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Metalografia Paulo Henrique Alves dos Reis Engenharia de Energia Faculdade UnB Gama Brasília, Brasil paulohenrirque@gmail.com Resumo—Este laboratório trata fundamentalmente da técnica de preparação de corpos de prova, e tem o intuito de fornecer uma síntese dos conhecimentos básicos da técnica de preparação de amostras metalo- gráficas, bem como ensinamentos básicos indispensá- veis. Procurou-se abordar preferencialmente os proce- dimentos com aplicação mais difundida, acrescentando- se uma rápida abordagem sobre os conceitos do sistema óptico aplicados na metalografia. Palavras-chave—metalografia, corpo de prova, poli- triz, polimento, alumina. I. Introdução O lixamento da amostra é uma etapa muito importante na preparação do corpo de prova, pois nesta fase as danifi- cações (normalmente deformação) provocadas na amostra durante o corte devem ser retiradas. Se não for possível retirar a região danificada, deve-se seccionar a amostra novamente com um cortador adequado. O processo visa a remoção dos sulcos e riscos pro- venientes do desbaste do metal e a realização de uma superfície plana cuja profundidade de deformação seja suficientemente fina que permita seu desaparecimento após a posterior operação de polimento. Para facilitar o lixa- mento, utilizam-se lixadeiras fixas ou lixadeiras elétricas rotativas. A lixa também danifica a superfície da amostra embutida e esses ricos devem ser retirados com as lixas subsequentes. A sequência de lixas depende de como se encontra a superfície. Normalmente, usa-se a seguinte sequência: 80 - 120-240-320-400-600 e 1200 mesh, para o caso de superfície áspera cortada com serra fita. No caso de superfícies cortadas com discos abrasivos, inicia-se com a lixa 120. Para superfícies cortadas com baixa velocidade de corte (Isomet) e onde a superfície se encontra menos danificada, inicia-se com uma lixa de granulação mais fina, no caso a lixa 320 [1]. Para minimizar o aquecimento, normalmente o lixa- mento é realizado com água. O lixamento com líquido também minimiza o empastamento, ficando o abrasivo em melhor contato com a amostra (melhor distribuído), sendo que o líquido refrigerante mais usado é a água. No caso do material reagir com a água, usa-se outro refrigerante como a querosene ou outro líquido. O lixamento a seco é pouco usado. O líquido também ajuda a remover partículas de abrasivo que podem ficar aderidas na superfície da peça. Estas partículas podem se confundir com inclusões não metálicas. Durante o lixamento, a superfície deve ser girada 90 cada vez que se muda de lixa. Quando lixadas manualmente, deve-se observar a superfície em cada etapa para que não fiquem ricos de lixa anterior [2]. A. Lixadeiras O lixamento metalográfico utiliza-se de aparelhagem fixa ou lixadeiras elétricas rotativas. O lixamento grosseiro é normalmente feito em lixadeiras fixas. No entanto a maioria dos metalógrafos preferem as lixadeiras giratórias através de motor. O uso de lixadeiras automáticas está ficando mais popular. As vantagens são que o processo de lixamento não se torna tão tedioso, produzem melhor retenção dos cantos e as amostras são mais planas e retém melhor as inclusões e nódulos de grafite. O uso de lixa- deiras automáticas não requer operador com experiência e existe uma boa reprodutibilidade. O uso de lixadeiras automáticas permite que se possa reproduzir em todas as amostras a mesma pressão usada. Já no lixamento à mão é mais difícil de manter sempre a mesma pressão. Além disso cada vez que se retira a amostra da lixa para examinar a superfície, corre-se o risco de causar curvaturas na superfície se a mesma não for recolocada com cuidado. As lixadeiras fixas para a operação úmida possuem uma inclinação de aproximadamente 20º para facilitar a retirada do material removido da superfície do metal, do resíduo da resina de embutimento em suspensão e do abrasivo solto pela lixa através do fluxo de água. Figura 1: Lixadeira fixa para operação a úmido. As lixadeiras elétricas rotativas consistem de unidades simples ou múltiplas. Este aparelho, de concepção bastante simples, consiste de um prato circular com a superfície usinada, encaixado sobre o eixo cônico do motor. Normal- mente as lixadeiras possuem velocidade de 300 a 600 rpm (a maioria possui 2 velocidades). Figura 2: Politriz automática. B. Lixamento Mecânico Rotativo O lixamento mecânico rotativo possui a indiscutível vantagem de preparar rapidamente o corpo de prova. A maior razão de corte na politriz é obtida unto da periferia do prato e não nas partes internas do disco. Ao posicionar o corpo de prova sobre o disco de lixamento ter-se-á o cuidado de segurá-lo no mesmo lugar com leve pressão. O lixamento mecânico rotativo não requer mais de 1 minuto em cada lixa, qualquer que seja o material da amostra trabalhada. A pressão usada deve ser moderada e firme. Se a pressão aplicada for muito elevada irá provocar a aderência de partículas de SiC (carbeto de silício). Segue- se com as usuais mudanças do sentido de lixamento (90º) até a lixa final. A técnica de preparação solicita fluxo de água maior do que aquele empregado no processo manual, porém o suficiente para remover o pó, haja vista que se for colocada água em excesso, corre-se o risco da lixa descolar do prato. A boa lavagem do corpo de prova entre a utilização das lixas é indispensável. É importante cada vez que se muda de lixa lavar bem a amostra e as mãos, para evitar que grãos de uma lixa contaminem a outra. Às vezes é até necessário fazer um ultrassom, principalmente em amostras porosas [3], [4]. Figura 3: Aspecto do acabamento da superfície lixada nos papéis abrasivos nº 220,320, 400 e 600 respectivamente. Aumento: 100 X. C. Tipos de Lixas Existe uma grande variedade de lixas: as cobertas com carbeto de silício (SiC), óxido de alumínio, adiamantadas e de carbeto de boro. As partículas de abrasivo são aderidas em papel ou poro, que possuem a forma de folhas, discos, fitas, etc., em diferentes tamanhos. As lixas de SiC são as mais usadas, devido à sua elevada dureza, baixo custo e excelente corte. A profundidade do corte depende do tamanho da partícula. As lixas de óxido de alumínio (Al2O3) não são tão usadas quanto as de SiC, mas também possuem características semelhantes. A dureza das partí- culas é menor (9,1 Mohs) e por isso é usada para lixar materiais mais moles [5], [6] II. Material necessário ∗ amostra a observar; ∗ serra; ∗ lixas; ∗ mesa de polimento; ∗ polidora rotativa; ∗ panos de polimento; ∗ algodão; ∗ detergente; ∗ pasta de alumina AP-N; ∗ álcool; ∗ nital a 3%; ∗ pinças; ∗ vidro de relógio; ∗ secador; ∗ microscópio. III. Polimento A finalidade do polimento é obter uma superfície plana, livre de riscos e com alta refletividade. Rotineiramente não é necessário que a superfície esteja totalmente isenta de riscos, mas estes riscos não devem atrapalhar o exame da amostra. No entanto, quando se deseja tirar uma fotomi- crografia da amostra a mesma não deve conter nenhum risco. Inicialmente, recomenda-se a limpeza como condição essencial ao bom procedimento, acrescido de uma boa dose de paciência e cuidado. Os panos de polimento, por exemplo, quando não em uso deverão estar guardados em lugar apropriado, sendo o seu uso restrito aos materiais indicados. Em hipótese alguma poderíamos polir uma liga de cobre em pano utilizado no polimento de uma cerâmica, por exemplo. Observações importantes: ⋄ Em amostras porosas (sinterizadas), antes de iniciar a etapa de polimento é importante fazer uma lim- peza com ultrassom para remover qualquer partícula que tenha ficado retida nos poros proveniente do lixamento. O mesmo procedimento deve ser repetido entre as diversas etapas do polimento, para que as partículas mais grossas do polimento anterior não contaminem o pano seguinte com abrasivo mais fino; ⋄ O polimento deve ser realizado num ambiente sem pó, de preferência separado da área de corte e lixamento; ⋄ No polimento, tanto a amostra quanto as mãos do polidor devem ser bem lavadas entre cada estágio. A. Polimento MecânicoManual Utiliza-se de politrizes circulares contendo pratos metá- licos ou material plástico cobertos por tecidos especiais secos ou umedecidos por soluções polidoras aquosas ou oleosas. A velocidade do polimento depende do agente polidor usado. Normalmente a velocidade fica entre 50 a 800 rpm. Entretanto, velocidades de 1750 rpm têm sido usadas para alguns metais. Uma grande vantagem das politrizes automáticas é a produção de superfícies bastante planas, assim como evitam a formação de caudas de cometa. Figura 4: Politriz metalográfica. B. Execução do Polimento Mecânico Manual O polimento pode ser dividido basicamente em duas eta- pas: polimento grosseiro e refinado. No polimento grosseiro usam-se abrasivos na faixa de 30 a 3 µm e no refinado abrasivo menor ou igual a 1 µm. O pano usado para o polimento grosseiro é um pano sem pêlos ou com pêlos curtos, já para o polimento com abrasivo fino usa-se pano de pêlos médios ou altos. Instruções: Deve-se iniciar o polimento com moderada a elevada pres- são e ir reduzindo a pressão à medida que for polindo. Alguns metalurgistas preferem terminar o polimento com a politriz parada, descrevendo um 8 com a amostra ou movendo-a circularmente; A amostra deve ficar girando em sentido contrário à rotação do prato da politriz, para evitar que se formem as “caudas de cometa” (descritas com detalhes em “Defeitos Resultantes do Polimento”); C. Agentes Polidores Os agentes polidores ideais para a metalografia são aqueles cujas partículas possuem elevada dureza. Elas deverão, mesmo após fragmentadas, possuir suficientes cantos vivos para cortar a superfície metálica do corpo de prova. Durante o polimento, as partículas de elevada fragmentação perdem as suas arestas de corte, não sendo portanto apropriadas para o polimento. Tais partículas causam deformação à frio na superfície da amostra. Desta forma, para retirar a deformação à frio que pode ocorrer durante a preparação, recomenda-se alternar o polimento e ataque, por várias vezes. Os agentes mais empregados no polimento metalográfico são pó de diamante em suspensão sob a forma de pasta e a alumina. D. Pasta De Diamante Este abrasivo é o que mais se aproxima da condição ideal para o polimento metalográfico. Apesar de ser mais caro que os outros polidores, os metalurgistas o preferem, pois o resultado obtido é melhor e o tempo gasto no polimento é bem menor. O abrasivo de diamante é também o preferido para o polimento grosseiro. As propriedades de dureza, homogeneidade, elevada resistência à fragmentação e ação anti-oxidante caracterizam este agente polidor. Devido à extrema dureza do diamante, o mesmo é indispensável no polimento de materiais duros tais como metal duro, carbetos e cerâmicas. Mas ele também é muito bom para o polimento de materiais moles. A pasta (aglomerante) misturada às partículas, mantém em suspensão as partícu- las e regula a concentração do agente, permitindo efetuar cortes uniformes por toda a extensão da superfície do corpo de prova. Normalmente este agente é comercializado em recipientes de seringas plásticas [7]. Figura 5: Seringas plásticas dosadoras com pasta de dia- mante para o polimento metalográfico. E. Ataque Presentemente usa-se com exclusividade a alumina no estado levigado. A levigação consiste no tratamento e decantação com água cristalina, sendo o produto um finíssimo pó de alta qualidade. Com o uso da alumina levigada obtémse melhor acabamento superficial no po- limento. A dureza das partículas de alumina é de 9 na escala Mohs. O lubrificante utilizado com a alumina é a água destilada que deve ser empregada abundantemente. A falta de lubrificação adequada provoca o engastamento da alumina na superfície do corpo de prova, tornando difícil a sua remoção no polimento subseqüente. IV. Ataque A superfície do metal polido corretamente reflete a luz de forma homogênea e não permite distinguir os micro- constituintes de sua estrutura. Para a revelação da estru- tura torna-se necessário atacar a superfície previamente polida com soluções reativas apropriadas. Uma superfície polida pode ser observada no microscópio ótico sem ne- cessidade de ataque desde que o polimento revele detalhes que apresentem 10% de diferença em refletividade da luz. Isto acontece em amostras com ases com diferenças em coloração e/ou em dureza. Trincas, poros e inclusões não- metálicas podem ser observadas na condição de polimento. Constituintes com menor diferença em refletividade po- dem ser observados sem necessidade de ataque, com uso de iluminação com contraste de fase (campo escuro, luz polarizada). Para muitos materiais, a microestrutura é revelada so- mente pelo ataque químico da superfície. Para se obter um contraste bem delineado a superfície polida deve ser livre de artefatos. Logo, o ataque metalográfico engloba todos os processos usados para revelar características particulares do material que não são evidentes somente na condição de polimento. Antes de ser atacada, a amostra deve ser observada no microscópio ótico para detectar possíveis caudas de cometa, pontos de corrosão, etc. A. Ataque Com Reagentes O ataque químico depende do processo de oxidação e/ou redução que ocorre na superfície do corpo de prova. Os reagentes químicos para a revelação da estrutura de um metal ou liga metálica podem ser soluções simples ou misturas complexas orgânicas e inorgânicas. Os reagentes são geralmente compostos de ácidos com solventes apropri- ados, tais como álcool, água, etc. Na sua quase totalidade os reagentes para revelação das estruturas metálicas na metalografia são diluídos em solução alcoólica. Torna-se importante o segmento de algumas precauções elementares quanto à qualidade da superfície preparada para o ataque, a saber: -Superfície totalmente plana da borda até o centro; -Superfície isenta de riscos, manchas ou demais imperfeições; -Superfície polida absolutamente limpa. B. Técnica do Ataque por Imersão Primeiramente o corpo de prova é aquecido com a ajuda de um secador, para que o ataque aconteça mais rapida- mente. O reagente é então despejado em uma pequena cuba de vidro e a amostra é imersa na solução. Deve-se tomar cuidado para não permitir o contato da amostra com o fundo da cuba. Recomenda-se que esta operação seja realizada usando-se luvas ou por meio de uma tenaz, evitando-se segurar o corpo de prova com os dedos. O corpo de prova, durante o período de imersão na solução reagente, deverá sofrer pequena movimentação rotativa para evitar a formação de bolsas de ar. A ocorrência de bolsas de ar na superfície do corpo de prova impede o contato metal-reagente. Como resultado tem-se algumas áreas não atacadas. Figura 6: Ilustração da técnica de contato da superfície do corpo de prova com o reagente.. Após o ataque, quando já ocorreu a revelação da tex- tura, lava-se a amostra em água corrente para eliminar o progresso da corrosão; leva-se a peça até o secador. Du- rante a secagem, passa-se seguidamente algodão embebido em álcool sobre a mostra, para evitarem-se manchas de secagem. C. Nital (Ácido Nítrico + Álcool) Dada a grande incidência do preparo de amostras de ferro e aço na metalografia, a preferência pela utilização do nital como reagente para a revelação de microestruturas se dá mais pela razão do seu fácil preparo e inoculação à mancha. Entretanto, o seu emprego indiscriminado para a revelação das estruturas de todos os produtos siderúr- gicos comuns parece-nos discriminatória e perigosa. Nos Laboratórios de Metalografia existe uma tabela na qual constam os principais reagentes para a micro-revelação, sua composição, o que revelam e o tempo de ataque. Referências [1] Ciência e engenharia e materiais: uma introdução, 5th ed., Rio De Janeiro, 2000, 259p. [2] Ciência dos Materiais. [3] Mecánica de Materiales, 3rd ed., México D.F, 856p. [4] Diseño de Máquinas, México D.F, 1048p. [5] Mecánica de Materiales, 1st ed., 708p. [6] Resistencia de Materiales Aplicada, 3rd ed., Mexico D.F, 640p. [7] Ensaios dos Materiais, Rio de Janeiro, 2012.
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