Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Capítulo 2 A Indústria Açucareira MARCOS OMIR MARQUES 29 2. A Indústria Açucareira 2.1. Introdução Os países produtores de açúcar podem ser agrupados em: os que industrializam beterraba açucareira (países de clima temperado) e aqueles cuja matéria prima é a cana-de-açúcar (países de clima tropical e alguns de clima subtropical). O Brasil, atualmente, é o maior produtor de açúcar de cana do mundo. Entretanto, sua vulnerabilidade, em termos de mercado internacional, é acentuada e influi diretamente na estabilidade do setor, tendo em vista, que o preço do açúcar no mercado internacional é controlado pelo mercado comum europeu, através da maior ou menor disponibilidade de seus estoques. As usinas de açúcar brasileiras podem ser classificadas, segundo a capacidade de industrialização em usinas de pequeno porte (moem, em média, até 10000 TCD), de médio porte (10000 - 20000 TCD) e de grande porte (acima de 20000 TCD). As agroindústrias açucareiras do Brasil distribuem-se geograficamente de tal forma que permitem a identificação de duas grandes regiões açucareiras: a região Nordeste e a região Sudeste, sendo esta última, a maior e mais desenvolvida tecnologicamente. Dentro da região Sudeste, o Estado de São Paulo destaca-se através dos seus dois maiores pólos açucareiros localizados nas regiões envolvendo os municípios de Piracicaba e Ribeirão Preto. Aí, situam-se as duas maiores usinas de açúcar do país: a Usina São Martinho, localizada no município de Pradópolis e a Usina da Barra, localizada no município de Barra Bonita. A Usina São Martinho moe, em média, 30000 TCD, sendo que seu pico de moagem ultrapassou 32500 TCD, na safra 1996/1997. A industrialização da cana-de-açúcar nada mais é do que um processo de transformação que visa a obtenção da sacarose na forma cristalizada com o maior grau de pureza possível. Desta forma, a produção do açúcar fica pôr conta do setor agrícola. Entretanto, o rendimento e a qualidade do produto final é função de fatores que atuam tanto em condições de campo, quanto na indústria, cujos efeitos acumulam- se ao longo do processo. 2.2. Aspectos Gerais A fabricação clássica do açúcar de cana abrange várias etapas, envolvendo diversas operações unitárias. Como pode-se observar através da Figura 2.1., as etapas básicas podem ser definidas em operações preliminares (envolvendo a determinação da melhor época de colheita através da avaliação do estágio de maturação, recepção, Capítulo 2 A Indústria Açucareira MARCOS OMIR MARQUES 30 condução e preparo da cana para moagem), extração, purificação, concentração, cristalização e centrifugação. As diferenças encontradas nas indústrias decorrem da forma de condução do processo, que sofre alterações de acordo com o tipo de açúcar que se deseja produzir. No Brasil, dois tipos de açúcar são os mais fabricados em escala industrial: o açúcar cristal branco e o açúcar demerara. O açúcar cristal branco caracteriza-se por ser um açúcar de alta polarização (99,3ºS a 99,9ºS). O processo utilizado para sua produção preconiza a adoção de um sistema de clarificação mais enérgico do que o empregado para a produção de açúcar demerara, que caracteriza-se por apresentar cristais envoltos por uma película aderente de mel, o que lhe confere uma menor polarização (96,5ºS a 98,5ºS). A diferença básica entre os dois processos, situa-se na fase de clarificação do caldo. Para o açúcar demerara, a clarificação é realizada empregando-se apenas leite de cal, enquanto que para o açúcar cristal branco, são empregados leite de cal e anidrido sulfuroso obtido através da combustão do enxofre mineral. 2.3. Etapas da fabricação do açúcar. A cana que chega à usina, através dos veículos transportadores, é encaminhada diretamente ao processo de fabricação ou ao armazenamento, visando provisão para moagem noturna. Para o processamento, a matéria-prima é descarregada sobre a mesa lateral de alimentação da esteira condutora de cana às moendas ou difusores. Ainda nas mesas laterais, à medida em que a cana é transportada, pode se realizar a sua lavagem com o objetivo de se remover impurezas (terra, pedras, etc.) que, se estiverem presentes, podem acentuar o desgaste dos equipamentos integrantes do processo de fabricação e ao seu preparo através de jogos de facas e desintegradores, os quais propiciam aumento da extração de sacarose e da capacidade de moagem. Nas moendas, a cana sofre compressões que resultam na extração do caldo. Nessa fase, são obtidos o caldo misto (caldo + água de embebição) e um resíduo fibroso, úmido, ainda contendo açúcar, denominado de bagaço, o qual é utilizado como combustível nas caldeiras para a geração de vapor. O caldo misto, que se constitui numa solução impura e diluída de sacarose, é conduzido à fase de purificação, que se realiza em duas etapas. A primeira, que visa a remoção de impurezas grosseiras como bagaço, bagacinho, terra, etc., é executada com a utilização de peneiras de diversos tipos. A segunda etapa se realiza com o objetivo de remover impurezas coloidais que se mantém em suspensão no caldo. Para tanto, procede-se à adição de um ou mais agentes químicos (leite de cal, anidrido sulfuroso) e produtos auxiliares da decantação, dependendo do tipo de açúcar a ser produzido. Tais produtos químicos alteram a reação do meio, provocando floculação e coagulação dos colóides. Esta fase também envolve aquecimento, decantação e filtração a vácuo do resíduo decantado (lodo ou borra). Como produto da clarificação, tem-se o caldo Capítulo 2 A Indústria Açucareira MARCOS OMIR MARQUES 31 decantado que constitui-se numa solução límpida e clara de sacarose. O resíduo da clarificação, separado na filtração mecânica do lodo, é a torta, também conhecida como torta de filtro, a qual tem utilidade no campo onde, após um período de humificação, é utilizada na fertilização do solo normalmente cultivado com cana-de-açúcar. O caldo decantado ou clarificado é enviado para a etapa de concentração que, por razões de ordem técnica e econômica é realizada em duas fases. Na primeira fase, denominada de evaporação, o caldo é enviado a evaporadores de múltiplos efeitos, onde é concentrado até 55-60ºBrix, passando a denominar-se de xarope. O xarope, pôr sua vez, é enviado à segunda fase, denominada de cozimento, que se realiza em evaporadores de simples efeito denominados de Cozedores.. Nesses equipamentos, em condições especiais de pressão e temperatura, o xarope é concentrado a um estado de supersaturação, o que propicia a cristalização da sacarose. Como conseqüência da evaporação da água do xarope no interior do cozedor, novas cargas de xarope são admitidas no equipamento com o objetivo de apenas promover o crescimento dos cristais. O produto do cozimento é denominado de massa cozida e se constitui numa mistura de cristais de sacarose envolvidos por mel ou licor mãe. Uma vez obtida a massa cozida, esta é enviada a um cristalizador, onde se completa o crescimento dos cristais por deposição (resfriamento com aumento da supersaturação). A fase seguinte constitui-se da centrifugação da massa cozida, quando ocorre a separação do mel dos cristais pelo efeito da força centrífuga em turbinas. O açúcar resultante é enviado para as operações finais quando se realiza a secagem, classificação, acondicionamento e armazenamento. O mel resultante da centrifugação retorna ao processo para que se consiga o seu esgotamento econômico através de novo cozimento, cristalização em movimento e centrifugação. O ponto de retorno depende do tipo de massa cozida que lhe deu origem. Os méis das massas cozidas de primeira e de segunda, normalmente retornam para novo cozimento de mesma pureza do cozimentoque lhe deu origem. O mel da massa cozida de terceira ou de mais baixo grau de pureza é normalmente enviado à fabricação de álcool. Esse sistema de cozimento é denominado de sistema de cozimento de três massas. O açúcar centrifugado de primeira é encaminhado ao secador para a remoção do excesso de umidade. Uma vez seco e à temperatura ambiente, o mesmo passa à fase de acondicionamento. O açúcar de segunda é empregado como "pé" ou de núcleo de cristalização, na forma de magma (açúcar parcialmente dissolvido em água), para novos cozimentos visando a produção de açúcar de primeira. O açúcar demerara é empregado como matéria prima para a produção de açúcar cristal refinado. O açúcar cristal branco tipo superior é utilizado para consumo direto. Porém, o tipo "Standard" é utilizado em refinarias para a produção de açúcar refinado ou amorfo. Capítulo 2 A Indústria Açucareira MARCOS OMIR MARQUES 32 Figura 2.1. Esquema seqüencial de etapas do processo de fabricação do açúcar cristal branco.
Compartilhar