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FRoNt_SENAD_MJSP_Modulo_2

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MÓDULO 2
ECONOMiA DAS DROGAS, 
DiNÂMiCA DO NARCOTRÁFiCO 
E CRiMES CONEXOS
GOVERNO FEDERAL 
MINISTÉRIO DA JUSTIÇA E SEGURANÇA PÚBLICA 
SECRETARIA NACIONAL DE POLÍTICAS SOBRE DROGAS 
 
SECRETÁRIO NACIONAL 
Luiz Roberto Beggiora 
 
DIRETOR DE POLÍTICAS PÚBLICAS 
E ARTICULAÇÃO INSTITUCIONAL 
Gustavo Camilo Baptista 
 
COORDENADOR-GERAL DE PESQUISA E FORMAÇÃO
Carlos Timo Brito
 
CONTEUDISTAS 
George Felipe Lima Dantas
Isângelo Senna da Costa 
 
REVISÃO DE CONTEÚDO 
Carlos Timo Brito
Fernanda Flavia Rios dos Santos 
 
APOIO 
Ana Carolina Pastorino Magalhães
Daphne Sarah Gomes Jacob
Eurides Branquinho da Silva
Maria Aparecida Alves Dias
Maria de Fatima Pinheiro de Moura Barros
Tatiana Almeida Santos
EXPEDIENTE
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REALIDADE AUMENTADA (RA) 
Nas páginas deste material encontram-se códigos como este ao lado 
que dão acesso a conteúdos extras. Para visualizá-los, baixe o aplicativo 
Zappar no seu celular ou tablet e enquadre os códigos no aplicativo (você 
precisa ter conexão à internet).
Todo o conteúdo do Curso FRoNt - Fundamentos para Repressão ao Narcotráfico e ao 
Crime Organizado, da Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (SENAD), Ministério 
da Justiça e Segurança Pública (MJSP) do Governo Federal - 2021, está licenciado sob 
a Licença Pública Creative Commons Atribuição - Não Comercial- Sem Derivações 
4.0 Internacional.
BY NC ND
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
SECRETARIA DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA (SEAD)
SECRETÁRIO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
Luciano Patrício Souza de Castro
labSEAD
COORDENAÇÃO GERAL
Luciano Patrício Souza de Castro
FINANCEIRO
Fernando Machado Wolf
SUPERVISÃO TÉCNICA EAD
Giovana Schuelter 
SUPERVISÃO DE PRODUÇÃO DE MATERIAL
Francielli Schuelter 
SUPERVISÃO DE MOODLE
Andreia Mara Fiala 
SECRETARIA ADMINISTRATIVA
Caroline da Rosa 
Gabriela Cassiano Abdalla
DESIGN INSTRUCIONAL
Supervisão: Milene Silva de Castro
Danrley Mauricio Vieira
Márcia Melo Bortolato
Marielly Agatha Machado
DESIGN GRÁFICO
Supervisão: Fabrício Sawczen
Heliziane Barbosa
Juliana Jacinto Teixeira
Luana Pillmann de Barros
Vinicius Alves Jacob Simões
REVISÃO TEXTUAL
Supervisão: Cleusa Iracema Pereira Raimundo
Isadora da Silveira Calônico
PROGRAMAÇÃO
Supervisão: Alexandre Dal Fabbro
Cleberton de Souza Oliveira
Thiago Assi
AUDIOVISUAL
Supervisão: Rafael Poletto Dutra
Fabíola de Andrade
Luiz Felipe Moreira Silva Oliveira
Renata Gordo Corrêa
TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO
Dalmo Tsuyoshi Venturieri
Wilton Jose Pimentel Filho
SUMÁRIO
Unidade 1 | LÓGICa de MeRCadO (nÍVeL 
MaCRO): PROdUÇÃO, dISTRIBUIÇÃO e 
COnSUMO de dROGaS
Unidade 2 | LÓGICa de MeRCadO 
(nÍVeL MICRO)
1.1 Economia das drogas
2.1 Abordagens psicossociais sobre os atores do 
varejo de drogas ilícitas
1.2 Produção, distribuição e consumo de drogas
2.2 Influência social: Teoria do Comportamento 
Planejado (atitude, norma subjetiva e controle 
comportamental percebido)
7
7
26
aPReSenTaÇÃO 6
Unidade 3 | RedUÇÃO da deManda e 
da OFeRTa de dROGaS
3.1 Redução da demanda
3.2 Redução da oferta
57
17
2.3 Vulnerabilidades socioeconômicas e outros 
preditores do envolvimento com o tráfico de 
drogas e o crime organizado
26
40
48
57
61
2.4 Subculturas criminais 53
Unidade 4 | LaVaGeM de dInHeIRO e 
FInanCIaMenTO de ORGanIZaÇÕeS 
CRIMInOSaS
4.1 Financiamento de organizações criminosas
4.2 Lavagem de dinheiro
69
69
73
ReFeRÊnCIaS 80
Curso FRoNt
MÓDULO 2 - ECONOMIA DAS DROGAS, DINÂMICA DO NARCOTRÁFICO E CRIMES CONEXOS 6
aPReSenTaÇÃO
Olá, cursista!
O presente módulo tem por objetivo abordar a dinâmica do mercado 
das drogas, com ênfase nos aspectos macroestruturais e também 
nos aspectos ligados às trajetórias dos indivíduos que nele desempe-
nham ao menos três papéis elementares: ofertante, demandante ou 
demandante-ofertante. Dessa maneira, você vai ter a oportunidade 
de transitar por conhecimentos produzidos em áreas como o Direito, 
Criminologia, Economia e a Psicologia. 
Este módulo foi pensado para que você possa caminhar por essas e 
outras áreas do conhecimento. Mas, acima de tudo, vai levá-lo a uma 
espécie de passeio entre os diferentes níveis de análise exigidos pelos 
complexos temas: crime organizado e tráfico de drogas.
OBjeTiVOS dO MÓdULO
 � Descrever as noções e os conceitos essenciais à temática da 
“economia das drogas”.
 � Discutir fatores psicológicos, sociais, culturais e econômicos 
relevantes para a identificação de fatores que preveem o 
envolvimento dos indivíduos com a violência, o crime e as drogas.
 � Apontar características gerais do perfil do demandante por drogas 
e descrever o perfil do ofertante de drogas.
 � Discutir os aspectos legais e operacionais relacionados à lavagem 
de dinheiro e ao financiamento das organizações criminosas.
Enquadre no seu celular 
ou tablet o código de 
REALIDADE AUMENTADA 
do aplicativo Zappar 
para assistir ao vídeo de 
apresentação do módulo.
RA
Curso FRoNt
MÓDULO 2 - ECONOMIA DAS DROGAS, DINÂMICA DO NARCOTRÁFICO E CRIMES CONEXOS 7
UnIdade 1
LÓGICa de MeRCadO (nÍVeL 
MaCRO): PROdUÇÃO, dISTRIBUIÇÃO 
e COnSUMO de dROGaS
A partir daqui, vamos percorrer nossa jornada pelo caminho do co-
nhecimento, mas você sabe por onde seguir?
Vamos iniciar nossa caminhada navegando pela lógica de mercado 
do consumo de drogas. Assim, nesta unidade, a proposta didático-
-pedagógica é apresentar os aspectos macroestruturais do mercado 
das drogas, bem como sua lógica econômica. Você também vai 
estudar alguns aspectos relevantes sobre o cultivo, a produção e a 
distribuição das drogas.
COnTexTUaLiZandO 
1.1 eCOnOMia daS dROGaS
Tyler Cowen, professor de Economia da Universidade George Mason, 
em Fairfax, Virgínia, diz que a economia está presente em toda parte e 
“entendê-la pode ajudar você a tomar melhores decisões, levando-o 
a ter uma vida mais feliz.” 
Sabendo disso, considere que o termo também está presente nos 
aspectos macroestruturais do mercado das drogas, conhecido como: 
“economia das drogas”. A expressão pode ser entendida tanto como 
gênero quanto como espécie. Enquanto gênero, trata-se de uma ati-
vidade que envolve agentes econômicos. Entre esses agentes estão: 
 � Os produtores
São aqueles que plantam Cannabis sativa (genericamente conhecida 
como “maconha”), erythroxylum coca (genericamente conhecida, 
depois de ter suas folhas processadas, como cocaína, sendo 
apresentada em pó, pasta ou merla e cristais ou crack), bem como 
os produtores de outras drogas de uso lícito.
 � Os transportadores
Na linguagem própria do narcotráfico, são as “mulas”, ou “aviões”, 
quando é pequena a quantidade a ser transportada. 
 � Os vendedores
Os chamados narcotraficantes (desde os atacadistas até os 
retalhistas).
glossáRio
A cocaína, benzoilmetilecgonina, ou éster 
do ácido benzoico, também conhecida 
por coca, é um alcaloide, estimulante 
e com efeitos anestésicos, utilizado 
fundamentalmente como uma droga 
recreativa. Pode ser aspirada, fumada ou 
injetada. Os alcaloides são uma classe de 
substâncias orgânicas nitrogenadas com 
características básicas (encontradas em 
plantas vasculares e em alguns fungos, 
também podem ser obtidas por síntese, e 
muitas delas possuem ação terapêutica, 
caso da morfina, atropina etc.).
A merla é a pasta resultante do 
processamento de folhas de coca com 
ácido sulfúrico, querosene e cal virgem 
(óxido de cálcio) entre outras substâncias 
precursoras, do qual resulta uma 
concentração de 40 até 70% de cocaína.
Retalhistas são os vendedores do varejo.
Curso FRoNt
MÓDULO 2 - ECONOMIA DAS DROGAS, DINÂMICA DO NARCOTRÁFICO E CRIMES CONEXOS 8
 � Os compradores
Os usuários de drogas. Algumas vezes, dependentes químicos 
(eventualmente adoecidos e ao menos temporariamente 
incapazes). 
Também é importante que você saiba que nessa economia existem 
mercados consumidores, que podem ser mercados de drogas abertos, 
semiabertos ou fechados. Tudo isso sob sistemas de precificação e 
regulamentação que muitas vezes não visíveis, porém fortemente 
reforçadospelas leis da oferta e da procura, incluindo a influência 
da própria legislação vigente, seja ela proibitiva ou não.
Enquanto espécie, a economia das drogas é uma vertente de pesquisa 
econômica encabeçada por Gary Becker (2004). Resumidamente, 
podemos entender que Becker, seus colaboradores e seguidores es-
tabeleceram, teoricamente, que a proibição legal da venda ou do uso 
de drogas teria custos maiores e piores que os resultantes de políticas 
públicas de liberação. Vale destacarmos que os custos das políticas 
de liberação também foram previstos pelos autores.
Nesse caso, os extratos sociais mais privilegiados seriam os menos 
afetados pela liberação, enquanto a base da pirâmide socioeconômica 
(os mais pobres) sofreria mais com as consequências das políticas 
liberacionistas (adoecimento, desemprego, empobrecimento, vio-
lência etc.). Essa discussão, fora das equações de Becker, ainda não 
produz conclusões definitivas.
glossáRio
Políticas Públicas são um sistema de 
linhas de ação, medidas regulatórias, 
leis e prioridades de financiamento, 
levando em conta um determinado tema 
definido politicamente como prioridade. 
As políticas públicas são materializadas 
pela constituição, pelas leis ou pelas 
decisões judiciais.
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MÓDULO 2 - ECONOMIA DAS DROGAS, DINÂMICA DO NARCOTRÁFICO E CRIMES CONEXOS 9
Gary Becker (1930-2014). 
Foto: © [Songman Kang] / Future Lear. 
Gary Becker (1930-2014), ganhador do Prêmio Nobel de Economia 
de 1992, é considerado fundador da literatura sobre economia do 
crime. Seu estudo de 1968, “Crime e Castigo: Uma Abordagem Eco-
nômica”, foi a primeira análise rigorosa sobre o crime feita por um 
economista e inspirou muitos outros economistas a seguirem o 
exemplo de Becker (FUTURE LEARN, 2021).
As contribuições de Becker e seus colaboradores são ainda mais 
significativas, dado que o modelo econômico tradicional é baseado 
na relação direta de oferta e demanda. Isso porque estabelece bases 
econômicas para a formulação de políticas de combate e prevenção às 
drogas mundo afora. Os esforços para fornecer modelos econômicos 
de mercados ilegais envolvendo as drogas remontam há, pelo menos, 
cinco décadas (por exemplo, Becker, em 1968). 
Contudo, é importante entendermos que o modelo econômico ortodoxo 
apresenta limitações quando o assunto é a explicação do funcionamento 
dos mercados de drogas ilegais. (NATIONAL RESEARCH COUNCIL, 2010).
Uma questão óbvia que muitas vezes passa despercebida é 
o fato de que os mercados ilegais, como o das drogas, não 
obedecem estritamente às mesmas regras dos mercados legais. 
As características implícitas de muitos mercados legais nas 
economias modernas, como a certificação de qualidade e os 
mecanismos legais disponíveis para proteção contra fraude, 
simplesmente estão ausentes nos mercados de drogas ilegais. 
Outro fator fortemente presente no mercado de drogas é o fato de 
que o consumidor pode estar sendo constantemente enganado, 
apesar de existirem kits de teste de identificação, pureza e cortes de 
cocaína. Ou seja, o usuário não possui recursos (de mercado) que lhe 
garantam que a cocaína comprada possui o grau de pureza informado 
pelo traficante. Por isso mesmo, não há mecanismo de “segurança 
do consumidor” entre os agentes desse mercado ilegal.
Curso FRoNt
MÓDULO 2 - ECONOMIA DAS DROGAS, DINÂMICA DO NARCOTRÁFICO E CRIMES CONEXOS 10
presença de cocaína muito baixa
presença de cocaína baixa
média presença de cocaína
alta presença de cocaína
altíssima presença de cocaína
Kits de teste de identificação, pureza e cortes de cocaína. 
Fonte: Adaptado de CNBS (2020). Além disso, muitas variáveis-chave da lógica dos mercados ilegais 
e suas complexas características usualmente escapam às possi-
bilidades de análises racionais sistematizadas pela ciência e/ou 
pelo poder público. Entre essas características, está a dependência 
de fatores que, muitas vezes, não são mensuráveis, explícitos ou 
mesmo determináveis.
Isso significa, por exemplo, que as respostas dos consumidores 
de drogas aos aumentos e diminuições de preços podem ser 
diferentes por conta da multiplicidade de variáveis peculiares 
aos mercados ilegais e mesmo por questões intrínsecas aos 
indivíduos que as adquirem (com diferentes níveis de compulsão 
pela droga, por exemplo). 
Diante da falta de dinheiro para comprar a droga de uso, os depen-
dentes químicos podem ter diferentes reações, a depender do grau 
de comprometimento de sua saúde física ou mental. É muito comum 
esses indivíduos cometerem delitos que a literatura norte-americana 
trata como “aquisicionais” (usualmente contra o patrimônio).
Esses delitos são compulsivamente praticados por dependentes quí-
micos na ânsia de aplacar a drogadição, o que pode resultar em vio-
lência interpessoal. Infelizmente, crimes mais graves também são 
corriqueiros, como o exemplo de um indivíduo que matou a própria 
mãe a facadas, em São João da Boa Vista (SP), em 2019. 
O autor do crime, de 32 anos, há sete anos dependente químico, co-
meteu o crime para se apoderar do cartão de crédito da mãe e comprar 
drogas. Na ocasião, ele negou a autoria do crime e tentou incriminar 
o namorado da mãe. No entanto, não podendo mais esconder o crime, 
o drogadito terminou confessando tudo.
glossáRio
O termo drogadito deriva do nome em inglês 
drug addict, em português: droga adicto. 
Adicto significa pessoa viciada em droga.
Curso FRoNt
MÓDULO 2 - ECONOMIA DAS DROGAS, DINÂMICA DO NARCOTRÁFICO E CRIMES CONEXOS 11
Você pode entender de maneira dinâmica como funciona 
esse mercado de drogas assistindo aos vídeos a seguir, 
que trazem os seguintes temas:
A colheita de coca: 
https://www.youtube.com/watch?v=9MRd7DDLGjk
A preparação da cocaína: 
https://www.youtube.com/watch?v=NxVKm6v8nEM
O tráfico de drogas:
https://www.youtube.com/watch?v=-E7rQs5Ly7U
O uso de drogas:
https://www.youtube.com/watch?v=ddYJ5kQffLE 
Dica DE MíDia
Existem também aplicativos relacionados ao mercado das drogas.
Veja uma matéria sobre um brasileiro que criou 
um aplicativo para encontrar parceiros usuários de 
maconha, disponível em: https://www20.opovo.
com.br/app/maisnoticias/tecnologia/2015/05/24/
noticiastecnologia,3442980/brasileiro-cria-app-para-
encontrar-parceiros-de-maconha.shtml
Saiba MaiS
Outra característica complexa dos mercados das drogas é o alto nível 
de dificuldade na pesquisa do consumidor sobre o produto que pre-
tende adquirir. Ao contrário dos percalços enfrentados por alguém que 
pesquisa sobre drogas, alguém que procura um quarto de hotel para 
se hospedar em qualquer grande cidade do mundo democrático pode 
recorrer a dezenas de plataformas de pesquisa, por exemplo, onde é 
possível verificar detalhes e características das instalações e comen-
tários de usuários que já utilizaram as acomodações.
Porém, se esse alguém é dependente químico e pretende fazer uso de 
cocaína, não poderá contar com sites legais anunciando o produto e 
muito menos acessar comentários de outros consumidores. Nesse ponto, 
vale considerar que a cocaína é uma droga controlada em quase todos 
os países que são membros da Organização das Nações Unidas (ONU), 
a fim de usos medicinais. 
https://www.youtube.com/watch?v=9MRd7DDLGjk
https://www.youtube.com/watch?v=NxVKm6v8nEM 
https://www.youtube.com/watch?v=-E7rQs5Ly7U
https://www.youtube.com/watch?v=ddYJ5kQffLE
https://www20.opovo.com.br/app/maisnoticias/tecnologia/2015/05/24/noticiastecnologia,3442980/brasileiro-cria-app-para-encontrar-parceiros-de-maconha.shtml
https://www20.opovo.com.br/app/maisnoticias/tecnologia/2015/05/24/noticiastecnologia,3442980/brasileiro-cria-app-para-encontrar-parceiros-de-maconha.shtml
https://www20.opovo.com.br/app/maisnoticias/tecnologia/2015/05/24/noticiastecnologia,3442980/brasileiro-cria-app-para-encontrar-parceiros-de-maconha.shtml
https://www20.opovo.com.br/app/maisnoticias/tecnologia/2015/05/24/noticiastecnologia,3442980/brasileiro-cria-app-para-encontrar-parceiros-de-maconha.shtml
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MÓDULO 2 - ECONOMIA DAS DROGAS,DINÂMICA DO NARCOTRÁFICO E CRIMES CONEXOS 12
Uma regra econômica que parece se amoldar bem à complexidade 
do mercado das drogas é a elasticidade no preço de seus produtos. 
Mankiw (2009) entende elasticidade como uma medida do 
quanto compradores e vendedores respondem a mudanças nas 
condições de mercado. 
Nos mercados legais existem produtos conhecidos por sua alta sen-
sibilidade na demanda em relação às variações de preço. Os produtos 
de luxo são um exemplo dessa categoria, também conhecida por sua 
demanda elástica (a demanda diminui com preços maiores).
Por outro lado, produtos de primeira necessidade continuam sendo 
demandados, mesmo com consideráveis altas de preço. Nesse caso, 
trata-se de produtos de demanda inelástica. Por meio da elasticidade, 
é possível analisar tanto a oferta quanto a demanda de drogas com 
maior precisão. Por exemplo, os brasileiros não deixaram de consumir 
arroz, mesmo com altas de preços bastante significativas em 2020.
O fenômeno da elasticidade pode ser resumido nos gráficos constantes 
da imagem a seguir.
Curso FRoNt
MÓDULO 2 - ECONOMIA DAS DROGAS, DINÂMICA DO NARCOTRÁFICO E CRIMES CONEXOS 13
DEMANDA 
PERFEiTAMENTE 
iNELÁSTiCA
P2
Q1
P1
DEMANDA DE 
ELASTiCiDADE 
UNiTÁRiA
P2
Q2 Q1
P1
DEMANDA 
iNELÁSTiCA
P2
Q2Q1
P1
DEMANDA 
ELÁSTiCA
Q2 Q1
P1
P2
DEMANDA 
PERFEiTAMENTE 
ELÁSTiCA
Q2 Q1
P1
YY
YY Y
XX
X X X
No eixo Y, encontram-se o preço de um item de consumo. No eixo 
X, tem-se a quantidade desse mesmo item. Observe que a demanda 
é perfeitamente inelástica quando permanece igual mesmo com a 
mudança no preço do item. No caso da demanda inelástica, ocorre 
uma sutil alteração na demanda, caso haja alteração no preço ou na 
quantidade demandada. Já no caso da elasticidade unitária, o valor 
absoluto da elasticidade é 1; em outras palavras, o preço aumenta 
e a demanda aumenta proporcionalmente na mesma quantidade. 
Por sua vez, perceba que, quando a demanda é elástica, o preço 
muda e a demanda se altera em uma proporção maior. No caso da 
demanda perfeitamente elástica, mesmo uma ínfima alteração no 
preço causa uma mudança radical na demanda.
Um trabalho publicado pela Organização dos Estados Americanos 
(OEA) expressa em números o fenômeno da elasticidade no mer-
cado das drogas.
Enquadre no seu celular 
ou tablet o código de 
REALIDADE AUMENTADA 
do aplicativo Zappar para 
assistir ao vídeo animado 
sobre o fenômeno da 
elasticidade no mercado 
das drogas.
RA
ElaSTiciDaDE Da OfERTa E DEMaNDa|
Curso FRoNt
MÓDULO 2 - ECONOMIA DAS DROGAS, DINÂMICA DO NARCOTRÁFICO E CRIMES CONEXOS 14
Segundo o conteúdo, intitulado “O problema das drogas nas Amé-
ricas: estudos, a economia do tráfico de drogas”, a quantidade 
consumida é influenciada por mudanças nos preços das drogas. 
Mais ainda, a quantidade de consumidores também seria afetada 
pela variação no preço das drogas. O trabalho traz um importante 
parâmetro para uma melhor compreensão do tema. A elasticidade 
da demanda seria expressa pelo percentual total de mudança no 
consumo (demanda) de um determinado produto diante da variação 
de 1% em seu preço. Para a cocaína e a maconha, a elasticidade da 
demanda seria estimada em aproximadamente -0,5%. Ou seja, 
a demanda por essas drogas tende a cair 0,5% quando o preço au-
menta em 1%. Tal elasticidade seria semelhante ao que se observa 
com a relação ao preço-demanda do tabaco.
Organização dos Estados Americanos (OEA) 
e Comissão Interamericana para o Controle 
do Abuso de Drogas (CICAD). 
Fonte: OEA (2020).
O mesmo documento da OEA informa que há poucos estudos envol-
vendo a elasticidade da heroína (droga ilícita derivada da papoula, 
assim como a morfina, e de baixa prevalência no Brasil). Porém, no 
caso dessa droga, seria razoável estimar que a elasticidade seria em 
torno de -0,3%; ou seja, um aumento de 1% no preço da heroína 
levaria a uma redução de 0,3% em seu consumo. Isso significa que, 
de maneira geral, os preços da cocaína, da maconha e da heroína 
aumentam sem necessariamente haver uma redução equivalente 
da demanda. Em outros termos, os traficantes acabam tendo lucros 
ainda maiores quando os preços aumentam.
Cultivo de papoula no Afeganistão – a heroína é 
derivada do ópio, produzido a partir da papoula. 
Foto: © [AP] / G1. 
Um caso emblemático, também reportado pela OEA, é o da metanfe-
tamina (droga sintética (ilícita), ou seja, uma substância psicoativa 
de ação estimulante do sistema nervoso central. Entre os usuários, 
a metanfetamina é conhecida como ice, Tina, meth, cocaína de 
pobre, speed ou cristal). Os esforços do governo norte-americano 
Curso FRoNt
MÓDULO 2 - ECONOMIA DAS DROGAS, DINÂMICA DO NARCOTRÁFICO E CRIMES CONEXOS 15
para reduzir o suprimento dos insumos químicos da metanfetamina 
teriam triplicado temporariamente seu preço, causando impacto 
inclusive na sua pureza, reduzida de 90% para 20%. Ademais, as 
ocorrências de internações hospitalares envolvendo metanfetaminas 
diminuíram cerca de 50%, e o uso dessa substância entre presos caiu 
em média 55%. Contudo, nos quatro meses que se seguiram depois 
das operações governamentais, os índices retornaram aos patamares 
anteriores tão logo os preços caíram e a pureza da droga se elevou 
(ORGANIZATION OF AMERICAN STATES, 2013, tradução nossa).
Leonardo Raffo López (2010), professor titular do Departamento 
de Economia da Universidad del Valle, em Cali, Colômbia, também 
destaca os efeitos colaterais das políticas de repressão da oferta de 
drogas ilícitas como a cocaína e a heroína. Veja o que diz o autor, 
que se inspira nos trabalhos de Becker e colegas:
OS PREÇOS DAS DROGAS 
AUMENTAM E A ELASTiCiDADE DOS 
PREÇOS É MENOR QUE 1%
OS LUCROS DOS 
NARCOTRAFiCANTES CRESCEM, 
BEM COMO O AUMENTO DA MÃO 
DE OBRA USADA NA LOGÍSTiCA 
DA PRODUÇÃO E DA 
DiSTRiBUiÇÃO DAS DROGAS
Nesse sentido da sequência apresentada, podemos considerar que, 
ao menos no curto prazo, a repressão contra a oferta de drogas poderia, 
ao contrário do que se propõe, fomentar as atividades criminosas.
López sintetiza que o fator-chave na análise dos mercados de drogas 
ilegais é justamente a elasticidade da relação preço-demanda, cuja 
razão depende dos impactos de políticas de repressão, do progresso 
técnico da produção e da distribuição de drogas, bem como da 
flutuação da quantidade de terras agricultáveis para o cultivo da 
coca. A análise dessas variáveis individualmente e das relações 
que estabelecem entre si poderia explicar os resultados do Plano 
Colômbia de repressão à oferta de drogas.
Por meio do referido plano, nas últimas décadas, a superfície do 
território colombiano coberta por plantações de coca tem caído 
juntamente com o preço da cocaína. Por outro lado, a disponibilidade 
da droga para o mercado consumidor interno e externo não parece 
ter sido alterada. Para López, esse enigma pode ser explicado pelo 
aumento da produtividade do mercado da droga. 
Uma vez que um aumento de 1% no preço da Cannabis (maconha) 
não produz a esperada redução de, ao menos, igual percentual na 
demanda, é preciso investigar a razão pela qual ocorre esse descom-
passo na elasticidade da demanda. Para isso, é importante buscar 
glossáRio
A produtividade, em geral, está sempre 
conectada a um equilíbrio de dois 
“indicadores”, se podemos chamar assim: 
a quantidade/qualidade de trabalho feito 
e os recursos gastos para realizar esse 
mesmo trabalho.
Curso FRoNt
MÓDULO 2 - ECONOMIA DAS DROGAS, DINÂMICA DO NARCOTRÁFICO E CRIMES CONEXOS 16
explicações, inclusive, para os principais fatores que determinam 
as escolhas voluntárias ou mesmo a “rendição” dos indivíduos ao 
consumo de drogas. 
A plataforma on-line Addiction Center é um guia informal 
na internet para quem está enfrentando problemas com 
dependência química e existe desde 2014. A plataforma pertence 
à Recovery Worldwide, organizada pela associação de várias casas 
de recuperação nos Estados Unidos e especialistas.
É importante que você saiba que, à medida que a maconha temsido 
legalizada para propósitos medicinais em mais estados americanos, 
mais pessoas têm se disponibilizado a experimentar essa droga 
(BEZRUTCZIK, 2019).
Cannabis para uso medicinal e a disponibilidade 
para experimentação. 
Foto: © [Roxxyphotos] / Adobe Stock.
Enquanto existe uma tendência no discurso de especialistas e mi-
litantes em prol da liberação da venda drogas, sob o argumento de 
que o risco de uma pessoa se viciar em maconha é baixo, a possibi-
lidade de desenvolvimento de dependência psicológica dessa pessoa 
é inquestionável. Isso não é de hoje.
PodcAst TRaNScRiTO
Em 1975, o jornal “The New York Times” publicou um 
artigo intitulado “Preços da maconha sobem com pessoas 
mais ricas começando a usar a droga”. Naquele momento, 
estudantes universitários pagavam entre 15 e 60 dólares 
por cerca de 28 gramas de maconha (algo em torno de 71 a 
285 dólares, em valores atualizados em setembro de 2020). 
Curso FRoNt
MÓDULO 2 - ECONOMIA DAS DROGAS, DINÂMICA DO NARCOTRÁFICO E CRIMES CONEXOS 17
Atualmente, a plataforma informa que o custo médio 
da Cannabis tem aumentado mais rapidamente do 
que a inflação. Os preços da maconha nas ruas norte-
americanas alteram de acordo com variáveis econômicas, 
como oferta, demanda e qualidade. Porém, os aspectos 
legais também produzem impacto nesse mercado. 
Por exemplo, alguém com uma recomendação médica que 
lhe autorize a adquirir Cannabis legalmente, em estados 
como o Colorado, paga em média entre 10 e 60 dólares 
por cada grama da droga. Já em estados em que a droga 
não foi legalizada, como é o caso do Texas, os valores 
da maconha adquirida às margens da lei variam 
 entre 5,75 e 11,75 dólares. 
Veja a seguir algumas reflexões acerca da produção e consumo de 
drogas no Brasil.
1.2 PROdUÇÃO, diSTRiBUiÇÃO e 
COnSUMO de dROGaS
Neste tópico, vamos estudar mais detalhadamente como os processos 
de produção, distribuição e consumo de drogas acontecem.
1.2.1 cUlTivO E PRODUçãO
Na origem da cadeia de suprimento das drogas estão o cultivo e a 
produção. Sobre esse assunto, inclusive com rico detalhamento, se 
posiciona o Relatório Global sobre Drogas (World Drug Report) do 
Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC). As in-
formações abaixo são um sumário do relato do Livreto 3, do Relatório 
Global sobre Drogas, elaborado pelo referido órgão da ONU.
Em relação ao ópio, iniciamos sabendo que é produzido ilegalmente 
em mais de 50 países, seu cultivo global somou algo em torno de 
240.800 hectares em 2019, uma redução de 30% em relação ao ano 
anterior. Ainda assim, a área cultivada atualmente equivale a 337.325 
campos de futebol (um campo de futebol tem 8.250 metros quadrados, 
logo, 337.325 campos totalizam 2.782.931.250 metros quadrados ou 
278.293 hectares). São necessárias, em média, 3.000 plantas para 
obter um quilo e meio de ópio.
glossáRio
O ópio, composto pela morfina, codeína 
e heroína, é obtido através da realização 
de uma incisão na cápsula da papoula 
(Papaver Somniferum) de onde sai um 
líquido de aspecto leitoso que se solidifica 
com facilidade. 
Curso FRoNt
MÓDULO 2 - ECONOMIA DAS DROGAS, DINÂMICA DO NARCOTRÁFICO E CRIMES CONEXOS 18
A maior parte desse volume (84%) foi cultivada no Afeganistão, onde 
a tendência de cultivo permaneceu estável. Outrora responsáveis pelo 
aumento na área cultivada de ópio, em 2018 e 2019, Mianmar e Afega-
nistão lideraram a queda global em sua produção. Entretanto, em que 
pese a redução da área cultivada, a quantidade produzida de opioides 
ilegais permaneceu estável em 7,610 toneladas em 2019. Isso significa 
que os traficantes estão atingindo ganhos maiores em produtividade.
Cápsula da papoula, de onde se extrai o ópio. 
Foto: © [Pyty] / Adobe Stock.
Em relação ao cultivo de coca, a área global está estimada em 244.200 
hectares em 2018. Trata-se de uma queda marginal de -0,5% com 
relação a 2017. Também houve um declínio significativo na pro-
dução de cocaína, refletindo uma queda na produção de cocaína 
colombiana (-1,2%) e no Estado Plurinacional da Bolívia (-5,7%). 
Esses dois países, juntamente com o Peru, respondem por 90% da 
área cultivada de coca no mundo. 
A Colômbia, de longe, é a maior líder mundial na produção de coca 
(70%). No país, tal qual ocorreu com o ópio na Ásia, o aumento de 
produtividade na produção de cocaína compensou a queda da área 
cultivada de sua planta de origem. Ou seja, mesmo com a queda da 
área cultivada, nos últimos anos não houve queda significativa na 
produção da folha de coca. Estima-se que foram produzidas mais de 
1.723 toneladas de cocaína pura em 2018.
Curso FRoNt
MÓDULO 2 - ECONOMIA DAS DROGAS, DINÂMICA DO NARCOTRÁFICO E CRIMES CONEXOS 19
19
9
8
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18
300,000 2,000
1,600
1,200
1,381
Fa
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1,723
800
400
240,000
180,000
120,000
60,000
0 0
Cultivo total de coca (estimativa)
Cultivo de coca na Bolívia
Cultivo de coca no Peru
Cultivo de coca na Colômbia
Fabricação de cocaína
869
Fonte: World Drug Report (2020).
Em relação à Cannabis, é importante saber que faltam dados quanti-
tativos disponíveis suficientes para atualizar a estimativa global de 
seu cultivo, porém é sabido que o cultivo dessa erva ocorre na maioria 
dos países. Ou seja, isso a difere de plantas que dão origem a outras 
drogas e estão limitadas a regiões específicas do planeta. 
Já informações qualitativas de alguns países mostram que a plantação 
externa de Cannabis é mais difundida pelo mundo do que a plantação 
em ambientes fechados (como estufas). Por outro lado, aparentemente 
o cultivo em ambientes internos parece crescer mais rapidamente 
que o cultivo em ambientes externos.
Cultivo interno de Cannabis. 
Foto: © [Claude Jin] / Adobe Stock.
cUlTivO glObal DE cOca E fabRicaçãO DE cOcaíNa (1998-2018)|
Curso FRoNt
MÓDULO 2 - ECONOMIA DAS DROGAS, DINÂMICA DO NARCOTRÁFICO E CRIMES CONEXOS 20
Ainda há que se destacar o fato de que, ao contrário do que ocorre com a 
planta de coca, o cultivo da erva Cannabis já foi liberado em vários países. 
Porém, em relação à liberação do cultivo de Cannabis, há um caso 
emblemático que acabou ganhando atenção em nível internacional: 
um incêndio na Austrália.
Incêndio na Austrália iniciado para proteger 
plantação de maconha. 
Foto: © [Getty] / Metro.
Segundo a imprensa local e internacional, um dos maiores incêndios 
florestais da história da Austrália, que varreu boa parte da costa 
leste daquele país em 2019, foi iniciado por um homem que tentava 
proteger sua plantação de maconha.
Você pode conferir a matéria completa sobre esse 
incêndio na Austrália aqui, disponível em: https://metro.
co.uk/2019/11/18/australian-bushfire-started-man-
wanted-protect-cannabis-crop-11175202/
Saiba MaiS
1.2.2 DiSTRibUiçãO
Os mercados de drogas, que podem ser abertos, semiabertos e fe-
chados, e o uso de drogas estão constantemente associados a lugares, 
coisas e determinados indivíduos.
 � Lugares – muitas vezes regiões inteiras, bairros, ruas, 
esquinas etc.
 � Coisas – simbologias visuais como tatuagens, pichações, 
palavras-código etc.
https://metro.co.uk/2019/11/18/australian-bushfire-started-man-wanted-protect-cannabis-crop-11175202/
https://metro.co.uk/2019/11/18/australian-bushfire-started-man-wanted-protect-cannabis-crop-11175202/
https://metro.co.uk/2019/11/18/australian-bushfire-started-man-wanted-protect-cannabis-crop-11175202/
Curso FRoNt
MÓDULO 2 - ECONOMIA DAS DROGAS, DINÂMICA DO NARCOTRÁFICO E CRIMES CONEXOS 21
 � Determinados indivíduos – pessoas com alguma caracterização 
pessoal ou de padrão gestual típico do uso ou do tráfico de 
drogas ilícitas.
Distribuir, adquirir e consumir drogas pode ser algo bastante fluido aos 
olhos de um desavisado que não conhece a trilogiasimbólica evocativa 
de “lugares, coisas e pessoas”. Essa trilogia é citada na doutrina da 
organização “Narcóticos Anônimos” como algo a ser evitado. 
O “Guia Introdutório para Narcóticos Anônimos” diz que, “quando 
nos permitimos aproximar de velhos conhecidos e lugares, estamos 
nos preparando para recair. Em relação à doença da adicção, somos 
impotentes. Estas pessoas e lugares nunca nos ajudaram a nos 
mantermos limpos. Seria tolice pensar que as coisas pudessem ser 
diferentes agora.” 
Tal problemática parece ter passado a um nível ainda complexo com 
o advento da internet. (popularizada no início da década de 1990) 
e, depois dela, da universalização da telefonia móvel (com os cha-
mados “celulares”, o primeiro deles tendo sido comercializado no 
Brasil também na década de 1990). Nesse passo, também surgiram 
as redes sociais e seus aplicativos como o WhatsApp, que desde 2009 
é o aplicativo de smartphone (aparelho que que alia as tecnologias de 
informação com as de comunicações) mais disseminado no Brasil, 
tendo hoje milhões de usuários.
Foto: Adaptado de © [ameko_suki] / 
Adobe Stock.
Atualmente, drogas são amplamente comercializadas on-line em 
várias plataformas. A venda de drogas através dos mercados da cha-
mada Darknet é uma ameaça significativa e continua a se expandir. 
Você pode entender Darknet como nome genérico de tecnologias 
de informação, estudo, investigação e comunicações que permitem 
comunicação anônima na internet com a utilização de navegadores 
específicos. Utiliza criptografia na comunicação entre seus membros, 
protegendo o anonimato deles. Funciona como um “apêndice”, parte 
da internet, mas desconectado dela. Não há uma única Darknet para 
diferentes usuários, mas várias delas, tantas quantas sejam estabe-
lecidas por seus usuários.
Curso FRoNt
MÓDULO 2 - ECONOMIA DAS DROGAS, DINÂMICA DO NARCOTRÁFICO E CRIMES CONEXOS 22
Ainda assim a distribuição de drogas manteve seus canais clássicos 
(associados a lugares, coisas e pessoas), aos quais foram acrescidas 
redes cujos usuários estão protegidos (tal qual a cidadania inteira) 
pelos mais diversos instrumentos legais, resguardados por uma 
série de institutos do Direito em geral, mais particularmente no 
que concerne às garantias e direitos individuais. Surge assim uma 
“criminalidade em rede”.
Em um desdobramento lógico e sequencial, esse tipo de expressão 
do crime se exacerba ao ser instrumental para os “criminosos por 
excelência”, muitas vezes contumazes, aqueles que se encontram 
nos estabelecimentos prisionais. No Brasil, já resta provado que 
organizações criminosas foram estabelecidas a partir das prisões, 
estando fortemente conectadas com o narcotráfico e com o mundo 
exterior a elas, não obstante o cometimento de vários outros delitos 
por elas, caso de extorsões e justiçamentos, por exemplo.
As Tecnologias de Informação e Comunicações (TIC) passaram 
a ter a criminalidade em rede como objeto em prol da persecução 
penal. Várias gerações de ferramentas de visualização de redes cri-
minosas complexas foram concebidas, como podemos identificar 
na imagem a seguir:
glossáRio
Tecnologias de Informação e 
Comunicações (TIC) é uma expressão 
que corresponde ao conjunto tecnológico, 
incluindo equipamentos físicos (hardware) 
e programas (software) devidamente 
integrados, para a automação da pesquisa 
sobre redes (entre outras funções).
Característica complexa dos mercados de drogas – 
criminalidade em rede. 
Fonte: Adaptado de Xu e Schen (2005).
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MÓDULO 2 - ECONOMIA DAS DROGAS, DINÂMICA DO NARCOTRÁFICO E CRIMES CONEXOS 23
A NCA (National Crime Agency – Agência Nacional contra o 
Crime) trabalhou com forças em toda a Europa na operação 
‘maior e mais significativa’ de aplicação da lei no Reino 
Unido. Os principais números do crime estavam entre mais 
de 800 prisões em toda a Europa depois que mensagens 
no EncroChat foram interceptadas e decodificadas. Mais 
de duas toneladas de drogas, várias dezenas de armas e 
£54 milhões em dinheiro suspeito foram apreendidos, diz 
a NCA. Embora a NCA fizesse parte da investigação, ela foi 
iniciada e liderada pela polícia francesa e holandesa, 
e também envolveu a Europol – a Agência da União 
Europeia para a Cooperação Policial.
(BBC, 2020)
Há expressões no mundo inteiro para representar o fenômeno da 
criminalidade em rede, veja a notícia veiculada pela rede BBC britânica 
intitulada “Centenas de pessoas presas durante o cracking da rede de 
bate-papo sobre crime”.
A matéria, de autoria de Danny Shaw, correspondente de assuntos 
internos, foi publicada em 2 de julho de 2020.
Você pode conferir a matéria na íntegra disponível em: 
https://www.bbc.com/news/uk-53263310
Saiba MaiS
https://www.bbc.com/news/uk-53263310
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MÓDULO 2 - ECONOMIA DAS DROGAS, DINÂMICA DO NARCOTRÁFICO E CRIMES CONEXOS 24
Veja os principais fluxos do tráfico de Cannabis na Europa:
Fonte: Adaptado de Europol (2017).
Em um relatório de análise recente das tendências globais, o National 
Intelligence Council (EUA) incluiu uma pequena seção sobre organi-
zações e redes criminosas prevendo algumas ações futuras em relação 
a essas organizações e rede criminosas. O relatório observou que as 
organizações e redes criminosas sediadas na América do Norte, Europa 
Ocidental, China, Colômbia, Israel, Japão, México, Nigéria e Rússia 
expandiram a escala e o escopo de suas atividades. Essas organizações 
formaram alianças frouxas entre si, com empreendedores criminosos 
menores e movimentos insurgentes para operações específicas. 
REPÚBLiCA TCHECA
PAÍSES
BAiXOS
ALBÂNiA
PRODUçãO, TRÁficO E DiSTRibUiçãO DE cAnnAbis 
hERbÁcEa Na EUROPa
|
Curso FRoNt
MÓDULO 2 - ECONOMIA DAS DROGAS, DINÂMICA DO NARCOTRÁFICO E CRIMES CONEXOS 25
O documento também previu que as organizações corromperam líderes 
de Estados instáveis, economicamente frágeis ou em decadência. 
Além disso, se insinuaram em bancos e empresas em dificuldades, 
cooperando com movimentos políticos insurgentes para controlar 
áreas geográficas substanciais.
As previsões do National Intelligence Council (EUA), mormente 
considerando a relação das organizações criminosas com o poder 
formal do Estado, ou mesmo a tomada das instituições legítimas 
do Estado por tais organizações, estão em linha com as predições 
de Juliet Berg, em dissertação apresentada em 1998 no Instituto de 
Criminologia da Universidade de Cape Town, África do Sul. O pro-
cesso descortinado por Berg, especialmente em forma de alerta para 
o Brasil, já foi tratado no Módulo 1. 
Ainda assim, dada a sua pertinência com o presente tópico, vale a 
pena terminar esta aula com mais uma citação do referido trabalho:
Num momento final, dar-se-ia o conluio, grau mais alto 
de envolvimento do Estado com o crime organizado. 
Em tal estágio, o Estado estaria completamente 
envolvido com grupos criminosos, numa verdadeira 
relação simbiótica. A estrutura estatal passaria a ter total 
parceria nas atividades do crime organizado, com seus 
representantes trabalhando diretamente com os sindicatos 
do crime. Segundo Berg, o conluio será tão mais aberto 
quanto maior seja o grau de subdesenvolvimento do país, 
já que Estados industrializados ou pós-industrializados 
costumam ser menos abertos em eventual conluio com o 
crime organizado, vis-à-vis países pobres que dependem 
mais intensamente da exportação de mercadorias ilegais.
(DANTAS, 2010)
E assim chegamos ao final de nossa primeira unidade. Seguindo, vamos 
continuar pelo grande caminho que já fizemos até aqui, passando de um 
“caminho largo” (macro) dos mercados de drogas para caminhos um 
pouco mais específicos (micro) que explicam esses mesmos mercados. 
Curso FRoNt
MÓDULO 2 - ECONOMIA DAS DROGAS, DINÂMICA DO NARCOTRÁFICO E CRIMES CONEXOS 26
Nesta unidade, a proposta didático-pedagógica é identificar fatores 
relacionados ao engajamento dos indivíduos no mercado ilícito de 
drogas, sobretudo do ponto de vista daqueles (indivíduos) que parti-
cipam ativamente desse mercado econômico nosegmento da oferta. 
Para tanto, serão consideradas questões disposicionais e situacionais 
correlatas a processos psicossociais que dizem respeito aos indivíduos, 
a seus relacionamentos em/com grupos e a seus ambientes imediatos.
Assim, iniciamos nossa caminhada pelos percursos do conhecimento 
de lógica de mercado em nível micro. 
COnTexTUaLiZandO
2.1 aBORdaGenS PSiCOSSOCiaiS 
SOBRe OS aTOReS dO VaRejO de 
dROGaS iLÍCiTaS
Uma das questões centrais da Criminologia é: por que algumas pessoas 
cometem crimes e outras não?
Desde a alvorada da Criminologia e do Direito Penal no século XVIII, 
várias correntes criminológicas vêm tentando responder a essa per-
gunta fundamental. Por exemplo, a Criminologia Positivista, cujo 
maior ícone foi Cesare Lombroso, apostava na investigação do cri-
minoso nato (atavismo), assumindo o crime, portanto, como fruto 
de algum tipo de patologia.
Outra corrente de pensamento que podemos destacar é o Utilitarismo, 
que tinha como um nome importante o filósofo inglês e jurista teórico 
Jeremy Bentham (1748-1832).
UnIdade 2
LÓGICa de MeRCadO
 (nÍVeL MICRO)
glossáRio
A palavra latina “atavus”, que pode ser 
traduzida como “ancestral”, chegou à 
nossa língua como atavismo. O conceito é 
usado, no campo da biologia, para nomear 
o fenômeno que implica o regresso de 
um ser vivo com características de seus 
predecessores distantes.
Curso FRoNt
MÓDULO 2 - ECONOMIA DAS DROGAS, DINÂMICA DO NARCOTRÁFICO E CRIMES CONEXOS 27
Jeremy Bentham.
Foto: © [Georgios Kollidas] / Adobe Stock.
Jeremy Bentham era chefe de um grupo de filósofos radicais, conhe-
cidos como “utilitaristas”, que pregavam reformas políticas e sociais, 
entre elas uma nova Constituição para o país.
Outra corrente de pensamento bem conhecida é a 
Criminologia Psicanalítica. Criada por Freud com o objetivo 
de tratar desequilíbrios psíquicos, esse corpo teórico foi 
responsável pela descoberta do inconsciente na tentativa 
de mapeá-lo e de compreender seus mecanismos em 
um plano psíquico. Essa disciplina visa também analisar o 
comportamento humano, decifrar a organização da mente 
e curar doenças carentes de causas orgânicas.
Ainda sobre a Criminologia Psicanalítica, Cerqueira e Lobão 
(2004) afirmam que “o crime representaria a erupção 
vitoriosa das pulsões libidinosas no campo da consciência. 
A função do crime seria, por conseguinte, satisfazer 
simbolicamente os instintos libidinosos.”
Já para a Escola de Chicago ou da Ecologia Urbana, o crime 
seria determinado pelas desordens físicas e sociais presentes 
na cena urbana. Por sua vez, uma ampla revisão da literatura 
realizada por Free Jr. encontrou evidências empíricas na 
Teoria Broken Home, que tem sua origem ainda na década de 
1940, no sentido de que os lares desestruturados são fortes 
preditores de delinquência juvenil. 
PodcAst TRaNScRiTO
Curso FRoNt
MÓDULO 2 - ECONOMIA DAS DROGAS, DINÂMICA DO NARCOTRÁFICO E CRIMES CONEXOS 28
Por fim, ressalte-se que há correntes da Criminologia que 
simplesmente rejeitam a simples hipótese da existência do 
crime em si. A Criminologia Crítica, por exemplo, acredita 
que o crime não passa de uma convenção discursiva que 
visa justificar a dominação das classes dominantes sobre as 
classes exploradas. De toda sorte, percebe-se, na maioria das 
correntes criminológicas, a busca pelos elementos endógenos 
(internos ao indivíduo) e exógenos (externos ao indivíduo) 
que predispõem uma pessoa a escolher, como diz a linguagem 
poética dos penalistas, a senda (caminho) do crime.
Ao contrário do Direito Penal, que se circunscreve às ciências jurídicas 
e a seus métodos, a Criminologia possui caráter multidisciplinar e, 
como observado nos exemplos acima, essa ciência utiliza em suas 
investigações abordagens e técnicas de pesquisa das mais variadas 
áreas do conhecimento. Estão entre essas áreas o próprio Direito, 
a Sociologia, a Economia e a Psicologia. 
Sociologia
Antropologia Psicologia
Economia
Ciências Políticas
Biologia
História
Conformidade
Obediência
Redes sociais
Liderança chave
Tendências globais
Neurociência
Biologia evolucionária
Religião Crença
ConfiançaMagia
DecepçãoCultura
Etnografia
Influência Personalidade
Portanto, com a pesquisa criminológica dos crimes relacionados ao 
narcotráfico e ao crime organizado não seria diferente. Não por outra 
razão, importantes centros de pesquisa possuem um comitê para 
a compreensão e o controle da demanda por drogas ilegais, como a 
Academia Nacional de Ciências, Engenharia e Medicina dos Estados 
Unidos, em sua Divisão de Comportamento, Ciências Sociais e Educação.
Segundo o National Research Council (2010), esse comitê tem abor-
dado a problemática da demanda por drogas sob o enfoque das mais 
variadas áreas do conhecimento, como a Educação, a Medicina, 
Curso FRoNt
MÓDULO 2 - ECONOMIA DAS DROGAS, DINÂMICA DO NARCOTRÁFICO E CRIMES CONEXOS 29
O estudo do crime e dos criminosos é a província da 
criminologia. Conforme foi escrito pelo saudoso Edwin 
Sutherland em seu trabalho clássico Principles of Criminology 
(1939, 1) ‘A criminologia é o corpo de conhecimento com 
respeito ao crime enquanto fenômeno social. Ela inclui em 
seu escopo o processo legislativo, de violação da lei e de 
reação contra a violação da lei.’ Ainda que a definição de 
Sutherland acerca da criminologia seja comumente aceita e 
vastamente citada, não é bastante acurada, porque declara 
que o estudo da criminologia está focado apenas em fatores 
sociais. Na realidade, o estudo do crime por criminologistas 
engloba vários campos do conhecimento que não são 
basicamente de natureza social.
A criminologia é geralmente entendida como um 
descendente da disciplina de sociologia. Embora seja 
indiscutivelmente o caso, tal declaração despreza tanto 
a história da criminologia quanto as várias disciplinas 
que compreendem a largura do campo. Em uma vez ou 
outra, as disciplinas de filosofia, história, antropologia, 
psicologia, psiquiatria, medicina, biologia, genética, 
endocrinologia, neuroquímica, ciência política, economia, 
serviço social, jurisprudência, geografia, planejamento 
urbano, arquitetura, e todas as estatísticas tiveram papéis de 
destaque no desenvolvimento [...].
as Ciências Sociais e as Ciências Comportamentais, por meio de 
relevantes pesquisas empíricas sobre o tema. 
O que todas essas áreas têm em comum, seja na perspectiva endó-
gena, seja na perspectiva exógena, é o foco especial no ser humano 
e em suas relações com seu entorno, mas cada uma, a seu turno, 
com sua dimensão particular (biológica, cognitiva, emocional e 
social, por exemplo). 
Para entendermos melhor o caráter multidisciplinar da Criminologia, 
veja o que a Encyclopedia of Police Science (2007) diz:
Além da questão de por que algumas pessoas cometem crimes e outras 
não, importantes criminólogos, como Edwin Sutherland, também 
traziam e ainda trazem consigo outra inquietação: por que algumas 
pessoas são punidas por seus crimes e outras não?
Curso FRoNt
MÓDULO 2 - ECONOMIA DAS DROGAS, DINÂMICA DO NARCOTRÁFICO E CRIMES CONEXOS 30
“POR QUE OS 
DELiNQUENTES 
DO COLARiNHO 
BRANCO NÃO 
SÃO PUNiDOS?”
EDWiN SUTHERLAND
Nesse sentido, subáreas da Psicologia como a Psicologia Social e a 
Psicologia Ambiental podem contribuir em muito para a compreensão 
do fenômeno criminal e principalmente sua mitigação. Isso vale espe-
cialmente para os fenômenos psicossociais correlatos ao envolvimento 
dos indivíduos com as organizações criminosas que atuam direta ou 
indiretamente no mercado das drogas.
A Psicologia Social, na definição clássica de Gordon Allport, 
estuda como os pensamentos, as emoções e os comportamentos 
das pessoas são influenciados pela presença real ou percebida 
de outrem. Na categoria “outrem”, são incluídos os grupos de 
pertença (conjunto de pares com que um indivíduo se identifica 
e no qual pretende permanecer) ou mesmo aqueles que 
circunstancialmente se formam em torno dos indivíduos. 
Por sua vez, a Psicologia Ambiental investiga as relaçõesrecíprocas entre a pessoa e o ambiente.
A Psicologia Ambiental tem contribuições importantes a fazer para 
a Criminologia Ambiental, uma vez que este ramo da Criminologia 
investiga a dinâmica do crime a partir de sua perspectiva temporal 
e espacial. Assim, da mesma forma que a Criminologia Tradicional 
pergunta o porquê de algumas pessoas se envolverem com o crime 
e outras não, a Criminologia Ambiental pergunta o porquê de alguns 
locais gerarem mais oportunidades para o crime (de tráfico, por 
exemplo) do que outros; ou nos termos de Weisburd, Green e Ross 
(1994, p. 65), que questionam: “por que alguns lugares se tornam 
mercados de drogas e por que certos tipos de crimes são mais prováveis 
de ocorrer lá do que em outros lugares”? Em suma, a Criminologia 
Ambiental e a Psicologia Ambiental, quando articuladas, conseguem 
trazer respostas bem consistentes para essa questão.
A Psicologia Social pode ajudar a desnudar os fenômenos de ordem 
psicológica e social no ingresso e na permanência do indivíduo no 
comércio ilegal de drogas. Por outro lado, a Psicologia Ambiental 
Curso FRoNt
MÓDULO 2 - ECONOMIA DAS DROGAS, DINÂMICA DO NARCOTRÁFICO E CRIMES CONEXOS 31
pode ajudar a descortinar a prática do comércio de drogas no varejo 
a partir dos locais em que esses crimes são praticados. 
É importante que você conheça três experimentos clássicos que aju-
daram na identificação e compreensão de fenômenos que, até hoje, 
são objeto de estudos e intervenções na área. São eles: 
1. Estudo de conformidade de Solomon Asch. 
2. Experimento de obediência de Stanley Milgram.
3. Experimento da Prisão de Stanford conduzido por Philip 
Zimbardo.
Na década de 1950, o polonês Solomon Asch conduziu experimentos 
que marcaram para sempre a história da psicologia social. Seus ex-
perimentos mostraram o quanto as pessoas são capazes de adotar 
comportamentos, muitas vezes irracionais, somente para se amoldar 
ao comportamento dominante do grupo em que estão inseridas. 
O mais impressionante é que não importa se o grupo acabou 
de se formar e irá se dissolver em instantes, como é o caso 
do encontro corriqueiro de pessoas em um elevador, as 
pessoas sempre têm a tendência de seguir aquilo que está 
explicitado como sendo a norma (regra comportamental) 
que impera no grupo. A Psicologia Social convencionou 
chamar esse fenômeno de conformidade. Ou seja, as 
pessoas tendem a se comportar conforme (com a forma) do 
grupo. Ou seja, as pessoas tendem a se comportar conforme 
(com a forma) do grupo. Veja como Meyers (2014, p. 162) 
define e exemplifica o fenômeno da conformidade: “Assim 
conformidade é uma mudança de comportamento ou de 
crença para concordar com os outros. Quando, em meio 
a uma multidão, você se levanta para aplaudir um gol de 
vitória, você está se conformando? Quando, junto com 
milhões de outras pessoas, você bebe leite ou café, você está 
se conformando? Quando você e todo mundo concorda que 
as mulheres ficam melhor com um cabelo mais longo do que 
com cortes à escovinha, você está se conformando? Talvez 
sim, talvez não. A chave é se o seu comportamento e suas 
crenças seriam os mesmos fora do grupo. Será que você se 
levantaria para aplaudir o gol caso fosse o único torcedor na 
arquibancada?”
Parafraseando Gustave Le Bon, em “Psicologia das 
Multidões”, num grupo, sentimentos e atos são 
contagiosos, e contagiosos em tal grau, que o indivíduo 
PodcAst TRaNScRiTO
Curso FRoNt
MÓDULO 2 - ECONOMIA DAS DROGAS, DINÂMICA DO NARCOTRÁFICO E CRIMES CONEXOS 32
prontamente sacrifica seu interesse pessoal em prol do 
interesse coletivo. Para ilustrar, imagine o que acontece 
com a violência em estádios de futebol. Existe uma 
conformidade de comportamento agressivo entre pessoas 
que não se conhecem.
Na imagem abaixo, vemos um exemplo de conformidade de com-
portamento agressivo, entre pessoas que não se conhecem, em um 
estádio de futebol.
Para demonstrar o fenômeno da Conformidade, em 1951, Asch (1956 
apud MCLEOD, 2018) apresentou a um grupo de oito pessoas um quadro 
com vários cartazes. Em cada um dos cartazes, havia uma linha padrão 
ao lado de outras três linhas (A, B e C) com alturas diferentes. A tarefa 
do grupo era bem simples: um a um os participantes tinham de dizer 
qual das linhas (A, B ou C) possuía a mesma altura da linha padrão. 
Ocorre que, dos oito participantes, apenas o comportamento de um 
participante (“o ingênuo”) realmente estava sendo avaliado pelo ex-
perimento. Todos os outros indivíduos, por assim dizer, eram “cúm-
plices” de Asch. Na dinâmica do experimento, Asch sempre colocava o 
participante real para opinar por último. Na primeira rodada, as coisas 
sempre iam bem para o ingênuo. Todos os participantes cúmplices, 
com voz alta e sem vacilar, respondiam corretamente. Porém, ao final 
de dezoito rodadas, em doze delas, os cúmplices com a mesma voz 
alta e aparente convicção apresentavam respostas sistematicamente 
erradas. Mais ainda, essas respostas erradas eram dadas de forma 
unânime pelos cúmplices. 
O resultado esperado por Asch se confirmou em 75% dos casos; ou seja, 
a maioria absoluta dos participantes avaliados, ao menos uma vez, sim-
plesmente respondia deliberadamente de forma incorreta, sucumbindo 
à pressão implícita do grupo. Outra forma de dizer esse resultado é 
destacar que apenas 1/4 dos participantes manteve sua independência.
Enquadre no seu celular 
ou tablet o código de 
REALIDADE AUMENTADA 
do aplicativo Zappar para 
assistir ao vídeo animado 
sobre conformidade de 
comportamento agressivo.
RA
Curso FRoNt
MÓDULO 2 - ECONOMIA DAS DROGAS, DINÂMICA DO NARCOTRÁFICO E CRIMES CONEXOS 33
Nos anos seguintes, Asch continuou a realizar pesquisas sobre confor-
midade, e seus experimentos revelaram alguns elementos que estão 
diretamente relacionados com esse fenômeno. Assim, conclui-se que:
 � Quanto maior o tamanho do grupo, maior a conformidade 
dos indivíduos.
 � Quanto maior a unanimidade no grupo, menor a possibilidade 
de um indivíduo isolado conseguir escapar à pressão. No sentido 
oposto, quanto mais aliados fizerem, maiores são as chances de 
os divergentes escaparem à pressão do grupo. 
 � Quanto maiores forem as ambiguidades entre o certo e o 
errado, e quanto mais difíceis forem os desafios, maiores 
serão as possibilidades de os sujeitos se submeterem à 
pressão implícita do grupo.
Os experimentos de Asch acabaram se popularizando e entrando para 
o mundo das pegadinhas. Um exemplo disso está no “experimento” 
do Elevador de 1962, em que câmeras escondidas mostram pessoas 
comuns, “ingênuas”, mudando estranhamente de posição seguindo 
os movimentos de pessoas as quais nunca antes haviam visto.
Se os experimentos de Asch retratavam o fenômeno da conformi-
dade a partir da aprovação daqueles que se sujeitavam à pressão 
implícita do grupo, os estudos de Stanley Milgram (2014) revelam 
o poder que figuras de autoridade exercem sobre o comportamento 
humano. Em seus estudos, Milgram conflitava entre a obediência à 
autoridade e a consciência individual.
O Experimento de Milgram. 
Foto: Visão.
Milgram tinha um especial interesse em saber como cidadãos co-
muns alemães se tornaram cúmplices das atrocidades nazistas, por 
exemplo, entregando os próprios vizinhos para a morte. 
Curso FRoNt
MÓDULO 2 - ECONOMIA DAS DROGAS, DINÂMICA DO NARCOTRÁFICO E CRIMES CONEXOS 34
Em seu experimento, Milgram selecionou participantes 
ingênuos por meio de anúncios em jornais. O participante 
era informado que teria uma tarefa simples. Ele ficaria ao 
lado de um professor (caracterizado por jaleco branco), 
que faria perguntas para outro participante (cúmplice) que 
estava sendo submetido a um processo de aprendizagem. 
Todas as vezes que o sujeito submetido à aprendizagem 
(cúmplice) errasse uma resposta, supostamente ele 
seria punido com um choque dado pelo participante 
ingênuo. Claro que o choque era fictício. Porém a ambos, 
participante ingênuo e cúmplice, era informado que o 
choque teria três níveis de referência: de 15 volts (choqueleve), até 375 volts (choque severo e perigoso) e acima de 
450 volts (possível letalidade). 
Os resultados de Milgram foram impressionantes: dois 
terços (65%) dos participantes continuaram aplicando 
os choques até níveis superiores a 450 volts. Todos os 
participantes, sem exceção, aplicaram mais de 300 volts, 
mesmo tendo sido informados no início do experimento 
que poderiam abandonar o estudo no momento que 
desejassem. O pior, as pessoas continuavam aplicando 
o choque apenas porque o “professor” pedia para que 
continuassem. Isso, mesmo sob os gritos da vítima.
PodcAst TRaNScRiTO
O último dos experimentos clássicos da Psicologia Social que podemos 
destacar é o Experimento da Prisão de Stanford. Trata-se de algo 
marcante para a Ciência da Influência Social. 
A Ciência da Influência Social, dedicada a tratar do evento 
em detalhes, é disponibilizada em português. Você 
pode tomar conhecimento de tudo visitando a página 
do Experimento da Prisão de Stanford, disponível em: 
https://www.prisonexp.org/portuguese-1.
Saiba MaiS
https://www.prisonexp.org/portuguese-1
Curso FRoNt
MÓDULO 2 - ECONOMIA DAS DROGAS, DINÂMICA DO NARCOTRÁFICO E CRIMES CONEXOS 35
O estudo foi conduzido por uma equipe liderada por Philip Zimbardo, 
em 1971, no subsolo de um dos prédios da Universidade de Stanford. 
Assim como no caso de Milgram, os participantes foram recrutados 
por um anúncio de jornal que oferecia 15 dólares para os voluntários 
a participarem de um estudo sobre unidades prisionais. Vinte quatro 
jovens, brancos, de classe média e sem nenhum problema de saúde 
foram selecionados para tomar parte no experimento.
Experimento Prisional de Stanford. 
Foto: What is Psychology? (2020).
De forma aleatória, os voluntários foram divididos em dois grupos. 
Um grupo foi designado para atuar como guardas e o outro como 
prisioneiros. O experimento contou com a colaboração da polícia 
local, de um padre e de um advogado. Os pais também puderam visitar 
os filhos na “prisão”. O cenário e o figurino eram o mais próximo 
possível de uma prisão real.
Assim, em uma manhã de domingo, no mês de agosto, policiais 
reais foram às casas dos jovens escolhidos por cara ou coroa 
para serem os presos. Todos os protocolos da polícia americana 
foram seguidos e os detidos foram entregues na “prisão” de 
experimento Zimbardo para cumprir pena por roubo à mão 
armada e furto. Tudo estava programado para ocorrer em duas 
semanas. Porém, em seis dias o estudo precisou ser interrompido 
porque os abusos perpetrados pelos “guardas” e o sofrimento 
imposto aos presos havia saído completamente do controle.
Os impactos desse experimento foram tão significativos que extrapo-
laram o campo da ciência e chegaram às telas dos cinemas. Três filmes 
contaram sua história, um alemão e dois de Hollywood. Outros tantos 
filmes se inspiraram nele. Tal qual o estudo de Milgram, Zimbardo, 
com a prisão simulada em Stanford, mostrou como pessoas comuns, 
Curso FRoNt
MÓDULO 2 - ECONOMIA DAS DROGAS, DINÂMICA DO NARCOTRÁFICO E CRIMES CONEXOS 36
ao serem submetidas a determinadas circunstâncias, são capazes de 
cometer as mais cruéis barbaridades contra seus semelhantes.
Para ampliar seu entendimento do conteúdo, disponibilizamos a 
seguir uma indicação para você.
O filme “A Onda” é baseado em um experimento de 
ensino infame de 1967, conduzido na Califórnia por Ron 
Jones (que atuou como consultor no filme). Trata-se 
de um drama didático que “transplanta a ação para a 
Alemanha moderna, onde Rainer (Jürgen Vogel), um 
professor de ensino médio descolado, está tentando 
transmitir os pontos mais delicados da autocracia.” 
(CATSOULIS, 2020, tradução nossa). Disponível em: 
https://youtu.be/zG3TfjAhs30
Dica DE MíDia
Os três experimentos que acabamos de conhecer trouxeram à tona 
os contornos da “conformidade”, que até hoje são estudados nas 
ciências comportamentais e lançam luz sobre o impacto da pressão 
do grupo nos comportamentos individuais. 
Os experimentos trazem elementos que ajudam a responder uma 
variante da pergunta fundamental que abriu esta aula: “por que 
algumas pessoas se envolvem com crimes como o narcotráfico e 
o crime organizado e outras não?” E, de fato, compreender a força 
da conformidade ajuda a desvendar um dos relevantes porquês do 
envolvimento de determinadas pessoas com o tráfico de drogas.
Na direção de nosso estudo, conheça a história de Hosmany e apri-
more seus conhecimentos.
https://youtu.be/zG3TfjAhs30
Curso FRoNt
MÓDULO 2 - ECONOMIA DAS DROGAS, DINÂMICA DO NARCOTRÁFICO E CRIMES CONEXOS 37
CiRURGiAS, 
CRiMES E FUGAS
A trajetória de Hosmany, 
de médico brilhante a 
assassino condenado
- e finalmente solto.
ANOS 1970
Atendia em dois 
consultórios e era 
assistente de Ivo 
Pitanguy, um dos maiores 
cirurgiões plásticos do 
mundo. Vivendo em um 
apartamento de luxo em 
Copacabana, no Rio, 
começa a traficar drogas 
internacionalmente.
1981
É condenado a 53 anos 
de detenção por vários 
crimes: roubo de aviões, 
contrabando de 
automóveis, tráfico de 
drogas e assassinato do 
piloto Joel Avon. Depois 
de fugir do presídio, é 
encontrado no Paraguai.
1996
Escapa do Instituto 
Penal Agrícola de Bauru 
(SP) e é recapturado um 
mês depois ao participar 
do sequestro do 
fazendeiro Ricardo 
Rennó. Pelo crime, é 
condenado a mais 30 
anos de reclusão.
2008
Convoca jornalistas para 
anunciar que não voltará 
à cadeia após o fim da 
saída temporária de Natal 
e Ano Novo. Afirma que 
denunciará a corrupção 
no sistema carcerário.
2009
É preso novamente ao 
tentar entrar na Islândia 
com o passaporte do 
irmão. Passa a cumprir 
pena no presídio de 
Junqueirópolis (SP).
2016
Em setembro, sua defesa 
solicita à Justiça o indulto 
para que ele possa deixar 
a penintenciária. 
O Ministério Público 
questiona a ausência de 
exames criminológicos, 
mas o Tribunal de Justiça
de São Paulo dá parecer 
favorável à soltura 
do médico.
Hosmany, de médico brilhante a assassino. 
Fonte: Adaptado de Isto é (2017). Pela história de Hosmany, você pode ver que nem sempre há uma 
explicação sobre por que as pessoas se envolvem com o tráfico.
Você pode acessar a matéria na íntegra disponível em: 
http://redeglobo.globo.com/Linhadireta/ 0,26665,GIJ0-
5257-215694,00.html
Saiba MaiS
http://redeglobo.globo.com/Linhadireta/0,26665,GIJ0-5257-215694,00.html
http://redeglobo.globo.com/Linhadireta/0,26665,GIJ0-5257-215694,00.html
http://redeglobo.globo.com/Linhadireta/0,26665,GIJ0-5257-215694,00.html 
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MÓDULO 2 - ECONOMIA DAS DROGAS, DINÂMICA DO NARCOTRÁFICO E CRIMES CONEXOS 38
Como visto no estudo de Asch, a pressão do grupo não necessariamente 
precisa ser explícita para que uma pessoa deliberadamente faça uma 
escolha errada. Portanto, intuitivamente já é fácil imaginar como 
as pessoas estão sujeitas à influência de grupos de pertença, como 
familiares, vizinhos, colegas nas escolas e universidades, e amigos 
de trabalho. Indo além da intuição, estudos vêm demonstrando a 
validade dos achados de Asch. 
As contribuições da literatura da área sobre a influência objetiva ou 
subjetiva do grupo no comportamento dos indivíduos é vasta (LI-
TTLE; STEINBERG, 2006; MILLER; PRENTICE, 2016). A pesquisa de 
Bearden, Rose e Teel (1994), por exemplo, revela como a influência 
de familiares e amigos pode ser determinante para que alguém venha 
a ingerir bebida alcóolica e consumir drogas ilícitas. 
Já Pessoa et al. (2017, p. 251), em estudo qualitativo com ado-
lescentes com envolvimento com o tráfico de drogas na América 
Latina, afirmam que:
A ausência de engajamento em atividades educacionais, 
igualmente à futilidade de programas sociais, quase sempre é 
abastecida pelo senso de pertencimento que pode ser atingido 
pela participação em atividades ilícitas com a formação de 
grupos que compartilham histórias de vida parecidas. 
(PESSOA et al., 2017, p. 251)
Ou seja, mais uma vez se verifica a influência dos grupos de pertença 
nos comportamentos dos indivíduos. Ainda assim, vale considerarmos 
que não setrata somente da pressão de grupos de pertença. 
Influência dos grupos de pertença. 
Foto: © [Andril Zastrozhnov] / Adobe Stock.
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MÓDULO 2 - ECONOMIA DAS DROGAS, DINÂMICA DO NARCOTRÁFICO E CRIMES CONEXOS 39
No experimento das linhas e em suas inúmeras repetições e varia-
ções, Asch e vários pesquisadores mostraram que grupos formados 
instantaneamente também produzem efeitos significativos no com-
portamento dos indivíduos. Ou seja, o que ocorre em uma festa ou em 
um passeio de férias, por exemplo, pode determinar todo o futuro 
de um indivíduo. Isso ainda é mais significante quando se imagina 
que a primeira experiência de uma pessoa com drogas ilícitas, ou 
mesmo com a prática de algum crime ligado ao mercado de drogas, 
pode acontecer justamente em uma dessas circunstâncias.
Se Asch demonstrou o efeito sutil, implícito, do grupo nos padrões 
comportamentais dos indivíduos, Milgram desvendou o poder da 
figura de autoridade. Mais recentemente, Cialdini e Salgarin (2005), 
em uma série de estudos, assentou a autoridade como um de seus 
seis princípios da persuasão. Esse princípio tem muitas implicações 
para o contexto deste curso. 
Basta imaginar a influência que um professor tem sobre os com-
portamentos de seus alunos ou mesmo o poder que a imagem de 
um traficante que ostenta poder tem nos membros de uma comuni-
dade, principalmente sobre os mais jovens. Isso também vale para 
a violência perpetrada por criminosos dentro das prisões quando 
criminosos faccionados, seguindo o exemplo dos demais ou mesmo 
diante das ordens dos líderes, praticam atos de barbárie como os 
mencionados no Módulo 1.
Finalizando esta aula, ressalte-se que o experimento de Zimbardo 
também reforçou a verdade inconveniente de que pessoas, sem 
nenhum histórico anterior de agressão e violência, são capazes de 
perpetrar os mais cruéis atos com cinismo e sadismo, a depender 
da situação em que estão envolvidas. Porém, uma boa notícia é que 
bastou a intervenção de uma pessoa para que o Experimento de 
Stanford fosse interrompido e todos os participantes, inclusive os 
pesquisadores, fossem trazidos de volta para a realidade.
Foto: © [Prot] / Adobe Stock.
Curso FRoNt
MÓDULO 2 - ECONOMIA DAS DROGAS, DINÂMICA DO NARCOTRÁFICO E CRIMES CONEXOS 40
Para aprimorar seus conhecimentos, seguem algumas 
dicas de vídeos para você:
Parece exagero dizer que qualquer pessoa adulta e 
psicologicamente sadia possa se submeter a um padrão 
comportamental induzido por pessoas que acabou de 
conhecer. Derren Brown, por meio da produção “The 
Push” (Netflix), mostra que não há exagero nenhum 
nisso. De forma chocante, Brown mostra como pessoas 
comuns podem ser levadas a cometer atrocidades 
inimagináveis ao estarem envolvidas em fenômenos 
psicossociais como os estudados nesta aula.
Você também pode saber mais sobre o Experimento da 
Prisão por meio do próprio Zimbardo em “Como pessoas 
comuns se tornam monstros... ou heróis”, disponível em: 
https://www.ted.com/talks/philip_zimbardo_the_
psychology_of_evil?language=pt-br.
Dica DE MíDia
Portanto, ainda diante de tudo, espera-se que o conhecimento dos 
fenômenos retratados possa contribuir para uma melhor compreensão 
da dinâmica psicossocial do crime organizado e do tráfico de drogas.
2.2. InFLUÊnCia SOCiaL: TeORia 
dO COMPORTaMenTO PLanejadO 
(aTiTUde, nORMa SUBjeTiVa e 
COnTROLe COMPORTaMenTaL 
PeRCeBidO)
Esta aula segue com a busca por respostas para a pergunta: “Por 
que algumas pessoas se engajam em comportamentos criminosos 
tais quais os relacionados ao crime organizado e ao tráfico de 
drogas?”. Visando avançar ainda mais nesta direção, vale a reflexão 
sobre o exemplo do envolvimento de determinados universitários 
com o mundo do crime.
Não é de hoje que o recinto universitário vem se tornando cenário 
para os mais variados crimes. Por exemplo, na Inglaterra os delitos 
no ambiente acadêmico possuem até mesmo um ranking oficial, 
sendo o roubo, o furto e as agressões sexuais as ofensas mais comuns 
(WOOD, 2018).
https://www.ted.com/talks/philip_zimbardo_the_psychology_of_evil?language=pt-br
https://www.ted.com/talks/philip_zimbardo_the_psychology_of_evil?language=pt-br
Curso FRoNt
MÓDULO 2 - ECONOMIA DAS DROGAS, DINÂMICA DO NARCOTRÁFICO E CRIMES CONEXOS 41
Livre comércio de drogas na UnB: conivência 
ou falta de policiamento? 
Foto: Metrópoles (2018).
No cenário brasileiro, somam-se a esses tipos penais o consumo e 
a venda de drogas tanto nos centros acadêmicos quanto nas áreas 
comuns das universidades (KERR-CORREA et al., 2001).
Uma pesquisa realizada pela Secretaria Nacional Antidrogas do 
Ministério da Justiça, em 2010, revelou que os universitários 
compõem a parcela da população brasileira que mais consome 
drogas. Tal fato se reveste de especial gravidade, visto que vários 
outros crimes estão associados ao uso de drogas.
Universitárias que abusam de substâncias ilícitas estão mais expostas 
a agressões sexuais (GILMORE; LEWIS; GEORGE, 2015; HINES et 
al., 2015). No mesmo sentido, usuários de drogas que se engajam 
em crimes como furto, roubo e tráfico muitas vezes o fazem em 
busca de recursos para sustentar o vício (LEIDENFROST; LEONARD; 
ANTONIUS, 2017).
Como visto no Módulo 1, a maconha é a droga mais amplamente uti-
lizada pela população, e o público acadêmico não faz exceção a essa 
regra (JANSON, 2017). Trata-se de algo preocupante. O consumo de 
maconha está relacionado a diversos transtornos mentais, tais como 
depressão (DEMBO et al., 2017), síndrome de pânico (DEAS; GERDING; 
HAZY, 2000; ZVOLENSKY et al., 2006) e esquizofrenia (OLIVEIRA; 
MOREIRA, 2007). Ao seu turno, a percepção de disponibilidade da 
droga constitui fator preditor de seu uso, não importando a faixa 
etária (MARTINS et al., 2016; MAURO et al., 2017).
Aproximadamente 4% dos adultos do mundo (cerca de 162 milhões 
de pessoas) consomem Cannabis pelo menos uma vez no decorrer 
de um ano, tornando-a a droga ilícita mais usada no mundo.
Curso FRoNt
MÓDULO 2 - ECONOMIA DAS DROGAS, DINÂMICA DO NARCOTRÁFICO E CRIMES CONEXOS 42
Assim, assume-se neste curso que o desenvolvimento de abordagens 
baseadas em evidências científicas para o enfrentamento do tráfico 
e do consumo de drogas ilícitas e suas consequentes mazelas, nas 
universidades e em todos os outros lugares, é uma necessidade 
atual e imediata. 
Somando-se ao fenômeno da conformidade e por se tratar de uma 
situação paradigmática, nas próximas linhas será discorrido sobre o 
poder de variáveis específicas na predição da intenção de estudantes 
em traficar drogas no ambiente universitário sob as lentes de uma 
das mais relevantes abordagens de influência social, a Teoria do 
Comportamento Planejado – TCP (AJZEN, 1991).
Em linhas gerais, a Teoria do Comportamento Planejado (TCP) parte 
da premissa de que todo comportamento realizado por ato de vontade 
é precedido por uma intenção. Por isso, ao se predizer a intenção, 
também é possível, em boa parte dos casos, predizer se a pessoa irá 
ou não realizar determinado comportamento. 
A pesquisa na área vem mostrando, desde a década 
de noventa, que essa regra vale para as mais variadas 
circunstâncias da vida social humana. Com os temas abuso 
de drogas, violência, agressão e crime não é diferente.
A TCP é um dos modelos de predição de comportamento 
mais parcimoniosos no campo da Psicologia Social 
e amplamente empregado em diversas áreas do 
conhecimento, tais como Economia, Nutrição e 
comportamento do consumidor. Com a prevenção de 
crimes e comportamentos antissociais ocorre o mesmo. 
Em 2015, Finigan-Carr e colegas usaram a TCP em busca da 
predição de comportamentos agressivos e porte de arma 
entre jovens negros de baixa renda. Já em 2017, Skrzypiec 
usou uma abordagem interdisciplinar, empregando a TCP 
e aportes da Criminologia, para examinar a intenção de 
adolescentes em se envolver em atividades criminais. Entre 
os estudos com suporte teórico na TCP, estão vários que 
buscam investigar fatores que possibilitem a predição da 
intenção deuso de maconha entre estudantes de graduação.
O modelo tradicional da TCP adota as variáveis atitude, 
norma subjetiva e controle comportamental, percebidas 
como preditores da intenção do indivíduo em praticar 
determinado comportamento.
PodcAst TRaNScRiTO
Curso FRoNt
MÓDULO 2 - ECONOMIA DAS DROGAS, DINÂMICA DO NARCOTRÁFICO E CRIMES CONEXOS 43
Na figura abaixo, você pode observar o modelo da TCP de forma gráfica:
ATiTUDES EM RELAÇÃO 
AO COMPORTAMENTO
NORMA SUBJETiVA
CONTROLE PERCEBiDO 
DO COMPORTAMENTO
iNTENÇÃO DE 
COMPORTAMENTO COMPORTAMENTO
ATiTUDES EM RELAÇÃO
AO COMPORTAMENTO
NORMA SUBJETiVA
CONTROLE PERCEBiDO
DO COMPORTAMENTO
iNTENÇÃO DE 
COMPORTAMENTO COMPORTAMENTO
Note-se que as três variáveis (atitudes, norma subjetiva e controle 
comportamental percebido), além de predizerem a intenção, se in-
fluenciam mutuamente. Nesse ponto, é relevante trazer definições 
sucintas do que vêm a ser os elementos do modelo. 
Do ponto de vista estritamente da Psicologia Social, as atitudes têm 
a ver com as avaliações que as pessoas fazem do que as cercam em 
suas vidas. Tecnicamente “a atitude consiste numa predisposição para 
responder de forma favorável ou desfavorável em relação a objetos, 
pessoas, instituições ou acontecimentos” (AJZEN; FISHBEIN, 1972). 
Nesse sentido, por exemplo, uma pessoa pode ter uma atitude po-
sitiva em relação a um determinado político e negativa em relação 
a outro. Já na Segurança Pública, uma pessoa pode ter uma atitude 
positiva ante o porte irrestrito de armas e uma atitude negativa ante 
a legalização da venda de drogas.
Em ambos os casos, a atitude pode predizer a intenção de 
voto de acordo com a avaliação pessoal dos políticos 
e de suas bandeiras. 
Por sua vez, as normas subjetivas (ou sociais) estão relacionadas 
às reações ou avaliações das pessoas ao redor (por exemplo, ante 
a objetos e situações) e se o indivíduo está ou não interessado em 
acatar as expectativas dessas pessoas. Em outras palavras, elas 
“referem-se às comparações que são feitas com pessoas próximas, 
TEORia DO cOMPORTaMENTO PlaNEjaDO (TcP)|
Curso FRoNt
MÓDULO 2 - ECONOMIA DAS DROGAS, DINÂMICA DO NARCOTRÁFICO E CRIMES CONEXOS 44
as quais podem influenciar a forma de pensar de quem está ao seu 
redor.” (AJZEN, 2008).
Um exemplo do poder da influência da norma subjetiva está em sua 
predição da conformidade, como pode ser observado nos experimentos 
de Solomon Asch. Seja no caso da comparação entre os tamanhos das 
linhas, seja no caso do posicionamento que as pessoas adotavam no 
elevador, o que a pessoa identificava como sendo a norma do grupo 
invariavelmente exercia uma influência quase que irresistível sob 
sua própria forma de agir. 
Isso também ocorre no mercado das drogas. Li e Feigelman (1994) 
examinaram a influência de algumas variáveis, como a prática de 
tráfico por familiares e amigos próximos, na intenção de jovens 
adolescentes se envolverem nessa atividade e encontraram fortes 
correlações entre essas variáveis.
Uma espécie de norma subjetiva é aquela que prescreve o silêncio 
diante de faltas cometidas por colegas de serviço. De caráter 
universal, em diversas culturas e profissões, essa regra sutil parece 
ser ainda mais significativa em meio aos agentes da lei. 
A obra de William Westley, “Violence and the Police” (1970), é con-
siderada um dos trabalhos mais importantes já desenvolvidos sobre 
a polícia, sendo constantemente referida na literatura respectiva 
e nos círculos que tratam do comportamento desviante e controle 
social. Westley busca explicar a razão pela qual a violência policial é 
tão generalizada e difícil de controlar. 
O autor baseia seu estudo na cultura ocupacional, valendo-se dela 
enquanto conceito explanatório básico. Observa que, em razão de 
o público poder ser não confiável, hostil, e até mesmo violento, 
a cultura ocupacional policial enfatiza a proteção individual, sigilo 
e violência, bem como a ideia-força da necessidade de manutenção 
do respeito pela polícia. 
Westley aponta aqueles temas como configurações variáveis, mais 
salientes nos grandes departamentos urbanos de polícia do que em 
outras organizações menores.
Curso FRoNt
MÓDULO 2 - ECONOMIA DAS DROGAS, DINÂMICA DO NARCOTRÁFICO E CRIMES CONEXOS 45
O pesquisador, em sua obra de referência, observa que 
mais de três de cada quatro policiais (parte da amostra de 
uma enquete por ele desenvolvida), declararam que não 
denunciariam outro policial por receber dinheiro de um 
preso, e que tampouco testemunhariam contra ele, caso fosse 
acusado posteriormente por isso. Tal atitude seria parte do 
famoso “código de silêncio”, aspecto da cultura ocupacional 
antagônico ao controle da corrupção policial.
nA PRátIcA
Finalmente, o controle comportamental percebido diz respeito aos 
fatores que podem facilitar ou bloquear a efetivação do comportamento 
(AZJEN, 2008). Em outros termos, isso teria relação com a crença da 
pessoa quanto à sua capacidade de efetivamente performar determi-
nado comportamento e conseguir arcar com as consequências do feito.
Um exemplo do controle comportamental percebido está no fato de 
um universitário perceber que possui acesso a drogas no atacado, tem 
condições de vendê-las no varejo entre os colegas universitários e não 
será incomodado pela administração da universidade ou pela polícia. 
Foto: © [Syda Productions] / Adobe Stock.
Curso FRoNt
MÓDULO 2 - ECONOMIA DAS DROGAS, DINÂMICA DO NARCOTRÁFICO E CRIMES CONEXOS 46
ORBELL E COLEGAS (2001)
Testaram os efeitos do acesso a drogas e do envolvimento de 
amigos no crime sob a intenção de adolescentes seguirem o 
mesmo caminho.
Empregou a variável fortalecimento da reputação (reputation 
enhancement) como um fator entre a variável e a intenção de 
engajamento de jovens em atividades criminais.
LiTTLE E STEiNBERG (2006)
SKRZYPiEC (2017)
Testaram o controle comportamental percebido diante do uso 
efetivo de ecstasy como variável mediadora entre o hábito e a 
intenção de se usar a droga.
Veja a seguir alguns estudos empregados com a variável:
Como podemos observar, em todos os casos, de forma isolada ou 
interagindo com atitudes e normas subjetivas, o controle compor-
tamental percebido revelou-se um fator determinante na predição 
da intenção de se praticar os crimes de uso e tráfico de drogas.
Em suma, o modelo da Teoria do Comportamento Planejado (TCP) 
assume que a intenção é fator determinante para os comportamentos 
performados pelos indivíduos de forma livre. Ou seja, três são as 
variáveis que determinam a intenção: a atitude, as normas subjetivas 
e o controle comportamental percebido.
Ademais, a maior parte dos exemplos citados na apresentação da 
TCP relaciona-se à intenção de universitários se envolverem com 
o tráfico de drogas. Porém, ressalta-se que o poder preditor da 
TCP abrange vários outros tipos de comportamentos quotidianos, 
inclusive criminosos. 
Para finalizar o tópico, segue um exemplo de aplicação prática da 
TCP em exercício de análise do crime de roubo ao transporte coletivo. 
Vale lembrar que esse tipo de crime muitas vezes está diretamente 
relacionado ao narcotráfico, visto que serve para pagar dívidas 
Curso FRoNt
MÓDULO 2 - ECONOMIA DAS DROGAS, DINÂMICA DO NARCOTRÁFICO E CRIMES CONEXOS 47
com o tráfico, sustentar o vício ou mesmo levantar recursos para 
as organizações criminosas das quais seus autores fazem parte. 
Em outras palavras, muitas vezes “o crime (comum) é um meio de 
garantir o bom funcionamento do mercado de drogas.” (WEISBURD; 
GREEN; ROSS, 1994).
O indivíduo avalia que, por meio do roubo em 
transporte coletivo, pode auferir lucro fácil e alto, com 
o qual poderá adquirir drogas e outros objetivos de seu 
interesse, ao mesmo tempo que avalia positivamente 
essa prática. O indivíduo, então, avalia que, se realizar 
um roubo a coletivo no horário de pico, pode obter 
grande quantia em dinheiro, além de celulares e demais 
pertences das vítimas. 
Atitude fAvorável
Existindo, na comunidade

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