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Sobre Política Linguística
Sabrina Siqueira
A circulação do termo “política linguística” no Brasil ainda é recente, diferentemente de outros países, inclusive vizinhos latino-americanos. De acordo com Louis-Jean Calvet, o termo está associado ao pluringuismo e sua gestão, e teria nascido, enquanto disciplina, na segunda metade do século XX. 
Uma explicação para a demora de o termo irromper como pauta no Brasil poderia ser a insistência por parte de autoridades na “ideologia da língua única”, como se o país não tivesse recebido levas de imigrantes, desde os tempos coloniais, que utilizaram suas línguas próprias, ensinaram essas línguas a quem já estava aqui, nativos e outros povos, e contribuíram com modificações na Língua Portuguesa oficialmente brasileira, resultando em uma (ou diversas) variações desta para o Português falado em Portugal ou em outras ex-colônias. Há uma tendência, no Brasil, inclusive nos meios acadêmicos, em admitir erroneamente que no Brasil fala-se uma língua única de norte a sul. Mas o conceito de “língua brasileiras” é uma tendência e deve ganhar espaço nas discussões dessa temática. 
Calvet (2007) explica que o poder político sempre privilegia determinada língua, e mesmo impõe uma língua de uma minoria se for do seu interesse. O “planejamento linguístico” surge concomitantemente com a Sociolinguística e Sociolinguística aplicada. Ele destaca que, conforme estudos sobre política linguística surgem em diferentes países, há uma característica permanente nas diferentes abordagens: a relação de subordinação entre política linguística e planejamento linguístico, sendo o planejamento a aplicação de uma política linguística. O conceito de política/planejamento linguístico “implica ao mesmo tempo uma abordagem científica das situações sociolinguísticas, a elaboração de um tipo de intervenção sobre essas situações e os meios para se fazer essa intervenção” (CALVET, 2007, p. 19). Há diferentes formas de planejamento. Por exemplo, indicativo ou iniciativo, baseado no acordo entre as diferentes forças sociais, praticado nos países ocidentais, e imperativo, que implica a socialização dos meios de produção, e praticado em países do leste.
Somente o Estado tem o poder e os meios de colocar em prática a política linguística, de passar ao estágio do planejamento. As relações entre língua e sociedade podem resultar na substituição ou na normalização, considerando uma distinção entre as “funções sociais da língua” e as “funções linguísticas da sociedade”.
Os primeiros textos sobre planejamento linguístico se interessavam essencialmente pela ação sobre a língua e não levavam em conta situações plurilíngues, apesar de essas serem as mais frequentes no mundo. De acordo com Ferguson e Stewart, uma língua poderia ser considerada majoritária em determinado país se ela reunisse uma das seguintes condições: ser falada por 25% da população ou por mais de um milhão de pessoas; ser língua oficial; ou ser língua de ensino em 50% das escolas secundárias do país.
Todas as línguas não podem cumprir, igualmente, as mesmas funções. Um planejamento linguístico passa primeiro por uma descrição precisa da língua e, em seguida, por uma reflexão sobre o que se espera de um sistema de escrita. Um dos domínios do planejamento linguístico é o da terminologia, cuja principal atividade é a criação de palavras ou neologia.
As línguas sempre sofreram modificações ao longo dos tempos. Quando a mudança ocorre naturalmente diz-se que é um processo “in vivo”; e “in vitro” quando há intervenção do poder, do Estado. A “gestão in vivo refere-se ao modo como as pessoas resolvem os problemas de comunicação com que se confrontam cotidianamente. Essa gestão resulta em línguas aproximativas” (CALVET, 2007, p. 69) ou veiculares, que são criadas ou promovidas. As línguas derivadas da gestão in vivo são produtos de uma prática, não tendo nenhuma relação com decisões oficiais. Já os problemas do plurilinguismo se referem à gestão in vitro, que é quando linguistas analisam, descrevem e levantam hipóteses sobre as situações e as línguas.
Dentro dos estudos das políticas linguísticas há o princípio de territorialidade e o princípio de personalidade. “No primeiro caso, é o território que determina a escolha da língua ou o direito à língua. [...] No segundo caso, a pessoa que pertence a um grupo linguístico reconhecido tem o direito de falar sua língua, não importa em que ponto do território” (CALVET, 2007, p. 82). 
Eni Orlandi (2005) exemplifica um caso de implementação de política linguística de forma abusiva dentro do período brasileiro Estado Novo, do presidente Getúlio Vargas. O ditador agia especialmente nas escolas e sobre a população de origem estrangeira, como alemães e italianos. Sob o pretexto da “nacionalização” do ensino, exerceu censura no âmbito linguístico e cultural, e um dos instrumentos para exercer essa censura era o conceito jurídico de “crime idiomático”, criado pelo Estado Novo. Esse decreto dispunha sobre que língua se devia falar, quando e onde. Estrangeiros eram proibidos, por exemplo, de usar língua estrangeira nas repartições públicas e as prédicas religiosas também deviam ser em Português.
Havia ainda o Conselho de Imigração e Colonização que tinha entre um de seus objetivos “evitar aglomeração de imigrantes da mesma origem em um só Estado ou região, da aquisição por empresas estrangeiras de grandes áreas de terra e da absorção por estrangeiros das propriedades brasileiras situadas nas zonas coloniais” (ORLANDI, 2005, p. 31). 
Referências:
CALVET, Louis-Jean. As políticas linguísticas. Tradução Isabel de Oliveira Duarte, Jonas Tenfen e Marcos Bagno. São Paulo, Parábola Editorial: IPOL, 2007.
ORLANDI, Eni P. “O discurso sobre a língua no período Vargas (Estado Novo – 1937-1945)”. In: Línguas e Instrumentos Linguísticos/ Universidade Estadual de Campinas. Campinas: Pontes Editores/ CAPES-Procad, 2005.

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