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MARIANA MARQUES – T29 INTRODUÇÃO DEFINIÇÃO: • Incapacidade de o coração promover o débito cardíaco necessário para manter a perfusão e oxigenação adequada para manter os tecidos enquanto mantém pressão de enchimento normais. • O termo “insuficiência cardíaca crônica” reflete a natureza progressiva e persistente da doença, enquanto o termo “insuficiência cardíaca aguda” fica reservado para alterações rápidas ou graduais de sinais e sintomas resultando em necessidade de terapia urgente. • Na IC leve, é possível normalizar o volume ejetado, ao menos no repouso. EPIDEMIOLOGIA • Afeta cerca de 23 milhões de pessoas no mundo. • Alta incidência acima dos 40 anos (1 a cada 5). • A prevalência da doença aumenta com a idade. ➔ 6-11% > 65 anos. ➔ 17,4% idade maior ou igual a 85 anos. • Principal causa de internação de idosos. • Mais incidente nos homens, mais as mulheres são as responsáveis por metade dos casos (sobrevida maior). • O perfil clínico da IC crônica envolve indivíduos idosos portadores de etiologias diversas, sendo a isquêmica a mais prevalente, com alta frequência de comorbidades associadas. Observação: hábitos de vida saudáveis – manter o peso corporal normal, não fumar, praticar exercício físico cinco ou mais vezes por semana, consumo moderado de álcool, consumo de cereais, frutas e vegetais, estão associados com menor risco de desenvolvimento de insuficiência cardíaca. PRINCIPAIS FATORES DE RISCO PARA IC • DAC: doença arterial coronariana (60-75% dos casos). • HAS: hipertensão arterial sistêmica. • Diabetes mellitus e obesidade (cofatores). • Valvopatias: febre reumática principalmente. • Cardiomiopatias: doença de Chagas. • O tabagismo aumenta o risco de IC independentemente da presença de DAC, embora os mecanismos envolvidos ainda sejam incertos, observa-se associação entre a intensidade e duração do tabagismo com os marcadores séricos de injúria miocárdicas e anormalidades na estrutura e função cardíaca. Observação: é considerada uma doença grave pois apesar dos avanços da terapêutica da IC, pois representa cerca de 20% das admissões hospitalares entre idosos acima de 65 anos e a sobrevida após 5 anos de diagnóstico é de apenas 35%. CLASSIFICAÇÃO DAS IC QUANTO A PROGRESSÃO DA DOENÇA: • Estágio A: quando há fatores de risco pra IC, deve-se tratar realizando mudança do estilo de vida. • Estagio B: quando há insuficiência cardíaca estrutural, mas sem sintomas de IC, o tratamento é feito com inibidores de angiotensina ou betabloqueadores (carvedilol, metoprolol e bisoprolol). Nessa fase, a detecção precoce de pacientes assintomáticos é importante pois o tratamento retarda o inicio da doença clínica e prolonga a sobrevida. • Estagio C: quando há doença cardíaca estrutural e sintomas prévios ou atuais, o tratamento feito corretamente melhora a sobrevida e a qualidade de vida do paciente. • Estagio D: os sintomas são refratários, sendo necessário intervenções especializadas, como transplante cardíaco e dispositivos de assistência ventricular. QUANTO A FRAÇÃO DE EJEÇÃO: • IC com fração de ejeção reduzida (<40%): há alteração na função sistólica, em geral com progressiva dilatação de câmaras e remodelamento excêntrico. • IC com fração de ejeção preservada (>50%): a fração de ejeção e o volume diastólico final do ventrículo esquerdo são normais, mas a função diastólica é alterada, com remodelamento concêntrico e hipertrofia. Insuficiência Cardíaca ; MARIANA MARQUES – T29 • IC com fração de ejeção intermediária (40-49%): compartilha características de ambos os tipos, mas há ainda pouco estudo com esses pacientes e a maioria acredita que seja um grupo similar ao da IC com fração de ejeção reduzida. QUANTO A GRAVIDADE DOS SINTOMAS: • Classe 1: assintomático ou sintomas a grandes esforços. • Classe 2: limitação e sintomas leves durante atividades físicas habituais. • Classe 3: limitação importante e sintomas moderados, porém confortável no repouso, atividades físicas menos intensas que as habituais pode causar sintomas. • Classe 4: incapacidade para realizar qualquer atividade sem apresentar desconforto-sintomas ao repouso. ETIOLOGIA DAS DOENÇAS CARDÍACAS • Doenças do miocárdio por causas cardiovasculares conhecidas: DAC, HAS, valvopatias, diabetes (cofator). • A isquêmica é a mais frequente (60 a 75% dos casos), seguida de HAS e valvopatias-cardiomiopatias. • Cardiomiopatias: grupo heterogêneo de doenças do miocárdio, associados a disfunção elétrica ou mecânica da função cardíaca. • Cardiomiopatias genéticas: cardiopatia hipertrófica, displasia arritmogênica de ventrículo direito, ventrículo esquerdo não compactado, PRKAG2, doenças do estoque do glicogênio, defeitos da condução, miopatias mitocondriais e doenças de canal iônico. • Cardiomiopatias mistas: cardiomiopatia dilatada (há redução da fração de ejeção) ou restritiva (a fração de ejeção está preservada). • Cardiomiopatias adquiridas: miocardites, takotsubo (estresse induzido – síndrome do coração partido), periparto, cardiomiopatia induzida por taquicardia (taquimiocardiopatia) e em casos de crianças de mães diabéticas insulinodependentes. FISIOPATOLOGIA DA IC COM FRACÃO DE EJEÇÃO REDUZIDA • Função sistólica: capacidade dos ventrículos de bombear o sangue para a circulação sistêmica ou pulmonar. • Função diastólica: capacidade dos ventrículos de relaxar (através de um processo ativo), para se encherem de sangue sem um aumento exagerado da pressão ventricular. • A função sistólica é avaliada através da fração de ejeção, a qual é calculada através da relação entre o volume no final da diástole e o volume ejetado pelo ventrículo durante a sístole. • Fração de ejeção considerada adequada entre 50-70% e reduzida quando abaixo de 40%. RESUMINDO A FISIOPATOLOGIA: • Após a ocorrência de um evento desencadeador (hereditário, gradual ou súbito), há ocorrência de lesão no musculo cardíaco com consequente perda da função dos miócitos e diminuição da capacidade do miocárdio. • A contração normal do coração fica impedida, causando declínio na capacidade de bombeamento do coração ativando sistemas compensatórios: ➔ Sistema nervoso adrenérgico: aumenta a contratibilodade. ➔ Sistema renina-angiotensina-aldosterona: faz retenção de sal e água. ➔ Sistemas das citocinas: níveis plasmáticos dos peptídeos natriuréticos (BNP e ANP – fornecem natriurese e vasodilatação), prostaglandinas. • A curto prazo, esses sistemas são capazes de manter a capacidade da função cardiovascular dentro do limite da homeostase normal, fazendo o paciente se manter assintomático por meses ou anos, mas, com o passar do tempo a ativação mantida de tais sistemas causam danos secundários ao ventrículo. ETIOLOGIAS DA FE REDUZIDA: • DAC, HAS, cardiopatias reumática e chagásica, doenças cardíacas congênitas, miocardite, arritmias cardíacas (taquiarritmias), lesões induzidas por tóxicos ou fármacos (miocardiopatia alcóolica e quimioterapia), doenças genéticas, doenças infiltrativas sistêmicas, cor pulmonale ou causas idiopáticas. FISIOPATOLOGIA DA IC COM FRAÇÃO DE EJEÇÃO PRESERVADA - ICpFE • Os pacientes com ICpFE apresentam, tipicamente, um ou mais dos seguintes processos fisiopatológicos: ➔ Disfunção diastólica devido ao comprometimento do relaxamento do ventrículo esquerdo (VE), aumento da rigidez do VE ou ambos; ➔ Aumento do VE associado ao aumento do volume intravascular (fatores extracardíacos); ➔ Anormalidades no acoplamento ventrículo-arterial com aumento da rigidez ventricular sistólica e aumento da rigidez arterial; ➔ Insuficiência cardíaca direita secundária à hipertensão venosa pulmonar com ou sem sobreposição da hipertensão arterial pulmonar; ➔ Incompetência cronotrópica. • Na ICpFE, há aumento da importância das fases finaisda diástole para o enchimento ventricular, por isso, não toleram bem à taquicardia, exercícios físicos e fibrilação atrial e volume de sobrecarga → não são capazes de aumentar o relaxamento ventricular durante a taquicardia para compensar a diástole encurtada. MARIANA MARQUES – T29 ETIOLOGIAS DA FE NORMAL: • IC de alto débito, cor anêmico, DAC, HAS, doenças restritivas, envelhecimento, cardiomiopatia hipertrófica e pericardite constritiva. QUADRO CLÍNICO PRINCIPAIS SINAIS E SINTOMAS CARDIORESPIRATÓRIOS: • Dispneia, fadiga, dispneia aos esforços, ortopneia, tosse seca noturna e asma cardíaca (chiado). • Respiração de Cheyne=Stokes: forma de respiração periódica na qual apnéias se alternam com períodos de hiperpnéias que apresentam um padrão crescente e decrescente de volume corrente. ▪ É um sinal de mau prognóstico na IC. • Edema pulmonar: causa estertores finos na ausculta principalmente das bases pulmonares. PRINCIPAIS SINAIS E SINTOMAS GASTROINTESTINAIS: • Anorexia, náuseas, saciedade precoce, dor abdominal e plenitude devido à má perfusão gerada pelo edema na parede intestinal e/ou da congestão hepática. PRINCIPAIS SINAIS E SINTOMAS NEUROLÓGICOS: • Sintomas causados por hipofluxo cerebral: ➔ Confusão mental; ➔ Desorientação; ➔ Distúrbio do sono e do humor. PRINCIPAIS SINAIS E SINTOMAS GENITO-URINÁRIOS: • Nictúria gerada pelo reabsorção dos edemas. ATENÇÃO: A principal causa de uma IC direita, é uma IC esquerda prévia que passa a causar aumento da resistência pulmonar. • Quanto a apresentação clínica, a IC pode ser dividida em IC direita e IC esquerda: IC DIREITA IC ESQUERDA Edema em membros inferiores Esplenomegalia por congestão (pode evoluir para insuficiência hepática) Ascite Edema de escroto Dispneia aos esforços Tosse seca Dispneia paroxística noturna Ortopneia Edema agudo de pulmão (pode causar derrame pleural) AO EXAME FÍSICO: • Apresenta pressão arterial e pressão de pulso reduzidas. • Pulso pode estar fino, taquisinusal e alternante. • Cianose por vasoconstrição periférica, má perfusão periférica e baquetamento digital. • Possibilidade de formação de estase jugular. • Sinal de Kussmaul: consiste em uma pulsação jugular visualizada na região do pescoço quando o paciente realiza inspiração respiratória. • Ictus pode encontrar-se desviado para esquerda e para baixo, podendo ter sopros mitrais. • Derrame pleural (principalmente em casos de disfunção biventricular). • Perda ponderal. DIAGNÓSTICO • É um diagnóstico sindrômico (feito pelo conjunto de sinais e sintomas) → especialmente os fatores de risco. • Para a confirmação pede-se uma tríade: ECG, RX de tórax e ecocardiograma. • Caso necessário, solicita-se exames laboratoriais: TE (teste ergométrico), CAT (cateterismo cardíaco), RNB, BNP (peptídeo natriurético tipo-B). ELETROCARDIOGRAMA: • Pode detecta sinais de sobrecargas de câmaras, bloqueios ou atrasos da condução do estímulo elétrico podem ser avaliados, alterações da repolarização ventricular e até mesmo arritmias cardíacas. • As alterações presentes no ECG vão depender da etiologia da IC e das comorbidades associadas. MARIANA MARQUES – T29 RAIO X DE TÓRAX: • Pode diagnosticar a cardiomegalia e apresentar informações valiosas sobre o estado do paciente, avaliando sinais de congestão pulmonar, como a cefalização da trama vascular pulmonar e a visualização de derrames pleurais. • Tem maior valor no contexto da IC aguda, em que as alterações de congestão pulmonar são mais intensas. • Útil pela capacidade de identificar causas pulmonares de dispneia, como doença pulmonar intersticial, DPOC, neoplasia pulmonar e pneumonia. • Possíveis achados na radiografia de tórax: ➔ Aumento de câmaras cardíacas: - Alargamento da silhueta cardíaca para direita: indica dilatação de qualquer um dos átrios. - Alargamento da silhueta cardíaca para esquerda: indica dilatação de qualquer um dos ventrículos. ➔ Segmento caval: indica dilatação aorta na estenose aórtica, aneurisma do seio de valsava ou átrio esquerdo muito grande. ➔ Elevação do brônquio fonte esquerdo e horizontalização. ➔ Sinal do quarto arco: causado pelo aumento do átrio esquerdo, pode gerar um abaulamento do lado esquerdo do paciente. ➔ Sinal do duplo contorno: causado pelo aumento do átrio esquerdo, verifica-se as margens do átrio esquerdo além das margens do átrio direito. ➔ Dilatação do botão aórtico: aneurisma de aorta descendente. Observação: índice cardiotorácico < 0,6 é normal. ECOCARDIOGRAMA (ECODOPLERCARDIOGRAMA): • Avaliação anatômica e funcional das estruturas. • Fornece informações quantitativas que permitem avaliar a dimensão das câmaras cardíacas, presença de valvopatias associadas e através do cálculo da fração de ejeção, permite diferenciar a ICFEp (insuficiência cardíaca com fração de ejeção preservada) e ICFEr (insuficiência cardíaca com fração de ejeção reduzida). • Avalia-se em decúbito lateral esquerdo (para aproximar o coração da parede torácica), • Janelas acústicas: paraesternal, apical, subcostal e supraesternal. • Permite medidas acuradas das dimensões cardíacas a partir da imagem bidimensional ou modo M: ➔ Diâmetro diastólico final do VE; ➔ Diâmetro sistólico final do VE; ➔ Espessura da parede do VE; ➔ Diâmetro anteroposterior do AE e do seio aórtico; ➔ Avaliação da contractilidade global e segmentar. ➔ Fração de ejeção do VE; ➔ Doppler: – Velocidade de fluxo transmitral e transaórtico; – Avaliação de lesões regurgitantes; – Cálculo de gradientes pelas valvas estenóticas; – Estimativa da pressão sistólica pulmonar. Observação: os exames são utilizados para confirmar a alteração estrutural cardíaca, avaliar a etiologia, avaliar a possibilidade de diagnósticos diferenciais, avaliar as complicações da IC e os fatores de descompensação. MARIANA MARQUES – T29 OUTROS EXAMES: • Hemograma completo; • Perfil dos eletrólitos; • Dosagens de ureia e da creatinina sérica; • Enzimas hepáticas; • Urina tipo 1; • Detecção de diabetes mellitus (glicemia em jejum, hemoglobina glicada ou teste de tolerância à glicose); • Dislipidemia; • Disfunção tireoidiana; • Avaliação de etiologia isquêmica- teste funcional ou anatômico; • Sorologia para doença de Chagas; • Teste ergoespirométrico: avaliação funcional. INFORMAÇÕES ADICIONAIS DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS: • Síndromes edematosas: condições nas quais se observa congestão circulatória secundária à retenção anormal de água e sais, mas sem distúrbios na estrutura ou função cardíacas. ➔ Exemplos: insuficiência renal, insuficiência hepática. • Síndromes que cursam com insuficiência respiratória. ➔ Exemplos: asma, DPOC. FATORES AGRAVANTES: • Infecção, anemia, disfunção tireoidiana, insuficiência renal, diabetes mellitus mal controlada. CONSEQUÊNCIAS DA IC: • Insuficiência renal, alta eletrolíticas e disfunção hepática. TRATAMENTO IC COM FR REDUZIDA ESTAGIO A: • Mudança do estilo de vida. ESTÁGIO B: • Reconhecimento precoce da FE <40%; • Farmacologia: IECA e betabloqueadores (retarda o início da doença clínica e aumenta a sobrevida). ESTÁGIO C: • IECA ou BRA; • Diuréticos (se sobrecarga de volume); • Betabloqueador; ESTÁGIO D: • Espironolactona FE<35%; • Hidralazina + nitrato; • Digoxina (IIb). OUTROS TRATAMENTOS ADICIONAIS: • Deve-se tratar: ➔ Fatores contribuidores: tratar ferropenia. ➔ Restrição sal 2-3g dia. ➔ Restrição hídrica de 1,5-2L ao dia (hiponatremia). ➔ Cessar drogas que pioram IC. ➔ Reabilitar o aparelho cardiovascular: pacientes com classe funcional II a III que não tem arritmias graves e que não tem outras limitações aos exercícios. MARIANA MARQUES – T29 TRATAMENTO IC COM FR NORMAL • Deve-se tratar:➔ fatores contribuidores; ➔ Comorbidades; ➔ Controle pressão arterial e frequência cardíaca. ➔ Congestão pulmonar e sistêmica (exercícios de reabilitação cardiovascular). ➔ Cautela nos diuréticos e vasodilatadores (risco de queda do débito cardíaco e hipotensão). PREDITORES DE MAL PROGNÓSTICO • Sinal de má perfusão periférica; • Respiração de Cheyne Stokes; • Taquicardia no repouso; • Baixa pressão arterial; • Necessidade de hospitalização; • Hiponatremia; • BNP; • Comorbidades; • Insuficiência renal; • ECG com bloqueio do ramo esquerdo; • Fração de ejeção baixa; • Sarcopenia. DIFERENÇAS ENTRE ICpFE x ICrFE • São duas síndromes distintas e não espectros de uma mesma doença, diferem em relação às suas principais etiologias, às comorbidades associadas e, principalmente, à resposta terapêutica. • Possuem diferenças etiológicas, fisiopatológicas, de idade, de comorbidades, de tratamento e prognóstico. FATORES DE DESCOMPENSAÇÃO • Adesão ruim, prescrição ruim, excesso de água e sal, infecções, anemia, tireoideodopatias, medicações, insuficiência renal, arritmias, isquemia cardíaca, valvopatias, embolia pulmonar, hipoxemia, progressão da doença e hiperviscosidade. MARIANA MARQUES – T29 Mapa Mental da Insuficiência Cardíaca
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