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SP1 - Que dá dor no peito? 1 � SP1 - Que dá dor no peito? Abertura do módulo de dor torácica, dispneia e edema, com ênfase em classificação da dor torácica aguda e pericardite. Diferenciar as possíveis causas de dor torácica aguda e relacionar a história clínica, fatores de risco, exame físico e exames complementares. Importância da análise correta da dor torácica no contexto ambulatorial Alta mortalidade: mais da metade das mortes associadas a síndromes isquêmicas agudas ocorre dentro da primeira hora desde o início dos sintomas e antes da chegada do paciente ao hospital. Algo comum: cerca de 7 a 10% dos pacientes em contexto de emergências queixam de dor torácica aguda. Causas pulmonares de dor torácica aguda Pneumotórax: dor de início súbito, geralmente mais lateralizada, associada à dispneia e variando com a respiração, não apresenta um caráter opressivo. Ao exame físico encontra-se um som claro pulmonar e ausência de ruídos ventilatórios. O RX de tórax apresenta manifestações típicas. Pleurite / pneumonia: sinais de infecção recente, dor com características pleuríticas, localização não precordial Embolia pulmonar: Geralmente associado a dispneia, taquipneia e dor pleurítica, com histórico de decúbito prolongado, cirurgia recente, trauma, insuficiência cardíaca, estados de hipercoagulabilidade. ECG com BRD, com desvio de eixo pra direita, hipotensão arterial. Causas musculares de dor torácica aguda SP1 - Que dá dor no peito? 2 Costocondrite: dor que piora ao movimento e inspiração, que dói à palpação e com possível histórico de trauma ou esforço. Causas digestivas de dor torácica aguda As causas digestivas divergem bastante: podem serem relacionadas a gastrite, doença péptica, doença esofágica (espasmo, refluxo, inflamação), pancreatite ou colecistite. O ponto em comum de todas elas é a relação da dor com as refeições. Uma dor epigástrica ou retroesternal em queimação pode ser gastrite. uma dor em aperto, que melhora com nitratos, associado à disfagia pode ser doença péptica. Causas infecciosas de dor torácica aguda (Herpes Zoster) Dor precordial intensa, com aparecimento de lesões na pele, que podem ser precedidas de parestesias Causas psicológicas de dor torácica aguda Manifestações de quadro depressivo (desinteresse, insônia, irritabilidade). Deve-se considerar quando as causas de maior mortalidade foram descartadas. Geralmente se pede um ECG antes de ter o diagnóstico nesse caso de dor. Causas cardíacas não anginosas de dor torácica aguda Dissecção de aorta: dor intensa, de início súbito, lancinante, na região precordial. Irradia no sentido do trajeto da aorta, predominantemente no dorso. Os pulsos periféricos são assimétricos e pode ser auscultado o sopro de insuficiência aórtica. Pericardite aguda: dor precordial de caráter pleurítico, piorando com inspiração, ou retroesternal opressiva. Duração de horas ou dias. Piora com movimentação do tórax, mas pode melhorar com inclinação. Atrito pericárdico pode estar presente. ECG com elevação de segmento ST distribuída em múltiplos territórios coronários, sem alterações recíprocas. Ecocardiografia tem grande sensibilidade para detecção de derrame pericárdico. Causas cardíacas anginosas de dor torácica aguda SP1 - Que dá dor no peito? 3 Nessa categoria temos duas causas de dor: a angina instável e IAM. A dor é geralmente em aperto ou queimação na região precordial e retroesternal, dura de minutos à poucas horas, podendo irradiar para o ombro, braço esquerdo, pescoço ou mandíbula. Pode se associar com diaforese (suor intenso), náuseas, vômitos e dispneia. Cuidados especiais à sintomatologia em mulheres e diabéticos. Dor Tipo B (provavelmente anginosa): as características da dor torácica fazem da insuficiência coronária a principal hipótese, porém, são necessários exames complementares para a definição diagnóstica. Elaborar um fluxograma da conduta diagnóstica frente a um quadro de DTA Anamnese inicial Busca-se dados que suportem/descartem síndrome coronariana: localização e tipo (dor na região precordial, retroesternal e/ou epigástrica, tipo aperto, queimação ou constrição), irradiação e sintomas associados (ombro direito, esquerdo ou ombros e mandíbula), fatores desencadeantes (esforço, estresse, frio intenso). Se atentar aos fatores de risco: HAS, DM2, idade >60, dislipidemia e tabagismo Classificação Dor Tipo A (definitivamente anginosa): dor em aperto ou queimação, em repouso, ou desencadeada pelo esforço ou estresse, com irradiação para o ombro, mandíbula ou face interna do braço, aliviada pelo repouso ou nitrato. Não são necessários exames complementares para a definição diagnóstica. Dor Tipo C (possivelmente anginosa): dor torácica cujas características não fazem da insuficiência coronária a principal hipótese (dor torácica atípica), porém, são necessários exames complementares para excluí-la. Dor Tipo D (definitivamente não anginosa): dor torácica atípica, cujas características não incluem a insuficiência coronária aguda no diagnóstico diferencial. Alterações ao exame físico possíveis Presença de B3; SP1 - Que dá dor no peito? 4 Congestão pulmonar; Estase de jugular patológica Sopro de insuficiência mitral. Exames complementares Logo na admissão e classificação, pedir ECG e marcadores de necrose miocárdica (CBMK e Troponina) Estratificação de risco (Heart Score) Tratamento direcionado Um paciente com dor tipo C ou D com apenas 1 fator de risco, deve ser pesquisado os seguintes diagnósticos diferenciais: pericardite aguda, dissecção de aorta, TEP, DRGE, costocondrite. Um paciente com tipo de dor C e D que tenha a partir de 2 fatores de risco, deve ser feito o protocolo de dor torácica, que consiste em exame físico a cada 3h ou quando dor, da mesma maneira o ECG, e marcadores de necrose miocárdica a cada 3h. Caso positivo, o paciente deverá ser conduzido como SCA, mas caso negativo, deve ser feito por fim o teste de esforço, até 24h após a admissão, que consiste em teste ergométrico, ECO sobre estresse e SP1 - Que dá dor no peito? 5 cintilografia sob estresse. Caso o resultado continue negativo, deverá ser levado aos outros diagnósticos diferenciais. Caso o paciente apresente dor do tipo A ou B, ECG isquêmico, exame físico alterado combinado com no mínimo 2 fatores de risco, o episódio será conduzido como SCA Como não PEDIR pra dar errado? O mneumônico pedir é útil para nos fazer ficarmos atentos a causas de dor torácica aguda que podem levar a morte: Pneumotórax; Embolia pulmonar; Dissecção de aorta; IAM; Rotura de esôfago. Estudar as etiologias, a fisiopatologia e quadro clínico da pericardite Pericardite Viral (etiologia) É a mais frequente etiologia de pericardite. Geralmente é autolimitada, sem deixar consequências para os acometidos. Por técnicas de PCR, foram descobertos vários subtipos de enterovírus em biópsias, incluindo echoviruses e coxsackieviruses do grupo A e B. Dentre os vírus de RNA, influenza A e ocasionalmente vírus da Chikungunya, coronavírus humano, vírus sincicial humano e o vírus da dengue são suspeitos como agentes etiológicos da pericardite. Pericardite Bacteriana (etiologia) Pericardite Bacteriana é relativamente raro em países desenvolvidos com uma leve prevalência da pericardite tuberculosa. Pericardite tuberculosa SP1 - Que dá dor no peito? 6 Essa etiologia é responsável por aproximadamente 4% dos casos de pericardite ao redor do mundo. Por outro lado, tuberculose é responsável por derrame pericárdico significante em cerca de 90% dos pacientes coinfectados com HIV. Para pacientes sem a infecção de HIV que vivem em países endêmicos de TB cai para 50-70%. Não há prevalência de idade, porém homens são mais acometidos que as mulheres . A pericardite tuberculosa tem uma mortalidade de 17-40% nós 6 meses pós diagnóstico. Importante ressaltar que boa parte das informações que temos sobre pericardite tuberculosa foi colhida em países subdesenvolvidos e em pacientesimunossupressos. A confiabilidade desses dados no mundo ocidental é questionável. Pericardite purulenta É uma forma rara de pericardite, representando 1% dos casos; No mundo ocidental, os organismos mais associados a essa etiologia são os stafilococos, streptococos e pneumococos; As lesões mais associadas a esse quadro são empiema (50% dos casos) ou pneumonia (33%); Em imunossupressos ou pacientes em pós de cirurgia torácica, o Staphylococcus aureus (30%) e fungos (20%) são os mais comumente encontrados; Bactérias anaeróbicas da orofaringe também foram encontradas, com propagação provavelmente pelo sangue ou por se espalhar continuamente do espaço retrofaríngeo, válvulas cardíacas ou por debaixo do diafragma; A Neisseria meningitidis pode envolver o pericárdio tanto por iniciar uma efusão estéril imunomediada ou por infecção e reação purulenta diretamente; Importante ressaltar que a era da iatrogenia e imunossupressão devido ao HIV nos fizeram identificar os mais diferentes tipos de organismos. Pericardite por insuficiência renal (etiologia) SP1 - Que dá dor no peito? 7 Doença renal crônica e de modo geral doença renal em estado terminal é associada com possível envolvimento do pericárdio. Três diferentes patofisiologias são encontradas em pacientes urêmicos: pericardite urêmica - antes do transplante renal e dentre 8 semanas do seu início, pericardite dialítica - depois de ser estabilizado em diálise (geralmente a partir de 8 semanas após o início e, muito raramente, pericardite constritive. A incidência mundial de pericardite em pacientes renais terminais teve uma queda para 5% nos pacientes que iniciaram a diálise. A frequência atual de pericardite dialítica fica entre 2-21%, mas há falta de informações atuais. Pericardite por doença autoimune (etiologia) Envolvimento pericárdico em doenças autoimunes sistêmicas podem ser sintomáticas (pericardite e derrame pericárdico sintomático), mas também podem ser assintomáticas (derrame pericárdico comum) e geralmente reflete o grau de atividade da doença de base. Aproximadamente 5-15% dos pacientes com pericardite tanto aguda quanto recorrente pode ter uma doença autoimune sistêmica, tanto evidente como escondida. O envolvimento pericárdico é comum em lúpus eritematoso, síndrome de Sjogren, artrite reumatóide e escleroderma, mas também pode estar presente em vasculites sistêmicas, síndrome de Behçet, sarcoidose e doenças inflamatórias do intestino. O segredo nesses casos é investigar antecedentes: envolvimento pericárdico é raramente a primeira manifestação desses sintomas. Na maioria desses pacientes, a doença de base já foi identificada pelos sinais e sintomas clássicos da mesma. Caso haja miocardite concomitantemente, a apresentação da doença é mais devastadora, então essa possibilidade deve ser descartada mais brevemente possível. Se a história clínica sugere uma possível doença autoimune, uma busca direcionada a etiologia e consulta com especialista é altamente recomendada. O tratamento é feito em alvo para controlar a doença de base. Fisiopatologia geral Dano ao pericárdio leva a liberação de DAMPS (padrão molecular de dano as células) e PAMPS, esses induzem a síntese de fator nuclear-kB, que aumenta a SP1 - Que dá dor no peito? 8 transcripção de precursores de células inflamatórias e citocinas necessárias para polimerização do NLRP3 inflamossoma, que por fim libera IL-1b e IL-18. o fator nuclear-kB também estimula a síntese do fosolipídeo-A2 que é necessário por promover a via do ácido araquidônico e a consequente síntese de prostaglandinas e tromboxanos (causando a dor, edema e derrame). Quadro clínico Dor: dor lancinante em região retroesternal que pode ser severa e debilitante. Geralmente piora com a inspiração e em posição supina, sendo aliviada quando se curva a frente. Frequentemente irradia para a área das escápulas, teoricamente pela irritação dos nervos frênicos Assintomático? : Em alguns casos, comumente em casos de artrite reumatóide associada, o quadro pode ser assintomático. SP1 - Que dá dor no peito? 9 Exame físico: o atrito pericárdico é alto e pode ter três componentes, que ocorrem em mudanças do volume cardíaco. Quantidade de componentes mudam em pacientes com FA (eles tem 1 ou 2 componentes). Você pode diferenciar o atrito pericárdico do pleural pedindo para que o paciente prenda a respiração (assim o pleural some) ECG: No início da pericardite, geralmente é apresentado um supra de ST difuso junto com depressão PR. A apresentação do supra de ST geralmente se dá em todos os eixos exceto AVR, mas nas pericardites pós infarto, essas mudanças são mais localizadas. As quatros fases do ECG da pericardite: Fase 1 - supra de ST difusa e depressão do PR; Fase 2 - normalização dos ST e PR; Fase 3 - inversão de onda P; Fase 4 - normalização da onda P; Na pericardite urêmica, podem não ser encontrada alterações no ECG; Laboratoriais: geralmente leucocitose, com aumento de eritrócitos e PCR. Troponina: geralmente aumenta (não absurdamente) volta ao normal com 1-2 semanas pós início do quadro e não tem relação com pior/melhor prognóstico; Ecocardiograma: tem normalmente ao menos um mínimo derrame pericárdico. É muito útil para excluir tamponamento. Compreender o diagnóstico e tratamento da pericardite Como se fecha o diagnóstico de pericardite? Dois dos seguintes pontos: Dor pericárdica; Atrito pericárdico; Supra de ST difuso ou depressão de PR; Derrame pericárdico (novo ou piorado). Como é feito o tratamento da pericardite aguda? SP1 - Que dá dor no peito? 10 Em pacientes que se suspeitam de outra etiologia que não a viral (TB por exemplo) deve-se buscar tratar primeiramente a doença de base. É recomendado interromper atividades físicas até estar totalmente curado; Aspirina e AINEs são a base do tratamento da pericardite Colchicina não é lá tão recomendada no início do tratamento. Sua dose deve ser ajustada pelo peso e serve para aumentar a resposta a terapia medicamentosa anterior e previnir que a doença volte. Corticóides devem ser a segunda opção em pacientes com contraindicações ou falha terapêutica a aspirina ou AINEs por causa do risco de favorecer uma evolução crônica e gerar vício. Entender a evolução da pericardite para o tamponamento cardíaco, seus efeitos sistêmicos e tratamento O tamponamento cardíaco ocorre quando o acumulo do fluido dentro do pericárdio é suficiente pra aumentar a pressão ao redor do coração a ponto que o ritmo cardíaco se altera. A compressão do coração pelo derrame pericárdico pode levar a um aumento da pressão venosa substancial e perda do débito cardíaco, resultando em choque que se deixado de lado pode matar rapidamente. Por ter uma menor pressão, o lado direito do coração é mais vulnerável (já que uma pressão menor já é capaz de se igualar ao seu lado). Pela diferença de pressão, as câmaras ficam dependentes de si em relação a volume, uma vez que para uma câmara “inflar” a outra deve reduzir proporcionalmente seu volume.
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