INTOXICAÇÕES EXÓGENAS Os principais agentes, a clínica e os seus antídotos. V I N I C I U S D A S I L V A S A N T O S - M E D I C I N A - U N I V E R S I D A D E F E D E R A L D E P E R N A M B U C O INTRODUÇÃO → ABORDAGEM GERAL 1. Suporte clínico 2. Descontaminação 3. Antídoto • DEFINIÇÃO: Intoxicação é o efeito dose-depen- dente a determinados agentes. SUPORTE CLÍNICO • A prioridade é tratar o indivíduo, não a toxina! Por isso, temos que estabelecer condutas para salvar primordialmente o paciente. • Prioridades: Vias aéreas e circulação, são as regiõ- es do corpo do indivíduo que são mais perigosas. DESCONTAMINAÇÃO • Objetivo → Redução da absorção: O ponto chave é reduzir a absorção daquela substância pelo organismo do paciente. • Intoxicação oral: • Lavagem gástrica: É uma das estratégias, tem como fatores de limitação 1)A ingestão de uma substância corrosiva, pois há risco de retorno pro esôfago da substância. Além disso, 2)O tempo de contato, pois se o paciente ingeriu a substância por 2-3 horas, ela já saiu do estômago faz tempo. • Carvão ativado: É a principal estratégia! 1g/kg de peso do paciente. É um medicamento com carac- terística adsortiva (como uma esponja, para algumas substâncias). Nesse caso também existe uma 1)limitação de tempo, só que um pouco maior que a lavagem gástrica, 2)além de não servir para algumas substâncias (álcool, BZD, opiáceo). • Intoxicação cutânea: • Água: Lavar muito, abundantemente é a principal medida que deve ser tomada. ANTÍDOTO • Sempre que tiver, você faz! Benzodiazepínicos, opioides, dentre muitos outros. Se tiver disponível no serviço, faça. INTOXICAÇÃO POR ACETAMINOFENO (PARACETAMOL/TYLENOL) • O paracetamol é um importante analgésico e antitérmico usado no dia-a-dia • Dose máxima: 4g/dia. (Paracetamol costuma ter de 500-750 mg/cp em sua apresentação) • Para a intoxicação acontecer, a paciente tem que ingerir muito mais de 4g: 7-10g intoxicam. FISIOPATOLOGIA • Metabolismo: 90 % do Tylenol passa por um processo de glicuronidação e sulfatação e são excretados na urina. Os outros 10%, 5 passam livres pela urina e 5% serão metabolizados no fígado pelo citocromo p450! • Formação de um produto tóxico → NADPQI: É o resultado da metabolização do citocromo p450, um composto altamente tóxico. • Em doses normais, a NADPQI é inativada no organismo e eliminada na urina: Por uma enzima chamada de glutation. • Em overdose, as vias e o Glutation fica saturado e o NADPQI aumenta em grande quantidade: O NADPQI agride múltiplos sistemas, mas o grande alvo são os hepatócitos. • Hepatite fulminante: Por agressão via NADPQI. CLÍNICA • Primeiras 24h: Sintomas gerais, inespecíficos. • 24-48h: Hepatotoxicidade (principal!) cursando com insuficiência hepática. É comum apresentar também uma insuficiência renal (NTA). o Ins. hepática: Icterícia, alargamento do TAP, elevação das transaminases, ence- falopatia hepática. • 1-2 semanas: Recuperação (se não morrer). DIAGNÓSTICO • História clínica: De ingestão/overdose de Tylenol. • Exame físico: Icterícia, encefalopatia. • Laboratório: Alteração aguda da função hepática. • Dosagem sérica do acetaminofeno: Pode ser usada para diagnosticar e para o tratamento. TRATAMENTO: O tratamento segue aqueles 3 pilares da abordagem às intoxicações (resumo ao lado). 1) SUPORTE CLÍNICO: CONTROLAR A FALÊNCIA HEPÁTICA • Controlar: Hipoglicemia, coagulopatia • Se grave: Avaliar possibilidade de transplante hepático. 2)DESCONTAMINAÇÃO • Carvão ativado: Apenas deve ser administrado se ingestão do paracetamol em até 4h. V I N I C I U S D A S I L V A S A N T O S - M E D I C I N A - U N I V E R S I D A D E F E D E R A L D E P E R N A M B U C O 3)ANTÍDOTO • N-acetilcisteína: Funciona como um doador de Glutation, ou seja, aumentando a inativação da NADPQI. o Idealmente deve ser ADM nas primeiras 8h de ingestão: A depender da concentra- ção sérica de Paracetamol, deve-se administrar com > 8h de ingestão. Olhar gráfico, se estiver acima da linha terapêu- tica, administrar N-acetilcisteína. INTOXICAÇÃO DIGITÁLICA • Principal droga digitálica → Digoxina • Como age o digital? São drogas que visam aumen- tar a força de contração, por isso são utilizadas no tratamento da ICC de FE reduzida. Os digitálicos são inibidores da bomba de Na/K ATPase. o A bomba de Na/K ATPase joga Na pra fora e coloca K pra dentro: Regra da Nokia → N de Na, O de Out, K de potássio e I de In. FISIOPATOLOGIA • O digitálico inibe a bomba de Na/K ATPase, o que enche a célula de sódio • Quando a célula tá cheia de Na, há ação do tro- cador Na/Ca: Esse trocador joga Na fora e coloca Ca pra dentro. • Aumento da força de contração: Pelo acúmulo de cálcio no meio intracelular, é o efeito terapêutico do digitálico. • O digital tem uma dose terapêutica muito próxi- ma da dose tóxica MANIFESTAÇÕES • Consequências clínicas: Náusea, vômito, dor abdominal, alteração visual (borramento, cromatopsia principalmente xantopsia) • Alteração elétrica: Redução da condução (em nó sinusal e AV) e aumento de automatismo atrial e ventricular → Isso acarreta na presença de arritmia das mais diversas formas. • Hipercalemia: Pois o potássio não tá entrando na célula, tá ficando fora. *VAN GOGH TEVE INTOXICAÇÃO DIGITÁLICA: Por isso, em suas obras, a cor amarela era sempre preponderan- te nos quadros em uma fase chamada de fase amarela, ele tinha xantopsia por intoxicação digitálica (chá de dedaleira pelo médico de Van Gogh). ALTERAÇÕES ELETROCARDIOGRÁFICAS • Extrassístole ventricular: Mais comum e precoce! • Taquicardia ventricular bidirecional: Por conta do aumento do automatismo ventricular! É quase algo patognomônico de intoxicação digitálica! V I N I C I U S D A S I L V A S A N T O S - M E D I C I N A - U N I V E R S I D A D E F E D E R A L D E P E R N A M B U C O • Taquicardia atrial com BAV: Inúmeras ondas P e algumas sem QRS (BAV). Quase patognomônico! • BAV de 2º grau Mobitz I: Onda P bloqueada uma vez, esporádica, com alargamento até o bloqueio. • Fibrilação atrial: Raro na intoxicação digitálica! FATORES DE RISCO • Insuficiência renal: Depende da excreção renal! • Doenças cardíacas: Aumentam a sensibilidade ao remédio (miocardite, isquemia ativa). • Alterações eletrolíficas: Hipocalemia, HipoMg e HiperCa. • Drogas: Amiodarona, BCC, Ciclosporina, Diurético. • Idade avançada: Função renal mais prejudicada, mais sensível à ação farmacológica. TRATAMENTO 1) SUPORTE CLÍNICO • Correção eletrolítica: Dosar o potássio e avaliar. • Cuidado com arritmia: Fenitoína tem ação antiarritmica e pode ajudar, marca-passo s/n. 2)DESCONTAMINAÇÃO • Carvão ativado: Se intoxicação oral. 3)ANTÍDOTO • Anticorpo anti-Fab (DigiBind®): Fazer se arritmia grave ou hipercalemia grave. *SAIBA MAIS → EFEITO DIGITÁLICO: Mesmo em uso correto, o paciente pode apresentar alteração eletro- cardiográfica típica, um infradesnivelamento ST em formato de pá de pedreiro. REVISÃO: SISTEMA NERVOSO PERIFÉRICO SISTEMA NERVOSO PERIFÉRICO: É composto pelos nervos que emergem da medula espinhal. 2 TIPOS: • Sist. N. Somático (Voluntário): Função motora voluntária (soma é vontade!) • Sist. N. Autônomo (Involuntário): Funções neurovegetativas (FC, peris-talse do TGI), não depende do soma! *O segundo neurônio motor (somático) joga acetilco- lina na junção neuromuscular: É a acetilcolina que age nos receptores nicotínicos e coordena a contração muscular da maneira correta. O SN Somático não usa gânglios, o estímulo vai direto. *No sistema nervoso autônomo depende! Se for um estímulo mediado pelo SN Simpático é um neurotrans- missor, se for pelo Parassimpático é outro! Para atuar, o SN Autônomo utiliza gânglios! • SN Parassimpático: