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1 GESTÃO DE RECURSOS ESCOLARES 1 Sumário NOSSA HISTÓRIA .......................................................................................... 2 A GESTÃO NA ESCOLA ................................................................................. 3 A ORGANIZAÇÃO E O PROCESSO ADMINISTRATIVO ........................... 3 Decisões em Busca de Objetivos Organizacionais .................................... 15 O GESTOR ESCOLAR E A GESTÃO DE RECURSOS NA ESCOLA .......... 22 REFERÊNCIAS ............................................................................................. 31 2 NOSSA HISTÓRIA A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós- Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior. A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação. A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. 3 A GESTÃO NA ESCOLA A ORGANIZAÇÃO E O PROCESSO ADMINISTRATIVO A escola é um tipo de organização, mesmo que tenha missão diferenciada, pois possui estrutura física, materiais, equipamentos, pessoas, valores, cultura própria, regras e normas, além de outros aspectos existentes em outros tipos de sistemas. Assim, faz-se a seguir uma interlocução entre diferentes autores sobre o entendimento do que seja uma organização. Autores como Etzioni (1967), Blau; Scott (1970) e Likert (1979) situam a organização num contexto mais social. Desenvolvem atividades voltadas para fins específicos e previamente delineados e são conduzidas e operacionalizadas por pessoas. Para Etzioni (1967, p. 9) “As organizações são unidades sociais (ou agrupamentos humanos) intencionalmente construídas e reconstruídas, a fim de atingir objetivos específicos. [...]”, sendo esses a razão de ser de cada uma delas. Há, portanto, manifestação de vontade para sua existência e para seus propósitos. “[...] Todavia, depois de formadas, as organizações adquirirem necessidades, e estas às vezes se apoderam da organização” (ETZIONI, 1967, p. 13). Conjetura-se, desse modo, que a busca de soluções para problemas internos pode tornar a organização ‘escrava’ de suas necessidades e deixar para segundo plano outros aspectos importantes e necessários à condução e existência da entidade. Entende-se, com isso, que se intencionalmente construída e reconstruída, a organização não é, então, um sistema natural, pois não dispõe ou conta com processos espontâneos para lidar com as dificuldades ou problemas internos; por outro lado, o fato de uma organização ser caracterizada como racional, marcada pelo planejamento, não a coloca, de fato, como uma máquina em que basta planejadores para movimentá-la e o seu funcionamento perdurar de maneira automática (Thompson, 1976). A ‘organização social’, para Blau e Scott (1970, p. 14-15), “[...] refere-se às maneiras nas quais a conduta humana se organiza socialmente, isto é, às regularidades observadas no comportamento de pessoas, regularidades essas mais devidas às condições sociais, nas quais 4 essas pessoas se encontram, do que às suas características fisiológicas ou psicológicas como indivíduo. As muitas condições sociais que influenciam a conduta das pessoas podem ser divididas em dois tipos principais, os quais se constituem nos dois aspectos básicos das organizações sociais: 1) a estrutura das relações sociais em um grupo ou coletividade maior de pessoas; 2) as crenças e orientações compartilhadas que unem os membros da coletividade e guiam sua conduta.” Em toda organização as relações ocorrem de forma natural e por aparatos formais. Crê-se, assim, que a forma como elas ocorre no interior de cada uma delas demonstra a complexidade e a constância dessas relações, por meio da posição que cada indivíduo ocupa na estrutura hierárquica ou dos papéis que desempenham. Aliadas aos valores e crenças, as afinidades e/ou as diversidades influenciam na conduta de cada um em relação ao outro, e o compartilhamento de ideias pode conduzir a um sistema com predominância de ações mais grupais. Sobre as relações sociais, Blau e Scott (1970, p. 15-16) asseveram que “[...] envolvem, em primeiro lugar, padrões de interação social; a frequência e duração dos contatos entre as pessoas, a tendência para iniciar esses contatos, a direção da influência entre as pessoas, o grau de cooperação, e assim por diante. [...] transmitem os sentimentos das pessoas com relação às outras, tais como atração, respeito ou honestidade [...].” Na mesma linha de raciocínio, Likert (1979, p. 211) salienta que “Toda organização é um empreendimento humano cujo sucesso depende dos esforços coordenados de seus membros. [...] “ Esse autor afirma que a organização possui diversos e importantes processos e características, como: Tem uma estrutura. Tem processos de observação e de medição que coletam informações acerca do estado interno da organização, do ambiente em que a organização está operando e da relação entre a organização e o referido ambiente. [...] Tem dimensionamentos da atitude e características motivacionais, tais como as forças motivacionais básicas a que recorre ao utilizar os esforços dos membros e o grau de favorabilidade ou desfavorabilidade das atitudes e lealdades para com a organização, suas partes componentes e seus membros (Likert, 1979, p. 211). 5 A menção de que as organizações possuem processos de medição nos remete à escola, que mede a capacidade de ‘seus’ alunos diariamente e desde quando ela existe, e ainda, se ‘subordina’ às avaliações externas, seja da sociedade ou de órgão localizado numa estrutura hierárquica maior, como o Ministério da Educação, que aplica suas avaliações através do INEP. Essas avaliações podem motivar atitudes favoráveis, neutras ou desfavoráveis em relação aos instrumentos avaliativos e levar os professores a adotarem estratégias para melhorar o desempenho do aluno e consequentemente o da escola, ou manterem o status quo ou se manifestarem contra o ranking estabelecido a partir dos resultados. Etzioni (1967, p. 94) salienta sobre as organizações serem unidades sociais artificialmente construídas, planejadas e deliberadamente estruturadas e que por isso “[...] revêem constante e autoconscientemente suas realizações e se reestruturam de acordo com os resultados. Neste sentido, diferem de unidades sociais naturais, como a família, os grupos étnicos ou a comunidade. [...] quase nunca as organizações podem confiar que a maioria dos participantes interiorize suas obrigações e, sem outros incentivos, cumpra voluntariamente seus compromissos. [...]” Diante o exposto, estabelecem-se aqui alguns questionamentos: o que pode levar um grupo de professores e um gestor escolar a buscarem a melhoria de desempenho de cem por cento de ‘seus’ alunos, de maneira espontânea? Por outro lado, os recursos recebidos na escola se configuram como estímulos? Têm conhecimento das ‘exigências’ impostaspelos processos avaliativos? Relacionam os recursos recebidos na escola com esses processos? Igualmente, é possível ensinar e provocar motivação nos alunos sem incentivos mínimos28 que possibilitem diversificar e enriquecer o processo de ensino-aprendizagem? É certo que a sociedade depende de muitas organizações e essas umas das outras, as quais são consideradas “as formas mais racionais e eficientes que se conhecem de agrupamento social” (ETZIONI, 1967, p. 7) e que funcionam por meio de ações humanas, combinando os diferentes e diversos recursos internos (materiais, equipamentos, financeiros, lideranças, especialistas, pessoal operacional e outros recursos). 6 Presume-se, desse modo, que por estarem inseridas em comunidades e sociedades29, seus resultados sejam contínua e sistematicamente avaliados para que possam ajustar-se, visando atingir metas e objetivos internos, mas, direcionados e em prol da sociedade da qual faz parte, como é o caso das escolas, que concretizam suas ações diretamente sobre o aluno. Blau e Scott (1970, p. 57) apontam quatro categorias basilares de pessoas no tocante às suas relações com as organizações formais: 1) os membros ou participantes da plebe; 2) os proprietários ou gerentes da organização; 3) os clientes ou, de modo mais geral, o ‘público-em-contato’ (as pessoas que estão tecnicamente fora da organização, mas que têm com ela contato direto e regular, a qualquer título que seja – paciente, freguês, violador de leis, prisioneiro, soldado inimigo, estudante); 4) o grande público, ou seja, os membros da sociedade na qual a organização opera. No ambiente externo encontra-se a sociedade em geral, de onde a escola absorve mão-de-obra (diretores, professores, pessoal de apoio e demais profissionais necessários não só às suas operacionalizações como para sua manutenção) indispensável para desenvolver suas atividades, e nela estão as famílias (avós, pais e filhos) das quais saem o grupo de alunos da unidade escolar. Profissionais da educação, alunos e pais de alunos podem, ainda, participar de associações e/ou conselhos que exercem o controle formal sobre as decisões e ações desenvolvidas nas escolas, particularmente as decorrentes de recursos financeiros recebidos, assim como podem, ainda, fiscalizar a correta aplicação do recurso, independentemente de estarem vinculados ou não a algum conselho, associação, cooperativas ou a outra unidade executora. Salienta-se aqui que o controle é entendido como um processo que ocorre continuamente, de forma cíclica, desde o início, quando decisões são tomadas e aprovadas, até a concretização dos objetivos decorrentes das mesmas. Já a fiscalização acontece após a concretização das ações, visando identificar se houve ou não desvios ou atos incoerentes na relação entre os fins pretendidos e os alcançados. 7 As demais organizações proporcionam todos os insumos diretos necessários às atividades internas como máquinas, material de expediente, equipamentos, serviços em geral (limpeza, manutenção e reparos). O Estado, como representante supremo do interesse público, tem, em última instância, a finalidade de satisfazer as necessidades gerais coletivas, e no âmbito da escola, suprir com o conjunto de formalidades, através de normatização, com recursos e políticas guias para os gestores escolares, estabelecidas no âmbito governamental, que é quem operacionaliza e dá cumprimento às funções do Estado. Assim, há órgãos governamentais que normatizam, por exemplo, certas atividades ligadas às escolas, como o transporte e a merenda escolar; os programas direcionados às unidades escolares como o Programa de Educação Integral e Dinheiro Direto na Escola; o fundo que mantem a maior parte da educação básica pública no país denominado FUNDEB, além de outras. A assistência governamental às escolas pode ser através de capacitação técnica e continuada, recursos financeiros e de material. Tanto podem ser direcionados recursos para serem geridos diretamente na unidade escolar como podem ser adquiridos bens (capital), material de custeio e contratados serviços também pelo órgão gestor da educação, sendo que no município, por exemplo, há corresponsabilidade do executivo com o secretário de educação pelos gastos com a educação sob responsabilidade municipal. Por ser o mantenedor, o governo exerce o controle sobre o desempenho da escola através de avaliações. A ‘performance’ pode ser medida tanto pelo federal como pelo local, pois muitas vezes são identificadas avaliações aplicadas pelo próprio sistema ao qual a escola está vinculada. Manter a escola tem como consequência a fiscalização de suas atividades no intuito de verificar, por exemplo, o cumprimento das normatizações (constitucionais e legais), como é o caso dos aparatos fiscalizatórios construídos pelos tribunais de contas, poder legislativo, conselhos diversos e controladorias, que condicionam as ações dos gestores escolares a seguirem os ditames legais, particularmente em relação ao uso dos recursos recebidos e geridos no interior da escola, o que leva os responsáveis pela efetuação dos gastos a elaborarem prestação de contas de todo o 8 financeiro despendido, através da apresentação de documentos comprobatórios das formalidades exigidas num processo de compra. Quanto ao ambiente interno, apontam-se as relações sociais, que tanto podem ser dotadas de formalidades como de informalidades. As relações formais são influenciadas, por exemplo, pelo modelo de estruturação da organização, assim, os cargos e a hierarquia identificam a autoridade e as responsabilidades de cada membro e o processo de comunicação interno, conforme o modelo de gestão adotado pelo responsável maior da entidade, podendo ser mais autocrático ou mais democrático. Nas relações informais, o comportamento e o conjunto de crenças e valores individuais influenciam no entrosamento, nas posturas, como o consentimento ou o conflito, no grau de confiança depositada no outro, na harmonia e no clima organizacional; nas relações entre a escola (particularmente a direção e os professores) e os alunos (principalmente o apoio recebido, a liberdade de expressão proporcionada, a inclusão), e entre aquela e os pais de alunos (forma de diálogo e de parceria em prol do aluno). As relações sociais formais e informais não se estabelecem de maneira isolada ou separada, de alguma forma, uma pode interferir na outra. A rejeição a um candidato ao cargo de diretor, por um ou mais membros de uma escola, por exemplo, pode ser decorrente da antipatia que se tem pelo candidato, por motivos de postura ou comportamento, e não considerar a capacidade gerencial daquele. Há, ainda, a operacionalização de todas as atividades da escola, ou seja, de seus processos internos, para tanto, é necessário o estabelecimento de um projeto pedagógico para dar as diretrizes em relação aos conteúdos e ao processo ensino- aprendizagem; que haja a entrada de insumos, de mão-de-obra e de alunos oriundos do ambiente externo; que a escola tenha regulamentos e que normatize as ações internas, como o estabelecimento de horários, de carga horária e de conteúdos a serem cumpridos; que se oriente, ainda, através das normatizações governamentais; que estabeleça objetivos para a unidade escolar e se autoavalie, tanto em relação aos objetivos pretendidos versus atingidos como considerando, primordialmente, o desempenho do aluno; que controle seus gastos e participe do estabelecimento de políticas para a educação no nível governamental em que atua. 9 Espera-se de toda organização que ela apresente resultados, que no caso da escola, são alunos formados. O controle sobre o desempenho do aluno é diário e não somente por meio de instrumentos aplicados periodicamente e envolve, ainda, todo o aparato técnico e material que a escola dispõe paradar suporte ao professor nesse processo. Cada aluno que sai da escola, formado, é um resultado positivo e cada aluno que abandona a escola é um negativo, em se tratando, principalmente, da necessidade não somente de formação profissional, mas de formação humana. O aluno formado é o produto da escola. Etzioni (1967, p. 10) menciona algumas características das organizações: 1) divisões de trabalho, poder e responsabilidades de comunicação, que não são casuais ou estabelecidas pela tradição, mas planejadas intencionalmente a fim de intensificar a realização de objetivos específicos; 2) a presença de um ou mais centros de poder que controlam os esforços combinados da organização e os dirigem para seus objetivos; êsses centros de poder precisam, também, reexaminar contìnuamente a realização da organização e, quando necessário, reordenar sua estrutura, a fim de aumentar sua eficiência; 3) substituição do pessoal, isto é, as pessoas pouco satisfatórias podem ser demitidas e designadas outras pessoas para as suas tarefas. [...] As organizações possuem, portanto, um grau de planejamento consciente, centros de poder, e exercem o controle sobre sua natureza e destino, podendo mesmo, ‘excluir’ os considerados inaptos para o exercício do cargo ou função. Etzioni (1974) apresenta, até, alguns modelos de organização. As coercitivas exercem o controle coercitivo sobre os participantes, os quais se alienam no sistema, como é o caso de instituições que acolhem doentes mentais. As utilitárias controlam por meio de recompensas e por isso são consideradas calculistas, como as empresas em geral. O terceiro tipo são as normativas, e pelo próprio nome, usam o poder normativo para exercerem o controle sobre o pessoal interno, assim, o consentimento decorre da internalização de normas e diretrizes consideradas legítimas, sendo a escola inserida nessa tipologia. 10 O fato de uma escola se caracterizar como organização normativa não implica que todos os regulamentos, normas e ordens sejam aceitos por todos os seus participantes. Conforme Thompson (1976, p. 177) “[...] A organização precisa adaptar- se às ‘regras do jogo’ ou, de uma forma ou outra, negociar um conjunto revisado de regulamentos”; assim, conjetura-se que o processo administrativo requeira negociação constante no interior da escola, no sentido de tornar as pretensões internas aceitáveis e atingir seus objetivos. Por vezes, o processo administração é limitado pelas próprias barreiras internas, pois nem todo esforço individual por si só consegue fazer diferença na organização, particularmente se as ideias mais modernas forem de encontro com as ideias mais tradicionais, se métodos enraizados e ultrapassados se justaporem às inovações. Mesmo resultados de curto prazo podem se tornar ‘paliativos’ e não levar a organização a um desenvolvimento contínuo, e é o que se percebe em escolas que estão continuamente tentando dar ‘jeitinhos’ para sobreviverem às próprias exigências do sistema, além das da sociedade. Há ainda, a possibilidade de os dados quantitativos se sobreporem aos qualitativos e grupos de poder provocarem uma instabilidade interna. Tal instabilidade ‘exige’ do gestor ser saneador de problemas e buscar certo equilíbrio interno de tal maneira que as atividades possam fluir, pois conforme Thompson (1976, p. 183), “[...] Quando a base do poder é amplamente difusa e mutável, esperamos que o comportamento administrativo seja orientado pelos problemas, não agressivo, e orientado pela segurança, não inovador.[...]”, dessa maneira, é papel daquele ser um ‘mediador de conflitos’ e encontrar alternativas viáveis para manter a organização em funcionalidade. O processo administrativo requer um pouco mais de avaliação de como se manifesta no contexto organizacional. Desse modo, aborda-se a seguir algumas concepções de gestão e, consequentemente, de gestão escolar. CONCEPÇÕES DE GESTÃO E DE GESTÃO ESCOLAR Do latim gerere, a terminologia ‘gerir’ implica em “ter gerência sobre; administrar, dirigir, gerenciar, governar, regular” (MICHAELIS, 1998, p. 1029). Também decorre do latim gestione a palavra gestão, que expressa o “ato de gerir, administração, direção” (MICHAELIS, 1998, p. 1031) no contexto de qualquer tipo de 11 organização, abrangendo, por exemplo, administração de projetos, direção de pessoas, gerenciamento de recursos, governabilidade. Modelos de organização sinalizam qual o modelo de gestão adotado em uma organização, assim, Valerien (2009, p. 81) aponta os seguintes estilos de gestão possíveis de serem adotados naquela: (a) autocrático: o gestor toma para si a responsabilidade de decidir os rumos organizacionais, sendo assim, mais centralizador, o que reduz os espaços para uma participação e aumenta o grau de controle. Entretanto, é possível dar certa abertura para que o pessoal opine sobre melhorias de processos de trabalho e de desempenho organizacional. Um segundo modelo é o (b) democrático, que amplia a participação em tomadas de decisões, seja de forma direta ou por representações eleitas, em que é possível afirmar que existe autogoverno e autofiscalização em deliberações coletivas. Segundo BLAU e SCOTT (1970, p. 216) [...] A larga aceitação dos valores da democracia, no entanto, obriga os chefes a tentarem utilizar a forma democrática na administração de suas organizações. Infelizmente, somente as formas são insuficientes e o resultado é, muitas vezes uma espécie de pseudodemocracia que facilmente se degenera em um instrumento para a manipulação dos empregados. O autor chama atenção para a possibilidade de ocorrer a manipulação de modelos democráticos e advir uma pseudoparticipação na organização; entende-se, desse modo, que caracteriza, destarte, uma máquina de manobra interna em prol de interesses dúbios e para fins não muito claros, além de ‘retirar’ do indivíduo a capacidade de ser um cidadão/profissional político e intervir. Não podemos, desse modo, nos tornar analfabetos políticos e deixar que manipulem nossas ideias, nossos valores, nosso querer, nossa própria capacidade de pensar, decidir e agir. Outro modelo de gestão, denominado (c) laissez-faire, ao contrário do modelo autocrático, que emprega o controle máximo, adota o controle mínimo. A equipe de trabalho tem total liberdade para executar as atividades e o chefe se limita a fornecer dados e informações e a ser um mediador e não um direcionador e coordenador das atividades internas. 12 Aliado aos três modelos, Blau e Scott (1970) distinguem, também, dois ‘modos’ de gerir: burocrático e carismático. O modo burocrático preza pela formalidade, hierarquia de cargos, decorrente desta a autoridade, meritocracia e capacidade técnica, supondo que o exercício da função (atividades ou tarefas inerentes ao cargo) decorre do mérito e do conhecimento técnico necessário ao cumprimento dos requisitos exigidos. O modo carismático tem à sua frente um gestor preocupado com a motivação do pessoal interno, e por procurarem contato mais direto com cada um dos participantes são, por vezes, além de respeitados, ‘adorados’. Tem a postura ou comportamento como exemplo a ser seguido. Entretanto, presume-se que sejam adotados cuidados para que seja possível perceber e distinguir atos espontâneos de atos maquiados em gestores que, não fundo, não demonstram um bom desempenho ou real competência para a função. De maneira geral, os modelos e modos de gerir não se manifestam de forma pura em uma organização. É possível nos depararmos com características de mais de um deles em organizações diversas, o que também se aplica às escolas. Um diretor, em certos momentos, pode ‘chamar’ toda a escola e pais de alunos para tomar uma decisão, como pode em outros momentos envolver somente os professores, delegar certas decisões e/ou, ainda, decidir sozinho, adotando atitudesmais democráticas ou mais centralizadoras, conforme o caso. Por outro lado, ser ‘mais’ ou ‘menos’ formal, como no caso da escola pública, não depende do gestor escolar, pois a característica do sistema educacional mantido com recursos da própria sociedade por si só já ‘exige’ todo um aparato legal e obediência a princípios como legalidade, publicidade e impessoalidade, além de outros. A legalidade implica agir estritamente consoante aos ditames legais; a publicidade, salvo ressalvas legais, visa tornar os atos praticados públicos e acessíveis à sociedade, particularmente os relacionados aos usos dos recursos financeiros, desse modo, a transparência está relacionada com a publicidade de atos e decisões, por exemplo, da execução orçamentária, das licitações, aquisições de bens e serviços e demais gastos efetuados com os recursos geridos na escola. 13 Em se tratando da impessoalidade, tem como pressuposto agir conforme o que requer o cargo, obedecendo aos demais princípios e em prol da sociedade e não de maneira pessoal, visando interesses individuais ou de grupos em particular. A atuação do gestor escolar, por exemplo, necessita estar focada no interesse público, que no caso específico, trata-se dos alunos. A observância desses princípios, além de demonstrar a postura ética do gestor e respeito ao patrimônio público, é necessária para que este não incorra em risco de sofrer processo em âmbito administrativo (como por exemplo, pelo não cumprimento de sua carga horária, por descuidar do patrimônio escolar e por incorrer em desvio de finalidade na destinação dos recursos públicos), civil (como por exemplo, comprovada a infração, pode se obrigar a devolver aos cofres públicos os recursos malversados), e penal (como por exemplo, executar o pagamento por bem material não recebido e/ou por serviço não efetuado na escola). A própria Lei das Licitações e Contratações Administrativas (Lei n.º 8.666/93) tipifica condutas consideradas criminosas, e por estarem diretamente envolvidos com decisões sobre o uso de recursos, tanto o gestor escolar como o presidente da APP ou Conselho escolar podem sofrer penalidades. Fato esse que faz com que grande parte dos pais não tenha interesse em presidir associações (de pais ou mestres) ou conselhos escolares, pois além de terem que ‘ceder’ parte de seu tempo para participar de decisões da escola de seus filhos, ainda correm o risco de sofrer penalidades por atos oriundos de má interpretação, pouco ou total desconhecimento da legalidade que norteia a função. Assim, além de ser o principal responsável pelo desempenho e resultados escolares, cabe ao ‘super’ gestor supervisionar e fiscalizar ‘sua’ própria unidade escolar, procurar conhecer e orientar os participantes sobre o aparato legal que orienta as decisões e ações internas, buscar corrigir eventuais falhas em âmbito administrativo e pedagógico, visando evitar conflitos, contratempos e/ou mesmo processos disciplinares. Likert (1979, p. 124) aponta dois tipos de gestores, o de baixa e o de máxima produtividade, estabelecendo as principais diferenças entre eles. [...] os gerentes de baixa produtividade, atendo-se à prática tradicional, julgam que o meio para motivar e dirigir o comportamento é o exercício do 14 controle mediante autoridade. Organizam-se os serviços, preconizam-se métodos, determinam-se padrões, estabelecem-se metas para o desempenho e para o orçamento. A observância destes esquemas é conseguida através de pressões econômicas e hierárquicas. Os gerentes de máxima produtividade [...] aprenderam que melhores resultados podem ser conseguidos quando se emprega um processo motivacional diferente. [...] Dessa maneira, a motivação pode ter origem, por exemplo, na inserção de processos mais participativos no interior da escola, seja para estabelecer metas e organização do trabalho, seja para elaborar orçamentos e controlar o uso de recursos. A distinção entre administração e gestão, tratada por Barroso (1995), Adrião e Camargo (2001) e Salerno (2009) é de que a primeira envolve a concepção ou elaboração (aspecto teórico e mais estratégica) e a segunda a execução, o saber fazer (aspecto prático e mais operacional). Adrião e Camargo (2001, p. 75) afirmam que em nosso país o termo ‘administração’ foi o utilizado na CF/1988, a partir dos anos 90, mas que se destacou no contexto educacional brasileiro o termo gestão30, como sinônimo de administração, provavelmente para superar tecnicismo, marcado pela hierarquização e controle do trabalho por meio da gerência científica tradicional. Em se tratando da educação, conforme Gomes (2011, p. 98) Os modelos de gestão, no âmbito educacional público particularmente, se caracterizam pela pluralidade, diversidade, variação e dinamismo, de acordo com o contexto, as influências recebidas e o tempo histórico, e contribuem para descrever e interpretar a realidade [...] escolar [e] [...] de outras instâncias vinculadas à educação [...]. Nesse caso, pode envolver tanto o órgão gestor direto – a Secretaria de Educação em âmbito municipal ou estadual, como a direção de uma escola, e no tocante às políticas governamentais envolvendo o financiamento da educação e principalmente os recursos geridos na unidade escolar, a interpretação e execução das políticas, o grau de transparência e o modo como as decisões são tomadas e aceitas pode, por exemplo, expor similaridades e diferenciações entre o dizer e o fazer. 15 Decisões em Busca de Objetivos Organizacionais Os gestores, de maneira geral, tanto podem estabelecer novos rumos e formas de proceder em busca dos objetivos organizacionais como podem, simplesmente, adotar práticas tradicionais e repetir soluções já conhecidas, um ou outro caso depende tanto da ocasião como do estilo de gestão. Normalmente, as decisões têm objetivos certos, mesmos que tomadas repentinamente e sem planejamento, e, dependendo da situação, o tomador de decisão se depara com mais de uma alternativa e a escolha de uma a sobrepõe perante as demais, e o mesmo processo ocorre com os objetivos. Conforme Etzioni (1967, p. 14) “[...] O objetivo da organização é a situação futura que a organização, como uma coletividade, procura atingir [...]” e por isso sofre influência dos seus participantes. “[...] É determinado, às vezes, numa consulta pacífica, às vêzes numa luta de poder entre as várias divisões, instalações, conspirações, subordinados e ‘personalidades’ da organização”. Implica afirmar que a ‘divisão do bolo’ (recursos financeiros) e o que será atingido com ele podem se tornar motivos para conflitos internos entre grupos com interesses diferenciados. Para Thompson (1976, p. 155) os objetivos são considerados “domínios futuros pretendidos [...]”, que tanto podem estar dentro ou fora da organização. São vistos como domínio por estarem nas mãos de certas pessoas, e muitas delas podem não ter nenhuma ligação com a empresa. A escolha de um ou mais objetivos considera, geralmente, as demandas existentes no contexto de uma organização e faz com que algumas apresentem maior prioridade que outras; contudo, as ‘menos importantes’ não deixam de desempenhar determinante papel no cumprimento de objetivos maiores ou mais prementes, e assim, caso sejam desconsideras ou não contempladas podem vir a prejudicar de forma global as intenções organizacionais, e na escola, cabe ao gestor, juntamente com sua equipe de trabalho e mesmo a sociedade, estabelecer as prioridades sem deixar de observar necessidades menores, mas que agregam valor aos objetivos. É no orçamento escolar Etzioni (1967, p. 18) distingue a eficiência e a competência organizacional em relação aos seus objetivos e acentua que “[...] A eficiência real [...] é determinada na medida em que atinge seus objetivos. A competência de uma organização é medida 16 pelaquantidade de recursos utilizados para fazer uma unidade de produção [...]”. Para Thompson (1976, p. 108), “[...] a eficiência permite [...] avaliar se um determinado efeito foi obtido da maneira menos dispendiosa [...], se determinada quantidade de recursos foi aplicada de modo a alcançar os melhores resultados”, assim, enquanto Etzioni relaciona eficiência com objetivos, Thompson relaciona eficiência com dispêndio de recursos. Imaginar a escola no contexto das afirmativas supra é pressupor que sua eficiência se torna aparente quando consegue planejar o futuro e ‘encontrá-lo’ mais na frente; e para tanto, necessita de recursos que quando bem empregados, mostrarão se foi ou não competente para alcançar resultados. Compreende-se que o modo de obter tal eficiência e produtividade não se enquadra no contexto da escola pública, que depende de variáveis, por vezes, fora de seu alcance ou controle, para atingir seus objetivos. O gestor escolar tem poder discricionário bem delimitado e a gestão de um órgão ou entidade pública é peculiar, não se aplicando processos decisórios na forma como ocorrem em empresas privadas, onde o gestor tem, quase sempre, livre arbítrio para tomar decisões e fazer uso dos recursos. Ademais, os resultados escolares dependem de um conjunto de atividades desenvolvidas por seu gestor, professores e pessoal de apoio da unidade escolar que ultrapassam os limites de ‘simples’ investimentos. O desempenho da unidade escolar está atrelado ao resultado de suas ações sobre o seu produto: o aluno. Os objetivos escolares não são alcançados com aquisições de bens, de material de custeio e contratação de serviços. O aparato técnico, material e tecnológico disponível se configuram como elemento de suporte ao processo ensino-aprendizagem, requerendo avaliação no sentido de se identificar o grau de influência direta e mesmo indireta de cada um deles na formação escolar. Etzioni (1974, p. 106) distingue três tipos de metas organizacionais na relação com o consentimento, ou seja, com a anuência dos participantes em relação ao que foi estabelecido para ser alcançado. A primeira é denominada ‘de ordem’ e usa como estrutura de consentimento a coerção, inclusive para bloquear atitudes vistas como indisciplinadas. É denominada ‘meta negativa’ por priorizar ações impeditivas de certos comportamentos e não a produção de um objeto ou a oferta de um serviço. 17 A segunda meta é designada de econômica, pois tem como fins a produção de bens e/ou serviços a serem ofertados no ambiente externo, por isso apresenta uma estrutura de consentimento utilitária. A terceira é nomeada como cultural e as metas são institucionalizadas visando dar “condições necessárias para a criação e preservação de objetos simbólicos”, como é o caso das organizações educativas, que “[...] contribuem para a preservação da herança cultural, ao transmiti-la de geração a geração” (ETZIONI, 1974, p. 107). Desse modo, apresenta estrutura de consentimento normativa. As três metas têm relação direta com os modelos de organização anteriormente descritos, as coercitivas, as utilitárias e as normativas. A Constituição federal de 1988, em seu art. 206, estabelece como um dos princípios para o ensino, a gestão democrática do ensino público. Assim, as decisões e o estabelecimento de objetivos no âmbito escolar vêm se alterando e formas mais participativas, ou seja, deliberações coletivas vêm sendo adotadas, inclusive no tocante à destinação e fiscalização dos recursos financeiros e às necessidades de investimentos. Em ‘obras e produções’31 diversas, os autores fortalecem a ideia de que as decisões no domínio das unidades educativas demandam processos mais democráticos quanto às decisões sobre o destino da escola. Por ser financiada pela sociedade, a escola pública se institui para atender aos interesses da coletividade. Entretanto, conforme Thompson (1976, p. 168) [...] quando os caoses requerem ação rápida, o presidente poderá obter aprovação do corpo docente simplesmente verificando os sentimentos de meia dúzia de seus membros, cada um deles conhecido, respeitado e de confiança de um importante e diversificado segmento do corpo docente. Quer estes indivíduos ajam formalmente, como representantes eleitos ou nomeados, ou informalmente, eles estão refletindo o poder daqueles por quem falam. Representantes de classe eleitos defendem, assim, os interesses da classe que representam, mesmo que não tenha sido eleito por 100% dos participantes, o que se aplica, também, aos representantes políticos eleitos pela sociedade: defender os interesses coletivos. Não implica que tenham que representar os interesses de 18 quem os elegeu e/ou de grupos de interesse, mas de toda a categoria ou sociedade, respectivamente. Entretanto, ‘a intensidade do poder’ que separa os grupos pode nortear suas ações para interesses individuais e para o próprio grupo e/ou outros, conforme os objetivos envolvidos. Para Etzioni (1974, p. 32) o “Poder é a habilidade de um indivíduo para induzir ou influenciar outro a seguir suas diretrizes ou quaisquer outras normas por ele apoiadas”, assim, se estabelece uma relação entre quem toma decisão e/ou institui os fins a serem alcançados e o que proporciona o consentimento ou aceitação do que foi decidido. A aceitação ou não, bem como a neutralidade dos participantes da organização ante as decisões tomadas, depende, por vezes, da maneira como ‘enxergam’ a autoridade de quem as tomam. Exemplificando, para uns pode decorrer da crença de que a posição do tomador de decisão no cargo já lhe proporciona essa capacidade, faz parte da hierarquia e das formalidades próprias da organização; outros podem simplesmente alienar-se ou não, e colaborar tão somente se ‘chamados’ a fazê-lo, não se importando com a organização mas com o que pode lhe proporcionar, de certa forma, segurança. Há os que se identificam ideologicamente com o tomador de decisão e o seguem, assim como existem os que consentem por fatores externos, como o econômico, o que Etzioni (1974) denomina como participação com orientação ‘calculista’. O posicionamento de cada participante organizacional não tem a mesma intensidade, mas de estabelece num continuum, assim, sua posição ou orientação tanto pode ser positiva (engajamento) como negativa (alienação). Etzioni (1974) nomeia a participação com orientação extremamente positiva como ‘moral’ e a extremamente negativa como ‘alienativa’. Ainda sobre o exercício do poder em processos decisórios organizacionais, Etzioni (1967, p. 82) afirma que “[...] o exercício do poder tem uma importante limitação; mantém o dependente alienado quando se conforma. Conforma-se por causa de motivos mais distantes. Seu conformismo tende a limitar-se a questões explicitamente apoiadas pelo poder. Não tende a dar informações, mostrar iniciativa ou cooperar, a não ser quando explicitamente forçado a fazê-lo. Além disso, em 19 momentos de crise, quando se enfraquece a estrutura de poder da organização, tenderá a preferir, às da organização, quaisquer outras normas com que concorde. De outro lado, quando o exercício do poder é considerado legítimo pelos que a ele estão submetidos – isto é, quando as ordens dadas ou as regras estabelecidas obedecem a valores respeitados pelos subordinados – a submissão será muito mais profunda e eficiente. O subordinado “interioriza’ as regras. Considerará a disciplina menos alienadora, e continuará a seguir regras e ordens quando o poder da organização se enfraquecer ou estiver ausente.” Etzioni (1974, p. 15) explica, ainda, que “[...] O consentimento é uma relação que consiste no poder empregado pelos superiores para controlar os subordinados e a orientação destes em relação àquele poder [...]”. Salienta, ademais, que há duas combinações de características condicionantesdo estudo do poder presente na organização: estrutural e motivacional. Quando nos preocupamos como os tipos de distribuição de poder, é estrutural, mas quando nos preocupamos com o grau de compromisso de cada participante com a organização, é motivacional. Em toda organização encontram-se os que acreditam que um processo decisório pode decorrer de decisões centralizadas, ou que pode ser delegado poder a certas pessoas, estabelecendo-se a descentralização, ou ainda, que a participação direta pode ser mais genuinamente autêntica e proporcionar melhores resultados. Nas escolas é possível encontrar os três posicionamentos e até outros e consequente consentimento ou ‘de acordo’, e de fato, esses processos decisórios estão presentes, também, dentro de uma mesma unidade escolar. Crê-se, contudo, que a aceitação do poder empregado não tira dos participantes o poder próprio (os que estão sujeitos ao poder), mas que possuem, todavia, menos poder, caso contrário, decisões e ações não poderiam ser implementadas pelo fato do ‘não consentimento’, como ocorre com as decisões tomadas em associações de pais ou conselhos escolares em que comumente o diretor leva as propostas para serem votadas, em se tratando do uso dos recursos geridos na escola, e o ‘de acordo’ decorre, por vezes, da aceitação de que a direção e os professores ‘sabem’ o que é melhor para aquela. Entretanto, questiona-se: a ocorrência sistemática de 20 consentimentos não pode inibir a criatividade e maior participação de quem vem aprovando com certa efetividade? As decisões não são influenciadas somente pelos recursos de que os gestores dispõem, mas por diversos condicionantes como: conhecimento, técnica, experiência, ideologias, crenças, valores, tanto do tomador de decisão como pelos demais participantes. Quando o relacionamento entre dois ou mais indivíduos é positivo e expressivo Etzioni (1974) denomina de ‘coesão’. Etzioni (1974, p. 169-170) aponta seis tipos de concordância na organização, sendo 1. Concordância sobre valores gerais; isto é, valores que não são peculiares à organização em estudo, como valores sociais ou da comunidade, frequentemente incluindo valores básicos. [...] 2. A concordância sobre metas organizacionais; isto é, sobre o estado de coisas que a organização pretende criar. 3. A concordância sobre meios, política, ou táticas (outras que não aquelas referentes a diretrizes e sanções). A necessidade de concordância nessa esfera requer alguma explicação. [...] 4. Concordância sobre participação na organização. Os participantes dos níveis inferiores podem ser vistos como decidindo continuamente se devem ou não participar na organização. [...] 5. Concordância sobre obrigações de desempenho. Uma vez que os participantes de níveis inferiores tenham ‘decidido’ participar, ainda permanece uma indagação sobre o grau de concordância acerca das obrigações que devem ser levadas a cabo [...] 6. Concordância sobre perspectivas cognitivas. A concordância acerca de fatos, tem sido indicado com frequência, apresenta uma linguagem comum, um esquema de referência compartilhado, um conjunto de fórmulas para testes empíricos sobre o qual houve acordo. [...]” O gestor escolar depara-se diariamente com diferentes necessidades decisórias e não somente sobre recursos financeiros, como exemplo, normatizações, 21 operações, manutenção e reparos, sobre recursos pedagógicos, implementação de projetos e outras. Dada a variedade de eventos e a importância de cada um deles para a escola e desempenho e formação do aluno, os membros de uma organização ‘devem’ recusar a aceitar soluções que beneficiem individualidades e/ou grupos específicos e preferir soluções de interesse de todos os participantes. Valerien (2009, p. 80) relaciona o exercício decisório com o do poder e afirma: Qualquer processo de decisão é um jogo de exercício do poder e nele intervêm: ̶ ‘atores’, cujos papéis por vezes são distintos, os interesses e as motivações se antagonizam, os conhecimentos e a informação são desiguais; ̶ ‘um palco’, isto é, a estrutura rígida ou flexível, irracional ou funcional, hierarquizada ou aberta, onde os atores se movimentam; ̶ ‘as regras do jogo’, determinadas pelo poder relativo dos fatores humanos, sociais e políticos, através da pressão dos grupos em presença, e pela partilha fundamental dos domínios e dos meios de poder; ̶ ‘o enredo’, que se desdobra à volta das alternativas possíveis, da análise de suas consequências e de seu impacto previsível. A conduta de quem toma a responsabilidade do processo decisório para si é aspecto de suma importância para o desenrolar das ‘negociações’ e escolhas internas, particularmente se há escassez de recursos e muitas demandas, como é comum observarmos nas escolas. Valerien (2009, p. 105) chama atenção para o fato de que Alguns diretores tentam criar uma ‘aparência’ de participação do pessoal, permitindo aos professores que participem apenas em questões de caráter menor, reservando para si a exclusiva capacidade de tomar decisões importantes. [...] Em sentido oposto, há certos setores em que os professores esperam que o diretor tome sozinho as decisões, porque acham que ele é pago para isso. [...] Em síntese, uma decisão autocrática pode conduzir a uma solução que beneficie um setor ou pessoas em particular e pode ser percebida pelos participantes como ‘discriminatória’ ou mesmo ‘tendenciosa’; uma decisão sob consulta, se mal 22 conduzida, pode fazer com que pessoas e grupos influentes sejam beneficiados em detrimento de outros na hora de serem votadas as demandas; uma decisão coletiva tem mais chances de satisfazer o conjunto de interesses de forma sistêmica e em prol do todo organizacional, mas também podem aparecer grupos capazes de manipular a decisão, por influência, e ocorrer uma ‘falsa’ democracia participativa e os resultados beneficiarem àqueles; uma decisão delegada, desde que não abranja somente questões pouco significativas, possibilita que os níveis inferiores tomem para si e seu grupo de trabalho a responsabilidade sobre certas decisões, mas há, igualmente, o cuidado para que uma área não se sobreponha sobre a outra por se considerar mais importante. O GESTOR ESCOLAR E A GESTÃO DE RECURSOS NA ESCOLA Conforme o exposto anteriormente, as ‘exigências’ sobre a função de direção de escola envolvem inúmeras responsabilidades. O gestor escolar se vê na função de tomador de decisão, de saneador de conflitos, de condutor de atividades, de coordenação de pessoas. Os próprios processos internos vêm mudando sua natureza e o gestor vem se adequando a ideias mais democráticas, sentindo a necessidade de obter conhecimento sobre gestão financeira e processos participativos. Valerien (2009, p. 15), sobre a relação escola-sociedade, acentua que “[...] Os agentes locais, pais, comunidade, ou coletividade local, tornam-se ‘parceiros’ ávidos de informação: o papel do diretor enriquece-se, também, com um novo domínio, o das relações públicas”. Contudo, questiona-se: em que medida a comunidade está ávida de informação sobre a escola? O fato de não fazerem parte do corpo funcional provoca a falta de interesse de parte deles sobre a gestão da escola e consequente participação em unidades executoras? O que pode provocar o sentimento de ‘pertencimento’? Tomemos Teixeira (1936, p. 247) para reafirmar a importância da escola para a sociedade: “[...] Nenhum systema escolar se pôde organizar se o povo não tiver visão social suficientemente larga e ampla, para perceber que a escola é, por excelência, o instrumento da conquista e defesa de seus direitos essenciais”. Compreende-se que essa importância advém não somente da necessidade de formação de crianças, jovens e adultos para assumirem profissões futuras e se 23 desenvolverem enquanto seres humanos,mas pela possibilidade de emancipação que o conhecimento pode proporcionar, tornando-os seres políticos. Teixeira (1936, p. 253) disserta, ainda, sobre as diferentes importâncias que a escola pode representar para os indivíduos, Para muitos, a escola é, apenas, o instrumento de iniciação alfabética, tudo mais devendo ser entregue ao laissez-aller da sociedade pseudo-individualista do século XIX. Para outros, a escola é o instrumento de preparar os homens para as ocupações industriais, sem buscar mais do que torná-los eficientes economicamente. Para poucos, ainda, dos que dirigem a sociedade, mas para todos os que sofrem de limitações sociais e econômicas, a escola deve ser o instrumento de formação econômica e social do homem, para a livre expansão dos seus valores individuais. [...] O produto da escola, o aluno, passa, crê-se, por uma transformação e desenvolvimento contínuo. A ‘escola’ muda posturas, comportamentos, formas de ver o mundo, subsidia para fortalecer ou mesmo transformá-lo no ser político, crítico, com preocupações mais humanas e menos econômicas, mais coletivas e menos individualistas, o que potencializa mais ainda a responsabilidade de professores e diretores escolares sobre aquele. Desse modo, conforme exposições anteriores, o modelo de gestão escolar adotado têm influência direta no processo ensino-aprendizagem e consequente formação do aluno e Paro (2010, p. 16) apresenta contrapontos de dois modelos de gestão escolar, um baseado nos princípios gerais de Administração e outro no espontaneísmo. [...] os métodos e técnicas administrativos utilizados nas mais diversas organizações são todos semelhantes entre si, na medida em que se baseiam nos mesmos princípios gerais de Administração. [...] [pauta-se] “na consecução de seus objetivos, por procedimentos administrativos análogos àqueles que tanto êxito alcançam na situação empresarial. A segunda posição opõe-se de forma radical a essa concepção empresarial, colocando-se contra todo tipo de administração ou tentativa de organização burocrática da escola. [...] A escola, assim, só será uma organização humana e democrática na medida em que a fonte desse autoritarismo, que ela identifica como sendo a administração (ou a burocracia, que é o termo que os adeptos dessa visão 24 preferem utilizar), for substituída pelo espontaneísmo e pela ausência de todo tipo de autoritarismo ou hierarquia nas relações vigentes na escola. Expõe, dessa maneira, que um modelo é baseado nos princípios gerais de administração, portanto, traz aspectos inerentes à iniciativa privada para o interior da entidade pública, enquanto o outro situa a democracia como ‘remédio’ contra o aparato burocrático que norteia a escola. Assim, o autor sugere ou propõe um terceiro modelo, “[...] uma Administração Escolar voltada para a transformação social” (PARO, 2010, p. 17) e dá a seguinte explicação: [...] A atividade administrativa não se dá no vazio, mas em condições históricas determinadas para atender a necessidades e interesses de pessoas e grupos. [...] A administração escolar está, assim, organicamente ligada à totalidade social, onde ela se realiza e exerce sua ação e onde, ao mesmo tempo, encontra as fontes de seus condicionantes [...] (Paro, 2010, p. 18) O autor sugere uma superação de grupos dominados por meio da educação, pois acredita que “[...] o verdadeiro sentido de uma racionalidade [...] implica necessariamente a análise dos objetivos e sua articulação com os interesses sociais globais” (PARO, 2010, p. 153); e a ação educativa tem a capacidade de proporcionar e provocar o interesse dos indivíduos sobre assuntos dantes não ‘enxergados’. Retomando sobre a posição do diretor escolar, seja com a denominação de líder, gestor ou outras, o papel que assume na formação do aluno é perceptível na medida em que [...] não pode ser visto hoje como mero aplicador de leis ou provedor de recursos matérias para a escola, deve antes ser pensado como o criador de novas atitudes, o estimulador do progresso e o mediador na solução de problemas e dificuldades dos vários elementos da escola. O equilíbrio da organização escolar deve ser o objetivo máximo da ação administrativa do diretor. Para tanto, deve preocupar-se com os aspectos materiais da organização e do funcionamento da escola, e com os aspectos psicológicos e sociais que asseguram uma melhor condição de trabalho aos professores e maior aproveitamento para os alunos. Manter um clima de harmonia e participação entre esses elementos é condição para assegurar a eficiência do trabalho educativo [...] (Alonso, 1976, p. 154-155). 25 Mais que obter sucesso pessoal ou realização profissional, alcançar resultados por meio do que dispõe e das pessoas é o grande desafio do gestor escolar. Nem sempre a escola é considerada ‘perfeita’ para receber e formar pessoas e mesmo as famílias dos alunos requerem intervenção no sentido de dar suporte à escola na formação de seus filhos, e vice versa. Assim, Ribeiro (1978, p. 16-17) expõe: [...] Qualquer família pode mandar seus filhos à escola e, além disso, em condições de bom funcionamento, a escola deve (e de fato o faz) ir buscar os alunos onde estiverem, sempre que não venham a ela por iniciativa própria ou de seus responsáveis. [...] as condições da vida moderna estão exigindo, cada vez mais, mais numerosos e complicados cuidados com a formação das gerações novas e isso exige dos pais conhecimentos que não têm e providências que, em sua maioria, não sabem e, mesmo quando o sabem, não podem tomar. Os profissionais do ensino, sentindo-o (principalmente porque tais providências importam muito para o rendimento do trabalho das atividades específicas), foram assumindo essas responsabilidades por delegação tácita ou explícita, ou, em muitos casos, por usurpação consentida ou não das mesmas famílias. A condição da escola exposta por Ribeiro retrata o que ainda ocorre no cotidiano de grande parte delas. A família exerce papel primordial na manutenção do aluno no interior da escola e quando se ‘omite’ a dar suporte, educadores escolares se dirigem até suas residências para tentar ‘resgatar’ o aluno de volta para o espaço escolar. Ainda sobre a questão dos objetivos escolares, Ribeiro (1978) aponta dois objetivos da ‘administração escolar’ e cita a unidade e a economia. A unidade pode sofrer interferência da intensidade da divisão do trabalho em seu interior e o autor atenta para sua manutenção, a fim de garantir, por exemplo, a não dispersão de esforços e de ideias. A economia refere-se aos recursos e salienta: [...] insignificantes desperdícios e desvios de cada um [dos que atuam simultaneamente na escola] podem resultar em prejuízos incalculáveis. [...] [...] no campo da Administração Escolar, [...] o problema da economia envolve um novo elemento – o da satisfação do professor na situação de trabalho. [...] a preparação dos meios que garantam ao professor a satisfação pessoal na situação de trabalho [...] (RIBEIRO, 1978, p. 98-99) 26 Likert (1979, p. 19) assinala que estudos realizados nos anos 40, em empresas industriais, apontavam para o uso de medições ou métodos quantitativos: “[...] Já se dispõe de pesquisas quantitativamente rigorosas para substituir os métodos mais primitivos dantes empregados. [...] os métodos de análise estatística e matemática são alguns dos instrumentos mais úteis em tais pesquisas”. O autor afirma que havia pesquisas dessa natureza, envolvendo, dentre outras variáveis, ‘custos’. Medidas quantitativas é uma realidade dentro das escolas, mesmo envolvendo a aprendizagem de alunos. Afinal, cada aluno é um número diante do MEC e em benefício daquelas, que por vezes enxergam em cada um deles mais dinheiro na escola. Visando sintetizar as principais funções de um gestor escolar, Valerien (2009) cita um rol de variáveisdenominadas ‘domínios precisos de intervenção do diretor’, dentre as quais destacam-se: participação na Associação de Pais e Mestres, Conselho de Escola ou outra unidade com objetivo semelhante; observação da avaliação do rendimento escolar; forma de gestão da escola; manutenção das instalações; aquisição e suprimento de material didático; elaboração do Regimento da escola; relações escola-pais, com a administração superior e com a comunidade e reunião do corpo docente. O rol de ‘obrigações’ inerentes ao gestor requer recursos (financeiros e materiais) que muitas vezes não tem controle, como os geridos diretamente na secretaria de educação, por exemplo, e ainda o envolvimento dos profissionais da educação. Teixeira (1936, p. 246) fazendo referência do Distrito Federal, já apontava para a necessidade da elaboração orçamentária distinguindo os tipos de usos dos recursos: “[...] o que é mais grave, não se distinguiram nos orçamentos as verbas para custeio do serviço, das verbas para a realização de obras novas. Esse o defeito mais importante do financiamento da educação pública, no Brasil”. Mais recentemente, as escolas vêm recebendo recursos diretamente, com clara definição de uso, se para custeio ou aquisição de bens (capital). O autor, retratando sobre a criança fora da escola, ainda no Distrito Federal, sugeriu que “[...] o critério de uma determinada quantia por criança escolar recenseada seria o mais corajoso [...]” (TEIXEIRA, 1936, p. 250). Assim, as ideias de 27 valor-aluno e recenseamento escolar vêm, há certo tempo, sendo recomendadas para melhorar o desempenho escolar. CHAIA (1965, p. 83) afirma que “Na sessão de 21 de agosto de 1882, Rodolfo Dantas32 apresenta o projeto nº. 202 sobre a ‘Criação de um fundo escolar para ser aplicado ao desenvolvimento da instrução popular’.” Menciona ainda que o § 4.º do art. 2.º do citado projeto expõe que: O produto dessa contribuição não se poderá empregar no simples custeio das escolas existentes, mas se reservará para melhoramento das atuais, especialmente para a criação de outras, aquisição de mobília e material técnico e construção de novas casas escolares (CHAIA, 1965, p. 84). A preocupação com as condições materiais e estruturais das escolas é praticamente ‘histórica’ e ainda são necessárias muitas intervenções para que possam atender certos requisitos mínimos de atendimento. Também se encontra em Lourenço Filho (1976, p. 199) referência sobre o assunto: “Vários países têm experimentado estabelecer fundos gerais de educação, ou, ao menos, fundos especiais para certos ramos de ensino, ou para as despesas de investimento, as de construção e equipamento escolar, em especial”. E mais adiante expõe uma realidade que ainda é ‘real’ na atualidade. No que toca aos serviços do ensino, edifícios escolares têm que ser construídos e equipados, os mestres preparados e, quando em serviço, devidamente remunerados. Em grande número de casos, será preciso dar assistência a muitos grupos de alunos, a fim de que o princípio de iguais oportunidades educativas possa vigorar. Para a que as escolas venham cumprir suas funções com inteireza, são necessários diretores, inspetores, especialistas em assistência técnica, controle e pesquisa, que os integrem em empreendimentos mais vastos, ou seja, nos sistemas públicos de educação. Tudo exige despesas consideráveis (LOURENÇO FILHO, 1976, p. 186). A falta de materiais, profissionais, equipamentos e mesmo serviços básicos de manutenção ainda hoje são desafios que ‘obrigam’ gestores escolares e seu grupo de trabalho usar da criatividade e certas habilidades para sanar os problemas de ordem econômico-financeira. 28 A gestão da escola requer a entrada de recursos financeiros que se configuram como ‘receitas’, já os dispêndios ou saídas são comumente denominados ‘despesas’. Lourenço Filho (1976, p. 191) disserta sobre o significado de finanças públicas e afirma que [...] Em sentido técnico, aplicável aos serviços coletivos, a expressão Finanças públicas designa a parte dos estudos econômicos que, no âmbito das atividades governamentais, trata dos princípios e normas que dizem respeito à receita e à despesa pública, ao equilíbrio entre ambas e, afinal, ao crédito público. Encontram-se em planos e projetos da escola as suas intenções de gastos, os quais são consolidados no orçamento. Mas não é comum nos depararmos com o planejamento de dispêndios em escolas, mesmo recebendo recursos diretamente. Normalmente as organizações traçam objetivos mais amplos, denominados ‘gerais’, que são desmembrados em objetivos específicos antes de serem operacionalizados. Como a escola pública sempre foi uma unidade muito mais de execução que de planejamento, que sempre ficou a cargo de instâncias maiores, a falta de vivência com aspectos administrativos dessa natureza pode justificar a não previsão orçamentária, assim, recomenda-se, nas considerações finais, passos para um processo de planejamento e elaboração orçamentária na escola e a interligação com o da Secretaria de Educação. Os recursos financeiros dão suporte aos serviços escolares (todas as ferramentas que podem dar suporte ao processo de formação contínua do aluno diretamente na escola) e educacionais (todas as ferramentas que podem dar suporte ao processo de formação contínua do aluno, ainda que não estejam ligadas diretamente à escola). Tanto a escola em si requer limpeza, manutenção, conservação, vigilância, como ainda tem que atender aos professores e alunos no processo de ensino- aprendizagem com materiais pedagógicos e de apoio e os denominados de consumo. Por outro lado, aspectos culturais (conhecimento histórico-cultural) também podem ser trabalhados e transmitidos por meio da arte e de ferramentas como bibliotecas e museus públicos, estruturas desportivas, parques, zoológicos, rádio, cinema, televisão. Ofertar somente serviços escolares pode se redundar em somente 29 vislumbrar o interior da escola para a transmissão e produção do conhecimento e consequente formação do aluno, que por sinal abrange aspectos humanos (como respeito, gentileza, tolerância, atitudes positivas), profissionais, ligados ao mercado de trabalho, socioeconômicos, culturais, dentre outros. Sugere-se que todo sistema de ensino estabeleça um padrão mínimo de estrutura física da escola para servir de referência e para que cada uma delas não trabalhe de forma isolada, como vem ocorrendo, mas que tenham um guia do desejável para manter um nível mínimo de qualidade no tocante à estruturação de bens de capital, da mesma forma, estabelecer os materiais de custeio que darão suporte às atividades que serão realizadas, pois são essenciais para a funcionalidade plena das operações diárias. Crê-se que o estabelecimento de um padrão mínimo em qualquer esfera governamental para o sistema de ensino sob sua responsabilidade pode trazer melhores resultados globais que se realizado por escola, de forma isolada. O que se percebe, por vezes, são gestores escolares atuando em ‘suas’ escolas, com seu grupo, como se cada uma delas fosse concorrente da outra, mesmo fazendo parte de um mesmo sistema, sendo tais atitudes provocadas, de certa maneira, pelos sistemas avaliativos. Tais posturas podem causar um processo de exclusão tanto a certas escolas, como a seus alunos e formadores, ao serem equiparados com unidades que se sobressaem em seu desempenho, como em relação ao IDEB, por exemplo. Não se considera equilibrado um sistema em que certas unidades de ensino são ‘punidas’ por ele próprio e por pais de alunos que veem a escola como proporcionadora de ensino de baixa qualidade, as excluindo com o próprio processo de retirada de seus filhos da unidade escolar. Ademais, os resultados provocam um processo de ‘exclusão’ na sociedade em geral e mercado, quando o produto da escolaé considerado ‘incompetente’ porque ‘ela não foi competente para produzir bons resultados’. Não podemos, ainda, vislumbrar justeza quando alunos são inseridos em sistemas escolares seriamente precários, pois não basta a denominação ‘escola’, não basta a matrícula e a frequência para se estabelecer a relação ensino-aprendizagem. Antes, conjetura-se que as condições de trabalho do pessoal ligado à educação 30 escolar é prioridade para que o aluno tenha um processo formativo com qualidade mínima e que necessita ser estabelecida em nível de sistema, preferencialmente de forma democrática, com a participação de todas as áreas ligadas à educação, sendo que as despesas têm que ter como finalidade única o ‘aluno’. Conforme já explanado, os objetivos na escola seguem diretrizes mais gerais que fogem ao controle do diretor gestor, pois são objetivos a serem medidos a partir do desempenho do aluno e não sobre as aquisições materiais, embora sirvam para dar suporte aos objetivos educativos. A escola está, portanto, atrelada a fenômenos externos, a requisitos não criados por ela, assim, as ações do gestor não se configuram como atividades técnicas tão somente, mas como um agente (exige-se) que ‘deve’ levar a escola a ter comportamento estratégico, ou seja, ser competitiva (?) frente a outras, obtendo os melhores resultados quantitativos em termos de avaliações, atingindo objetivos que, por vezes, até desconhece a finalidade. 31 REFERÊNCIAS ADRIÃO Theresa; CAMARGO, Rubens Barbosa de. A gestão democrática na Constituição Federal de 1988. In: OLIVEIRA, Romualdo Portela de, ADRIÃO, Theresa (Orgs.). Gestão, financiamento e direito à educação: análise da LDB e da Constituição Federal. 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