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MÓDULO 5 TÓPICOS ESPECIAIS EM REPRESSÃO AO NARCOTRÁFICO E AO CRIME ORGANIZADO EXPEDIENTE Baixe o aplicativo Zappar no seu celular ou tablet REALIDADE AUMENTADA (RA) Nas páginas deste material encontram-se códigos como este ao lado que dão acesso a conteúdos extras. Para visualizá-los, baixe o aplicativo Zappar no seu celular ou tablet e enquadre os códigos no aplicativo (você precisa ter conexão à internet). Todo o conteúdo do Curso FRoNt - Fundamentos para Repressão ao Narcotráfico e ao Crime Organizado, da Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (SENAD), Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) do Governo Federal - 2021, está licenciado sob a Licença Pública Creative Commons Atribuição - Não Comercial- Sem Derivações 4.0 Internacional. Para visualizar uma cópia desta licença, acesse: https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/deed.pt_BR BY NC ND GOVERNO FEDERAL MINISTÉRIO DA JUSTIÇA E SEGURANÇA PÚBLICA SECRETARIA NACIONAL DE POLÍTICAS SOBRE DROGAS SECRETÁRIO NACIONAL Luiz Roberto Beggiora DIRETOR DE POLÍTICAS PÚBLICAS E ARTICULAÇÃO INSTITUCIONAL Gustavo Camilo Baptista COORDENADOR-GERAL DE PESQUISA E FORMAÇÃO Carlos Timo Brito CONTEUDISTAS George Felipe Lima Dantas Isângelo Senna da Costa REVISÃO DE CONTEÚDO Carlos Timo Brito Fernanda Flavia Rios dos Santos APOIO Ana Carolina Pastorino Magalhães Daphne Sarah Gomes Jacob Eurides Branquinho da Silva Maria Aparecida Alves Dias Maria de Fatima Pinheiro de Moura Barros Tatiana Almeida Santos https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/deed.pt_BR UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA SECRETARIA DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA (SEAD) SECRETÁRIO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Luciano Patrício Souza de Castro labSEAD COORDENAÇÃO GERAL Luciano Patrício Souza de Castro FINANCEIRO Fernando Machado Wolf CONSULTORIA TÉCNICA EAD Giovana Schuelter COORDENAÇÃO DE PRODUÇÃO Francielli Schuelter COORDENAÇÃO DE AVEA Andreia Mara Fiala SECRETARIA Caroline da Rosa Gabriela Cassiano Abdalla DESIGN INSTRUCIONAL Supervisão: Milene Silva de Castro Gabriel de Melo Cardoso Márcia Melo Bortolato Marielly Agatha Machado DESIGN GRÁFICO Supervisão: Sharlene Melanie Martins de Araújo Heliziane Barbosa Juliana Jacinto Teixeira Luana Pillmann de Barros Vinicius Alves Jacob Simões REVISÃO TEXTUAL Cleusa Iracema Pereira Raimundo PROGRAMAÇÃO Supervisão: Alexandre Dal Fabbro Cleberton de Souza Oliveira Thiago Assi AUDIOVISUAL Supervisão: Rafael Poletto Dutra Fabíola de Andrade Luiz Felipe Moreira Silva Oliveira Renata Gordo Corrêa TÉCNOLOGIA DA INFORMAÇÃO Dalmo Tsuyoshi Venturieri Wilton Jose Pimentel Filho SUMÁRIO Unidade 1 | aTIVIdade POLICIaL: COMPOnenTeS da PRÁTICa, enVOLVIMenTO eM PROCeSSOS JUdICIaIS e aTIVIdade PRISIOnaL Unidade 2 | eMPReGO da InTeLIGÊnCIa PaRa RePReSSÃO aO naRCOTRÁFICO e aO CRIMe ORGanIZadO 1.1 Componentes da prática: técnica, tática e estratégia policial 2.1 Doutrina Nacional de Inteligência de Segurança Pública (DNISP) 1.2 Envolvimento em processos judiciais: meios de prova e meios de obtenção de prova 2.2 Atividade de investigação e atividade de Inteligência de Segurança Pública 7 7 25 25 aPReSenTaÇÃO 6 14 27 2.3 Técnicas Operacionais de Inteligência de Segurança Pública 30 1.3 Atividade prisional 20 Unidade 4 | COnVenÇÕeS e enTIdadeS InTeRnaCIOnaIS de COnTROLe de dROGaS e RePReSSÃO dO naRCOTRÁFICO 4.1 Convenções das Nações Unidas sobre Drogas (1961, 1971 e 1988) 4.2 Convenção de Palermo 52 52 61 ReFeRÊnCIaS 74 Unidade 3 | nOÇÕeS BÁSICaS de anÁLISe CRIMInaL anTIdROGaS 3.1 Breve histórico da Análise Criminal 36 36 423.2 Fundamentos da Análise Criminal Investigativa 4.3 Entidades internacionais 1: CND e UNODC (ONU); Comissão Europeia; CICAD (OEA) 4.4 Entidades internacionais 2: INTERPOL, EUROPOL e AMERIPOL 64 68 Curso FRoNt MÓDULO 5 - TÓPICOS ESPECIAIS EM REPRESSÃO AO NARCOTRÁFICO E AO CRIME ORGANIZADO 6 aPReSenTaÇÃO Olá, cursista! Neste módulo, apresentaremos os instrumentos e procedimentos que possibilitam ao Estado brasileiro, em articulação com outras nações e organizações internacionais, reprimir o narcotráfico e o crime organizado e promover a segurança pública. Para tanto, iremos explorar a atividade policial em termos de seus componentes práticos e seu envolvimento em processos judiciais e, em especial, conhe- ceremos o importante papel dessa atividade no âmbito prisional. Também conheceremos as diversas possibilidades de atuação policial e identificaremos a importância da área de Inteligência de Segurança Pública para promover estratégias efetivas de repressão ao narco- tráfico. Estudaremos, ainda, as principais atividades e técnicas de inteligência policial. Em seguida, examinaremos a Análise Criminal, desde sua origem e desenvolvimento até seu estado atual e as competências essenciais de um analista criminal, especialmente aqueles responsáveis pela gestão. Por fim, identificaremos as principais convenções e entidades internacionais de controle de drogas e repressão do narcotráfico. Esperamos que as competências desenvolvidas neste módulo possam qualificar ainda mais os agentes que estão, direta ou indiretamente, envolvidos com a repressão ao narcotráfico. OBJeTiVOS dO MódULO � Descrever os aspectos relevantes das atividades policial e prisional com vistas à previsão, prevenção, neutralização e repressão do narcotráfico e do crime organizado. � Examinar as bases doutrinárias, os conceitos e as técnicas de Inteligência de Segurança Pública relacionados à temática deste módulo. � Identificar as noções básicas de Análise Criminal voltadas ao enfrentamento do narcotráfico e do crime organizado. � Identificar as principais convenções e entidades relacionadas à repressão ao narcotráfico e ao crime organizado em âmbito internacional. Enquadre no seu celular ou tablet o código de REALIDADE AUMENTADA do aplicativo Zappar para assistir ao vídeo de apresentação do módulo. RA Curso FRoNt MÓDULO 5 - TÓPICOS ESPECIAIS EM REPRESSÃO AO NARCOTRÁFICO E AO CRIME ORGANIZADO 7 Unidade 1 aTIVIdade POLICIaL: COMPOnenTeS da PRÁTICa, enVOLVIMenTO eM PROCeSSOS JUdICIaIS e aTIVIdade PRISIOnaL COnTexTUaLiZandO De acordo com Greene (2007), em sua obra “Enciclopédia de Ciência Policial”, a ciência policial é composta de um amplo conjunto de atividades que incluem desde a prática de policiamento, no âmbito individual, até interconexões de policiamento de âmbito coletivo, que podem abranger o mundo todo. A ciência policial é multidisciplinar e se intersecciona, principal- mente, com o campo do direito e das ciências físicas (no caso da ciência forense, por exemplo). Essa ciência também se serve da psicologia, da sociologia, das políticas públicas, da história, da eco- nomia, da geografia e de métodos de avaliação e análise estatística, bem como da criminologia e da administração da justiça. O exercício da atividade policial, incluindo seus métodos e procedimentos, é, portanto, informado por variados domínios do conhecimento. Assim, nesta unidade, apresentaremos alguns métodos e proce- dimentos policiais que demandam conhecimentos e habilidades técnicas específicas e também multidisciplinares para sua aplicação. Por meio desta apresentação, objetivamos aumentar seu grau de clareza acerca do emprego de métodos e procedimentos policiais em diferentes âmbitos (civis ou militares, individuais ou coletivos, externos ou em presídios etc.), os quais, quando corretamente uti- lizados, podem contribuir para uma repressão eficaz ao narcotráfico e ao crime organizado. 1.1 COMPOnenTeS da PRÁTiCa: TéCniCa, TÁTiCa e eSTRaTéGia POLiCiaL A atividade policial é composta especialmente por três importantes elementos: a técnica, a tática e a estratégia policial. Vamos examinar cada um desses conceitos a seguir. De acordo com o “Caderno Doutrinário 2: Tática Policial, Abordagem a Pessoas e Tratamento às Vítimas”, publicado pela Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG), em 2013:Curso FRoNt MÓDULO 5 - TÓPICOS ESPECIAIS EM REPRESSÃO AO NARCOTRÁFICO E AO CRIME ORGANIZADO 8 Entende-se por técnica policial o conjunto dos métodos e procedimentos utilizados na execução da atividade policial. O estabelecimento de técnicas visa alcançar os princípios da eficiência, segurança e legalidade. (POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE MINAS GERAIS, 2013, p. 21) A técnica é um dos componentes mais importantes da prática poli- cial. Para cada recurso utilizado no serviço policial, seja humano ou material, existem técnicas preestabelecidas. É importante distinguir entre técnica policial e tática policial. Ainda de acordo com o caderno doutrinário da PMMG, a expressão técnica policial está relacionada ao “como fazer”. Já a expressão tática poli- cial está relacionada à forma de se empregar, com eficácia, recursos técnicos que se tenham à disposição em dada situação. Portanto, a tática define quais técnicas precisam ser utilizadas para maximizar a obtenção de sucesso em cada caso. O policial, em seu turno de serviço, principalmente em situações de emergência, por vezes precisa tomar decisões em frações de segundo. O mesmo ocorre com outras categorias profissionais, a exemplo dos bombeiros e dos médicos. Isso exige desses profissionais a apresen- tação de habilidades de inteligência muscular e de técnicas específicas. Para desenvolver habilidades de inteligência muscular, o policial, em particular, precisa ser submetido a treinamentos baseados em repetições, de modo que o possibilitem usar o seu próprio corpo com grande precisão quando necessário ou oportuno. Um dos benefícios desses tipos de treinamento é o desenvolvimento da capacidade de decidir o que fazer em dada situação e executar ações correspondentes a essa decisão em menor tempo. Imagine, como exemplo, um policial realizando um patrulhamento noturno, em uma rua mal iluminada, que se depara com uma potencial ameaça. Quase que de forma instantânea, o policial precisa distinguir se está diante de uma pessoa comum ou diante de um criminoso que está a ponto de tirar-lhe a vida, precisa decidir efetuar ou não um disparo. Caso decida realizar o disparo, necessita sacar sua arma, identificar pontos que neutralizem unicamente a ação do agressor e efetuar um disparo correto. Nesse contexto, um treinamento ante- rior, baseado em repetições, poderá possibilitar ao policial efetuar o disparo mantendo os olhos no alvo a todo instante, sem olhar para a arma e no menor tempo possível, talvez, salvando-lhe a vida. Enquadre no seu celular ou tablet o código de REALIDADE AUMENTADA do aplicativo Zappar para assistir ao vídeo animado sobre Técnica Policial. RA Curso FRoNt MÓDULO 5 - TÓPICOS ESPECIAIS EM REPRESSÃO AO NARCOTRÁFICO E AO CRIME ORGANIZADO 9 Como ilustrado pelo exemplo anterior, tanto a vida dos cidadãos comuns quanto a vida dos policiais podem ser preservadas, caso não haja falha técnica ou execução de atitudes precipitadas e equivocadas no uso de armas por policiais, ou caso não haja falhas no julgamento ou no tempo de reação. Portanto, um desenvolvimento técnico de qualidade é essencial para o trabalho eficaz de um policial. A técnica policial pode variar a depender do âmbito de atuação do policial. Um policial que faça parte de uma unidade de operações espe- ciais, como o Batalhão de Operações Especiais (BOPE) de uma Polícia Militar ou o Comando de Operações Táticas (COT) da Polícia Federal, por exemplo, precisa dominar técnicas que raramente são exigidas dos demais policiais. Como exemplo dessas técnicas podemos citar: O manuseio de material explosivo. A forma de adentramento/ penetração em regiões dominadas pelo narcotráfico, em que há conflitos armados de baixa intensidade. Se as técnicas de uso de explosivos e adentramento serão empre- gadas ou cederão lugar a outras alternativas no cumprimento de um mandado de prisão contra um traficante de alta periculosidade, isso é questão de escolha tática. Sobre o contexto da técnica de adentramento/penetração mencio- nada acima, é importante explicarmos o que é um conflito de baixa intensidade. Via de regra, é um conflito que possui natureza políti- co-militar e vai da propaganda e da subversão ao uso real de forças militares. Esse tipo de conflito pode ocorrer entre Estados ou entre grupos rivais (grupos subnacionais), abaixo dos níveis de uma guerra convencional e acima dos níveis quotidianos e ordinários de disputas em tempos de paz. O termo conflito de baixa intensidade vem sendo cada vez mais empregado para caracterizar as confrontações entre grupos criminosos ligados ao narcotráfico na América Latina ou entre esses e a polícia. Apesar de as técnicas poderem variar a depender das características do âmbito de atuação, às vezes, mesmo que este seja diferente, as téc- nicas podem ser as mesmas. É o caso, por exemplo, quando membros de forças de Segurança Pública necessitam executar técnicas típicas do contexto militar, assim como aqueles que operam em situações de violência urbana como nos morros cariocas. Enquadre no seu celular ou tablet o código de REALIDADE AUMENTADA do aplicativo Zappar para assistir ao vídeo que trata dos desafios da atividade policial. RA Curso FRoNt MÓDULO 5 - TÓPICOS ESPECIAIS EM REPRESSÃO AO NARCOTRÁFICO E AO CRIME ORGANIZADO 10 CÂMERA CORPORAL ESPARGiDOR - SPRAY DE PiMENTA ARMA DE iNCAPACiTAÇÃO NEUROMUSCULAR CASSETETE REVÓLVER PiSTOLA Policiais uniformizados costumam portar mais equipamentos do que policiais que atuam à paisana em investigações. Por sua vez, inte- grantes de forças especiais e de controle de distúrbio civil costumam trazer consigo ainda mais equipamentos. Os equipamentos e armamentos, entretanto, não se limitam àqueles que o policial traz junto ao próprio corpo. Outros equipamentos também o cercam no veículo policial (viatura) e em outros diversos contextos de trabalho. A própria pilotagem de viaturas, sobretudo as ostensivas, exige o domínio de técnicas específicas. Do mesmo modo, quem opera equipamentos de escuta ambiental ou de interceptação telefônica no contexto de forças-tarefas contra o crime organizado e crimes conexos, como corrupção e lavagem de dinheiro, também precisa dominar algumas técnicas. Em que pese a relevância do domínio técnico de ferramentas utilizadas no contexto da atividade de polícia, é preciso que você saiba que a técnica policial não se limita ao manuseio eficaz de armamentos e equipamentos. Policiais que atuam de forma ostensiva no policia- mento preventivo ou na execução de mandados de prisão, busca e apreensão, por exemplo, também precisam ser hábeis em técnicas de imobilização/contenção de pessoas e de defesa pessoal. Agora que temos maior clareza acerca da distinção entre técnica e tática policial, convém ressaltar que, independentemente da natureza do trabalho realizado pelos integrantes das organizações policiais, eles podem carregar consigo uma grande variedade de equipamentos. Em todos os casos, para operar tais equipamentos, o policial precisa ser dotado de técnicas policiais apuradas. Alguns dos equipamentos mais comuns utilizados por policiais são: Curso FRoNt MÓDULO 5 - TÓPICOS ESPECIAIS EM REPRESSÃO AO NARCOTRÁFICO E AO CRIME ORGANIZADO 11 Nessas mesmas situações, igualmente se espera que os policiais sejam hábeis em técnicas tipicamente militares, como a busca de abrigos e coberturas em situações de confronto armado. Já em cenários em que há reféns ou criminosos encurralados que resistem a se render, esperam-se habilidades mínimas em relação a técnicas de mediação e negociação. Essas, por sua vez, envolvem conhecimentos em áreas como Direito e Psicologia. Em relação à Psicologia, essa área pode contribuir significativa- mente com a atividade policial. Vejamos, a seguir, alguns exem- plos de técnicas oriundas da psicologia que podem ser úteis para o trabalho policial: TÉCNiCAS AMBiENTAiS O estudo da interação das pessoas com seus ambientes pode auxiliarna identificação de fatores no espaço urbano que favorecem comportamentos antissociais como o consumo de drogas. TÉCNiCAS INVESTiGATiVAS TÉCNiCAS INTERROGATÓRiAS O emprego de técnicas psicológicas investigativas pode auxiliar os policiais no processo de prisão e apresentação de criminosos à Justiça. O emprego de técnicas interrogatórias da Psicologia pode auxiliar na elucidação de crimes por meio de entrevistas com vítimas ou acusados. Os conhecimentos oriundos da Psicologia são também especialmente úteis para o desenvolvimento de técnicas de persuasão e tomada de decisão. Além disso, também auxiliam na caracterização dos perfis das vítimas e criminais. Em 2017, em um esforço para unir a ciência à atividade policial e aprimorar a técnica dos negociadores policiais, a Polícia Militar do Distrito Federal inovou o módulo de Psicologia do Curso de Negociadores do Batalhão de Operações Especiais (BOPE). A instituição contou com conhecimentos e experiências de pesquisadores do Grupo Influência da Universidade de Brasília (UnB). Para entender como foram os 45 dias de curso, acesse a matéria “Formatura do V Curso de Negociador Policial”, disponível em: http://www.pmdf.df.gov.br/index.php/ institucionais/15557-formatura-do-v-curso-de- negociador-policial. Saiba MaiS http://www.pmdf.df.gov.br/index.php/institucionais/15557-formatura-do-v-curso-de-negociador-policial http://www.pmdf.df.gov.br/index.php/institucionais/15557-formatura-do-v-curso-de-negociador-policial http://www.pmdf.df.gov.br/index.php/institucionais/15557-formatura-do-v-curso-de-negociador-policial Curso FRoNt MÓDULO 5 - TÓPICOS ESPECIAIS EM REPRESSÃO AO NARCOTRÁFICO E AO CRIME ORGANIZADO 12 Para a efetividade da atividade policial, também há necessidade de que existam policiais hábeis no emprego de técnicas de inteligência. Trata-se de algo ainda mais significativo no contexto do enfren- tamento do narcotráfico e do crime organizado intra e transnacio- nalmente localizados. Isso tanto é verdade que a Agência das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC), em um módulo instrucional intitulado “Ferra- menta para aplicadores da lei e cooperação”, em uma capacitação sobre crime organizado, em 2018, pontuou especificamente o tópico “Técnicas de investigação e de reunião de inteligência”, com a citação de técnicas de vigilância eletrônica e operações veladas. O Departa- mento Federal de Investigação, unidade de polícia do Departamento de Justiça dos Estados Unidos (FBI), se manifesta da mesma forma, em sua página na internet, quando explicita a importância de técnicas como vigilância eletrônica, operações veladas, uso de informantes e entrevistas com vítimas para levantamento de informações que sirvam às ações de inteligência policial. Além das técnicas e táticas, outro importante conceito relacionado à atividade policial é o de estratégia, que se refere ao planejamento e às decisões policiais em um âmbito macro, geralmente organiza- cional, de médio e longo prazo. Com base em Bergue (2013), a estratégia organizacional pode ser compreendida como um conjunto de ações gerenciais orientadas para o posicionamento eficiente, eficaz e efetivo de uma organização e, consequentemente, de seus membros, em um cenário futuro específico. Desse modo, a estratégia envolve coordenar ações de diferentes partes da organização de maneira integrada, a fim de atingir um ou mais objetivos em comum, a partir das diretrizes estabelecidas por gestores. A noção de estratégia policial possui uma relação direta com a for- mulação de políticas públicas. A decisão de investir mais recursos em equipamentos e no aprimoramento técnico e tático policial para a repressão ao narcotráfico, por exemplo, é de nível estratégico e compõe a formulação de políticas públicas sobre combate ao tráfico de drogas. Vejamos, a seguir, o caso de uma viatura da Polícia Rodo- viária Federal alvejada em troca de tiros com criminosos: Curso FRoNt MÓDULO 5 - TÓPICOS ESPECIAIS EM REPRESSÃO AO NARCOTRÁFICO E AO CRIME ORGANIZADO 13 prfoficial 36.000 curtidas prfoficial Na última terça-feira (01), em uma ação conjunta com a @pmpro�cial, após troca de tiros com um veículo envolvido no assalto ao banco da cidade de Floraí (PR), nossa viatura foi alvejada com vários disparos. Devido à blindagem, os policiais saíram sem ferimentos. Fonte: Instagram da Polícia Rodoviária Federal – Unidade de Floraí, Paraná. Neste caso, foi apenas devido ao investimento estratégico na blin- dagem da viatura que a vida dos policiais foi salva. Assim, ainda que as decisões estratégicas sejam geralmente tomadas em mesas de reuniões, aparentemente distantes da prática em campo, elas afetam diretamente as ações cotidianas dos policiais. A Polícia Rodoviária Federal (PRF) é uma instituição bastante estratégica no combate ao narcotráfico e ao crime organizado no Brasil. Isso fica ainda mais evidente quando nos lembramos de que boa parte da produção de derivados de cocaína e da folha de maconha sai de nossos países vizinhos (Colômbia, Bolívia, Peru e Paraguai) e é escoada pelas rodovias federais brasileiras. Portanto, tal qual deve ser para as demais forças policiais, com a PRF não pode ser diferente: seus integrantes precisam ser altamente treinados nas mais variadas técnicas policiais. Curso FRoNt MÓDULO 5 - TÓPICOS ESPECIAIS EM REPRESSÃO AO NARCOTRÁFICO E AO CRIME ORGANIZADO 14 Nesse sentido, em 2019, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) formou a maior turma de novos ingressantes de sua história. O Curso de For- mação Profissional da PRF (CFP/2019) formou mais de 1000 novos agentes. No trecho abaixo, note a ênfase dada ao enfrentamento do tráfico de drogas e os temas da capacitação técnica que os alunos receberam para torná-lo mais eficaz: � Enfrentamento ao Tráfico de Drogas � Armas e Munições � Enfrentamento a Fraudes Veiculares � Direitos Humanos e Cidadania � Técnicas de Abordagem Policial � Prática de Tiro � Condução Veicular Policia � Técnicas de Defesa Policial � Uso Diferenciado da Força � Fiscalização de Trânsito � Aspectos Legais dos Procedimentos Policiais � Atendimento de Primeiros Socorros � Ética e Atividade Policial � Relações Humanas, entre outros. | algUNS TEMaS DE caPaciTaçãO TécNica Da PRF: Enquadre no seu celular ou tablet o código de REALIDADE AUMENTADA do aplicativo Zappar para assistir ao vídeo sobre a PRF e o investimento em recursos humanos. RA Por fim, é preciso ressaltar que a falha no emprego de uma técnica policial pode levar a consequências graves e, por vezes, duradouras e irreversíveis, tanto para vítimas quanto para acusados, policiais e instituições. Nesse sentido, é essencial planejar e coordenar ações, a fim de aperfeiçoar, continuamente, as técnicas, táticas e estra- tégias policiais, evitando, por exemplo, processos judiciais por abuso de autoridade, em decorrência de violência arbitrária ou do uso indevido da força. 1.2 enVOLViMenTO eM PROCeSSOS JUdiCiaiS: MeiOS de PROVa e MeiOS de OBTenÇÃO de PROVa Além da técnica, da tática e da estratégia, também são essenciais os meios de prova e de obtenção de prova para dar suporte aos processos judiciais, de modo que seja possível, em conformidade aos direitos e garantias constitucionais, condenar criminosos e possibilitar o des- mantelamento ou o enfraquecimento de suas organizações e redes. Tudo isso tendo policiais, promotores e o próprio Judiciário atuando de forma articulada e harmônica com base em evidências. A atividade policial, nessa direção, envolve principalmente a utilização de meios de prova, para a contestação e convencimento dos juízes, Curso FRoNt MÓDULO 5 - TÓPICOS ESPECIAIS EM REPRESSÃO AO NARCOTRÁFICO E AO CRIME ORGANIZADO 15 e dos meios de obtenção de prova, como o próprio nome indica, para obter provas. A seguir, vamos examinar alguns conceitos do campo do Direito para melhor compreendermos o envolvimento de atividades policiais nos processos judiciais.Primeiramente, precisamos desenvolver uma noção básica de como funciona um processo judicial. Podemos representar um processo judicial, de maneira simplificada, da seguinte maneira: Ou seja, um processo judicial envolve um juiz, que recebe elementos probatórios (provas) das partes envolvidas e possibilita a cada parte contestar (contraditar) o que foi apresentado pela outra. Por partes envolvidas, podemos citar aqueles que executam a acusação e aqueles que executam a defesa. Usualmente, do lado da acusação está um representante do Ministério Público, por exemplo, um promotor de justiça, e, do outro lado, um advogado ou defensor público defen- dendo o réu (acusado). É justamente a partir desse triângulo processual que, no final do processo, o magistrado (juiz) emite uma sentença baseada em sua livre convicção acerca da verdade dos fatos que emergem das provas produzidas em juízo, ou seja, durante o processo judicial. De acordo com o artigo 155 do Código de Processo Penal brasileiro, alterado pela Lei nº 11.690, de 9 de julho de 2008: Curso FRoNt MÓDULO 5 - TÓPICOS ESPECIAIS EM REPRESSÃO AO NARCOTRÁFICO E AO CRIME ORGANIZADO 16 Código de Processo Penal Art. 155. O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova produzida em contraditório judicial, não podendo fundamentar sua decisão exclusivamente nos elementos informativos colhidos na investigação, ressalvadas as provas cautelares, não repetíveis e antecipadas. Ou seja, em termos mais simples, além de outros aspectos legais, para alguém ser condenado por algum crime no Brasil, existe a ne- cessidade de se apresentarem provas produzidas ao longo de um processo judicial. Mas o que exatamente é considerada uma prova em um processo judicial? Apesar de não fazer parte da legislação penal, o Código de Processo Civil brasileiro, em seu artigo 369, define uma prova em um processo judicial como: Código de Processo Penal Art. 369. [...] todos os meios legais, bem como os moralmente legítimos, ainda que não especificados neste Código, para provar a verdade dos fatos em que se funda o pedido ou a defesa e influir eficazmente na convicção do juiz. É importante ressaltar que esses meios legais podem ser empregados por ambas as partes envolvidas num processo judicial, ou seja, tanto pela acusação quanto pela defesa. Para entender mais sobre o princípio da verdade real e sobre os tipos de verdade que vigoram no processo penal e no processo civil, acesse o texto “Princípio da Verdade Real”, disponível em: https://sites.google.com/site/ zeitoneglobal/processo-penal-i/2-06-principio-da- verdade-real. Saiba MaiS https://sites.google.com/site/zeitoneglobal/processo-penal-i/2-06-principio-da-verdade-real https://sites.google.com/site/zeitoneglobal/processo-penal-i/2-06-principio-da-verdade-real https://sites.google.com/site/zeitoneglobal/processo-penal-i/2-06-principio-da-verdade-real Curso FRoNt MÓDULO 5 - TÓPICOS ESPECIAIS EM REPRESSÃO AO NARCOTRÁFICO E AO CRIME ORGANIZADO 17 Desse modo, a fim de convencer o juiz a chegar a um veredito num processo judicial, são necessárias provas e meios de apresentá-las. Isto nos leva a dois importantes conceitos que precisam ser devi- damente caracterizados e distinguidos: os “meios de obtenção de provas” e os “meios de prova”. Meios de obtenção de prova Meios de prova Dizem respeito às formas e recursos empregados para se obterem os elementos probatórios de um processo, tais como laudos periciais, gravações de conversas entre acusados, versões de testemunhas reduzidas a termo em depoimentos etc. Nessa categoria, estão escutas telefônicas e ações de busca e apreensão de pessoas e objetos ligados ao crime. São os meios utilizados pelos envolvidos no processo judicial para convencerem o juiz, ou seja, dizem respeito à apresentação e à forma de apresentação de provas obtidas. Assim, os meios de obtenção de prova são típicos da fase pré-proces- sual, em contexto de flagrante de delito, das investigações conduzidas no âmbito do inquérito policial, ou de investigações complementares que ocorrem mediante requisição do Ministério Público. Já os os meios de provas, em regra, estão circunscritos à fase processual da persecução criminal. É importante ressaltar que, em todos os casos, os meios de obtenção de provas empregados na fase pré-processual agridem, mesmo que legitimamente e em menor grau, direitos fundamentais, como os de privacidade, propriedade e liberdade, por exemplo; portanto, precisam de autorização de um juiz para serem levados a efeito. São exemplos de tais meios de obtenção de provas as interceptações telefônicas e o confisco de bens de pessoas que ainda sequer foram condenadas. Não obstante, tome nota que, mesmo não sendo a regra, também Enquadre no seu celular ou tablet o código de REALIDADE AUMENTADA do aplicativo Zappar para assistir ao vídeo sobre o uso de cães farejadores como meio de obtenção de provas contra o narcotráfico. RA pode haver o emprego de meios de obtenção de prova durante a fase processual. Esse é o caso da colaboração premiada. A colaboração premiada alcançou notoriedade ao ser usada pelo ma- gistrado italiano Giovanni Falcone para impor severas perdas à famosa organização mafiosa italiana Cosa Nostra. Um artigo publicado na plataforma JusBrasil, intitulado “Investigação e dos meios de obtenção da prova”, se refere à colaboração premiada da seguinte forma: glossáRio A colaboração premiada é um meio de obtenção de prova que se baseia na oferta de benefícios àquele que confessar e prestar informações que sirvam ao esclarecimento de crimes cometidos. Curso FRoNt MÓDULO 5 - TÓPICOS ESPECIAIS EM REPRESSÃO AO NARCOTRÁFICO E AO CRIME ORGANIZADO 18 A colaboração premiada é uma modalidade de meio de obtenção de prova disponibilizada às partes envolvidas na persecução criminal, tanto em sua fase investigativa quanto em sua fase processual, possibilitando a negociação entre os agentes públicos encarregados da atividade de persecução e os integrantes de organização criminosa, com vistas ao fornecimento de informações que se prestem ao desmantelamento da organização, a identificação de seus integrantes e a repressão e punição das atividades ilícitas por ela desenvolvidas. (INVESTIGAÇÃO..., 2016) Apesar de já possuir alguns de seus elementos na Lei nº 8.072, de 25 de julho de 1990 (Lei dos Crimes Hediondos), a delação premiada, ou colaboração premiada, ganhou melhores contornos no Brasil com a aprovação da Lei nº 12.850, de 2 de agosto de 2013, que de- fine organização criminosa e dispõe sobre a investigação criminal, os meios de obtenção da prova, infrações penais correlatas e o pro- cedimento criminal. Porém, foi com o chamado Pacote Anticrime (Lei nº 13.964, de 24 de dezembro de 2019) que o instituto ganhou ainda mais força no país. Onde está, então, a relação da atividade policial com os processos judiciais? Essa relação está, principalmente, na utilização de meios de obtenção de provas pelos policiais, seja na fase pré-processual, como usualmente ocorre, seja na fase processual, como nos casos em que ocorre a colaboração premiada. Foto: © [Björn Wylezich] / Adobe Stock. Em 2012, o Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC) publicou um documento baseado em estudos de caso com lições aprendidas sobre o combate ao crime organizado, denominado “Digest of organized crime cases: A compilation of cases with commentaries and lessons learned”, ou “Resumo de casos de crime organizado: uma compilação de casos com comentários e Curso FRoNt MÓDULO 5 - TÓPICOS ESPECIAIS EM REPRESSÃO AO NARCOTRÁFICO E AO CRIME ORGANIZADO 19 lições aprendidas”. Uma das assertivas trazidas pelo UNODC neste documento é a necessidade de haver uma abordagem proativa e altamente especializada por parte de policiais e promotores de justiça para combater o crime organizado. Nesse sentido, há dois elementos de particular importância emuma abordagem proativa. Vejamos, a seguir, quais são eles. O primeiro desses elementos é a própria natureza das investigações sobre as organizações criminosas. Recolher e analisar informações sobre a história, a composição, os meios empregados, os objetivos e modus operandi de grupos criminosos, bem como das redes e mercados ilícitos, são componentes essenciais de qualquer investigação e geralmente também são importantes fatores desencadeantes de outras frentes investigativas e de obtenção de meios de prova. 1 O segundo elemento, que tem sido exemplo de boas práticas, consiste em ampliar a investigação e abranger toda a estrutura e conduta de grupos ou redes criminosas, independentemente de quão pequeno era o caso no início, com o objetivo final de prevenir crimes futuros. 2 Há necessidade de se investigar mesmo os pequenos eventos crimi- nosos, pois esses podem ser a ponta do novelo de toda uma sequência de fatos que podem descortinar uma organização criminosa. A Ope- ração Lava Jato, maior do tipo no desbaratamento de organizações criminosas na história do Brasil, é um exemplo disso. Segundo a Polícia Federal, o Posto da Torre, situado a 3 km do Congresso Nacional, funcionava como uma espécie de “caixa eletrônico da propina” na capital federal. Em um escritório situado no local, teriam sido gerenciadas contas que movimentaram pelo menos R$ 10,8 milhões entre 2007 e 2014. As informações do fluxo financeiro do Posto da Torre foram extraídas de um CD apreendido pela Polícia Federal nas dependências do estabelecimento, cujo proprietário era o doleiro Carlos Habib Chater. Em conclusão, verifica-se a importância da investigação, recolhi- mento e análise de informações, por parte dos policiais, mesmo em crimes de menor magnitude, a fim de obterem provas que possam Curso FRoNt MÓDULO 5 - TÓPICOS ESPECIAIS EM REPRESSÃO AO NARCOTRÁFICO E AO CRIME ORGANIZADO 20 subsidiar novas investigações, condenações e o desmantelamento de organizações e redes criminosas. 1.3 aTiVidade PRiSiOnaL Agora que temos maior clareza acerca da importância da técnica policial e de como a atividade policial pode contribuir para processos judiciais e para a prevenção de crimes e promoção da justiça, vamos, a seguir, compreender alguns aspectos importantes da atividade policial no sistema prisional. Para desenvolver uma noção básica do Sistema Prisional Federal, chamamos sua atenção às palavras da Ministra Maria Thereza de Assis Moura, do Superior Tribunal de Justiça, pronunciadas durante o X Workshop sobre o Sistema Penitenciário Federal (2020) e repro- duzidas nos anais desse mesmo evento: O Sistema Prisional Federal é o nome dado ao conjunto de unidades federais de execução penal, cuja previsão está expressa na Lei de Execução Penal e na Lei de Crimes Hediondos, anunciado em 2003 e implantado em 2006 com a unidade de Catanduvas, no Paraná. Atualmente, o Sistema conta com outras quatro unidades: Porto Velho, Mossoró, Campo Grande e Brasília. Cada penitenciária federal tem capacidade para 208 presos e obedece ao mesmo projeto arquitetônico, que foi inspirado no modelo da SuperMax do sistema americano, o qual é realizado por regramento específico, baseando-se em rígidas exigências de inclusão e manutenção de presos. (MOURA, 2020 apud WORKSHOP SOBRE O SISTEMA PENITENCIÁRIO FEDERAL, 2020, p. 14) O sistema prisional possui papel fundamental no combate ao crime organizado e ao narcotráfico. Uma das maiores contribuições do sis- tema prisional para esse combate é o isolamento e o monitoramento de líderes de organizações criminosas. Contudo, é também dentro do âmbito prisional que, por vezes, se formam organizações criminosas que, por meio da utilização de mecanismos dos mais diversos, dispõem de significativa influência sobre a ocorrência de crimes na sociedade. Curso FRoNt MÓDULO 5 - TÓPICOS ESPECIAIS EM REPRESSÃO AO NARCOTRÁFICO E AO CRIME ORGANIZADO 21 Foto: © [poco_bw] / Adobe Stock. Essa foi uma das razões que levaram o Estado brasileiro à criação de penitenciárias federais, nas quais há o chamado regimento penal diferenciado de tratamento para líderes de facções. Esse é o caso do líder do PCC, Marcos Camacho (Marcola), preso na Penitenciária Federal em Brasília. O regime penal diferenciado impôs às organizações criminosas a necessidade de buscar alternativas para restabelecer a comunicação entre seus líderes presos e soltos. Uma das alternativas encontradas é a cooptação de advogados, que desviam as prerrogativas da classe, previstas no Estatuto da Ordem dos Advogados do Brasil, para o fo- mento da atividade criminosa. Veja um exemplo dessa questão da cooptação de advogados. O Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (GAECO), do Ministério Público do Estado de São Paulo (MPSP), deflagrou operação para desarticular a célula jurídica da organização criminosa que atua no estado, a chamada Primeiro Comando da Capital (PCC). A Operação Fast Track, com o apoio da Polícia Militar, cumpriu 13 mandados de prisão e 23 mandados de busca e apreensão. Leia mais sobre o acontecimento na matéria: “Gaeco prende 8 advogados e líder nacional de célula jurídica do PCC”, disponível em: http://www. mpsp.mp.br/portal/page/portal/noticias/noticia?id_ noticia=23663938&id_grupo=118. Saiba MaiS Da mesma forma, não foi por acaso que, logo após o assassinato de Giovanni Falcone e Paolo Borsellino, símbolos da luta contra a máfia e o crime organizado na Itália, uma das principais medidas adotadas pelo sistema penal italiano foi o recrudescimento do regime para o cumpri- mento de penas: o chamado sistema penal bipolar, ou duplo binário. http://www.mpsp.mp.br/portal/page/portal/noticias/noticia?id_noticia=23663938&id_grupo=118 http://www.mpsp.mp.br/portal/page/portal/noticias/noticia?id_noticia=23663938&id_grupo=118 http://www.mpsp.mp.br/portal/page/portal/noticias/noticia?id_noticia=23663938&id_grupo=118 Curso FRoNt MÓDULO 5 - TÓPICOS ESPECIAIS EM REPRESSÃO AO NARCOTRÁFICO E AO CRIME ORGANIZADO 22 O sistema duplo binário garantia tratamento diferenciado para os criminosos integrantes de organizações mafiosas. Estes podiam ser, simultaneamente, submetidos a pena e a medida de segurança. Diferentemente do sistema vicariante, no qual, após a condenação ser estabelecida pelo juiz e o criminoso cumprir a pena privativa de liberdade, o juiz analisa novamente o caso, podendo ou não decidir por implementar uma medida de segurança. Já vimos, neste curso, que a mistura de presos comuns e presos políticos no presídio da Ilha Grande no Rio de Janeiro é considerada uma das principais causas do surgimento do Comando Vermelho (CV). Também já estudamos que o Comando Vermelho (CV) e o Primeiro Comando da Capital (PCC), a exemplo das organizações Barrio 18 e Mara Salvatrucha (MS-13) da América Central e do Norte, são consideradas organizações criminosas penitenciárias (ou gangues penitenciárias) por sua forte in- fluência nas prisões e coordenação de operações externas a partir destas. Assim sendo, a atividade prisional apresenta alta complexidade tanto por seus desafios intra quanto extramuros. Por um lado, existe a tensão constante com a possibilidade de rebeliões em prisões superlotadas; por outro, tem-se a constrangedora participação de presos em ações fora das penitenciárias. Desse modo, por um lado, o policial penal precisa, por exemplo, coibir o tráfico de drogas dentro do presídio; por outro, precisa evitar que presos articulem as ações do tráfico nas ruas e morros a partir das unidades prisionais. Foto: © [SecondSide] / Adobe Stock. Por isso, da mesma maneira que o policial, seja ele militar, federal, civil ou rodoviário, e o guarda municipal precisam passar por capacitações constantes com vistas ao seu aperfeiçoamento técnico, o policial penal também precisa passar por constante aprimoramento de seus conhecimentos, habilidades e atitudes. É especialmente importante que o policial penal seja hábilpara, por exemplo, obter provas que subsidiem a autorização de juízes para a realização de ações que promovam o desmantelamento de organizações criminosas dentro das prisões ou articuladas a partir delas. Curso FRoNt MÓDULO 5 - TÓPICOS ESPECIAIS EM REPRESSÃO AO NARCOTRÁFICO E AO CRIME ORGANIZADO 23 Talvez, você não esteja familiarizado com o termo “policial penal”. Até pouco tempo, os profissionais responsáveis por ações como custódia e escoltas de presos eram conhecidos apenas como agentes penitenciários, agentes carcerários, entre outras designações. Com a Emenda Constitucional nº 104, de 4 de dezembro de 2019, houve a alteração do inciso XIV do caput do art. 21 do § 4º do art. 32 e do art. 144 da Constituição Federal, e assim foram criadas as polícias penais federal, estaduais e distrital. Leia mais sobre o assunto na “Emenda Constitucional, Nº 104”, disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ emendas/emc/emc104.htm e na matéria “Polícia Penal: afinal, o que é?”, disponível em: https://www.politize. com.br/policia-penal/#:~:text=O%20policial%20 penal%2C%20anteriormente%20conhecido,dos%20 detentos%20nas%20casas%20penais. Saiba MaiS O policial penal é responsável por coibir o acesso dos detentos a apa- relhos celulares. Essa é, contudo, apenas uma das medidas necessárias para que os criminosos presos não se comuniquem com os membros de suas organizações que ainda estão à solta. É justamente por esse tipo de comunicação que organizações como o PCC coordenam, por exemplo, atentados contra agentes públicos ou outras pessoas com as quais tenham desafetos. Essas comunicações entre criminosos presos e soltos também são responsáveis pelos conhecidos “salves”, os quais já foram tratados neste curso. Sobre a possibilidade de líderes de facções emitirem salves a partir dos presídios e a importância do regime penal diferenciado, veja o que diz o jurista e magistrado brasileiro Walter Nunes da Silva Júnior, Coordenador Geral do X Workshop do Sistema Penitenciário Federal, ocorrido em março de 2020, em Brasília: O regime fechado, em presídio federal, é de isolamento e monitoramento. Enquanto estiver em presídio federal, embora sejam respeitados os direitos fundamentais, o preso não fará jus ao direito à visita íntima. Se assim não for, resta evidente que o encarcerado, ainda que recolhido a presídio federal, terá todas as possibilidades de continuar gerindo a empresa criminosa, mediante a emissão de salves por meio de cônjuge. (SILVA JÚNIOR, 2020, p. 21) http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/emendas/emc/emc104.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/emendas/emc/emc104.htm https://www.politize.com.br/policia-penal/#:~:text=O%20policial%20penal%2C%20anteriormente%20conhecido,dos%20detentos%20nas%20casas%20penais https://www.politize.com.br/policia-penal/#:~:text=O%20policial%20penal%2C%20anteriormente%20conhecido,dos%20detentos%20nas%20casas%20penais https://www.politize.com.br/policia-penal/#:~:text=O%20policial%20penal%2C%20anteriormente%20conhecido,dos%20detentos%20nas%20casas%20penais https://www.politize.com.br/policia-penal/#:~:text=O%20policial%20penal%2C%20anteriormente%20conhecido,dos%20detentos%20nas%20casas%20penais Curso FRoNt MÓDULO 5 - TÓPICOS ESPECIAIS EM REPRESSÃO AO NARCOTRÁFICO E AO CRIME ORGANIZADO 24 É preciso destacar que, assim como a coibição do acesso ao celular, a simples vedação do acesso de presos a visitas íntimas não é suficiente para interromper as comunicações das organizações criminosas a partir dos presídios. Para tanto, o emprego de técnicas de investigação e inteligência é imprescindível. Você já pensou na relevante contribuição dos policiais penais para a vida em nossa sociedade? Você sabia que nos Estados Unidos esses policiais possuem até mesmo uma semana do ano em que são homenageados? “Como os policiais prisionais trabalham atrás dos muros das prisões ou cadeias, muitas vezes deixamos de reconhecer o papel vital que eles desempenham na segurança pública. A Semana Nacional de Oficiais Correcionais (policiais prisionais), que ocorre de 3 a 9 de maio, é um momento para homenagear formalmente as dezenas de milhares destes funcionários que servem nosso país em instalações locais, estaduais e federais, incluindo os mais de 36.000 funcionários do Departamento Federal de Prisões”, indica Katharine T. Sullivan, Vice Procuradora Geral Adjunta Principal. Fonte: https://www.ojp.gov/news/ojp-blogs/2020-ojp- blogs/dedication-corrections-officers. PodcAst TRaNScRiTO Em síntese, o policial em atividade prisional enfrenta alguns desafios singulares e que demandam uma articulação integrada e coordenada entre estratégia, tática e técnica policial. Assim, o policial penal é especialmente responsável por monitorar e investigar a ação de criminosos presos, a fim de coibir articulações criminosas intra e extramuro, que ocorrem por diferentes meios, e obter provas que viabilizem a realização de ações para desmantelamento de organi- zações e redes criminosas, de modo a combater e prevenir crimes. https://www.ojp.gov/news/ojp-blogs/2020-ojp-blogs/dedication-corrections-officers https://www.ojp.gov/news/ojp-blogs/2020-ojp-blogs/dedication-corrections-officers Curso FRoNt MÓDULO 5 - TÓPICOS ESPECIAIS EM REPRESSÃO AO NARCOTRÁFICO E AO CRIME ORGANIZADO 25 Unidade 2 eMPReGO da InTeLIGÊnCIa PaRa RePReSSÃO aO naRCOTRÁFICO e aO CRIMe ORGanIZadO COnTexTUaLiZandO Nesta unidade, apresentaremos as bases doutrinárias nacionais de Inteligência em Segurança Pública, distinguiremos atividade de investigação e atividade de Inteligência de Segurança Pública, e conheceremos algumas Técnicas Operacionais de Inteligência e resultados esperados de seu uso. Por meio desta apresentação, objetivamos aumentar seu grau de competência para caracterizar o trabalho de Inteligência em Se- gurança Pública de modo a aumentar a probabilidade de que você possa contribuir para uma repressão eficaz do narcotráfico e do crime organizado, por meio da participação ou cooperação com ações de inteligência. Para tanto, usaremos como ponto de partida para nosso estudo a Dou- trina Nacional de Inteligência de Segurança Pública (DNISP) em sua interface com a Doutrina de Inteligência em seu contexto mais amplo. 2.1 dOUTRina naCiOnaL de InTeLiGÊnCia de SeGURanÇa PúBLiCa (dnISP) Para que possamos compreender a importância e as ações da Inteli- gência de Segurança Pública (ISP), primeiramente, precisamos au- mentar nosso grau de clareza acerca do que está sendo entendido como inteligência neste contexto. De acordo com Ferro Júnior (2008, p.12): Inteligência é a atividade de produção de conhecimento para o assessoramento da tomada de decisão. (FERRO JÚNIOR, 2008, p. 12) Curso FRoNt MÓDULO 5 - TÓPICOS ESPECIAIS EM REPRESSÃO AO NARCOTRÁFICO E AO CRIME ORGANIZADO 26 Lei nº 9.883 de 7 de dezembro de 1999 Art. 1º § 2º Para os efeitos de aplicação desta Lei, entende-se como inteligência a atividade que objetiva a obtenção, análise e disseminação de conhecimentos dentro e fora do território nacional sobre fatos e situações de imediata ou potencial influência sobre o processo decisório e a ação governamental e sobre a salvaguarda e a segurança da sociedade e do Estado. Uma vez identificado o conceito de inteligência, vejamos, a seguir, como a lei define a Inteligência de Segurança Pública (ISP). O conceito de inteligência também se encontra definido em termos legislativos, conforme veremos a seguir. Decreto nº 3.695 de 21 de dezembro de 2000 Art. 1º Fica criado, no âmbito do Sistema Brasileiro de Inteligência, instituído pela Lei nº 9.883, de 7 de dezembro de 1999, o Subsistema de Inteligência de Segurança Pública, com a finalidade de coordenar e integrar as atividades de inteligência de segurança pública em todo o País, bem como suprir os governos federal e estaduais de informações que subsidiem a tomada de decisões neste campo. Nesse sentido, a ISP é um sistema deinteligência que obtém, produz, sistematiza, analisa e dissemina conhecimentos que subsidiem os governos na tomada de decisões no que tange à Segurança Pública. A definição da atividade da ISP também pode ser formalmente en- contrada na Resolução nº 01/SENASP/2009, mais precisamente na alínea X do parágrafo 4º do art. 1º, a saber: Resolução nº 01/SENASP/2009 Art. 1º § 4º, X A atividade da Inteligência de Segurança Pública é técnica especializada, permanentemente exercida e orientada para a produção e salvaguarda de conhecimentos de interesse da segurança pública que, por seu sentido velado e alcance estratégico, configurem segredos de interesse do Estado e das instituições, objetivando assessorar as respectivas chefias em qualquer nível hierárquico. Curso FRoNt MÓDULO 5 - TÓPICOS ESPECIAIS EM REPRESSÃO AO NARCOTRÁFICO E AO CRIME ORGANIZADO 27 No âmbito do Governo Federal, integram o Subsistema de Inteligência de Segurança Pública: Lei nº 9.883 de 7 de dezembro de 1999 Art. 2º § 2º Poderão ainda integrar o Subsistema de Inteligência de Segurança Pública os órgãos de Inteligência de Segurança Pública dos Estados e do Distrito Federal. De acordo com o Decreto nº 3.695, § 3º, art. 2º, cabe aos integrantes da ISP, no âmbito de suas competências, identificar, acompanhar e avaliar ameaças reais ou potenciais de Segurança Pública e produzir conhecimentos e informações que subsidiem ações para neutralizar, coibir e reprimir atos criminosos de qualquer natureza. 2.2 aTiVidade de inVeSTiGaÇÃO e aTiVidade de InTeLiGÊnCia de SeGURanÇa PúBLiCa Agora que caracterizamos a Inteligência de Segurança Pública, vamos entender melhor a distinção entre duas instâncias de atividades que resguardam semelhanças, mas que são, em seu cerne, distintas: a atividade de Inteligência de Segurança Pública e as atividades de investigação conduzidas pelas instituições de Segurança Pública. Ministério da Justiça e Segurança Pública Ministério da Economia Ministério da Defesa Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República A lei também faz menção ao Ministério da Integração Nacional, porém este foi extinto. O órgão central do Subsistema de Inteligência de Segu- rança Pública é a Secretaria Nacional de Segurança Pública (SENASP). Curso FRoNt MÓDULO 5 - TÓPICOS ESPECIAIS EM REPRESSÃO AO NARCOTRÁFICO E AO CRIME ORGANIZADO 28 Obter clareza acerca desta distinção é especialmente importante, pois ela possibilita identificar aspectos singulares que caracterizam a atuação em duas áreas diferentes da polícia: a inteligência policial e a investigação policial. De acordo com a Secretaria de Segurança Pública e Administração Penitenciária do Paraná: A atividade de Inteligência Policial e a Investigação Policial lidam, invariavelmente, com os mesmos objetos: crime, criminosos, criminalidade e questões conexas. Entretanto, um dos aspectos diferenciadores e relevantes é que, enquanto a Investigação Policial está orientada pelo modelo de persecução penal previsto e regulamentado na norma processual própria objetivando a produção de provas (autoria e materialidade delitiva), a Inteligência Policial está orientada para a produção de conhecimentos com intuito de subsidiar a tomada de decisões nos níveis político, estratégico, tático e operacional. Ou seja, apenas, excepcionalmente, no nível operacional, é que atua com o objetivo de subsidiar a produção de provas em apoio às investigações policiais presididas pelas demais unidades de polícia judiciária. (AGÊNCIA DE INTELIGÊNCIA DA POLÍCIA CIVIL, 2021) Com base nessa explicação, é importante que você identifique que a atividade de investigação desenvolvida pelas instituições policiais, sobretudo por aquelas responsáveis por atuar como polícia judiciária (ex. Polícia Federal e Polícia Civil), está voltada principalmente para a obtenção de provas que irão garantir a repressão de crimes como o narcotráfico por meio do Sistema de Justiça Criminal. Foto: © [DedMityay] / Adobe Stock. Curso FRoNt MÓDULO 5 - TÓPICOS ESPECIAIS EM REPRESSÃO AO NARCOTRÁFICO E AO CRIME ORGANIZADO 29 Por sua vez, a atividade de Inteligência contribui de forma prepon- derante para o processo de tomada de decisão nos níveis político, estratégico, tático e operacional em Segurança Pública. Dessa forma, no contexto de tomada de decisão em nível político, estratégico e tático, a Inteligência de Segurança Pública (ISP) en- contra-se mais afastada do universo das investigações policiais e da obtenção de provas. Entretanto, do “ponto de vista das decisões de nível operacional, portanto de natureza executiva, a ISP visa sancionar ou punir criminosos, ou instituir alguma política local” (FEITOZA, 2011 apud FERRO JÚNIOR, 2016, p. 21). Não obstante a manutenção e a garantia da lei e da ordem, a interação com os cidadãos e o oferecimento de serviços sejam parte da atividade policial contemporânea, essas frentes de atuação representam apenas uma fração do que a polícia faz. Em verdade, a atividade policial dedica-se menos a controlar o crime e mais a detectar e administrar seus riscos, transmitindo, sobretudo, conhecimento sobre esse risco para outras instituições da sociedade que necessitem de tal conhecimento. (GIDDENS, 2005, p. 186) Tomem-se, por exemplo, os riscos pessoais (ex.: morte e lesão corporal de policiais) e institucionais (ex.: tomada de instituição por organi- zações mafiosas) relacionados ao enfrentamento do narcotráfico e do crime organizado. O conhecimento produzido pela Inteligência de Segurança Pública é um recurso essencial que pode ser usado para subsidiar ações para prever, prevenir e neutralizar tais riscos. A Secretaria da Segurança Pública e Administração Penitenciária do Estado do Paraná, perante os diversos campos de atuação da Segu- rança Pública e das peculiaridades de cada instituição, cita, em seu site, como espécies de Inteligência de Segurança Pública: A atividade de Inteligência Policial Judiciária é o exercício permanente e sistemático de ações especializadas para identificar, avaliar e acompanhar ameaças reais ou potenciais na esfera de Segurança Pública, orientadas para produção e salvaguarda de conhecimentos necessários para assessorar o processo decisório no planejamento, execução e acompanhamento de uma política de Segurança Pública; nas investigações policiais; e nas ações para prever, prevenir, neutralizar e reprimir atos criminosos de qualquer natureza que atentem à ordem pública e à incolumidade das pessoas e do patrimônio, sendo exercida pelas agências de inteligência (AIs) no âmbito das Polícias Civis e Federal. InTeLiGÊnCia POLiCiaL JUdiCiÁRia Curso FRoNt MÓDULO 5 - TÓPICOS ESPECIAIS EM REPRESSÃO AO NARCOTRÁFICO E AO CRIME ORGANIZADO 30 A atividade de Inteligência Policial Rodoviária Federal é o exercício permanente e sistemático de ações especializadas para identificar, avaliar e acompanhar ameaças reais ou potenciais na esfera da Segurança Pública e da Segurança Nacional, no âmbito das rodovias e estradas federais. Orientadas para a produção e salvaguarda de conhecimentos necessários para assessorar o processo decisório, para o planejamento, a execução e o acompanhamento de assuntos pertinentes à segurança da sociedade e do Estado, essas ações visam prevenir e neutralizar ilícitos e ameaças de qualquer natureza, buscando se antecipar aos fatos que possam afetar a ordem pública e a incolumidade das pessoas e do patrimônio, e são exercidas pelas AIs da Polícia Rodoviária Federal. InTeLiGÊnCia POLiCiaL ROdOViÁRia FedeRaL A atividade de Inteligência Penitenciária é o exercício permanente e sistemático de ações especializadas para a identificação, acompanhamento e avaliação de ameaças reais ou potenciais na esfera do Sistema Penitenciário. Estas são basicamente orientadas para a produção e salvaguarda de conhecimentos necessários à decisão, ao planejamento e à execução de uma política penitenciária e, também, para prevenir, obstruir,detectar e neutralizar ações adversas de qualquer natureza dentro do Sistema Penitenciário e atentatórias à ordem pública. InTeLiGÊnCia PeniTenCiÁRia A atividade de Inteligência Bombeiro Militar é o exercício permanente e sistemático de ações especializadas para identificar, avaliar e acompanhar ameaças reais ou potenciais na esfera de Segurança Pública, orientadas para produção e salvaguarda de conhecimentos necessários para subsidiar o processo decisório; para o planejamento, execução e acompanhamento de uma política de Segurança Pública e das ações para prever, prevenir e neutralizar riscos referentes a desastres naturais e de causa humana, calamidades, a ordem pública, a incolumidade das pessoas e do patrimônio; assuntos de interesse institucional e a proteção dos seus ativos corporativos, sendo exercida pelas AIs dos Corpos de Bombeiros Militares. InTeLiGÊnCia BOMBeiRO MiLiTaR Enquadre no seu celular ou tablet o código de REALIDADE AUMENTADA do aplicativo Zappar para assistir ao vídeo sobre tecnologia, inteligência e apreensão de drogas nas rodovias federais. RA 2.3 TéCniCaS OPeRaCiOnaiS de InTeLiGÊnCia de SeGURanÇa PúBLiCa Uma vez tendo caracterizado a Inteligência de Segurança Pública e distinguido as atividades de investigação e inteligência policial, vamos, a seguir, focar nesta última, e examinar como a atividade de Inteli- gência Policial pode contribuir para a promoção da segurança pública, em especial, para a repressão ao crime organizado e ao narcotráfico. Curso FRoNt MÓDULO 5 - TÓPICOS ESPECIAIS EM REPRESSÃO AO NARCOTRÁFICO E AO CRIME ORGANIZADO 31 Ao longo de nosso curso, já citamos uma frase famosa atribuída ao ex-prefeito de Nova York, Rudolph Giuliani, a qual parafraseamos, a seguir, de acordo com a temática desta aula: Já é hora de a Segurança Pública gerir o conhecimento tanto quanto o crime organizado. Esta é a função para a qual o Subsistema de Inteligência de Segu- rança Pública foi criado, gerir o conhecimento, de modo que este se torne mais uma poderosa ferramenta para a repressão ao crime organizado e ao narcotráfico. A função deste subsistema é especialmente importante para fazer pa- ridade ao crime organizado atual, uma vez que este já faz um uso, por vezes de caráter cirúrgico e tecnológico, do conhecimento a seu favor. Para o Delegado da Polícia Federal Rodrigo Carneiro Gomes (2009): A gestão de conhecimento pelos criminosos é tolerada pelo Estado. A omissão e a ineficácia estatais, muitas vezes compradas, quando combinadas com a leniente legislação prisional, carente de regulamentação, permitem a perigosos criminosos o uso irrestrito de meios de comunicação, acesso à telefonia móvel celular, computadores, e-mail, livros, jornais, televisões, por meio dos quais a network da organização criminosa estabelece seus vínculos e se fortalece. (GOMES, 2009, p. 108) Para combater essa situação e gerir o conhecimento eficazmente de modo dar suporte às ações de previsão, prevenção, neutralização e repressão ao narcotráfico e ao crime organizado, é necessário, pri- meiramente, produzir dados. Para produzir dados, existem dois tipos usuais de ações de inteligência policial: A ação de coleta de dados. A ação de busca de dados. Embora no imaginário popular seja de costume associar a atividade de Inteligência Policial às operações espetaculares de agentes secretos como James Bond, as ações de coleta, por exemplo, estão relacionadas a todo e qualquer procedimento realizado com o objetivo de obter Curso FRoNt MÓDULO 5 - TÓPICOS ESPECIAIS EM REPRESSÃO AO NARCOTRÁFICO E AO CRIME ORGANIZADO 32 dados depositados em fontes abertas, em que esses se encontram publicamente disponíveis. Uma simples visita às redes sociais de alguém envolvido com o nar- cotráfico, a fim de confirmar suas relações pessoais com integrantes de um determinado grupo criminoso, por exemplo, já pode ser considerada uma ação de coleta de dados no âmbito da Inteligência de Segurança Pública. Já as ações de busca podem envolver medidas como a interceptação de sinais e de dados, por exemplo, por meio de escutas telefônicas, infiltração em organizações criminosas ou adentramento em ambientes privados sem o conhecimento de seus proprietários. As ações de busca, por vezes, constituem um desafio à parte para as instituições de Segurança Pública, por colidirem com direitos fundamentais da pessoa alvo da busca ou mesmo representar a vio- lação de preceitos da lei penal. Isso ocorre, especialmente, quando, para a efetivação das ações de busca, são adotadas medidas como o reconhecimento, a vigilância, o recrutamento operacional, a infil- tração, a desinformação, a provocação, a entrevista, a entrada e a interceptação de sinais e de dados. O promotor de justiça Evandro Ornelas Leal (2016, p. 19-20) explica cada um desses termos da seguinte forma: � Reconhecimento É a ação de busca realizada para obter dados sobre o ambiente operacional ou identificar visualmente uma pessoa. Normalmente é uma ação preparatória que subsidia o planejamento de uma Operação de Inteligência. � Vigilância É a ação de busca que consiste em manter um ou mais alvos sob observação. � Recrutamento operacional É a ação de busca realizada para convencer uma pessoa que não pertencente à atividade de Inteligência a trabalhar em benefício desta. � Infiltração É a ação de busca que consiste em colocar uma pessoa junto ao alvo, a fim de captar todas as informações de interesse para o processo de conhecimento. � Desinformação É a ação de busca realizada para, intencionalmente, confundir alvos, sejam estes pessoas ou organizações, a fim de induzir esses alvos a cometerem erros de apreciação, levando-os a executar um comportamento predeterminado. PROCediMenTOS TíPiCOS de aÇÕeS de BUSCa Curso FRoNt MÓDULO 5 - TÓPICOS ESPECIAIS EM REPRESSÃO AO NARCOTRÁFICO E AO CRIME ORGANIZADO 33 � Provocação É a ação de busca, com alto nível de especialização, realizada para fazer com que uma pessoa/alvo modifique seus procedimentos e execute algo desejado pela agência de inteligência, sem que o alvo desconfie da ação. � Entrevista É a ação de busca realizada para obter dados por meio de uma conversação, mantida com propósitos definidos, planejada e controlada pelo entrevistador. � Entrada É a ação de busca realizada para obter dados em locais de acesso restrito e sem que seus responsáveis tenham conhecimento da ação realizada. � Interceptação de sinais e dados É a ação de busca realizada por meio de equipamentos adequados, operados por integrantes da inteligência eletrônica, os quais captam os dados de interesse no exato instante em que são transmitidos de uma fonte para outra. Na intercepção de sinais e dados, a transmissão é feita sem produzir qualquer alteração nos dados e sem revelar que tais dados estão sendo captados, podendo ser citadas como exemplos a interceptação tele- fônica, a interceptação telemática, a escuta ambiental. Para serem efetivas, as medidas empregadas em ações de busca precisam ser realizadas em conjunto com Técnicas Operacionais de Inteligência (TOIs). Entre as principais TOIs presentes na Doutrina Nacional de Segurança Pública estão: a observação, memorização e descrição (OMD); a estória-cobertura; o disfarce; as comunicações sigilosas; a análise de veracidade; e a fotointerpretação. A seguir, veja o que significa cada uma delas: Observação, memorização e descrição (OMD): consiste em uma ação dividida em três etapas. Primeiro, o agente usa seus sentidos para captar o máximo de informações possíveis existentes no ambiente; segundo, o agente reconstitui o máximo de detalhes observados em sua mente; terceiro, o agente descreve verbalmente ou formalmente (ex.: por relatório) o máximo de detalhes e impressões captadas no ambiente. Curso FRoNt MÓDULO 5 - TÓPICOS ESPECIAIS EM REPRESSÃO AO NARCOTRÁFICO E AO CRIME ORGANIZADO 34 Estória-cobertura: visa encobrir as reais identidades dosagentes de inteligência, a fim de facilitar a obtenção de dados, dissimulando os verdadeiros propósitos da atividade, e assegurar a segurança e o sigilo da operação. Infiltração: consiste em colocar um profissional de inteligência de segurança pública junto ao alvo, com o propósito de obter o dado negado. Comunicação sigilosa: técnica operacional que visa viabilizar a comunicação de forma dissimulada, visando à sua não detecção. Análise de veracidade: é a TOI utilizada para analisar, por meio de recursos tecnológicos, se há veracidade no que uma pessoa esteja falando. Fotointerpretação, ou inteligência de imagem: visa gerar subsídios para o planejamento de operações podendo envolver, por exemplo, fotografias aéreas, imagens de satélite, de drones e mesmo radares. O manejo das TOIs em articulação com as ações de coleta e de busca, em sede de inteligência aplicadas à atividade policial, em particular, e de Segurança Pública, em geral, gera informações de alta relevância para o enfrentamento e investigação de organizações criminosas, mormente considerando àquelas ligadas ao narcotráfico. Curso FRoNt MÓDULO 5 - TÓPICOS ESPECIAIS EM REPRESSÃO AO NARCOTRÁFICO E AO CRIME ORGANIZADO 35 Assim, por meio dos recursos técnicos da Inteligência de Segurança Pública, é possível alcançar resultados como: Resultados de Operações de Inteligência Policial Identificação de grupos criminosos, de seu modus operandi e de sua divisão de tarefas. Individualização de seus integrantes e comandos hierárquicos. Plotagem da localidade ou região de atuação. Monitoramento e documentação da atuação criminosa e de eventuais informantes (interceptação telefônica combinada com ação controlada, com recurso de vigilância eletrônica, móvel ou fixa). Identificação do indivíduo criminoso mais propenso para cooperar com a investigação policial ou para ser oferecida a delação premiada. Traçado de tendências criminosas. Prevenção de crimes. Proteção de testemunhas. É relevante comentar, ainda, do ponto de vista de inteligência aplicada aos serviços de polícia judiciária e de Segurança Pública em geral, que o Ministério da Justiça e Segurança Pública criou, sob a respon- sabilidade da Secretaria de Operações Integradas (SEOPI), a Rede de Centros Integrados de Inteligência de Segurança Pública. Os centros são responsáveis por reunir dados de inteligência entre os órgãos estaduais, com o intuito de obter informações sobre integrantes das organizações criminosas, bem como antecipar investidas desses grupos de forma preventiva. Em conclusão, vimos que uma das principais atividades da Inteligência Policial é a gestão do conhecimento e que, para gerir o conhecimento, fazendo oposição ao crime organizado, é comum a utilização das ações de coleta e busca de dados, efetivadas por um conjunto de medidas e técnicas operacionais. Em suma, com a Unidade 2, foi possível identificar que atuação policial é ampla e diversa, e encontra na sua frente de inteligência um de seus maiores expoentes para repressão ao crime organizado e ao narcotráfico, especialmente, por meio da gestão especializada, estratégica e inovativa do conhecimento. Enquadre no seu celular ou tablet o código de REALIDADE AUMENTADA do aplicativo Zappar para assistir ao vídeo sobre a Secretaria de Operações Integradas (SEOPI) e seus resultados. RA Curso FRoNt MÓDULO 5 - TÓPICOS ESPECIAIS EM REPRESSÃO AO NARCOTRÁFICO E AO CRIME ORGANIZADO 36 Unidade 3 nOÇÕeS BÁSICaS de anÁLISe CRIMInaL anTIdROGaS COnTexTUaLiZandO Nesta unidade, apresentaremos um breve histórico da Análise Cri- minal, a fim de que você possa conhecer um pouco sobre a origem e o desenvolvimento dessa área. Também abordaremos os funda- mentos da Análise Criminal investigativa, seu estado atual com o uso intensivo de recursos tecnológicos, opções de fontes de dados para uso do analista criminal e as principais competências esperadas desse profissional. Identificaremos, ainda, o destaque que a área tem recebido e os esforços promovidos no âmbito do Ministério da Justiça e Segurança Pública para o fomento da Análise Criminal. Desse modo, objetivamos aumentar seu conhecimento acerca de importantes aspectos e recursos que possam contribuir em trabalhos conjuntos com a Inteligência de Segurança Pública para o enfrenta- mento do narcotráfico e do crime organizado. 3.1 BReVe hiSTóRiCO da anÁLiSe CRiMinaL Para começarmos a compreender mais sobre a Analise Criminal, vamos examinar um pouco da sua origem e seu desenvolvimento. Contudo, antes de começarmos a percorrer a história da Análise Cri- minal, é necessário a conceituarmos. De acordo com a Enciclopédia de Ciência Policial: A Análise Criminal é a coleta e o manejo de informações relacionadas ao crime e com dados para discernir padrões dentro desses mesmos dados, com o objetivo de prever, compreender, ou explicar empiricamente o crime e a criminalidade, para avaliar o desempenho de uma agência de justiça criminal do governo, ou para estabelecer o desdobramento tático e estratégico dos recursos humanos de tais agências. (LUM, 2007) Curso FRoNt MÓDULO 5 - TÓPICOS ESPECIAIS EM REPRESSÃO AO NARCOTRÁFICO E AO CRIME ORGANIZADO 37 Este tipo de análise tem sido mais regularmente usado por agências policiais. Contudo, sua utilização também pode ser identificada em outras agências de justiça criminal, bem como no trabalho de cientistas sociais, particularmente no campo da Criminologia, que tem usado múltiplas abordagens analíticas do crime para auxiliar as agências policiais. A Análise Criminal não se restringe a nenhum conjunto específico de ferramentas analíticas, sistemas, tipo de informações ou fontes. Porém, é possível indicar alguns fatores que podem servir como parâ- metros para decidir o modo como a análise será conduzida. Estes são, geralmente, o objetivo da análise, os tipos de dados, necessários ou oportunos, e disponíveis e acessíveis, para subsidiar o atingimento do objetivo da análise e as habilidades analíticas do responsável pela análise (LUM, 2007). Por isso, a capacitação de profissionais que atuam na área ou que com ela tangenciam suas atividades é algo bastante relevante. Você faz parte deste esforço coletivo! 3.1.1 OS PRiMóRDiOS Da aNÁliSE cRiMiNal NO REiNO UNiDO De acordo com Bieck (1995), há duas versões para a origem da Análise Criminal (AC) que apontam para a cidade de Londres, na Inglaterra. Uma delas refere o londrino Henry Fielding, no ano de 1749, como criador da AC. Henry Fielding. Foto: Citações. Já a outra dirige seu olhar para a Polícia Metropolitana de Londres como iniciadora da AC. Ainda conforme Bieck (1995), uma terceira versão atribui indiretamente a criação da AC também aos britâ- nicos. Para esta, a AC teria surgido nos EUA sob influência inglesa, por intermédio do lendário chefe de polícia da cidade de Berkeley, na Califórnia, August Vollmer. Vollmer também é considerado por muitos como o “pai” das polícias norte-americanas modernas. Curso FRoNt MÓDULO 5 - TÓPICOS ESPECIAIS EM REPRESSÃO AO NARCOTRÁFICO E AO CRIME ORGANIZADO 38 August Vollmer. Fonte: Berkeleyside. 3.1.2 HENRy FiElDiNg, a aNÁliSE cRiMiNal E SUa iNFlUêNcia Na cRiaçãO Da POlícia MODERNa Henry Fielding (nascido em Sharpham, Inglaterra, 1707-1754) é uma figura histórica que transcende a Análise Criminal. Ele também é conhecido como um escritor de sátiras focadas na política e na arte. Fielding também foi juiz do Tribunal de Westminster, Londres, Reino Unido. Em tal condição, estabeleceu, em 1749, uma espécie de grupo policial semiformal (pago com verbas do tribunal), alcunhado de “Bow Street Runners” (“Corredores da Rua Bow”, em uma alusão ao antigo endereço do tribunal). O grupo é considerado precursor do que depois viria a ser a Polícia Metropolitana de Londres, ou Scotland Yard, ou “Met”, como é popularmente chamada. Os membros do grupo (originalmente oito deles) atuavam de forma bemsemelhante aos atuais oficiais de justiça brasileiros, cuidando da entrega de mandados judiciais, além de efetuar prisões. Fielding é referido na literatura da Polícia Metropolitana de Londres como o primeiro sistematizador de dados de registros criminais e respectiva análise. Fielding estimulava o público a fazer denúncias de crimes e descrições de seus perpetradores, informações que eram depois consolidadas por ele próprio em uma publicação chamada “The Covent Garden Journal” (1752). Curso FRoNt MÓDULO 5 - TÓPICOS ESPECIAIS EM REPRESSÃO AO NARCOTRÁFICO E AO CRIME ORGANIZADO 39 Fonte: Mcleod (2012). Tal publicação continha dados de descrições e análises, a exemplo de furtos, respectivos autores e bens subtraídos. A publicação passou depois a ser denominada “Police Gazette” (1828), e sua edição ficou sob a responsabilidade da Polícia Metropolitana de Londres (1883). A Enciclopédia Britânica aponta a seguinte entrada para a “Police Gazette”: A “Police Gazette” é uma publicação diária da Polícia Metropolitana de Londres e que contém detalhes de bens subtraídos e pessoas procuradas por crimes cometidos. Ela é distribuída gratuitamente para forças policiais britânicas e para algumas forças policiais europeias. Leia mais sobre a Police Gazette na “Enciclopédia Britânica”, disponível em: https://www. britannica.com/topic/The-Police-Gazette. Saiba MaiS A “Gazette” pode ser considerada a primeira “base de dados”, an- cestral conceitual dos modernos sistemas automatizados de dados. Com a morte de Henry, em 1754, sua função passou a ser ocupada, até 1780, por seu irmão John Fielding. O grupo dos “Bow Street Runners”, em 1805, tornou-se uma patrulha a cavalo organizada por Richard Ford, sucessor de John Fielding. Por essa época, os membros da patrulha montada já trajavam a túnica azul, que caracteriza historicamente os membros da polícia londrina. Foto: © [Denis Feldmann] / Adobe Stock. https://www.britannica.com/topic/The-Police-Gazette https://www.britannica.com/topic/The-Police-Gazette Curso FRoNt MÓDULO 5 - TÓPICOS ESPECIAIS EM REPRESSÃO AO NARCOTRÁFICO E AO CRIME ORGANIZADO 40 Com esses antecedentes, em 1829, Robert Peel criou oficialmente a Polícia Metropolitana de Londres, tida como a instituição que inau- gurou a polícia moderna. A “Met” é considerada mundialmente uma instituição paradigmática da prestação de serviços policiais, precursora das organizações policiais ocidentais modernas, caso, por exemplo, do Departamento de Polícia da Cidade de Nova York (formalmente estabelecido como tal em 1844, 15 anos após a instituição formal da Polícia Metropolitana de Londres). PodcAst TRaNScRiTO A localização de antecedentes históricos da Análise Criminal no Reino Unido, especificamente na Inglaterra e em Londres, dá corpo e, se- gundo alguns, autenticidade, à suposição de que a “Scotland Yard” tenha sido a origem da Análise Criminal. Reunir e sistematizar dados e informações sobre crime, criminosos e questões conexas é instrumental para o processo de descoberta de padrões, tendências, correlações e problemas de segurança pública, objetivo fundamental da Análise Criminal. É possível afirmar que os trabalhos de Henry Fielding, em Londres, caracterizam um empreen- dimento pioneiro de reunir e sistematizar dados e informações sobre o fenômeno criminal, o que seria depois consolidado pela própria Polícia Metropolitana de Londres. 3.1.3 ESTaDOS UNiDOS cOMO POSSívEl lOcal DE ORigEM Da aNÁliSE cRiMiNal Duas versões apontam a origem da Análise Criminal (AC) nos Estados Unidos da América (EUA). Uma delas refere-se a um indivíduo, August Vollmer, enquanto outra aponta o momento inicial da AC ocorrendo nos EUA por conta de uma instituição daquele país, o “Northwestern Traffic Institute” (Instituto de Trânsito do Noroeste). A referência à segunda origem permanece obscura na literatura correspondente (BIECK, 1995). August Vollmer (natural de New Orleans, Louisiana, EUA, 1876-1955) pode ser considerado como: “o pai da profissão policial moderna nos EUA” (MACNAMARA, 1995). Vollmer “dá o tom” da existência e desenvolvimento de uma Ciência Policial ainda no início do século XX. Curso FRoNt MÓDULO 5 - TÓPICOS ESPECIAIS EM REPRESSÃO AO NARCOTRÁFICO E AO CRIME ORGANIZADO 41 Uma atitude intelectual crítica de Vollmer, e que certamente o vincula à disciplina de AC, é seu “olhar” voltado para a regularidade do fenômeno criminal. Ele teria referido, em seu próprio tempo de gestor policial nos idos de 1909, que determinadas ocorrências policiais podem, depois de tabuladas e analisadas, apontar locais de risco para vitimização, o que é hoje reafirmado nas modernas “Teorias da Prevenção Criminal Situacional” (TPCS). Vollmer, sob a legitimidade do seu exercício de docência de Adminis- tração Policial na Universidade da Califórnia, em Berkeley, entre 1932 a 1937, cria uma tradição acadêmica para o ensino e a pesquisa em Segurança Pública/Justiça Criminal/Ciência Policial. Ao mesmo tempo, desenvolve os programas de graduação e mestrado em Criminologia daquela conhecida instituição de ensino superior norte-americana. A respeito do “olhar” de Vollmer voltado para a regularidade do fenômeno criminal, Frank Williams observa que: [...] uma teoria criminológica, a das atividades de rotina, precipitou uma nova abordagem analítica para localização do crime nos chamados ‘pontos quentes’. (WILLIAMS, 1995, p. 181) Com terminologia genérica, era a isso que Vollmer já se referia há mais de um século. Ainda assim, a “linha” de uma Ciência Policial e dos supostos primórdios da AC nos EUA apenas se inicia com Vollmer. Orlando Winfield Wilson, ex-policial sob o comando de Vollmer em Berkeley, sucede seu mentor profissional na docência em Berkeley, seguindo depois para o Departamento de Polícia de Chicago. Em Chicago, a sucessão de “notáveis” da moderna Ciência Policial tem sua continuidade com Herman Goldstein, eventualmente as- sessor da Wilson na polícia de Chicago. Goldstein fica celebrizado pela moderna doutrina de polícia comunitária e respectiva obra seminal, “Policiando uma Sociedade Livre” (traduzida para o português e publicada pela editora da Universidade de São Paulo). A ideia de buscar sentido em conjuntos de registros de ocorrências criminais com as técnicas da Análise Criminal é retomada por Wilson, nos seguintes termos: Curso FRoNt MÓDULO 5 - TÓPICOS ESPECIAIS EM REPRESSÃO AO NARCOTRÁFICO E AO CRIME ORGANIZADO 42 As divisões de análise criminal são responsáveis pelo exame sistemático de boletins diários de ocorrência de determinados crimes, de modo a determinar hora, local, características especiais, semelhanças com outras ocorrências e vários outros fatos significativos que podem contribuir para a identificação de um criminoso ou de um padrão de atividade criminal. (WILSON apud DANTAS; SOUZA, 2004, p. 9) A referência de Wilson às divisões de Análise Criminal remete à questão da finalidade dessa atividade. Ela pode ter conotação tática, estratégica ou administrativa, enquanto a Análise Criminal Investigativa é assim chamada em razão do seu objeto/objetivo de estudo e intervenções. 3.2 FUndaMenTOS da anÁLiSe CRiMinaL InVeSTiGaTiVa Agora que conhecemos um pouco sobre a origem e desenvolvimento da Análise Criminal, vamos conhecer o estado atual da área que tem feito uso intensivo de recursos tecnológicos. Também conheceremos opções de fontes de dados para uso do Analista Criminal e as principais competências esperadas deste profissional. 3.2.1 a aNÁliSE cRiMiNal E aS TEcNOlOgiaS Da INFORMaçãO Na Análise Criminal Investigativa, nos dias de hoje, tem-se feito uso cada vez mais frequente das Tecnologias da Informação (TI) em proveito da Segurança Pública (SP) e da Justiça Criminal (JC). Este uso se tornou viável com a universalização dos microcomputadores e dos dispositivos móveis (smartphones e tablets) e respectivos aplicativos. Alguns exemplos são: Plataforma i2 e ferramentas de Business Intelligence
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