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FÁRMACOS ANTIARRÍTMICOS - Arritmia cardíaca: refere-se a qualquer alteração da sequência normal dos impulsos elétricos, ou seja, é qualquer desvio da normalidade na formação e/ou condução do estímulo elétrico para a contração do músculo cardíaco. - Distúrbios elétricos são: ● Taquicardia (F.C alta): > 100bpm ● Bradicardia:(F.C baixa) :< 50bpm PRINCÍPIOS DA ELETROFISIOLOGIA CARDÍACA Bombeamento sanguíneo perfeito depende da contração sequencial rítmica do coração, que ocorre por meio de células musculares cardíacas (cardiomiócitos) com propriedade de iniciar o estímulo (automatismo) e de propagá-lo (condução). A contração sequencial coordenada ocorre dos átrios para os ventrículos e do ápice para a base do coração. A arritmia cardíaca surge quando esse processo é deturpado por qualquer alteração no automatismo ou na condução. FÁRMACOS ANTIARRÍTMICOS - Os FAA foram classificados pela primeira vez por Vaughan Williams (classificação de acordo com o mecanismo de ação que se conhecia na época) Classe I → Bloqueadores dos canais de Na+ Classe II → Bloqueadores dos canais de receptores β-adrenérgicos Classe III → Bloqueadores dos canais de K+ Classe IV → Bloqueadores dos canais de Ca²+ - Diante das limitações da classificação de Vaughan Williams, foi publicada uma proposta moderna que engloba as principais ações dos agentes antiarrítmicos atuais e potenciais, além de permanecer as quatro classes originais. CLASSE 0 - Caracterizada por medicamentos que atuam inibindo o canal marca-passo cardíaco (HCN4). - Ivabradina: indicações são para o tratamento de angina pectoris estável e em pacientes com insuficiência cardíaca. Seu uso em portadores de fibrilação atrial é controverso, já que sua ação é mais direcionada ao nó sinusal. Atua através da inibição seletiva e específica da corrente marco-passo que controla a despolarização diastólica espontânea do nódulo sinusal, com menor efeito na condução intra-atrial, atrioventricular, intraventricular ou na repolarização ventricular. Além disso, é possível que atue por meio do bloqueio do canal com nucleotídeo cíclico hiperpolarizado, com possíveis efeitos adicionais no ciclo de Ca²+ intracelular. CLASSE I - Esta classe exerce seus efeitos primariamente bloqueando os canais de Na, sendo subdividido conforme o tipo de cinética de ligação ao canal e a modulação específica de cada fármaco ao receptor desse canal. - FAA se liga de forma peculiar ao canal que, conforme a cinética de reativação, pode ser classificada em rápida (subgrupo Ib), intermediária (subgrupo Ia) e lenta (subgrupo Ic). subgrupo Ia Usos terapêuticos - Os medicamentos que fazem parte do subgrupo Ia são os antiarrítmicos mais antigos. - Quinidina: tem particular efeito em arritmias geneticamente determinadas, como a síndrome de Brugada, evitando arritmias potencialmente fatais. - Procainamida: muito utilizada na reversão da fibrilação atrial aguda. - Esses medicamentos não possuem mais registros no Brasil. Farmacocinética - As concentrações plasmáticas de sulfato de quinidina atingem seu pico aproximadamente em 90 minutos quando administrado por via oral. Possui forte ligação proteica (80%), principalmente com a glicoproteína ácida alfa. - A quinidina é metabolizada primariamente por hidroxilação no fígado, e uma pequena parte (aproximadamente 20%) é excretada pelos rins de forma inalterada. Sua meia-vida é de cinco a oito horas após a administração oral. Efeitos adversos, contraindicações e toxicidade - Efeitos adversos: mais comuns são diarreias, náuseas, cefaléia e tontura. Outros, menos comuns, são: febre, rash cutâneo, angioedema, plaquetopenia, agranulocitose, hepatite e lúpus, além do efeito pró- arrítmico. - A quinidina é contraindicada na presença de taquicardias ventriculares secundárias à síndrome do QT longo, nos casos de insuficiência cardíaca congestiva, miastenia grave, insuficiência hepática, doença inflamatória intestinal e no uso concomitante com fármacos que prolonguem o intervalo QT, por exemplo, antidepressivos tricíclicos e sulfametoxazol + trimetropina. - A quinidina aumenta os níveis séricos da digoxina podendo potencializar os efeitos de fármacos hipotensores ou que bloqueiam o nó sinusal, como betabloqueadores e verapamil. Além disso, eleva os níveis séricos dos anticoagulantes orais por interação hepática. Medicamentos indutores enzimáticos, como a fenitoína, barbitúricos e rifampicina, aumentam o metabolismo hepático da quinidina, diminuindo sua concentração sérica. A quinidina ainda inibe o metabolismo hepático da propafenona, do metoprolol, de flecainida e de outros fármacos dependentes do citocromo P450. A hipocalemia diminui a eficácia da quinidina e ainda contribui para o prolongamento do intervalo QT. subgrupo Ib Usos terapêuticos - Indicados no tratamento de arritmias ventriculares, pois encurtam a duração do potencial de ação e apresentam cinética de reativação do canal de sódio muito rápida, não causando, portanto, prolongamento do intervalo QT. - Medicamentos mais conhecidos no Brasil são a lidocaína e a mexiletina, porém a mexiletina não é comercializada no Brasil. - Lidocaína, apesar de ser um anestésico, exerce ações eletrofisiológicas no coração, o que lhe confere propriedades antiarrítmicas. Este fármaco age principalmente no miocárdio isquêmico e se torna mais efetivo quando os níveis de potássio estão normais ou aumentados. - Mexiletina, apesar de possuir uma estrutura parecida com a lidocaína, é utilizada por via oral. Esta pode ser utilizada em associação a outros FAA para quando se deseja diminuir os efeitos pró-arrítmicos ou em eventos adversos dos antiarrítmicos e ainda para um efeito sinérgico na profilaxia de arritmias ventriculares. O seu uso isolado é praticamente ineficaz quando comparado com os outros FAA. Efeitos adversos, contraindicações e toxicidade da mexiletina - Eventos adversos neurológicos e gastrointestinais são frequentes, o que torna difícil o uso desta medicação. - As ações eletrofisiológicas são semelhantes da lidocaína, tendo como contraindicação o choque cardiogênico, os bloqueios AV de segundo e terceiro graus, bradicardia, distúrbios de condução, hipotensão e insuficiência hepática, renal ou cardíaca. subgrupo Ic - Indicados para supressão de arritmias tanto ventriculares quanto supraventriculares, possuindo como diferença dos outros grupos uma grande inclinação do potencial de ação, efeito inibitório potente da condução dos sistemas de HIS-Purkinje (alargamento do complexo QRS) e expressivo encurtamento da duração do potencial de ação somente nas fibras de Purkinje. Podem também causar efeitos pró-arrítmicos, especialmente na presença de cardiopatia estrutural. - O fármaco pertencente a este grupo disponível no Brasil é somente a propafenona. Mecanismo de ação e efeitos farmacológicos - A propafenona, além de possuir atividade antiarrítmica característica da classe Ic, encurta a condução nas fibras de Purkinje e alarga o QRS em ritmo sinusal. Também exibe fraca atividade betabloqueadora e ainda é antagonista dos canais de cálcio. Além disso, diminui o automatismo sinusal e exerce potencial atividade estabilizadora da membrana. Usos terapêuticos A propafenona é indicada para reversão aguda da fibrilação atrial e na prevenção de recorrência de fibrilação atrial em pacientes que não possuem doenças estruturais no coração, podendo ser administrada por via oral. - A via intravenosa é indicada somente para taquicardia ventriculares e supraventriculares sustentadas, porém não está mais disponível no Brasil. Farmacocinética - A propafenona é absorvida em torno de 95% por via oral e atinge o pico de concentração plasmática em duas ou três horas. - A sua farmacocinética pode ser dividida de acordo com a diferença entre metabolizador normalou lento. Nos metabolizadores normais, a meia-vida pode oscilar de duas a dez horas, e em metabolizadores lentos, de doze a trinta e duas horas. - Este fármaco apresenta alta afinidade pelas proteínas plasmáticas (aproximadamente 80%), sendo que a principal proteína ligante é a glicoproteína ácida alfa. - Os principais metabólitos conjugados são o 5-hidroxi-propafenona e N-propil-propafenona, sendo que o 5- hidroxi tem uma maior eficácia antiarrítmica do que a propafenona em metabolizadores normais. - Menos de 1% da propafenona é excretada de forma inalterada na urina, e sua principal via de eliminação é a renal. Efeitos adversos, contraindicações e toxicidade - A propafenona é contraindicada em casos de distúrbios prévios da condução cardíaca, disfunção ventricular esquerda de grau moderado a importantes, asma e DPOC. - As reações adversas incluem prolongamento do intervalo PR e QRS, distúrbio de condução e bloqueio de nó sinusal, precipitação de IC por causa do leve efeito inotrópico negativo, sintomas neurológicos (sonolência, alucinações, neuropatia periférica, cefaleia) e sintomas gastrointestinais (inapetência, náusea, distúrbio gustativo, sensação anestésica na boca, vômitos e sensação de plenitude). - As principais interações medicamentosas são a digoxina e anticoagulantes orais, caso em que há um aumento dos níveis séricos desses medicamentos. Ainda possui interação com quinidina, betabloqueadores e amiodarona, pois podem potencializar os distúrbios de condução. Além disso, a cimetidina aumenta os níveis séricos da propafenona. subgrupo Id - Se diferem dos outros subgrupos, pois inibem a corrente tardia de Na+. Essa corrente tardia aumenta as condições pró-arrítmicas congênitas ou adquiridas, incluindo hipóxia, IC e a síndrome do QT longo tipo 3. - Esses fármacos encurtam a recuperação do potencial de ação e aumentam a refratariedade e reserva de repolarização, possuindo um potencial efeito antiarrítmico. ´- Os medicamentos que fazem parte desta nova classe são a ranolazina, GS-458967 e F15845. - Ranolazina é Indicada para angina pectoris, porém possui efeitos antiarrítmicos importantes - Os fármacos denominados GS-458967 e F15845 ainda não foram aprovados, pois ainda estão em fase de pesquisa. CLASSE II - A classificação moderna manteve os β-adrenérgicos, porém acabou sendo estendida, incluindo medicamentos com efeitos alvos parassimpáticos, proporcionando uma cobertura dos efeitos autônomos como um todo, compreendendo também as ações através dos receptores acoplados à proteína G. Classe IIa - Inibidores seletivos dos receptores β1-adrenérgicos (atenolol e metoprolol) e os não seletivos (carvedilol e propranolol), que podem ser indicados para o tratamento das taquiarritmias e na IC (especificamente bisoprolol, metoprolol e carvedilol). - Os efeitos eletrofisiológicos desses medicamentos resultam da inibição competitiva da ação da adrenalina e da noradrenalina sobre os receptores β do coração e incluem a diminuição da ascensão da fase quatro do potencial de ação das células marca-passo do nó sinusal, marca-passos subsidiários atriais e da junção atrioventricular, e ainda diminui o automatismo celular. - Em altas doses, esses medicamentos reduzem o Vmax da fase zero do potencial de ação sem alteração do potencial de repouso, aumentando o limiar de excitabilidade celular e reduzindo a velocidade de condução do impulso. - Estas ações baseiam-se na propriedade estabilizadora de membrana (efeito anestésico local por bloqueio da corrente de sódio), sem qualquer relação com sua atividade betabloqueadora. - No nó AV, causa aumento do período refratário funcional e retardo na condução, responsável pela redução da frequência ventricular em taquiarritmias ou ainda bloqueio da condução em circuitos de reentrada. - Os efeitos sobre a junção atrioventricular podem ser menos intensos quando se utilizam betabloqueadores com atividade simpaticomimética intrínseca, como exemplo do pindolol. Classe IIb - Inclui os medicamentos betabloqueadores não seletivos, como o isoproterenol. Este ativa de forma contrastante a entrada de Ca²+ e a liberação no retículo sarcoplasmático de Ca²+, potencializando o efeito pró-arrítmico. - Seus efeitos cronotrópicos aceleram as taxas de ritmo de escape ventricular sendo paliativo no tratamento de bradiarritmias antes da implantação do marca-passo. - Principal efeito terapêutico é suprimir pós-despolarizações precoces, que ocorrem mais quando o paciente está bradicárdico, exercendo, assim, efeitos antiarrítmicos. possui apenas a apresentação endovenosa, usando, portanto, em situações de urgência/emergência. Classe IIc - Inclui os inibidores dos receptores M2, por exemplo, a atropina e a escopolamina. - Esta classe foi incluída na classificação modernizada, pois as proteínas G medeiam a ativação do receptor muscarínico (M2) e a adenosina (A1). - A inibição desses receptores leva à excitação da membrana, aumentando o cronotropismo. - Os medicamentos desta classe são indicados para aliviar a bradicardia sinusal no nível supra-His. Classe IId - Inclui a digoxina, cujo principal uso é na inibição do nó AV para redução da frequência cardíaca em pacientes com fibrilação atrial e, em alguns casos, para alívio dos sintomas na insuficiência cardíaca. - Sua ativação reduz a excitação da membrana afetando a função cronotrópica e de condução, controlando a resposta ventricular na FA e ainda podendo interromper arritmias supraventriculares paroxísticas reentrantes que passam pelo nó AV. Classe IIe - Inclui os ativadores dos receptores da adenosina. - Adenosina é um fármaco indicado para a reversão aguda das taquicardias paroxísticas supraventriculares por interromper a atividade reentrante que passa pelo nó AV. Além disso, causa vasodilatação coronária, podendo ser utilizada para fins diagnósticos. - A adenosina é administrada por via intravenosa, é rapidamente metabolizada e a meia-vida estimada é inferior a dez segundos. - Reações adversos: rubor facial, dispneia, cefaleia, desconfortos gastrintestinais, atordoamento, tontura, dor na região do pescoço, náuseas, bloqueio AV de primeiro ou segundo grau, parestesia, hipotensão e nervosismo. Reações adversas incomuns: dor nas costas, fraqueza, arritmia ventricular, bradicardia, palpitações, alterações da onda T no ECG, hipertensão, instabilidade emocional, tremor, tosse, boca seca, gosto metálico, congestão nasal e desconforto na língua. CLASSE III - Aqueles que atuam nos canais de potássio. Classe IIIa - Mais extenso da classe II - Inclui os bloqueadores dos canais de K+ não seletivos, como amiodarona e a dronedarona. Usos terapêuticos - A amiodarona prolonga a duração do potencial de ação pelo aumento do período refratário tecidual, em razão do bloqueio dos canais de K+. Esta tem indicação para o tratamento de arritmias supraventriculares e ventriculares com alto índice de eficácia. Mecanismo de ação e efeitos farmacológicos - A amiodarona tem ação multicanal. É capaz de aumentar a duração do potencial de ação por prolongamento das fases 2 e 3; diminui o automatismo celular através do bloqueio dos canais rápidos de sódio frequência dependente e consequentemente redução da fase 4; possui efeito betabloqueador discreto; e é ainda um antagonista do canal de cálcio. Farmacocinética - A biodisponibilidade da amiodarona varia de 22% a 86%, alcançando pico plasmático em média de cinco horas. Mais de 96% do fármaco se ligam às proteínas plasmáticas e sua meia vida varia de 11 a 20 horas. O fármaco se distribui amplamente no tecido adiposo e em outros órgãos, sendo que seu principal metabólito hepático é a desetilamiodarona. Dessa maneira, após sua administração crônica, a meia-vida varia de 10 a 60 dias, podendo ser encontrado no plasma até seis meses apósinterrupção do tratamento. A amiodarona é eliminada por via biliar, sendo seguro em pacientes com insuficiência renal. Efeitos adversos, contraindicações e toxicidade - A administração crônica da amiodarona causa diminuição da frequência sinusal e aumento do tempo de condução sinoatrial, sem alteração significativa do tempo de recuperação sinusal. Além disso, provoca discreto retardo da condução pelo nódulo atrioventricular entre os ventrículos. - Efeitos colaterais cardíacos: bradicardia sinusal e bloqueio atrioventricular, que são agravados em uso concomitante de digitálicos ou outros agentes que reduzem a atividade do nódulo sinusal ou a condução atrioventricular. O paciente pode apresentar efeito vasodilatador e inotrópico negativo, cursando com hipotensão arterial e falência ventricular quando se administra altas doses por via oral ou intravenosa. - Efeitos colaterais gastrointestinais: náuseas, obstipação, anorexia, hepatomegalia e hepatite. Desta forma, a elevação dos níveis plasmáticos das transaminases hepáticas pode indicar acometimento hepático. - Uma das complicações extracardíacas mais preocupantes é a toxicidade pulmonar, cujas manifestações clínicas são: dispnéia, tosse, febre, dor pleurítica, escarro hemoptoico, fadiga, emagrecimento e insuficiência respiratória. Essa toxicidade pulmonar não está diretamente relacionada com a dosagem, mas sim com o efeito cumulativo e a duração do tratamento. - Efeitos colaterais comuns: tremores da extremidade, prurido cutâneo e a neuropatia periférica com sensação de adormecimento das extremidades, que pode ser ou não acompanhada de fraqueza. Outras manifestações pouco frequentes são: cefaléia, pesadelo e insônia, ataxia (dificuldade em realizar atividades cotidianas), miopatia e fraqueza muscular. - As associações a medicamentos que prolongam o intervalo QT estão contraindicados (como no caso de FAA da classe Ia, sotalol e bepridil) ou devem ser usados com cautela e monitorização (antibióticos que bloqueiam a corrente rápida de K+), como eritromicina, azitromicina e claritromicina), pelo risco de induzir torsades de pointes, ou seja, uma arritmia potencialmente fatal. Além disso, possui interação medicamentosa com fármacos que reduzem a frequência cardíaca ou causam distúrbio do automatismo ou da condução, por exemplo, os betabloqueadores e os bloqueadores do canal de sódio. Os distúrbios eletrolíticos podem acentuar o efeito pró-arrítmico dessas medicações. A perda de potássio, por uso de diuréticos ou laxantes, em pacientes que utilizam fármacos bloqueadores das correntes de potássio pode acentuar seu efeito e causar uma interação medicamentosa maléfica ao paciente. - Além da amiodarona, nesta mesma classe é inserido o sotalol. Mecanismo de ação e efeitos farmacológicos - O sotalol é um FAA formado pela mistura de isômero d e i. O isômero i exibe atividade betabloqueadora não específica. É hidrossolúvel, não seletivo e sem atividade simpaticomimética intrínseca. O isômero d é o principal responsável pela atividade antiarrítmica do grupo III, caracterizada por prolongamento da duração do potencial de ação do tecido cardíaco isolado; a mistura racêmica reduz suas propriedades pró-arrítmicas. Farmacocinética Possui biodisponibilidade de 100% quando ingerido com o estômago vazio. É rapidamente absorvido, atingindo um pico plasmático de duas a três horas. Sua meia-vida é de oito horas após administração intravenosa e de 14 a 20 horas após uso oral. O efeito betabloqueador é alcançado com menores níveis plasmáticos, enquanto para o efeito antiarrítmico são necessárias concentrações maiores. A principal via de excreção é a renal. Efeitos adversos, contraindicações e toxicidade - Eventos adversos: bradicardia, hipotensão, fadiga, tontura, astenia, náuseas e vômitos, obnubilação, diminuição da líbido e impotência, depressão e boca seca. - Efeito adverso mais perigoso: pró-arritmia, que é facilitada com o uso de fármacos concomitantes que prolongam o intervalo QT, reduzem a frequência cardíaca, potássio ou magnésio sérico. As mulheres, por já possuírem um tempo de repolarização maior, têm maior potencial de desenvolver torsades de pointes. Classe IIIb - Inseridos recentemente, inclui os abridores dos canis de potássio Kir6.2. Estes atuam fazendo a abertura dos canais de K+ sensíveis ao ATP, encurtando a recuperação do potencial de ação, a refratariedade e a repolarização em todos os cardiomiócitos das células do nó sinoatrial, gerando intervalos QT encurtados. - Medicamentos: nicorandil e pinacidil. Classe IIIc - Os betabloqueadores dos IKACH GIRK1 e GIRK4. Estes atuam inibindo diretamente ou pela ativação mediada pelas subunidades By do IKACH, particularmente no nó atrial, nó AV e nas células atriais, prolongando a duração do potencial de ação e a efetividade do período refratário, além de reduzir a reserva de repolarização. o medicamento que faz parte dessa classe, o BMS914392, ainda está em fase de testes. CLASSE IV - Pela classificação antiga, essa classe incluía medicamentos que bloqueavam a entrada dos íons Ca²+ na célula, principalmente as células musculares lisas dos vasos ou estriadas cardíacas, bem como nas células dos nódulos sinoatrial e atrioventricular, sendo chamados de antagonistas dos canais de cálcio. - A classificação atual incluiu a propafenona e a flecainida, fazendo parte da classe Ic e da classe IV. Além disso, fármacos como o carvedilol, que fazem parte da classe IIa, também possuem ações que se encaixam na classe IV. esses fármacos são incluídos por modularem a corrente de Ca²+. Subgrupo IVa - Os betabloqueadores dos canais de Ca²+ não seletivos como o bepridil, além dos bloqueadores de ICaL, não di-hidropiridínicos, como verapamil e diltiazem. - Bepridil não é comercializado no Brasil, poderia ser utilizado no tratamento de taquiarritmias supraventriculares. - Verapamil é bem absorvido o trato intestinal e possui uma ligação com proteínas plasmáticas de 90%. O diltiazem, tem 90% de absorção por via oral, porém apenas 30 a 40% permanecem no plasma em razão do metabolismo hepático de primeira passagem, além de alta ligação proteica (80 a 90%). Ambos podem ser indicados para angina e hipertensão arterial. - A classe não di-hidropiridínicos possui efeito bloqueador do nó AV, podendo ser utilizada no tratamento de arritmias supraventriculares e para controle de cronotropismo em pacientes com fibrilação atrial. Subgrupo IVb - Os agentes da classe Ic e da classe IIa foram incluídos neste subgrupo por reduzirem a liberação de Ca²+ medida pelo retículo endoplasmático e pelos receptores de rianodina (RyR2). Assim, são eficazes no tratamento da taquicardia ventricular polimórfica catecolaminérgica, arritmia geneticamente determinada que pode ser altamente letal se não tratadas com os fármacos padronizados, principalmente nadolol e flecainida, ambos disponíveis no Brasil. Como alternativa, usa-se propranolol e propafenona. CLASSE V - Ácido antranílico - Agrega os bloqueadores dos canais mecanossensíveis. Porém ainda são experimentais. CLASSE VI - A condução do potencial de ação depende da propagação de íons entre os miócitos, o que envolve a junção de gap e suas conexinas. A modulação dessa comunicação intercelular por meio do bloqueio ou da abertura das conexinas é considerada alvo promissor no tratamento das arritmias. Essa classe inclui a carbenoxolona e o peptídeo análogo rotigaptídeo (ZP-123), respectivamente, por reduzir ou aumentar sua condutância. CLASSE VI - Medicamentos que podem atuar nos processos de remodelação do substrato arritmogênico cardíaco como inibidores da renina-angiotensina-aldosterona, ácidos graxos, ômega 3 e estatina. - Indicados para hipertensão, doença arterial coronariana e insuficiência cardíaca. - São considerados fármacos adjuvantes ao tratamento. Os inibidoresda enzima conversora de angiotensina ou bloqueadores dos receptores da angiotensina podem ser úteis na modificação do substrato atrial e, portanto, na fibrilação atrial, principalmente na presença de IC e hipertensão. - A terapia com estatina pode prevenir a recorrência de fibrilação atrial após cirurgia de revascularização miocárdica.