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Universidade Estadual de Maringá Centro de Ciências Exatas Departamento de Química 2° Prática APLICAÇÃO DE COMPLEXOS EM BIOINORGÂNICA – SÍNTESE DO BISGLICINATOCOBRE (II) Aluna: Adrielle Ávila – R.A: 109.370 Docente: Prof° Dra. Hágata Cremasco Maringá, agosto de 2021 1. Introdução A química bioinorgânica é o fruto de estudo de diversos campos de conhecimento, como Química, Biologia, Física e Matemática. Seu crescimento deve-se a necessidade de se compreender plenamente os compostos biológicos mediados por metais. Este campo, como tal, surgiu nos anos 70 sendo chamada de bioquímica inorgânica gerando então polêmica por seu título tão paradoxal. Entretanto foi nesse período que cientistas dos mais variados campos do conhecimento despertaram grande interesse pelo papel dos metais nos sistemas vivos. (XAVIER, 2006) Atualmente pode-se caracterizar dois grandes grupos de atuação na química bioinorgânica: um no estudo da ocorrência natural de elementos inorgânicos na biologia dos seres vivos e outro atuando na introdução de metais em sistemas biológicos como dispositivos exploratórios e drogas. Como subgrupos podemos citar: estudo do ambiente de coordenação de íon metálico em metaloenzimas, estudo dos mecanismos das reações que ocorrem nos centros metálicos das enzimas; desenvolvimento de análogos sintéticos para sítios ativos de metaloproteínas (projeto, síntese, caracterização estrutural e físico-química e reações catalíticas); desenvolvimento de fármacos contendo metais para a cura ou prevenção de doenças (síntese e mecanismo de ação); estudos de remoção e transporte de íons metálicos e compostos metálicos para sistemas vivos (desintoxicação) e processos de biomineralização. (XAVIER, 2006) Os metais de transição agem como ácidos de Lewis. O ferro e o cobre por exemplo, são centros ativos de metaloenzimas e também de proteínas transportadoras de oxigênio. As interações dos íons metálicos com biomoléculas geralmente consistem na formação de compostos de coordenação, portanto as teorias da química de coordenação também se aplicam a sistemas biológicos. Os ligantes mais comumente envolvidos em sistemas biológicos são aminoácidos de cadeias laterais e ácidos nucleicos. As proteínas são constituídas de vinte aminoácidos essenciais, representados abaixo. (SOBRINHO, 2011) As interações entre os íons metálicos e biomoléculas são, geralmente, da mesma natureza das existentes em complexos clássicos, e por isso são tratadas de acordo com as teorias da química de coordenação. Sendo assim, as propriedades das biomoléculas que contém metais dependem do número e distribuição de elétrons de valência nos orbitais d. os aminoácidos que normalmente funcionam como ligantes são a cisteína e a metionina (ligadas pelo enxofre ao metal), a histidina (ligada pelos nitrogênios do anel imidazólico), o aspartato e o glutamato (ligados pelos grupos carboxilatos) e a tirosina (ligada ao metal pelo oxigênio fenólico). Com a exceção da tirosina, tem-se observado que os demais podem atuar como ligante-ponte entre dois íons metálicos ou como ligantes terminais de um íon metálico simples. (XAVIER, 2006) 1.1 Cobre O cobre é um metal vermelho-pálido, macio, maleável e dúctil. Funde a 1038°C. Devido a seu potencial de eletrodo padrão ser positivo (+0,34V para o par Cu/Cu2+), é insolúvel em ácido clorídrico e ácido sulfúrico diluído, embora na presença do oxigênio possa ocorrer alguma solubilização. (VOGEL, 1981) O cobre é moderadamente abundante, sendo o vigésimo-quinto elemento mais abundante, em peso, na crosta terrestre. Pepitas de cobre naturais (isto é, pedaços do metal) eram antigamente encontradas, mas essa fonte está agora praticamente esgotada. O minério mais comum é a calcopirita, CuFeS2. Ela tem brilho metálico e aparência semelhante à pirita. FeS2 (o “ouro dos tolos”), mas com uma coloração mais próxima da do cobre. (LEE,1999) O cobre é obtido em larga escala, tendo sido utilizadas 11 milhões de toneladas em 1992, principalmente como metal puro e em ligas. O cobre é biologicamente importante, sendo encontrado em diversas enzimas do grupo das oxidases, nos transportadores de oxigênio em certos invertebrados e no sistema fotossintético. Há um grande interesse em torno dos diversos óxidos mistos de cobre, que possuem propriedades supercondutoras. (LEE,1999) As funções vitais do cobre são devidas a sua capacidade de doar ou de receber elétrons, participando das reações de oxi-redução, entre outras, aquelas catalisadas pelas enzimas, superóxido dismutase e citocromo oxidase. O cobre é necessário para o desenvolvimento e crescimento infantil, mecanismos de defesa, crescimento ósseo, maturação das células sanguíneas, transporte de ferro e colesterol, metabolismo energético, contratilidade do miocárdio e desenvolvimento cerebral. (FRANZAN, 2006) 1.2 Glicina Conhecido também como ácido aminoacético e ácido 2-amino-etanóico, é considerado um aminoácido apolar, não essencial e que apresenta uma massa molecular de 75,07 daltons. Sendo considerado o aminoácido mais simples, auxilia significamente no estudo da química desses grupamentos. Apresenta fórmula geral C2H5NO2. A glicina é o segundo aminoácido mais comum em proteínas: representa cerca de 5% dos aminoácidos das proteínas do organismo humano. (RAMOS, 2006). Sua estrutura geométrica é ilustrada abaixo. 1.3 Compostos de Coordenação e Quelatos Os compostos de coordenação são formados por um átomo metálico ou íon e um ou mais ligantes (átomos, íons ou moléculas) que doam elétrons para o metal. Esta definição inclui compostos com ligação metal-carbono, ou compostos organometálicos. O composto de coordenação provém de uma ligação covalente coordenada, que historicamente considerava-se que era formada por doação de um par de elétrons de um átomo para o outro. Nos compostos de coordenação, os doadores são geralmente os ligantes, e os aceptores são os metais. Compostos de coordenação são exemplos de adutos ácido-base, frequentemente chamados de complexos ou, se carregados, íons complexos. (MIESSLER,2014) Em alguns complexos, um ligante ocupa mais de uma posição de coordenação. Assim, mais de um átomo do ligante está coordenado ao metal central. Por exemplo, a etilenodiamina forma um complexo com íons de cobre (II): Nesse complexo o cobre está rodeado por quatro grupos NH2. Cada molécula de etilenodiamina está ligada ao cobre por dois sítios. Por esse motivo a etilenodiamina é designada ligante ou grupo bidentado (bidentado significa literalmente com dois dentes) forma-se dessa maneira uma estrutura cíclica (no presente caso, um par de anéis de cinco membros). Complexos possuindo tais estruturas cíclicas são denominados quelatos (khelos é a palavra grega para carangueijo). Os quelatos são mais estáveis que complexos com ligantes monodentados, pois a dissociação deste tipo de complexo implica na ruptura de duas ligações em vez de uma. (LEE, 1999) 2. Objetivos Sintetizar o complexo de relevância bioinorgânica bisglicinatocobre (II). 3. Procedimento Experimental 3.1 – Síntese do bisglicinatocobre (II) Primeiramente com o auxílio de uma balança analítica pesou-se 0,8773g de cloreto de cobre II dihidratado, e este foi dissolvido em 5 mL de água destilada, em um béquer de 100 mL. Depois adicionou-se 5 mL de etanol 95% à solução obtida anteriormente. Materiais Reagentes 1 béquer de 100 mL - CuCl2.2H2O Espátulas - CH3COONa Pipetas de 5 ou 10 mL - Éter etílico Kitassato - Glicina Tripé e tela - Etanol Termômetro - Água destilada 1 béquer de 25 mL Funil de Buchner Papel filtro Rolha p/ kitassato Barra magnética Banho de gelo Paralelamente, em um béquer de 25 mL, foram-se dissolvidos 0,7614g de glicina em 5 mL de água destilada.E essa solução foi reservada. Então pegou-se novamente a solução de cloreto de cobre II, e adicionou- se 0,8204g de acetato de sódio e agitou-se esse sistema até a completa dissolução do sólido. Adicionou-se o ligante ao metal com o auxílio de um conta-gotas, observando-se o que aconteceria alguma modificação (formação de precipitado). Em seguida, a reação foi aquecida em banho-maria a uma temperatura de 70°C por aproximadamente 15 minutos e posteriormente o sistema foi resfriado em água corrente. Depois para maximizar o processo de precipitação, colocou-se o béquer com a mistura em um banho de gelo por 15 minutos. Também no mesmo banho de gelo foram colocados em para resfriar: um béquer com 10 mL de etanol e outro béquer com 10 de éter etílico, para serem usados no momento da filtração. Depois com um sistema de filtração a vácuo, realizou-se a filtração do precipitado formado no béquer. Para a realização da filtração o precipitado foi primeiramente lavado com 10 mL de etanol e depois com 10 mL de éter etílico que foram previamente resfriados. Após o término da filtração o precipitado foi colocado em um dessecador por 5 dias para uma completa secagem em temperatura ambiente. Depois disso o precipitado foi pesado e o seu rendimento foi calculado. 4. Resultados e Discussões A síntese deste complexo é descrita pela junção de duas partes isoladas, como visto no procedimento experimental. Na primeira parte é adicionada o álcool ao cloreto de cobre II dihidratado, este tem como função criar um “meio orgânico” para favorecer a solubilidade do cloreto de cobre dihidratado. E depois neste mesmo béquer também foi adicionado o acetato de sódio que terá como função realizar a desprotonação da glicina. Essa desprotonação pode ser feita em ambientes ácidos ou básicos (mas neste caso foi realizada em ambiente básico). Quando a glicina se encontra em meio ácido, a sua forma iônica é protonada como +H3N – CH2 – COOH. E se em uma titulação aumentarmos mais ainda o pH desse meio ácido, o grupo carboxila da glicina perderá um próton. Em um ponto médio estão presentes na solução concentrações equimolares das espécies doadoras (+H3N – CH2 – COOH) e receptoras (+H3N – CH2 – COO-). Continuando com a titulação, se alcança outro ponto, que é conhecido como ponto isoelétrico, que é exatamente onde o primeiro próton for removido e o segundo próton começou a ser removido, sendo a glicina diprótica pode doar dois prótons, um de cada grupo ionizável. Neste ponto a glicina se apresenta com uma configuração de íon dipolar chamado zwitterion (+H3N – CH2 – COO-) no qual a sua carga elétrica resultante é nula. A partir daí se inicia outra etapa, que é a remoção de um próton do grupo amina da glicina, que será totalmente removido quando a titulação estiver com um meio básico (pH=12) +H2N – CH2 – COO-. (PALACIOS, 2017) Água, etanol e cloreto de cobre Água, etanol e cloreto de cobre e acetato de sódio Água e glicina Efeito que o ambiente químico pode causar nos valores de pKa da Glicina Ao juntar as duas partes, o glicinato por possuir dois potenciais sítios de ligação, forma-se um ligante bidentado, podendo-se ligar ao metal (criando o efeito quelato), formando-se então o complexo bisglicinatocobre (II) de cor azul. Que pode ser descrito pela equação abaixo: CuCl2.2H2O + 2 CH3COONa + 2 C2H5NO2 [Cu(gly)2] + CH3COOH + 2NaCl (1) O complexo obtido poderá ter duas configurações, pois o cobre no seu estado 2+ pode formar uma grande quantidade de compostos de coordenação, muitos deles sendo quelatos. Os ligantes bidentados, como a glicina, apresentam isomeria cis-trans quando se coordenam com um íon metálico. As configurações geométricas que o cobre (II) apresenta com mais frequência são aquelas onde ele tem quatro ligantes coplanares formando uma geometria octaédrica. A imagem abaixo mostra as possíveis configurações para este complexo: Para a filtração foi-se utilizado o método de filtração à vácuo (baixa pressão) ao invés da filtração normal (apenas com um papel filtro dobrado dentro de um funil de vidro), pois a filtração à vácuo é mais indicada para esse tipo de prática (com cristais), pois neste tipo de filtração utiliza o papel de filtro na forma original de círculo dentro do funil de Büchner (um funil bem maior e pesado, feito de porcelana e que contém vários furinhos como se fosse uma peneira). Esse funil é acoplado ao kitassato com uma borracha que impede a entrada de ar dentro dele. Uma mangueira acoplada a uma trompa de água puxa o ar de dentro do kitassato, diminuindo, assim, a pressão dentro dele. Desse modo, quando se passa a mistura por esse sistema, a diferença de pressão leva à sucção da parte líquida e deixa o sólido no papel de filtro praticamente seco. O que implica também em um processo muito mais rápido do que se fosse realizado de outro modo. trans-bis-[Cu(gly)2] cis-bis-[Cu(gly)2] Tabela de dados obtidos no experimento (Grupo 4) Papel filtro 0,5811g [Ni(NH3)6]Cl2 + Papel filtro 1,4463g [Cu(gly)2] 0,8652g Portanto conseguimos sintetizar através do experimento 0,8652g de [Cu(gly)2]. Cálculo teórico do número de mols do bisglicinatocobre II Levando em consideração a proporção de 1:1 da reação (1). Logo para uma reação de 100% de rendimento teríamos que obter 0,0084 mols de [Ni(NH3)6]Cl2. Cálculo teórico da massa do complexo 1mol de CuCl2.2H2O -------- 170,452g X --------- 0,8773g 𝑋 = 0,0051 mols de CuCl2.2H2O Com base nas quantidades de reagentes empregados no processo, podemos realizar também o cálculo para ver se a quantidade de glicina na reação não estava em excesso. Com isso podemos concluir que não houve excesso de reagente, pois foram utilizados aproximadamente 0,761g de glicina para a reação. Agora comparando a massa teórica com a massa obtida pelo experimento, podemos calcular o rendimento da reação. Cálculo do rendimento do complexo Por fim obtivemos 0,8652g do complexo bisglicinatocobre (II) [Cu(gly)2, que equivale a um rendimento de 71,04%. 1mol de [Cu(gly)2] -------- 211,546g 0,0051mols -------- X 𝑋 = 1,089 g de [Cu(gly)2] 1,089g ------ 100% 0,865g ------- X 𝑋 = 79,46% 1mol de [Cu(gly)2] --------- 2 mols de C2H5NO2 211,546g --------- 150g 1,089g --------- X 𝑋 = 0,772 g de C2H5NO2 5. Conclusão Os metais de transição, por possuírem elevado potencial de formação de complexos, nos permitem sintetizar esses complexos. A síntese do biglicinatocobre (II) foi realizada com sucesso, com um rendimento de 79,46%, o que pode ser considerado um bom rendimento, por ser um experimento de caráter laboratorial, e que pode conter erros no momento de sua execução. 6. Referências LEE, J. D. Química Inorgânica Não Tão Concisa. Tradução da 5° Ed. Inglesa. Editora Edgar Blucher, São Paulo, 1999. VOGEL, A. Química Analítica Qualitativa. 5°Ed. Editora Mestre Jou. São Paulo, 1981. MIESSLER, G. L. Química Inorgânica. 5°Ed. Editora Pearson. São Paulo, 2014. XAVIER, F. R. Novos Complexos Binucleares Não-Simétricos de Ferro (III) Cobalto (II) e de Gálio (III) Cobalto (II) Como Modelos Miméticos Para as Fosfatases Ácidas Púrpuras Metalo-Substituidas. 2006. Dissertação (mestrado) – Universidade Federal de Santa Catarina, UFSC. Programa de Pós-graduação em Química, Florianópolis. SOBRINHO, J. A. Um experimento em Química Bioinorgânica: Síntese de Compostos de Cobre-Glicina. Universidade Estadual Paulista, Presidente Prudente. 2011 FRANZAN, R. Preparação e Caracterização Físico-Química de Complexos HidrolisadosParciais de Proteína com Minerais. 2006. Dissertação (mestrado) Medicamentos e Cosméticos, Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto/USP, Ribeirão Preto. RAMOS, J. M. T. A. Estudo Espectroscópico Vibracional de Complexos de Ni(II) com Aminoácidos Serina, Glicina e Ácido Guanidoacético. 2006. Dissertação (Mestrado em Química) Universidade Federal Fluminense, Niterói. PALACIOS, R. S. Estudo do Aminoácido Glicina em Função do pH por Espectroscopia Raman. Dissertação (mestrado). 2017. Universidade Estadual de Maringá, Maringá
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