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HALL, Peter G. A Cidade na Região. Nasce o Planejamento Regional: Edimburgo, Nova York, Londres (1900-1940). In: __________. Cidades Do Amanhã: uma história intelectual do planejamento e do projeto urbanos no século XX. São Paulo: Editora Perspectiva, 2002. cap 5, p.160-203 O PARADIGMA DO PLANEJAMENTO REGIONAL POR PETER HALL. Pedro Afonso Maia Pires Peter Geoffrey Hall, nascido em 1932 e falecido em 2014, foi urbanista, geógrafo e professor britânico. É considerado um dos urbanistas mais influentes do século XX, que causou grande impacto no pensamento urbanístico ocidental, com destaque na importante metrópole de Londres. Também foi autor do livro “Cidades do Amanhã: uma história intelectual do planejamento e do projeto urbanos no século XX”, o objeto apresentado nessa resenha. Nesta obra, especificamente no capítulo 5, nomeado como “A Cidade na Região. Nasce o Planejamento Regional: Edimburgo, Nova York, Londres (1900-1940).”, o professor Peter Hall apresenta o desenvolvimento do pensamento sobre o modelo de planejamento regional, a partir da visão e ideias de Patrick Geddes, um biólogo e filósofo escocês que ficou conhecido por seus pensamentos inovadores quanto o planejamento urbano e da educação, e que foi reconhecido como o “pai” do planejamento regional e o responsável pela criação do conceito de região pelas lentes do urbanismo, como também do conceito de “conurbação” e de “megalópoles”. Para Geddes, o levantamento, a partir de estudos das regiões naturais – em sua forma mais pura, analisada através de cortes transversais de suas bacias hidrográficas, reconhecidos como “Seções de Vale” – e de vizinhanças, deveria preceder o planejamento, de maneira que o plano leve em consideração a logística de recursos disponível, as complexidades e necessidades da paisagem natural, e o potencial inerente das respectivas áreas de intervenção. Para o escocês, a região como ele a interpreta, vai além de um simples elemento de levantamentos. Diante da crise demográfica de recursos e de energia que os municípios europeus sofriam diante as transformações socioespaciais e tecnológicas contemporâneas a Era Industrial, Geddes apresenta a região como a fornecedora da base para a reconstrução total da vida social e política e como o instrumento de resgaste da vida urbana do passado. Patrick Geddes, inspirado em autores como Piotr Kropotkin, discutiu a importância da descentralização e dispersão industrial em direção as áreas de produtividade agrícola a fim de promover a aliança entre os setores produtivos. Além disso, discorre sobre a necessidade de reformas e criação de vizinhanças cooperativas e solidárias, aliadas ao ideal de “fazer o campo chegar perto da rua”, a partir do controle de crescimento botânico dos municípios, ou seja, aumentar a qualidade de vida através de paisagens verdes. A partir da fundamentação de Geddes, Peter Hall introduz o desenvolvimento e a manifestação das discussões sobre o planejamento regional. Assim, apresenta um dos agentes motores desse processo, a “Regional Planning Association of America (RPAA)”, formada por Clarence Stein, Benton MacKaye, Lewis Mumford, Charles Harris Whitaker, Alexander Bing e Henry Wright, e que defendia, como solução para a crise de superpopulação, dos custos da escalada social e o colapso físico-econômico das municipalidades americanas, a criação de cidade-jardins em esquemas/redes regionais “gedderianas” e defenderam a propagação do regionalismo. Além dessa associação, Hall revela a participação de Thomas Adams, um arquiteto britânico, no desenvolvimento da discussão citada (antagonista a RPAA), a partir de seu Plano Regional de Nova York. Adams acreditava no zoneamento como estratégia para descentralizar e evacuar a cidade para que essa pudesse continuar a funcionar em seus moldes tradicionais – acreditava na descentralização bem planejada da população e da industrias para cidades-jardins, aliada a dispersão em regiões urbanas, não confiando no potencial do planejamento, admitindo apenas modificações incrementais e marginais. Infelizmente, seu plano foi implementado pela Associação do Plano Regional liderada pela elite, enquanto as ideias dele ficavam no papel. Essa não fora a única instância apresentada por Peter Halls em que política e interesses individuais estragariam a realização de relativamente bons planos urbanos e regionais. Nesse sentido, o autor também apresenta o caso da “Tennessee Valley Authority” (TVA) e o planejamento New Deal, cuja verdadeira missão, que se aproximava dos ideais da RPAA, foi enterrada pela incompetência politica americana, tanto de seu representante máximo Franklin D. Roosevelt, o presidente americano durante sua realização, quanto dos representação de micropoderes locais, como fazendeiros e empreendedores. A visão da RPAA, de acordo com Halls, só seria parcialmente manifestada pela primeira vez na Inglaterra, em Londres, pela mente e coordenação de Patrick Abercombrie, um urbanista inglês que se colocou na direção do planejamento regional, o que lhe levaria até seu Plano para a reconstrução da Grande Londres, depois da destruição causada pela Segunda Guerra Mundial. Apesar de polêmicas e críticas quanto a posição de Abercombrie de que “planejar era a arte do possível”, que se perpetuaram dentre os diversos planejadores inspirados por Geddes, foi o seu Plano do Condado (um dos dois volumes de seu plano regional único), o que mais se aproximou dos ideais dos membros da RPAA. Ambercombrie insistiu em utilizar os métodos de levantamento geddesianos, pelo os quais conseguiu formular que a metrópole de Londres era, na verdade, uma conglomeração de aldeias justapostas por uma emaranhada estrutura comunitária. O urbanista britânico utilizou- se desse aspecto para atacar os problemas da superpopulação, obsolescência, incoerência e a falta de verde na paisagem londrina - todos de uma vez -, através da reorganização espacial mediante criação de um novo sistema viário expresso que definiu espacialmente comunidades reconstruídas, e que enriqueceram a cidade de espaços livres a partir de suas tiras verdes. Patrick Ambercrombie criou um sistema de anéis viários concêntricos, que distinguem o centro da cidade, o suburbano, o cinturão verde – aqui o espaço livre é utilizado como elemento estruturador – e a periferia rural. Também definiu a criação de oito novas cidades, a semelhança daquelas comunidades londrinas identificadas, que serviriam como instrumento de descentralização de população e atividades. É importante notar a observação de Peter Halls, de que o programa de Ambercrombie somente sobreviveu pois servia como forma de consenso entre opiniões políticas muito diferentes e por ter tido como norte, um futuro hipotético. No entanto, apesar do relativo sucesso do britânico, o autor aponta que o que foi conquistado não foi tão generoso quanto o esperado pelos idealistas, somente uma boa vida e não uma nova civilização. E essa é, infelizmente, a máxima que se pode esperar quando, mesmo que garantido por lei, os instrumentos de planejamento urbano e regionais são desvalorizados e excomungados em favor de interesses políticos ignorantes e de interesses particulares de um mercado dominado pela lógica neoliberal – faz se necessário, maior poder na mão de urbanistas e planejadores interessados na manifestação dos desejos de uma população, como preverá a era do estado de direto sociais, mas que fora desmantelada pelo paradigma político-econômico contemporâneo.
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