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SECADI 21 UNIDADE 3 Temas específicos Nesta unidade, veremos: Educação para o reconhecimento de gênero e da diversidade sexual Educação das relações étnico-raciais; Educação especial na perspectiva da educação inclusiva. Caro(a) professor(a), a questão de diversidade na educação passa pelo reconhecimento e pelo tratamento dos temas de inclusão de grupos mino- ritários nos debates escolares, espaço onde se perpetua o conhecimento. Na Unidade 3, continuaremos abordando temas específicos voltados à edu- cação de jovens e adultos, que trarão reflexões sobre alguns destes grupos minoritários e marginalizados – pela falta de reconhecimento de gênero e de aceitação da diversidade sexual, bem como devido aos conflitos prove- nientes das relações étnico-raciais. Trataremos, ainda, da educação especial na perspectiva da educação inclusiva. Os objetivos desta unidade estão assim elencados: • Reconhecer as relações de gênero e diversidade sexual e o trabalho do professor no enfrentamento a qualquer forma de preconceito; • Debater as relações étnico-raciais na educação de jovens e adultos; • Refletir sobre a educação especial na perspectiva da educação inclusiva. SECADI 22 Unidade 3 I_ Educação para o reconhecimento de gênero e da diversidade sexual Falar sobre o reconhecimento de gênero e da diversidade sexual nas es- colas implica direcionamentos pedagógicos que estabeleçam reflexões para eliminar preconceitos e desigualdades no tratamento da diversidade sexual. As teorias pós críticas do currículo trazem importantes contribuições para tratar os temas de reconhecimento de gênero e de diversidade sexual, como tam- bém da educação inclusiva e étnico-racial. Essas teorias apresentam questões de identidade, alteridade, diferença e subjetividade, apontando como as questões de gênero, raça, etnia e sexualidade estão diretamente ligadas às relações de po- der da cultura dominante, uma vez que discorrem sobre a ideia de mudança de paradigmas, de crítica aos padrões e de rompimento da lógica dominante. De acordo com Silva (2011, p. 91), o termo “gênero” refere-se ao pro- cesso de identificação sexual construído socialmente por cada indíviduo, en- quanto o “sexo” está diretamente ligado às questões biológicas. Inicialmente, as correntes curriculares críticas preocuparam-se em ga- rantir acesso às minorias. Isso também ocorreu com as questões de gênero: as mulheres lutaram, primeiramente, pelo acesso à educação; posteriormen- te, com a influência das teorias pós críticas, vieram os questionamentos so- bre o “para quê” do acesso. Alteridade: este termo, utilizado nas teorias pós críticas do currículo, expressa a qualidade ou o estado do que é outro ou do que é diferente. A alteridade, neste cenário, é apresentada em consonância com a identidade e a diferença.{ { Para se aprofundar no tema, leia a resenha do livro de Tomaz Tadeu da Silva, que é vasto no assunto:http://www.revistas.ufg.br/index.php/fef/article/view/83/2679 SECADI 23 Unidade 3 O filme “O Sorriso de Monalisa” (2003) exemplifica este pe- ríodo de questionamentos sobre gênero e de enfrentamento do tradicionalismo e do conservadorismo, relacionados à educação da mulher na época. A Secretaria de Educação do Estado do Paraná produziu vídeos com entrevistas e debates sobre os temas de reconhe- cimento de gênero e diversidade sexual na escola. Recomen- damos que você assista para se aprofundar no assunto: { { Os estudos culturais, uma teoria pós crítica de currículo, apontam para a diversidade cultural como um campo de batalha, em que diferentes gru- pos sociais lutam pela imposição ou aceitação de seus significados. A diver- sidade está diretamente relacionada às questões de identidade que se cons- troem socialmente nas relações. Para o trabalho com a diversidade sexual e o reconhecimento de gêneros, o educador precisa abolir a hierarquização de conceitos binários – como capaz e incapaz, homem e mulher, bonito e feio –, que geram a exclusão das minorias; precisa, também, garantir o di- reito à diferença, que não se refere à desigualdade. A desigualdade está di- retamente relacionada às relações de poder e dominação, marginalizando e restringindo o direito à diferença. Em suma, os padrões culturais de gênero são construídos socialmente, nas relações em sociedade. O papel da educação para o reconhecimento de gênero e da diversidade sexual está posto para eliminar formas de dominação e precon- ceito, garantindo o direito à identidade e à diferença a todos dentro da escola. Cabe, aqui, o exemplo de uma importante conquista de reconheci- mento de gênero: o Conselho Nacional de Combate à Discriminação LGBT, da Secretaria de Direitos Humanos, por meio da Resolução nº 12 (publicada no Diário Oficial da União em 16 de janeiro de 2015) regulamentou o uso do nome social por travestis e transexuais nas escolas. http://www.educacao.pr.gov.br/modules/video/showVideo.php?video=15823 http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/modules/video/showVideo.php?video=13715 SECADI 24 Unidade 3 Recomendamos que visite os links abaixo para conhecer esse marco legal:{ http://www.grab.org.br/index.php?option=com_content&view=article&id=194:educacao-e-um-direito-de-todosas-http://www.sdh.gov.br/sobre/participacao-social/cncd-lgbt/resolucoes/resolucao-012/view Essa conquista está diretamente ligada ao direito à identidade e à diferen- ça, que ajuda a garantir a permanência do aluno na escola – pois não basta o re- torno do jovem aos estudos: é preciso que ele permaneça nela e obtenha êxito. II_ Educação das relações étnico-raciais Assim como as questões de gênero e diversidade sexual, as relações ét- nico-raciais revestem-se de práticas e discursos carregados de preconceitos; do mesmo modo, espera-se que a escola seja um espaço de questionamento e de superação das desigualdades sociais e historicamente constituídas. Na EJA, as especificidades do público conferem maior importância ao debate sobre as relações étnico-raciais. Os sujeitos que ali estão foram priva- dos do direito à educação quando crianças. São sujeitos homens e mulheres, negros, brancos, indígenas, jovens e idosos; suas vivências precisam ser pro- blematizadas para o trabalho sólido de conquista e efetivação de direitos. A luta das minorias pela efetivação dos direitos é ressaltada em vá- rios documentos oficiais no Brasil. Um exemplo, entre tantos, é o Parecer nº 11/200, do Conselho Nacional de Educação: Suas raízes são de ordem histórico-social. No Brasil, esta realidade re- sulta do caráter subalterno atribuído pelas elites dirigentes à educação escolar de negros escravizados, índios reduzidos, caboclos migrantes e trabalhadores braçais, entre outros. Impedidos da plena cidadania, os descendentes destes grupos ainda hoje sofrem as conseqüências desta realidade histórica. Disto nos dão prova as inúmeras estatísticas oficiais. A rigor, estes segmentos sociais, com especial razão negros e índios, não eram considerados como titulares do registro maior da SECADI 25 Unidade 3 modernidade: uma igualdade que não reconhece qualquer forma de discriminação e de preconceito com base em origem, raça, sexo, cor, idade, religião e sangue entre outros. Fazer a reparação desta realida- de, dívida inscrita em nossa história social e na vida de tantos indivídu- os, é um imperativo e um dos fins da EJA porque reconhece o advento para todos deste princípio de igualdade. (BRASIL, 2000, p.6). Na busca pela valorização da história e da cultura do povo negro, o Brasil alterou a LDB 9.394/96, inserindo o ensino de História e Cultura Afro-Brasileiras e Africanas no currículo da educação básica. A iniciativa foi considerada um passo inicial rumo à reparação com o povo negro brasileiro. Destaca-se, ainda, a Lei n° 12.711/2012, que reserva vagas nas universidades federais e institutos federais para alunos oriundos de escolas públicas, levando-se em consideração o per- centual de pretos, pardos e indígenas em cada estado. Essas medidas visam cor- rigirdanos materiais, físicos e psicológicos gerados por racismo e discriminação durante séculos. É importante lembrar que todas essas ações foram conquista- das pela participação de movimentos sociais; o protagonismo do movimento negro nestas conquistas é uma das condições para sua efetivação. Apesar de documentos como a Constituição, a LDB, as Diretrizes Curri- culares e outras leis reconhecerem e tentarem minimizar esta dívida histórica em favor da efetivação dos direitos destas minorias, o Brasil ainda precisa evo- luir muito no enfretamento ao racismo, com suas variadas formas de discrimi- nação. A escola precisa inserir, no seu cotidiano, as experiências vividas pelas populações negras, seus movimentos de resistência pós período escravista, os efeitos destes movimentos, a perpetuação das desigualdades étnico-raciais, além de propiciar, sempre que possível (e não apenas em datas comemorati- vas ou na criação da disciplina de História e Cultura Afro-Brasileira), o debate das relações raciais na escola. No trabalho de conscientização sobre as desigualdades e discrimina- ções vivenciadas pela população negra, os conceitos de identidade e diver- sidade devem ser fortalecidos, evitando-se padrões binários, reiterando a consciência política de direitos, diferenças e o combate a discriminações e racismos. Por este motivo, é necessário e fundamental fazer o levantamento histórico da EJA e das relações étnico raciais no Brasil, explicitando o caráter compensatório de várias ações políticas. SECADI 26 Unidade 3 { Conheça o documento “Orientações e Ações para a Educa- ção das Relações Étnico-Raciais”, de 2006, do Ministério da Educação. Nele, há um capítulo destinado às especificidades da educação de jovens e adultos, inclusive com sugestões de metodologias e atividades integradoras. Acesse o link: http://portal.mec.gov.br/dmdocuments/orientacoes_etnicoraciais.pdf III_ Educação especial na perspectiva da educação inclusiva A educação de jovens e adultos, assim como a escola básica, tem entre seus alunos pessoas com deficiência, incluídas no processo educacional. E qual é a qualidade da educação prestada a essas pessoas, tanto na EJA quan- to na escola regular? Esse debate tem se intensificado em nossa sociedade, levando vários pesquisadores, programas e políticas a repensarem seus mo- delos constantemente. Mazzota (2001, p.15) afirma: A defesa da cidadania e do direito à educação das pessoas portadoras de deficiência é atitude muito recente em nossa sociedade. Manifestan- do-se através de medidas isoladas, de indivíduos ou grupos, a conquista e o reconhecimento de alguns direitos dos portadores de deficiências podem ser identificados como elementos integrantes de políticas so- ciais a partir de meados deste século. Para saber mais sobre essa política, veja o vídeo: ou acesse o link: { https://www.youtube.com/watch?v=AUL62tZIFYYhttp://peei.mec.gov.br/arquivos/politica_nacional_educacao_especial.pdf Atualmente, com a publicação da Política Nacional de Educação Espe- cial na perspectiva da Educação Inclusiva (2008), o Ministério da Educação prevê que toda criança, jovem e adulto com deficiência esteja matriculado em escolas regulares e recebendo atendimento educacional especializado (AEE) em contraturno para suprir suas necessidades específicas, com o obje- tivo de garantir a qualidade da educação prestada. SECADI 27 A inclusão prevista na política carrega os conceitos de diversidade e cidadania, pois propõe uma educação plural, para todos, de forma demo- crática e com direito à diferença de cada ser. O cerne desta política transfere o atendimento educacional especializado (sala de recurso multifuncional – SRM2), antes prestado apenas nas escolas especiais, para as escolas regulares. O AEE, segundo a política (2008), identifica, elabora e organiza os recursos pedagógicos e de acessibilidade para os alunos com deficiência. Estes recur- sos visam eliminar qualquer forma de barreira para os alunos com necessi- dades específicas. Nesta perspectiva, o aluno participa das aulas em sala de aula, aprendendo e convivendo com todos, e tem na SRM uma possibilidade de eliminar barreiras da aprendizagem. Mantoan, uma das pesquisadoras que participaram da elaboração da política, destaca o atendimento educacional especializado dentro da escola regular como “o ambiente mais adequado para a quebra de qualquer ação discriminatória, beneficiando o desenvolvimento cognitivo, social, motor e afetivo dos alunos em geral”. (2006, p.27) O público-alvo da educação especial na perspectiva da inclusão, ou seja, do AEE, são os alunos com deficiência, transtornos globais do desen- volvimento e com altas habilidades/superdotação. A participação destes alunos na aprendizagem depende da garantia de uma educação verdadei- ramente inclusiva, de uma transformação de currículos e visões da escola, no que diz respeito à igualdade e à diferença. Contudo, apenas tirar o aluno deficiente da escola especial e integrá-lo à escola regular, sem que o mesmo possa participar ou aprender, não consiste em inclusão. Adaptações curri- culares e arquitetônicas, formação de professores para a inclusão, participa- ção da família e da comunidade e transversalidade da educação inclusiva, em todos os níveis de educação, são ações necessárias para efetivar o aces- so de todos à educação. 2 A sala de recurso multifuncional é o espaço localizado nas escolas públicas de educação básica onde se realiza o aten- dimento educacional epecializado (Machado, 2010, p.60). Unidade 3 SECADI 28 Unidade 3 Especialmente na EJA, precisamos destacar o fato de que as legislações educacionais vigentes preveem a terminalidade específica aos alunos que não puderem atingir o nível exigido para a conclusão do ensino fundamental – e, assim, possam dar continuidade em cursos como os de educação de jovens e adultos e de preparação para o mundo do trabalho. Nesta articulação, portanto, a EJA, recebe alunos que finalizaram o ensino fundamental, com as mais variadas lacunas escolares, e procuram competên- cias e habilidades para o mercado de trabalho. Para acolher essa diversidade de educandos, uma metodologia diferenciada e uma postura inclusiva devem valorizar muito mais o que o aluno sabe, ao invés de avaliar o que ele não foi ca- paz de aprender. Essa deve ser a mudança estrutural dos processos formativos: valorizar todos os conhecimentos e saberes que cada aluno possui, o seu tempo e as suas capacidades de aprendizagem. De acordo com Silva (2014, p.60): [...] através da experimentação, criação, descoberta, formação de redes de conhecimento e saberes, além de relações sociais, todos terão acesso aos novos conhecimentos sistematizados pela escola. Isso só é possível se en- tendido que todo aluno é capaz de aprender, quando se abandona comple- tamente a visão hierárquica de conhecimentos válidos e necessários e con- ceitos binários de “capaz e incapaz”. O sucesso da inclusão depende, pois, da compreensão de todos no sentido de explorar as capacidades individuais do aluno, no tempo de cada um, e, para tanto, o currículo escolar precisa acatar estes conceitos de diversidade e identidade ao mesmo tempo. A educação especial na perspectiva da educação inclusiva pretende ofere- cer possibilidades a todos, em todos os meios e comunidades em que se inserem, independentemente das capacidades e limitações de exercício da cidadania. Educação infantil Educação de jovens e adultos Educação especial na perspectiva inclusiva Ensino fundamental Ensino médio Educação superior Figura 2. Fonte: própria autora. Transversalidade da educação inclusiva SECADI 29 Unidade 3 Como você observa a ampliação da educação inclusiva em sua região? Tem favorecido o direito à diversidade? Tem garantido educação às pessoas com deficiência incluídas na escola regular? _________________________________________________ _________________________________________________ __________________________________________________________________________________________________ { ATIVIDADE DE PERCURSO 1. Assista à videoaula da Unidade 3; 2. Tome nota dos pontos principais do tema; 3. Tire suas dúvidas com os tutores a distância no Ambiente Virtual.{
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