Buscar

O cinema clássico e o moderno

Prévia do material em texto

O cinema clássico e o moderno 
 Durante as primeiras décadas do século XX, a linguagem do cinema foi 
explorada e aprimorada. Nessa época, foi estabelecida uma estrutura narrativa 
que, posteriormente, se tornou hegemônica: o cinema clássico. O cinema 
clássico caracteriza-se pela estrutura narrativa linear, pelo desenvolvimento 
explícito das personagens e da trama, com começo, meio e fim, e por fazer com 
que o espectador tenha uma impressão de realidade. 
 
O CINEMA CLÁSSICO 
 Uma obra clássica tende a possuir um roteiro padrão e industrial, com 
doses bem-estabelecidas em suas situações de tensão e relaxamento. A 
intenção do cinema clássico é envolver o espectador e fazê-lo acreditar que a 
estória contada é “real”, eliminando-se as lacunas causadas pelo corte da edição 
e transmitindo a sensação de tempo. Os fatos apresentados na tela não 
precisam essencialmente ser verdadeiros, mas necessitam ser fiéis e “realistas” 
com a linha narrativa ficcional que está sendo mostrada ao público. 
 O cinema clássico possui uma curva dramática caracterizada por um 
começo, um meio e um fim bem-definidos, e sua segmentação respeita a 
distinção por blocos, estabelecendo uma divisão em etapas que permite uma 
visão clara dos acontecimentos narrativos, privilegiando-se uma tríade linear, 
que determina pontos distintos em um filme. 
 Essa tríade é definida pelo início da obra, quando as personagens são 
apresentadas, e os protagonistas e seus respectivos antagonistas são 
destacados, momento em que o problema principal é apresentado e também é 
quando surge o conflito; pelo desenvolvimento da trama, etapa que faz a ligação 
entre o início e o fim do filme, sempre desenvolvida numa linha ascendente, tal 
etapa também pode ser chamada crise; e pelo desenlace, que não é 
necessariamente o fim da obra, mas o ponto de virada da narrativa, o momento 
em que as decisões são tomadas, e os problemas começam a ser resolvidos. 
 No desenlace, o grande motivo da crise torna-se claro, e a objetividade 
para a resolução desse é evidenciada. Uma das características principais do 
cinema clássico é manter o suspense da sua linha narrativa e retardar ao máximo 
a resolução da questão primordial ao filme. 
ZANI, R. Cinema e narrativas: uma incursão em suas características clássicas e modernas. Conexão – Comunicação e 
Cultura (UCS), Caxias do Sul, v. 8, n. 15, jan./jun. 2009. 
 
 
 A partir dos anos 1940, alguns diretores passaram a explorar outras 
estruturas narrativas, dando origem ao cinema moderno. 
 
O CINEMA MODERNO 
 No cinema moderno, não existe uma obrigatoriedade com relação à 
legibilidade da narrativa ou da progressão dramática. A trama não precisa 
transmitir sentidos e pode ser desenvolvida através de hipóteses, de sugestões 
e com um desenrolar cênico aleatório. O texto, a imagem e o som não precisam 
seguir uma linearidade; podem estar em conflito ou em contraponto com a 
imagem. Os sons podem, perfeitamente, estar fora de sincronia com as imagens 
sem que haja um motivo para isso, podendo haver critérios diferenciados na 
construção das imagens, dos sons e dos textos. A narrativa moderna rompe com 
a harmonia do jogo para causar estranhamentos em quem está acostumado com 
as regras do cinema clássico. 
 
ZANI, R. Cinema e narrativas: uma incursão em suas características clássicas e modernas. Conexão – Comunicação e 
Cultura (UCS), Caxias do Sul, v. 8, n. 15, jan./jun. 2009. 
 
 
CINEMA CLÁSSICO × CINEMA MODERNO 
 [...] Qual seria, então, a maior diferença entre o cinema clássico e o 
cinema moderno? Possivelmente a liberdade de se reinventar, de quebrar 
supostas regras a favor de experiências múltiplas e, talvez, mais íntimas. 
Enquanto o cinema clássico buscava, majoritariamente, envolver o espectador 
em um universo mágico e fantástico, o cinema moderno surgiu com 
preocupações mais profundas, como refletir sobre sua própria natureza e seu 
papel social, até mesmo convidando o espectador a meditar sobre o processo 
durante a sessão. Essas subversões propunham uma ruptura do fluxo que era 
“vendido” pelo cinema clássico, cujo objetivo seria criar uma ilusão à qual o 
público deveria se entregar completamente. 
 Vale ressaltar que um tipo de cinema não desmerece o outro. Todos os 
momentos cinematográficos possuem seu lugar na história e foram motivados 
por circunstâncias externas – políticas, econômicas, sociais ou culturais. O 
repertório dos espectadores contemporâneos é composto de uma série de filmes 
considerados clássicos, obras de extrema maestria em sua composição 
narrativa e estética. 
 
Para saber mais (ou por onde começar) 
 Segundo Marcelo Müller, entre os maiores representantes do cinema 
clássico está o diretor norte-americano que ajudou a moldar o gênero western, 
John Ford, de No Tempo das Diligências (1939). Já o alemão radicado nos 
Estados Unidos Ernst Lubitsch, de Ladrão de Alcova (1932), foi um verdadeiro 
mestre da comédia sofisticada. Outra figura emblemática foi Alfred Hitchcock, 
com seu longa Os 39 Degraus (1935), que transitou entre o clássico e o 
moderno. Douglas Sirk, de Palavras ao Vento (1956), é considerado o grande 
diretor do melodrama cinematográfico. Saindo das produções hollywoodianas, o 
cineasta japonês Akira Kurosawa, de Os Sete Samurais (1954), também pode 
ser citado como um exemplo do cinema clássico. A lista de grandes cineastas é 
extensa, não podendo faltar o nome de Charles Chaplin, de Tempos 
Modernos (1936), possivelmente o maior de todos os clássicos. 
 Já entre os destaques do cinema moderno estão os cineastas Orson 
Welles, de Cidadão Kane (1941), que é também considerado por muitos como 
um clássico; John Cassavettes, de Sombras (1958); François Truffaut, de Os 
Incompreendidos (1959); Jean-Luc Godard, de Acossado (1960); Federico 
Fellini, de A Doce Vida (1960); Nelson Pereira dos Santos, de Vidas 
Secas (1963); Glauber Rocha, de Deus e o Diabo na Terra do Sol (1964); Pier 
Paolo Pasolini, de Teorema (1968); Luis Buñuel, de O Discreto Charme da 
Burguesia (1972); Ingmar Bergman, de Gritos e Sussurros (1972); Francis Ford 
Coppola, de O Poderoso Chefão (1972); Martin Scorsese, de Taxi Driver (1976); 
Roman Polanski, de O Inquilino (1976); Woody Allen, de Noivo Neurótico, Noiva 
Nervosa (1977); Abbas Kiarostami, de Close-up (1990); e Claire Denis, de Bom 
Trabalho (1999). “A lista é infindável”, declara o professor. 
KREUTZ, Katia. As diferenças entre cinema clássico e moderno. Academia Internacional de Cinema. Disponível 
em: http://sieduc.digital/UmC7P. Acesso em: nov. 2020. (Conteúdo criado para a Academia Internacional de Cinema.) 
http://sieduc.digital/UmC7P

Continue navegando