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TCC A Relativização da Coisa Julgada

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CENTRO UNIVERSITÁRIO DE BAURU 
Mantido pela Instituição Toledo de Ensino 
CURSO DE DIREITO 
 
 
 
 
 
PEDRO CURIATI TAMASSIA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A RELATIVIZAÇÃO DA COISA JULGADA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
BAURU 
2021 
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE BAURU 
Mantido pela Instituição Toledo de Ensino 
CURSO DE DIREITO 
 
 
 
 
 
PEDRO CURIATI TAMASSIA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A RELATIVIZAÇÃO DA COISA JULGADA 
 
 
 
Trabalho de Conclusão de Curso 
apresentado à Banca Examinadora do 
Curso de Direito, Centro Universitário de 
Bauru, mantido pela Instituição Toledo de 
Ensino, para a obtenção do grau de 
bacharel em Direito, sob a orientação do 
Professor Doutor Fábio Alexandre Coelho 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
BAURU 
2021
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
T153 Tamassia, Pedro Curiati 
 A relativização da coisa julgada / Pedro Curiati Tamassia. - - 
2021. 
 72 f. 
 
 Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Instituição 
Toledo de Ensino, Centro Universitário de Bauru, Faculdade de 
Direito de Bauru, 2021. 
 Orient. Prof. Fábio Alexandre Coelho 
 
 1. Jurisdição – Ato processual 2. Coisa julgada – Processo 
civil 3. Ação rescisória I. Coelho, Fábio Alexandre. II. Título.
 
 
 CDD 347.077 
PEDRO CURIATI TAMASSIA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A RELATIVIZAÇÃO DA COISA JULGADA 
 
 
Trabalho de Conclusão de Curso 
apresentado à Banca Examinadora do 
Curso de Direito, Centro Universitário de 
Bauru, mantido pela Instituição Toledo de 
Ensino, para a obtenção do grau de 
bacharel em Direito, sob a orientação do 
Professor Doutor Fábio Alexandre Coelho 
 
 
 
Banca Examinadora: 
_________________________________ 
_________________________________ 
_________________________________ 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
_________/_________/_________ 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dedico este trabalho a meus pais, pois são 
minha maior inspiração, sem eles nada 
disso seria possível. Dedico a toda a minha 
família e aos meus amigos que me 
acompanharam nessa caminhada, 
tornando-a mais leve e serena. 
AGRADECIMENTOS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Agradeço primeiramente a Deus, pela 
oportunidade de estar aqui hoje. 
Aos meus pais, Hugo e Ana, e ao meu 
irmão, Vitor, por me incentivarem, pela 
calma e paciência que tiveram comigo, 
mesmo diante da pandemia e dos 
problemas dela decorrentes. 
Aos meus amigos que me acompanharam 
a todo tempo e me ajudaram, direta ou 
indiretamente. 
A todos os professores da graduação, que 
contribuíram com seus conhecimentos 
para a minha formação, assim como dos 
demais graduandos do curso. 
Por fim, ao meu professor e orientador 
Doutor Fábio Alexandre Coelho, pelo 
suporte, pelas correções e conselhos 
passados ao longo da elaboração deste 
trabalho, os quais foram essenciais para a 
sua devida conclusão. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“A injustiça num lugar qualquer é uma 
ameaça à justiça em todo o lugar”. 
Martin Luther King 
RESUMO 
 
Este Trabalho de Conclusão de Curso tem por escopo apresentar a coisa julgada e 
sua possível relativização. Iniciamos falando sobre a jurisdição, seu conceito e 
finalidade, bem como suas diversas espécies. Logo após, adentramos ao tema do 
direito de ação, explicando brevemente a ascensão do Estado e seu poder de tutela 
sobre a sociedade. Demonstramos, ainda, o conceito e finalidade desse direito, assim 
como as condições e elementos que o compõe. Em seguida, falemos sobre os atos 
processuais, mais especificamente os pronunciamentos judiciais, os quais são 
divididos em sentenças, decisões interlocutórias e despachos. Dando seguimento, 
abordamos os valores da segurança jurídica e justiça, indicando a importância de cada 
um deles nas relações jurídico-sociais, suas conciliações e eventuais conflitos quando 
das decisões judiciais. Posteriormente, discorremos sobre a coisa julgada, sua 
definição, suas espécies, seus limites objetivos e subjetivos e, por fim, considerações 
acerca do seu enquadramento como direito fundamental e cláusula pétrea. No 
capítulo seguinte apresentamos a ação rescisória, meio de impugnação previsto em 
lei para decisões judiciais já transitadas em julgado. Dissertamos sobre seu 
procedimento e elencamos os vícios decisórios que permitem o uso desta ação 
desconstitutiva. Finalmente, abordamos a relativização da coisa julgada, momento em 
que explicamos o que seria ‘’relativizar’’, e sua possibilidade perante situações injustas 
que colocam em riscos a ordem social e o bem comum. Verificamos teses de diversos 
doutrinadores a favor e contra essa teoria. Concluímos, assim, com algumas 
hipóteses de relativização da coisa julgada, primeiramente apresentando o advento 
do exame de DNA e as incertezas oriundas das decisões transitadas em julgado 
baseadas apenas em meios duvidosos e pouco fiéis, como provas testemunhais e 
tipos sanguíneos, onde foi necessária a relativização para sanar estes possíveis 
vícios. Ainda, falamos sobre as ações envolvendo a Serra do Mar e Ilha do Cardoso, 
casos em que foram aplicadas indenizações altíssimas e excessivas em face da 
fazenda pública, sendo extremamente necessária a revisão da sentença e dos laudos 
periciais ali realizados. Por último, foi apresentado a ação de nulidade ‘‘querela 
nullitatis’’, usada para impugnar decisões judiciais já transitadas em julgado, quando 
não é permitido o uso da ação revocatória. 
 
Palavras-chave: Coisa julgada. Relativização. 
ABSTRACT 
 
This Course Conclusion Paper aims to present the concept of res judicata and its 
possible relativization. We begin by talking about jurisdiction, its concept and purpose, 
as well as its several species. Soon after, we will go into the theme of the right of 
action,briefly explaining the rise of the State and its power to protect society. We also 
demonstrate the concept and purpose of this right, as well as the conditions and 
elements that compose it. Next, let's talk about the procedural acts, more specifically 
the judicial pronouncements, which are divided into sentences, interlocutory decisions, 
and orders. Next, we will discuss the values of legall security and justice, indicating the 
importance of each one in legal-social relations, their reconciliation, and eventual 
conflicts in judicial decisions. Afterwards, we will discuss about res judicata, its 
definition, its species, its objective and subjective limits and, finally, considerations 
about its framework as a fundamental right and as a basic right and a fundamental 
clause. In the following chapter, we present the action, a means of challenging judicial 
decisions that have already become final and unappealable., we discuss its procedure 
and list the flaws in the decisions that allow the use of this deconstitutional action. And 
last but least, we discuss the relativization of res judicata at which time we explain what 
"relativize" means, and the possibility of relativizing it when faced with unfair situations 
that put at risk the social order and the public welfare. We verify the thesis of several 
scholars in favor and against this theory. Therefore, we conclude with some 
hypotheses of relativization of the res judicata, first the advent of DNA testing and the 
doubts arising from the final and unappealable decisions based only on doubtful and 
unreliable means, such as testimonial evidence and blood types, where the 
relativization was necessary to remedy these possible vices. We also talked about the 
lawsuits involving Serra do Mar and Ilha do Cardoso, cases in which very high and 
excessive indemnities were applied againstthe public treasury, making it extremely 
necessary to revise the sentence and the expert reports carried out there. Finally, the 
nullity action "querela nullitatis" was presented, used to contest judicial decisions that 
have already become final and unappealable, when they use the of revocatory action 
is not allowed. 
 
Keywords: Thing judged. Relativization. 
SUMÁRIO 
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................. 10 
 
2 DA JURISDIÇÃO ......................................................................................... 12 
2.1 Conceito E Finalidade ................................................................................ 12 
2.2 Espécies De Jurisdição ............................................................................. 13 
2.2.1 Jurisdição Contenciosa Ou Voluntária .......................................................... 13 
2.2.2 Jurisdição Civil Ou Penal.............................................................................. 14 
2.2.3 Jurisdição Superior Ou Inferior ..................................................................... 15 
2.2.4 Jurisdição Federal Ou Estadual ................................................................... 16 
2.2.5 Jurisdição De Direito Ou De Equidade ......................................................... 16 
2.3 O Processo Como Instrumento Da Jurisdição ......................................... 17 
 
3 DO DIREITO DE AÇÃO ............................................................................... 18 
3.1 Conceito E Finalidade ................................................................................ 18 
3.2 Condições Da Ação .................................................................................... 19 
3.3 Elementos Da Ação .................................................................................... 21 
 
4 DOS ATOS PROCESSUAIS ........................................................................ 24 
4.1 Definição ..................................................................................................... 24 
4.2 Pronunciamentos Judiciais ....................................................................... 25 
4.2.1 Classificação Das Sentenças ....................................................................... 28 
4.2.2.1 Sentença Declaratória .................................................................................. 28 
4.2.2.2 Sentença Constitutiva .................................................................................. 29 
4.2.2.4 Sentença Mandamental ............................................................................... 30 
4.2.2.5 Sentença Executiva ...................................................................................... 31 
4.2.3 Decisões Interlocutórias ............................................................................... 31 
4.2.4 Despachos ................................................................................................... 32 
 
5 DA SEGURANÇA JURÍDICA E JUSTIÇA ................................................... 34 
5.1 Noções Gerais Sobre Segurança Jurídica ............................................... 34 
5.2 Noções Gerais Sobre Justiça .................................................................... 34 
5.3 Conciliações E Conflitos Entre Os Institutos ........................................... 36 
 
6 DA COISA JULGADA ................................................................................. 38 
6.1 Definição ..................................................................................................... 38 
6.1.1 Coisa Julgada Formal E Material .................................................................. 39 
6.2 Limites ........................................................................................................ 41 
6.2.1 Limites Objetivos .......................................................................................... 42 
6.2.2 Limites Subjetivos ........................................................................................ 43 
6.3 Direito Fundamental E Cláusula Pétrea .................................................... 44 
 
7 DA AÇÃO RESCISÓRIA ............................................................................. 47 
7.1 Definição ..................................................................................................... 47 
7.2 Vícios Decisórios Que Permitem O Uso Da Ação Rescisória ................. 48 
7.2.1 Prevaricação, Concussão Ou Corrupção Do Juiz ......................................... 48 
7.2.2 Juiz Impedido Ou Absolutamente Incompetente .......................................... 49 
7.2.4 Ofender A Coisa Julgada ............................................................................. 50 
7.2.5 Violar Manifestamente Norma Jurídica ......................................................... 50 
7.2.6 For Fundada Em Prova Cuja Falsidade Tenha Sido Apurada Em Processo 
Criminal Ou Venha A Ser Demonstrada Na Própria Ação Rescisória ........... 51 
7.2.7 Obtiver O Autor, Posteriormente Ao Trânsito Em Julgado, Prova Nova Cuja 
Existência Ignorava Ou De Que Não Pôde Fazer Uso, Capaz, Por Si Só, De 
Lhe Assegurar Pronunciamento Favorável ................................................... 51 
7.2.8 For Fundada Em Erro De Fato Verificável Do Exame Dos Autos ................. 51 
 
8 DA RELATIVIZAÇÃO DA COISA JULGADA .............................................. 53 
8.1 O Que Seria ‘’Relativizar’’? ........................................................................ 53 
8.2.1 Teses A Favor Da Relativização .................................................................. 55 
8.2.2 Objeções À Relativização............................................................................. 56 
 
9 EPISÓDIOS DE RELATIVIZAÇÃO DA COISA JULGADA .......................... 58 
9.1 Ação De Investigação De Paternidade ...................................................... 59 
9.2 Serra Do Mar E Ilha Do Cardoso ............................................................... 62 
9.3 Ação Declaratória De Nulidade Ou Anulatória ......................................... 65 
 
10 CONCLUSÃO .............................................................................................. 68 
 
 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................ 70 
 
10 
1 INTRODUÇÃO 
 
O presente trabalho pretende analisar o instituto da coisa julgada e sua possível 
relativização. Antes de tudo, relativizar a coisa julgada seria quebrar a tão respeitável 
intangibilidade do instituto da coisa julgada, a fim de fazer prevalecer um valor jurídico 
que, em determinados casos, se verifica mais importante. 
Nesse sentido, há diversos entendimentos a favor e contra essa possibilidade. 
Correto seria preservar a justiça ante qualquer pretexto, permitindo assim a revisitação 
de decisões já transitadas em julgado? Isto é, vulnerabilizar a segurança jurídica 
permitindo uma violação do instituto enquadrado como cláusula pétrea? Ou dar à 
segurança jurídica prevalência perante os demais valores, de forma a proibir qualquer 
infringência que colida com normas de força constitucional? Esse é o grande dilema 
Para o estudo desse tema, fez-se necessário a contextualização das questões 
que o rodeiam, de modo que o entendimento fique didático e transparente. 
Portanto, essa contribuição acadêmica se inicia com a jurisdição, sendo esta o 
meio utilizado pelo Estado para ministrar a justiça, isto é, aplicando o direito aos 
acontecimentos e litígios sociais. A jurisdição é composta por diversas espécies,as 
quais correspondem à sua respectiva área de atuação, e é exercida através do 
processo, instrumento jurídico competente para tanto. 
Após, adentra-se ao direito de ação, o qual, através da ascensão do Estado e 
o consequente declínio da justiça privada, serviu-se de meio para assegurar aos 
cidadãos o acesso à justiça e a satisfação de seus interesses. É através desse direito 
que as pretensões individuais e coletivas alcançam o devido provimento jurisdicional. 
São abordados, ainda, as condições e os elementos que compõe o direito aqui 
referido. 
Em seguida, as considerações feitas são em torno dos atos processuais, 
principalmente os pronunciamentos judiciais, entendidos pelas manifestações do juiz 
no processo, compreendidas por sentenças, decisões interlocutórias e despachos. 
Demonstra-se aqui a natureza dos pronunciamentos, alguns decisórios, outros não, 
dando maior atenção às sentenças, às quais correspondem ao ato judicial que põe 
fim ao processo ou a uma fase processual, com ou sem resolução do mérito. 
No próximo capítulo são abordados os valores da segurança jurídica e da 
justiça. O estudo de tais valores é importantíssimo, haja vista estarem diretamente 
conectados à relativização da coisa julgada. É através da prevalência da justiça ante 
o valor da segurança jurídica que se admite a relativização; e, por outro lado, as teses 
11 
objetas à relativização entendem por correto a prevalência da segurança jurídica, 
quando em conflito com os demais valores. 
No sexto capítulo a coisa julgada é apresentada, sendo definida pela qualidade 
conferida aos efeitos das decisões que não admitem mais recursos. Suas 
modalidades, seus limites e seu enquadramento como direito fundamental e cláusula 
pétrea são demonstrados a fins de reforçar tamanha importância deste instituto. 
Posteriormente, coloca-se em pauta a ação rescisória, meio legal para a 
desconstituição de sentenças já transitadas em julgado. Trata-se também de uma 
forma de relativização da coisa julgada, porém esta é prevista em lei e possui um 
prazo de 2 (dois) anos para sua propositura, contados do trânsito em julgado da 
decisão. Vale ressaltar que essa ação só é permitida nas hipóteses previstas no rol 
taxativo do art. 966 do Código de Processo Civil. 
Realizada as devidas considerações preliminares, versa-se sobre o tema 
principal do presente trabalho, qual seja, a relativização da coisa julgada. Fez-se, 
inicialmente, uma análise sobre o significado do verbo ‘’relativizar’’ entendido como 
aquilo que retira a absolutoriedade de algo, dando-lhe valor e caráter relativo. 
Nesse ponto, explica-se todo o contexto da relativização, bem como as teses 
que circundem o tema. Verificamos a visão doutrinária, indicando as teses a favor da 
relativização, com a supremacia da justiça nas relações sociais; e as contrárias à 
relativização, onde se observa como prevalente a intangibilidade do instituto, 
prezando-se, acima de tudo, pela segurança jurídica como valor essencial para se 
alcançar o bem-estar social. 
E então, são expostos entendimentos de juristas e ministros a respeito do tema 
até que, prontamente, faz-se referência a hipóteses e situações em que foi necessário 
o uso da relativização da coisa julgada, mais precisamente a respeito das 
investigações de paternidade e o caso Serra do Mar e Ilha do Cardoso. 
Por fim, é apresentado a querela nullitatis, ação autônoma utilizada para 
rescindir ou anular decisões judiciais transitada em julgado, quando não se mostra 
possível a utilização da ação revocatória e se tem por necessária para o alcance da 
devida e tão almejada justiça. 
12 
2 DA JURISDIÇÃO 
 
2.1 Conceito e Finalidade 
 
É nomeado jurisdição o poder pelo qual o Estado se utiliza para aplicar o direito 
ao caso concreto, objetivando, assim, resguardar a ordem jurídica e a aplicação da 
lei. 
O termo jurisdição vem do latim, que significa dizer o direito (juris=direito, 
dição=dizer). Todavia, não basta apenas dizer ou declarar o direito, é necessário 
reconstruir a norma jurídica mediante uma atividade interpretativa, de forma que o 
texto legal esteja convergente aos respectivos valores constitucionais e direitos 
fundamentais. 
Se a jurisdição é a manifestação do poder do Estado, é fato que esta deve 
refletir a finalidade primordial deste. O Estado, por meio da constituição, se obriga a 
construir uma sociedade justa e solidária e a reduzir a marginalização e pobreza, bem 
como as desigualdades sociais e regionais, erradicando qualquer forma de 
preconceito, seja ele por raça, cor, idade ou quaisquer outras formas de discriminação. 
Sendo assim, a finalidade da jurisdição deve, obrigatoriamente, compactuar com 
essas ideias e aplicá-las na prática. 
A Jurisdição surgiu como uma necessidade de sobrevivência do Estado, na 
perspectiva de impedir que a autodefesa imoderada e descontrolada, levasse a 
sociedade ao caos e à extrema desordem, acarretando à população um excesso de 
autoritarismo, sendo o extremo oposto do ideal, para quando se almeja uma 
sociedade civilizada e bem estruturada juridicamente. 
Menciona o ilustre doutrinador Sergio Bermudes (2006, p. 29): A Jurisdição, 
‘’como tantas outras instituições jurídicas, é produto da experiência da humanidade, 
forjada através dos tempos’’. 
É entendida como uma das manifestações de soberania do Estado, e é 
exercida em nome do povo (Art. 1° da CF, parágrafo único). 
Para Chiovenda, a jurisdição ‘’consiste na atuação da lei mediante a 
substituição da atividade alheia pela atividade de órgãos públicos, afirmando a 
existência de uma vontade da lei e colocando-a, posteriormente, em prática’’ (1989, 
p. 369). 
13 
Podemos conceituá-la, portanto, como uma atividade pela qual o Estado, de 
maneira eficaz e plena, exerce seu poder de extinguir a lide, declarando e realizando 
o direito, e aplicando a lei diretamente ao caso concreto. 
A título complementar, a lide é eliminada através da declaração e aplicação do 
direito incidente ao caso concreto (processo de conhecimento), ou por meio da 
realização do direito (processo de execução). Esse é o principal escopo da jurisdição, 
qual seja, eliminar o conflito de interesses existente entre as partes. 
Assim como grande parte da doutrinada a classifica, faz-se plausível e viável 
caracterizar a jurisdição pelas seguintes características: I - Secundária, visto que a 
princípio o conflito deveria ser pacificado tão somente entre as partes, mas quedou-
se necessário o auxílio do poder judiciário; II - Instrumental, porque é o meio pelo qual 
a coletividade se utiliza para solucionar um conflito de interesse através da aplicação 
do direito e da justiça no caso concreto; III - Declarativa ou Executiva, vez que o 
Estado, por meio da jurisdição, decide o mérito com a declaração ou execução de 
direitos previstos em lei; IV - Provocada, posto que o Estado-Juiz é inerte, e deve ser 
necessariamente provocado para que possa prestar a atividade jurisdicional sobre a 
pretensão da parte provocadora. 
Além das características supracitadas, vale ressaltar a imparcialidade do juiz, 
o qual aplica ao caso concreto a vontade da lei e da justiça, e não meramente das 
partes. 
 
2.2 Espécies de Jurisdição 
 
Ainda sobre sua caracterização, faz-se necessário dividir a jurisdição em 
espécies para que, num âmbito doutrinário, possa se entender melhor como são 
classificadas e quais os critérios para tal. 
 
2.2.1 Jurisdição contenciosa ou voluntária 
 
Como já dito, o Estado, por meio da jurisdição, veta o direito à autotutela do 
indivíduo no que concerne aos seus interesses litigantes. É nesse plano que a 
jurisdição contenciosa aparece, carregando sempre consigo o litígio, o conflito, a lide; 
e a ação, o processo e sua coisa julgada. 
Pois bem, a jurisdição contenciosa busca a eliminação da lide pela aplicação 
do direito no caso concreto. É marcada, portanto, por polos antagônicos, onde, de um14 
lado existe o autor com o seu interesse lesado; e do outro, o réu, aquele em que se 
presume ter praticado atos dos quais vão contra o interesse e a ordem social. Essa 
jurisdição é imperativa, vez que o juiz, por meio de uma análise de todas as 
informações contidas no processo, impõe uma decisão com o escopo de solucionar a 
lide, e pacificar a relação antes conflitante. 
Nesse contexto, explica Athos Gusmão Carneiro: ‘’possível é, também, 
conceituar a jurisdição como o poder (e o dever) de declarar a lei que incidiu e aplica-
la, coativa e contenciosamente, aos casos concretos’’ (2008 p. 03). 
Já na jurisdição voluntária, prevista nos art. 1103 ao 1210, do Código de 
Processo Civil, não se fala em lide, mas em questões de interesse privado que, por 
força legislativa, devem ter a sanção do poder público em virtude da responsabilidade 
e integridade do poder judiciário perante a sociedade, com o objetivo de sanar 
possíveis conflitos futuros, bem como irregularidades e vícios na formação do ato 
jurídico. 
Dispõe Chiovenda (1943, p. 17): 
A jurisdição voluntária é uma forma especial de atividade do Estado, 
exercitada em parte pelos órgãos judiciários, em parte pelos administrativos, 
e pertencente à função administrativa, embora distinta da massa dos atos 
administrativos, por certos caracteres particulares. 
 
Ainda sobre o tema, expressa Candido Dinamarco (2002, p. 322): 
A jurisdição voluntária é a atividade jurisdicional destinada a pacificar pessoas 
mediante a tutela a uma delas ou a ambas, em casos de conflitos postos 
diante do juiz sem confronto entre possíveis direitos de uma ou de outra. 
Aborda como características: é atividade jurisdicional e não administrativa, 
destina-se à tutela de pessoas em casos de conflitos, não consiste em dirimir 
diretamente conflitos entre ela, consequentemente, não são julgadas 
pretensões antagônicas e destina-se a dar tutela a uma das partes, 
previamente determinada, ou a ambas, sem se colocar para o juiz a escolha 
entre tutelar uma delas ou a outra. 
 
Se distinguem, principalmente, portanto, com relação ao conflito de interesses, 
que é presente na jurisdição contenciosa, acarretando uma sentença, obrigação 
judicial que vincule a parte contrária; e ausente na jurisdição voluntária, vez que se 
trata de mero procedimento, buscando uma situação que é necessária à proteção de 
uma ou ambas as partes. Aqui, ambos os sujeitos da relação processual podem ser 
beneficiados. 
 
2.2.2. Jurisdição civil ou penal 
 
15 
A divisão dessas esferas jurisdicionais tem o condão de separar de um lado os 
litígios relacionados a matéria penal, e do outro, aqueles referentes às causas de 
natureza não penal. 
Vale afirmar, portanto, que essa divisão da jurisdição se fez em função da 
matéria, como se verifica na polida argumentação do professor Fábio Alexandre 
Coelho (2016, p. 305): 
Quando estamos perante a formulação de pretensões punitivas, de causas 
penais, fala-se em jurisdição penal, responsável pela ‘’atuação das normas 
penais, que se caracterizam por definirem os fatos puníveis (crimes e 
contravenções) e lhes cominarem penas, que são as mais graves das 
sanções’’. Quanto à jurisdição civil, é definida por exclusão, abrangendo toda 
a jurisdição que não possua caráter penal. 
 
Desta forma, não fica difícil entender essa distinção, tendo em vista a jurisdição 
civil, num sentido amplo, abranger toda a jurisdição não penal, ou também chamada 
de extrapenal. 
Ocorre que a jurisdição é una e indivisível, sendo está uma de suas 
características incontrastáveis. Fica, assim, pouco obscuro o entendimento dessa 
separação. Vejamos. 
A jurisdição civil não se distingue em substância da jurisdição penal, posto que 
o ilícito penal nada mais é do que o agravamento de uma anterior ilicitude civil, sendo 
diferidas somente a sanção a elas cominadas, com o escopo de reforçar os valores 
preservados pelo Estado, e suas consequentes violações. 
Vale também fazer uma breve referência a possibilidade de ambas jurisdições 
se relacionarem em algumas hipóteses, sendo, em alguns casos, imprescindível a 
atuação de uma para o melhor desmembramento da outra. Como por exemplo no 
caso da suspensão prejudicial do processo crime, onde queda-se extremamente 
relevante o deslinde de uma questão de natureza civil para a efetiva continuidade da 
prestação jurisdicional penal. 
 
2.2.3 Jurisdição superior ou inferior 
 
Essa divisão é amparada diretamente pelo princípio do duplo grau de jurisdição, 
que expressa a possibilidade de a parte prejudicada por uma decisão em interpor um 
recurso e, desta feita, pleitear sua alteração objetivando satisfazer sua pretensão. 
Por jurisdição inferior entende-se o primeiro grau, qual seja, o juiz (juízo ‘’a 
quo’’). Aquele em que primeiro irá analisar a demanda e decidirá o mérito através de 
16 
sua competência originária. É exercida nas unidades denominadas comarcas no 
âmbito estadual. 
A jurisdição superior corresponde à análise em segundo grau, realizada pelos 
desembargadores (juízo ‘’ad quem’’), exercida no tribunal de justiça de cada Estado, 
quando se trata de Justiça Estadual. É este órgão que receberá os recursos 
interpostos em jurisdição inferior, visando a correção da decisão impugnada. 
Ainda que, como regra, a análise das demandas se dê da forma explicada 
acima, há casos em que o legislador entende que determinadas demandas sejam 
analisadas originariamente pelo órgão superior, em razão de algumas circunstâncias 
como a qualidade das partes, natureza do processo, etc. 
 
2.2.4 Jurisdição federal ou estadual 
 
As justiças federais e estaduais são integradas por diversos órgãos 
jurisdicionais brasileiros. A primeira tem sua abrangência definida de forma taxativa e 
é subdividida em justiça federal especializada ou comum, conforme atue em matérias 
específicas ou não. Nesse contexto, temos que a justiça federal especializada compõe 
a justiça do trabalho, eleitoral e militar; enquanto a justiça federal comum engloba os 
juízes federais e tribunais regionais federais. Embora se tratem de órgãos de 
superposição, o STF e o STJ também fazem parte da justiça federal. Num âmbito 
estadual, por sua vez, a justiça atua em matérias comuns ou residuais, vez que não 
compete a ela apreciar matéria específica. Sendo assim, resta à jurisdição estadual 
atender as demandas pelas quais a justiça federal não seja competente. 
 
2.2.5 Jurisdição de direito ou de equidade 
 
Para exercer sua função jurisdicional, o julgador pode utilizar-se de fonte o 
direito enquanto norma jurídica, num sentido amplo; ou, pode optar, em determinadas 
ocasiões, pela utilização da equidade. 
Na jurisdição de direito, o juiz simplesmente aplica a lei (texto normativo 
abstrato) ao caso concreto, se baseando unicamente no fato e sua respectiva previsão 
legal. 
A jurisdição por equidade, numa breve síntese, se refere ao julgamento em que 
o juiz não se limita à previsão legal, ou seja, a lei não determina precisamente a 
atuação do juiz, podendo ele, a partir do caso concreto, se valer de seu conhecimento 
17 
e experiência sobre o ordenamento jurídico como um todo e, assim, elaborar a decisão 
que entende justa e adequada para o caso. 
Neste sentido, expressa Fábio Alexandre Coelho (2016, p. 313): 
Em linhas gerais, existe a seguinte diferença entre a jurisdição baseada no 
direito e a fundada na equidade. Na jurisdição de direito a norma aponta antes 
da ocorrência dos fatos (ante factum), de forma abstrata, os comandos 
jurídicos que serão utilizados para a solução das controvérsias. Ao contrário, 
na jurisdição fundada na equidade o comando aplicável é estabelecido após 
a ocorrência do fato (post factum), em concreto, pelo juiz. 
 
São hipóteses de situações em que decide o juiz por equidade: fixação de 
alimentos, decisão na arbitragem, decisões dos juizados especiais cíveis e criminais, 
fixação do alcance da indenização, etc. 
 
2.3O processo como instrumento da jurisdição 
 
Ao estudar o instituto da jurisdição, verificamos sua extrema importância e 
significância para a resolução dos conflitos e a pacificação social. Porém, para a 
aplicação dessa tutela jurisdicional, é necessário um instrumento jurídico, sendo este, 
o processo. 
Para sua definição, vale a pena apontar a etimologia da palavra, posto que 
’processo’ vem do latim ‘procedere’, sendo pro, ‘à frente’ e cedere, ‘caminhar’. Sua 
definição etimológica já antecipa sua função, qual seja, de desenvolvimento, de 
prosseguimento dos atos processuais. 
Na conceituação de Maria Helena Diniz, o processo corresponde a um: 
Conjunto de atos necessários e que devem ser praticados numa ordem 
preestabelecida, para esclarecimento da controvérsia e para a obtenção de 
uma solução jurisdicional para o caso sub judice’’ ou, ainda, ‘’forma que, 
segundo os preceitos legados, a ação toma no seu curso (2017, p. 490). 
 
Ainda como forma de conceito, assevera Fábio Alexandre Coelho ‘’é possível 
definir processo como o instrumento utilizado pelo Estado para prestar a tutela 
jurisdicional’’ (2016, p. 409). Neste sentido fica ainda mais claro o objetivo do 
processo, servindo-se de meio para que as demandas jurisdicionais (através do direito 
de ação, que estudaremos a seguir) sejam tramitadas pelo poder judiciário, 
pretendendo-se atingir a satisfação do interesse das partes. 
18 
3 DO DIREITO DE AÇÃO 
 
3.1 Conceito e finalidade 
 
Nos tempos antigos, o monopólio estatal na solução de conflitos não existia, e 
os litígios e conflitos eram solucionados por iniciativa privada, onde cada pessoa 
exercia a proteção de seus direitos individualmente, usando, para tanto, dos meios 
que lhes eram disponíveis, tais como a força, a violência, entre outros. Em outros 
termos, era permitido a autotutela, bem como a chamada ‘’justiça com as próprias 
mãos’’. 
Evidentemente que, com a evolução da sociedade, a justiça privada não se 
manteria por muito tempo, assim como de fato ocorreu. Com a ascensão do Estado e 
da racionalidade social, a justiça privada se esvaiu, e o Estado passou a tomar conta 
das lides e conflitos da população, aplicando-se a tutela jurisdicional e proibindo 
àqueles atos que forem contra esse método de governo. 
“A lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a 
direito’’, dispõe o art. 5°, inc. XXXV da CF, que se atrela diretamente ao direito de 
ação, sendo um direito público subjetivo do cidadão. O direito aqui referido foi 
consagrado no ordenamento jurídico pátrio como o direito de acesso à justiça para a 
defesa da violação dos direitos individuais do homem. Não se vislumbra somente na 
ciência jurídica, mas em qualquer outra ciência. Há uma ligação entre o que se almeja, 
a sua causa, e qual a melhor forma de alcançar esta pretensão. 
Com relação ao texto normativo citado, explica Vicente Greco Filho (2013, p. 
61): 
Nesse dispositivo acha-se garantida a faculdade de pedir ao Judiciário a 
reparação da lesão de direito, praticada por particulares ou pelos próprios 
agentes do poder público, de tal forma que nem mesmo as leis processuais 
poderão estabelecer hipóteses que impeçam o exercício desse direito. 
 
O direito de ação é o instituto através do qual a parte lesada ou ameaçada se 
utiliza a fim de alcançar a tutela jurisdicional, isto é, o meio por onde ela irá levar às 
portas do judiciário o pedido de prestação jurisdicional, objetivando a satisfação de 
seu interesse e, portanto, a solução do litígio. 
Vinculado ao princípio da inafastabilidade da tutela jurisdicional, o direito de 
ação visa preservar o direito que detém o indivíduo de ingressar em juízo para obter 
do judiciário uma resposta. Em contrapartida, destaca-se a obrigação do Estado em 
responder as demandas que lhes são dirigidas. 
19 
Vale ressaltar que há uma distinção doutrinária entre o direito realmente lesado 
ou ameaçado, assim chamado de direito material, objetivo ou substantivo; e o direito 
processual, também chamado de formal ou adjetivo. Essa distinção surge em meados 
do século XVIII, juntamente com as teorias que davam autonomia ao processo judicial. 
A partir do momento em que há esta separação, é relevante esclarecermos 
isoladamente o conceito de cada um deles. 
O primeiro direito é aquele que diz respeito aos bens da vida ou bens jurídicos 
titulados por uma pessoa, como o direito à vida, à saúde, ao trabalho, dentre outros 
protegidos pela Constituição, bem como, no plano infraconstitucional (código civil, por 
exemplo), o direito de personalidade, de família, reais e assim por diante. No direito 
material, portanto, observa-se o conteúdo dos direitos, tratando-se dos fatos jurídicos 
sobre os quais incidem as normas jurídicas. 
 Em contrapartida, o segundo direito, o processual, é apenas um instrumento 
por meio do qual os bens jurídicos ou bens da vida são protegidos, atuando como um 
mecanismo de proteção do direito material. 
 
3.2 Condições da Ação 
 
O direito subjetivo da ação é exercido pela prestação jurisdicional através do 
processo, onde, após seu trâmite e o posterior julgamento, será concebido uma 
resposta favorável ou não à sua pretensão. Assim, para a obtenção dessa efetiva 
prestação jurisdicional, fica necessária a observância de alguns pressupostos e 
requisitos que, se ignorados, impossibilitam o prosseguimento da ação. 
É importante estabelecer que, para a regular tramitação da demanda, é 
necessário o integral atendimento aos pressupostos processuais, bem como às 
condições da ação. Para isso, faremos uma breve síntese do primeiro instituto, para 
depois discorrer sobre o segundo. 
Os pressupostos processuais são divididos em: objetivos, por sua vez, 
abrangendo os atos que ocorrem dentro do processo (intrínsecos) e as circunstâncias 
que impedem ou podem impedir a constituição da relação processual (extrínsecos); e 
subjetivos, os quais dizem respeito aos sujeitos da relação jurídica, ou seja, as partes 
e o juiz. Correspondem ao plano da validade e existência da ação. Sua exigência é 
condição para que, na relação jurídica processual, se permita o desenvolvimento 
válido e regular da atividade processual. 
20 
As condições da ação, objeto principal deste capítulo, por seu turno, dizem 
respeito aos requisitos constitutivos da prestação jurisdicional. 
O CPC de 1973 consagrou de forma expressa as condições da ação em seu 
art. 267, VI, que permitia a extinção do processo, sem resolução do mérito, quando 
carecia qualquer das condições da ação, definidas em: possibilidade jurídica do 
pedido, legitimidade das partes e interesse processual. 
No entanto, o atual CPC, de 2015, não prevê mais a ‘’possibilidade jurídica do 
pedido’’ como hipótese de condição da ação, posto que sua ausência não causaria a 
extinção do processo ou o indeferimento da petição inicial. Assim, com a nova 
redação, entende-se que a possibilidade jurídica do pedido deve ser analisada no que 
diz respeito ao mérito da demanda, e não meramente em sua inadmissibilidade. 
Nesse contexto, expressa o art. 17 do CPC: ‘’Para postular em juízo é 
necessário ter interesse e legitimidade’’. Ainda, dispõe o art. 485, VI, do mesmo 
código: ‘’O juiz não resolverá o mérito quando verificar a ausência da legitimidade ou 
de interesse processual’’. O novo texto normativo deixa, portanto, de enquadrar a 
possibilidade jurídica do pedido como condição da ação, e, ainda, não se utiliza mais 
do termo ‘’condições da ação’’ para se referir aos requisitos. 
Neste prisma, a primeira condição da ação é o interesse de agir, que nos 
dizeres de Fábio Alexandre Coelho (2016, p. 364): 
Consiste na vantagem aferida com a obtenção da providência jurisdicional 
solicitada. Corresponde, assim, ao interesse processual voltado para a tutela 
do direito material. Em outras palavras, serve para comprovar que sem o 
processo não há como titular o direito material. Porisso, representa a 
demonstração da necessidade da tutela jurídica postulada. 
 
O interesse de agir, portanto, figura como o interesse processual de fato, 
expresso na necessidade da prestação da tutela jurisdicional para solucionar o litígio, 
almejando assim alcançar a benesse pretendida. 
É de praxe, ainda, sintetizar o interesse de agir através de um binômio, 
constituído pela necessidade e adequação. Sendo assim, é essencial que a parte 
demonstre a necessidade da tutela jurisdicional, bem como que se tenha servido dos 
meios normativos adequados à provisão objetivada. 
A necessidade seria observada, por exemplo, numa situação em que o réu se 
nega a pagar uma dívida ao credor, sendo necessária a utilização da tutela 
jurisdicional; e a adequação, no mesmo exemplo, seria verificada pelo uso dos meios 
adequados para se valer da referida tutela, como a impetração de uma ação de 
execução, onde se requer certeza, liquidez e exigibilidade. 
21 
Por último, analisaremos a segunda condição da ação, a legitimidade de parte. 
A legitimidade diz respeito, no plano material, à titularidade na relação jurídica, seja 
ela ativa ou passiva e, no plano processual, a capacidade de atuar em juízo. É por 
meio dela que podemos definir se um indivíduo é legítimo ou não para figurar como 
parte no processo e fazer valer seu interesse de agir e o consequente uso da ação. 
Quando nos referimos à titularidade das partes (autor e réu) no conflito, 
entende-se a legitimidade como ordinária ou comum, posto que são elas as principais 
responsáveis pela defesa de seu interesse no processo. Em outras palavras, essa 
espécie de legitimidade é atribuída àquele que teve seu direito lesado ou ameaçado, 
atuando no polo ativo, bem como àquele contra quem é apresentada a pretensão, 
desta vez, no polo passivo. 
Nesse sentido, a regra é que possui legitimidade ordinária somente os supostos 
participantes da relação jurídica processual, quais sejam, o autor e o réu. Mas, há, 
como forma de exceção, duas hipóteses em que a parte não participa dessa relação, 
e ainda assim, é provida deste tipo de legitimação. É o caso da responsabilidade 
decorrente da lei, como por exemplo num prejuízo causado pelo filho e arcado por 
seus pais (Art. 932, I, do CC); e na conexão de interesses, onde, a título de exemplo, 
a fazenda pública ingressa em juízo requerendo a abertura do inventário, quando não 
solicitada pelos herdeiros, vez que lhe interessa no que tange ao pagamento de 
imposto de transmissão causa mortis (art. 616, VIII, do CPC). 
Além disso, insta salientar que há também a legitimidade extraordinária, 
verificada quando um terceiro (aquele que não figura como parte ou não é, a princípio, 
titular de um direito) integra a relação jurídica como parte. Esta situação ocorre em 
algumas hipóteses expressamente prenunciadas pelo ordenamento jurídico, em que 
é possibilitado a uma pessoa alheia defender, em nome próprio, interesse de outrem. 
Como exemplo desta podemos citar o condômino, que pode exercer sobre a coisa 
alguns direitos, tais como a defesa da posse ou reinvindicação de domínio (Art. 1314 
do CC). 
 
3.3 Elementos da Ação 
 
Para a identificação e individualização de cada ação é necessário apontar os 
elementos que a compõe, são eles: partes, pedido e causa de pedir. É de extrema 
relevância abordar este tema, visto que é através desses elementos que podemos 
22 
identificar alguns institutos processuais, como litispendência, coisa julgada, conexão 
e continência, etc. 
Comecemos pelas partes, as quais dizem respeito ao elemento subjetivo da 
ação. São compostas pelo autor, aquele que provoca a atividade jurisdicional; o réu, 
pessoa contra quem se propõe uma ação judicial; e, por fim, o juiz, membro do poder 
judiciário que, através de uma análise do caso concreto e seu material probatório, 
decidirá, de maneira imparcial e equidistante, o mérito da demanda. 
Cabe frisar também que as partes do polo ativo e passivo podem ser divididas 
num caráter material e processual. No primeiro, tem-se as partes participantes do 
litígio pelo qual se enseja o processo, o autor e o réu propriamente ditos. Já no 
segundo há aqueles que, por sua vez, fazem parte do processo, mas não são, 
necessariamente, os que participaram do conflito, posto que, excepcionalmente é 
possível, por meio da legitimidade extraordinária, a substituição processual. 
Outro elemento que integra a ação é o pedido. É o objeto do processo, aquilo 
que se pede em juízo. Em outras palavras, trata-se do bem jurídico que o autor almeja 
obter com a prestação da tutela jurisdicional pleiteada. Assim, conforme Marioni, 
Arenhart e Mitidiero (2017, p. 162): 
O pedido consiste naquilo que, em virtude da causa de pedir, postula-se ao 
órgão julgador. O autor postula ao juízo basicamente o emprego de uma 
técnica processual que permita a prestação da tutela de direito. 
 
Nesse raciocínio, divide-se o pedido em duas faces essenciais, compreendidas 
em pedido imediato, concernente à técnica processual, na atuação do Estado em 
oferecer a tutela jurisdicional através do direito de ação exercido pelo autor; e pedido 
mediato, o qual diz respeito ao bem da vida pretendido pelo autor, como o dinheiro 
pago numa indenização, uma entrega do bem numa ação proposta para a 
desocupação de um imóvel, etc. 
Por derradeiro, há também como elemento da ação a causa de pedir. Esta 
corresponde ao motivo pelo qual se solicita a prestação jurisdicional, correspondendo 
à justificativa do pedido direcionado ao órgão judicial. ‘’Trata-se das razões fático-
jurídicas que justificam o processo’’ (MARINONI; ARENHART; MITIDIERO, 2017, p. 
157). 
No sentido técnico, portanto, a causa de pedir faz referência a indicação dos 
fatos, vez que imprescindível, como expresso na antiga lição romana ‘’ex facto oritur 
jus’’: o Direito nasce dos fatos; e a fundamentação jurídica do pedido, que é o elo entre 
o fato e o pedido formulado. 
23 
Nesse sentido, vale a pena citar a divisão da causa de pedir em remota e 
próxima. A causa de pedir remota refere-se à relação de direito material, 
correspondendo ao fato gerador do direito; ao passo que a causa de pedir próxima diz 
respeito à fundamentação jurídica, ou, em outras palavras, às consequências jurídicas 
extraídas dos fatos previamente narrados. 
 
 
24 
4 DOS ATOS PROCESSUAIS 
 
4.1 Definição 
 
O processo é o procedimento instrumental utilizado pelo Estado para realizar a 
prestação jurisdicional adequada e efetiva às partes, respeitando o contraditório e 
aplicando a lei ao caso concreto. Esse procedimento, por seu turno, é formado por 
uma sucessão de atos processuais regulados por lei e outorgados às partes, ao juiz e 
seus auxiliares. Vale dizer que há situações em que o órgão judicial pode se valer de 
normas abertas para amoldar o caso às necessidades que requer o direito material 
(art. 139, VI do CPC). Além disso, o código brasileiro permite às partes, em 
determinadas hipóteses, a elaboração de acordos, com a finalidade precípua da 
resolução litigiosa (art. 190 do CPC). 
Nesse sentido, verificamos que os atos processuais abrangem os atos do órgão 
judicial e os atos das partes. Em corolário, explica Sergio Bermudes (2019, p. 138): 
Assim, os atos do órgão judicial serão os praticados pelo juiz e por todos os 
órgãos jurisdicionais auxiliares, permanentes ou temporários (atos do 
escrivão, do escrevente, do contador, do perito e assistentes, da 
testemunha). Atos das partes serão os atos do autor, do réu, do terceiro 
interveniente, dos advogados, procuradores, defensores públicos e do 
Ministério Público. 
 
O código de processo civil, desta forma, divide os atos processuais em atos 
das partes (art. 200/202), pronunciamentos do juiz (203/205) e atos do escrivão ou 
chefe de secretaria (art. 206/211). 
Cabe, ainda, distinguir os fatos processuais dos atos processuais. Os primeiros 
podem ser definidos como todoacontecimento natural que, de alguma forma, tem 
influência no processo. Como exemplo, podemos citar a morte de uma das partes ou 
o perecimento do bem objeto do contrato, hipóteses estas que não decorrem da 
vontade humana, mas trazem uma consequência significativa ao processo. O 
segundo é caracterizado, portanto, pelos atos praticados pelas partes ou pelo Estado-
juiz e produzem um efeito imediato na relação processual, seja de declaração, 
conservação, constituição, modificação ou extinção de algum direito ou relação 
processual. 
O juiz, no decorrer do processo, pode se valer de atos materiais ou atos 
normativos. Os atos materiais do magistrado podem se verificar em atos de instrução, 
como numa colheita de provas e depoimentos de testemunhas, numa inspeção judicial 
25 
ou atos de documentação, seja na assinatura de uma decisão ou termo de audiência. 
Os atos normativos, por sua vez, são chamados de pronunciamentos judiciais. 
 
4.2 Pronunciamentos Judiciais 
 
Entende-se por pronunciamentos judiciais toda e qualquer manifestação 
realizada pelo juiz no curso do processo. Trata-se das sentenças, decisões 
interlocutórias e despachos, como expresso no art. 203 do CPC. Essas espécies, 
todavia, se referem às manifestações reservadas ao juiz de primeiro grau. Há também, 
em contrapartida, os pronunciamentos advindos dos tribunais, compostos por 
decisões monocráticas e acórdãos. 
Numa breve conceituação, os acórdãos são decisões colegiadas realizadas 
pelos tribunais (art. 204 do CPC), essa denominação, de acordo com Marinoni, 
Arenhart e Mitidiero (2017, p. 119): ‘’advém do fato de o julgamento constituir um 
acordo unânime ou por maioria entre os desembargadores ou ministros que compõem 
o órgão colegiado encarregado do julgamento’’. 
As decisões monocráticas, por seu lado, correspondem ao julgamento 
exclusivo do desembargador relator visando a celeridade processual, pode ocorrer 
porque a postulação é inadmissível, haja vista já existir jurisprudência dominante a 
respeito do mérito, ou porque é expressamente cabível (art. 932, IV e V do CPC). 
Dentre as possibilidades fornecidas ao juiz no art. 203, denota-se que nem 
todas são decisórias. Desta forma, fica claro que há atos do magistrado decisórios, 
bem como atos não decisórios. Os atos de natureza decisória merecem um maior 
destaque, posto que resolvem questões primordiais relativas ao andamento 
processual e a pretensão formulada em juízo, são compostos pela decisão 
interlocutória e sentença; outros, os despachos, não possuem conteúdo decisório, 
tendo como escopo o mero impulso processual. 
Inclusive, vale também citar a distinção dos atos decisórios em atos decisórios 
propriamente ditos e atos executivos que, conforme Theodoro Junior (2018. p. 534): 
Nos primeiros, visa-se a preparar ou obter a declaração da vontade concreta 
da lei frente ao caso sub judice. Já nos atos executivos, procura-se a 
realização efetiva da mesma vontade, por meio de providências concretas 
sobre o patrimônio do devedor, para satisfação do direito do credor (atos, por 
exemplo, que ordenam a penhora, a arrematação, a adjudicação etc.). 
 
Dito isto, estudaremos mais afundo os pronunciamentos aqui mencionados. 
 
26 
4.2.1 Sentenças 
 
Diz-se sentença a resposta dada pelo magistrado às partes. É a verdadeira 
prestação da tutela jurisdicional por meio de ato que põe termo ao processo, decidindo 
ou não o mérito da causa. Trata-se, portanto, da solução proferida pelo julgador à 
questão sub judice. 
Expressa o parágrafo primeiro do art. 203 do Código de Processo Civil que, 
ressalvado o disposto nos procedimentos especiais, sentença é ‘’o pronunciamento 
por meio do qual o juiz, com fundamento nos arts. 485 e 487, põe fim à fase cognitiva 
do procedimento comum, bem como extingue a execução’’. 
É considerado pela maioria dos doutrinadores como o ato mais importante do 
magistrado dentro do processo, posto que é através dele que, em tese, será resolvido 
o litígio em questão. 
Sendo assim, importante fazermos uma breve referência à evolução histórica 
do conceito de sentença no direito brasileiro, analisando seu conceito em seus 
momentos mais marcantes do código de processo civil brasileiro. 
Em 1939, o código vigente acabara de ser unificado, e em seu texto normativo 
a sentença era conceituada em um sentido amplo, abrangendo-se, a princípio, 
quaisquer pronunciamentos oriundos da atividade judiciária. Aos poucos, foi-se 
ganhando a designação da decisão de primeiro grau que julgava o mérito do pedido 
da parte, sendo definida através do seu conteúdo. 
No código de 1973 revela-se uma diversidade no cabimento dos recursos, e 
sua definição passa a ser entendida por um critério distinto, qual seja, um critério 
finalístico, pelo qual se subentende que sentença seria não só o julgamento que 
decidisse o mérito da questão, mas o ato do juiz de primeira instância que pusesse 
fim ao processo, independentemente da análise desse mérito. 
Posteriormente, em 22 de dezembro de 2005, a Lei n° 11.232 vem à lume no 
ordenamento jurídico pátrio, trazendo consigo uma nova conceituação para o instituto 
da sentença, desta vez adaptada visando à interpretação da sentença não como uma 
conclusão do processo, o que antes parecia ocorrer pela autonomia dos processos, 
mas como uma decisão que dê início a uma nova fase processual, a fase de 
cumprimento da sentença. 
Assim, com o advento do atual código de processo civil de 2015 (Lei n° 13.105), 
expressa Artur Torres (2017, p. 29): 
27 
A Lei 13.105/2015, adequando a conhecida lição (doutrinária) de que 
sentença é o ato do juiz que, pautado em juízo de certeza (leia-se, cognição 
exauriente), pretende pôr fim ao processo (oriunda de ocasião em que não 
se cogitava acerca de um processo sincrético, como regra), elegeu enquanto 
critérios à sua identificação, cumulativamente, (a) o conteúdo do 
pronunciamento propriamente dito, bem como, (b) a intenção do órgão 
prolator em dar por prestada a jurisdição cognitiva in concreto. 
 
Trouxe, portanto, um critério misto para sua definição, posto que leva em conta 
o teor da decisão (terminativa ou definitiva), respeitando o disposto nos arts. 485 ou 
487 do CPC; e a aptidão de colocar fim ao processo, seja à fase cognitiva do processo 
de conhecimento, ou à execução. 
Fica necessário, nesse contexto, esclarecer do que se trata a fase de 
conhecimento e a fase de execução. Nos dizeres de Coelho (2016, p. 458): 
O processo de conhecimento serve para que o Estado conheça de um conflito 
e o solucione, aplicando as normas jurídicas existentes. Com o processo de 
execução o que se busca, fundamentalmente, é a satisfação de um direito 
que não foi ou não pode ser satisfeito espontaneamente. 
 
Entende-se que na fase de conhecimento no processo se decide de quem é o 
direito, ou seja, através de uma análise exauriente, o juiz julga se o autor merece que 
sua pretensão seja acolhida (há também as decisões sem resolução do mérito, 
expressas no art. 485 do CPC). 
Por fase de execução compreende-se o meio pelo qual o possuidor do título 
executivo se utiliza para satisfazer sua pretensão, onde o Estado se limita a cumprir 
com o direito reconhecido. Esta fase pode vir na mesma relação processual da fase 
cognitiva, neste caso chamada de cumprimento de sentença, ou em processo 
independente, como numa execução de título extrajudicial, por exemplo. 
Nesse sentido, a decisão proferida na sentença pode ou não definir o mérito da 
questão. O julgamento sem a resolução do mérito se dá quando o juiz, por algum dos 
motivos dispostos no art. 485, extingue o processo sem atribuir a quem merece o 
direito pleiteado. Quando assim ocorrer, esta sentença será chamada de terminativa, 
e vale ressaltar que, como regra, ela não impede posterior repropositura da demanda, 
salvo em hipóteses de coisa julgada, litispendência ou perempção. 
O julgamento com resolução de mérito, amparado peloart. 487, se verifica 
quando o julgador, após a apreciação da demanda e do processo como um todo, 
profere uma decisão meritória, promovendo uma das partes como vencedora e outra 
como vencida (total ou parcialmente) do direito sub judice. À essa sentença que acolhe 
ou rejeita o pedido, dá-se o nome de sentença definitiva. 
28 
Por fim, diga-se de passagem, que o meio adequado para se impugnar uma 
sentença é o recurso de apelação (art. 1009 do CPC), o qual tem por escopo uma 
reforma ou a invalidação da decisão sentencial. 
 
4.2.1 Classificação das sentenças 
 
Antigamente, o entendimento majoritário da doutrina, com base nos preceitos 
do jurista Enrico Tullio Liebman, considerava existentes três tipos de sentença, 
compostas pela sentença condenatória, constitutiva e a meramente declaratória, 
chamada essa formação de teoria trinária. 
Essa classificação foi formulada diante do cenário cultural, político e jurídico da 
época, o qual evidentemente não é o mesmo hoje e, por isso, requer uma alteração. 
Nesse sentido, menciona Marinoni, Arenhart e Mitidiero (2017, p. 467): 
À época da formação do processo civil, as sentenças eram apenas três – 
declaratória, constitutiva e condenatória – porque assim bastava ao Estado 
liberal e exigiam os seus valores. Com o passar do tempo, e com o 
surgimento de novos direitos, passaram a ser necessárias novas técnicas 
para a tutela dos direitos, quando apareceram as sentenças mandamental e 
executiva, delineadas com base nas expressões normativas constantes dos 
arts. 84 do CDC e 497 e 498 do CPC. 
 
Desse modo, hoje uma corrente doutrinária, bem como, para alguns, o código 
de processo civil, fixam para a classificação das sentenças a teoria quinária, tornando 
as ações executivas e mandamentais também como espécies independentes de 
sentenças. Sendo assim, façamos uma breve análise de cada uma delas. 
 
4.2.2.1 Sentença declaratória 
 
A sentença declaratória tem a função única e exclusiva de declarar. Esta 
declaração pode dizer respeito à existência, à inexistência ou o modo de ser de uma 
relação jurídica; assim como à autenticidade ou falsidade de algum documento (art. 
19, I e II do CPC). 
Tratando do assunto, explica Theodoro Junior (2018, p. 785): 
O que importa para que a sentença seja predominantemente declaratória é o 
pedido formulado na propositura da causa. Se a parte se limitou a pedir 
certificação de existência de uma relação jurídica, a resposta jurisdicional 
será dada, sem dúvida, por meio de uma sentença declaratória. Se essa 
decisão terá ou não aptidão para configurar título executivo judicial, isso 
dependerá dos termos com que a sentença efetuará a declaração. ’ 
 
29 
Como exemplo de sentenças declaratórias, podemos citar a que declara a 
autenticidade de um documento; a que reconhece o pai como genitor do filho numa 
ação de investigação de paternidade; e numa ação de reparação de danos onde o 
autor se restringe a adquirir uma declaração de tempo de serviço. 
Cabe ressaltar que quando uma sentença meramente declaratória julga 
improcedente o pedido, trata-se de uma sentença declaratória negativa, posto que 
reconhece a inexistência do direito pleiteado; em contrapartida, quando a decisão 
julga procedente o pedido, nos referimos a uma sentença declaratória positiva, vez 
que o direito pleiteado é existente. 
 
4.2.2.2 Sentença constitutiva 
 
Por sentença constitutiva entende-se aquela que, além da declaração do 
direito, cria, modifica ou extingue uma relação jurídica. Possui como regra efeito ‘’ex 
nunc’’, ou seja, para o futuro. 
Dessa forma, nota-se que se difere da sentença declaratória, na medida que 
esta somente declara uma situação jurídica preexistente (que produz efeito ‘’ex tunc’’), 
bastando isso para sua efetivação. A constitutiva, por seu turno, consiste não só na 
declaração, mas também na criação de coisas novas, positivas ou negativas, que 
impactam na pauta jurídica em questão. 
Neste prisma, destacam Marinoni, Arenhart e Mitidiero (2017, p. 475): 
Todas as sentenças contêm declaração. A sentença constitutiva, por 
exemplo, antes de formar, modificar ou extinguir uma situação jurídica, 
declara algo que possibilita a constituição ou a desconstituição. 
 
Se enquadraria numa sentença constitutiva, a título exemplificativo, o divórcio 
judicial, visto que desconstituiria uma relação jurídica, o liame conjugal; as que 
decretam rescisão do contrato; a que anula um ato jurídico por incapacidade do 
agente, entre outras. 
 
4.2.2.3 Sentença condenatória 
 
A sentença condenatória afirma o direito da parte vencedora em obter da parte 
vencida uma prestação, seja de dar, fazer ou não fazer, isto é, ao cumprimento de 
uma obrigação. Nesse sentido, ela condena uma das partes, aplicando-lhe uma 
sanção. É através desta que se prevê a prática dos atos materiais do Estado, qual 
30 
seja, a execução. Possui, portanto, duas funções, vez que analisa e declara um direito, 
e o apronta para sua execução. 
Assim, fica evidente que a sentença condenatória se distingue da declaratória 
ou constitutiva no que tange à sua efetividade. As duas últimas prescindem de 
medidas de cumprimento para se consumarem. A sentença condenatória, caso não 
cumprida espontaneamente pelo réu, requer uma execução forçada, a fim de que o 
direito do autor seja, então, satisfeito. 
Desta forma, entende-se que a sentença condenatória emite um título executivo 
judicial (art. 515, I, do CPC), o qual deve ser utilizado para uma posterior execução. 
Em contrapartida, explica Theodoro Junior (2018, p. 786): 
Se, em regra, a condenação prepara a execução, não se deve, entretanto, 
atrelar esse tipo de sentença, necessariamente, à formação de título 
executivo, pois na própria lei se encontrarão casos em que a eficácia 
condenatória se dará sem o concurso de ulterior execução forçada. Lembre-
se da sentença condenatória genérica, que impõe à parte indenizar o dano 
cujo montante ainda se desconhece. Enquanto não ocorrer a liquidação por 
meio do procedimento adequado (NCPC, arts. 509 a 512), existirá uma 
sentença condenatória, mas não existirá um título executivo judicial. 
 
Vale ressaltar que, da mesma forma que a na ação de declaração, os efeitos 
da sentença condenatória são ‘’ex tunc’’, possibilitando o efeito retroativo da decisão. 
 
4.2.2.4 Sentença mandamental 
 
A sentença mandamental tem a função de ordenar que seja feito algo por parte 
do réu. Seu objetivo é convencer o réu a observar os direitos apreciados pelo juiz e 
agir em conformidade com os mesmos. É uma sentença que visa atuar sobre a 
vontade do réu, para que ele faça ou deixe de fazer algo. Detém, portanto, uma 
natureza obrigacional. 
Conceituando esta sentença e comparando-a com as demais, suscita Marinoni, 
Arenhart e Mitidiero (2017, p. 478): 
Se a sentença condenatória difere da declaratória por abrir oportunidade à 
execução forçada, a sentença mandamental delas se distancia por tutelar o 
direito do autor forçando o réu a adimplir a ordem do juiz. Na sentença 
mandamental há ordem, ou seja, imperium, e existe também coerção da 
vontade do réu. Tais elementos não estão presentes no conceito de sentença 
condenatória. 
 
No caso de a parte vencida descumprir com os termos decididos, implicaria em 
ato atentatório à dignidade da justiça, devendo o julgador aplicar as sanções cabíveis, 
conforme a gravidade da conduta (art. 77, §1° e §2° do CPC). Essas sanções podem 
se tratar de imputação de multa, através de medidas de execução indireta; bem como 
31 
do crime de desobediência, dirigida àquele que deixa de cumprir uma ordem legal de 
funcionário público (art. 330 do código penal). 
 
4.2.2.5 Sentença executiva 
 
São consideradas sentenças executivas aquelas que determinam, no seu 
próprio corpo, a efetivação do provimento jurisdicional. Em outras palavras, trata-se 
das sentenças que têm sua executividade embutida juntamente no processo de 
conhecimento,não se quedando necessária uma iniciativa ulterior por parte do autor. 
O descumprimento de uma decisão executiva impõe ao Estado uma obrigação 
de fazer valer a sentença, podendo se utilizar dos meios necessários para tal. Um dos 
principais exemplos de tal ação é a que decreta o despejo, onde há um mandado para 
a tomada do bem. Neste caso, se não cumprida a determinação judicial por parte do 
réu, poderá o Estado usufruir do aparato policial para a reintegração da posse. 
A título supletivo, destaca-se que as espécies de sentença mandamental e 
executiva, pela visão de muitos doutrinadores (adeptos da teoria trinária), não 
deveriam possuir autonomia, posto que apresentam um conteúdo semelhante à 
sentença condenatória. Defendiam, portanto, que o correto seria ocupar o cargo de 
subespécies da condenatória. Outra porção de doutrinadores, juntamente com os 
legisladores do código de processo civil de 2015, optaram, em contrapartida, por 
adotar as sentenças mandamentais e executivas como autônomas, posto que há 
atributos individuais suficientes para tal divisão, previstos na forma de execução e nos 
procedimentos realizados, sendo esse o entendimento vigente até então. 
 
4.2.3 Decisões Interlocutórias 
 
As decisões interlocutórias são pronunciamentos do juiz de caráter decisório 
que não extinguem a fase cognitiva ou executiva do processo, mesmo que venha a 
decidir questões de mérito. São definidas por exclusão, se enquadrando como todo 
pronunciamento judicial decisório, que não uma sentença (§2° do art. 203, CPC). 
Assim como na sentença, para a identificação da decisão interlocutória não se 
analisa o conteúdo. Além disso, cabe destacar que uma decisão interlocutória pode 
suprir o mesmo conteúdo de uma sentença, fundamentada também no art. 485 ou 
487, porém sem que extinga o processo ou ponha fim em uma de suas fases, fato 
32 
este comprovado pelos arts. 354, parágrafo único e 356 do CPC e reafirmado por 
Theodoro Junior, no trecho (2018, p. 349): 
Fica patente, para o novo Código, que uma decisão interlocutória nem 
sempre se limita a resolver questão acessória, secundária, de ocorrência 
anormal no curso do processo e autônoma em relação ao seu objeto. 
Também o próprio mérito da causa pode sofrer parcelamento e, assim, 
enfrentar decisão parcial por meio de decisão interlocutória, como deixa claro 
o referido art. 356. 
 
Constata-se, desta feita, que a decisão interlocutória pode, em alguns casos, 
decidir parte do mérito de maneira definitiva, estando esta decisão apta à coisa julgada 
e consequentemente à invalidação através da ação rescisória, institutos que 
estudaremos mais à frente. 
Comparando as espécies de pronunciamentos judiciais decisórios, expressa 
Didier Jr, Braga e Oliveira (2016, p. 349): 
Sendo assim, tem-se que sentença é o pronunciamento pelo qual o juiz, 
analisando ou não o mérito da causa, põe fim a uma fase (cognitiva ou 
executiva) do procedimento em primeira instância; já a decisão interlocutória 
é o pronunciamento pelo qual o juiz resolve questão sem pôr fim ao 
procedimento em primeira instância ou a qualquer de suas etapas. 
 
Portanto, a distinção dessas espécies não se dá na matéria, mas se verifica na 
forma pela qual são encaradas as questões a elas subordinadas. Como exemplo das 
decisões interlocutórias, podemos destacar a decisão que acolhe ou rejeita o pedido 
de gratuidade da justiça; a que determina a quebra do sigilo bancário; e a que recebe 
uma queixa ou denúncia. 
Com relação a recorribilidade das decisões interlocutórias, o recurso utilizado, 
como regra, é o agravo de instrumento, observando o rol taxativo do art. 1015 do CPC, 
salvo em caso de decisões teratológicas, em que é excepcionalmente admitido. Não 
obstante, há casos em que não se comporta o agravo de instrumento, devendo a 
matéria da decisão interlocutória ser impugnada em preliminar de apelação, como 
suscita o §1° do art. 1009 do mesmo código. 
 
4.2.4 Despachos 
 
Com disposição legal no art. 203, §3° do CPC, os despachos se tratam de 
manifestações do juiz que ordenam meramente o prosseguimento do processo, isto 
é, tem a função exclusiva de prover a movimentação e impulsão processual. Este 
pronunciamento não possui caráter decisório e não é impugnável através de recurso 
(art. 1001 do mesmo dispositivo legal). 
33 
Acerca do despacho e dos demais pronunciamentos, explica Marinoni, Arenhart 
e Mitidiero (2017, p. 119): 
Despachos são atos de simples impulso do procedimento, sem qualquer 
conteúdo decisório. A diferença entre as sentenças e as decisões 
interlocutórias, de um lado, dos despachos, de outro, está justamente na 
ausência de qualquer conteúdo decisório dos despachos. Os despachos, 
portanto, são um dos instrumentos pelos quais o procedimento ganha 
impulso, tendo em conta que o direito brasileiro adotou a regra do impulso 
oficial (art. 2°). 
 
Nessa perspectiva, os despachos são inerentes ao princípio do impulso oficial 
do processo, sendo utilizado pelo juiz para o adequado trâmite processual até seu 
julgamento de epílogo. 
Os despachos podem tratar, por exemplo, de designações de audiência, de 
mandados de citação do réu por oficial de justiça, de intimação de testemunhas, etc. 
O §4° do art. 203 retira do encargo do juiz os despachos meramente 
ordinatórios e os sem conteúdo valorativo, posto que estes pronunciamentos não 
necessitam advir do magistrado. Vale pontuar também, como complementa Theodoro 
Junior (2018, p. 350), que com o acréscimo do inciso XIV ao art. 93 da Constituição 
Federal (EC n°45 de 30.12.2004), foi determinado como regra para os juízos a 
delegação aos servidores de ‘’atos de administração e atos de mero expediente sem 
caráter decisório’’. Assim, entende-se que os despachos, amparados pelo §3° do art. 
203 passam, em regra, a ser substituídos por atos de rotina das próprias secretarias 
judiciais. 
 
34 
5 DA SEGURANÇA JURÍDICA E JUSTIÇA 
 
5.1 Noções gerais sobre segurança jurídica 
 
Quando falamos em segurança, deve-se vir à mente palavras como proteção, 
garantia, confiança ou resguardo. É nesse âmbito que abordaremos seu conceito com 
relação à esfera jurídica, de modo que o escopo permaneça sendo o da certeza, da 
proteção e da garantia jurisdicional. 
Nesse sentido, explica sabiamente Coelho (2020, pp. 173 e 174): 
Em relação ao Direito, a segurança encontra sustentação em vários 
mecanismos, dentre os quais a vinculação à lei e sua obrigatória publicidade. 
Ainda em relação à lei, a segurança jurídica é alcançada quando são 
estabelecidos mecanismos que permitem extrair com previsão a ‘’vontade’’ 
do legislador, evitando, desta forma, o subjetivismo dos juízes quando da 
interpretação e aplicação das normas jurídicas. 
 
A segurança jurídica deve prezar sempre pela interpretação e aplicação da lei 
mediante os mecanismos precisamente formais e essenciais, de tal forma que não 
seja modificado os corretos dizeres da lei pelo intérprete ou por seu aplicador. 
Além disso, é evidente a importância da segurança jurídica no que diz respeito 
à mínima previsibilidade das consequências enfrentadas quando se pratica um ato 
que se enquadra numa norma em abstrato, constituindo, assim, uma direção e um 
norte para o indivíduo. 
Ainda, é irrefutável a notória relevância desse instituto, posto que está previsto 
no art. 5°, caput, da Constituição Federal, juntamente exemplificado com direitos 
fundamentais como a vida, igualdade e liberdade. 
Nessa linha de raciocínio, a segurança jurídica aparenta figurar como um valor 
único e exclusivo a ser observado quando da decisão judicial. Entretanto, de enorme 
erroneidade está esse pensamento, posto que existem outros valores fundamentais 
que hão de serem apreciados para a devida e adequada resolução jurisdicional. 
Destaca-se aqui que esse valor fundamental, se tratado como o único existente, 
pode trazer um verdadeiro caos à integridade e racionalidade do poder judiciário,de 
maneira que o aspecto formal não pode prevalecer sobre o substancial, que a forma 
não pode suplantar a essência (COELHO, 2020; p. 175). 
 
5.2 Noções gerais sobre justiça 
 
35 
Pode-se dizer que justiça é o objetivo precípuo do direito, de modo que, quando 
alcançada, entende-se que, de fato, a norma foi aplicada da melhor forma possível, e 
atingiu sua finalidade. Muito mais fácil seria se o conceito de justiça fosse algo sólido 
e definitivo, pois, assim, talvez alcançá-la se tornasse um feito mais simplório e célere, 
e os litígios seriam resolvidos com maior facilidade. 
Ocorre que sua conceituação é de enorme extensão e grandiosidade, já que, 
para cada caso em específico, é possível evidenciar um significado diferente, de 
maneira que as circunstâncias interferem em sua acepção. 
Inúmeros doutrinadores e estudiosos definiram conceitos para ‘’justiça’’, até 
mesmo sob um aspecto histórico, onde os gregos entendiam ser aquilo que respeita 
a lei e o direito; e os romanos a compreendiam pela vontade perpétua e constante de 
dar a cada um o que é seu (em latim: constans et perpetua voluntas jus suum cuique 
tribuere). 
Dentre a vasta porção de definições sobre o significado de justiça, a maioria 
delas é associada à igualdade, inclusive no símbolo do direito, onde são colocados 
dois pratos numa balança, igualmente nivelados, demonstrando esse equilíbrio como 
representação da justiça, sendo este, o principal norte desta ciência. 
Sobrevém que há um erro quando nos referimos à justiça tomando por base 
somente a igualdade, posto que há ocasiões em que a estrita igualdade causa 
injustiças, haja vista situações desiguais, as quais devem ser atendidas de maneira 
desigual. 
Diante desses apontamentos, fica evidente que não há uma fórmula 
generalizada para se alcançar a justiça. A opção mais crível, sendo assim, é aplicar a 
cada caso concreto um conceito que melhor se adeque e que mais se aproxime do 
ideal para determinada situação. 
Nessa vertente, acrescenta Fábio Coelho (2020, p. 170): 
Em razão da diversidade de concepções a respeito da justiça, os juristas, em 
sua maioria, apontam que é impossível estabelecer com precisão a sua 
ontologia. Desse modo, há quem despreze o valor justiça, considerando ser 
impossível defini-lo e os que persistem no debate por acharem que é possível 
estabelecer uma definição objetiva que compreenda os seus elementos 
essenciais. 
 
Essa visão corrobora o entendimento positivista e formalista do direito, haja 
vista tratar-se de um instituto subjetivo que varia conforme os interesses defendidos. 
Assim, não restaria alternativas senão o abandono desse valor, ou de sua 
identificação com o ordenamento jurídico estatal. 
36 
Vale ressaltar que, com o monopólio estatal e a vinda do positivismo, muitos 
encaram a justiça como o cumprimento integral das normas. Porém, há casos em que, 
ao respeitar as normas em sua integralidade, pode-se, eventualmente, ocorrer uma 
violação aos direitos fundamentais e, quando assim sobrevir, o direito deve ser 
aplicado à luz do valor justiça, mesmo que não institucionalizado. 
Contudo, não obstante termos esclarecido tamanha significância e 
essencialidade dos valores aqui mencionados, devemos nos atentar ao fato de que 
estes podem estar ausentes em determinadas situações, uma vez que outros valores 
podem quedar-se mais importantes e imprescindíveis ao adequado e legítimo 
provimento jurisdicional. 
 
5.3 Conciliações e Conflitos Entre os Institutos 
 
A segurança jurídica e a justiça são institutos essenciais para que a ordem 
jurídica e social prevaleça ante os diversos litígios, coletivos ou individuais. É fato que 
uma resolução judicial que atenda a ambos os institutos trará uma satisfatoriedade e 
fidelidade muito maior àquela que exclua um deles, porém, há situações em que a 
aplicação da lei pode trazer injustiças, e, para se alcançar a melhor solução 
jurisdicional, é necessário privilegiar um desses valores e, consequentemente, 
prejudicar o outro. 
Desta forma, entende-se que esses dois valores se apoiam e se fundamentam 
de forma recíproca, sendo essenciais ao bem comum geral. Todavia, há diversos 
entendimentos doutrinários a respeito da conciliação e do conflito entre tais institutos, 
bem como da mais apropriada aplicação da lei. 
A conciliação entre a segurança e a justiça é um escopo do direito desde os 
primórdios, mas não é tão simples coligar o sistema normativo às tantas situações e 
circunstâncias espaço-temporais. O ideal, dito isto, seria a pormenorização da norma 
jurídica à realidade social, para que, assim, os dois valores possam andar juntos, e 
possamos alcançar a tão almejada justiça, de forma certa e segura. 
Nesse sentido, Fábio Coelho esclarece (2020, p. 180): 
A conciliação entre a justiça e a segurança jurídica pode ser obtida através 
da conjugação entre a realidade (o fato), a valoração em concreto (o valor) e 
o texto da norma (normatividade) em que, juntos, contribuem para a formação 
da norma jurídica, que é compreendida através de situações concretas. 
 
Com base na arguição supracitada, considera-se que, em alguns casos, é 
necessário o afastamento da exata previsão normativa para assegurar a justiça, como 
37 
se verifica na aplicação de princípios que, ao contrário da norma, possuem um elevado 
grau de abstração e generalidade, resultante em uma menor exatidão quando de sua 
aplicação e numa maior subjetividade do seu aplicador. 
Assim sendo, é evidente que a conciliação entre a segurança e justiça é 
necessária, porém não absoluta, haja vista situações em que, para se alcançar a 
justiça, fica ‘’dispensável’’ o valor da segurança jurídica. Apesar de ambos serem 
institutos importantíssimos para o bem comum, o ordenamento jurídico considera a 
justiça como prioridade, sendo, portanto, ofuscado outros valores que por ventura 
servirem de obstáculo à sua consecução. 
Coelho reitera esse entendimento, mencionando (2020, p. 182): 
Todavia, a necessidade de segurança jurídica perde força quando cotejada 
com a justiça, sendo inadmissível imaginar que, por uma questão de 
segurança jurídica, o ordenamento jurídico possa aceitar eventuais 
iniquidades, abusos, arbitrariedades, injustiças, explorações, manifestas 
violações de direitos, ofensas a direitos fundamentais etc. 
 
Nesse diapasão, apesar de uma parcela conservadora de doutrinadores 
entender pela aplicação da lei positivada e da observação somente das disposições 
legais, pondo à frente, assim, a segurança jurídica, há também uma considerável 
parcela, no meu ponto de vista mais coerente, que prioriza a justiça quando de 
conflitos entre valores de grande importância, mas também não a considera como um 
valor intangível e insuperável. 
Veremos, posteriormente, essas situações de conflito em casos práticos, de 
forma que o aplicador foi obrigado a priorizar um valor e afastar o outro para alcançar 
a solução jurisdicional mais acertada ao caso concreto. 
É fato que o direito não é uma ciência exata e, portanto, não há uma reposta 
única que se enquadre em todas as situações. Sendo assim, ideal seria que o 
aplicador da lei, sempre que possível, exercesse uma ponderação de interesses e 
sopesasse os direitos debatidos, objetivando alcançar a justiça e a segurança jurídica, 
cumulativamente. Contudo, frente às inúmeras diversidades sociais, haverá 
ocorrências não indicadas pelo legislador através da norma e, nestes casos, deverá o 
aplicador prezar precipuamente pelo valor mais importante, qual seja, a justiça. 
 
38 
6 DA COISA JULGADA 
 
6.1 Definição 
 
A coisa julgada é a qualidade conferida aos efeitos do julgamento contra o qual 
não cabem mais recursos. Por meio dela, constitui-se um fenômeno processual 
respaldado na imutabilidade e indiscutibilidade da decisão judicial. 
Essa ‘’situação jurídica’’, por assim dizer, é apresentada na Lei de Introdução 
às normas do Direito Brasileiro em seu

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