Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
MANUAL DE PRÁTICA EM PETIÇÃO INICIAL TRABALHISTA Tiago Pereira @advpratica SUMÁRIO 1 - Introdução e Apresentação 2 - Maiores erros na elaboração de uma Petição Inicial 3 - Estrutura Básica 4 - Endereçamento 5 - Qualificação 6 - Gratuidade Judiciária 7 - Disposições Preliminares 8 - Do contrato de Trabalho 9 - Tópicos (Fato + Fundamento + Pedidos) 10 - Pedidos 11 - Disposições finais 12 - Valor da Causa 13 - Modelo de Petição Inicial Introdução e Apresentação Olá, meu nome é Tiago Pereira, sou advogado trabalhista e nesse manual você vai aprender um método que pode acelerar em até 8 vezes a elaboração de uma petição inicial eficiente e estratégica. Esse método é resultado de mais de 1 mil petições iniciais que eu já elaborei na minha carreira onde eu percebi o que realmente importa para o magistrado na hora de ler uma petição inicial (o que geralmente ocorre minutos antes da audiência trabalhista). Além de advogado sou professor e criador do maior portal de prática trabalhista @advpratica (instagram) Advocacia na Prática. Esse projeto nasceu da lacuna entre a faculdade e a prática jurídica. Eu percebi em 2016 que o mercado era carente de professores que ensinam a prática pura e resolvi ensinar o que realmente importa para os advogados que querem atuar na área trabalhista. Você vai perceber durante esse manual que, as dicas práticas, tem como fundamento o que de fato acontece nas varas do trabalho. A verdadeira advocacia trabalhista. Enquanto você está começando, é fácil elaborar uma petição inicial do zero, ainda que demore dias, quiçá, semanas, para finalização. Mas se você atua para reclamante, vai perceber que, para escalar seu negócio (sim, nosso escritório é um negócio), você vai precisar de eficiência e método. Já vi advogados perderem prazo prescricional porque não se atentaram ao tempo para entrar com a ação por demorarem semanas na elaboração de uma inicial. E esse Manual é somente um capítulo de um livro de prática trabalhista que eu estou escrevendo para lançar em 2022. Você vai poder ter acesso a uma parte desse projeto e entender como a prática é o conhecimento mais valioso para a advocacia. Sem mais delongas, vamos para a prática! Tiago Pereira 1. MAIORES ERROS COMETIDOS NA ELABORAÇÃO DA INICIAL A peça de ingresso, exordial, prefacial ou simplesmente Petição Inicial, é o instrumento pelo qual se provoca a jurisdição do Estado. É a peça de formalização do processo onde a parte demanda do judiciário a tutela de seus direitos. Ocorre que a faculdade não prepara o advogado para a prática e as peças jurídicas que são elaboradas na graduação, seguem uma teoria que não existe no dia a dia da advocacia, principalmente trabalhista. A petição inicial deve seguir alguns parâmetros instituídos na lei, especificamente no Código de Processo Civil e a CLT, que não é omissa quanto aos seus requisitos, vejamos, ambos os diplomas. CPC/2015 Art. 319. A petição inicial indicará: I - o juízo a que é dirigida; II - os nomes, os prenomes, o estado civil, a existência de união estável, a profissão, o número de inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas ou no Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica, o endereço eletrônico, o domicílio e a residência do autor e do réu; III - o fato e os fundamentos jurídicos do pedido; IV - o pedido com as suas especificações; V - o valor da causa; VI - as provas com que o autor pretende demonstrar a verdade dos fatos alegados; VII - a opção do autor pela realização ou não de audiência de conciliação ou de mediação. CLT Art. 840 - A reclamação poderá ser escrita ou verbal. § 1o Sendo escrita, a reclamação deverá conter a designação do juízo, a qualificação das partes, a breve exposição dos fatos de que resulte o dissídio, o pedido, que deverá ser certo, determinado e com indicação de seu valor, a data e a assinatura do reclamante ou de seu representante. Lembrando que, o que prevalece aqui é o disposto no art. 840 da CLT, pois o texto consolidado não é omisso quanto aos requisitos da inicial. Então a petição pode ser verbal (quando exercido pelo jus postulandi, vide art. 791 da CLT) ou escrita, quando deverá ser a designação do juízo, qualificação das partes, breve exposição dos fatos, pedido e indicação do valor, além da assinatura do reclamante ou seu representante. Antes de te ensinar como fazer uma petição inicial trabalhista na prática, vamos elencar os maiores erros que os advogados cometem na hora de elaborar suas iniciais. Erro 1 - Uso indiscriminado de modelos Esse erro é o mais comum e o primeiro que os advogados cometem, pois pela falta de experiência, procuram uma referência. Nada de errado em usar modelos, porém tem colegas usando modelos trocando somente a qualificação das partes, sendo comum acharmos um texto fora de contexto ou fatos que não são inerentes a causa, pois o modelo tratava de outro caso. Erro 2 - Ser perfeccionista A primeira peça nunca será a melhor ou a mais perfeita. A petição tem que ser eficiente, por mais que você não desenvolva ainda a capacidade argumentativa. Não é raro ver petições que o advogado narra o fato, menciona a lei e faz o pedido. Simples assim. E é uma peça SUPER EFICIENTE, pois o juiz vai entender do que se trata. Se você for perfeccionista, você vai demorar dias, até semanas, para distribuir suas petições e enquanto isso a prescrição está "comendo" o direito do seu cliente. Erro 3 - Ser prolixo demais Imagina a situação: O juiz tem 15 audiências na pauta do dia e geralmente lê a petição inicial minutos antes da audiência. Você acha que o juiz vai parar para ler uma peça de 45 laudas? Existe o que chamamos de leitura dedutiva e cada juiz tem sua forma de ler as iniciais. Conheci um grande amigo que é magistrado e a forma de ler dele é: ir direto nos pedidos. Se você for objetivo, focar nos fatos e não se preocupar com fundamentação extensa ou inclusão de doutrinas e jurisprudências, as chances da sua inicial ser compreendida é grande, o que aumenta as chances de êxito na demanda. Vou mostrar como ser objetivo sem deixar nenhum detalhe para trás. Erro 4 - Não se preocupar com o atendimento Toda estratégia que vai ser lançada na inicial começa com um bom atendimento. Colhendo detalhes dos fatos você sabe se é o caso de uma tutela de urgência, de pedido alternativo ou subsidiário, de inclusão de grupo econômico ou terceirizada, enfim. Ocorre que o advogado não dá atenção para o atendimento e fica mais preocupado em encher sua inicial de jurisprudência atrasada e de tribunal diferente do dele. Foque nos fatos, busque detalhes e peça para o seu cliente contar TUDO o que sabe e se puder, converse até com as testemunhas antes de fazer suas iniciais e você vai ver como isso pode enriquecer sua peça e ajudar na produção da prova. Erro 5 - Invocar jurisprudência de tribunal diverso do que atua e/ou atrasada Eu raramente invoco jurisprudência nas minhas iniciais, a não ser que seja algo novo, polêmico e que não tenha jurisprudência majoritária formada. Porém se for colacionar as ementas, procure jurisprudência do seu tribunal, pois é o entendimento dos desembargadores que vai prevalecer caso você precise recorrer ao TRT. Posso usar uma jurisprudência de TRT diferente para mostrar outro ponto sobre a matéria que o seu tribunal não entenda como o correto. Outro erro é indicar jurisprudência de 10, 15, até 20 anos atrás. A sociedade evolui e assim as relações sociais também evoluem. Portanto, a jurisprudência sempre deve acompanhar essas atualizações. Busque jurisprudências atuais, de pelo menos até 5 anos atrás. Erro 6 - Não revisar a peça antes de distribuir a ação Não raro eu vejo advogados que me seguem, desesperados porque esqueceram de lançar o pedido ou a causa de pedir nas suas iniciais e buscam o aditamento. Isso ocorre também com documentos. Descobrem já na audiência ou próximo do julgamento que esqueceram de juntar determinado documento. Uma vez em audiência, estava pelo reclamante e a reclamada juntou a defesa em branco, somente os documentos, ou seja, não conferiu.Erro 7 - Não saber cálculos É muito comum advogados delegarem a tarefa de elaboração da inicial para outros colegas ou até mesmo para estagiários. Porém, na hora de tentar o acordo, não sabe explicar para o juiz como chegou naqueles valores indicados nos pedidos. O juiz ouve a proposta da reclamada, o advogado do reclamante faz a contraproposta totalmente fora do razoável e o juiz questiona como chegou naquele valor. O advogado deve saber cálculos para poder explicar ao juiz o valor indicado na sua inicial. Erro 8 - Não fazer um rascunho para criar estratégias Advogado afoito e apressado quase sempre prejudica o seu cliente. A ansiedade é a inimiga da estratégia e eu já vivi isso na prática. Antes de abrir o Word e começar a escrever, o advogado deve fazer 3 pesquisas básicas para criar um rascunho da sua petição inicial: 1) Pesquisa da jurisprudência, 2) pesquisa de Acordo ou Convenção Coletiva, 3) Pesquisa de processos contra a mesma empresa. Com essas informações fica fácil traçar uma estratégia, como por exemplo, usar uma prova produzida em outro processo contra a mesma empresa e juntar como prova emprestada, pegar depoimentos que tenham fatos que possam ajudar na sua inicial, enfim. Com essas informações na mão, você elabora um rascunho elencado tópico por tópico com a referência legal e jurisprudencial (se for o caso). 2. ESTRUTURA BÁSICA DE UMA PETIÇÃO INICIAL TRABALHISTA Não existe uma estrutura CERTA ou ERRADA, o que tem é a que melhor te atende e eu acredito que essa estrutura é a mais eficiente. A) ENDEREÇAMENTO B) QUALIFICAÇÃO C) DISPOSIÇÕES PRELIMINARES D) DO CONTRATO DE TRABALHO E) TÓPICOS (FATO + FUNDAMENTO + PEDIDO) F) PEDIDOS G) DISPOSIÇÕES FINAIS H) VALOR DA CAUSA Vou exemplificar a estrutura de uma ação em que o reclamante laborava 1 hora extra por semana, bem como gozava somente 30 minutos do intervalo para descanso com redução sem negociação coletiva. 3. ENDEREÇAMENTO O endereçamento na inicial diz respeito a qual juízo será endereçada a sua petição. Após o CPC de 2015, muito se discute se a expressão "Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz..." já é ultrapassada pela menção ao juízo da causa. O que se sabe é que POUCO IMPORTA para a prática, pois até procuradores ainda utilizam o termo "Exmo. Sr. Dr. Juiz do Trabalho..." Mas, por uma boa técnica, utilize a expressão JUÍZO para endereçar suas iniciais. Observação importante quanto a competência territorial, vejamos: Art. 651 - A competência das Juntas de Conciliação e Julgamento é determinada pela localidade onde o empregado, reclamante ou reclamado, prestar serviços ao empregador, ainda que tenha sido contratado noutro local ou no estrangeiro. § 1º - Quando for parte de dissídio agente ou viajante comercial, a competência será da Junta da localidade em que a empresa tenha agência ou filial e a esta o empregado esteja subordinado e, na falta, será competente a Junta da localização em que o empregado tenha domicílio ou a localidade mais próxima. § 2º - A competência das Juntas de Conciliação e Julgamento, estabelecida neste artigo, estende-se aos dissídios ocorridos em agência ou filial no estrangeiro, desde que o empregado seja brasileiro e não haja convenção internacional dispondo em contrário. § 3º - Em se tratando de empregador que promova realização de atividades fora do lugar do contrato de trabalho, é assegurado ao empregado apresentar reclamação no foro da celebração do contrato ou no da prestação dos respectivos serviços. Então o endereçamento deverá ser feito assim: AO JUÍZO DA VARA DO TRABALHO DA CIDADE DE _______________ OU AO JUÍZO DE UMA DAS VARAS DO TRABALHO DA CIDADE DE ____________ 4. QUALIFICAÇÃO DAS PARTES O CPC trouxe inovação quanto a qualificação das partes quando dispõe que a qualificação deve conter: II - os nomes, os prenomes, o estado civil, a existência de união estável, a profissão, o número de inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas ou no Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica, o endereço eletrônico, o domicílio e a residência do autor e do réu; Na prática, a ausência de informações não essenciais para identificação das partes (e-mail, por exemplo) não tem sido motivo para emenda da inicial, mas é importante prestar atenção nisso. Já vi juízes negarem gratuidade porque na qualificação constava a profissão do reclamante dando a entender que ele estivesse trabalhando. Devo omitir esse fato? Não, porém frise no tópico de gratuidade (que veremos a seguir) que o reclamante está desempregado ou que não possui condições financeiras de arcar com as custas processuais, fazendo prova da situação. É de boa técnica indicar o endereço eletrônico das partes, principalmente da reclamada, pois tivemos mudanças recentes no CPC de 2015 através da Lei 14.195 que alterou o art. 246, vejamos: Art. 246. A citação será feita preferencialmente por meio eletrônico, no prazo de até 2 (dois) dias úteis, contado da decisão que a determinar, por meio dos endereços eletrônicos indicados pelo citando no banco de dados do Poder Judiciário, conforme regulamento do Conselho Nacional de Justiça. Na prática, sua qualificação vai ficar assim: JOÃO DA SILVA, brasileiro, casado, pedreiro, portador do RG n. XXXXXXXX-XX, inscrito no CPF sob n. XXXXXXXX-XX, residente e domiciliado na Rua XXXXXXXXX, n. XX, Bairro XXXXXXX, Cidade de XXXXXXX/XX, CEP XXXXX-XXX, com endereço eletrônico xxxxxxxxx@xxxxxx.com, por meio de seu advogado e procurador que esta subscreve, vem à presença de V. Excelência propor a presente AÇÃO TRABALHISTA contra MERCADO DO ZEZINHO, pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ sob n. XX.XXX.XXX/XXXX-XX, localizada na Rua XXXXXXXX, n. XX, Bairro XXXXX, Cidade XXXXXX/XX, CEP XXXXX-XXX, pelos motivos de fato e de direito que seguem. 5. GRATUIDADE JUDICIÁRIA Não é regra inserir esse tópico logo após a qualificação, mas ao meu ver é a melhor técnica já descrever a situação econômica do cliente em tempos que a gratuidade é mitigada pela reforma trabalhista. Nesse tópico, é comum advogados ainda se ampararem no revogado art. 4º da Lei 1.060/50 para fundamentar o pedido, porém os requisitos para concessão estão previstos no art. 790, §3º da CLT, vejamos: Art. 790. Nas Varas do Trabalho, nos Juízos de Direito, nos Tribunais e no Tribunal Superior do Trabalho, a forma de pagamento das custas e emolumentos obedecerá às instruções que serão expedidas pelo Tribunal Superior do Trabalho. [...] § 3o É facultado aos juízes, órgãos julgadores e presidentes dos tribunais do trabalho de qualquer instância conceder, a requerimento ou de ofício, o benefício da justiça gratuita, inclusive quanto a traslados e instrumentos, àqueles que perceberem salário igual ou inferior a 40% (quarenta por cento) do limite máximo dos benefícios do Regime Geral de Previdência Social. Podemos identificar dois requisitos, sendo um deles objetivo que é a percepção de salário igual ou inferior a 40% do teto da previdência (que hoje, 2021, está em R$ 6.433,57) e o segundo, subjetivo, em que a parte deverá comprovar a situação de hipossuficiência econômica. mailto:xxxxxxxxx@xxxxxx.com Um se presume e o outro se prova. A dica é, sempre procure provar a situação econômica do cliente, juntando provas como declaração do IR, extrato bancário, holerites, consulta Serasa e SCPC se tiver nome negativado, dentre outros. O tópico deve ser redigido assim: DA GRATUIDADE JUDICIÁRIA O reclamante é pessoa humilde e não possui proventos suficientes para arcar com as custas processuais, sendo o que se vê do farto conjunto probatório encartado nos autos. Possui renda de R$ XXXXX, valor inferior a 40% do teto da previdência, bem como encontra-se desempregado e com o nome negativado. Portanto, preenchidos os requisitos do art. 790, §3º da CLT, requer a concessão da gratuidade judiciária. 6. TÓPICO DE INFORMAÇÕES GERAIS SOBRE O CONTRATO DE TRABALHO Um dos tópicos mais importantes (e o mais desprezado pelos advogados) é o do contrato de trabalho, pois aqui o juiz vai extrair as principais informações para conduzir a lide,principalmente a audiência. Não é raro os juízes caírem direto nesse tópico antes da audiência começar, isso para delimitar o período dos fatos que serão objeto de prova, para analisar eventual prescrição, ter base para apresentar uma proposta de acordo para as partes, enfim. Quanto mais objetivo e simples for esse tópico, mais fácil e rápido será a compreensão do juiz. Vamos para a prática. Você tem duas opções: usar uma tabela simples OU descrever os dados em no máximo dois parágrafos. DO CONTRATO DE TRABALHO Alternativa 1) Admissão 13/04/2018 Demissão 22/11/2020 Função Operador de Máquina Salário final R$ 1.860,00 Jornada De seg à sex das 07hs às 17hs com 30min de almoço Tipo de extinção Sem justa causa Alternativa 2) DO CONTRATO DE TRABALHO O reclamante foi admitido pela reclamada em 13/04/2018 na função de Operador de Máquina com salário inicial de R$ 1.860,00 e jornada de segunda à sexta das 07hs às 17hs com 30 minutos para descanso e refeição. Foi dispensado sem justa causa em 22/11/2020. Durante a contratualidade a reclamada reduziu de forma unilateral o intervalo para descanso e refeição, bem como exigia o labor acima das 44 horas semanais sem a respectiva remuneração. Destarte, vem o obreiro à este juízo requerer horas extras e indenização do intervalo intrajornada nos termos que seguem. 7. CAUSA DE PEDIR (VERBAS PLEITEADAS SEPARADAS POR TÓPICO) A estética da peça é importante, porém a estrutura lógica é mais importante ainda a fim de conferir ao julgador melhor compreensão dos fatos por ordem de importância e cronológica. Por exemplo: se o reclamante sofreu acidente de trabalho e ainda não recebeu as verbas rescisórias, comece sua peça pelo pedido de maior valor econômico, ou seja, dano material e moral decorrentes do acidente. As verbas rescisórias podem vir em seguida. Outro ponto importante é ser simples e objetivo no fundamento, mas detalhista nos fatos, pois no processo do trabalho, pelo princípio da primazia da realidade, o que importa é o contrato realidade, o que de fato aconteceu na relação de emprego. Contudo, não se pode deixar de lado a boa técnica, a argumentação lógica dos fatos com aplicação prática dos fundamentos, bem como observar o disposto no art. 319 do CPC, sob pena da sua peça ser indeferida. Art. 321. O juiz, ao verificar que a petição inicial não preenche os requisitos dos arts. 319 e 320 ou que apresenta defeitos e irregularidades capazes de dificultar o julgamento de mérito, determinará que o autor, no prazo de 15 (quinze) dias, a emende ou a complete, indicando com precisão o que deve ser corrigido ou completado. Parágrafo único. Se o autor não cumprir a diligência, o juiz indeferirá a petição inicial. Use a estrutura do fato, acrescido do fundamento e por fim o pedido. Use e abuse do silogismo jurídico, que é um modo de raciocinar com fundamento na dedução. Partindo de uma premissa maior para uma premissa menor e por fim a conclusão. Até porque, o sistema processual comum (aplicado ao processo do trabalho neste particular) é pela inépcia da inicial quando da narração dos fatos não decorrer logicamente a conclusão (art. 330, parágrafo 1º, III do CPC). Vamos exemplificar: Fato (Premissa menor): João recebeu suas verbas rescisórias 30 dias depois do término do seu contrato. Fundamento (Premissa maior): O art. 477 da CLT prevê que o empregador deverá pagar as verbas no prazo de 10 dias após a extinção do contrato de trabalho. Pedido (conclusão): Logo, João faz jus a multa prevista no art. 477, parágrafo 8º da CLT no importe de um salário contratual (consequência jurídica do fato). Uma observação importante é que sempre deve a causa de pedir estar acompanhada do pedido sob pena de indeferimento da inicial (art. 330 CPC). http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm#art319 Vamos ver como ficaria no caso da petição inicial que estamos elaborando cujo reclamante faz jus a horas extras e intervalo intrajornada. DA HORA EXTRA ALÉM DA 44ª SEMANAL O reclamante trabalhava de segunda à sexta das 07hs às 17hs com apenas 30 minutos de intervalo para descanso e refeição. Da jornada, extrai-se que o reclamante laborava 45 horas semanais, desconsiderando o intervalo suprimido, que será objeto de pedido próprio a seguir. Nos termos do art. 7º, inciso XIII da CF e art. 58 da CLT a jornada semanal não poderá exceder de 44 horas sob pena de pagamento da hora extraordinária com acréscimo de 50% nos termos do inciso XVI do art. 7º da Carta Maior. Portanto, o reclamante faz jus a 1 hora extra semanal com acréscimo de 50% e reflexos em DSR e com este, aviso prévio, férias acrescidas de ⅓, 13º salário e FGTS + multa de 40%. DO INTERVALO PARA DESCANSO E REFEIÇÃO Como já narrado acima, o reclamante laborava de segunda à sexta das 7hs às 17hs com 30 minutos para descanso e refeição sem a devida negociação coletiva com o sindicato da categoria. Prescreve o art. 71 da CLT que o empregado fará jus a um intervalo de pelo menos 1 hora quando sua jornada for acima de 6 horas diárias, de maneira que, a redução do intervalo só será válida quando precedida de negociação coletiva nos termos do art. 611-A, III do texto consolidado. O desrespeito ao intervalo intrajornada enseja o pagamento do período suprimido com adicional de 50% nos termos do parágrafo 3º do Art. 71 também da CLT. Portanto, requer a condenação da reclamada no pagamento de 30 minutos diários com acréscimo de 50% por todo o pacto laboral. 8. PEDIDOS Nos termos do art. 840, parágrafo 1º da CLT o pedido deve ser certo, determinado e com a indicação do seu valor. Por óbvio devemos ser claros nos pedidos a fim de possibilitar a tutela jurisdicional e entrega do bem da vida pretendido pela parte e resistido pela parte contrária. Temos na petição o pedido imediato e o pedido mediato, sendo o primeiro a prestação da tutela jurisdicional, podendo ser declaratório, condenatório ou constitutivo, e o segundo o bem que se pretende na reclamação. Então sempre tenha em mente que para cada fato relevante que resulte em uma consequência jurídica, deve ter o seu respectivo pedido, certo, determinado e com a indicação do seu valor (se condenatório a pagamento) ou suas especificações (se for obrigação de fazer ou não fazer e entrega de coisa certa ou incerta). Nas ações trabalhistas é muito comum a parte fazer diversos pedidos na mesma ação, acumulando estes quando derivados da relação de trabalho ou emprego. Vejamos: Art. 327. É lícita a cumulação, em um único processo, contra o mesmo réu, de vários pedidos, ainda que entre eles não haja conexão. § 1º São requisitos de admissibilidade da cumulação que: I - os pedidos sejam compatíveis entre si; II - seja competente para conhecer deles o mesmo juízo; III - seja adequado para todos os pedidos o tipo de procedimento. § 2º Quando, para cada pedido, corresponder tipo diverso de procedimento, será admitida a cumulação se o autor empregar o procedimento comum, sem prejuízo do emprego das técnicas processuais diferenciadas previstas nos procedimentos especiais a que se sujeitam um ou mais pedidos cumulados, que não forem incompatíveis com as disposições sobre o procedimento comum. § 3º O inciso I do § 1º não se aplica às cumulações de pedidos de que trata o art. 326 . Um exemplo de cumulação de pedidos é o pagamento de verbas rescisórias com a multa do art. 467 e 477 da CLT, pois tais multas decorrem do inadimplemento das rescisórias. Pode o autor formular pedidos alternativos (Art. 325, CPC), quando o réu puder cumprir a prestação de mais de um modo, como no caso de insalubridade ou http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm#art326 periculosidade quando não se tem certeza de quais agentes nocivos o empregado estava exposto durante o contrato de trabalho. E por fim os pedidos subsidiários (art. 326, CPC) que podem ser requeridos por uma ordem a fim de que o juiz conheça do pedido posterior se não conhecer do anterior. Exemplo clássico é quando se pede a reintegração da reclamante dispensadagrávida, porém com fulcro no art. 496, da CLT aplicado de forma análoga, possa o juiz condenar a empresa na indenização substitutiva caso seja desaconselhável a reintegração da obreira. Com a reforma é necessário que o advogado indique o valor dos pedidos e neste ponto, estamos vendo cada juiz adotar um procedimento diferente e, às vezes, arbitrário demais. A jurisprudência do TST vem no sentido de que o art. 840, parágrafo 1º da CLT alterado com a Lei 13.467/17 não exige a pormenorização dos valores indicados nos pedidos, tampouco a juntada de memória de cálculo como alguns juízes vem exigindo. RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA. ATO COATOR CONSUBSTANCIADO EM DETERMINAÇÃO DE EMENDA DA PETIÇÃO INICIAL PARA JUNTADA DE PLANILHA CONTÁBIL. ÓBICE INJUSTIFICADO AO ACESSO À JUSTIÇA. LEI Nº 13.467, DE 2017. EXIGÊNCIA QUE NÃO CONSTA DO ART. 840, § 1º, DA CLT TAMPOUCO DO ART. 319 A 324 DO CPC DE 2015. ATO TERATOLÓGICO. AFASTAMENTO DA APLICAÇÃO DA OJ Nº 92 DA SBDI-2 DO TST. SEGURANÇA CONCEDIDA. Cuida-se de mandado de segurança impetrado para impugnar despacho de emenda da petição inicial, em fase de conhecimento de reclamação trabalhista. A autoridade reputada coatora, com base no art. 840, § 1º, da CLT, exigiu que o Reclamante complementasse a petição inicial com planilha contábil, sob pena de extinção do processo sem resolução do mérito. Na sessão de julgamento ocorrida em 6 de novembro de 2018, por ocasião do julgamento dos RO - 406-27.2017.5.10.0000 e RO - 144-28.2011.5.05.0000, a SBDI-2/TST considerou inaplicável o teor da Orientação Jurisprudencial nº 92 da SBDI-2/TST sempre que o ato coator se revestir de ilegalidade ou for divergente da jurisprudência pacífica dessa Corte Superior e não houver meio processual para evitar o prejuízo imediato à parte impetrante. No caso em tela, verifica-se que, na petição inicial do processo subjacente, o Reclamante atribuiu valor a cada um dos pedidos. O pedido é certo e determinado, tal como exigem os arts. 840 e 319 a 324 do CPC de 2015. No âmbito da fase processual de conhecimento, não há a impreterível necessidade de que profissionais da contabilidade apurem, de início, o alegado "quantum" devido. Com isso, o condicionamento do exercício do direito de ação à juntada de planilha contábil é medida manifestamente ilegal. Segurança concedida para assegurar o processamento da reclamatória independentemente da juntada de laudo pericial contábil. Recurso ordinário provido. (TST - RO: 3682420185120000, Relator: Maria Helena Mallmann, Data de Julgamento: 01/10/2019, Subseção II Especializada em Dissídios Individuais, Data de Publicação: DEJT 22/11/2019) Caso isso ocorra, você pode tomar duas atitudes: Mandado de Segurança ao TRT da sua região OU esperar a sentença extinguindo o feito sem resolução de mérito e interpor Recurso Ordinário (essa medida mais demorada e desaconselhável). A boa técnica processual e a prática tem trazido uma forma simples de elencar os pedidos e indicar os valores, desde que sejam aproximados do que realmente seriam na fase de liquidação de sentença. Observação importante quanto a indicação do valor no pedido de honorários de sucumbência: há juízes que exigem a indicação do valor nesse pedido e outros dispensam, mas eu recomendo sempre indicar para não ter surpresa e ter o feito julgado sem resolução de mérito por inépcia da inicial. Vejamos o exemplo: DOS PEDIDOS Ante todo o exposto acima requer: 1 - A concessão da gratuidade judiciária pelos termos do art. 790, §3º da CLT; 2 - A intimação da reclamada para que, querendo, apresente defesa no momento oportuno sob pena de incorrer em revelia e seus efeitos jurídicos; 3 - A procedência total da ação para condenar a reclamada em: 3.1 - Pagamento de 1 hora extra semanal com acréscimo de 50% e reflexos em DSR e com este, aviso prévio, férias acrescidas de ⅓, 13º salário e FGTS + multa de 40%.................................................................................................................R$ 3.317,09 (três mil trezentos e dezessete reais e nove centavos); 3.2 - Pagamento de 30 minutos diários de intervalo intrajornada suprimido com acréscimo de 50%............................................................................................R$ 4.324,50 (quatro mil trezentos e vinte e quatro reais e cinquenta centavos); 3.3 - Pagamento de honorários de sucumbência em 15% sobre o que resultar a condenação………………………………………………………………. R$ 1.146,23 (um mil cento e quarenta e seis reais e vinte e três centavos); 9. REQUERIMENTOS FINAIS Compõem os requerimentos finais o pedido de produção de prova, intimação do advogado e outros até declaram a autenticidade dos documentos nos termos do art. 830 da CLT. Não há muito o que discorrer nesse tema, pois são requerimentos simples e de praxe na justiça do trabalho. DOS REQUERIMENTOS FINAIS Protesta provar o alegado por todos os meios de prova admitidos em direito em especial a prova documental e testemunhal, sendo esta produzida durante a instrução processual. Requer ainda sejam todas as intimações e publicações endereçadas ao advogado (dados do advogado e endereço eletrônico) sob pena de nulidade nos termos da súmula 427 do C. TST. Nos termos do art. 830 da CLT o patrono declara autênticos todos os documentos acostados nos autos. 10. VALOR DA CAUSA No processo do trabalho, o rito adotado depende do valor da causa, sendo da seguinte forma: - Rito Ordinário - acima de 40 salários mínimo - Rito Sumaríssimo - acima de 2 e até 40 salários mínimo - RIto Sumário - até 2 salários mínimo Quanto ao valor da causa, vale registrar o disposto no art. 292 do CPC: Art. 292. O valor da causa constará da petição inicial ou da reconvenção e será: [...] VI - na ação em que há cumulação de pedidos, a quantia correspondente à soma dos valores de todos eles; VII - na ação em que os pedidos são alternativos, o de maior valor; VIII - na ação em que houver pedido subsidiário, o valor do pedido principal. Muito embora a CLT seja omissa quanto a forma de indicar o valor da causa, usamos o processo comum como fonte subsidiária, logo, na maioria das ações trabalhistas, o valor da causa é a soma dos pedidos. Vejamos o exemplo. Dá-se a causa o valor de R$ 8.697,82 (oito mil seiscentos e noventa e sete reais e oitenta e dois centavos). Termos em que Pede deferimento Local e Data Advogado e OAB CONCLUSÃO Longe de mim tentar esgotar o tema da petição inicial nesse simples trabalho, porém tentei entregar o máximo possível de dicas práticas que vão te ajudar a elaborar suas iniciais sem o risco de um indeferimento ou pedido de emenda. Que este manual seja um guia para sua advocacia decolar e você viver do que sempre sonhou que é a advocacia. Sucesso e é só o começo. Tiago Pereira Advogado e Professor Criador do Portal Advocacia na Prática. MODELO ESTRUTURADO DA PETIÇÃO INICIAL DETALHADA NO MANUAL AO JUÍZO DE UMA DAS VARAS DO TRABALHO DA CIDADE DE ____________ JOÃO DA SILVA, brasileiro, casado, pedreiro, portador do RG n. XXXXXXXX-XX, inscrito no CPF sob n. XXXXXXXX-XX, residente e domiciliado na Rua XXXXXXXXX, n. XX, Bairro XXXXXXX, Cidade de XXXXXXX/XX, CEP XXXXX-XXX, com endereço eletrônico xxxxxxxxx@xxxxxx.com, por meio de seu advogado e procurador que esta subscreve, vem à presença de V. Excelência propor a presente AÇÃO TRABALHISTA contra MERCADO DO ZEZINHO, pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ sob n. XX.XXX.XXX/XXXX-XX, localizada na Rua XXXXXXXX, n. XX, Bairro XXXXX, Cidade XXXXXX/XX, CEP XXXXX-XXX, pelos motivos de fato e de direito que seguem. DA GRATUIDADE JUDICIÁRIA O reclamante é pessoa humilde e não possui proventos suficientes para arcar com as custas processuais, sendo o que se vê do farto conjunto probatório encartado nos autos. Possui renda de R$ XXXXX, valor inferior a 40% do teto da previdência, bem como encontra-se desempregado e com o nome negativado. Portanto, preenchidos os requisitos do art. 790, §3º da CLT, requer a concessão da gratuidade judiciária. DO CONTRATO DE TRABALHO Admissão13/04/2018 mailto:xxxxxxxxx@xxxxxx.com Demissão 22/11/2020 Função Operador de Máquina Salário final R$ 1.860,00 Jornada De seg à sex das 07hs às 17hs com 30min de almoço Tipo de extinção Sem justa causa DA HORA EXTRA ALÉM DA 44ª SEMANAL O reclamante trabalhava de segunda à sexta das 07hs às 17hs com apenas 30 minutos de intervalo para descanso e refeição. Da jornada, extrai-se que o reclamante laborava 45 horas semanais, desconsiderando o intervalo suprimido, que será objeto de pedido próprio a seguir. Nos termos do art. 7º, inciso XIII da CF e art. 58 da CLT a jornada semanal não poderá exceder de 44 horas sob pena de pagamento da hora extraordinária com acréscimo de 50% nos termos do inciso XVI do art. 7º da Carta Maior. Portanto, o reclamante faz jus a 1 hora extra semanal com acréscimo de 50% e reflexos em DSR e com este, aviso prévio, férias acrescidas de ⅓, 13º salário e FGTS + multa de 40%. DO INTERVALO PARA DESCANSO E REFEIÇÃO Como já narrado acima, o reclamante laborava de segunda à sexta das 7hs às 17hs com 30 minutos para descanso e refeição sem a devida negociação coletiva com o sindicato da categoria. Prescreve o art. 71 da CLT que o empregado fará jus a um intervalo de pelo menos 1 hora quando sua jornada for acima de 6 horas diárias, de maneira que, a redução do intervalo só será válida quando precedida de negociação coletiva nos termos do art. 611-A, III do texto consolidado. O desrespeito ao intervalo intrajornada enseja o pagamento do período suprimido com adicional de 50% nos termos do parágrafo 3º do Art. 71 também da CLT. Portanto, requer a condenação da reclamada no pagamento de 30 minutos diários com acréscimo de 50% por todo o pacto laboral. DOS PEDIDOS Ante todo o exposto acima requer: 1 - A concessão da gratuidade judiciária pelos termos do art. 790, §3º da CLT; 2 - A intimação da reclamada para que, querendo, apresente defesa no momento oportuno sob pena de incorrer em revelia e seus efeitos jurídicos; 3 - A procedência total da ação para condenar a reclamada em: 3.1 - Pagamento de 1 hora extra semanal com acréscimo de 50% e reflexos em DSR e com este, aviso prévio, férias acrescidas de ⅓, 13º salário e FGTS + multa de 40%.................................................................................................................R$ 3.317,09 (três mil trezentos e dezessete reais e nove centavos); 3.2 - Pagamento de 30 minutos diários de intervalo intrajornada suprimido com acréscimo de 50%............................................................................................R$ 4.324,50 (quatro mil trezentos e vinte e quatro reais e cinquenta centavos); 3.3 - Pagamento de honorários de sucumbência em 15% sobre o que resultar a condenação………………………………………………………………. R$ 1.146,23 (um mil cento e quarenta e seis reais e vinte e três centavos); DOS REQUERIMENTOS FINAIS Protesta provar o alegado por todos os meios de prova admitidos em direito em especial a prova documental e testemunhal, sendo esta produzida durante a instrução processual. Requer ainda sejam todas as intimações e publicações endereçadas ao advogado (dados do advogado e endereço eletrônico) sob pena de nulidade nos termos da súmula 427 do C. TST. Nos termos do art. 830 da CLT o patrono declara autênticos todos os documentos acostados nos autos. Dá-se a causa o valor de R$ 8.697,82 (oito mil seiscentos e noventa e sete reais e oitenta e dois centavos). Termos em que Pede deferimento Local e Data Advogado e OAB
Compartilhar