nos conteúdos curriculares e metodologias, pensando em projetos mediante as características locais e regionais. Por isso, sua importância. E, uma seção de estudos dedicada somente a elas. Vamos adiante! As Escolas Multisseriadas reconhecem a territorialidade própria do espaço rural, desenvolvendo adequações nos conteúdos curriculares e metodologias, pensando em projetos mediante as características locais e regionais. ATIVIDADE DE ESTUDO: 1 No período da Escola Nova, sob a liderança de Capanema, foram promulgadas várias legislações acerca da Educação. Com relação à Escola Primária, temos neste período uma aproximação às necessidades do homem do campo. Disserte sobre estas contribuições. R.: ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ___________________________________________________. 2 Analisando os dados e números sobre a população do Brasil, vemos um decréscimo na área rural. Na sua opinião, o que interfere para que a população rural diminua? R.: ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ___________________________________________________. 30 Práticas Pedagógicas da Educação no Campo 4 Educação do Campo: as Modalidades de Ensino 4.1 A Educação do Campo no Brasil O país conta com 184,1 mil escolas de educação básica. Sendo a maior parte destas escolas, responsabilidade dos municípios, concentrando cerca de 2/3 das escolas (112,9 mil). Este dado do Censo Escolar de 2017, pode ser complementado por outro: 15,9% das escolas brasileiras possuem mais de 500 matrículas, podendo ser consideradas de grande porte. Por outro lado, 22,7% das escolas atendem até 50 alunos, podendo ser consideradas de pequeno porte, ou seja, grande parte das escolas brasileiras são consideradas pequenas. Estas pequenas escolas são predominantemente municipais (75,9%) e rurais (74,8%). Veja no mapa a seguir, o percentual de escolas de pequeno porte por município: FIGURA 7 - PERCENTUAL DE ESCOLAS DE PEQUENO PORTE (ATÉ 50 MATRÍCULAS) POR MUNICÍPIO - BRASIL 2017 FONTE: INEP/ Notas Estatísticas – Censo Escolar 2017. 31 Educação do Campo: História, Legislação e Modalidades Destas Escolas no Brasil Capítulo 1 Como podemos ver, as escolas de pequeno porte estão em todo país. Como estão majoritariamente nas áreas rurais, são também chamadas de escolas do campo. O decreto nº 7.352, de 04 de novembro de 2010 – já mencionado, tratou sobre a Política de Educação do Campo - PRONACAMPO - e o Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária - PRONERA. Em 2013, a Portaria 86, de 1º de fevereiro do Ministério da Educação, instituiu oficialmente o PRONACAMPO, definindo suas diretrizes gerais. Para fins de definição, a Política de Educação do Campo destina-se à ampliação e qualificação da oferta de Educação Básica e Superior às populações do campo. Para os efeitos do mesmo, o Decreto deixa claro: § 1º Para os efeitos deste Decreto, entende-se por: I - populações do campo: os agricultores familiares, os extrativistas, os pescadores artesanais, os ribeirinhos, os assentados e acampados da reforma agrária, os trabalhadores assalariados rurais, os quilombolas, os caiçaras, os povos da floresta, os caboclos e outros que produzam suas condições materiais de existência a partir do trabalho no meio rural; e II - escola do campo: aquela situada em área rural, conforme definida pela Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, ou aquela situada em área urbana, desde que atenda predominantemente a populações do campo (BRASIL, 2010). Qualquer escola existente na área rural de seu Município, já é considerada uma escola do campo. Esta definição generalista nos traz uma série de dados surpreendentes. Muitas vezes, distantes de nossa realidade. Para embasar esta afirmação, basta analisarmos a seguinte tabela: 32 Práticas Pedagógicas da Educação no Campo TABELA 1 - RECURSOS RELACIONADOS À INFRAESTRUTURA DISPONÍVEL NAS ESCOLAS DE ENSINO MÉDIO SEGUNDO DEPENDÊNCIA ADMINISTRATIVA FONTE: INEP/ Notas Estatísticas – Censo Escolar 2017. Alguns dados são alarmantes e não estamos falando de laboratório ou internet. Se pensarmos em nossas casas e na instituição em que estudamos, o acesso a estes itens é tão normal, que consideramos indispensável termos banda larga. Com certeza, alguns alunos, somente sentem falta de um banheiro. Infelizmente, assim como temos escolas sem banheiro, há também, escolas sem energia elétrica, por exemplo. Abordaremos mais sobre estes dados, adiante, como justificativa do tempo e do espaço nas escolas rurais. Enquanto isso, vamos tratar sobre os modelos destas escolas. Para saber mais, veja este vídeo. Acesse o QR-Code e assista sobre a questão da Escola do Campo e Escola no Campo: FONTE: Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v= kUiGs4xVpDY>. Acesso em: 25 out. 2018. 33 Educação do Campo: História, Legislação e Modalidades Destas Escolas no Brasil Capítulo 1 4.2 Modalidades da Educação Rural Brasileira A Educação no Campo tem vários modelos: a escola multisseriada, a escola nucleada e a pedagogia da alternância são alguns deles. Para fins de definição, abordar-se-á o termo classe multisseriada à sala de aula em que um só professor leciona para mais turmas. Em muitos casos, ainda, manipula alimentos e realiza todas as atividades burocráticas pertinentes à rotina escolar em geral. A maioria das escolas nestas condições tem apenas uma sala de aula, o que pode ser chamada de escola multisseriada, ou ainda, escola ou classe unidocente, termos utilizados pelo Ministério da Educação (MEC). Por vezes, também, chamada de escola isolada ou escola reunida, o teor é o mesmo. Apenas a nomenclatura se distingue, por uma questão de uso histórico. Basicamente, como demonstrado na Figura 8, é desta forma que o professor organiza suas turmas na escola multisseriada: com atividades distintas, ao mesmo tempo. Afinal, como o termo “multi” identifica, há mais turmas nesta sala. Assim, cada série, está realizando uma tarefa enquanto o professor acompanha cada uma, em tempos distintos, ao longo do período da aula. FIGURA 8 - ORGANIZAÇÃO DE CLASSE MULTISSERIADA FONTE: Disponível em: <https://www.causaoperaria.org.br/acervo/blog/2017/08/29/ avencas-tera-salas-multisseriadas-1/#.W9q6D1VKjIU>. Acesso em: 24 de out. 2018. Para quem não estudou desta forma e não trabalha nesta modalidade parece bastante complexo. Por isso, selecionamos dois vídeos para exemplificar a dinâmica destas turmas multisseriadas. 34 Práticas Pedagógicas da Educação no Campo Acesse os QR-Code e veja dois vídeos selecionados para complementar seu entendimento sobre o tema. O primeiro, sobre umaexperiência em sala de aula, exemplificando “Como Trabalhar com Turmas Multisseriadas?”. FONTE: Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v= 1uzJxp8R7_k>. Acesso em: 24 de out. 2018. Como podemos ver pelos vídeos, gravados em diferentes Estados Brasileiros, a aglomeração de alunos de séries diferenciadas na mesma sala, como é o caso da escola multisseriada, é adotada em todas as regiões brasileiras. Apesar de concentrada na área rural, também está presente em escolas urbanas (RODRIGUES, 2006). Ainda segundo Rodrigues (2006, s.p), “enquanto na França a multisseriada é sinônimo de ensino de qualidade, na América Latina, especialmente no Brasil, representa, muitas vezes, apenas uma maneira de os governantes economizarem recursos. A multisseriada passa, então, a ser uma boa estratégia para gastar menos com a educação, mas é uma forma muito cínica de fazer inovação na área, usando o argumento de que juntar todos em uma sala ajuda na integração". Não só na França, o número de escolas multisseriadas é expressivo. No México, de 30% a 40% das escolas primárias do país são multisseriadas. Este comparativo é somente sobre um dado. Podemos fazer várias análises com os números que temos, do Brasil e outros países. E, ainda, de uma região do Brasil com outra. A situação é bem diferente em vários pontos brasileiros. O contraste é grande. Assim como, as ideias sobre este modelo de educação. Ao longo deste livro, voltaremos a tratar sobre estes dados e opiniões contra e a favor, especialmente, quando tratarmos da organização do tempo e do espaço das escolas no campo, bem como, sobre os desafios enfrentados nesta modalidade de ensino. Um deles, certamente, é a nucleação. 35 Educação do Campo: História, Legislação e Modalidades Destas Escolas no Brasil Capítulo 1 Beyer (2007) relata casos de escolas multisseriadas que são fechadas. Explica que nesse caso, as escolas são nucleadas, ou seja, a denominação escola nucleada é estabelecida para uma “reunião” de escolas isoladas que são fechadas por razões econômicas, e os alunos e professores são transportados para a escola nucleada (Figura 9), com a intenção de melhorar a infraestrutura e a qualidade de ensino, já que assim, não há mais turmas unidocentes. FIGURA 9 - COMO FUNCIONA A NUCLEAÇÃO FONTE: COLBERT (2005, p. 22). Legenda: 1. Escolas-núcleo agrupam pequenas escolas isoladas oferecendo melhor infraestrutura. 2. O secretário de Educação e o diretor pedagógico contam com uma equipe de coordenadores. 3. Os coordenadores visitam de moto, em muitos casos, as escolas para capacitar e avaliar os professores. 4. O transporte escolar é essencial porque muitos alunos moram distante das escolas-núcleo. Gonçalves (2010) explica que a nucleação tem por objetivo a organização do ensino no meio rural, em escolas-núcleo, contrapondo-se a organização em escolas multisseriadas, ainda que recebendo um pequeno número de alunos. A nucleação viabiliza-se por meio do uso intensivo do transporte escolar e deslocamento de alunos desde suas comunidades para escolas com maior população, onde estes são reunidos em classes de acordo com sua faixa etária. Os argumentos de viés político-pedagógicos que sustentam essa 36 Práticas Pedagógicas da Educação no Campo vertente defendem que a melhoria no processo educativo é decorrente das aulas em classes unisseriadas e das melhores condições materiais das escolas nucleadas, se comparadas com a histórica precariedade das escolas multisseriadas. Argumentos de viés econômico-administrativos sustentam que os custos com a nucleação frequentemente são mais baixos que os custos da manutenção das salas multisseriadas, dada a menor necessidade de contratação de professores e serventes por aluno, o que implicaria em melhores investimentos em infraestrutura e formação docente (GONÇALVES, 2010, s.p). O processo de nucleação, no Brasil, foi particularmente forte na década de 90, quando as reformas educacionais na educação básica, induzidas pela LDB, priorizaram o Ensino Fundamental com a criação do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental, de Valorização do Magistério (FUNDEF) e o fortalecimento do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE). Conforme Gonçalves (2010, s.p) “ao estabelecerem critérios para a transferência de recursos financeiros às escolas públicas do Ensino Fundamental, estimularam a municipalização do mesmo, processo que terminou por resultar no fechamento de várias escolas multisseriadas”. Os estudantes das unidades desativadas foram então “nucleados” em centros urbanos e escolas maiores. As críticas feitas ao processo de nucleação denunciam o distanciamento da escola-núcleo das comunidades de origem de seus alunos e de suas respectivas famílias, além dos riscos e desgastes que longas viagens realizadas em estradas precárias implicam para os alunos. Por isso, a defesa, em tantos lugares, da manutenção da escola multisseriada. A discussão é longa e antiga. E, em 2014, recebeu um artigo específico na LDB, dificultando o fechamento de escolas, sem justificativa. Isso porque, comprovadamente percebe-se que a política de nucleação contribui ao desenraizamento cultural dos alunos do campo, tanto por deslocá-los para longe da comunidade de origem, como por oferecer um modelo de educação urbano, alheio ao seu cotidiano. Fazendo com que o vínculo com a família e comunidade tenha menos intensidade. Critica-se, ainda, o desestímulo à gestão participativa da escola, uma vez que, longe de sua comunidade de origem, os alunos e seus respectivos pais não teriam meios para participar da gestão da escola, conforme orienta a própria LDB. 37 Educação do Campo: História, Legislação e Modalidades Destas Escolas no Brasil Capítulo 1 Contrapondo a ideia de nucleação, apresentamos uma notícia que mostra que ainda há incentivos à escola multisseriada. No Espírito Santo, por exemplo, em 2017, ocorreu uma ampliação na Escola Unidocente Córrego São Sebastião. Confira: Prefeitura inaugura ampliação e reforma da “Escola de Córrego São Sebastião” FONTE: <http://www.pmsmj.es.gov.br/portal/prefeitura-inaugura-ampliacao-e- reforma-da-escola-de-corrego-sao-sebastiao/>. Acesso em: 25 out. 2018. Outra alternativa para a manutenção de escolas no campo, é o Projeto da Pedagogia da Alternância (Figura 10), que se baseia na flexibilidade do calendário e é muito mais técnico. De cunho agrícola, a escola é local de troca de experiências sobre o cultivo da terra. A aprendizagem acompanha na sala de aula, a realidade vivida nas casas dos pais agricultores. 38 Práticas Pedagógicas da Educação no Campo FIGURA 10 - COMO FUNCIONA A PEDAGOGIA DA ALTERNÂNCIA FONTE: COLBERT (2005, p. 24). Legenda: 1. Os alunos do 5º ano ao Ensino Médio passam até 15 dias na escola e o mesmo período em casa. 2. O currículo contém as disciplinas e os conteúdos regulares, mais agricultura e zootecnia 3. As técnicas que os jovens aprendem nas aulas são aplicadas na propriedade da família. 4. O conhecimento gerado pela escola contribui para o desenvolvimento de toda a região Como podemos ver, a Pedagogia da Alternância é um método que busca a interação entre o estudante que vive no campo e a realidade que ele vivencia em seu cotidiano, de forma a promover constante troca de conhecimentos entre seu ambiente de vida, o trabalho e a escola. Para conhecer mais sobre a Pedagogia da Alternância, acesse o QR-Code a seguir: FONTE: <http://g1.globo.com/espirito-santo/jornal-do-campo/videos/v/ conheca-a-pedagogia-de-alternancia-aplicada-na-escola-agricola- do-mepes-no-es/3674135/>. Acesso em: 26 out. 2018. 39 Educação do Campo: História, Legislação e Modalidades Destas Escolas no Brasil Capítulo 1 De acordo com a SECAD (Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade) do MEC, a educação do campo, também, tem relação com movimentos sociais.A proposta dos planos nacionais de educação do campo acontece com a colaboração destes movimentos. Por isso, são comuns objetivos relacionados à valorização do campo, englobando os espaços da floresta, da pecuária, das minas, da agricultura, os pescadores, dos caiçaras, dos ribeirinhos e dos extrativistas como espaço de inclusão social a partir de uma nova visão de desenvolvimento, de acordo com o Portal do MEC (BRASIL, 2006), uma vez que a diversidade étnico-cultural difere de acordo com as regiões do Brasil. O termo “movimentos sociais” foi utilizado pela primeira vez por Lorenz Von Stein, em 1842, ao sentir a necessidade de uma ciência social que estudasse o socialismo emergente na França. Desde então, no Brasil e no exterior, tem sido usado com vários significados, quer seja para designar qualquer ação coletiva de forma ampla, ou mesmo para designar estritamente mobilizações reivindicativas da sociedade civil (GOHN, 2006). O processo investigativo sobre os movimentos sociais, principalmente a partir da década de 1970, século XX, constituiu-se de uma base de conhecimentos divergentes de várias formas. Scherer-Warren (1993) refere-se aos movimentos sociais amplamente, para designá-los como toda e qualquer mobilização social de massas humanas que reivindicam alguma coisa do Estado e/ou de determinados segmentos da própria sociedade civil. Para Gohn (2006, p.13), “movimentos sociais são ações coletivas de caráter sociopolítico e cultural que viabilizam distintas formas da população se organizar e representar suas demandas”. São várias as formas dessas ações se manifestarem, de maneira direta e indireta, podendo ser exemplificados com mobilizações, marchas, passeatas, atos de desobediência, entre outros. Os movimentos sociais compreendem e exploram pedagogicamente as tensões e contradições da sociedade. Isto porque, “onde há tensões as pessoas são obrigadas a repensarem, a reaprenderem e a mudarem valores, concepções e práticas” (SOUZA, 2006, p. 11). É possível verificar na literatura que trata do tema, uma profusão de interpretações sobre o conceito, nomeando-o como lutas, protestos, revoltas, revoluções, mobilizações, sendo classificados (os movimentos) como grupos de interesse, grupos de pressão, ou apenas como ações coletivas. Os grupos de pressão são organizados por indivíduos que possuem interesses econômicos ou sociais, tais como boicotes, greves, manifestações, e que possuem coesão entre seus integrantes, buscando a adesão da opinião pública. Já os grupos de interesses defendem interesses específicos, pressionando o poder público, utilizando como estratégia várias formas de pressão direta com instâncias de poder decisório. E as ações coletivas podem ser designadas como lutas pela redistribuição de renda e outros serviços sociais coletivos sob o controle de grandes organizações públicas ou privadas (SOUZA, 2006). 40 Práticas Pedagógicas da Educação no Campo Para conhecer mais sobre a influência dos Movimentos Sociais e suas contribuições para os Planos de Educação no Campo, selecionamos alguns movimentos para lhe desafiar a pesquisar sobre eles. Confira: - Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra/Movimento Sem Terra – MST; - Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura – CONTAG; - Movimento de Libertação dos Sem Terra – MLST; - Comissão Pastoral da Terra – CPT; - Federação Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar – FETRAF/BRASIL/CUT; - Federação dos Trabalhadores na Agricultura - FETAG. ATIVIDADE DE ESTUDO: 1 Defina com suas palavras, como funciona a escola multisseriada. R.: ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ___________________________________________________. 2 Outro modelo de escola presente na área rural é a Pedagogia da Alternância. De perfil mais técnico, ela relaciona o estudo com o trabalho no campo. Escreva sobre este método. R.: ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ___________________________________________________. 41 Educação do Campo: História, Legislação e Modalidades Destas Escolas no Brasil Capítulo 1 Algumas Considerações Estudaremos mais detalhadamente sobre estas modalidades de ensino, ao longo deste livro. Especialmente quando tratarmos das práticas pedagógicas e da organização do tempo e do espaço destas escolas. Como já vimos, elas têm uma organização própria, justamente por conta da forma como funcionam. Ao mesmo tempo em que facilita para quem lá estuda, sofre críticas por este mesmo funcionamento. Esta crítica é tema de várias reportagens, estudos e pesquisas sobre o assunto. A qualidade do ensino deveria ser o principal enfoque de qualquer escola, principalmente porque há excelentes e exitosas experiências em escolas rurais, independentemente de sua modalidade organizativa. Não se trata em defender estas, como as melhores escolas, mas respeitá-las. Não somente por sua contribuição histórica, mas como possibilidades reais de formação humana, para além de um quadro dividido por conteúdos por série, pois estamos falando de conteúdos para a vida. Referências ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. História da educação. 2. ed. São Paulo: Moderna, 1996. AZEVEDO, Rodrigo. A história da Educação no Brasil: uma longa jornada rumo à universalização. Gazeta do Povo. 2018. Disponível em: https://www. gazetadopovo.com.br/educacao/a-historia-da-educacao-no-brasil-uma-longa- jornada-rumo-a-universalizacao-84npcihyra8yzs2j8nnqn8d91/. Acesso em: 26 out. 2018. BEYER, Marlei Adriana. Saberes e fazeres das escolas multisseriadas de Benedito Novo. Dissertação (Mestrado em Educação) - FURB. Blumenau, 2007. BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: Senado Federal, 1988. BRASIL. Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ CCIVIL_03/LEIS/L9394.htm. Acesso em: 20 out. 2018. 42 Práticas Pedagógicas da Educação no Campo BRASIL. Plano Nacional de Educação. Proposta do Executivo ao Congresso Nacional. Brasília: 1998. Disponível em: http://portal.inep.gov.br/ documents/186968/484184/Plano+Nacional+de+Educa%C3%A7%C3%A3o+ proposta+do+Executivo+ao+Congresso+Nacional/3f4d496d-17c6-4a89-83e4- 8ebc5bcc86de?version=1.1. Acesso em: 26 nov. 2018. BRASIL. Lei nº 10.172, de 9 de janeiro de 2001. Aprova o Plano Nacional de Educação e dá outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/leis/leis_2001/l10172.htm. Acesso em: 26 nov. 2018. BRASIL. Lei nº 11.114, de 6 de novembro de 2005. Altera os artigos 6, 30, 32 e 87 da Lei nº 9394/96, de 20 de dezembro de 1996, com o objetivo de tornar obrigatório o início do ensino fundamental aos seis anos de idade. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2005/Lei/L11114.htm. Acesso em: 26 nov. 2018. BRASIL. Parecer CEB nº 22, de 9 de dezembro de 2009. Diretrizes Operacionais para a implantação do Ensino Fundamental de 9 (nove) anos. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/dmdocuments/pceb020_09.pdf. Acesso em: 26 nov. 2016. BRASIL. Emenda Constitucional 59, de 11 de novembro de 2009. Acrescenta § 3º ao art. 76 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias para reduzir, anualmente, a partir do exercício de 2009, o percentual da Desvinculação das Receitas da União incidente sobre os recursos destinados à manutenção e desenvolvimento do ensino de que trata o art. 212 da Constituição Federal, dá nova redação aos incisos I e VII do art.208, de forma a prever a obrigatoriedade do ensino de quatro a dezessete anos e ampliar a abrangência dos programas suplementares para todas as etapas da educação básica, e dá nova redação ao § 4º do art. 211 e ao § 3º do art. 212 e ao caput do art. 214, com a inserção neste dispositivo de inciso VI. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ constituicao/emendas/emc/emc59.htm. Acesso em: 26 nov. 2018. BRASIL. Decreto n. 7.352, de 4 de novembro de 2010. Dispõe sobre a política de educação do campo e o Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária - PRONERA. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007- 2010/2010/decreto/d7352.htm. Acesso em: 26 nov. 2018. BRASIL. Lei Nº 12.960, de 27 de março de 2014. Altera a Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para fazer constar a exigência de manifestação de órgão normativo do sistema de ensino para o fechamento de escolas do campo, indígenas e quilombolas. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2014/Lei/ L12960.htm. Acesso em: 26 nov. 2018. 43 Educação do Campo: História, Legislação e Modalidades Destas Escolas no Brasil Capítulo 1 BRASIL. Resolução CNE/CP nº 2: Base Nacional Comum Curricular, de 22 de dezembro de 2017. Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/wp- content/uploads/2018/04/RESOLUCAOCNE_CP222DEDEZEMBRODE2017.pdf. Acesso em: 26 nov. 2018. BRASIL. IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Sítio eletrônico. Disponível em: http://www.ibge.gov.br. Acesso em: 24 out. 2018. BRASIL. Censo Escolar 2002. Disponível em: http://portal.inep.gov.br/ resultados-e-resumos http://portal.inep.gov.br/resultados-e-resumos. Acesso em: 26 nov. 2018. BRASIL. Censo Escolar 2017. Disponível em: http://portal.inep.gov.br/ resultados-e-resumos http://portal.inep.gov.br/resultados-e-resumos. Acesso em: 26 nov. 2018. CALAZANS, Maria Julieta Costa. Para compreender a educação do estado no meio rural: traços de uma trajetória. In: THERRIEN, J.; DAMASCENO, M. N. Educação e escola no campo. Papirus, Campinas, 1993. p. 15–51. CALDART, Roseli Salete. Educação do campo. In: CALDART, Roseli Salete et all (Orgs.). Dicionário da Educação do Campo. Rio de Janeiro, São Paulo: Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio, Expressão Popular, 2012. COLBERT, Vicky. A escola rural pode ser tão boa a ponto de inspirar a urbana. Revista Nova Escola, São Paulo, v. 20, n. 185, p. 22-24, set. 2005. FERNANDES, B. M. 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CAPÍTULO 2 Organização do Tempo e do Espaço Escolar no Campo A partir da perspectiva do saber-fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: � apreciar a estrutura do Projeto Político-Pedagógico da Escola do Campo; � conhecer a organização do tempo e do espaço escolar no campo; � analisar as possibilidades de ensino e aprendizagem nas escolas rurais; � relacionar a teoria para com a prática pedagógica na área rural. 46 Práticas Pedagógicas da Educação no Campo 47 Organização do Tempo e do Espaço Escolar no Campo Capítulo 2 1 Contextualização No capítulo anterior estudamos sobre a história da Educação do Campo, suas características gerais e a legislação relacionada ao tema. Neste capítulo, abordaremos a organização das escolas do campo, como se ensina e se aprende, como se projeta a proposta política-pedagógica destas unidades de ensino, ou seja, nosso enfoque será mais pedagógico a partir deste momento. No entanto, apesar de tratarmos de um tema específico, Educação do Campo, é importante destacarmos um trecho do capítulo anterior, mais especificamente, o Decreto nº 7.352, de 4 de novembro de 2010 – que trata sobre a Política de Educação do Campo - PRONACAMPO e o Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária – PRONERA. Para fins de definição, conforme o Decreto, a Política de Educação do Campo destina-se à ampliação e qualificação da oferta de Educação Básica e Superior às populações do campo. Para os efeitos do mesmo, o Decreto deixa claro: § 1º Para os efeitos deste Decreto, entende-se por: I - populações do campo: os agricultores familiares, os extrativistas, os pescadores artesanais, os ribeirinhos, os assentados e acampados da reforma agrária, os trabalhadores assalariados rurais, os quilombolas, os caiçaras, os povos da floresta, os caboclos e outros que produzam suas condições materiais de existência a partir do trabalho no meio rural; e II - escola do campo: aquela situada em área rural, conforme definida pela Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, ou aquela situada em área urbana, desde que atenda predominantemente a populações do campo (BRASIL, 2010). Qualquer escola existente na área rural de nossos municípios, já é considerada uma escola do campo. Assim como uma escola urbana, atende-se um grupo de população do campo. Por isso, é fundamental reconhecermos a importância do PPP e o quanto ele define a identidade da escola: é nele, que a própria escola vai definir se é ou não, uma escola do campo. Essa definição generalista sobre como se produz educação no campo nos traz uma série de dados, que são importantes considerar, pois, muitas vezes, são distantes de nossa realidade. Afirmamos isto, considerando o local de escrita deste livro, o Médio Vale do Itajaí, em Santa Catarina, especificamente, Indaial – cidade sede de nossa Universidade, Uniasselvi. Apontamos tal dado, pois aqui 48 Práticas Pedagógicas da Educação no Campo há somente agricultores familiares cujos filhos estão matriculados em escolas situadas na área rural. Não há extrativistas, pescadores, ribeirinhos, acampados, quilombolas ou caiçaras, por exemplo. Talvez em sua cidade, a realidade seja a mesma ou seja outra: você pode morar próximo de assentados, caboclos ou povos de floresta. Ainda, talvez conheça escolas com alunos quilombolas ou caiçaras, por exemplo. Esta contextualização é importante,
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