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HISTÓRIA E ORGANIZAÇÃO DO ENSINO SUPERIOR NO BRASIL Programa de Pós-Graduação EAD UNIASSELVI-PÓS Autoria: César Augusto Jungblut CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090 Reitor: Prof. Hermínio Kloch Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol Coordenador da Pós-Graduação EAD: Prof. Ivan Tesck Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD: Prof.ª Bárbara Pricila Franz Prof.ª Tathyane Lucas Simão Prof.ª Kelly Luana Molinari Corrêa Prof. Ivan Tesck Revisão Gramatical: Equipe Produção de Materiais Revisão Pedagógica: Bárbara Pricila Franz Diagramação e Capa: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Copyright © UNIASSELVI 2017 Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. 146.3 J95h Jungblut, César Augusto História e organização do ensino superior no Brasil / César Augusto Jungblut. Indaial : UNIASSELVI, 2017. 116 p. : il. ISBN 978-85-69910-58-9 1.História Social. I. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. Cesar Augusto Jungblut Graduado (Licenciado e Bacharel) em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Especialista em Gestão e Tutoria em EAD pela UNIASSELVI, com mestrado em História Latino- Americana. Tem experiência em escolas públicas e particulares no ensino básico, bem como em diversas universidades de Santa Catarina, como UDESC, UFSC, UNIASSELVI e FUCAP. Atualmente é professor em cursos de Pós-Graduação. Dedica-se também às questões de Metodologia de Ensino (Superior, História e Geografi a), na área de formação de professores, em Políticas Públicas Educacionais e na Gestão e Legislação Educacional, entre outros. Tem vários trabalhos publicados na área de EAD, tanto na área de História como de Educação. Sumário APRESENTAÇÃO ..................................................................... 7 CAPÍTULO 1 Panorama da História, da Educação e do Ensino Superior no Brasil ................................................................ 9 CAPÍTULO 2 Os Modelos Contemporâneos de Educação: Liberal e Neoliberal ............................................................................ 37 CAPÍTULO 3 Panorama Geral do Ensino Superior em Outros Países, Instituições Públicas e Privadas, a Situação Atual do Ensino Superior no Brasil .................................................. 53 CAPÍTULO 4 Legislação Educacional e a Coordenação do Ensino Superior no Brasil ............................................................... 87 APRESENTAÇÃO Olá! É uma grande satisfação ter você por aqui, que foi quem nos motivou a escrever este material de estudo! Esperamos ter a oportunidade de dividir com você as conquistas que tivemos sobre o conteúdo que vamos tratar. Para tanto, convido você a começar os estudos de mais esta disciplina que faz parte da matriz curricular do seu curso. Uma disciplina de suma importância quanto todas as outras estudadas até aqui, assim como as próximas que virão para a sua especialização enquanto profissional. Desejamos que o assunto aqui introduzido e debatido traga caminhos possíveis de serem trilhados na busca de seu aperfeiçoamento e entendimento sobre questões acerca da História e Organização do Ensino Superior no Brasil. Para um melhor entendimento, dividimos este material em quatro capítulos. No primeiro capítulo faremos uma retrospectiva do ensino superior no Brasil, desde a colônia até a república, analisando a evolução do ensino no Brasil e suas principais características. Visto que conhecer o ensino superior brasileiro e sua organização requer um exercício histórico, ou seja, retroceder e ver lá no início do processo de colonização como se organizava o ensino em nosso país. Já no segundo capítulo abordaremos as principais caraterísticas do liberalismo e sua relação com a educação; o neoliberalismo e sua aplicabilidade na educação e também os pontos comuns entre liberalismo e neoliberalismo. Anotando que, num primeiro momento, faremos uma conceituação do tema, para em seguida situar também o neoliberalismo e relacioná-lo com a educação. No terceiro capítulo veremos sobre a trajetória do ensino superior em outros países; identificando também a diferença entre instituições públicas e privadas de ensino superior no Brasil e suas funções; e por fim, qual é a situação atual do ensino superior no Brasil. No quarto e último capítulo abordaremos temas como a organização e as leis do sistema educacional do ensino superior brasileiro; as organizações de coordenação da educação superior; e um pouco das atuais políticas públicas para o ensino superior do Brasil. Aqui uma palavra de incentivo. É fundamental que para seu aprendizado você faça a leitura atenta e também resolva as atividades propostas. Além disso, procure sempre completar seus estudos com as leituras sugeridas e referenciadas ao longo do caderno. Se for o caso, procure também outras fontes para o seu aprendizado. Bons estudos! O autor. CAPÍTULO 1 Panorama da História, da Educação e do Ensino Superior no Brasil A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: Conhecer a retrospectiva do ensino superior no Brasil, desde a colônia até a república. Analisar a evolução do ensino no Brasil e suas principais características. 10 História e OrganiZação do Ensino Superior no Brasil 11 PANORAMA DA HISTÓRIA, DA EDUCAÇÃO E DO ENSINO SUPERIOR NO BRASILSUPERIOR NO BRASIL Capítulo 1 ConteXtualiZação “A história é o exercício da memória realizada para compreender o presente e para nele ler as possibilidades do futuro, mesmo que seja de um futuro a construir, a escolher, a tornar possível”. Francisco Cambi Conhecer o ensino superior brasileiro e sua organização requer um exercício histórico, ou seja, retroceder e ver lá no início do processo de colonização como se organizava o ensino em nosso país. Notadamente, não podemos falar que nos primeiros séculos do período colonial havia ensino superior no Brasil, porque estudos mais aprofundados e em nível superior existiam somente na metrópole portuguesa e em outros países europeus, pois a oferta dessa modalidade de ensino era proibida nas colônias por motivos óbvios que estavam atrelados à exploração das terras e dos nativos. Tratavam-se de ações convenientes ao controle e exploração dos espaços territoriais conquistados. Desse modo, a ação educativa fi cou a cargo dos religiosos jesuítas, que ofereceram na época colonial a formação para o sacerdócio, que não era uma formação superior, devido ao seu caráter confessional e específi co. Outras formas de ensino foram criadas e aplicadas pelos padres jesuítas nos três primeiros séculos da nossa história, as quais serão abordadas adiante. É importante frisar que o ensino superior no Brasil só veio a ter um sentido universitário nos anos de 1930. Isso contrastou com o restante da América espanhola, que criaram ainda no período colonial suas primeiras universidades, como a do Peru e México. Em nosso país, o ensino superior só foi possível com a chegada da família real portuguesa em 1808. O Modelo Educacional Jesuítico e Sua InFluÊncia na Educação Brasileira Vindos para a América somente com o intuito de explorar a terra e lucrar ao máximo, a colonização brasileira foi decorrência da vontade de expansão de Portugal que buscava maneiras de superar as difi culdades econômicas existentes na Europa no fi nal da Idade Média. Após conhecer as terras que seriam a futura colônia na América, os portugueses se dedicaram exclusivamente a explorar as riquezas aqui existentes nos trinta primeiros anos, não se preocupando com um projeto de povoamento.12 História e OrganiZação do Ensino Superior no Brasil Esse desinteresse em povoar as terras descobertas não duraria muito tempo. Notando que sua colônia na América corria o risco de ser tomada, devido às investidas de corsários e até de embarcações ofi ciais de países europeus, os portugueses decidiram tomar providências e povoar de forma efetiva a colônia. Para isso foram criadas as capitanias hereditárias em 1532. Todavia, havendo difi culdades de sua implementação, em 1549 a coroa portuguesa criou o governo geral, que foi a primeira forma de poder público no Brasil, e teve como objetivo auxiliar as capitanias hereditárias. É importante frisar que junto com o estabelecimento do governo geral vieram os padres jesuítas. Para compreender o papel dos jesuítas na educação do Brasil, antes de tudo é preciso se localizar no tempo e no espaço e entender o cenário daquela época. A educação jesuítica esteve diretamente relacionada às ideias do Renascimento europeu, também conhecido como Renascença ou Período das Luzes, compreendido entre os séculos XV e XVI. No fi nal da Idade Média para a Idade Moderna, a luta entre católicos e protestantes não fi cou só no terreno religioso/espiritual, também foi muito acirrada no campo educacional. Para tentar barrar a reforma, os católicos organizaram a companhia de Jesus. Você já ouviu falar dela? Conhece um pouco da história dos jesuítas no Brasil e no mundo? Edifi cada pelo padre espanhol Inácio de Loyola em 1534, e reconhecida em 1540, a companhia de Jesus nasceu como instrumento de combate à reforma, fundamentando-se na perspectiva de que tudo deveria ser feito para a máxima maior glória de Deus. Enfi m, pode-se afi rmar que a contrarreforma católica foi a tentativa de resgate da perdida hegemonia católica, contra qualquer inovação política, ideológica e cultural, e os jesuítas colaboraram nessa empreitada (CARVALHO, 2008). Aqui temos a presença dos jesuítas, que chegaram em 1549 nas terras brasileiras trazendo a expansão da fé católica e do reino, reunindo colonizadores e evangelizadores sob o mesmo empreendimento. Com uma missão catequista, edifi caram igrejas e escolas em várias regiões da colônia da América. Construíram um sistema educacional, desenvolvendo uma pedagogia que atingia especialmente as crianças, usando o teatro, a música e a dança para cumprir seus objetivos. Com a chegada ao Brasil do padre Manuel da Nóbrega, no ano de 1549, teve início de fato a tarefa de catequização. Com uma dupla tarefa de converter os povos indígenas ao catolicismo e, com isso, expandir a fé católica, a companhia A educação jesuítica esteve diretamente relacionada às ideias do Renascimento europeu, também conhecido como Renascença ou Período das Luzes, compreendido entre os séculos XV e XVI. 13 PANORAMA DA HISTÓRIA, DA EDUCAÇÃO E DO ENSINO SUPERIOR NO BRASILSUPERIOR NO BRASIL Capítulo 1 de Jesus, que nada mais era do que um pelotão de soldados de Cristo, também teve a missão de fazer retroceder o crescimento protestante que avançava mundo afora. Sobre a ação dos jesuítas no período inicial da colonização brasileira, acesse o seguinte endereço eletrônico: <http://www.ufjf.br/ lahes/fi les/2010/03/c1-a7.pdf>. Você deve estar se perguntando: como era a educação das populações indígenas do território brasileiro antes da chegada dos jesuítas e europeus? Não havia escolas, as crianças participavam espontaneamente de atividades com os mais velhos, recebendo informações dos papéis que iriam desempenhar quando adultas. Assim, a atuação dos jesuítas se volta para as crianças e jovens, pois com os adultos encontravam maior difi culdade na conversão. Desembarcados em 1549, na Vila de Pereira, depois Vila Velha, quatro padres e dois irmãos da companhia de Jesus se juntaram aos propósitos do governo de Portugal. Assim, como já foi dito, a chegada da companhia de Jesus no Brasil colônia esteve diretamente vinculada com a missão de facilitar a implantação e a manutenção de um modelo econômico colonial e também a divulgação da fé católica, ambos ameaçados pela reforma na Europa. Foi esta determinação, de um governo preocupado com a manutenção da ordem, disciplina, domesticação para o serviço escravo e imposição da fé cristã, que marcou o início da formação da identidade brasileira. Os padres jesuítas ocuparam papel central neste modelo de formação educacional, característica do ideal de pessoa e sociedade que se pretendia formar aqui no Brasil. A educação jesuítica do Brasil colonial esteve relacionada com todo o movimento de emergência da escolarização no mundo. Os jesuítas tiveram grande infl uência na organização da sociedade brasileira e coube a eles orientar a população, desde os fi lhos dos senhores de engenho, colonos, escravos e índios, na fé cristã, na disciplina do corpo e do silêncio, nos valores morais, nas artes eruditas e nos costumes europeus. Aos índios coube, em especial, a catequese, a leitura e escrita e o idioma de Portugal. (CARVALHO, 2008, p. 8). Desde o início, a coroa portuguesa acreditava que a catequese era a forma mais efi ciente para o domínio dos povos indígenas da colônia brasileira. 14 História e OrganiZação do Ensino Superior no Brasil Consequentemente, a catequese passou a ser um ato fundamental para Deus e para o rei. Quando chegaram ao Brasil, os colonizadores portugueses puseram o índio a serviço de três interesses: o reino ambicionava integrá-lo ao processo colonizador; os jesuítas aspiravam convertê-lo ao catolicismo; e os colonos esperavam usá-lo como trabalho escravo. Foram considerados, na época, como seres sem alma, animais, criados para serem instruídos e domesticados com violência e exploração. As práticas educacionais em muitos casos reforçavam isso, recusando sua diversidade. Nos primeiros tempos da colonização, os jesuítas frequentavam as aldeias e ensinavam às crianças a leitura, a escrita e a doutrina cristã. No entanto, como o trabalho de adaptação do indígena para a lavoura exigia sua presença para um adestramento diário e ininterrupto, começaram a organizar aldeias para reunir os indígenas da região. Essas aldeias fi caram conhecidas por quase todo o período colonial como missões. Também organizaram escolas elementares e, acima de tudo, difundiram um projeto pedagógico bastante uniforme, tão bem esquematizado que até nos dias de hoje é possível perceber seus refl exos. Você sabe o que eram as escolas elementares? Durando aproximadamente um ano, o curso elementar continha em seu currículo o princípio católico e as primeiras letras, ou seja, o que conhecemos hoje por alfabetização, mas com conteúdo doutrinário. Muita disciplina, atenção e perseverança eram as três características de estudos a serem apreendidas pelos alunos, elementos que facilitariam o próprio aprendizado e o desenvolvimento do caráter ao futuro sacerdote e ao cristão leigo (ROCHA, 2005). Aqui cabe uma observação importante! Os jesuítas não fi caram somente focados na obra da catequese e no ensino das primeiras letras aos “gentis”. Aos poucos, acabaram se dedicando à educação da elite colonial. Ainda que a principal missão deles fosse a conversão dos índios, o estabelecimento de colégios acabou por assumir, senão a prioridade, importância comparada à outra. Assim, a educação jesuítica acabou dando atenção à formação da elite letrada da colônia, ou seja, dos padres e senhores de engenho. Formou-se “[...] uma concepção que acabou por assumir contornos elitistas, almejada por todos que procuravam status, como símbolo de classe e de distinção, que demarcou as raízes fundantes da organização do ensino nacional” (CARVALHO, 2008, p. 9). É importante assinalar que a partir de 1564 foi inventado um imposto para a sustentação dos colégios jesuítas, chamado de “padrão A coroa portuguesa acreditava que a catequese era a forma mais efi ciente para o domínio dos povos indígenas da colôniabrasileira. A partir de 1564 foi inventado um imposto para a sustentação dos colégios jesuítas, chamado de “padrão de redízima”, 15 PANORAMA DA HISTÓRIA, DA EDUCAÇÃO E DO ENSINO SUPERIOR NO BRASILSUPERIOR NO BRASIL Capítulo 1 de redízima”, compreendendo 10% de todas as arrecadações dos impostos. Machado (2002, p. 27) lembra que “[...] com o passar do tempo, os jesuítas acabaram se tornando ricos e poderosos frente à coroa portuguesa, sendo este um dos motivos para serem expulsos pelo Marquês de Pombal”, conforme você verá mais adiante. Os jesuítas fi caram conhecidos como soldados de Cristo, com a missão cristã e civilizatória de acabar com as “crendices” indígenas, impondo assim uma nova forma de ver e conceber o mundo. Assim, a educação brasileira, nesse período, estava estreitamente vinculada à política colonizadora portuguesa. A metrópole desejava que a educação dos índios servisse para formar súditos do rei em terras tropicais, ou seja, através da uniformização da fé buscava-se uma unidade política, facilitando a dominação do povo que se encontrava na colônia (MACHADO, 2002, p. 26). A educação jesuítica teve dois momentos de destaque no Brasil colônia. O primeiro teve início em 1549, com a chegada dos padres jesuítas, e durou até 1570, quando morreu o padre Manoel da Nóbrega. Machado (2002) informa que na fase inicial do projeto educacional instituído pelo padre Manoel da Nóbrega no Brasil, a intenção era instruir e catequizar os indígenas e também os fi lhos dos colonos, haja visto que os jesuítas constituíam os únicos mestres ofi ciais da colônia. Para tanto, “[...] foram instituídos os ‘recolhimentos’, sendo que através deles se processaria a educação dos mestiços, dos órfãos e dos fi lhos dos caciques, além dos fi lhos dos colonos, em regime de externato” (MACHADO, 2002, p. 31). Esse plano de estudos foi elaborado para atender a objetivos muito diversos. Iniciava pelo aprendizado do português, que incluía o ensino da doutrina cristã e a escola de ler e escrever. Depois continuava, em caráter opcional, o ensino de canto orfeônico (coral) e de música instrumental. A partir daí, havia uma bifurcação: podia-se seguir pelo aprendizado profi ssional e agrícola, ou pelas aulas de gramática seguidas de viagem à Europa, é claro, para a elite. De início, não havia a intenção de oferecer um ensino diferenciado aos indígenas e aos fi lhos dos colonos, mas diante da falta de “adequação” do índio e de acordo com as características da colônia (latifúndio, escravidão e monocultura), aos índios foi reservada a aprendizagem agrícola e aos fi lhos dos colonos, o ensino da gramática, seguido de viagem à Europa. A partir da publicação das “Constituições da Companhia de Jesus” em 1556, o plano do Padre Manuel da Nóbrega deixou de vigorar, excluindo- se das etapas iniciais de estudo o aprendizado de canto, música instrumental, profi ssional e agrícola. Esse processo 16 História e OrganiZação do Ensino Superior no Brasil culminará com a instituição da Ratio Studiorum em 1599, que trouxe grandes mudanças à prática pedagógica dos jesuítas (MACHADO, 2002, p. 31). A partir da criação do ratio studiorum, inicia-se o segundo momento de destaque da educação jesuítica no Brasil colônia. O plano de catequizar e instruir os índios sofreu modifi cações. Os educados foram os fi lhos dos colonos e aos índios restou apenas a catequização. Aqui se juntava a vontade da coroa portuguesa e da igreja católica (coroa colonizadora) de tornar o índio mais submisso para ser aproveitado como mão de obra escrava. Já para os padres jesuítas, o de converter o maior número de nativos ao catolicismo, estremecido pela reforma protestante. Segundo Carvalho (2008), essa segunda fase chamada de ratio studiorum, que durou de 1570 até 1759, teve como concepção uma pedagogia tradicional com uma visão assistencialista de homem, compreendendo que esse mesmo homem era constituído por uma essência universal e imutável, e que eles já estavam prontos e determinados. Nessa fase, para atender à educação da elite, a criação de colégios assumiu uma importância maior que a ação missionária. À educação caberia apenas acomodar os alunos, segundo a essência universal. Dando ênfase a essa concepção, veja: Entre 1554 e 1570 os jesuítas fundam cinco escolas de instrução elementar (Porto Seguro, Ilhéus, Espírito Santo, São Vicente e São Paulo de Piratininga) e três colégios (Rio de Janeiro, Pernambuco e Bahia). O currículo dividia-se em duas seções ou classes distintas. Nas classes inferiores, com duração de seis anos, ensinava-se retórica, humanidades, gramática portuguesa, latim e grego. Nas classes superiores, com três anos, os alunos aprendiam matemática, física, fi losofi a, que incluía lógica, moral e metafísica, além de gramática, latim e grego (CARVALHO, 2008, p. 12). Rocha (2005) ressalta que a mais signifi cativa diferença entre a primeira (1549-1570) e a segunda fase (1570-1759), foi pelo tipo de dependência econômica entre religiosos e indígenas. “Se a primeira fase foi de penúria, ela teve o aspecto positivo de obrigar os jesuítas, desprovidos de recursos, a conquistar a simpatia popular, mostrando- se identifi cados com seus problemas, necessidades e anseios” (ROCHA, 2005, p. 3). Desse modo, num primeiro momento, a tarefa dos jesuítas foi a de poder aproximar essas culturas e integrá-las numa nova e coesa realidade social. Já na segunda fase, sem se preocupar com a ausência de recursos, os soldados de Cristo teriam se voltado para um passado clássico e medieval, evitando a realidade imediata e recusando qualquer mudança social e ideológica. “A cultura deixou “Se a primeira fase foi de penúria, ela teve o aspecto positivo de obrigar os jesuítas, desprovidos de recursos, a conquistar a simpatia popular, mostrando-se identifi cados com seus problemas, necessidades e anseios” (ROCHA, 2005, p. 3). 17 PANORAMA DA HISTÓRIA, DA EDUCAÇÃO E DO ENSINO SUPERIOR NO BRASILSUPERIOR NO BRASIL Capítulo 1 de ser posta a serviço da sociedade para se colocar à margem da vida, dedicada à conservação dos esquemas mentais clássicos e das convenções sociais estabelecidas” (ROCHA, 2005, p. 3). Machado (2002) nota que a educação ofertada pela companhia de Jesus possuía características rígidas na maneira de pensar. A formação dos professores ganhava uma precaução no que tange à leitura e ao treinamento. Era apenas com mais de trinta anos que o professor iniciava seu trabalho educativo. “Havia um controle rigoroso para manter a tradição: em casos de alguns professores se aproximarem das novidades ou ter um de espírito demasiado livre, devem ser afastados sem hesitação do serviço docente” (MACHADO, 2002, p. 32). Era uma pedagogia altamente autoritária, que servia tanto ao governo português e aos interesses da Igreja, que via na fé e na autoridade da religião, um ótimo aparelho de dominação política (ROCHA, 2005). Você acha que essa rigidez ainda é válida para os dias de hoje? Vamos nos deter um pouco mais no método ratio studiorum. Ele é fundamental para compreender a educação jesuítica da época e até mesmo posterior! Conhecido de forma abreviada como ratio studiorum, era o método pedagógico dos jesuítas, também chamado de plano de estudos. Publicado no ano de 1599, esse plano de estudos foi estabelecido a partir das vivências pedagógicas que tiveram início no colégio italiano de Messina. A partir dessa primeira experiência italiana, houve uma disputa entre o modus italicus e o modus parisiensis de ensino, predominando o segundo, o modelo da Universidade de Paris, onde estudaram muitos jesuítas, até mesmo o próprio Loyola. Composto de regras que abarcavam da organização escolar, orientações pedagógicas, até a aplicação rigorosa da doutrina católica, esse plano de ensino propunha uma pedagogia tradicional que remetia abertamente à escolástica medieval, onde a educaçãoera sinônimo de catequese e evangelização. A formação proposta pelo ratio studiorum almejava o desenvolvimento de um homem perfeito, do bom cristão e era direcionada para a elite colonial. Veja o que Shigunov Neto e Maciel (2008, p. 180-181) dizem sobre o tema: Conhecido de forma abreviada como ratio studiorum, era o método pedagógico dos jesuítas, também chamado de plano de estudos. 18 História e OrganiZação do Ensino Superior no Brasil O Ratio Atque Institutio Studiorum Societatis Jesu, mais conhecido pela denominação de Ratio Studiorum, foi o método de ensino que estabelecia o currículo, a orientação e a administração do sistema educacional a ser seguido, instituído por Inácio de Loyola para direcionar todas as ações educacionais dos padres jesuítas, tanto na colônia quanto na metrópole, ou seja, em qualquer localidade onde os jesuítas desempenhassem suas atividades. O Ratio Studiorum não era um tratado sistematizado de pedagogia, mas sim uma coletânea de regras e prescrições práticas e minuciosas a serem seguidas pelos padres jesuítas em suas aulas. Portanto, era um manual prático e sistematizado que apresentava ao professor a metodologia de ensino a ser utilizada em suas aulas. O método divulgado originariamente em 1599 era centralizador e autoritário em sua concepção, tendo também um aspecto universalista, humanista e literário. O ratio studiorum proporcionava três alternativas de cursos: o curso secundário e dois cursos superiores, de fi losofi a e teologia. Assim, sua proposta curricular dividia-se em duas partes distintas: os “estudos inferiores”, conhecidos por ensino secundário; e os “estudos superiores”. Os cursos secundários com duração de cinco anos, que na maioria das vezes prorrogavam-se por seis anos, destinavam-se à formação eminentemente literária e humanista. Portanto, o objetivo do curso de humanidades era a arte acabada da composição, oral e escrita. O aluno deve desenvolver todas as suas faculdades, postas em exercício pelo homem que se exprime e adquirir a arte de vazar esta manifestação de si mesmo nos moldes de uma expressão perfeita. As classes de gramática asseguravam-lhe uma expressão clara e exata, a de humanidades, uma expressão rica e elegante, a de retórica mestria perfeita na expressão poderosa e convincente “ad perfectam aloquentiam informat”. Esse curso de humanidades foi o que mais se propagou e difundiu na colônia, podendo ser considerado o alicerce da estrutura educacional jesuítica. Já os cursos superiores eram integrados pelos cursos de fi losofi a e ciências, também denominado de curso de “artes”. Tinham duração de três anos e eram direcionados para a formação do fi lósofo, pois as disciplinas que compunham os estudos eram a lógica, a metafísica, a matemática, a ética e as ciências físicas e naturais (SHIGUNOV NETO; MACIEL, 2008, p. 180-181). Os estudos superiores instituídos pelo ratio studiorum visavam à formação profi ssional do homem, enquanto que os cursos secundários tinham a fi nalidade de formar o humanista, o homem para viver em sociedade. 19 PANORAMA DA HISTÓRIA, DA EDUCAÇÃO E DO ENSINO SUPERIOR NO BRASILSUPERIOR NO BRASIL Capítulo 1 Atividades de Estudos: 1) A companhia de Jesus no Brasil colônia teve como missão facilitar a implantação e a manutenção de um modelo econômico colonial e também a divulgação da fé católica. Descreva de que forma isso ocorreu. ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 2) O modelo educacional jesuíta teve dois momentos de destaque no Brasil. O primeiro iniciado em 1549, com a chegada dos padres jesuítas, e que durou até 1570, e o segundo foi a partir da criação do ratio studiorum. Escreva um pequeno texto diferenciando esses dois momentos. ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ Sobre o legado e a infl uência dos jesuítas na educação colonial brasileira, leia a seguinte obra: SHIGUNOV NETO, A.; MACIEL, L. S. B. O ensino jesuítico no período colonial. Curitiba: Editora UFPR, 2008. O que parecia durar para sempre, não durou! Em 1759 o Marquês de Pombal expulsa os jesuítas de Portugal e consequentemente das terras brasileiras, 20 História e OrganiZação do Ensino Superior no Brasil acabando completamente com a organização educacional por eles aqui praticada desde o século XVI. Conhecido como Marquês de Pombal, Sebastião de Carvalho e Melo conduziu a política e economia portuguesa por 27 anos. Nomeado por D. José I (1750-1777), como primeiro ministro de Portugal, Pombal foi responsável por mudanças drásticas na reorganização do Estado. Você deve estar se perguntando: por que expulsar os padres jesuítas da colônia brasileira? Portugal tinha motivos para isso? Quais seriam esses motivos? Em termos gerais, a vontade de expulsar os jesuítas era antiga e, especialmente, por dois fatores: a miséria intelectual e econômica do reino, pela qual eram culpados; o privilégio exclusivo do ensino por eles exercido desde o ano de 1549. Sem sombra de dúvida, a companhia de Jesus se desviou dos seus objetivos missionários e educacionais na América. Não foram aquilo que eram na Ásia: somente ação missionária. Aqui, os jesuítas também foram “colonizadores”, atuando em diversas áreas e contrariando, em muitos casos, interesses econômicos e políticos portugueses. A questão não era simples e exigia avaliação. Os jesuítas procuraram catequizar também os negros, combatendo o culto dos deuses africanos. Mas não lhes foi permitido oferecer aos escravos qualquer educação mais formal e, assim, a educação deles foi limitada aos sermões que os exortavam à prática da moral e fé cristãs. Os jesuítas eram acusados de educar os índios a serviço da ordem religiosa e não dos interesses da metrópole e de não conhecerem outro soberano que não fosse o geral da companhia e outra nação que não fosse a sua própria sociedade. Pombal propôs-se a solucionar o problema do ensino não mais como tarefa das ordens religiosas, mas como atribuição própria, sem ser exclusiva do poder real. Mas, quando a coroa começou a impor a reforma pombalina (alvará de 28/06/1759) e o processo de secularização do ensino, determinando o fechamento das escolas jesuíticas, a colonização já estava consolidada e a língua portuguesa e a religião cristã já estavam divulgadas entre indígenas e escravos (ROCHA, 2005, p. 9). Pombal sabia da importância política e econômica da colônia e por isso reformulou muita coisa por aqui. Criou as companhias de comércio que tinham privilégios de taxar produtos na compra e venda, aumentou os impostos na região de mineração, criando as famosas casas de fundição, e fi xou quotas anuais de produção de ouro. Reforçando um pouco mais sobre as causas da expulsão dos jesuítas do Brasil, lembramos que elas foram variadas, desde questões políticas até ideológicas. Tornando-se uma barreira aos interesses do Estado moderno Os jesuítas também foram “colonizadores”, atuando em diversas áreas e contrariando, em muitos casos, interesses econômicos e políticos portugueses. 21 PANORAMA DA HISTÓRIA, DA EDUCAÇÃO E DO ENSINO SUPERIOR NO BRASILSUPERIOR NO BRASIL Capítulo 1 português, a companhia de Jesus possuía um amplo poder econômico desejado pela coroa portuguesa. Esse novo Estado português, infl uenciado pelas ideias iluministas então vigentes na Europa, também almejava a formação de um novo homem, ou seja,o homem burguês, o negociante, e não mais somente o cristão. Shigunov Neto e Maciel (2008) observam que para analisar a expulsão da companhia de Jesus deve ser levado em conta a compreensão de um processo amplo, que abrange questões políticas, ideológicas e econômicas. Para os citados autores, a expulsão dos padres jesuítas e por consequência o fi m da companhia de Jesus, culminando com o desmoronamento do sistema de educação criado por eles, ocorreu por dois motivos: Político – os jesuítas representavam um empecilho aos interesses do Estado moderno, além de serem detentores de grande poder econômico, cobiçado pelo Estado. Educacional – a necessidade de a educação formar um novo homem – o comerciante e o homem burguês, e não mais o homem cristão – pois os princípios liberais e o movimento iluminista trazem consigo novos ideais e uma nova fi losofi a de vida (SHIGUNOV NETO; MACIEL, 2008, p. 180). As missões, que eram muitas, passaram a ser controladas por funcionários do governo. “As capelas tornaram-se paróquias, com vigários nomeados pelo rei; os indígenas deveriam deixar de ter “nomes bárbaros”, passando a ter nomes portugueses” (CARVALHO, 2008, p. 14). As línguas nativas faladas foram proibidas, tornando-se obrigatória a língua portuguesa. “Os caciques viraram capitães e juízes, e as lideranças passaram a ser os vereadores municipais. Todos os indígenas, a partir daquele momento, se tornariam cidadãos portugueses” (CARVALHO, 2008, p. 14). Provocando um retrocesso no sistema educativo da colônia, a expulsão dos jesuítas comprometeu menos a educação dos pobres que a educação das elites. O sistema educacional edifi cado por eles, aos poucos se transformou num sistema cada vez mais voltado às elites, refl etindo o que recomendava a companhia de Jesus e o ratio studiorum. Em 1759, ano da expulsão, eles tinham, além das escolas de ler e escrever, inúmeros seminários e cerca de 24 colégios, sem contar a grande quantidade de missões. Grande parte das características do padrão pedagógico do ensino jesuítico, que foi praticado no Brasil por mais de dois séculos, ainda permanece viva em muitas instituições escolares brasileiras, sejam elas públicas ou privadas. Isso é notório quando vemos muitas escolas preocupadas com a formação de valores religiosos, impondo uma disciplina corporal, preservando hierarquias e utilizando estratégias Grande parte das características do padrão pedagógico do ensino jesuítico, que foi praticado no Brasil por mais de dois séculos, ainda permanece viva em muitas instituições escolares brasileiras, sejam elas públicas ou privadas. 22 História e OrganiZação do Ensino Superior no Brasil didáticas como: o aluno “líder” da sala, o estudioso que deve ser exemplo a ser seguido, e principalmente a memorização, o silêncio e até a competição. E a pergunta mais uma vez é necessária: o que foi feito em termos educacionais após a expulsão dos jesuítas das terras brasileiras? Machado (2002) assinala que com o banimento dos jesuítas da colônia brasileira pelo Marquês de Pombal, a coroa portuguesa tentou implantar um sistema educacional para ocupar seu lugar. O mesmo autor diz que foi criado um sistema de aulas régias que era mantido pelo imposto chamado de subsídio literário, no entanto, essa nova tentativa não deu conta de prover a educação da colônia, pois não havia recursos e nem profi ssionais qualifi cados para tanto. Vejamos o que Rocha (2005, p. 10) ensina sobre o assunto: Infelizmente, Pombal esperou treze anos para tentar substituir os dois séculos de tra balho jesuítico e, mesmo assim, a Ordenação de 10 de novembro de 1772, que instituiu o “subsídio literário”, imposto cobrado sobre o consumo da carne e produção de aguardente, criado especialmente para a manutenção das aulas de ler e escrever e de humanidades, não foi capaz de arrecadar os recursos necessários. A instituição do regime das “aulas régias”, ou seja, aulas de disciplinas isoladas, não apresentava a coerência necessária, dada a ausência de um plano sistemático de estudos e a falta de motivação discente. Uma das razões para as escolas régias não serem frequentadas é a de que eram constantemente visitadas por soldados incumbidos de recrutar rapazes com mais de treze anos. Certamente, outros motivos mais sérios provocavam essa debandada das aulas, ministradas por professores leigos, ignorantes e sem nenhum senso pedagógico. O legado desse período (1759-1808) foi de pura ilusão. A identidade da ação pedagógica de um nível para outro, e até os cursos superiores, foram trocados pelas difusas aulas régias, enfraquecendo a organização de um novo sistema. A distância entre a diretoria geral de estudos e os mestres não congregados em colégios, mas dispersos, sem órgãos intermediários permanentes, nem pedia qualquer inspeção efi caz, nem criava um ambiente favorável às iniciativas de vulto. Tudo, até os detalhes de programas e a escolha de livros, tinha que vir de cima e de longe, do poder supremo do reino, como se este tivesse sido organizado para instalar a rotina, paralisar as iniciativas individuais e estimular, em vez de absorver, os organismos parasitários que costumam desenvolver-se à sombra de governos distantes, naturalmente lentos na sua intervenção. Essa foi uma das razões pelas quais a ação reconstrutora de Pombal não atingiu, senão de raspão, a vida escolar da colônia. 23 PANORAMA DA HISTÓRIA, DA EDUCAÇÃO E DO ENSINO SUPERIOR NO BRASILSUPERIOR NO BRASIL Capítulo 1 Para Portugal, quando implantou esse sistema, seria o fi m do "atraso" da educação no Brasil. No entanto, a educação, que era quase de responsabilidade total dos jesuítas, teve um grande retrocesso. Vinte anos após a expulsão da companhia de Jesus, o número de escolas em toda a colônia era bem pequeno se comparado à época dos padres. Muitas escolas foram fechadas e as bibliotecas dos mosteiros foram abandonadas ou destruídas. Mais uma vez, Machado (2002, p. 34) ensina: Como você pode perceber, os jesuítas tornaram-se instrumentos na formação da elite colonial, já que foram os educadores durante 210 anos. O modelo de educação implantado era adequado à política colonial portuguesa, pois se privilegiava o trabalho intelectual, deixando de lado o trabalho manual. Desta forma, os alunos fi cavam distantes da realidade em que viviam. A maioria da população era iletrada - pobres, negros e mulheres - o que fazia a elite colonial acreditar que o mundo civilizado estava lá fora, sendo a metrópole, o modelo ideal. De forma não muito consensual, alguns historiadores defendem a ação dos jesuítas no Brasil durante 210 anos, outros, porém, criticam de forma veemente esse trabalho educativo. O modelo educacional jesuítico teve infl uência em todo período colonial, alcançando até o império e, porque não dizer, o período republicano. Essa educação criou uma cultura importada, com infl uência notadamente europeia. No entanto, não podemos esquecer de que os padres jesuítas foram os orientadores sociais e intelectuais da colônia por mais de dois séculos e que, seguramente, sem eles teria sido impossível ao conquistador português conservar a coesão de sua cultura e de sua civilização. Isso era coerente com a ação educacional jesuítica, pois procedia com seus objetivos principais na colônia, a conversão do gentio à fé cristã. A obra jesuítica também apresentou papel fundamental e acabou contribuindo de forma determinante para que o governo de Portugal alcançasse seus objetivos na colonização e povoamento da colônia brasileira na América. A ação educacional jesuítica na colônia pode ser compreendida a partir de duas fases: uma delas corresponde ao primeiro período, o de adaptação e construção do trabalho de catequese e, por conseguinte, a conversão do nativo aos costumes europeus; num segundo momento, que iniciou no segundo século de sua atuação, ocorreu um tempo de amplo aumento do sistema educacional disseminadono primeiro período, ou seja, foi a fase de solidifi cação do projeto educacional, dedicando-se também à catequização do gentio à fé católica e ao ensino dos fi lhos dos colonos e demais membros da colônia, principalmente, os fi lhos dos donos de engenho e funcionários reais. 24 História e OrganiZação do Ensino Superior no Brasil Existiram, e ainda existem, críticas realizadas ao método pedagógico aplicado pelos jesuítas na colônia brasileira. De forma geral, critica-se o monopólio da educação da juventude portuguesa e colonial, que tinha uma orientação para a uniformidade intelectual; acusavam seus ensinos de dogmático e abstrato; de usar em seus métodos autoritarismo, retórica e conservadorismo, não havendo lugar para os debates inovadores da época. Em meio a essas críticas, apesar das difi culdades e com as dimensões geográfi cas do Brasil: Os números da obra jesuítica impressionam pela grandeza, pois foram fundadas 36 missões; escolas de ler e escrever em quase todas as povoações e aldeias; 25 residências dos jesuítas; 18 estabelecimentos de ensino secundário, entre colégios e seminários, nos principais pontos do Brasil, entre eles: Bahia, São Vicente, Rio de Janeiro, Olinda, Espírito Santo, São Luís, Ilhéus, Recife, Santos, Porto Seguro, Paranaguá, Alcântara, Vigia, Pará, Colônia do Sacramento, Florianópolis e Paraíba (SHIGUNOV NETO; MACIEL, 2008, p. 183). A questão que se deve assinalar aqui, é a de peculiaridade após a expulsão dos jesuítas: o que foi colocado no lugar da educação jesuítica não deu conta nem de longe de educar tanto a elite como os demais moradores da colônia portuguesa na América. A destruição e substituição das antigas propostas pelas novas, só melhorou um pouco com a vinda da família real em 1808. Por fi m, a grande perspectiva que devemos pensar é a do educador comprometido, aquele que lê as entrelinhas da história da nossa educação, para entender que tipo de educação tínhamos e qual, eventualmente, podemos construir hoje para o futuro. O que foi colocado no lugar da educação jesuítica não deu conta nem de longe de educar tanto a elite como os demais moradores da colônia portuguesa na América. O Surgimento do Ensino Superior Brasileiro Tardou, mas aconteceu! O aparecimento do ensino superior no Brasil ocorreu mais de três séculos depois do seu “descobrimento”. A implantação de cursos superiores em terras brasileiras ocorreu por dois motivos: a chegada da família real portuguesa ao Brasil e a necessidade em atender aos jovens nobres que foram impedidos de cursar universidades europeias após o bloqueio continental de Napoleão sobre a Europa. Para a metrópole portuguesa, a aventura em terras brasileiras, na colônia, se assemelhava ao investimento de uma empresa, unicamente voltada para a exploração e a esse fi m se manteve fi el. Dessa maneira, a coroa não se preocupava com a criação de instituições de ensino superior, ainda mais de universidades. Até as ações dos 25 PANORAMA DA HISTÓRIA, DA EDUCAÇÃO E DO ENSINO SUPERIOR NO BRASILSUPERIOR NO BRASIL Capítulo 1 padres jesuítas de fundar seminários para a formação de um clero brasileiro cessaram na reforma efetuada pelo Marquês de Pombal, quando expulsou a companhia de Jesus no fi nal do século XVIII. Assim, as primeiras instituições de ensino superior foram criadas apenas em 1808 e as primeiras universidades são ainda mais recentes, datando da década de 1920/1930 (SANTOS, 2009). Arrastando por alguns anos essa situação vexatória da educação em terras brasileiras, com a expulsão dos jesuítas, ela só começou a mudar no momento em que a família real portuguesa se mudou para o Brasil em 1808. Fugindo da invasão de Portugal pelas tropas de Napoleão Bonaparte, a corte se transfere para sua colônia mais importante, fi xando-se na cidade do Rio de Janeiro. Nesse momento, o Brasil é elevado à categoria de Reino Unido de Portugal e Algarves e ocorre a abertura dos portos às nações unidas. Isso signifi cou que todas as mercadorias importadas e exportadas pelo Brasil, que antes eram comercializadas somente com Portugal, agora são comercializadas diretamente com os países interessados. O principal parceiro comercial na época era a Inglaterra. De forma esclarecedora, Rocha (2005, p. 12) lembra: A transferência da corte portuguesa para o Rio de Janeiro (1807-1808) mudou de maneira radical as relações entre a metrópole e sua colônia mais próspera, o Brasil. Do ponto de vista da educação, novas orientações foram, forçosamente, introduzidas, ampliando-se o processo de secularização do ensino iniciado com Pombal. Motivada por preocupações de utilidade prática e imediata, a obra escolar de D. João VI marcou uma ruptura com o programa escolástico e literário até então em vigor. Muito havia a ser feito para atender à demanda educacional da aristocracia portuguesa, preparando, inclusive, novos quadros para as ocupações técnico-burocráticas. Também é fato que o ensino superior foi a maior preocupação, fi cando os demais níveis relegados à própria sorte, mas, com essa obra teve início o processo de autonomia que iria resultar na independência política. Sobre a família real portuguesa, sugere-se a leitura da seguinte obra: LAURENTINO, Gomes. Como uma rainha louca, um príncipe medroso e uma corte corrupta enganaram Napoleão e mudaram a história de Portugal e do Brasil. São Paulo: Editora Planeta do Brasil, 2007. 26 História e OrganiZação do Ensino Superior no Brasil A obra intitulada “Como uma rainha louca, um príncipe medroso e uma corte corrupta enganaram Napoleão e mudaram a história de Portugal e do Brasil”, está disponível no seguinte endereço eletrônico: <http://goo.gl/nffLtj>. Nessa ocasião, o Brasil se constituiria em capital do reino português, tornando-se assim essencial atenuar as carências do sistema de ensino brasileiro, suscitando uma estrutura educacional nova e que pudesse formar servidores preparados para esta realidade política. O primeiro passo foi multiplicar o número de cadeiras de ensino e criar cursos superiores e instituições culturais. Para tanto, foram criadas a Academia Real da Marinha (1808) e a Academia Real Militar (1810), destinadas a preparar ofi ciais e engenheiros para a defesa militar da colônia. Também foram criados os cursos de cirurgia, anatomia e medicina (1808- 1809). Por fi m, foram criados cursos voltados para a formação de técnicos para os campos da economia, indústria e agricultura (MACHADO, 2002). Conforme Machado (2002, p. 34): Para incrementar a vida cultural e social do Rio de Janeiro, foram criados o Jardim Botânico (1810), a Biblioteca Nacional (1810) e o Museu Real, posteriormente Museu Nacional (1818). Foram incentivadas a vinda de missões estrangeiras compostas por pintores, músicos, cientistas, entre outros estudiosos. Em 1808, também foi liberada a imprensa e a criação de indústrias no país. A imprensa era proibida devido ao medo da metrópole de que, através dos jornais e dos livros, se difundissem ideias que levassem a independência. Também por causa disso, a entrada de livros na colônia era controlada. É importante assinalar que muitos historiadores consideram a criação desses cursos superiores o verdadeiro início do ensino superior em nosso país. Pois, como assinala Sampaio (1991), a vinda da corte portuguesa marcou de fato o início da construção do ensino superior no Brasil, cujo padrão de ampliação teve, como particularidades principais, sua orientação para formação profi ssional e a infraestrutura necessária para modernizar a colônia. Existia, para tanto, um modelo de formação profi ssional no qual: A vinda da corte portuguesa marcou de fato o início da construção do ensino superior no Brasil. 27 PANORAMA DA HISTÓRIA, DA EDUCAÇÃO E DO ENSINO SUPERIOR NO BRASILSUPERIOR NO BRASIL Capítulo 1 As escolas de medicina, engenharia e, mais tarde, de direito, se constituíram naespinha dorsal do sistema, e ainda hoje estão entre as profi ssões de maior prestígio e demanda. Durante esse primeiro período, de 1808 a 1889, o sistema de ensino superior se desenvolve lentamente, em compasso com as rasas transformações sociais e econômicas da sociedade brasileira. Tratava-se de um sistema voltado para o ensino, que assegurava um diploma profi ssional, o qual dava direito a ocupar posições privilegiadas no restrito mercado de trabalho existente e a assegurar prestígio social (SAMPAIO, 1991, p. 6). No Brasil, a criação de instituições de ensino superior seguiu esse modelo, buscando formar grupos profi ssionais para a administração dos negócios do Estado, para a construção de obras públicas e também para encontrar novas riquezas, rejeitando também o papel educacional da igreja católica, exceto o ensino das primeiras letras. A independência política, ocorrida em 1822, não signifi cou grandes mudanças no ensino superior do Brasil, menos ainda a ampliação ou diversifi cação do sistema. Os novos dirigentes não vislumbraram qualquer vantagem na criação de universidades, prevalecendo o modelo de formação para profi ssões em faculdades isoladas. De fato, o processo de independência não foi além de uma continuidade protocolar de poder (SAMPAIO, 1991, p. 7). Atividades de Estudos: 1) Com a expulsão dos jesuítas das terras brasileiras, o que aconteceu com a educação da colônia portuguesa na América? ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 2) Com a vinda da família real portuguesa para o Brasil, em 1808, ocorreram mudanças signifi cativas na educação do Brasil, principalmente no ensino superior. Quais foram essas mudanças? ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 28 História e OrganiZação do Ensino Superior no Brasil A Universidade: Uma Instituição Tardia no Brasil Cabe salientar que, proclamada a República, outras tentativas são feitas. A situação do ensino superior permaneceu praticamente inalterada, desde a independência em 1822 até a Proclamação da República, em 1889. O que mudou com a República foram as alterações na legislação do ensino, com um ideário positivista, pois o discurso passou a afi rmar que todos os cidadãos deveriam ter as mesmas oportunidades educacionais. Fávero (2006) lembra que, na Constituição Republicana de 1891, o ensino superior deveria ser amparado pelo poder central, haja visto que do ano de 1889 até 1930 (período conhecido como República Velha), o ensino superior no país sofreu inúmeras alterações decorrentes da publicação de diferentes dispositivos legais sobre o assunto. Apesar da demora no surgimento da universidade, o regime de desofi cialização do ensino acabou por gerar condições para o surgimento das universidades, com tendência para se deslocar provisoriamente da órbita do Governo Federal para a dos Estados. Nessa conjuntura, surgiu em 1909 a Universidade de Manaus, em 1911 é constituída a Universidade de São Paulo e, em 1912 a Universidade do Paraná, todas como instituições livres. Como resultado disso, em setembro de 1920 o Presidente Epitácio Pessoa, mediante o Decreto nº 14.343, organizou a Universidade do Rio de Janeiro. Criada a partir de três unidades de caráter profi ssional, foi-lhe garantida autonomia didática e administrativa. Dessa maneira, a primeira universidade ofi cial foi criada, resultando da reunião formal de três escolas tradicionais já existentes, sem uma maior conexão entre elas e cada uma conservando suas características. Fávero (2006) lembra que apesar das ressalvas feitas à criação dessa instituição de ensino, cabe assinalar que na história da educação superior brasileira, a Universidade do Rio de Janeiro é a primeira instituição de ensino superior criada legalmente pelo Governo Federal. Aos poucos o panorama começou a mudar. Em 1931, ainda no governo provisório de Getúlio Vargas, foi criado o Ministério da Educação e Saúde Pública, tendo Francisco Campos como o primeiro ocupante da pasta. Através de uma série de decretos, organizou a “famosa” Reforma Francisco Campos. Dentre esses decretos, o nº 19.851 de 1931, instituiu o estatuto das universidades brasileiras, que ao tratar sobre a disposição do ensino superior, instituiu o regime universitário, elevando para o nível superior a formação de professores secundários. A Universidade do Rio de Janeiro é a primeira instituição de ensino superior criada legalmente pelo Governo Federal. 29 PANORAMA DA HISTÓRIA, DA EDUCAÇÃO E DO ENSINO SUPERIOR NO BRASILSUPERIOR NO BRASIL Capítulo 1 No que tange à organização do ensino superior, essa reforma previu duas modalidades: o sistema universitário (ofi cial, mantido pelos governos federal e estaduais ou particulares) e o instituto isolado. A direção central da universidade cabia ao reitor e ao conselho universitário, sendo o reitor escolhido a partir de uma lista tríplice, prática que vigora até hoje nas universidades federais e em algumas públicas estaduais. Essa reforma também dispunha sobre a composição do corpo docente, catedráticos e auxiliares de ensino, que deveriam ser escolhidos por concursos de títulos e provas, entre outras medidas. Outro fator importante relativo à universidade nas primeiras décadas do século XX, dizia respeito à necessidade da pesquisa. A pesquisa que deveria ser realizada pelas universidades, sempre promovendo a formação do pesquisador, realizava-se até então nas escolas profi ssionais, muitas impróprias para esse fi m. “A pesquisa precisava de um espaço mais distanciado de resultados práticos, e com mais liberdade de experimentação e pensamento” (SAMPAIO, 1991). Nesse quesito, a criação de uma universidade no Brasil ressurgiu com uma nova expectativa, qual seja, a de romper com a argumentação resumidamente política que prevaleceu ao longo de todo o século XIX e início do século XX. Atribuía-se à universidade um novo papel: desenvolver a ciência, as humanidades/ artes e a pesquisa. Para essa nova fi nalidade, a Academia Brasileira de Ciência (ABC) e a Associação Brasileira de Educação exerceram um papel de suma importância. “Elas colocaram em pauta um projeto de reformulação completa do sistema educacional brasileiro, desde o nível primário com o projeto da Escola Nova, até o superior com o projeto da Universidade Brasileira, que seria seu coroamento” (SAMPAIO, 1991, p. 8). A criação da Associação Brasileira de Educação em 16 de outubro de 1924, foi um acontecimento de importância fundamental para o direcionamento das mudanças que ocorreram no sistema educacional escolar na segunda metade da década de 1920 e, principalmente, na primeira metade da década seguinte. Até aquela data, o debate sobre as questões educacionais se restringia, quase que exclusivamente, ao interior do Estado. Depois dela, passou a existir um espaço na sociedade civil onde se discutiam as políticas educacionais elaboradas pelo Estado e as sugestões. Fonte: Disponível em: <http://goo.gl/eaBexD>. Acesso em: 16 fev. 2016. 30 História e OrganiZação do Ensino Superior no Brasil De acordo com Sampaio (1991, p. 8), essa universidade moderna deveria ser organizada: [...] a) de maneira que se integrem num sistema único, mas sob direção autônoma, as faculdades profi ssionais (medicina, engenharia, direito), institutos técnicos especializados (farmácia, odontologia), e instituições de altos estudos (faculdades de fi losofi a e letras, de ciências matemáticas, físicas naturais, de ciências econômicas e sociais, de educação etc.); b) e de maneiraque, sem perder o seu caráter de universalidade, se possa desenvolver, como uma instituição orgânica e viva, posta pelo seu espírito científi co, pelo nível dos estudos, pela natureza e efi cácia de sua ação, a serviço da formação e desenvolvimento da cultura nacional. A despeito de todas as tentativas, a Reforma Francisco Campos não conseguiu pôr em prática o ideal de universidade que tinha movimentado educadores e intelectuais em 1920, apesar de não ter mantido o ensino superior nos moldes tradicionais anteriores. Desse modo, a Reforma Francisco Campos além de não modifi car solidamente a universidade imaginada pelos educadores nos anos 20, também não refl etiu na política do Governo Vargas ao longo do seu primeiro mandato (1930-1945). “Esse período assistiria à criação de dois projetos universitários que teriam continuidade, o da Universidade de São Paulo e da Universidade do Brasil, e o projeto frustrado da Universidade do Distrito Federal, no Rio de Janeiro” (SAMPAIO, 1991, p. 11). Em suma, a concepção da universidade em nosso país signifi cou um processo de sobreposição de modelos, do que efetivamente de substituição, isto é, reuniu em muitos casos faculdades já existentes. A universidade, com forte tendência à pesquisa, foi parcialmente instituída com a fundação da USP em 1934, no restante foi preservado o antigo modelo de formação para profi ssões, o que mudaria de certa forma com a Reforma Universitária de 1968, nosso próximo assunto. A ReForma Universitária de 1968 Após o fi nal da ditadura Vargas, teve início a redemocratização no Brasil, confi rmada com a promulgação de uma nova Constituição em 1946, que se distinguiu por ter caráter liberal em suas premissas. Já nesse período, fi nal dos anos de 1940 e começo dos anos 1950, surge nas universidades a vontade de mudanças, principalmente por uma autonomia universitária, tanto interna como externa. Eram os ventos das mudanças. Final dos anos de 1940 e começo dos anos 1950, surge nas universidades a vontade de mudanças, principalmente por uma autonomia universitária, tanto interna como externa. 31 PANORAMA DA HISTÓRIA, DA EDUCAÇÃO E DO ENSINO SUPERIOR NO BRASILSUPERIOR NO BRASIL Capítulo 1 A partir dos anos de 1960, a União Nacional dos Estudantes (UNE) buscava em seus seminários exigir uma reforma universitária, vinculada, é claro, com mudanças estruturais e políticas do país. No entanto, entre abril de 1964 até 1967, as discussões no movimento estudantil foram centralizadas especialmente em dois pontos: “[...] a) revogação dos acordos MEC/USAID; b) revogação da Lei Suplicy (Lei nº 4.464, de 9.11.1964), pela qual a UNE foi substituída pelo Diretório Nacional de Estudantes” (FÁVERO, 2006, p. 20). Ramos (2011) lembra que nesse período, um pouco antes do golpe militar que ocorreu em 1964, a comunidade acadêmica tinha iniciado a discussão em torno da necessidade da reforma universitária, envolvendo a criação de institutos de pesquisa, a modifi cação da estrutura da carreira docente, o reajuste salarial dos professores e a assistência aos estudantes, através de bolsas, alimentação, alojamento etc. No começo do ano de 1968, uma intensa mobilização de estudantes, avivada por intensos debates nas universidades, exigiu do governo medidas que solucionassem os problemas educacionais mais graves, principalmente a falta de vagas. A resposta do governo militar ocorreu com o Decreto n. 62.937, de 02.07.1968, que criou um Grupo de Trabalho (GT) encarregado de estudar, em caráter de urgência, as medidas que deveriam ser tomadas para resolver a crise da universidade. Veja: No relatório fi nal desse grupo aparece registrado que essa crise sensibilizou diferentes setores da sociedade, não podendo deixar de exigir do governo uma ação efi caz que enfrentasse de imediato o problema da reforma universitária, convertida numa das urgências nacionais. Entre as questões levantadas, o relatório chama a atenção para o fato de a universidade brasileira estar organizada à base de faculdades tradicionais que, apesar de certos progressos, em substância, ainda se revelam inadequadas para atender às necessidades do processo de desenvolvimento, que se intensifi cou na década de 1950, e se conserva inadaptada às mudanças dele decorrentes. A universidade se expandiu, mas, em seu cerne, permanece a mesma estrutura anacrônica a entravar o processo de desenvolvimento e os germes da inovação (FÁVERO, 2006, p. 18). Dentre as medidas da reforma que tiveram por objetivo a produtividade e a efi ciência da universidade, principalmente as públicas, destacam-se: “[...] o sistema departamental, o vestibular unifi cado, o ciclo básico, o sistema de créditos e a matrícula por disciplina, bem como a carreira do magistério e a pós-graduação” (FÁVERO, 2006, p. 18). Muitas dessas mudanças permanecem até os dias atuais, mas o que se discute hoje em relação ao ensino superior, não é tanto sua organização, mas sim seu alcance social e econômico para o país, assunto que será discutido nos próximos capítulos! 32 História e OrganiZação do Ensino Superior no Brasil Para conhecer um pouco mais sobre a reforma universitária de 1968, leia com atenção o seguinte texto: LIRA. A. T. N. As bases da reforma universitária da ditadura militar no Brasil. Disponível em: <http://goo.gl/BkulTo>. Acesso em: 16 fev. 2016. Atividades de Estudos: 1) Em que ano e em que contexto a primeira universidade brasileira ofi cial foi criada? ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 2) Durante o Período Vargas, uma importante reforma foi implementada na educação. Quais foram os principais aspectos dessa reforma para o setor? ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 3) Descreva o que foi a reforma universitária de 1968 e o que ela modifi cou no modelo de ensino superior do Brasil. ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 33 PANORAMA DA HISTÓRIA, DA EDUCAÇÃO E DO ENSINO SUPERIOR NO BRASILSUPERIOR NO BRASIL Capítulo 1 Algumas Considerações Caro pós-graduando! Chegamos ao fi nal do primeiro capítulo. Esperamos que a leitura deste material tenha despertado não só o conhecimento sobre a educação superior brasileira, mas também, a vontade de conhecer mais. Faça isso, leia as indicações sugeridas no próprio texto do livro de estudos! Algumas considerações são necessárias para encerrar este capítulo! De forma não muito consensual, alguns historiadores defendem a ação dos jesuítas no Brasil durante 210 anos, outros porém, criticam veemente esse trabalho educativo. A educação praticada pelos jesuítas perpassou toda a época colonial, chegando a infl uenciar práticas desde o Império até a República. Essa educação criou uma cultura importada, com infl uência notadamente europeia. No entanto, não podemos esquecer que os padres jesuítas foram os orientadores sociais e intelectuais da colônia por mais de dois séculos e que, seguramente, sem eles teria sido impossível ao conquistador português conservar a coesão da sua cultura e da sua civilização. Isso era coerente com a ação educacional jesuítica, pois procedia com seus objetivos principais na colônia, a conversão do gentio à fé cristã.A obra jesuítica também apresentou papel fundamental e acabou contribuindo de forma determinante para que o governo de Portugal alcançasse seus objetivos na colonização e no povoamento da colônia brasileira na América. Todavia, os primeiros ensaios do ensino superior no Brasil somente aconteceriam muito após a vinda dos primeiros colonizadores, ou seja, apenas com a chegada da família real portuguesa em terras brasileiras em 1808. Nesse momento surgiu, de fato, o ensino superior no Brasil, com uma preocupação basicamente profi ssionalizante. As universidades demoraram para serem criadas em nosso país, pois somente na década de 1920 e 1930 surgiram universidades com estatuto próprio. Por fi m, a ditadura militar empreendeu uma reforma universitária caracterizada pela racionalização e com forte teor político ideológico. ReFerÊncias CARVALHO, C. et al. Educação jesuítica: contexto, surgimento e desdobramentos. Revista Eletrônica de Ciências da Educação, Campo Largo, v. 7, n. 2, nov. 2008. FÁVERO, M. L. A. A universidade no Brasil: das origens à reforma universitária de 1968. Curitiba: Educar, 2006. 34 História e OrganiZação do Ensino Superior no Brasil MACHADO, A. História da educação. 3. ed. Florianópolis: UDESC, 2002. RAMOS, F. P. História e política do ensino superior no Brasil: algumas considerações sobre o fomento, normas e legislação. 2011. Disponível em: <http://goo.gl/iVZMVD>. Acesso em: 16 fev. 2016. ROCHA, M. A. S. A educação pública antes da independência. 2005. Disponível em: <http://goo.gl/0XDQbV>. Acesso em: 16 fev. 2016. SAMPAIO, H. Evolução do ensino superior brasileiro, 1808–1990. 1991. Disponível em: <http://nupps.usp.br/downloads/docs/dt9108.pdf>. Acesso em: 11 fev. 2016. SANTOS, A. P. Ensino superior: trajetória histórica e políticas recentes. 2009. Disponível em: <https://goo.gl/uI5eYN>. Acesso em: 14 fev. 2016. SHIGUNOV NETO, A.; MACIEL, L. S. B. O ensino jesuítico no período colonial. Curitiba: Editora UFPR, 2008. CAPÍTULO 2 Os Modelos Contemporâneos de Educação: Liberal e Neoliberal A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: Defi nir as principais caraterísticas do liberalismo e sua relação com a educação. Conhecer o neoliberalismo e sua aplicabilidade na educação. Analisar os pontos comuns entre liberalismo e neoliberalismo. 36 História e OrganiZação do Ensino Superior no Brasil 37 OS MODELOS CONTEMPORÂNEOS DE EDUCAÇÃO: LIBERAL E NEOLIBERALLIBERAL E NEOLIBERAL Capítulo 2 ConteXtualiZação “É possível renascer das cinzas, é possível e necessário lutar por um mundo mais justo e igualitário. Simplesmente porque a história ainda não terminou”. Frigotto O conceito de neoliberalismo pode ser sobreposto aos países que têm optado por ampliarem uma política de intervenção mínima. Adotando um discurso de maior autonomia e liberdade, tal política segue práticas muitas vezes centralizadoras, implantando, inclusive, uma política de mercado privativista sobre os direitos sociais básicos, como por exemplo, educação e saúde. No momento de crise muitos Estados são reorganizados, tanto nas esferas econômica, política como social. Nessas reorganizações, surge o pensamento liberal carregado de propostas, que têm como defesa o arranjo das sociedades em função dos interesses privados, empresariais e principalmente, do livre mercado. Conhecer um pouco sobre as modifi cações que vivemos hoje num mundo globalizado, é importante para que não sejamos tragados pela nova ordem mundial da atualidade. Dessa forma, vamos buscar elementos para entender essa “ideologia” vigente (não tão nova assim) que rege a economia e a política mundial. No segundo capítulo serão conhecidos, de forma concisa, os caminhos navegados por essa ideologia, tentando compreender seus pressupostos gerais e sua infl uência na educação. Caro pós-graduando, vamos conhecer um pouco sobre o liberalismo, deixando claro que o propósito não é abordar toda a história e os tipos de pensamento liberal, visto que o tema é vasto e amplo na sua forma de apresentar. O enfoque aqui vai ser, num primeiro momento, fazer uma conceituação do tema, para em seguida situar também o neoliberalismo e relacioná-lo com a educação. O Modelo Liberal na Educação O vocábulo liberal é originário do latim “liber” e signifi ca livre. Numa defi nição vulgar, liberal diz respeito a um pensamento político que aposta no limite do poder para proteger e lutar pelos direitos individuais. Essas ideias apareceram a partir dos pensadores iluministas do século XVIII (Montesquieu e John Locke), que defendiam a limitação do poder político ao afi rmarem “[...] que existiam direitos naturais e leis fundamentais de governo que nem os reis poderiam ultrapassar sob o risco de se transformarem em tiranos” (LAGE, 2016, p. 1). O vocábulo liberal é originário do latim “liber” e signifi ca livre. 38 História e OrganiZação do Ensino Superior no Brasil Tais ideias também concordavam com o conceito de que a liberdade comercial deveria ser adequada a todos, defendendo de certa maneira o capitalismo em seu desígnio. Esse era o lado econômico do liberalismo, que proclamava a não intervenção do Estado na economia (produção e distribuição de riquezas), a não existência de medidas protecionistas e, principalmente, a livre concorrência comercial. Pensadores como David Ricardo, Adam Smith e Malthus defenderam essas ideias. Assim, o liberalismo não pode ser percebido como um amontoado de ideias desarticuladas da realidade, mas uma ideologia, uma forma de pensar da sociedade burguesa, resultado do avanço do capitalismo do século XVIII e XIX. A classe burguesa usou as ideias liberais para fundamentar o modo de produção capitalista, abolindo os resquícios da ordem medieval. Agora vamos conhecer um pouco mais sobre ele! O termo liberalismo pode ser entendido como um conjunto de ideias que tem como intenção garantir a liberdade individual e igualmente a propriedade privada. Nesse caso, o estado liberal seria concebido como garantidor dos direitos naturais e intangíveis do indivíduo. Porém, o pensamento liberal, assim como outras tantas formulações ideológicas, não ocorreu abstratamente num vazio histórico. Vejamos: Assim como o marxismo, o keynesianismo, o fascismo, entre outras doutrinas, o liberalismo é historicamente datado. Apesar de o temo “liberal” ser utilizado desde o século XIV, os primórdios do liberalismo enquanto corrente de pensamento estruturada advêm das revoluções inglesas do século XVII, tendo se expandido pelo continente europeu principalmente a partir da revolução francesa no fi nal do século XVIII. Tal doutrina obteve grande relevância no que diz respeito à luta contra o absolutismo monárquico e também no pensamento iluminista. Um dos maiores expoentes do pensamento liberal, sem dúvidas, foi o inglês John Locke, que desenvolveu suas ideias na passagem do século XVII para o XVIII. Segundo Marcelo Lira Silva, Locke contribuiu para a formação de uma concepção de Estado que rompia com os paradigmas absolutistas e que infl uenciou posteriormente, outros pensadores ligados ao liberalismo (LEIBÃO, 2015, p. 224). Para Heywood (2010), o liberalismo só se concretizou como um princípio político propriamente dito no século XIX. Como qualquer outra forma de pensamento político, social ou econômico, o liberalismo não pode ser visto de maneira alguma como se fosse um modo de pensamento homogêneo. Ao longo da história, dentro do pensamento liberal, desenvolveram-se uma série de divergências no que diz respeito à economia, política, cultura e também educação. O termo liberalismo pode ser entendido como um conjunto de ideias que tem como intenção garantir a liberdade individual e igualmente a propriedade privada. 39 OS MODELOS CONTEMPORÂNEOS DE EDUCAÇÃO: LIBERAL E NEOLIBERALLIBERAL E NEOLIBERAL Capítulo 2 Aqui, caropós-graduando, é importante apresentar dois conceitos-chave para entender o liberalismo, ou seja, o de indivíduo e o de liberdade. Vamos conhecê-los? Por que os liberais defendem a primazia do indivíduo? Essa defesa não ocorreu a partir de uma mera abstração, contudo foi desenvolvida a partir de um contexto histórico bastante específi co. Veja: Tratava-se da formação da sociedade industrial capitalista, resultante do crescimento econômico e político da burguesia europeia. Diferentemente do modo de produção que havia precedido a industrialização e o capitalismo (o feudalismo), com o advento da revolução industrial na segunda metade do século XVIII e a crescente urbanização da sociedade europeia nos séculos que a seguiram, a individualidade do ser humano, segundo este autor, adquiriu um valor que muitas vezes é negligenciado pelos estudiosos do assunto. No período feudal, por exemplo, o indivíduo não era visto como a célula mais importante de uma sociedade, mas sim as famílias, os povoados, as comunidades locais e os estamentos. Isso signifi ca dizer que as relações sociais, alianças políticas e até as alianças matrimoniais aconteciam em decorrência dos interesses familiares, coletivos ou estamentais e não em função das motivações individuais dos seres humanos. Esta mudança político-cultural não ocorreu por acaso, mas sim devido a um processo de elevação da burguesia enquanto classe dominante. Processo este que não ocorreu naturalmente, tampouco sem confl itos na passagem do antigo regime para a ascensão político-econômica da burguesia (LEIBÃO, 2015, p. 224). Como visto anteriormente, a ideia de indivíduo deu origem também ao termo individualismo, que pode ser entendido como um tipo de sociedade que dá uma importância excessiva ao indivíduo em prejuízo do corpo social e coletivo. Por conseguinte, o indivíduo permaneceria no centro de toda a teoria social e política para a explicação dos fenômenos sociais. Esse princípio geral fez com que os liberais criassem uma série de entendimentos sobre diversos fenômenos sociais. Tal fato construiu uma visão comportamental do ser humano, na qual ele é naturalmente egoísta e interesseiro (HEYWOOD, 2010). E o papel do Estado nessa questão? Para um dos grandes estudiosos do tema, Norberto Bobbio, o liberalismo tem a característica de se aproximar das ideias democráticas, pois tanto o pensamento liberal quanto o democrático, partem do mesmo ponto de vista: o indivíduo. Isso só pode acontecer porque o liberalismo entende o O liberalismo tem a característica de se aproximar das ideias democráticas, pois tanto o pensamento liberal quanto o democrático, partem do mesmo ponto de vista: o indivíduo. 40 História e OrganiZação do Ensino Superior no Brasil Estado como indivíduos que atuam politicamente e que estabelecem o mundo a partir das relações constituídas uns com os outros (BOBBIO, 2000). Para a maioria dos pensadores liberais, o Estado existe para assegurar a liberdade dos indivíduos. Geralmente os liberais acreditam que os indivíduos precisam de um mecanismo que permita exercer as suas liberdades e, para esse mecanismo, dão nome de Estado. Além disso, em linhas gerais, “[...] podemos dizer que, para o pensamento liberal, o Estado deve ter como uma das suas principais funções garantir as liberdades individuais dos seres humanos” (LEIBÃO, 2015, p. 225). Já que cabe ao Estado ser a garantia da liberdade dos indivíduos em uma determinada sociedade, assegurando que um não intervenha na liberdade do outro, torna-se imprescindível conhecer o segundo conceito importante do liberalismo: a noção de liberdade proposta por esse pensamento. Tal questão é de suma importância, porque a liberdade, de forma unânime, é defendida por praticamente todos os pensadores liberais do passado e da atualidade. Afi nal, o que é liberdade para os liberais? Vejamos o que diz Heywood (2010, p. 46) sobre o assunto: A defesa da liberdade é um princípio unifi cador para a ideologia liberal, sendo ela algo sem a qual a humanidade não poderia atingir a plena felicidade. A liberdade, no liberalismo defende que os indivíduos têm o direito de fazer suas próprias escolhas, como por exemplo, para onde ir, qual profi ssão seguir, onde morar, do que se alimentar, como se expressar, entre outros fatores. Ainda segundo este autor, ao destacar John Stuart Mill – um dos expoentes do pensamento liberal clássico – ele afi rma que este pensador possui uma postura libertária, uma vez que só defende a imposição de limites à liberdade do indivíduo quando esta põe em risco a liberdade de outros indivíduos. No entanto, um fator primordial para se entender o conceito de liberdade no liberalismo é a sua relação com a propriedade. Historicamente, o conceito de liberdade esteve atrelado ao direito de propriedade privada no pensamento dos liberais, principalmente por se tratar de uma ideologia que se volta especialmente para a burguesia (mas não somente para ela, é importante dizer). Em consonância com as ideias liberais praticadas no restante do mundo, também no Brasil desde o início do século XIX até boa parte do século XX, o liberalismo constituiu a ideologia predominante. Assim, o refl exo do pensamento liberal, adaptado às necessidades das elites políticas brasileiras, teve força política sufi ciente para se perpetuar. E mesmo que ainda no século XXI muitos educadores lutem visando o fortalecimento da escola pública, somente pelo fato dela existir e até hoje ser gratuita, pode ser considerado uma vitória, pois o Estado brasileiro 41 OS MODELOS CONTEMPORÂNEOS DE EDUCAÇÃO: LIBERAL E NEOLIBERALLIBERAL E NEOLIBERAL Capítulo 2 ao longo da sua história fez questão de garantir a educação, principalmente para uma elite econômica e bem situada fi nanceiramente, esquecendo até bem pouco tempo da maioria da população trabalhadora (LEIBÃO, 2015). Atividades de Estudos: 1) Elabore uma síntese sobre o que é liberalismo. ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 2) Qual é o papel do Estado para o liberalismo? ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ Caro pós-graduando, a partir desse quadro geral sobre do liberalismo é possível relacioná-lo com a educação? Como a educação é concebida por esse ideário de pensamento? Ora, para o liberalismo a educação é idealizada como uma ação apropriada para mudar a realidade social, econômica e política onde está inserida e, também, contribuir para a emancipação humana (individualidade e liberdade) que é o princípio basilar do próprio liberalismo. Você acha que a partir do ideário liberal a educação pode emancipar o homem e mudar a realidade individual e social de uma determinada sociedade? 42 História e OrganiZação do Ensino Superior no Brasil O Modelo Neoliberal na Educação Após adentrarmos em discussões tão densas e que, certamente, não se esgotam nestas breves páginas, agora é importante conhecer um pouco sobre o neoliberalismo e suas conexões com a educação! De maneira rápida, o neoliberalismo se defi ne como uma doutrina ou ideologia que na atualidade vem ganhando força, apoio e atração dos governos em âmbito local, nacional e internacional, constituindo, por isso, os modelos de política econômica de muitos países no mundo. Pelo próprio nome não é difícil saber que o neoliberalismo (novo liberalismo) reivindica à cena as ideias socioeconômicas conhecidas como liberalismo.Na sua defi nição original, o termo liberalismo defende as ideias que dão prioridade ao indivíduo, à liberdade e recusam qualquer tipo de ação do Estado sobre os indivíduos. Relembrar algumas noções do liberalismo ajuda a entender essa nova aparência chamada neoliberalismo. Um ponto central nessa doutrina era o repúdio a qualquer intervenção do Estado na área econômica. Os liberais achavam que os elementos econômicos eram conduzidos por uma ordem natural, que levaria inexoravelmente ao equilíbrio e à prosperidade. Para garantir esse equilíbrio, deveria existir a livre concorrência. Muitas dessas ideias continuam como fundamento do neoliberalismo até os dias atuais, ainda que outros elementos tenham sido acrescidos. Para entender a dimensão das conexões e contradições das políticas educacionais de viés neoliberal, é importante entender o percurso histórico que engendrou o neoliberalismo e as principais características que lhe diferenciam do Estado liberal e do Estado do bem-estar social, e por último, como essa dimensão política infl uencia a educação. Tendo por base o liberalismo clássico do século XVIII, o neoliberalismo é mais um liberalismo econômico, todavia há importantes diferenças entre eles. Veja o que diz Crepaldi (1999, p. 5) sobre o assunto: O termo neoliberalismo tem sido aplicado aos Estados que optam por desenvolverem uma política de intervenção mínima. Tal política, embora advogue um discurso de maior liberdade e autonomia, adota práticas centralizadoras e implanta, inclusive sobre os direitos sociais básicos, tais como saúde e educação, uma política de mercado com tendência à privatização. Portanto, o Estado liberal clássico era mais mínimo do que o Estado neoliberal na medida em que neste novo modelo, o Estado coloca-se como interventor no âmbito do mercado – em Os liberais achavam que os elementos econômicos eram conduzidos por uma ordem natural, que levaria inexoravelmente ao equilíbrio e à prosperidade. 43 OS MODELOS CONTEMPORÂNEOS DE EDUCAÇÃO: LIBERAL E NEOLIBERALLIBERAL E NEOLIBERAL Capítulo 2 substituição ao laissez-faire – e age de forma direta sobre os indivíduos ao estimular a competitividade e ao implantar formas novas de vigilância, fi scalização, avaliação de desempenho e, em geral, de formas de controle. No neoliberalismo, ainda muito mais do que no liberalismo clássico, o individualismo, o empreendedorismo e o economicismo são supervalorizados e difundidos, o que por sua vez gera o esvaziamento do valor social das coisas. Para entender o liberalismo antigo, que cedeu lugar ao neoliberalismo e ao Estado do bem-estar social, é importante conhecer, ainda que de maneira rápida, as mudanças que o mundo passou desde a década de 1930, e também as ideias que foram elaboradas como prováveis soluções para as crises que o mundo capitalista conheceu a partir de então. Laissez-faire é a contração da expressão em língua francesa laissez faire, laissez aller, laissez passer, que signifi ca literalmente “deixai fazer, deixai ir, deixai passar”. A expressão refere-se a uma ideologia econômica que surgiu no século XVIII, no período do iluminismo, através de Montesquieu, que defendia a existência do mercado livre nas trocas comerciais internacionais, ao contrário do forte protecionismo baseado em elevadas tarifas alfandegárias, típicas do período do mercantilismo. Fonte: Disponível em: <http://goo.gl/zCmuw2>. Acesso em: 20 fev. 2016. Veja as lições de Crepaldi (1999, p. 7) sobre o tema: A crise do capitalismo norte-americano em 1929 e sua internacionalização colocaram em xeque o liberalismo clássico, bem como a vigência absoluta do laissez-faire, o que, em contrapartida, favoreceu a ascensão dos Estados totalitários na Europa – gérmen da II Guerra Mundial (1939-1945). O fi m deste desastroso momento histórico e a continuidade da tensão mundial materializada na Guerra Fria, ou seja, na oposição entre o capitalismo e socialismo, levou à implantação do chamado Estado do bem-estar social (welfare state) nos países capitalistas da Europa ocidental – o que além de ser uma maneira de enfrentar a crise do capitalismo no pós-guerra, era também mais uma forma de garantir que o socialismo 44 História e OrganiZação do Ensino Superior no Brasil fi casse restrito ao Leste Europeu. Mas, ainda no contexto da II Guerra Mundial, uma obra publicada em 1944 intitulada, “O Caminho da Servidão”, do austríaco Friedrich August Von Hayek (1899-1992), apresentava um ataque veemente a todo intervencionismo econômico estatal – era o marco teórico do neoliberalismo que nascia exatamente quando o keynesianismo era visto como a solução para a crise da Europa no pós-guerra. Apesar do desprezo às ideias de Hayek por parte dos governos da Europa ocidental naquele momento, este continuou a ganhar a simpatia dos liberais mais extremados. Os primeiros neoliberais argumentavam que o igualitarismo promovido pelo Estado do Bem-Estar Social destruía a liberdade individual e a livre concorrência – o que conduzia, inevitavelmente, ao “Caminho da Servidão” – e que a existência da desigualdade era imprescindível para as nações capitalistas ocidentais. Tais argumentos pareciam quase que irracionais diante do progresso que o welfarestate promovia nos anos de ouro do capitalismo intervencionista – décadas de1950-1960. O QUE É O ESTADO DO BEM-ESTAR? Também chamado de welfare state (em inglês), o Estado do bem-estar é o modelo estatal desenvolvido, sobretudo nos países europeus, ao término da II Guerra Mundial, em 1945. Seus princípios básicos foram elaborados pelo economista inglês John M. Keynes, motivo pelo qual, com frequência, fala-se em keynesianismo para se referir a esse tipo de Estado. Houve muitas variações na forma como os diversos países compreenderam e aplicaram o modelo do welfare state. É possível, entretanto, identifi car algumas características básicas: a) O Estado intervém na área econômica, através de subsídios a diversos setores. Também controla a exploração de alguns recursos naturais (indústria mineral, energia etc.) através de empresas estatais. Na época, isso fazia parte de um projeto de construção nacional que, no plano político, correspondia à democracia liberal. b) O Estado é responsável pela promoção da justiça social e do igualitarismo. As políticas sociais são universais: saúde, educação e previdência para todos. Aumentam os recursos destinados a essas políticas. 45 OS MODELOS CONTEMPORÂNEOS DE EDUCAÇÃO: LIBERAL E NEOLIBERALLIBERAL E NEOLIBERAL Capítulo 2 c) Abandona-se a ideia de que a lógica do mercado está acima de tudo. No campo das relações de trabalho, a estabilidade dos trabalhadores no emprego é estimulada. Nos países onde este modelo se desenvolveu, o poder de negociação dos sindicatos era muito alto. Fonte: Disponível em: < http://goo.gl/YfnP4>. Acesso em: 20 fev. 2016. Conforme dito anteriormente, nas décadas de 1950 e 1960 as ideias neoliberais não tiveram ressonância. Nesse período, registrou-se as mais altas taxas de crescimento econômico da história do capitalismo, ainda sob o predomínio do Estado do bem-estar. Em 1973, contudo, esse modelo econômico entrou em crise. Na Europa e nos Estados Unidos, teve início uma longa recessão que combinou baixas taxas de crescimento econômico com altas taxas de infl ação. A crise que fez ascender o neoliberalismo ocorreu quando os países do primeiro mundo entraram em uma intensa recessão econômica, advinda principalmente da crise do petróleo que gerou uma grande elevação do preço do barril. Era nesse contexto que se esboçava o terreno favorável para o progresso das ideias neoliberais. Naquele momento, os países de capitalismo avançado conheciam uma crise econômica caracterizada por altas taxas de infl ação e baixas taxas de crescimento. É assim que o capitalismo intervencionista inicia sua agonia e chega a hora e a vez do neoliberalismo tentar solucionara crise do sistema capitalista. No entanto, mesmo o neoliberalismo se apresentando como recurso para a crise que se avizinhava em alguns países capitalistas do velho mundo, a primeira experiência neoliberal não aconteceria na Europa, menos ainda nos Estados Unidos da América, mas sim na América Latina. Veja: No Chile, a partir de 1973, com o governo de Pinochet, foi implantado um intenso programa de privatização e o resultado fi nal foi a instalação de um cruel regime ditatorial. Na Europa, a primeira experiência neoliberal ocorreu na Inglaterra com a eleição de Margareth Thatcher em 1979 – Thatcher fi cou conhecida como a “Dama de Ferro” e governou a Inglaterra de 1979 a 1990. Entre as principais medidas de Thatcher, que tão bem identifi ca o Estado neoliberal inglês, se destacam: a elevação da taxa de juros, corte de gastos sociais, repressão às greves e imposição de uma legislação antissindical, criação de índices massivos de desemprego, além, é claro, de práticas de privatização. Em 1981, Ronald Reagan assumiu 46 História e OrganiZação do Ensino Superior no Brasil a presidência dos Estados Unidos e deu início à implantação do neoliberalismo na América do Norte, elevando as taxas de juros, reprimindo greves e, evidentemente, no contexto da Guerra Fria, investindo pesado na corrida armamentista, criando um defi cit público sem precedentes (CREPALDI, 1999, p. 8). No Brasil, as principais ideias do modelo neoliberal começaram a ser aplicadas a partir do Presidente Fernando Collor de Mello, no ano de 1989, tendo continuidade nos dois mandatos de Fernando Henrique Cardoso (entre 1994 a 2002). A partir de então, como em toda experiência neoliberal, os direitos dos trabalhadores passaram a ser considerados privilégios; as empresas estatais passaram a ser consideradas improdutivas e inefi cientes, assim como os serviços públicos de saúde e educação. Assim, justifi cou-se as políticas de privatização e terceirização, o que no modelo neoliberal faz dos serviços (principalmente os públicos) mais produtivos e efi cientes, logo, menos caros (CREPALDI,1999). Em períodos do neoliberalismo, o que ocorre de forma clara é a imagem de Estado mínimo no que se refere à gestão dos recursos fi nanceiros e geração e distribuição fi nanceira administrativa. Por outro lado, esse mesmo Estado mínimo também cumpre a função de administrador, regulador e controlador, colaborando diretamente para a conservação das desigualdades sociais por meio da sustentação dos privilégios da elite, relegando as políticas públicas para um segundo plano. Pois bem, e a educação no discurso neoliberal? Para os governos neoliberais, a educação abandona o campo social e político para entrar no mercado e funcionar a sua semelhança. Nesse sentido, Caprio e Lopes (2016, p. 2) ressaltam três objetivos relacionados com a retórica neoliberal aplicada ao papel estratégico da educação. Veja: 1. Atrelar a educação escolar à preparação para o trabalho e a pesquisa acadêmica ao imperativo do mercado ou às necessidades da livre iniciativa. Assegurar que o mundo empresarial tem interesse na educação porque deseja uma força de trabalho qualifi cada, apta para a competição no mercado nacional e internacional. 2. Tornar a escola um meio de transmissão dos seus princípios doutrinários. O que está em questão é a adequação da escola à ideologia dominante. 3. Fazer da escola um mercado para os produtos da indústria cultural e da informática, o que, aliás, é coerente com a ideia de No Brasil, as principais ideias do modelo neoliberal começaram a ser aplicadas a partir do Presidente Fernando Collor de Mello, no ano de 1989, tendo continuidade nos dois mandatos de Fernando Henrique Cardoso (entre 1994 a 2002). 47 OS MODELOS CONTEMPORÂNEOS DE EDUCAÇÃO: LIBERAL E NEOLIBERALLIBERAL E NEOLIBERAL Capítulo 2 fazer a escola funcionar de forma semelhante ao mercado, mas é contraditório, porque enquanto no discurso os neoliberais condenam a participação direta do Estado no fi nanciamento da educação, na prática não hesitam em aproveitar os subsídios estatais para divulgar seus produtos didáticos e paradidáticos no mercado escolar. Conclui-se, portanto, que o neoliberalismo acredita que a educação deve estar no mesmo âmbito do mercado e das técnicas de gestão empresariais, retirando qualquer conteúdo político, social e cidadão da escola, colocando em seu lugar os direitos do consumidor. É como consumidores e clientes que o neoliberalismo enxerga os alunos e os pais. Atividades de Estudos: 1) Escreva com suas palavras a diferença entre liberalismo e neoliberalismo. ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 2) Como o neoliberalismo pensa a educação? ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ Algumas Considerações Neste segundo capítulo, foram analisados alguns conceitos do liberalismo e do neoliberalismo, bem como a relação destes com a educação. A partir de 48 História e OrganiZação do Ensino Superior no Brasil ReFerÊncias BOBBIO, N. Liberalismo e democracia. 4. ed. São Paulo: Brasiliense, 2000. CAPRIO M.; LOPES E. C. As infl uências do modelo neoliberal na educação. 2016. Disponível em: <http://goo.gl/1dzLuw>. Acesso em: 20 fev. 2016. CREPALDI, E. M. F. Política educacional brasileira no contexto da política neoliberal. 1999. Disponível em: <http://goo.gl/ZcUQ7y>. Acesso em: 22 fev. 2016. HEYWOOD, A. Ideologias políticas: do liberalismo ao fascismo. São Paulo: Ática, 2010. LAGE, A. C. P. Liberalismo no Brasil. 2016. Disponível em: <http://goo.gl/ H3xepy>. Acesso em: 18 fev. 2016. LEIBÃO, M. de C. Indivíduo, propriedade e liberdade na educação brasileira. Revista de Educação, Rio de janeiro, n. 3, p. 223-342, jan. 2015. um quadro geral do liberalismo, foi possível desvendar sua essência. Impondo-se como elemento decisivo na organização das sociedades capitalistas pelo mundo a partir do século XIX, o liberalismo se estendeu como uma nova conformação social instaurada a partir de uma classe: a burguesia. Constatou-se que o padrão liberal da sociedade nasceu como justifi cativa composta de princípios no plano econômico, político, ideológico e educacional, fundamentado em premissas de liberdade e igualdade para todos, contrapondo o antigo regime. Para o ideário liberal, a lógica em relação à educação é que ela seja capaz de mudar a realidade social e econômica, colaborando para a emancipação humana, com liberdade e igualdade. Por sua vez, o neoliberalismo, apropriando-se e dando continuidade ao pensamento liberal, preocupa-se mais com a não intervenção do Estado na economia, dando ao mercado amplos poderes para resolver as contradições capitalistas. Tendo sua base no liberalismo clássico do século XVIII, a teoria neoliberal se caracteriza por uma adequação em função das mudanças ocorridas durante a trajetória do capitalismo. Acreditam seus defensores que a independência do mercado e o Estado mínimo são sufi cientes para desenvolvimento social/ educacional. CAPÍTULO 3 Panorama Geral do Ensino Superior em Outros Países, Instituições Públicas e Privadas, e Situação Atual do Ensino Superior no Brasil A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: Conhecer a trajetória do Ensino Superior emoutros países. Identifi car a diferença entre instituições públicas e privadas de Ensino Superior no Brasil e suas funções. Perceber qual é a situação atual do Ensino Superior no Brasil. 50 História e OrganiZação do Ensino Superior no Brasil 51 PANORAMA GERAL DO ENSINO SUPERIOR EM OUTROS PAÍSES, INSTITUIÇÕES PÚBLICAS E PRIVADAS, A SITUAÇÃO ATUAL DO ENSINO SUPERIOR NO BRASILSITUAÇÃO ATUAL DO ENSINO SUPERIOR NO BRASIL Capítulo 3 ConteXtualiZação Caro pós-graduando! Depois de corrermos um percurso onde conhecemos um pouco da história do Ensino Superior no Brasil, neste capítulo vamos entender sobre o liberalismo e o neoliberalismo e sua relação com a educação, e um pouco do surgimento e desenvolvimento das universidades. É importante assinalar que os modelos de universidades atuais só são possíveis de existir a partir do conhecimento de sua história, visto sua infl uência decisiva na construção das universidades nos dias de hoje. No primeiro momento, vamos compreender a origem do sistema universitário no continente europeu, especifi camente na Idade Média, e em seguida, o aparecimento das universidades na América Latina, bem como a diferenciação entre universidades públicas e privadas. E, por último, um pouco do Ensino Superior atual no Brasil. Fazendo parte atualmente da vida de milhões de pessoas pelo mundo, as primeiras universidades nasceram na Idade Média europeia e estavam vinculadas à Igreja ou ao poder real. Curioso é que nessa época a universidade era bem diferente do que conhecemos hoje, não existia idade para nela ingressar, e em muitos casos, até mesmo analfabetos ingressavam nas instituições e participavam das atividades de aprendizagem. Considerada uma das mais antigas do mundo em funcionamento até os dias atuais, a Universidade de Paris é tida como a primeira instituição desse tipo. Em muitos casos, ingressava-se nas universidades para buscar inserção política e também cultural na sociedade. Mesmo tendo um perfi l doutrinário no início, os primeiros progressos do desenvolvimento do pensamento investigativo e científi co formalizados surgiram nesses espaços. O entendimento que temos de universidade hoje, com pré-requisito de ingresso, com currículo específi co, com colação de graus, títulos, teve sua origem na Europa medieval. No entanto, é bom notar que já existiram diversos centros de Ensino Superior por todo o mundo anteriores aos da Idade Média, que de forma comum buscaram conhecimentos superiores até mesmo precedendo as universidades medievais. Na antiguidade tínhamos a célebre Academia de Platão, destinada, entre outras coisas, à discussão e socialização do livre conhecimento. E quais eram as instituições que exerciam papéis essenciais na preservação e difusão dos conhecimentos antes das universidades? Durante séculos, antes do surgimento das universidades, eram os mosteiros que exerciam tal função. Porém, foi nas universidades que o conhecimento se tornou mais acessível e buscou explicações mais racionais e científi cas para o mundo. A universidade seria o lugar adequado da verdadeira atividade intelectual, onde o ensino e o conhecimento prosperam mais do que em qualquer outro tipo de instituição. Na 52 História e OrganiZação do Ensino Superior no Brasil época do seu surgimento, a função que a universidade tinha era a de buscar a liberdade intelectual, num período onde heresias eram perigosas. Assim, seu papel foi de suma importância. Constituía um dos únicos espaços onde assuntos coibidos podiam ser debatidos com uma certa impunidade. Por fi m, como já referido, nesse capítulo iremos estudar primeiramente a partir de um retrospecto histórico, uma melhor compreensão do tema, iniciando com as instituições medievais, a passagem para a modernidade, a transição do século XIX para o XX e, por último, alguns modelos atuais do Ensino Superior brasileiro. O Ensino Superior em Outros Países Ao longo da história da humanidade, a universidade se constituiu quase sempre como o fundamento da formação científi ca e intelectual. Desde 387 a.C., fundada por Platão, próximo à Atenas, temos um tipo de “escola” que pode ser entendida como algo parecido como a primeira universidade da história. No entanto, foi na Europa medieval que ela surgiu de fato. Período onde o conhecimento superior signifi cava tão somente status social e político, onde, na maioria dos casos, esse conhecimento estava ofi cialmente vinculado à Igreja Católica ou ao poder real. O desenrolar da história, a organização do conhecimento, as mudanças econômicas, sociais e culturais do mundo nos últimos séculos também transformaram as universidades, que têm hoje uma função muito mais importante do que tinham quando surgiram. Desde 387 a.C., fundada por Platão, próximo à Atenas, temos um tipo de “escola” que pode ser entendida como algo parecido como a primeira universidade da história. O Surgimento da Universidade Medieval Espalhando-se de forma rápida por toda a Europa e depois pelo mundo, a universidade teve seu surgimento na Idade Média. Desde seu aparecimento, esse tipo de instituição criou e transmitiu o conhecimento da humanidade acumulado, desempenhando até hoje um enorme papel social. Mesmo sendo validadas pelo papado (no início vinculadas à Igreja e autorizadas por bulas papais) ou pelo poder real de cada país, as universidades medievais foram lugares importantes para a construção do conhecimento do mundo ocidental. Nelas havia estudiosos preocupados com o desenvolvimento do pensamento “crítico” e da ciência. 53 PANORAMA GERAL DO ENSINO SUPERIOR EM OUTROS PAÍSES, INSTITUIÇÕES PÚBLICAS E PRIVADAS, A SITUAÇÃO ATUAL DO ENSINO SUPERIOR NO BRASILSITUAÇÃO ATUAL DO ENSINO SUPERIOR NO BRASIL Capítulo 3 A Igreja, que tudo dominava nesse período, era responsável, por meio do papado, pela autorização da criação de uma universidade. Determinava seu formato, seguindo os cânones evangélicos. Mesmo tendo que seguir tais determinações, a universidade medieval possuía liberdade na sua estrutura administrativa e pedagógica, relativa ao currículo, à relação entre professor e aluno, à avaliação e à estrutura física. As universidades geralmente alicerçavam-se sobre duas faculdades: Teologia e Artes Liberais, sendo que o curso de Teologia era, evidentemente, o mais prestigiado. Das três universidades mais antigas, Paris e Oxford eram essencialmente teológicas, tendo entre seus representantes os prestigiados Santo Tomás de Aquino, Pedro Abelardo e Guilherme de Ockham. Por sua vez, a universidade de Bolonha iniciou seu projeto com o curso de Direito, sob a autoridade de Irineu e Gratianus. A de Paris ainda criou as faculdades de Direito e Medicina (LACERDA; ÁLVARES, 2005). Atualmente sabemos que cada curso universitário tem seu currículo próprio e adequado à formação de cada profi ssão. E nesse período, como era o currículo? Existiam diferenças com a atualidade? Segundo Lacerda e Álvares (2005, p. 97), “[...] o currículo básico universitário era formado por duas rubricas disciplinares: o trivium: gramática, dialética e retórica; e o quadrivium: aritmétca, geometria, música e astronomia”. Após cursar essas disciplinas básicas, o maître faria sua tese. Caso aprovado pela banca composta pelos doutores da faculdade, recebia solenemente o grau de Doutor. Como não poderia deixar de ser, a concepção de mundo medieval, metafísica, exercia infl uência direta nos estudos, assim, o universo criado por Deus precisaria ser conhecido de forma racional pela ciência fi losófi ca a partir de uma metodologia dedutiva. Dessa forma, a fé cristã, por meio da teologia, guiava a razão para atingir o verdadeiro e sagrado conhecimento. Este papel aparecia no lema medieval que explicava as relações entre fi losofi a e teologia: A Teologia cristã determinava que todo o conhecimento humano por iluminação divina tinha a função evangélica de salvação do pagão e manutençãodo orbe christiano. A universidade deveria encaixar-se nesse modelo. Exemplo claro foi a Universidade de Praga, autorizada pelo Papa Clemente VI, em 1347, com o fi m de formar mestres evangelizadores para as tribos teutônicas do leste europeu (LACERDA; ÁLVARES, 2005, p. 99). Como já referido anteriormente, Paris e Bolonha estão entre as primeiras universidades na Europa. A mais antiga foi a de Bolonha, criada a partir de 1088; já a de Paris, que serviu de exemplo para outras instituições, surgiu em torno do ano de 1200. Estimulada pela localização geográfi ca, a Universidade de Paris cresceu também devido A Igreja, que tudo dominava nesse período, era responsável, por meio do papado, pela autorização da criação de uma universidade. Paris e Bolonha estão entre as primeiras universidades na Europa. 54 História e OrganiZação do Ensino Superior no Brasil à participação da administração real. Primeiramente, a corporação, denominação que era outorgada à universidade, se formou em 1150, no século XII, e adquire o título de Estudos Gerais, tendo a Teologia como a mais importante de todas as áreas. A partir do século XIII já estava consolidada, formando a Corporação dos Mestres Parisienses (1262) ou Universitas Magistrorum et Scholarium. Composta de alunos e professores, recebia alunos de todos os lugares, sendo então reconhecida ofi cialmente pela mais alta autoridade do período, o papa, por meio de uma bula papal (ROSSATO, 2005). Em Bolonha, o sistema de organização e de ensino dos Estudos Gerais segue outros moldes para atender anseios municipais, carentes de juristas e de administradores. Sua estrutura eminentemente estudantil dominava a corporação dos mestres, determinando o salário, os métodos de ensino e até as exigências para a colação de título. Cobravam multas dos mestres faltosos ou que não tinham sufi ciente competência, e os reincidentes podiam ser até expulsos (BOHRER, 2008). Para aprofundar seus estudos sobre o assunto debatido até este momento, faça a leitura do trabalho acadêmico de autoria de Terezinha Oliveira, intitulado Origem e memória das universidades medievais – a preservação de uma instituição educacional, disponível no seguinte endereço eletrônico: <http://goo.gl/6F6XUl>. Bem diversas do que conhecemos hoje por universidade, nesta época essas instituições agrupavam-se em bairros onde os estudantes residiam, a forma de ensino era a da lição, isto é, primeira leitura, comentários pelo professor/mestre e, após, a discussão entre os alunos proposta pelo mestre. E o mestre/professor, quem era? “Este era o profi ssional que tinha sido admitido à corporação dos ensinantes, maior de 21 anos, com no mínimo seis anos de estudo e defesa de um debate público, passando pelos três graus: bacharelado, licenciatura e mestrado” (BOHRER, 2008, p. 3). Tendo uma relativa autonomia sociopolítica, geralmente seus membros (doutores, reitores, licenciados – seculares ou clérigos – e estudantes) tinham um status legal além das leis jurídico/sociais. Em casos de litígio, o julgamento era realizado pelo corpus universitarium, uma espécie Nesta época essas instituições agrupavam-se em bairros onde os estudantes residiam, a forma de ensino era a da lição, isto é, primeira leitura, comentários pelo professor/mestre e, após, a discussão entre os alunos proposta pelo mestre. 55 PANORAMA GERAL DO ENSINO SUPERIOR EM OUTROS PAÍSES, INSTITUIÇÕES PÚBLICAS E PRIVADAS, A SITUAÇÃO ATUAL DO ENSINO SUPERIOR NO BRASILSITUAÇÃO ATUAL DO ENSINO SUPERIOR NO BRASIL Capítulo 3 de assembleia, presidida pelo reitor responsável pela casa da qual o aluno fazia parte. Não havia proibição dos prazeres carnais, porém a universidade protegia aqueles membros que faziam votos de abstinência, mas excessos eram julgados e proibidos conforme a autonomia sociojurídica de cada instituição. Em muitos casos cabia ao bispo da cidade a “[...] intermediação dos problemas causados pelos excessos e o poder moderador sobre as atividades sociais e políticas dos membros universitários”. Pela sua importância, a universidade determinava “[...] o prestígio de uma cidade e de um reino, o êxodo de professores e alunos devido a problemas sociais e políticos era evitado pela amenização das coerções” (BOHRER, 2008, p. 4). Completamente livresca, a educação universitária da época era realizada por uma seleção bastante limitada de livros em cada área, livros aceitos como verdade única e absoluta. Muito raros e caros, os livros eram de difícil acesso, assim, o estudante tinha somente nas aulas a oportunidade de adquirir conhecimento. Em muitos casos os próprios textos eram lidos e ditados pelos docentes para que os estudantes pudessem conhecê-los. Volta-se muito mais para o aprendizado de discursos formais, retórica e eloquência, do que propriamente a aquisição de conhecimento para a busca da verdade, ou até mesmo para auxiliar o estudante a familiarizar-se com o pensamento laico. Isso tudo não era aprovado pela eclesiástica ortodoxa. Todavia, a organização administrativa gozava de certa liberdade, visto que: As universidades de Paris possuíam um governo democrático, estavam localizadas em centros de população e possuíam privilégios especiais legais e pecuniários, entre eles: a colação de grau era a licença para ensinar, antes somente concedida pela Igreja; possuíam já nesta época o direito de greve, de recessão ou de mudar a universidade - caso os privilégios fossem infringidos -; isenção dos estudantes do serviço ofi cial e de impostos; e, o mais importante, o de jurisdição interna, ou seja, o de julgar seus membros em todos os casos civis e em muitos criminais. A infl uência política das universidades foi notável como primeiro exemplo de organização puramente democrática. Os assuntos políticos, eclesiásticos e teológicos eram livremente debatidos, embora se percebesse a inclinação para as classes privilegiadas. A autoridade política da universidade na época fez com que ela tivesse voz no governo, e ainda mais, sua maior infl uência deu-se em relação à vida intelectual. Antes restrita, formal e pobre, viu-se reconhecida em igualdade com a Igreja, o Estado e a Nobreza (BOHRER, 2008, p. 6). Completamente livresca, a educação universitária da época era realizada por uma seleção bastante limitada de livros em cada área, livros aceitos como verdade única e absoluta. 56 História e OrganiZação do Ensino Superior no Brasil A educação livresca, também conhecida como intelectualista, estava pautada somente na transmissão de conhecimento pela imitação. As coisas eram assim nas universidades medievais, bastante privilégio para quem ali estudasse. O governo secular também fazia sua parte, providenciando questões logísticas e protegendo legalmente a universidade para o seu bom funcionamento, porém, não podemos achar que os governos investiam muito nessas instituições, suas infl uências geralmente eram incipientes. Tida como exemplo de construção para as outras universidades do período, por ser a mais prestigiosa, a Universidade de Paris criou um modelo universitário que: “[...] consistia da reitoria, da assembleia, das nações das casas dos docentes e dos discentes. Uma nação era a congregação de alunos de uma mesma nacionalidade. A assembleia era o órgão máximo da universidade [...]”, que era constituída pelo reitor, pelos doutores, licenciados e também pelos representantes das nações (LACERDA; ÁLVARES, 2005, p. 97). A mesma decidia tanto sobre aspectos de infraestrutura da universidade, quanto sobre a pedagógica, moral e até espiritual. O papel do reitor era o de convocar a assembleia sempre que preciso, e essa “autonomia universitária” pela comunidade universitária causou, em muitos casos, confl itos com as autoridades dos bispos. Esses confl itos se davam sobre um ponto importante, o da liberdade do conhecimento. Querendo preservar os ditames evangélicos, asautoridades eclesiais indicavam as restrições acadêmica e religiosa. No geral, as universidades medievais não eram segregacionistas, tinham uma constituição comunitária, porém, as mulheres não tinham acesso. Por sua estrutura pedagógico-eclesiástica, a universidade estava isolada da sociedade medieval e já no século XIV começava uma lenta laicização. Com mudanças profundas na sociedade medieval, o advento do Renascimento, o modelo medieval de sacralidade do universo cedia, aos poucos, lugar ao individualismo, à razão e à ciência. São essas mudanças que veremos a seguir! A assembleia era o órgão máximo da universidade. Por sua estrutura pedagógico- eclesiástica, a universidade estava isolada da sociedade medieval e já no século XIV começava uma lenta laicização. 57 PANORAMA GERAL DO ENSINO SUPERIOR EM OUTROS PAÍSES, INSTITUIÇÕES PÚBLICAS E PRIVADAS, A SITUAÇÃO ATUAL DO ENSINO SUPERIOR NO BRASILSITUAÇÃO ATUAL DO ENSINO SUPERIOR NO BRASIL Capítulo 3 Para ampliar os horizontes sobre o tema estudado, assista ao fi lme intitulado O nome da rosa, lançado em 1986, dirigido por Jean-Jacques Annaud e disponível no seguinte endereço eletrônico: <https://goo.gl/9lOMoS>. Resumo: estranhas mortes começam a ocorrer num mosteiro beneditino localizado na Itália durante a baixa Idade Média, onde as vítimas aparecem sempre com os dedos e a língua roxos. O mosteiro guarda uma imensa biblioteca, onde poucos monges têm acesso às publicações sacras e profanas. A chegada de um monge franciscano (Sean Connery), incumbido de investigar os casos, irá mostrar o verdadeiro motivo dos crimes, resultando na instalação do tribunal da Santa Inquisição. Atividades de Estudos: 1) A partir do que foi lido sobre a universidade medieval, registre aqui as principais características desse modelo de universidade. ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 2) Qual era o papel da Igreja em relação à universidade medieval? ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 58 História e OrganiZação do Ensino Superior no Brasil Caro pós-graduando! Assim, a universidade medieval vai deixando seu modelo para trás, novos horizontes para o conhecimento pautados na razão vão surgir com o mundo moderno, onde cada vez mais as ideias religiosas irão dar lugar a debates científi cos calcados num racionalismo vigoroso. Universidade na Época Moderno- Contemporânea “Rompida a unidade cultural da Idade Média, no século dezesseis, inicia-se a nossa Idade Moderna com o renascimento da cultura clássica e as novas forças do nacionalismo e da reforma. O redespertar intelectual cedo deu lugar, entretanto, a um novo pensamento, o pensamento científi co”. Anísio Teixeira A Idade Média estava fi cando para trás, o Renascimento dava seus ares e, logo, o Iluminismo e a razão iriam disputar a hegemonia sobre um novo projeto de universidade já na modernidade. No campo político-social, durante o século XVI, dois acontecimentos foram de signifi cativa importância: a Reforma Protestante, iniciada por Martinho Lutero (1483-1546), que estimulou, de um lado, a laicização e a estatização das universidades, reduzindo o controle da Igreja, e, de outro lado, instituiu uma nova força no controle da liberdade dos professores; já a Contrarreforma reforçou o cerceamento da liberdade de cátedra, criando também a educação jesuíta, cujo principal objetivo estava relacionado à missão de preparar os jovens no mundo todo para o trabalho eclesiástico de catequização. Desse modo: O fi m da Idade Média, com os seus múltiplos componentes, entre os quais a Reforma Protestante, contribuiu decisivamente para romper a unidade e gradativamente o modelo medieval sobrevive, mas ao lado de novos paradigmas que vão se instituindo e fortalecendo. A concorrência com o pensamento humanista e os colégios, instituições que gozam de grande prestígio nos séculos XVI e XVII, a perda do monopólio, os novos ensinamentos (Descartes, Copérnico, Galileu...), as ideias iluministas em ascensão, acentuam a crise da universidade, que vive profunda decadência e vê muitas instituições desaparecerem ou sobreviverem em condições precárias (ROSSATO, 2005, p. 30). O nascimento das universidades modernas, entre os séculos XVI e XVIII, ocorreu a partir dos anos 1500, com o movimento da Reforma Protestante se alastrando pelos países do norte da Europa e dando início ao envolvimento de O Renascimento dava seus ares e, logo, o Iluminismo e a razão iriam disputar a hegemonia sobre um novo projeto de universidade já na modernidade. 59 PANORAMA GERAL DO ENSINO SUPERIOR EM OUTROS PAÍSES, INSTITUIÇÕES PÚBLICAS E PRIVADAS, A SITUAÇÃO ATUAL DO ENSINO SUPERIOR NO BRASILSITUAÇÃO ATUAL DO ENSINO SUPERIOR NO BRASIL Capítulo 3 instituições não católicas nas universidades; isso ocorreu também nos Estados Unidos da América. E o que basicamente diferia as universidades medievais das universidades modernas? As modernas estavam mais diretamente vinculadas à pesquisa. A partir do século XVIII, as principais universidades europeias, inclusive, já publicavam suas próprias revistas científi cas. A nova ideia desse período foi atrelar o conhecimento científi co ao desenvolvimento tecnológico. Em 1794, na França, se fazem presentes a Escola Politécnica e a Escola Normal Superior, estabelecidas sob estrito controle estatal, e também a Universidade de Berlim, em 1810, que pregava a indispensável missão das universidades de desenvolverem pesquisas e lutarem pela prioridade de liberdade acadêmica. Novos tempos nasciam nas universidades! Segundo Lacerda e Álvares (2005), o modelo de universidade dos séculos XVI a XVIII manteve sua estrutura trinômica, ou seja, educação, investigação e ciência, que, de acordo com os autores, a caracterizou desde sua fundação. Todavia, surgiam no panorama europeu, com mais ênfase na Itália, França e Alemanha, elementos que determinaram novas orientações da sua atuação e criaram novas formas de relação com as demais instituições sociais vigentes, que até hoje estão presentes. No campo da cultura geral e acadêmica, três elementos são decisivos: O primeiro é a paulatina substituição de um modelo de epistéme medieval, entendida como metafísica, para um modelo de epistéme experimental, como física. A experimentação dá lugar à especulação, a partir de uma cosmovisão mecanicista inaugurada por R. Descartes. A astronomia, inaugurada por N. Copérnico, G. Galilei e H. Kepler, será levada ao ápice com as leis da gravitação universal de I. Newton. O segundo elemento é o surgimento do humanismo no século XV, nas universidades da Itália, que impulsionará o ensino do Direito, da retórica e da anatomia. O terceiro elemento é a descoberta da imprensa no século XV. Embora sua força revolucionária tenha levado algum tempo para se desenvolver, desde cedo será recebida com ressalvas pela Igreja, que mantinha todos os esforços no sentido de intensifi car, contra todas as resistências, a teologia clássica e a supremacia da fé em relação à razão, proibindo, por exemplo, a publicação de obras consideradas heréticas (LACERDA; ÁLVARES, 2005, p. 102). Cabe ressaltar que na França, que se encontrava atrasada em relação à Alemanha e Inglaterra, as ideias da Revolução de 1789, acontecimento político relevante de emancipação política e burguesa, culminaram num novo olhar para a universidade e uma maior liberdade acadêmica.Foram propostas uma nova O nascimento das universidades modernas, entre os séculos XVI e XVIII, ocorreu a partir dos anos 1500, com o movimento da Reforma Protestante se alastrando pelos países do norte da Europa e dando início ao envolvimento de instituições não católicas nas universidades 60 História e OrganiZação do Ensino Superior no Brasil otimização da ciência em relação à teologia e a criação de centros de estudos científi cos, por exemplo, o observatório de Paris. Também de forma inovadora, a construção de um Conselho Nacional de Educação, cuja tarefa principal era idealizar o conhecimento em todos os níveis de ensino, inclusive o universitário. Ainda no clamor revolucionário, em 1791 foi criado o Ministério da Educação, estatizou-se o ensino, instituiu-se uma corporação estatal de professores e uma educação universal e gratuita. Nota-se que a busca por uma autonomia universitária fez parte da história da universidade entre os séculos XVI e XVIII. “A tentativa de separação entre epistéme e poder nunca foi concluída, pois ora a Igreja (católica ou reformada) intervém, ora os príncipes e reis controlam. Apesar do controle externo, paulatinamente a universidade vai se abrindo para a sociedade” (LACERDA; ÁLVARES, 2005, p. 103). A despeito disso, a universidade internamente sempre buscou manter seu caráter crítico, que caracterizou sua trajetória desde o início. As relações professor-aluno nesse período cada vez mais assumiam aspectos institucionais, em substituição às familiais típicas da época medieval. Rossato (2005) assinala que três revoluções abriram o caminho para o surgimento de uma nova instituição e o nascimento das universidades modernas no século XIX: a Revolução Inglesa, a Revolução Francesa e a Revolução Industrial. A partir desse momento, a universidade vai dando maior atenção à pesquisa e à investigação, o pensamento científi co vai aos poucos assumindo o caráter de técnica, especialmente após a Revolução Industrial, tornando-se condição imprescindível para o progresso social e a economia capitalista. Sofrendo com as pressões do mercado nessa fase, a universidade ajudará o rápido progresso e o desenvolvimento econômico-social, que estava exigindo maiores níveis de trabalho especializado e tecnologias. Contudo, o desenvolvimento científi co demandava altos investimentos e os domínios teóricos concentraram- se exclusivamente nas universidades europeias, japonesas e norte- americanas, restando aos demais países apenas a aplicação dos modelos ali desenvolvidos. E o século XX? Neste século, como nos lembra Eric Hobsbawm em Era dos Extremos - O Breve Século XX, o mundo sofreu transformações profundas de ordem econômica, política, social, cultural, e as universidades não fi caram de fora e buscaram novas formas de atuação. Estas transformações foram bastante concretas nos modelos inglês, francês, alemão, norte-americano e também socialista. No primeiro modelo, temos uma formação humanista e voltada para a transmissão do conhecimento. O modelo francês possuía um forte monopólio do três revoluções abriram o caminho para o surgimento de uma nova instituição e o nascimento das universidades modernas no século XIX: a Revolução Inglesa, a Revolução Francesa e a Revolução Industrial. 61 PANORAMA GERAL DO ENSINO SUPERIOR EM OUTROS PAÍSES, INSTITUIÇÕES PÚBLICAS E PRIVADAS, A SITUAÇÃO ATUAL DO ENSINO SUPERIOR NO BRASILSITUAÇÃO ATUAL DO ENSINO SUPERIOR NO BRASIL Capítulo 3 Estado para uma forte contribuição ao desenvolvimento nacional. Já no padrão norte-americano sobressai o pragmatismo, com o aparecimento da universidade- empresa. Na Alemanha, a universidade é entendida como uma comunidade de pesquisadores com liberdade acadêmica e política. Por último, no modelo socialista havia intensos traços estatais e buscava-se a gratuidade do ensino para todos (BOHRER, 2008). Por fi m, na segunda metade do século XX, aprofundam-se cada vez mais as reivindicações do mercado por mão de obra mais qualifi cada, e somadas a isso aparecem as exigências de distintas parcelas da sociedade excluídas que surgiam nesse período por vagas nas universidades. Iniciava-se um período onde aos poucos o Ensino Superior deixava de ser um lugar somente de uma elite, e em muitos lugares passa a abrir seus muros a uma parcela maior da sociedade. Tais exigências pressionaram a universidade para se adequar a uma nova realidade, mais global e inclusiva, ao mesmo tempo em que criam institucionalmente uma constituição diferente, onde algumas universidades vão se dedicar à pesquisa e à ciência e outras somente ao ensino. Na segunda metade do século XX, aprofundam- se cada vez mais as reivindicações do mercado por mão de obra mais qualifi cada. Para ler o livro do autor Eric Hobsbawm, intitulado Era dos extremos - O breve século XX, acesse o seguinte endereço eletrônico: <https://goo.gl/PPFdJO>. Caro pós-graduando! É importante reforçar que na atualidade temos uma série de modelos universitários e outros que ainda não conseguiram se impor no século XXI. Porém, o melhor de tudo isso é que cada vez mais a universidade ocupa um lugar de destaque no mundo contemporâneo e seu papel atualmente é indispensável para o avanço em todas as áreas do conhecimento e desenvolvimento para a humanidade. 62 História e OrganiZação do Ensino Superior no Brasil A Universidade na AmÉrica Latina Depois de conhecer a trajetória da universidade desde a Idade Média até o século XX, vamos voltar nosso olhar agora para o Ensino Superior na América Latina. A primeira questão que podemos notar, ao olhar para a América, é que ao conhecer seu desenvolvimento histórico, notamos uma signifi cativa diferença entre o caminho da educação superior na América Portuguesa (Brasil) e na América Espanhola. Enquanto na parte colonizada pelos espanhóis, a universidade surgiu desde o início do processo de colonização (século XVI), aqui no Brasil, como já visto por nós no primeiro capítulo, as universidades só apareceriam no século XX. Um atraso de quatro séculos em relação ao restante da América. Todavia, é notório assinalar que, apesar do desenvolvimento desigual, na atualidade ambas apresentam pendências relativas aos seus papéis e a luta por uma maior democratização. A primazia espanhola relativa ao Ensino Superior nas Américas ocorreu porque, enquanto os portugueses restringiram durante todo o período colonial o acesso ao Ensino Superior na colônia da América, a Espanha, pelo contrário, implantou uma política de criar e incentivar instituições de Ensino Superior nas suas colônias, com o objetivo de formar pessoas apropriadas para suprir a demanda dos cargos administrativos na burocracia colonial. Isso tudo fez com que em 1538 ocorresse a fundação da primeira Universidade das Américas, em São Domingos, e logo, em 1551, a fundação da Universidade de San Marcos, no Peru. Era somente o início da criação de inúmeras universidades nas terras espanholas das Américas. Notamos uma signifi cativa diferença entre o caminho da educação superior na América Portuguesa (Brasil) e na América Espanhola. A Espanha implantou uma política de criar e incentivar instituições de Ensino Superior nas suas colônias, com o objetivo de formar pessoas apropriadas para suprir a demanda dos cargos administrativos na burocracia colonial. Para aprofundar seus estudos sobre a história da educação na América Latina, faça a leitura da seguinte obra: GONDRA, José Gonçalves; SILVA, José Cláudio Sooma. (Orgs.). História da educação na América Latina: ensinar & escrever. Rio de Janeiro: EdUERJ, 2011. 63 PANORAMA GERAL DO ENSINO SUPERIOR EM OUTROS PAÍSES, INSTITUIÇÕES PÚBLICAS E PRIVADAS, A SITUAÇÃO ATUAL DO ENSINO SUPERIOR NO BRASILSITUAÇÃO ATUAL DO ENSINO SUPERIOR NO BRASIL Capítulo 3 Diante da implantação do Ensino Superior na América espanhola, fi ca apergunta: Como eram estruturadas as universidades na América nesse momento? Quais modelos seguiam e se inspiravam? Como algo inerente ao pacto e domínio colonial, as universidades são transpostas da metrópole para cá, correspondendo ao modelo europeu da época. Sua criação era um gesto administrativo, refl etia mecanicamente o contexto europeu e sempre estava de consenso com a elite colonial local. Quando da fundação das universidades na América espanhola, a Europa passava por uma efervescência cultural e científi ca própria do Renascimento e, em seguida, do Iluminismo, contudo, o modelo de universidade que vinha da Europa para a América era o mais velho e medieval da época. Em muitos casos este modelo reforçava e ampliava os poderes eclesiásticos estabelecidos além-mar. Neste sentido: No início do século XVI, o sistema universitário espanhol foi trazido para a América Latina, com a criação de diversas universidades. Naquele século, o modelo europeu, especialmente que exercia forte infl uência em Portugal e Espanha, foi o adotado pela América Latina nas sociedades e universidades. Nesse sentido, a educação superior era destinada somente para a elite dos países latinos, como também o acesso aos postos políticos e burocráticos. (ROSSATO, 2005, p. 46). O modelo adotado estava ligado à Universidade de Salamanca, na Espanha, que positivamente infl uenciou as instituições latinas. As universidades do México, de Santiago e de Lima, no seu início possuíam um ensino com tendência humanista e sua organização seguia o princípio de universidade dos estudantes. Todavia, essa infl uência de Salamanca nas universidades nacionais não durou muito tempo, pois, após o movimento da Igreja Católica de Contrarreforma, o modelo de uma universidade mais espiritual e voltada para a formação de grupos dirigentes para a “conquista espiritual” passou a ser predominante, tanto no velho continente como no novo. Por décadas ou até mesmo séculos, essas universidades apresentaram desenvolvimento precário, tendo na sua constituição muitos alunos e poucos professores. Manteve-se uma estrutura medieval nas universidades latinas e interesses limitados à Igreja Católica e à elite colonial. Enquanto na Europa, durante os séculos XVIII e XIX, prosperava um pensamento iluminista, racional e científi co, nas universidades latinas se assistia a um assombroso atraso. A crise era, sobretudo, estrutural e ideológica e fazia parte de uma crise geral do colonialismo nas Américas, a independência, logo as potências mercantis europeias perderiam suas possessões. Assim, as universidades refl etiam o pensamento atrasado das elites locais. A luta pela independência impelia os estudantes e professores latinos a abolir com a arcaica estrutura universitária, muitas vezes controlada pela Igreja. A ausência de 64 História e OrganiZação do Ensino Superior no Brasil democracia e de autonomia atingia os métodos de ensino e difi cultava qualquer desenvolvimento científi co moderno. Desse modo, no século XIX: Em quase todos os países, a independência política das colônias foi acompanhada de um movimento de secularização que separou Igreja e Estado, transformando as universidades tradicionais em instituições públicas e seculares e modernizando-as. Essa tendência não se implantou sem forte oposição da Igreja e os sistemas criados no século XIX resultaram dessa luta, que teve desencadeamentos diferentes nos diversos países. No Chile, estabeleceu-se um sistema dual, formado de universidades públicas laicas e universidades católicas que recebiam do Estado o mesmo tipo de fi nanciamento. Na Colômbia, a força da Igreja Católica logrou impedir a criação de uma universidade pública laica até meados deste século. No México e na Argentina, o sucesso da secularização foi completo, e as universidades católicas só foram recriadas, respectivamente, nas décadas de 40 e 50 do século XX, mas separadas do Estado (DURHAM; SAMPAIO, 1997, p. 10). LISTA DE UNIVERSIDADES E O ANO DE FUNDAÇÃO NA AMÉRICA 1538 – Universidade Autônoma de Santo Domingo – República Dominicana. 1551 – Universidade Nacional Autônoma do México. 1562 – Colégio Universitário de Santo Tomás – Colômbia. 1613 – Universidade Nacional de Córdoba – Argentina. 1624 – Universidade Maior Real e Pontifícia San Francisco Xavier de Chuquisaca – Bolívia. 1636 – Universidade de Harvard – Estados Unidos. 1653 – Universidade de Rosário – Argentina. 1663 – Université Laval – Canadá. 1676 – Universidade de San Carlos da Guatemala. 1721 – Universidad Central de Venezuela. 1728 – Universidade de Havana – Cuba. 1785 – Universidade de New Brunswick – Canadá. 1792 – Real Academia de Artilharia, Fortifi cações e Desenho – Brasil. 1812 – Universidade de Nicarágua. 1820 – Universidade do Haiti. 65 PANORAMA GERAL DO ENSINO SUPERIOR EM OUTROS PAÍSES, INSTITUIÇÕES PÚBLICAS E PRIVADAS, A SITUAÇÃO ATUAL DO ENSINO SUPERIOR NO BRASILSITUAÇÃO ATUAL DO ENSINO SUPERIOR NO BRASIL Capítulo 3 1826 – Universidade Central do Equador. 1832 – Universidad Mayor de San Simon – Bolívia. 1841 – Universidade de El Salvador. 1842 – Universidade do Chile. 1843 – Universidad de Costa Rica. 1847 – Universidad Nacional de Honduras. 1849 – Universidad de La República – Uruguai. 1890 – Universidad Nacional de Asunción – Paraguai. Fonte: Disponível em: <http://goo.gl/1jBD51>. Acesso em: 20 abr. 2016. Atividades de Estudos: 1) O que basicamente diferia as universidades medievais das universidades modernas? ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 2) Ocorreram três revoluções que abriram o caminho para o surgimento de uma nova instituição e o nascimento das universidades modernas no século XIX. Descreva quais foram essas revoluções. ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 3) O Ensino Superior na América espanhola seguiu um modelo. Qual foi esse modelo? ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 66 História e OrganiZação do Ensino Superior no Brasil Aqui podemos ver como surgiu e que modelo a universidade seguiu na América Latina, muito antes de surgir no Brasil. Vimos que as mesmas surgiram num contexto bem específi co da colonização espanhola e que também tiveram um rápido desenvolvimento ainda nesse contexto. Evolução Histórica do Ensino Superior no Brasil Lembre-se, caro pós-graduando, a universidade brasileira somente surgiu no início do século XIX, resultando da organização das elites, que estavam cansadas de buscar educação/qualifi cação superior na Europa. Assim, a universidade no Brasil surgiu em momento de crise/mudança e foi essencialmente resultado da reunião de faculdades específi cas e institutos isolados, acontecimento que lhes deu uma característica bastante fragmentada. Muito mais vinculada à iniciativa privada no seu surgimento, aos poucos ela foi ganhando apoio público, porém essa dicotomia acompanha o debate até os dias atuais. Assunto que veremos a partir daqui. A universidade no Brasil surgiu em momento de crise/ mudança e foi essencialmente resultado da reunião de faculdades específi cas e institutos isolados. A diferença entre educação pública e privada no Brasil existe desde pelo menos 1930. Enquanto a educação pública buscava ser universal e gratuita, a educação privada atingia grupos economicamente mais privilegiados. Instituições Públicas e Privadas de Ensino Superior no Brasil e Suas Funções Quando falamos em instituiçõespúblicas e privadas de Ensino Superior no Brasil e suas funções, precisamos saber que a diferença entre educação pública e privada no Brasil existe desde pelo menos 1930. Na sua origem estava relacionada muito mais a aspectos pedagógicos e ideológicos do que funções e objetivos de formação. Por um lado, as instituições públicas reivindicavam a existência de um ensino leigo, enquanto as instituições privadas buscavam essencialmente a educação com princípios religiosos. Existia também uma disputa no que tange ao forte conteúdo social. Enquanto a educação pública buscava ser universal e gratuita, a educação privada atingia grupos economicamente mais privilegiados. Aos poucos, mais especifi camente no fi nal dos anos sessenta, esta polarização relativa ao Ensino Superior perdeu inteiramente seu sentido original. 67 PANORAMA GERAL DO ENSINO SUPERIOR EM OUTROS PAÍSES, INSTITUIÇÕES PÚBLICAS E PRIVADAS, A SITUAÇÃO ATUAL DO ENSINO SUPERIOR NO BRASILSITUAÇÃO ATUAL DO ENSINO SUPERIOR NO BRASIL Capítulo 3 Atualmente o debate entre esses dois tipos de instituições está ligado à questão fi nanceira, isto é, a quem o Estado pode fi nanciar, quem tem direito à gratuidade e quem deve pagar para estudar. Por um lado, as universidades públicas têm mantido a gratuidade total do ensino no setor público, já o setor privado tem conseguido ampliar seu campo de ação, inclusive: [...] pelo reconhecimento de um grande número de novas universidades que, graças à autonomia constitucional, terão condições de se proteger tanto das limitações governamentais à criação de novos cursos, quanto de eventuais controles mais sistemáticos relativos à qualidade do produto educacional que oferecem (DURHAM; SCHWARTZMAN, 1989, p. 7). Durham e Schwartzman (1989, p. 7) esclarecem que a esta altura a questão do ensino público vs. privado “[...] não pode continuar a ser discutida em termos dos respectivos interesses ou preconceitos, e ser posta em termos de questões de natureza mais ampla, como a do acesso, da equidade social, dos diferentes públicos, da qualidade do ensino e da pesquisa”. E hoje, qual a diferença entre esses tipos de instituições? Você saberia dizer? Já leu ou aprendeu algo a respeito? Como é constituído o sistema de educação superior brasileiro? A princípio, as instituições públicas são criadas, fi nanciadas e administradas pelo poder público federal, estadual e/ou municipal. Por sua vez, as instituições privadas são criadas, mantidas e administradas por pessoa física ou jurídica de direito privado, podendo ter ou não fi ns lucrativos, e por credenciamento no Ministério da Educação. Há outras questões que diferenciam esses dois tipos de instituições, que, de acordo com a Cartilha de Instituições Privadas do Ensino Superior, são: [...] as instituições de Ensino Superior podem ser classifi cadas academicamente em universidades, centros universitários e faculdades. A diferença principal estabelecida pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996) é que nas instituições universitárias existe a obrigação para que sejam desenvolvidas, regularmente e de forma institucionalizada, as atividades de ensino, pesquisa e extensão, ao passo que nas não universitárias existe obrigação apenas do ensino. Os centros universitários, pela oferta do ensino, pela qualifi cação do seu corpo docente e pelas condições de trabalho acadêmico oferecidas à comunidade escolar. As A princípio, as instituições públicas são criadas, fi nanciadas e administradas pelo poder público federal, estadual e/ou municipal. As instituições privadas são criadas, mantidas e administradas por pessoa física ou jurídica de direito privado, podendo ter ou não fi ns lucrativos. 68 História e OrganiZação do Ensino Superior no Brasil faculdades, embora também devam zelar pela qualidade do Ensino Superior ministrado, não estão obrigadas a manter programas institucionais de pesquisa (BRASIL, 2007, p. 8). Credenciamento e recredenciamento: as instituições de Ensino Superior brasileiras públicas e privadas são submetidas a diferentes procedimentos de criação e credenciamento. O credenciamento concedido pelo poder público é temporário, conforme estabelece a nova LDB (Lei nº 9.394/1996). Por isso existe a necessidade de recredenciamento da instituição após as avaliações realizadas no contexto do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (SINAES). Fonte: Disponível em: <http://goo.gl/n0uysy>. Acesso em 20 abr. 2016. Além dessa divisão, o Ministério de Educação no Brasil determina, para fi nalidades estatísticas, que as instituições de Ensino Superior estão classifi cadas da seguinte maneira: a) Públicas (federais, estaduais e municipais); b) Privadas (comunitárias, confessionais, fi lantrópicas e particulares). Essa defi nição relaciona-se com as formas de fi nanciamento, ou seja, quem as fi nancia, e com que cada modelo sobrevive no panorama da educação superior. Se o Ministério da Educação (MEC) faz uso da categoria público-privado para classifi car e diferenciar o sistema de Ensino Superior no Brasil, é importante então entender que isso constitui a maneira de manutenção fi nanceira e administrativa de cada uma das instituições. Vejamos, a partir do estudo de Luciane Stallivieri, quais são as diferenças relacionadas aos tipos de fi nanciamento e manutenção. Essencialmente, o sistema público de Ensino Superior é sustentado pelo poder público federal, estadual e municipal. A lógica é bastante simples: as instituições públicas federais usam recursos públicos federais para o seu custeio, isto é, a União é o principal mantenedor, “[...] já que nelas o ensino é gratuito e somente cerca de 3,5% do orçamento global é constituído por recursos 69 PANORAMA GERAL DO ENSINO SUPERIOR EM OUTROS PAÍSES, INSTITUIÇÕES PÚBLICAS E PRIVADAS, A SITUAÇÃO ATUAL DO ENSINO SUPERIOR NO BRASILSITUAÇÃO ATUAL DO ENSINO SUPERIOR NO BRASIL Capítulo 3 diretamente por elas arrecadados” (STALLIVIERI, 2006, p. 7). Por sua vez, as instituições estaduais têm nos governos estaduais seu fi nanciador principal, nestas o ensino também é gratuito. É bom salientar que as instituições de ensino estaduais de nível superior criadas e mantidas pelos Estados não estão presentes em todos os entes da federação brasileira. Luciane Stallivieri assinala que “[...] essa modalidade de instituição de caráter estadual está mais concentrada na região Sudeste do Brasil, onde estão as grandes universidades que apresentam programas de ensino e pesquisa avaliados como sendo os de melhor qualidade do país” (STALLIVIERI, 2006, p. 7). Por último, as instituições municipais, que, se comparado aos outros dois tipos de instituições, são de número bastante baixo e que recebem recursos fi nanceiros dos governos municipais. Quando se trata do sistema de Ensino Superior privado, as fontes de fi nanciamento para manutenção e expansão são oriundas, na sua maior parte, do pagamento das mensalidades dos próprios alunos, mensalidades essas pagas para os cursos de graduação e também para os de pós-graduação. Contudo, algumas destas instituições privadas contam, muitas vezes, com o apoio fi nanceiro de mantenedores particulares, que seriam membros da comunidade e/ou até de ordens religiosas. Uma informação importante para ser analisada “[...] é que, por serem de caráter privado, essas instituições não podem receber recursos públicos, mas podem apresentar e concorrer com a apresentação de projetos para o desenvolvimento de pesquisa e de pós-graduação” (STALLIVIERI, 2006, p. 7). Steiner e Malnic (2006) lembram que, mesmo entre as instituições de caráter privado, essa categoria se subdivide em comunitárias, confessionais, fi lantrópicas e particulares. Com relação às instituições de caráter comunitário, elas podem ser laicas ou confessionais. “As instituições comunitárias laicas são instituições sem fi ns lucrativose são fi nanciadas por membros da comunidade onde estão inseridas, além dos recursos provenientes da mensalidade dos alunos” (STALLIVIERI, 2006, p. 7). Há também as instituições comunitárias confessionais, que estão ligadas diretamente a uma congregação de ordem religiosa específi ca. Esses três tipos de instituições, comunitárias, confessionais e fi lantrópicas, se distinguem pelas isenções fi scais de que desfrutam. Por serem caracterizadas como instituições sem fi ns lucrativos, os resultados de suas atividades necessitam ser reinvestidos nelas mesmas, não podendo, nesse caso, existir distribuição de lucros. Quando se trata do sistema de Ensino Superior privado, as fontes de fi nanciamento para manutenção e expansão são oriundas, na sua maior parte, do pagamento das mensalidades dos próprios alunos Esses três tipos de instituições, comunitárias, confessionais e fi lantrópicas, se distinguem pelas isenções fi scais de que desfrutam. 70 História e OrganiZação do Ensino Superior no Brasil De acordo com Stallivieri (2006, p. 8), por se constituírem como instituições sem fi ns lucrativos, dois são os principais tipos de isenção fi scal que elas têm: Do Imposto de Renda, para instituições educacionais sem fi ns lucrativos, e das contribuições para fi ns de seguridade social, para as instituições consideradas benefi centes (as chamadas fi lantrópicas), de utilidade pública e que apliquem integralmente os resultados operacionais na manutenção e desenvolvimento dos objetivos institucionais. A benefi cência se caracteriza pela concessão de desconto de 50% a 100% do valor da mensalidade a alunos considerados carentes, bem como outras gratuidades especialmente na área de extensão. Por sua vez, quando falamos do setor privado, também encontramos as instituições de caráter particular com fi ns lucrativos. Muitas dessas instituições são criadas e mantidas por proprietários ou mantenedoras que não são provenientes do meio educacional. Nesse caso, encontramos instituições preocupadas com um ensino de boa qualidade. O PRINCÍPIO DA COEXISTÊNCIA DE INSTITUIÇÕES PÚBLICAS E PRIVADAS DE ENSINO À LUZ DA LEGISLAÇÃO EDUCACIONAL Em benefício da educação, a Constituição Federal, promulgada em 1988, no inciso III do artigo 206, estabelece, como princípio da educação escolar, o pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas e a coexistência de instituições públicas e privadas de ensino. Este mesmo princípio de ensino foi reproduzido e desdobrado em incisos próprios, o III e o V do artigo 2º, na Lei 9.394/96, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, a chamada LDB. No presente trabalho, vamos nos deter ao princípio da coexistência de escolas públicas e privadas. É importante entendermos, desde logo, que o princípio de coexistência do público e do privado assegura ao poder público, como prescreve o artigo 19 da LDB, a competência de criar ou incorporar instituições de ensino para atender as demandas sociais por um ensino público, obrigatório 71 PANORAMA GERAL DO ENSINO SUPERIOR EM OUTROS PAÍSES, INSTITUIÇÕES PÚBLICAS E PRIVADAS, A SITUAÇÃO ATUAL DO ENSINO SUPERIOR NO BRASILSITUAÇÃO ATUAL DO ENSINO SUPERIOR NO BRASIL Capítulo 3 e gratuito. É o referido princípio que autoriza, de outra sorte, pessoas físicas ou jurídicas de direito privado a abrirem escolas em qualquer estado ou município da federação, ou em um distrito, localidade ou rua de qualquer cidade brasileira. É por este princípio de coexistência do público e do privado que podemos, neste século, fomentar escolas públicas mais orientadas ao mercado e estimular as escolas privadas com fi ns públicos. O diretor-presidente da UBEE, Manoel Alves, em entrevista à Revista Linha Direta (n. 90, p. 38, set. 2005), afi rma, à luz deste princípio, que as instituições de ensino, públicas ou privadas, têm uma natureza essencialmente social e socializadora, de modo a não fi carem ausentes das iniciativas concretas que contribuam com o desenvolvimento sustentável. [...] Numa palavra, podemos afi rmar que, sem a coexistência de escolas públicas e privadas, sem o ensino livre à iniciativa privada, o Brasil seria mais centralizado, menos federativo, menos democrático; por sua vez, a educação seria menos social, posto que é através deste princípio de ensino que as IE’s, no Estado democrático de Direito, superam a contradição capitalista entre o público e o privado. Escolas lucrativas e não lucrativas No século XXI, a privatização do ensino é uma questão obsoleta. A coexistência institucional, enfi m, permite que os entes federativos (União, Estados, Distrito Federal e Municípios) busquem a alta qualidade de ensino da educação pública e incentivem a expansão da educação privada. As escolas públicas e as privadas têm, na vida social, uma busca em comum: o bem público. Sem os valores sociais do trabalho e da iniciativa privada, não poderíamos afi rmar, a rigor, que o Brasil se constitui em Estado Democrático de Direito (inciso IV, Art. 1º, CF). A Constituição Federal de 1988 prescreve, conforme podemos observar à luz dos artigos 205, 209 e 213, dois gêneros de escolas: as públicas e as privadas. É estabelecido pela Constituição que as escolas privadas se subdividem em duas espécies: as lucrativas e as não lucrativas. 72 História e OrganiZação do Ensino Superior no Brasil O artigo 209 da Constituição Federal prescreve, por seu turno, que o ensino é livre à iniciativa privada, atendidas as condições de cumprimento das normas gerais da educação nacional (inciso I) e autorização e avaliação de qualidade pelo poder público (inciso II). No tocante ao fi nanciamento da educação nacional, os recursos públicos podem ser dirigidos, conforme preceitua o artigo 213 da Constituição Federal, a escolas comunitárias, confessionais ou fi lantrópicas que comprovem fi nalidade não lucrativa, apliquem seus excedentes fi nanceiros em educação (inciso I) e assegurem a destinação de seu patrimônio a outra escola comunitária, fi lantrópica ou confessional – ou ao poder público, no caso de encerramento de suas atividades (inciso II). No plano da legislação ordinária, o artigo 20 da LDB, que categoriza as chamadas instituições privadas de ensino, entende que as particulares são defi nidas, em sentido estrito, como as escolas instituídas e mantidas por uma ou mais pessoas físicas ou jurídicas de direito privado que não apresentem as características das demais escolas privadas, isto é, comunitárias, confessionais e fi lantrópicas. São entendidas como confessionais, segundo a LDB, no inciso III do referido artigo, as escolas instituídas por grupos de pessoas físicas ou por uma ou mais pessoas jurídicas que atendem a orientação confessional e ideologia específi cas. As escolas fi lantrópicas são regidas por lei própria. As escolas comunitárias, a partir da Lei 11.183, que dá uma nova redação ao inciso II do caput do art. 20 da Lei nº 9.396, são consideradas as instituídas por grupos de pessoas físicas ou por uma ou mais pessoas jurídicas, inclusive cooperativas de pais, professores e alunos, que incluam em sua entidade mantenedora representantes da comunidade. Como, então, esta estruturação legal das redes pública e privada repercutirá na oferta da educação básica? [...] Quantidade e qualidade no serviço educacional O princípio da coexistência de instituições públicas e privadas de ensino é, a rigor, bem diferente da ideia de independência extrema ou absoluta dessas mesmas instituições, o que não quer dizer que 73 PANORAMA GERAL DO ENSINO SUPERIOR EM OUTROS PAÍSES, INSTITUIÇÕES PÚBLICAS E PRIVADAS, A SITUAÇÃO ATUAL DO ENSINO SUPERIOR NO BRASILSITUAÇÃO ATUAL DO ENSINO SUPERIOR NO BRASIL Capítulo 3 não possam concorrer na oferta de educação escolar. Uma nova “equação” para a educação, vista como direito social de todos e dever do Estado, da Família e da Sociedade como umtodo, é – ou deveria ser – a seguinte: Educação Escolar = escolas públicas X escolas privadas. Se as escolas públicas zeram, no produto fi nal, o fracasso repercute também negativamente no setor privado, porque o público e o privado pertencem à mesma sociedade. Da mesma forma, se as escolas privadas zeram ou fecham suas portas, há comprometimento social: menos vagas para os profi ssionais de ensino e menos opção para as famílias, em se tratando de serviço educacional. Isso só será óbvio quando a sociedade política, e não apenas a civil, vir, no setor privado, um segmento com fi ns sociais ou públicos. A esse respeito, diríamos, tomando a palavra de Marcelo Batista de Sousa (2005, p. 24), que o “pluralismo preconizado pela Constituição não é observado se a oferta ofi cial de educação é apenas aquela oferecida pelo próprio Estado. (...) A escola particular transformou-se em desejo e sobrevive, repito, pela efi ciência e excelência. ” [...] Considerações fi nais O princípio da coexistência de escolas públicas e privadas é fundamental para a superação da dicotomia entre o público e o privado, uma vez que, sendo a educação um direito de todos, portanto, um bem comum, que abrange os processos formativos desenvolvidos em diferentes ambiências sociais, a começar pela vida familiar, passando pela convivência humana, pelo mundo do trabalho, pelas escolas, pelos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e chegando às manifestações culturais, não existe, a rigor, uma contradição entre a busca de uma escola pública de boa ou alta qualidade e o incentivo à expansão da escola privada. À guisa de palavra fi nal, apropriar-me-ei, mais uma vez, do pensamento de Marcelo Batista de Sousa, que, no já referido artigo publicado na Revista Linha Direta, revela que há burocratas do governo, na verdade, radicalmente estatizantes, que tentam desqualifi car o sistema escolar privado. A visão crítica de Marcelo Batista parece sintetizar bem o olhar da RLD, ao longo de seus dez anos de existência, sobre a educação brasileira. Segundo ele, o 74 História e OrganiZação do Ensino Superior no Brasil papel do Estado, ao garantir a educação como direito social, deve ser o de proporcionar a democratização e a gratuidade do ensino fundamental, conforme preceitua a Constituição Federal, além de avaliar as instituições públicas e privadas e zelar pela qualidade de ensino. Mas a ação da livre iniciativa é uma questão de princípio fundamental da ordem social e cultural do país e se reveste de importância capital numa sociedade democrática, porque apresenta às famílias brasileiras alternativas de formação escolar em prol da educação básica e superior. Fonte: Disponível em: <http://goo.gl/XytvKF>. Acesso em: 20 abr. 2016. Desta forma, caro pós-graduando, fechamos esse assunto tão importante sobre a coexistência entre instituições públicas e privadas de Ensino Superior no Brasil. Porém, mais do que conhecer essa diferenciação, é importante assinalar que todas as instituições, sendo públicas e/ou privadas, têm o dever de oferecer um ensino de qualidade que contribua de forma direta ou indireta para o desenvolvimento econômico e social do Brasil. A Situação Atual do Ensino Superior no Brasil Caro pós-graduando! Entender o atual sistema de Ensino Superior do Brasil não é tarefa muito fácil, mas sim bastante complexa, devido à grandiosidade de sua estrutura e organização. Contudo, é indispensável entender pelo menos um pouco do atual contexto da educação no Brasil. O que faremos neste fi nal de capítulo é tentar esclarecer alguns conceitos de como o atual sistema de Ensino Superior brasileiro se apresenta neste momento. Não entraremos na apresentação das políticas públicas sobre o tema, pois isso será abordado no próximo capítulo. Assim, as principais tendências e os problemas relativos ao sistema de Ensino Superior não devem prescindir da importância desse sistema para a sociedade brasileira. Não restam dúvidas para ninguém de que o desenvolvimento econômico de um país e a melhoria das condições de vida para a maioria da população dependem diretamente do aumento da escolaridade dos cidadãos, haja vista que a universalidade da educação básica é essencial para o melhor exercício da cidadania e da democracia. No entanto, como afi rma Cunha (1999, p. 2): As principais tendências e os problemas relativos ao sistema de Ensino Superior não devem prescindir da importância desse sistema para a sociedade brasileira. 75 PANORAMA GERAL DO ENSINO SUPERIOR EM OUTROS PAÍSES, INSTITUIÇÕES PÚBLICAS E PRIVADAS, A SITUAÇÃO ATUAL DO ENSINO SUPERIOR NO BRASILSITUAÇÃO ATUAL DO ENSINO SUPERIOR NO BRASIL Capítulo 3 O desenvolvimento do Ensino Superior é também fundamental. A modernização da economia e das estruturas sociais exige cada vez mais pessoal altamente qualifi cado, com formação de nível superior. Além disso, deve-se considerar que, também com relação a esse nível de ensino, no Brasil, a restrição do acesso tem se constituído em fonte de desigualdades sociais, o que restringe o exercício da cidadania acima mencionado. Não se pode perder de vista, também, a importância que o Ensino Superior guarda como suporte aos demais graus de ensino, tanto no que diz respeito à preparação dos seus recursos humanos, assim também como instância de produção e divulgação do conhecimento e de tecnologias, insumos essenciais para o desenvolvimento das nações nos dias atuais. Dessa forma, as mudanças ocorridas no sistema de Ensino Superior brasileiro na última década fazem parte de um processo mais amplo, que vem tentando modernizar a sociedade, visto que segmentos médios se tornaram integrantes do sistema educacional, que vem melhorando sua estrutura para assumir uma nova demanda considerável. Portanto, a busca por vagas na universidade por parte dos jovens derivados de famílias sem tradição em educação superior ou ainda de pessoas com mais idade, “[...] com o objetivo de se ilustrar ou melhorar sua posição no emprego e a ampliação do contingente feminino em cursos que antes eram predominantemente masculinos [...]”, são fenômenos que têm feito a expansão das matrículas de forma signifi cativa e mudado bastante a cara da universidade brasileira nos últimos tempos (CUNHA, 1999, p. 3). Abaixo temos alguns dados sobre essas mudanças e como se encontra atualmente nosso Ensino Superior. Veja: BRASIL – UNIVERSIDADES O Brasil conta hoje com um amplo e descentralizado sistema de educação superior. No total, o país possui 2.368 instituições de Ensino Superior, que oferecem quase 33 mil cursos de graduação em todas as regiões. Os dados constam no Censo da Educação Superior 2014 divulgado pelo Ministério da Educação (MEC) e pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), em dezembro de 2015. De acordo com sua organização acadêmica, as instituições se dividem em universidades, centros universitários, faculdades e institutos federais. Elas podem ser privadas ou públicas, vinculadas aos governos federal, estadual ou municipal. 76 História e OrganiZação do Ensino Superior no Brasil As universidades se caracterizam pela indissociabilidade das atividades de ensino, pesquisa e extensão. As universidades são instituições acadêmicas pluridisciplinares, que produzem conhecimento intelectual institucionalizado. Para tanto, devem seguir alguns requisitos do Ministério da Educação (MEC), como ter, no mínimo, um terço do corpo docente atuando em regime integral e um terço de mestres e doutores. Já os centros universitários abrangem uma ou mais áreas do conhecimento, mas neles não é obrigatória a realização de pesquisa institucionalizada. As faculdades são instituições que oferecem cursos superiores em apenas uma área do conhecimento e compõem as universidades, os centros universitários ou são independentes. Os institutos federais são unidades voltadas à formaçãotécnica, com capacitação profi ssional em áreas diversas. Oferecem ensino médio integrado ao ensino técnico, cursos técnicos, cursos superiores de tecnologia, licenciaturas e pós-graduação. Com relação às instituições privadas, elas podem ter ou não fi nalidade lucrativa. Entre as que não possuem este objetivo estão as comunitárias, fi lantrópicas ou confessionais. A rede privada participa com 74,9% no número de novos alunos. De acordo com o levantamento do Inep, há 301 instituições públicas de Ensino Superior e 2.090 privadas. O perfi l mais recorrente do estudante das universidades brasileiras é mulher, tem 21 anos e cursa bacharelado no período noturno de uma instituição de ensino privada. Atualmente, o país conta com 195 universidades, que equivalem a 8,2% do total de instituições de ensino e concentram 53,2% das matrículas em cursos de graduação. Em dez anos, de 2003 a 2013, o Brasil inaugurou 20 novas universidades. Dados apontam que 82,8% dos cursos nas universidades são na modalidade presencial e o grau acadêmico predominante é o bacharelado, com 66,8%. Dentre as universidades brasileiras, 18 estão incluídas entre as 1.000 melhores do mundo, segundo levantamento feito pelo Centro de Rankings Universitários Mundiais, divulgado em agosto de 2015. A Universidade de São Paulo (USP) foi considerada a melhor instituição de Ensino Superior da América Latina e a 143ª no mundo. Também fazem parte da lista a Universidade Federal do Rio 77 PANORAMA GERAL DO ENSINO SUPERIOR EM OUTROS PAÍSES, INSTITUIÇÕES PÚBLICAS E PRIVADAS, A SITUAÇÃO ATUAL DO ENSINO SUPERIOR NO BRASILSITUAÇÃO ATUAL DO ENSINO SUPERIOR NO BRASIL Capítulo 3 de Janeiro (UFRJ), a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), entre outras. A pesquisa avaliou instituições de Ensino Superior de aproximadamente 50 países, baseando-se em indicadores que mensuram critérios tais como: número de formandos que ganharam prêmios de relevância; número de formandos que ocupam cargos de destaque nas melhores empresas do mundo; qualidade dos professores; número de publicações em jornais de grande infl uência; número de citações em pesquisas e número de patentes internacionais solicitadas pela universidade, entre outros. Números e estatísticas A quantidade de alunos matriculados nas universidades públicas e privadas do país também cresceu na proporção de 6,8% de 2013 para 2014, passando de 7,3 milhões para 7,8 milhões. Deste total, 4,8 milhões são mulheres – ou seja, 61,3%. Entre os novos estudantes, as mulheres também dominam: dos 2,1 milhões de calouros, 54,6% são mulheres. Entre os que concluíram um curso de graduação em 2014, o público feminino também é maioria, com 498 mil pessoas. Não surpreende, portanto, que o perfi l mais recorrente de estudante nas universidades brasileiras seja mulher, tenha 21 anos e curse bacharelado no período noturno de uma instituição de ensino privada. As universidades públicas também são responsáveis por uma signifi cativa parcela no cenário de pesquisa do Brasil. Grande parte das pesquisas é realizada no âmbito da pós-graduação. Apenas em 2014, foram 3.741 programas de pós-graduação, responsáveis por 5.560 cursos, sendo 3.112 de mestrado (56%), 1.878 de doutorado (34%) e 570 de mestrado profi ssionalizante (10%). Em todos os 27 Estados há universidades federais e estaduais. Vale lembrar que o Brasil não possuía nenhuma instituição de Ensino Superior até o início do século XIX. Após a independência do Brasil, surgiram as primeiras escolas superiores, isoladas, sem status de universidade e de orientação profi ssionalizante, especialmente nas áreas de direito, medicina e engenharia. A Universidade de São Paulo, uma das mais importantes do país, foi fundada em 1934. Fonte: Disponível em: <http://goo.gl/5c7Y8j>. Acesso em: 20 abr. 2016. 78 História e OrganiZação do Ensino Superior no Brasil Com todos esses dados é possível concluir que as transformações no Ensino Superior brasileiro estão andando de forma rápida, o que também vem ocorrendo em consonância com o cenário da educação mundial e sobretudo nos países da América Latina. É lógico que tem muita coisa que precisa avançar no Brasil no que se refere a oferecer uma educação de nível superior para uma parcela ainda maior de sua população, em particular para aqueles que estão em idade de ingressar no tão almejado Ensino Superior. Dessa forma, a expansão mais do que urgente do número de instituições é uma obrigação imediata. Todavia, a ampliação não pode ocorrer de forma desorganizada, somente pelo aumento expressivo de instituições privadas de ensino, visto que muitos na sociedade brasileira não têm condições de arcar com os altos custos que representa cursar e concluir um curso universitário. Isso tudo provoca em nosso meio a necessidade de uma imprescindível avaliação relativa ao sistema de Ensino Superior brasileiro, com a fi nalidade de ofertar novas vagas que estejam em consonância com as necessidades oriundas da sociedade, e igualmente com os novos cenários advindos da globalização e, por fi m, com as necessidades vindas do mercado de trabalho. Passamos por um momento delicado, os confl itos que existem entre o sistema público e privado de ensino, as questões relativas às verbas e fi nanciamento da educação superior, a busca por uma autonomia universitária e a obrigação de avaliações para garantir um padrão mínimo de qualidade são questões prementes para os gestores de políticas públicas da área educacional do país. Mesmo sendo grandes os desafi os a enfrentar, contudo, como veremos a seguir no próximo capítulo, já temos sinais que evidenciam que progressos foram conquistados, e que, para melhorar ainda mais a oferta e a qualidade da educação superior no país, há a necessidade da criação de políticas educacionais mais efi cazes, contínuas, estruturais e não somente conjunturais. As transformações no Ensino Superior brasileiro estão andando de forma rápida, o que também vem ocorrendo em consonância com o cenário da educação mundial e sobretudo nos países da América Latina. Atividades de Estudos: 1) Faça uma pequena síntese elencando as principais diferenças entre as instituições públicas e privadas de Ensino Superior no Brasil. ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 79 PANORAMA GERAL DO ENSINO SUPERIOR EM OUTROS PAÍSES, INSTITUIÇÕES PÚBLICAS E PRIVADAS, A SITUAÇÃO ATUAL DO ENSINO SUPERIOR NO BRASILSITUAÇÃO ATUAL DO ENSINO SUPERIOR NO BRASIL Capítulo 3 Algumas Considerações Caro pós-graduando! Chegamos ao fi nal de mais um capítulo. Aqui podemos ver desde o surgimento das universidades na Idade Média até o cenário atual em nosso país. Ressaltamos que as universidades de Paris e de Bolonha foram pioneiras do Ensino Superior na Idade Média. Seus modelos e contribuição na educação deste período foram inquestionáveis, servindo de inspiração para as outras instituições universitárias da época, inclusive na atualidade. Aprendemos também que as universidades medievais não eram segregacionistas, tinham uma constituição comunitária, porém, as mulheres não tinham acesso. Com mudanças profundas na sociedade medieval, o advento do Renascimento, o modelo medieval de sacralidade do universo cedeu, aos poucos, lugar ao individualismo, à razão e à ciência. Já analisando o nosso continente, notamos uma signifi cativa diferença entre o caminho da educação superior na América portuguesa (Brasil) e a América espanhola. Enquanto na parte colonizada pelos espanhóis a universidade surgiu desde o início do processo de colonização (século XVI), aqui no Brasil as universidades só apareceriam no século XX, representando um atraso de quatro séculos em relação ao restanteda América. Em relação às instituições públicas, elas são criadas, fi nanciadas e administradas pelo poder público federal, estadual e/ou municipal. Por sua vez, as instituições privadas são criadas, mantidas e administradas por pessoa física ou jurídica de direito privado, podendo ter ou não fi ns lucrativos, e por credenciamento no Ministério da Educação. ____________________________________________________ ____________________________________________________ 2) Quais mudanças você acha que deveriam ocorrer no atual sistema de Ensino Superior do Brasil? ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 80 História e OrganiZação do Ensino Superior no Brasil No que tange ao Ensino Superior brasileiro na atualidade, pode-se reconhecer que houve avanços signifi cativos, porém, há ainda problemas que necessitam ser enfrentados com urgência para que o Brasil consiga alcançar um nível maior de importância condizente com sua participação econômica no cenário global. É importante também notar que o sistema de Ensino Superior não é independente em relação à sociedade e, dessa maneira, não teremos uma maior democratização de acesso se não houver uma diminuição drástica das desigualdades sociais em nosso país. Por último, o desenvolvimento da universidade, que teve uma notável expansão a partir do século XXI, deixou de pertencer apenas a uma pequena parcela dos alunos, sendo, em muitos casos, uma esperança de transformação do quadro socioeconômico e já está, em certo sentido, na agenda de prioridades políticas de nossos governos. ReFerÊncias ÁLVARES, O. P. A universidade e a sociedade do conhecimento. Universitas, São Paulo, v. 1, p. 90-112, ago. 2006. BOHRER, I. N. et al. A história das universidades: o despertar do conhecimento. 2008. Disponível em: <http://goo.gl/rCZ0gL>. Acesso em: 20 abr. 2016. BRASIL. Cartilha: instituições privadas de ensino superior. Brasília: Ministério da Justiça, 2007. Disponível em: <http://goo.gl/n0uysy>. Acesso em: 20 abr. 2016. CUNHA, M. C. O ensino superior no Brasil: algumas tendências e alguns problemas. Revista Entreideias: educação, cultura e sociedade, n. 3, 1999. Disponível em: <http://goo.gl/jCBSuT>. Acesso em: 20 abr. 2016. DURHAM, E. R.; SAMPAIO, H. O setor privado de ensino superior na América Latina. 1997. Disponível em: <http://goo.gl/FM6zbz>. Acesso em: 20 abr. 2016. DURHAM, E. R.; SCHWARTZMAN, S. Situação e perspectivas do ensino superior no Brasil: os resultados de um seminário. 1989. Disponível em: <http:// goo.gl/VT0C1Y>. Acesso em: 20 abr. 2016. LACERDA, R. A.; ÁLVARES, O. P. A universidade e a sociedade do conhecimento. Universitas FACE, v. 2, n. 1, 2005. Disponível em: <http://goo.gl/ gNecLF>. Acesso em: 20 abr. 2016. 81 PANORAMA GERAL DO ENSINO SUPERIOR EM OUTROS PAÍSES, INSTITUIÇÕES PÚBLICAS E PRIVADAS, A SITUAÇÃO ATUAL DO ENSINO SUPERIOR NO BRASILSITUAÇÃO ATUAL DO ENSINO SUPERIOR NO BRASIL Capítulo 3 ROSSATO, R. Universidade: nove séculos de história. Passo Fundo: UPF, 2005. STALLIVIERI, L. O sistema de ensino superior do Brasil: características, tendências e perspectivas. Caxias do Sul, RS: Universidade de Caxias do Sul, 2006. Disponível em: <https://sigaa.ufrn.br/shared/ verArquivo?idArquivo=2558185&key>. Acesso em: 15 jun. 2016. STEINER, J. E.; MALNIC, G. (Orgs.). Ensino superior: conceito e dinâmica. São Paulo: EDUSP, 2006. 82 História e OrganiZação do Ensino Superior no Brasil CAPÍTULO 4 Legislação Educacional e a Coordenação do Ensino Superior no Brasil A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: Identifi car como é a organização e as leis do sistema educacional do ensino superior brasileiro. Conhecer algumas organizações de coordenação da educação superior. Entender as atuais políticas públicas para o ensino superior do Brasil. 84 História e OrganiZação do Ensino Superior no Brasil 85 LEGISLAÇÃO EDUCACIONAL E A COORDENAÇÃO DO ENSINO SUPERIOR NO BRASIL Capítulo 4 ConteXtualiZação Caro aluno! Chegamos ao quarto e último capítulo do seu livro de estudos! Até agora já podemos ver muita coisa sobre o ensino superior no Brasil e no mundo! Neste capítulo, continuaremos estudando sobre o ensino superior no que tange a sua legislação, sua organização e as políticas públicas relativas a ele. Antes de tudo, é importante assinalar que o nosso país vem despertando cada vez mais para a temática da educação. Tanto a sociedade civil como as ações governamentais, têm buscado a expansão educacional de todos os níveis de ensino. Isso só foi possível, é claro, primeiramente pela legislação atual, a implementação de políticas de acesso e permanência, a avaliação e o controle de qualidade, que tem trazido uma sensível melhora nos índices de escolaridade em todos os níveis, mas principalmente, no superior. Requisito este, fundamental para o desenvolvimento do país. Além disso, a formulação e implantação de políticas públicas do Governo Federal, nos últimos anos, direcionadas para ampliação e melhoria da qualidade do ensino fundamental e médio, contribuem diretamente, também, para o acréscimo de novas vagas e pelo acesso cada vez maior ao ensino superior no Brasil. Descrever a legislação, a organização e as políticas públicas do sistema de ensino superior do Brasil é, no mínimo, uma empreitada árdua e bem complexa devido a sua grande diversidade legal e organizacional. O que pretendemos fazer neste capítulo é a tentativa de apresentar algumas características, elucidar alguns conceitos e sintetizar como é a organização legal do sistema de ensino superior brasileiro na atualidade. Para tanto, vamos apresentar as principais leis que regem esse sistema, a Constituição Federal de 1988 e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº 9394/96), entre outros assuntos. Bons estudos! OrganiZação e Leis para o Sistema Educacional do Ensino Superior Você sabe quais são as leis e normas que regem a estrutura e também o funcionamento do ensino superior no Brasil? Assunto bastante complexo e controverso, tanto a estrutura quanto o funcionamento do ensino superior no Brasil são determinados e conduzidos por uma série Constituição Federal de 1988, pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei n° 9.394/96), como pela Lei n° 9.135/95, que instituiu o Conselho Nacional de Educação. 86 História e OrganiZação do Ensino Superior no Brasil de leis e normas estabelecidas a partir da lei maior que é a Constituição Federal de 1988, pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei n° 9.394/96), como pela Lei n° 9.135/95, que instituiu o Conselho Nacional de Educação, além, é claro, de inúmeros outros decretos, resoluções e portarias. Não é nosso objetivo, e nem espaço para isso temos, conhecer toda a legislação acerca da educação superior brasileira, mas sim o que esses documentos dizem e como organizam a estrutura do funcionamento do ensino superior em nosso país. No que diz respeito ao ensino superior, na Constituição Federal de 1988 aparece pouca coisa sobre o tema. Na carta constitucional de 1988 a educação superior somente é tratada na seção I do Capítulo 3 e do Título VIII, respectivamente nos artigos 206 até 214. Nesses artigos está escrito que a oferta de ensino superior é livre para a iniciativa privada, seguindo é claro, o cumprimento das normas gerais e a avaliação de qualidade, realizada pelo poder público. Porém, as atividades universitárias de pesquisa/extensão nas instituições privadas poderão receber apoio fi nanceiro público (parágrafo 2º do inciso II do artigo 213). Na constituição,também fi ca determinado o dever do Estado em garantir o acesso aos mais elevados níveis de ensino e pesquisa. No artigo 207 é assegurado que as universidades têm “autonomia didático- científi ca, administrativa e de gestão fi nanceira e patrimonial, e obedecerão ao princípio de indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão” (BRASIL, 1988). De acordo com a Constituição Federal de 1988, no seu artigo 207, as universidades brasileiras estão consubstanciadas no princípio republicano, “o qual afi rma a indissociabilidade entre as dimensões do ensino, da pesquisa e da extensão. O princípio da indissociabilidade entre ensino-pesquisa-extensão, no ensino superior, que busca superar a dicotomia entre teoria/prática, sujeito/ objeto, empiria/razão”. Sendo assim, esta indissociabilidade entre ensino-pesquisa-extensão deve permitir novos arranjos pedagógicos de ensino, produção e socialização de conhecimentos, efetivados na interdisciplinaridade (PUHL; DRESCH, 2016, p. 37). Em relação aos recursos públicos, eles serão designados às instituições públicas, no entanto, podendo em alguns casos ser aplicados às instituições confessionais, comunitárias e/ou fi lantrópicas determinadas por lei. Ainda, 87 LEGISLAÇÃO EDUCACIONAL E A COORDENAÇÃO DO ENSINO SUPERIOR NO BRASIL Capítulo 4 consta na constituição que o ensino será ministrado com base nos princípios de igualdade de condições de acesso e permanência, bem como o pluralismo de ideias, a gestão democrática no ensino público e a valorização dos profi ssionais do ensino. É evidente que há outros determinantes relativos ao ensino superior implícitos no texto constitucional concernentes à educação em geral (SEVERINO, 2008). Para conhecer mais sobre a Constituição Federal de 1988 e também seus princípios relativos à Educação, acesse: <http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm>. Outro dispositivo legal e bastante importante para a organização e estrutura do ensino é a LDB – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, aprovada em 1996, que regulamenta os princípios constitucionais relativos ao ensino superior. Severino (2008, p. 77) adverte que “a Lei nº 9394/96 não faz apenas uma operação jurídico- legislativa formal, mas consolida igualmente as opções políticas do Estado brasileiro como também suas opções ideológicas”. Ou seja, o que está contido na lei é uma opção por um modelo educacional e acompanhado de escolha para o seu funcionamento e ordenação. Na LDB, além dos dispositivos referentes à educação em geral, há também alguns artigos aplicáveis ao ensino superior, sendo destinado todo um capítulo, o IV, à educação superior, os artigos 43 ao 57. Ali são estabelecidos: [...] suas fi nalidades (art. 43), defi nidos seus cursos e programas (art. 44) – estabelecendo-se que ela será ministrada em instituições de ensino superior públicas ou privadas, com variados graus de abrangência ou especialização (art. 45) – regulamentados os processos de autorização e reconhecimento dos cursos (art. 46), defi nido o ano letivo regular (art. 47); trata da emissão dos diplomas (art. 48), das regras de transferências de alunos (art. 49), da disponibilidade das vagas não preenchidas para alunos não regulares (art. 50), das normas de seleção e admissão dos alunos (art. 51), das características que as instituições devem ter em função de seu perfi l formativo pluridisciplinar (art. 52), do regime jurídico e de carreira docente do pessoal das universidades públicas e do Na LDB, além dos dispositivos referentes à educação em geral, há também alguns artigos aplicáveis ao ensino superior, sendo destinado todo um capítulo, o IV, à educação superior, os artigos 43 ao 57. 88 História e OrganiZação do Ensino Superior no Brasil compromisso da União em assegurar recursos orçamentários sufi cientes para a manutenção das instituições federais (art. 55). No art. 56, determina-se que as instituições públicas de ensino superior “obedecerão ao princípio da gestão democrática, assegurada a existência de órgãos colegiados deliberativos, de que participarão os segmentos da comunidade institucional, local e regional”. E o artigo 57 estabelece que ‘o professor das IES públicas fi cará obrigado ao mínimo de oito horas semanais de aulas’ (SEVERINO, 2008, p. 80). A nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, a LDB, criou novas regras de funcionamento do ensino superior, tais como: a obrigatoriedade da frequência de professores e alunos nos cursos, exceto na modalidade à distância; a deliberação das IES quanto às normas de seleção; a obrigatoriedade em ofertar cursos noturnos nas instituições públicas; o cumprimento do período letivo de 200 dias; a oferta de informações obrigatórias disponíveis para os alunos antes de cada período letivo; e a exigência de que os docentes do ensino superior tenham pós-graduação, preferencialmente o mestrado e o doutorado (NEVES, 2002). Outra questão que foi redefi nida pela nova Lei de Diretrizes e Bases Nacional, diz respeito ao sistema educativo brasileiro de forma geral, onde foram estabelecidos desde os níveis de ensino escolares, as modalidades de educação e também as respectivas fi nalidades. Em relação aos níveis de ensino, estes se dividem em: Educação Básica, cujo objetivo é o desenvolvimento do educando, assegurando-lhe a formação mínima indispensável para o aprendizado da cidadania e fornecendo-lhe meios para prosseguir no trabalho e também em estudos posteriores. A Educação Básica é formada por três estágios: a educação infantil, o ensino fundamental e o ensino médio. Já o outro nível de ensino é a Educação Superior, composta basicamente por cursos de graduação, cursos de pós-graduação lato sensu — especialização – e Programas de pós-graduação — mestrados e doutorados. Devendo este nível ser ministrado tanto em instituições públicas ou privadas, tendo vários graus de abrangência ou especifi cação, disponíveis para os candidatos que tenham concluído o ensino médio e admitidos em processo seletivo. Por fi m, as modalidades de educação e ensino são: educação profi ssional, educação de jovens e adultos, educação especial, educação a distância, ensino presencial, ensino semipresencial e educação continuada. Abarcando um sistema diversifi cado e complexo de instituições públicas e privadas com diferentes tipos de cursos e programas, a educação superior no Brasil, hoje, abrange vários níveis de ensino, desde a graduação até a pós- graduação lato e stricto sensu. Nesse sentido, Neves (2002, p. 3) aponta para um 89 LEGISLAÇÃO EDUCACIONAL E A COORDENAÇÃO DO ENSINO SUPERIOR NO BRASIL Capítulo 4 fato importante, a autora assinala que a base da atual estrutura e funcionamento da educação brasileira teve a sua fi xação “[...] com a aprovação da Lei nº 5.540/68, da reforma universitária. Muitas das medidas adotadas pela reforma de 1968 continuam, ainda hoje, a orientar e conformar a organização desse nível de ensino”. DAVIES, Nicholas. Legislação Educacional Federal Básica. São Paulo: Editora Cortez, 2014. BRZEZINSKI, Iria (Organizadora); BELLONI, Isaura. A Educação Superior na nova LDB. In: LDB Interpretada: diversos olhares se entrecruzam. São Paulo: Cortez, 2002. p. 129. Através da LDB se estabelece que a educação abarca os processos formativos, desde aqueles que se desenvolvem na família, no trabalho, na convivência humana, nas instituições de ensino, nos movimentos sociais e na sociedade civil, e também nas manifestações culturais. A lei estabelece, prioritariamente, que a educação superior tem por fi nalidade: I. estimular a criação cultural e o desenvolvimento do espírito científi co e do pensamento refl exivo; II. formar diplomados, nas diferentes áreas do conhecimento, aptos para a inserção em setores profi ssionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua; III. incentivaro trabalho de pesquisa e investigação científi ca, visando ao desenvolvimento da ciência e da tecnologia e, ainda, da criação e difusão da cultura e, desse modo, desenvolver o entendimento do homem e do meio em que vive; IV. promover a divulgação de conhecimentos culturais, científi cos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicações ou de outras formas de comunicação; V. suscitar o desejo permanente de aperfeiçoamento cultural e profi ssional e possibilitar a correspondente concretização, integrando os conhecimentos que vão sendo adquiridos numa estrutura intelectual sistematizadora do conhecimento de cada geração; VI. estimular o conhecimento dos problemas do mundo presente, em particular os nacionais e regionais, prestar serviços especializados à comunidade e estabelecer com esta uma relação de reciprocidade; 90 História e OrganiZação do Ensino Superior no Brasil VII. promover a extensão, aberta à participação da população, visando à difusão das conquistas e benefícios da criação cultural e da pesquisa científi ca e tecnológica geradas na instituição (STALLIVIERI, 2006, p. 12-13). Outra lei importante neste contexto, é a de nº 9.131. Aprovada em 24 de novembro de 1995, criou o Conselho Nacional de Educação, composto pelas Câmaras de Educação Básica e de Educação Superior, que tem atribuições normativas, deliberativas e de assessoramento ao Ministro da Educação. Outra lei importante neste contexto, é a de nº 9.131. Aprovada em 24 de novembro de 1995, criou o Conselho Nacional de Educação, composto pelas Câmaras de Educação Básica e de Educação Superior CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO O Conselho Nacional de Educação foi criado em 1982, pelo Decreto-Lei nº 125/82, de 22 de abril, como um órgão superior de consulta do então Ministro da Educação e das Universidades, com o objetivo de “propor medidas que [garantissem] a adequação permanente do sistema educativo aos interesses dos cidadãos portugueses”. Em 1987, na sequência da publicação da Lei de Bases do Sistema Educativo, que institui expressamente o conselho no seu artigo 46º, o Decreto-lei nº 125/82 foi ratifi cado com alterações pela Lei nº 31/87, de 9 de julho. Este diploma prevê a matriz que ainda hoje caracteriza o conselho, isto é, como órgão com funções consultivas e ampla representatividade, com um elevado grau de independência e orientado para a formação de consensos. O presidente deixa de ser um representante do Ministro e passa a ser eleito pela Assembleia da República por maioria absoluta dos deputados com efetividade de funções. Desgovernamentaliza- se a composição do conselho, passando a alargar-se o seu âmbito de representatividade a outros agentes da sociedade. No ano seguinte, em 1988, são promovidos alguns ajustamentos que a prática aconselhou, nomeadamente os que se relacionam com o funcionamento da Comissão Permanente (Decreto-Lei nº 89/88, de 10 de março) e os que decorrem da constituição de um Conselho Administrativo que permite operacionalizar as competências que lhe advêm do seu estatuto de autonomia administrativa e fi nanceira (Decreto-Lei nº 423/88, de 14 de novembro). 91 LEGISLAÇÃO EDUCACIONAL E A COORDENAÇÃO DO ENSINO SUPERIOR NO BRASIL Capítulo 4 Outros ajustamentos são introduzidos em 1991, 1996, 2005 e 2009, mas sem que se tivesse alterado a matriz de 87, instituída pela Assembleia da República. Fonte: Disponível em: <http://www.cnedu.pt/pt/apresentacao/ historial>. Acesso em: 20 jul. 2016. Atividade de Estudos: 1) Conforme estudamos nesta seção, vimos que na LDB existem alguns artigos relativos à educação superior, os artigos 43 ao 57. A partir da leitura destes artigos faça um pequeno resumo. ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ OrganiZações de Coordenação da Educação Superior O órgão mais importante no sistema educacional brasileiro é o Ministério da Educação (MEC). Ministério do poder público federal responsável pelo campo da educação, tem nas suas atribuições a formulação e a avaliação da política nacional de educação, a observância pela qualidade do ensino superior e a garantia do cumprimento das leis que o regem. As áreas de sua abrangência dizem respeito à política nacional de educação; à educação básica, educação geral, desde a educação infantil, o ensino fundamental, o ensino médio, a educação tecnológica, a educação superior, a educação de jovens e adultos, a educação especial, educação profi ssional e a educação a distância. Também a avaliação, a O órgão mais importante no sistema educacional brasileiro é o Ministério da Educação (MEC). 92 História e OrganiZação do Ensino Superior no Brasil informação e a pesquisa de todo o sistema educacional. No que tange ao sistema de ensino superior, o Ministério da Educação é o órgão que faz a coordenação do controle normativo do sistema, o fi nanciamento das instituições de ensino superior públicas federais (as IFES) e também a fi scalização e avaliação destas, quanto das IES, de caráter privado. Outro órgão bastante signifi cativo na coordenação do ensino no Brasil, aqui já referido, é o Conselho Nacional de Educação. Estabelecido a partir da Lei nº 9.131/95, substitui o extinto Conselho Federal de Educação. Ele é responsável por ações normativas, deliberativas e de assessoria ao Ministério da Educação. O atual Conselho Nacional de Educação é composto por duas Câmaras: a do Ensino Básico e a do Ensino Superior, sendo que cada uma é composta por 12 conselheiros, onde a metade deles são indicados pelo Presidente da República e os outros são compostos por representantes da sociedade civil. Neste sentido: Especifi camente em relação à composição da Câmara de Educação Superior, defi niu-se que metade dela devia ser composta por conselheiros indicados a partir de uma lista formulada por entidades nacionais, públicas e particulares ‘que congreguem os reitores de universidades, diretores de instituições isoladas, docentes, estudantes e segmentos representativos da sociedade civil’, conforme o artigo 8º da Lei nº 9.135/95. Os outros conselheiros são indicados pelo Presidente da República, incluindo o Secretário de Educação Superior – membro nato dessa instituição. A Câmara de Educação Superior tem as seguintes atribuições de caráter deliberativo e de assessoramento ao MEC: analisar e emitir pareceres sobre os processos de avaliação da educação superior; deliberar sobre o reconhecimento de cursos de graduação, mestrado e doutorado, assim como o credenciamento/recredenciamento de IES; analisar questões relativas à aplicação da legislação referente à educação superior; deliberar sobre as diretrizes curriculares propostas pelo MEC para os cursos de graduação; oferecer sugestões para a elaboração do Plano Nacional de Educação e acompanhar sua execução; e deliberar sobre os estatutos das universidades e o regimento das demais instituições (NEVES, 2002, p. 6). Existem mais dois organismos importantes no que tange à coordenação do ensino superior no país, são eles: o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP) e a Fundação Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). O INEP é O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP) e a Fundação Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). 93 LEGISLAÇÃO EDUCACIONAL E A COORDENAÇÃO DO ENSINO SUPERIOR NO BRASIL Capítulo 4 [...] uma autarquia federal vinculada ao Ministério da Educação (MEC), cuja missão é promover estudos, pesquisase avaliações sobre o Sistema Educacional Brasileiro com o objetivo de subsidiar a formulação e implementação de políticas públicas para a área educacional a partir de parâmetros de qualidade e equidade, bem como produzir informações claras e confi áveis aos gestores, pesquisadores, educadores e público em geral (INEP, 2015). O INEP, com a Lei nº 9.948/97, foi transformado em autarquia federal, passando a assumir um papel estratégico para a educação: o de gerar informações a partir da avaliação da educação básica e superior. Dessa forma, atualmente o INEP vem tendo um papel importante para o acompanhamento da qualidade do ensino em todos os níveis e modalidades, visto que realiza há algum tempo três tipos de avaliações, todas implantadas a partir da década de 1990, são elas: a) Sistema de Avaliação da Educação Básica (SAEB) É a avaliação da educação básica, realizada em larga escala desde 1995. De acordo com o próprio INEP, “o Sistema de Avaliação da Educação Básica (SAEB), conforme estabelece a Portaria nº 931, de 21 de março de 2005, é composto por dois processos: a Avaliação Nacional da Educação Básica (ANEB) e a Avaliação Nacional do Rendimento Escolar (ANRSC)”. A ANEB é realizada por amostragem das Redes de Ensino, em cada unidade da Federação e tem foco nas gestões dos sistemas educacionais. Por manter as mesmas características, a ANEB recebe o nome de SAEB em suas divulgações. A ANRESC é mais extensa e detalhada que a ANEB e tem foco em cada unidade escolar. Por seu caráter universal, recebe o nome de Prova Brasil em suas divulgações. Fonte: Disponível em: <http://portal.inep.gov.br>. Acesso em: 22 jul. 2016. 94 História e OrganiZação do Ensino Superior no Brasil b) Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) Criado em 1988, este conhecido exame tem como objetivo avaliar as competências e o resultado educacional dos alunos ao fi nal do Ensino Médio. É tido como um instrumento formidável na avaliação desse nível de ensino e atualmente seus resultados se constituem em critério de seleção para ingressar em muitas instituições de ensino superior do Brasil. O Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) foi criado em 1998 com o objetivo de avaliar o desempenho do estudante ao fi m da educação básica, buscando contribuir para a melhoria da qualidade desse nível de escolaridade. A partir de 2009, passou a ser utilizado também como mecanismo de seleção para o ingresso no ensino superior. Foram implementadas mudanças no exame que contribuem para a democratização das oportunidades de acesso às vagas oferecidas por Instituições Federais de Ensino Superior (IFES), para a mobilidade acadêmica e para induzir a reestruturação dos currículos do ensino médio. Respeitando a autonomia das universidades, a utilização dos resultados do ENEM para acesso ao ensino superior pode ocorrer como fase única de seleção ou combinado com seus processos seletivos próprios. O ENEM também é utilizado para o acesso a programas oferecidos pelo Governo Federal, como o Programa Universidade para Todos – ProUni. Fonte: Disponível em: <http://portal.inep.gov.br>. Acesso em: 22 jul. 2016. c) Exame Nacional de Cursos Conhecido popularmente como “Provão”, foi instituído em 1995, pela Lei nº 9.131/95. O mesmo faz parte das avaliações periódicas das instituições de ensino superior. Seu objetivo principal é o de avaliar os conhecimentos e habilidades 95 LEGISLAÇÃO EDUCACIONAL E A COORDENAÇÃO DO ENSINO SUPERIOR NO BRASIL Capítulo 4 adquiridos pelos estudantes ingressantes e concluintes das áreas e cursos a serem avaliados pelo ENADE. Dessa maneira, com o uso desse instrumento, se torna possível fazer a avaliação comparativa entre a performance de um mesmo curso oferecido em diferentes IES, além, é claro, de acompanhar a evolução do desempenho dos cursos dentro de uma escala de tempo. E de acordo com o INEP: O Exame Nacional de Cursos (ENC-Provão) foi um exame aplicado aos formandos, no período de 1996 a 2003, com o objetivo de avaliar os cursos de graduação da Educação Superior, no que tange aos resultados do processo de ensino-aprendizagem. O Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (ENADE) é um dos procedimentos de avaliação do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (SINAES), criado pela Lei nº 10.861, de 14 de abril de 2004. O objetivo do ENADE é avaliar e acompanhar o processo de aprendizagem e o desempenho acadêmico dos estudantes em relação aos conteúdos programáticos previstos nas diretrizes curriculares do respectivo curso de graduação; suas habilidades para ajustamento às exigências decorrentes da evolução do conhecimento e competências para compreender temas exteriores ao âmbito específi co da profi ssão escolhida, ligados à realidade brasileira e mundial e a outras áreas do conhecimento. Fonte: Disponível em: <http://portal.inep.gov.br>. Acesso em: 22 jul. 2016. d) CAPES Por sua vez, a CAPES que foi criada em 1951, e em 1992 instituída como fundação, constitui-se numa agência de fomento da pós-graduação. Auxilia o Ministério da Educação na formulação de políticas para a pós-graduação, “coordenando e estimulando a formação de recursos humanos altamente qualifi cados para a docência em grau superior, a pesquisa e o atendimento da demanda por profi ssionais dos setores públicos e privados”. Tem também 96 História e OrganiZação do Ensino Superior no Brasil algumas fi nalidades de suma importância para a pós-graduação no país, tais como: “elaborar planos de atuação setoriais ou regionais; promover estudos e avaliações, necessários ao desempenho de suas atividades; apoiar o processo de desenvolvimento científi co e tecnológico nacional” (NEVES, 2002, p. 9). Manter também o intercâmbio e o contato com os demais setores da Administração Pública ou de entidades privadas do Brasil ou de outros países. Veja a seguir um pouco do que é a missão desse importante organismo para a educação superior do Brasil. A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), fundação do Ministério da Educação (MEC), desempenha papel fundamental na expansão e consolidação da pós-graduação stricto sensu (mestrado e doutorado) em todos os estados da federação. Em 2007, passou também a atuar na formação de professores da educação básica ampliando o alcance de suas ações na formação de pessoal qualifi cado no Brasil e no exterior. As atividades da CAPES podem ser agrupadas nas seguintes linhas de ação, cada qual desenvolvida por um conjunto estruturado de programas: • avaliação da pós-graduação stricto sensu; • acesso e divulgação da produção científi ca; • investimentos na formação de recursos de alto nível no país e exterior; • promoção da cooperação científi ca internacional; • indução e fomento da formação inicial e continuada de professores para a educação básica nos formatos presencial e a distância. A CAPES tem sido decisiva para os êxitos alcançados pelo sistema nacional de pós-graduação, tanto no que diz respeito à consolidação do quadro atual, como na construção das mudanças que o avanço do conhecimento e as demandas da sociedade exigem. 97 LEGISLAÇÃO EDUCACIONAL E A COORDENAÇÃO DO ENSINO SUPERIOR NO BRASIL Capítulo 4 O sistema de avaliação, continuamente aperfeiçoado, serve de instrumento para a comunidade universitária na busca de um padrão de excelência acadêmica para os mestrados e doutorados nacionais. Os resultados da avaliação servem de base para a formulação de políticas para a área de pós-graduação, bem como para o dimensionamento das ações de fomento (bolsas de estudo, auxílios, apoios). Fonte: Disponível em: <http://www.capes.gov.br>. Acesso em: 23 jul. 2016. Outro ponto importante que muitos querem saber sobre o ensino superior brasileiro é como acontece a classifi cação das instituições de ensino e quais os tipos de cursos de graduação e pós-graduação que existem. Como já foi dito aqui, a organizaçãodo sistema brasileiro de ensino superior é complexo e é regido pela LDB. O mesmo classifi ca-se de acordo com o tipo de fi nanciamento, as instituições e sua organização acadêmica, deliberadas em lei pelo Decreto nº 3.860 de 9 de julho de 2001, que de acordo com Stallivieri (2006), são: Universidades – De acordo com a Constituição Federal, as universidades devem obedecer ao princípio da indissociabilidade do ensino, pesquisa e extensão. Tal exigência não existe para as outras formas institucionais de Ensino Superior, de acordo com a Lei de Diretrizes e Bases (LDB) de 1996. A LDB também dita que as universidades são instituições pluridisciplinares de formação de quadros profi ssionais de nível superior, de pesquisa, investigação, extensão, domínio e cultivo do saber humano. Devem possuir: I. produção intelectual institucionalizada, mediante o estudo sistemático dos temas e problemas relevantes, tanto do ponto de vista científi co e cultural, quanto das necessidades de nível regional e nacional; II. um terço do corpo docente, pelo menos, com titulação acadêmica de mestrado e doutorado; III. um terço do corpo docente em regime de tempo integral. A universidade tem autonomia didática e científi ca, bem como autonomia administrativa e de gerenciamento de recursos fi nanceiros e do patrimônio institucional. Centros Universitários – Os centros universitários são instituições multicurriculares que oferecem educação de excelência 98 História e OrganiZação do Ensino Superior no Brasil e têm autonomia em seus cursos e programas de educação superior. Eles têm autonomia semelhante à das universidades, no sentido de estar dispensados de solicitar autorização para abertura de novos cursos, no entanto não são obrigados a efetivar a realização de pesquisas. Os centros universitários deverão comprovar elevada qualidade no ensino, o que deve incluir não só uma infraestrutura adequada, mas titulação acadêmica do corpo docente ou relevante experiência profi ssional na respectiva área. Deverão comprovar, também, a inserção e as práticas investigativas na própria atividade didática, de forma a estimular a capacidade de resolver problemas e o estudo autônomo por parte dos estudantes, assim como o constante aperfeiçoamento e atualização do corpo docente. Faculdades integradas, faculdades e institutos de educação superior – As faculdades integradas e as faculdades são instituições multicurriculares organizadas para atuar de uma maneira comum e sob um regime unifi cado. São instituições de um só plano de estudos diretamente sob o controle de uma administração central. Já os institutos de educação superior são instituições voltadas para a formação de professores. As faculdades integradas, faculdades isoladas, escolas superiores e institutos superiores não gozam de autonomia e devem solicitar autorização ao poder público e ao Ministério de Educação, para a abertura de um a um de seus novos cursos. Fonte: Stallivieri (2006, p. 15-16). Além das características administrativas e da organização acadêmica do sistema de Ensino Superior no Brasil descritas acima, é essencial conhecer também os tipos de cursos superiores oferecidos pelas instituições de ensino que são ofertados pelas instituições que compõem o sistema. Assim, no artigo 44 da LDB, fi cam defi nidos os tipos de cursos e programas que a educação superior abrange, esses são os seguintes: Assim, no artigo 44 da LDB, fi cam defi nidos os tipos de cursos e programas que a educação superior abrange, esses são os seguintes: 99 LEGISLAÇÃO EDUCACIONAL E A COORDENAÇÃO DO ENSINO SUPERIOR NO BRASIL Capítulo 4 I. sequenciais por campo de saber, de diferentes níveis de abrangência, abertos a candidatos que atendam aos requisitos estabelecidos pelas instituições de ensino; II. de graduação, abertos a candidatos que tenham concluído o ensino médio ou equivalente, ou tenham sido classifi cados em processo seletivo; III. de pós-graduação, compreendendo programas de mestrado e doutorado, cursos de especialização, aperfeiçoamento e outros, abertos a candidatos diplomados em cursos de graduação e que atendam às exigências das instituições de ensino; IV. de extensão, abertos a candidatos que atendem aos requisitos estabelecidos em cada caso pelas instituições de ensino (BRASIL, 1996). Os cursos de pós-graduação, que compreendem programas de especialização, mestrado e doutorado, têm as seguintes características: os cursos de especialização dão direito ao título de especialista “na área de conhecimento escolhida e geralmente são concluídos com 360 horas de estudos presenciais” ou na modalidade a distância. Eles não estão “sujeitos à supervisão e avaliação da CAPES, nem há autorização ou reconhecimento externos à instituição” (STALLIVIERI, 2006, p. 17). Compete às instituições e seus órgãos responsáveis concederem a autorização para a oferta destes cursos. Existem também dois tipos de cursos de mestrado. O mestrado profi ssional é um “curso de mestrado que enfatiza estudos e técnicas diretamente voltadas ao desempenho de um alto nível de qualifi cação profi ssional” (STALLIVIERI, 2006, p. 17). Este destaque na qualifi cação profi ssional é a diferença principal em relação ao mestrado acadêmico. “O mestrado profi ssional confere o mesmo grau e prerrogativa, inclusive para o exercício da docência, e como todo o programa de pós-graduação stricto sensu tem a validade nacional do diploma condicionada ao reconhecimento prévio do curso” (STALLIVIERI, 2006, p. 17). E por que a criação do mestrado profi ssional? Ele responde a uma necessidade defi nida socialmente relativa à capacitação profi ssional com uma natureza diversa pelo mestrado acadêmico, não se contrapondo à oferta e expansão desta modalidade de curso. Já o mestrado acadêmico, o mais comum dos mestrados, é destinado, especialmente, para quem deseja seguir a carreira de professor no ensino superior e realizar pesquisas acadêmicas. Quanto à carga horária dos cursos de mestrado no Brasil, “geralmente são concluídos em dois anos e, ao fi nal, para ter direito à obtenção do título de mestre, Existem também dois tipos de cursos de mestrado. O mestrado profi ssional é um “curso de mestrado que enfatiza estudos e técnicas diretamente voltadas ao desempenho de um alto nível de qualifi cação profi ssional”. Já o mestrado acadêmico, o mais comum dos mestrados, é destinado, especialmente, para quem deseja seguir a carreira de professor no ensino superior e realizar pesquisas acadêmicas. 100 História e OrganiZação do Ensino Superior no Brasil os concluintes devem apresentar uma dissertação sobre determinado tema, a qual será defendida na presença de especialistas em banca pública”. Por último, temos os cursos de doutorado, que são desenvolvidos por “períodos maiores de tempo e, ao concluírem, os alunos devem defender um tema de caráter inédito, ou seja, apresentam uma tese inovadora sobre determinado assunto” (STALLIVIERI, 2006, p. 17). Exige-se a defesa de uma tese ao término, que é realizada publicamente e aprovada por uma banca, ao fi nal o concluinte recebe o título de doutor. Há também uma série de organismos não governamentais que operam em âmbito nacional e que, de forma direta ou indireta, intervêm nos rumos e políticas da educação superior em nosso país. Tais como: • CRUB – Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras. • ABMES – Associação Brasileira de Mantenedoras de Instituições Superiores. • ABRUC – Associação Brasileira das Universidades Comunitárias. • ANDIFES – Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior. • ANUP – Associação Nacional das Universidades Privadas. • ANACEU – Associação Nacional dos Centros Universitários. Atividades de Estudos: 1) Um dos órgãos mais importantes no sistema educacional brasileiro é o Ministério da Educação (MEC). E de acordo com o estudado aqui, escrevacom suas palavras qual a responsabilidade deste Ministério para a educação brasileira. ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 2) Existem dois organismos importantes no que tange à coordenação do ensino superior no país, são eles: o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP) e a Fundação Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Faça uma pequena descrição destes dois organismos. 101 LEGISLAÇÃO EDUCACIONAL E A COORDENAÇÃO DO ENSINO SUPERIOR NO BRASIL Capítulo 4 ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 3) A partir do que foi estudado, faça uma diferenciação entre mestrado profi ssional e mestrado acadêmico. ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ As Atuais Políticas Públicas para o Ensino Superior do Brasil Pelo menos desde a última década em nosso país, está acontecendo um processo bastante signifi cativo de democratização relativo ao acesso de um número cada vez maior de jovens matriculados em instituições de ensino superior público e privado. Atento à busca desse acesso e à inclusão dos jovens ao ensino superior de qualidade, o Governo Federal vem canalizando esforços necessários para viabilizar isso através de algumas políticas públicas, desde o conhecido Pro- Uni, o FIES e até a política de cotas. O Programa Universidade Para Todos (ProUni), criado a partir da MP nº 213/2004 e institucionalizado pela lei nº 11.096/2005, tem tido um alcance amplo no contexto do ensino superior brasileiro. Maneira bastante simples e efi caz, usado para a ampliação do acesso da população de baixa renda excluída por séculos do ensino superior em nosso país, o mesmo foi criado no primeiro mandato do Presidente Luís Inácio Lula da Silva. Esse programa consiste em concessão de bolsas de estudos – integrais e parciais – para estudantes de baixa renda, em instituições privadas de ensino superior. O programa é visto por especialistas em política pública, de grande estímulo para expansão do ensino superior no país na última década. O Programa Universidade Para Todos (ProUni), criado a partir da MP nº 213/2004 e institucionalizado pela lei nº 11.096/2005, 102 História e OrganiZação do Ensino Superior no Brasil O ProUni nada mais é do que uma “política de ação afi rmativa desenvolvida pelo Ministério da Educação e Cultura (MEC) e tem sua lógica interna de inclusão socioeducativa associada à política de renúncia fi scal pela União”, que destina “bolsas de estudos em instituições de ensino superior privada, para parcela da população caracterizada pela sua situação socioeconômica, etnia e cultura” (COELHO; MAUCH, 2012, p. 7). Possuindo ainda políticas de ações afi rmativas para estudantes pretos, pardos, indígenas e também aos portadores de defi ciência, o ProUni, que é um programa de subsídio do governo federal, oferece duas modalidades de bolsa: “a integral, para estudantes que possuem renda bruta familiar per capita de até um salário mínimo e meio; e a parcial, de 50%, para estudantes com renda bruta familiar per capita de até três salários mínimos” (CARMO, 2014, p. 315). Para concorrer ao ProUni, é imprescindível ter realizado o ENEM e obtido uma pontuação mínima que é estabelecida pelo programa. Dessa forma, as notas do ENEM são usadas como um dos critérios de repartição das bolsas. Outro critério importante para se obter a bolsa do programa é o de ter feito todo o ensino médio em escola pública ou então em escola particular na condição de bolsista. O ProUni também pode benefi ciar os professores que atuam na rede pública de ensino, que optarem em fazer um curso de licenciatura na sua área de atuação. O QUE É O PROUNI É um programa do Ministério da Educação, criado pelo Governo Federal em 2004, que oferece bolsas de estudo integrais e parciais (50%) em instituições privadas de educação superior, em cursos de graduação e sequenciais, de formação específi ca a estudantes brasileiros sem diploma de nível superior. Podem participar: • Estudantes egressos do ensino médio da rede pública ou da rede particular na condição de bolsistas integrais da própria escola. • Estudantes com defi ciência. • Professores da rede pública de ensino, no efetivo exercício do magistério da educação básica, integrantes de quadro de pessoal permanente de instituição pública. Nesse caso, não é necessário comprovar renda. 103 LEGISLAÇÃO EDUCACIONAL E A COORDENAÇÃO DO ENSINO SUPERIOR NO BRASIL Capítulo 4 Para concorrer às bolsas integrais, o candidato deve comprovar renda familiar bruta mensal, por pessoa, de até um salário mínimo e meio. Para as bolsas parciais (50%), a renda familiar bruta mensal deve ser de até três salários mínimos por pessoa. Fonte: Disponível em: <http://siteprouni.mec. gov.br/>. Acesso em: 25 jul. 2016. Outro programa bastante signifi cativo para o acesso ao ensino superior é o FIES. Não sendo necessariamente um programa oriundo do período de valorização e expansão do ensino superior do qual estamos falando, mas foi nesse período que passou por suas maiores modifi cações para harmonizar-se às demandas da sociedade por políticas públicas destinadas ao acesso à educação universitária. Mas, do que trata esse programa chamado FIES? O FIES é um programa de fi nanciamento da educação superior para estudantes que estão matriculados em instituições privadas de ensino. A quem se destinam os fi nanciamentos? Os fi nanciamentos são designados aos alunos matriculados em cursos que “tenham sido avaliados de forma positiva pelos processos conduzidos pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP)” (CARMO, 2014, p. 318), organismo que subsidia as políticas educacionais do Ministério da Educação (MEC) através de avaliações. Dessa forma, desde 2010, o FIES [...] passou a ser operado pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), quando os juros foram reduzidos e o pedido de fi nanciamento foi liberado para estudantes em qualquer período do ano. Pelas atuais regras do FIES, o estudante paga, durante o período de duração do curso, a cada três meses, o valor máximo de R$ 50,00. Após a conclusão do curso, ele tem dezoito meses de carência e, nesse período, continua pagando, a cada três meses, o valor máximo de R$ 50,00. Este pagamento é referente aos juros incidentes sobre o fi nanciamento. Encerrado esse período de carência, o saldo devedor é parcelado em até três vezes o período fi nanciado e acrescido de doze meses. Isso signifi ca que o aluno que contou com o fi nanciamento por quatro anos terá dezoito meses depois de concluído o curso, treze anos para pagamento do débito com parcelas mensais (CARMO, 2014, p. 318). Outro programa bastante signifi cativo para o acesso ao ensino superior é o FIES. 104 História e OrganiZação do Ensino Superior no Brasil O QUE É O FIES? O Fundo de Financiamento Estudantil (FIES) é um programa do Ministério da Educação destinado a fi nanciar a graduação na educação superior de estudantes matriculados em cursos superiores não gratuitos na forma da Lei nº 10.260/2001.Podem recorrer ao fi nanciamento os estudantes matriculados em cursos superiores que tenham avaliação positiva nos processos conduzidos pelo Ministério da Educação. Em 2010, o FIES passou a funcionar em um novo formato: a taxa de juros do fi nanciamento passou a ser de 3,4% a.a., o período de carência passou para 18 meses e o período de amortização para 3 (três) vezes o período de duração regular do curso + 12 meses. O Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) passou a ser o Agente Operador do Programa para contratos formalizados a partir de 2010. Além disso, o percentual de fi nanciamento subiu para até 100% e as inscrições passaram a ser feitas em fl uxo contínuo, permitindo ao estudante solicitar o fi nanciamento em qualquer período do ano. A partir do segundo semestre de 2015, os fi nanciamentos concedidos com recursos do Fies passaram a ter taxa de juros de 6,5% ao ano com vistas a contribuir para a sustentabilidade do programa, possibilitando sua continuidade enquanto política pública perene de inclusão social e de democratização do ensino superior. O intuito é de também realizar um realinhamento da taxa de juros às condições existentes no cenário econômico e à necessidade de ajuste fi scal. Fonte: Disponível em: <http://sisfi esportal.mec.gov. br/?pagina=fi es>. Acesso em: 25 jul. 2016. 105 LEGISLAÇÃO EDUCACIONAL E A COORDENAÇÃO DO ENSINO SUPERIOR NO BRASIL Capítulo 4 A mais recente das medidas de democratização para o acesso ao ensino superior no Brasil, que na verdade é um debate antigo, refere-se à reserva de vagas nas instituições públicas para os estudantes procedentes de escolas públicas. PERGUNTAS FREQUENTES 1. O que é a lei de cotas? A Lei nº 12.711/2012, sancionada em agosto deste ano, garante a reserva de 50% das matrículas por curso e turno nas 59 universidades federais e 38 institutos federais de educação, ciência e tecnologia a alunos oriundos integralmente do ensino médio público, em cursos regulares ou da educação de jovens e adultos. Os demais 50% das vagas permanecem para ampla concorrência. 2. A lei já foi regulamentada? Sim, pelo Decreto nº 7.824/2012, que defi ne as condições gerais de reservas de vagas, estabelece a sistemática de acompanhamento das A mais recente das medidas de democratização para o acesso ao ensino superior no Brasil, que na verdade é um debate antigo, refere- se à reserva de vagas nas instituições públicas para os estudantes procedentes de escolas públicas, além, é claro, das já consolidadas cotas raciais e étnicas. Esta medida visa promover o acesso ao ensino superior e ao ensino técnico em nível médio à população historicamente menos favorecida. A Lei nº 12.711 de 2012, a Lei de Cotas (Brasil, 2012), prevê que metade das vagas de todos os cursos e turnos das instituições federais seja reservada a alunos que estudaram todo o nível médio em escola pública. Uma parte dessas vagas é reservada a pardos, negros e índios, outra parte aos estudantes com renda familiar igual ou menor que 1,5 salário mínimo per capita (CARMO, 2014, p. 321). Na verdade, já havia uma divisão visivelmente equilibrada nas universidades públicas anteriores à Lei de Cotas. Segundo dados levantados pela Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (ANDIFES), 44,8% dos estudantes universitários federais matriculados no ano de 2011, haviam cursado todo o ensino médio nas escolas públicas (CARMO, 2014). Assim, a Lei da Política de Cotas só veio ofi cializar uma prática de certa maneira institucionalizada no ensino superior público brasileiro. 106 História e OrganiZação do Ensino Superior no Brasil reservas de vagas e a regra de transição para as instituições federais de educação superior. Há, também, a Portaria Normativa nº 18/2012, do Ministério da Educação, que estabelece os conceitos básicos para aplicação da lei, prevê as modalidades das reservas de vagas e as fórmulas para cálculo, fi xa as condições para concorrer às vagas reservadas e estabelece a sistemática de preenchimento das vagas reservadas. 3. Como é feita a distribuição das cotas? As vagas reservadas às cotas (50% do total de vagas da instituição) serão subdivididas — metade para estudantes de escolas públicas com renda familiar bruta igual ou inferior a um salário mínimo e meio per capita e metade para estudantes de escolas públicas com renda familiar superior a um salário mínimo e meio. Em ambos os casos, também será levado em conta o percentual mínimo correspondente ao da soma de pretos, pardos e indígenas no estado, de acordo com o último censo demográfi co do Instituto Brasileiro de Geografi a e Estatística (IBGE). 4. A lei deverá ser aplicada imediatamente? Sim, mas gradualmente. Em 2013 terão de ser reservadas, pelo menos, 12,5% do número de vagas ofertadas atualmente. A implantação das cotas ocorrerá de forma progressiva ao longo dos próximos quatro anos, até chegar à metade da oferta total do ensino público superior federal. 5. Como as universidades que já tiveram edital de vestibular publicado devem agir? As universidades que já publicaram seus editais para o vestibular terão de fazer novas chamadas. 6. A lei vale para quem estudou em colégios militares também? Sim, vale para todas as escolas públicas de ensino médio. O conceito de escola pública se baseia na Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), Lei nº 9394/96, art. 19, inciso I: “Art. 19. As instituições de ensino dos diferentes níveis classifi cam- se nas seguintes categorias administrativas: I – públicas, assim entendidas as criadas ou incorporadas, mantidas e administradas pelo Poder Público”. 107 LEGISLAÇÃO EDUCACIONAL E A COORDENAÇÃO DO ENSINO SUPERIOR NO BRASIL Capítulo 4 7. Quem obteve certifi cação do ensino médio pelo Enem poderá entrar pela reserva de vagas? Para ser considerado egresso de escola pública, o estudante deve ter cursado o ensino médio em escola pública ou ter obtido certifi cação do Enem, Encceja e demais realizadas pelos sistemas estaduais, tendo cursado o ensino fundamental em estabelecimento público. O estudante não pode ter cursado em escola particular em nenhum momento. 8. Quem concorrer pelas cotas também poderá entrar pela ampla concorrência? Nos primeiros quatro anos de implementação da lei, os estudantes cotistas devem disputar vagas tanto pelo critério de cotas quanto pelo de ampla concorrência, já que as vagas serão oferecidas gradativamente. A partir de quatro anos, a permanência desse modelo fi cará a critério de cada instituição de ensino. 9. As cotas valerão para vestibulares tradicionais e para o Sisu? Sim, a lei já valerá para os próximos vestibulares das instituições e também na próxima edição do Sistema de Seleção Unifi cada (Sisu) do Ministério da Educação. As instituições federais de ensino que adotarem diferentes processos seletivos precisam observar as reservas de vagas em cada um destes processos. 10. Como será comprovada cor e renda declarados pelos candidatos? O critério da raça será autodeclaratório, como ocorre no censo demográfi co e em toda política de afi rmação no Brasil. Já a renda familiar per capita terá de ser comprovada por documentação, com regras estabelecidas pela instituição e recomendação de documentos mínimos pelo MEC. 11. No critério racial, haverá separação entre pretos, pardos e índios? Não. No entanto, o MEC incentiva que universidades e institutos federais localizados em estados com grande concentração de 108 História e OrganiZação do Ensino Superior no Brasil indígenas, adotem critérios adicionais específi cos para esses povos, dentro do critério da raça, no âmbito da autonomia das instituições. 12. Como o governo federal vai garantir a permanência dos estudantes cotistas na universidade? A política de assistência estudantil será reforçada. No orçamento de 2013 já está previsto um aumentopara o Programa Nacional de Assistência Estudantil (PNAES). Serão investidos, pelo menos, R$ 600 milhões em assistência estudantil em 2013. O MEC está articulando com os reitores a política de acolhimento dos alunos cotistas, que também gira em torno da política de tutoria e nivelamento. 13. Universidades que já têm programas de cotas terão de mudar? Podem ser mantidas as iniciativas já existentes, desde que as exigências da lei, ou seja, 12,5% das vagas, sejam implementadas conforme o Congresso Nacional estabeleceu. Então, no mínimo, esses 12,5% têm que corresponder integralmente aos critérios da lei. A partir desse 12,5%, podem ser criados critérios adicionais. A Lei de Cotas determina o mínimo de aplicação das vagas, mas as universidades federais têm autonomia para, por meio de políticas específi cas de ações afi rmativas, instituir reservas de vagas suplementares. 14. Haverá algum tipo de acompanhamento da implementação da lei? Sim. O acompanhamento fi cará a cargo de um comitê composto por representantes do Ministério da Educação, da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir) e da Fundação Nacional do Índio (Funai), com a participação de representantes de outros órgãos e entidades e da sociedade civil. Fonte: Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/cotas/perguntas- frequentes.html>. Acesso em: 25 jul. 2016. 109 LEGISLAÇÃO EDUCACIONAL E A COORDENAÇÃO DO ENSINO SUPERIOR NO BRASIL Capítulo 4 Por fi m, é notório lembrar que o rumo das atuais políticas públicas destinadas à educação superior no Brasil passa, essencialmente, pelo Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE). Entre os principais objetivos ensejos do Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE), destacam-se: • Expandir a oferta de educação superior para jovens de 18 a 24 anos, entre o período de 2011 a 2020 em pelo menos 33%. • Expandir a educação superior para que 40% das matrículas estejam nas instituições públicas. • Elevar o volume de recursos fi nanceiros aplicados em educação para atingir o patamar de 10% do PIB (CARMO, 2014, p. 317). PORTO, Claudio; RÉGNIER, Karla. O ensino superior no mundo e no Brasil: condicionantes, tendências e cenários para o horizonte 2003-2025: uma abordagem exploratória. Brasília, DF, 2003. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/sesu/arquivos/pdf/ ensinosuperiormundobrasiltendenciascenarios2003-2025.pdf>. Acesso em: 2 nov. 2007. TRANSFORMAÇÕES EM CURSO NO ENSINO SUPERIOR Mudança na estrutura do setor de educação superior As transformações que ocorrem no âmbito do setor da Educação Superior implicam igualmente no surgimento de novos protagonistas, que não apenas concorrem com as universidades tradicionais, mas que também lhes servem de complementos e parceiros, destacando- se os seguintes atores: • Universidades corporativas, patrocinadas ou administradas por grandes empresas, visando à aprendizagem contínua e especializada de seus quadros. • Empresas instrucionais – instituições terceirizadas que prestam serviços às universidades no próprio domínio do 110 História e OrganiZação do Ensino Superior no Brasil ensino superior em nichos especializados do conhecimento, dos processos pedagógicos ou da clientela, através de contratos defi nindo indicadores e metas de resultados e as condições desejadas de ensino-aprendizagem. • Entidades de Intermediação, cuja função é fazer a ponte entre os provedores de educação superior e os “consumidores”, visando apoiar, inclusive fi nanceiramente, os futuros alunos, fornecer-lhes orientação e informações relevantes e certifi car o conhecimento por eles adquiridos. Podem ainda atuar na defesa dos interesses dos alunos, mobilizando estudantes e negociando cursos específi cos e descontos junto às instituições de ensino, além de promover a busca de emprego e trabalho para os concluintes. • Organizações não tradicionais – entrada no setor de novos tipos de protagonistas, oriundos de outros segmentos da economia, tais como empresas de telecomunicação, de informática e informação, de entretenimento, bem como organizações governamentais e do “terceiro setor” engajadas na educação, treinamento e desenvolvimento profi ssional. Embora tradicionalmente tais instituições tenham sido consideradas basicamente como fornecedoras ou clientes do sistema de educação superior, devem passar a ser vistas agora como parte dele e, portanto, como colaboradoras e/ou competidoras potenciais. Mudanças nas relações da universidade com a sociedade À medida que a universidade, além dos papéis clássicos de ensino, pesquisa e extensão, tem desempenhado outras funções de interesse da sociedade (serviços de saúde e assistência, desenvolvimento econômico, entretenimento etc.), as barreiras que a protegiam das invasões de agentes políticos e econômicos estão sendo derrubadas. Assim, as universidades, como instituição, estão se tornando cada vez mais visíveis e vulneráveis e menos protegidas diante dos agentes da sociedade, requerendo, portanto, novas formas de interação e inserção com o ambiente externo. Mudança na natureza da prestação dos serviços acadêmicos A prestação dos serviços de educação superior tende a assumir, cada vez mais, as seguintes características: 111 LEGISLAÇÃO EDUCACIONAL E A COORDENAÇÃO DO ENSINO SUPERIOR NO BRASIL Capítulo 4 • Aprendizagem continuada, implicando na necessidade de as instituições de ensino proporcionarem aos cidadãos condições e formas de uma aprendizagem continuada por toda a sua vida profi ssional, atendendo aos requisitos de uma sociedade em permanente mudança. • Ausências de fronteiras rígidas entre os serviços, signifi cando que as diferentes atividades acadêmicas, não apenas se tornam mais inter-relacionados, mas se fundem efetivamente. • Aprendizagem assíncrona (qualquer tempo, qualquer lugar), quebrando as restrições de tempo e espaço para tornar as oportunidades de aprendizagem mais compatíveis às necessidades e estilos de vida das pessoas. • Serviços bastante diversifi cados, visando servir a uma população cada vez mais diferenciada e com inúmeras e variadas necessidades e objetivos. Mudança no modo de execução das atividades acadêmicas A universidade do século XXI será considerada, cada vez mais, como uma instituição prestadora de serviços do conhecimento (criação, preservação, integração, transmissão e aplicação), em qualquer das formas demandadas pela sociedade contemporânea. Neste contexto, embora seus papéis tradicionais (ensino-pesquisa- extensão) não devam sofrer alterações fundamentais, seus modos específi cos de execução mudarão signifi cativamente: • Evolução do atual “modelo artesanal” de produção para um outro mais próximo da “produção em massa” da era industrial e com fortes infl uências do modelo adotado na indústria de entretenimento. • Os métodos de ensino-aprendizagem e os papéis dos professores estão submetidos a fortes pressões para mudança, principalmente em função das novas tecnologias da teleinformática e do surgimento de uma “geração digital”, com suas demandas por novos processos e relacionamentos. Assim, outras formas de ensino, muitos mais interativos e suportados pelas novas tecnologias, deverão se intensifi car, 112 História e OrganiZação do Ensino Superior no Brasil com o professor afastando-se da “sala de aula” para assumir funções de geradores e administradores de novos experimentos de aprendizagem e de consultores e orientadores dos alunos, como aliás já ocorre na pós-graduação. O desenvolvimento da pesquisa também deverá sofrer grandes alterações. Os processos de criação tornar-se-ão muito mais coletivos e multidisciplinares, tendo em vista tanto os recursos tecnológicos disponibilizados, como a natureza dos novos conhecimentos demandados pela sociedade. Centrada tradicionalmente na biblioteca e, portanto, suportada no formato impresso, a preservação do conhecimento talvez sejaa função universitária mais suscetível a mudanças tecnológicas radicais. A tecnologia da informação – ou mais amplamente a “convergência digital” das várias mídias – já produz impacto signifi cativo na preservação, divulgação e acessibilidade do conhecimento, tornando-se cada vez mais democrático e disponível a todos, não sendo mais apenas uma prerrogativa ou privilégio da comunidade acadêmica. Neste contexto, a “biblioteca” da Universidade do Século XXI, suportada por diferentes mídias, extrapolará de muito suas atuais funções e seus domínios tradicionais de abrangência. No campo da extensão, a aplicação dos conhecimentos continuará a ser ditada, cada vez mais, pelas necessidades e demandas reais da sociedade. Neste sentido, provavelmente a extensão constitui a função universitária mais suscetível às mudanças sociais, devendo sofrer consequentemente transformações profundas, à medida que a sociedade é transformada radical e aceleradamente. Dessa forma, a amplitude e diversidade de aplicação, a velocidade de atendimento e a capacidade de respostas concretas requeridas exigirão da extensão novos modelos e processos de produção. Tendências já consolidadas ou invariantes 1. Declínio das taxas de crescimento demográfi co e progressivo envelhecimento da população. 2. Aceleração da produção científi ca e tecnológica e mudança nos padrões de competitividade das nações. 3. Crescente disponibilidade de novas tecnologias para a educação e crescimento da educação a distância. 113 LEGISLAÇÃO EDUCACIONAL E A COORDENAÇÃO DO ENSINO SUPERIOR NO BRASIL Capítulo 4 4. Redefi nição da estrutura do mercado de trabalho, do conteúdo do trabalho e das condições de empregabilidade. 5. Crescimento da educação continuada. 6. Consolidação da educação como objeto de aspiração dos jovens e de suas famílias. Mudanças em andamento e fatos portadores de futuro 1. Globalização do mercado de trabalho. 2. Incremento nos fl uxos internacionais de estudantes. 3. Empresas produtoras de tecnologia atuando como certifi cadoras de conhecimento. 4. Desterritorialização e internacionalização da oferta de ensino superior e serviços associados. 5. Maior presença das universidades corporativas. 6. Novos arranjos institucionais – a criação de universidades virtuais e a formação de consórcios. 7. Formação de parcerias entre instituições de ensino superior. 8. Acirramento da concorrência e transformação no padrão de atuação das instituições de ensino superior. 9. Presença de novos atores no campo da educação superior. Fonte: Disponível em: <https://goo.gl/jjiws3>. Acesso em: 25 jul. 2016. Atividades de Estudos: 1) Escreva com suas palavras o que é o Programa Universidade Para Todos (ProUni). ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 114 História e OrganiZação do Ensino Superior no Brasil 2) Faça um pequeno resumo sobre o que é a lei de cotas. ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ Algumas Considerações Ufa! Chegamos ao fi nal do quarto e último capítulo! Percorremos muito chão até aqui, não é mesmo, caro acadêmico? No entanto, algumas coisas precisam ser ditas ainda! Nesse sentido, é notório assinalar que a partir da promulgação da Constituição Federal de 1988 e igualmente com a nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira (Lei nº 9394/96), observou-se o surgimento de um aumento signifi cativo nas normas e dispositivos legais inovadores relativos à educação nacional. Fato que proporcionou aos poucos um novo impulso para a educação, indo desde o aumento de vagas a uma maior segmentação do ensino superior. É lógico que um maior acesso ao ensino superior gera uma expectativa de maior aumento na qualidade ofertada. Agora é plausível que apesar de algumas defi ciências estruturais e fi nanceiras, atualmente a qualidade educacional brasileira está bem melhor do que anos atrás. E embora levando em consideração as crises econômicas e políticas ocorridas no país nas últimas décadas, pode-se afi rmar que mesmo assim, as instituições públicas e privadas estão estabelecendo um novo sistema educacional. Nota-se que as modifi cações que vêm ocorrendo no cenário da educação superior brasileira estão também acontecendo a nível mundial, e sobretudo nos países da América Latina. Por fi m, podemos concluir afi rmando que o nosso país precisa ainda avançar muito em relação a um maior acesso à educação de nível superior para uma parcela maior de sua população, e esse acesso será somente possível com a expansão do número de instituições tanto públicas quanto privadas. 115 LEGISLAÇÃO EDUCACIONAL E A COORDENAÇÃO DO ENSINO SUPERIOR NO BRASIL Capítulo 4 ReFerÊncias BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil, 1988. Brasília: Senado Federal, Centro Gráfi co, 1988. BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Brasília: Senado Federal, Centro Gráfi co, 1996. CATANI, A. M. Organização do ensino no Brasil: níveis e modalidades na Constituição Federal e na LDB. 2. ed. São Paulo: Xamã, 2007. DAVIES, N. Legislação Educacional Federal Básica. São Paulo: Editora Cortez, 2014. BRZEZINSKI, I. (Organizadora); BELLONI, I. A Educação Superior na nova LDB. In: LDB Interpretada: diversos olhares se entrecruzam. São Paulo: Cortez, 2002. p. 129. CARMO, E. F. Políticas públicas de democratização do acesso ao ensino superior e estrutura básica de formação no ensino médio regular. Rev. bras. Estud. Pedagog (on-line), Brasília, v. 95, n. 240, p. 304-327, maio/ago. 2014. COELHO, V.; MAUCH, P. Gestão fi nanceira pública e privada nas instituições de ensino superior. In: Observatorio de la Economía Latinoamericana, n. 167, 2012. INEP. Conheça o Inep. 2015. Disponível em: <http://portal.inep.gov.br/conheca- o-inep>. Acesso em: 6 abr. 2017. PUHL, M. 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