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Maria Seiane - Medicina IESVAP DEFINIÇÃO É uma condição geralmente progressiva e comum, com prognóstico ruim. Ocorre quando o coração é incapaz de bombear o sangue em uma proporção suficiente para atender às demandas metabólicas dos tecidos, ou é capaz disso apenas na presença de uma pressão de enchimento elevada; É consequência de outras patologias, do próprio coração ou de outros órgãos. o É o estágio final comum de muitas formas de cardiopatia crônica, frequentemente se desenvolvendo de modo insidioso devido aos efeitos cumulativos da sobrecarga crônica de trabalho (ex. na doença valvar ou hipertensão) ou da cardiopatia isquêmica (ex., após infarto do miocárdio com lesão cardíaca). Há prejuízo no enchimento ventricular (disfunção diastólica) ou ejeção do sangue (disfunção sistólica). Insuficiência cardíaca pode ser aguda ou crônica, sistólica ou diastólica, direita, esquerda ou global. CONCEITOS: Pré-carga: volume de sangue do retorno venoso que enche os ventrículos durante a diástole; Pós-carga: trabalho necessário para abrir as valvas, ejetar o sangue através delas, empurrar o sangue e distender os vasos. Reserva cardíaca: capacidade de resposta à maior demanda de trabalho; tanto a pré-carga quanto a pós- carga aumentam simultaneamente para que o débito cardíaco mantenha-se adequado. INSUFICIÊNCIA SISTÓLICA x DIASTÓLICA A ICC sistólica é a maioria dos casos, em que a função contrátil do miocárdio é inadequada, caracteristicamente consequência da cardiopatia isquêmica ou da hipertensão; o O débito cardíaco pode estar reduzido (IC com baixo débito), normal ou até aumentado (IC com alto débito); o O ventrículo acumula progressivamente mais sangue e dilata-se. A ICC diastólica é reconhecida como o resultado da incapacidade de a câmara cardíaca expandir-se e ser preenchida de modo suficiente durante a diástole (disfunção diastólica) devido a, por exemplo, hipertrofia do ventrículo esquerdo, fibrose miocárdica, pericardite constritiva, ou deposição de amiloide. o A fração de ejeção pode estar normal; o Geralmente existem sinais de congestão pulmonar sem dilatação ventricular. Restrição diastólica na pericardite constritiva ou na endomiocardiofibrose é exemplo desse tipo de insuficiência. A insuficiência cardíaca observada em idosos, diabéticos e mulheres resulta com frequência de disfunção diastólica. Vários estudos indicam que 40-60% dos casos de ICC podem ser causados por disfunção diastólica. ETIOLOGIA / FATORES DE RISCO Os estresses hemodinâmicos agudos, tais como sobrecarga líquida, disfunção valvar súbita ou infarto do miocárdio, podem precipitar a ICC súbita. A insuficiência cardíaca pode resultar da deterioração progressiva da função contrátil do miocárdio (disfunção sistólica) — refletida como uma diminuição na fração de ejeção (FE, a porcentagem do volume de sangue ejetado do ventrículo durante a sístole; a fração normal é de aproximadamente 45% a 65%). A redução na FE pode ocorrer com lesão isquêmica, adaptação inadequada à sobrecarga de pressão ou volume devido à hipertensão ou doença valvar (endocardite), ou dilatação ventricular; Também pode ser de Diabetes mellitus ou insuficiência coronariana; Se a causa da insuficiência cardíaca não é removida, o quadro de falência tende a progredir em círculo vicioso, pois a capacidade de compensação é limitada. Os mecanismos acionados para adaptar o coração a maior exigência de trabalho podem levar à exaustão da capacidade contrátil do miocárdio (atividade simpática) e/ou aumento da volemia (retenção de sódio e água), que agravam o próprio quadro de IC. Chegado um certo ponto, a IC torna-se descompensada e termina com a morte do indivíduo. Resumo causas: Lesões miocárdicas Isquemia: IAM, hipoperfusão do choque. Maria Seiane - Medicina IESVAP Inflamações: miocardite chagásica, miocardites virais, miocardites tóxica. Miocardiopatia dilatada idiopática Sobrecarga de pressão HAS, estenose aórtica, Hipertensão pulmonar Sobrecarga de volume Insuficiência valvar, aórtica ou mitral; shunt arteriovenoso Restrição do enchimento ventricular Hipertrofia cardíaca, envelhecimento, pericardite constritiva, fibrose endomiocárdica, sarcoide, derrames pericárdicos Arritmias cardíacas Doença de Chagas, taquicardia persistente Aumento da demanda tecidual por oxigênio e nutrientes Anemia, Tireotoxicose, fístula arteriovenosa Outras causas CLASSIFICAÇÃO Fração de ejeção: o Preservada: compreende pacientes com FEVE normal (≥ 50%); o Reduzida: com FEVE reduzida (< 40%); o Intermediária: pacientes com fração de ejeção entre 40 e 49%; Gravidade dos sintomas: o Esta classificação se baseia no grau de tolerância ao exercício e varia desde a ausência de sintomas até a presença de sintomas mesmo em repouso; Progressão da doença: FISIOPATOLOGIA A síndrome de IC desenvolve-se após a ocorrência de uma agressão inicial ao coração (evento índice), resultante de inúmeras causas; Há o desenvolvimento de mecanismos compensatórios para fazer frente à disfunção cardíaca. Essa hiperativação ajuda o coração agudamente, mas em longo prazo é deletéria - Como resultado da ativação neuro-hormonal ocorre taquicardia e aumento da resistência arterial periférica, causando aumento do consumo de oxigênio e aumento da pós- carga, O SRAA juntamente com o simpático levam ao remodelamento cardíaco e fibrose miocárdica; O principal mecanismo regulador é o sistema peptídeo natriurético (PN). Promovem vasodilatação, diurese, natriurese e opõem-se à ativação do SRAA e do SNS. Ao longo do tempo o PN é sobrepujado pelos SRAA e SNS, ocorre retenção hidrossalina e fenômenos congestivos, estando assim instalada a fase sintomática; Essa retenção de água e sódio, é a responsável pelos sintomas da IC, como dispneia e edema. Na ICC, o coração em falência não consegue mais bombear de modo eficiente o sangue levado até ele pela circulação venosa. O resultado é o aumento do volume ventricular diastólico final, que provoca elevação das pressões diastólicas finais e, por fim, das pressões venosas também. Assim, o débito cardíaco inadequado — denominado insuficiência anterógrada — é quase sempre acompanhado de congestão da circulação venosa, ou seja, de insuficiência retrógrada. Como consequência, embora a raiz do problema na ICC normalmente seja a função cardíaca deficiente, com o tempo praticamente todos os órgãos são afetados por uma combinação de insuficiência anterógrada e retrógrada. FASE DESCOMPENSADA Quando se instala a fase descompensada da IC, os pacientes apresentam hiperemia passiva e edema sistêmicos, razão pela qual edema dos membros Maria Seiane - Medicina IESVAP inferiores e dispneia progressivos são as manifestações predominantes. Oligúria com nictúria (urinar à noite) é sinal de redução do fluxo renal: durante o dia, com maior atividade corporal, diminui a produção da urina, que se torna mais concentrada; à noite, com o repouso, melhora o fluxo renal e o paciente urina em maior quantidade. Ou seja, o coração não é mais capaz de bombear o sangue para todo o organismo (defeito de irrigação) nem de permitir o retorno venoso sistêmico. MECANISMOS DE COMPENSAÇÃO Na fase inicial, a insuficiência cardíaca é compensada por mecanismos, e as manifestações clínicas de descompensação só se tornam evidentes em momentos de sobrecarga do coração. Nessa fase, os pacientes apresentam dispneia (cansaço) aos grandes esforços, quando a demanda de maior trabalho fica acima da reserva cardíaca existente. Então, o sistema cardiovascular tenta compensar a redução da contratilidade miocárdica ou o aumento da carga hemodinâmica por meio de:o Mecanismo de Frank-Starling: O aumento do volume de enchimento diastólico final dilata o coração e alonga as fibras musculares cardíacas; essas fibras alongadas se contraem mais vigorosamente, aumentando dessa forma o débito cardíaco. A dilatação ventricular ocorre à custa de aumento na tensão das paredes e intensifica as necessidades de oxigênio de um miocárdio já comprometido; o Ativação dos sistemas neuro-humorais: A liberação de norepinefrina pelo SNA eleva a frequência cardíaca e aumenta a contratilidade do miocárdio e a resistência vascular; Ativação do sistema renina-angiotensina- aldosterona – aumenta a volemia e a PA – responsável por induzir hipertrofia cardíaca; Persistindo a IC, ocorre liberação do peptídio natriurético atrial que equilibra o sistema RAA por meio da diurese e do relaxamento do músculo liso vascular. o Alterações na estrutura do miocárdio (aumento da massa muscular) A incapacidade progressiva de sustentar esses mecanismos leva ao acúmulo de sangue no território venoso sistêmico e/ou pulmonar, caracterizando a congestão pulmonar e/ou sistêmica da insuficiência cardíaca congestiva. IC ESQUERDA As causas mais comuns são: cardiopatia isquêmica, HAS, doença da valva da aorta ou mitral e as doenças primárias do miocárdio; MORFOLOGIA Os efeitos morfológicos e clínicos da ICC esquerda provêm da diminuição da perfusão sistêmica e da elevação das pressões de retorno dentro da circulação pulmonar. Coração: o ventrículo esquerdo geralmente está hipertrofiado e pode estar dilatado, às vezes de forma maciça; a dilatação pode resultar em insuficiência mitral e no aumento do tamanho do AE, o que está associado à incidência maior de fibrilação atrial. Pulmões: Com o tempo, a elevação da pressão nas veias pulmonares é transmitida retrogradamente aos capilares e artérias dos pulmões, provocando congestão e edema, assim como derrame pleural, por causa do aumento da pressão hidrostática nas vênulas da pleura visceral. Os pulmões tornam-se encharcados e pesados, e microscopicamente exibem transudatos perivasculares e intersticiais, edema nos septos alveolares e acúmulo de líquido edematoso nos espaços alveolares. o Além disso, quantidade variável de glóbulos vermelhos extravasa dos capilares para os espaços alveolares, onde são fagocitados por macrófagos; a degradação e a hemoglobina a deixa os macrófagos alveolares repletos de hemossiderina — são as chamadas células da insuficiência cardíaca —, que refletem episódios prévios de edema pulmonar; CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS A consequência inicial é congestão pulmonar, cuja primeira manifestação é dispneia, a tosse também é comum e resulta da transudação de líquido para o interior dos espaços aéreos. Com o passar do tempo os pacientes sentem dispneia deitados (Ortopneia); Coração de tamanho aumentado (cardiomegalia), taquicardia, presença de terceira bulha cardíaca (B3) e estertores finos na base dos pulmões causados pela abertura dos alvéolos pulmonares edematosos; À medida que a dilatação ventricular progride, os músculos papilares são deslocados para fora, o que causa regurgitação mitral e sopro sistólico. A subsequente dilatação crônica do átrio esquerdo pode causar fibrilação atrial; as contrações descoordenadas reduzem o volume sistólico ventricular e podem causar estase – formação de Maria Seiane - Medicina IESVAP trombos, que podem liberar êmbolos -> AVC e infarto em outros órgãos; A diminuição do débito cardíaco causa hipoperfusão renal, que ativa o SRAA – exacerbam o edema pulmonar; IC DIREITA É geralmente consequência da IC esquerda, visto que qualquer aumento de pressão na circulação pulmonar produz inevitavelmente aumento da carga do lado direito do coração. A insuficiência isolada decorre de hipertensão pulmonar, doença primária da valva atrioventricular direita ou da valva do tronco pulmonar; MORFOLOGIA Fígado e sistema portal: o tamanho e o peso do fígado estão geralmente aumentados (hepatomegalia congestiva); A superfície de corte exibe congestão passiva intensa — um padrão conhecido como fígado em noz-moscada; as áreas centrolobulares congestas estão circundadas por parênquima periférico mais pálido; também há elevação da pressão na veia porta e nas tributárias; Baço: a congestão vascular faz com que o baço aumente de tamanho e fique tenso; Intestino: A congestão passiva crônica afeta a parede do intestino tornando-a edematosa, e o quadro grave pode interferir na absorção de nutrientes e medicamentos. Espaços pleural, pericárdico e peritoneal: pode haver transudatos (derrames) nos espaços pleural e pericárdico, por causa da congestão venosa; A combinação de congestão hepática (com ou sem redução da síntese de albumina) com hipertensão portal dá origem a transudatos peritoneais (ascite); Tecidos subcutâneos: O edema periférico das partes inferiores do corpo, principalmente do tornozelo e o pré-tibial; MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS A repercussão inicial é congestão sistêmica, e as primeiras manifestações clínicas são hepatomegalia congestiva e aumento da pressão venosa central (PVC); depois, surge edema dos membros inferiores, derrame pleural e ascite. ICC (GLOBAL) Na insuficiência cardíaca congestiva, os sinais e sintomas de congestão venosa periférica – edema de membros inferiores e dispneia – aparecem simultaneamente ou em intervalo muito curto. Depois de certo tempo, a IC esquerda compromete o ventrículo direito e vice-versa, razão pela qual IC direita e esquerda isoladas não se mantêm ao longo do tempo, convergindo para insuficiência cardíaca global. À medida que a insuficiência cardíaca congestiva progride, os pacientes podem se tornar claramente cianóticos e acidóticos, como consequência da redução da perfusão tecidual que advém da diminuição do fluxo anterógrado e da crescente congestão retrógrada. SINAIS E SINTOMAS DE IC EXAMES DE IMAGEM Ecocardiografia Doppler: o ecocardiograma transtorácico é exame de imagem de escolha para o diagnóstico e o seguimento de pacientes com suspeita de IC; o Permite a avaliação da função ventricular sistólica esquerda e direita, da função diastólica, das espessuras parietais, do tamanho das cavidades, da função valvar, da estimativa hemodinâmica não invasiva e das doenças do pericárdio. Outros exames de imagem, como a ressonância magnética e tomografia computadorizada, podem ser usados quando os não invasivos forem inconclusivos, ou para o diagnóstico de miocardiopatias específicas. BIOMARCADORES Níveis de peptídeo natriurético sérico: o Existem algumas limitações ao seu uso na prática clínica devem ser destacadas, pois estes peptídeos podem elevar-se na presença de anemia, insuficiência renal crônica (IRC), e idade avançada, e apresentar níveis mais baixos na presença de obesidade; o Seu papel é ainda mais marcante como biomarcador prognóstico, uma vez que níveis elevados estão associados a pior mortalidade ou hospitalização por IC nesta população EXAMES COMPLEMENTARES Maria Seiane - Medicina IESVAP Exames laboratoriais: avaliam função renal, eletrólitos, perfil lipídico, função tireoidiana, função hepática, glicemia de jejum, hemoglobina glicosilada, hemograma; Métodos de imagem não invasivos: o ECG em repouso: para avaliar sinais de cardiopatia estrutural como hipertrofia ventricular esquerda, isquemia miocárdica, áreas de fibrose, distúrbios da condução atrioventricular, bradicardia ou taquiarritmias, que podem demandar cuidados e tratamentos específicos; o Radiografia do tórax: é recomendada na avaliação inicial dos pacientes com sinais e sintomas de IC, para avaliação de cardiomegalia e congestão pulmonar. Porém, vale ressaltar que a sensibilidade do métodoé bastante limitada; TRATAMENTO NÃO MEDICAMENTOSO Programas multidisciplinares de cuidados; Restrição de sódio: dados bem controversos, porém parece prudente recomendar que se evite ingesta excessiva de sódio (em níveis > 7 g de sal cloreto de sódio por dia) para todos pacientes com IC crônica; Restrição hídrica: resultados controversos e carência de estudos, não é possível estabelecer recomendações específicas; Dieta e perda de peso na IC; Tabagismo e drogas ilícitas; Uso de bebidas alcoólicas; Vacinação; para a influenza e pneumococo; Reabilitação cardiovascular; Planejamento familiar TRATAMENTO MEDICAMENTOSO O princípio básico é a associação de anti- hipertensivos que bloqueiam a maioria dos mecanismos fisiopatológicos de elevação da PA; Idealmente devem ser prescritos um DIU, um bloqueador do SRAA e um BCC di-idropiridínico; Em situações particulares como DAC, ICC e taquiarritmias, em BB pode substituir o BCC no esquema terapêutico com 3 medicações; Os diuréticos são a classe terapêutica mais largamente utilizada em pacientes com IC para alívio de congestão. Isto se justifica pelo óbvio efeito terapêutico ao provocar diurese e alívio da sobrecarga volêmica.
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