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A busca da identidade – que Erikson definiu como uma concepção coerente do self, constituída de metas, valores e crenças com os quais a pessoa está solidamente comprometida – entra em foco durante os anos da adolescência. Essa busca pelo entendimento do self faz parte de um processo saudável e vital fundamentado nas realizações das etapas anteriores – na confiança, autonomia, iniciativa e produtividade – e lança os alicerces para lidar com os desafios da idade adulta. Entretanto, uma crise de identidade raramente é totalmente resolvida na adolescência; questões relativas à identidade surgem repetidamente durante toda a vida adulta. Para Erikson (1968), a principal tarefa da adolescência é confrontar a crise de identidade versus confusão de identidade, de modo a tornar-se um adulto singular com uma percepção coerente do self e com um papel valorizado na sociedade. Além disso, ele diz que a identidade se forma quando os jovens resolvem três questões importantes: a escolha de uma ocupação, a adoção de valores sob os quais viver e o desenvolvimento de uma identidade sexual satisfatória. Durante a terceira infância, as crianças adquirem habilidades necessárias para obter sucesso em suas respectivas culturas, as quais serão utilizadas na adolescência. Quando os jovens têm problemas para fixar-se em uma identidade ocupacional, ou quando suas oportunidades são artificialmente limitadas, eles correm risco de apresentar comportamento com consequências negativas sérias, tal como atividades criminosas. A moratória psicossocial, um período de adiamento que a adolescência proporciona, permite que os jovens busquem compromissos aos quais possam ser fiéis. Os adolescentes que resolvem essa crise de identidade satisfatoriamente desenvolvem a virtude da fidelidade: lealdade constante, fé ou um sentimento de integração com uma pessoa amada ou com amigos e companheiros. Fidelidade também pode ser uma identificação com um conjunto de valores, uma ideologia, uma religião, um movimento político, uma busca criativa ou um grupo étnico (Erikson, 1982). Esta é uma extensão da confiança. Na primeira infância, é importante que a confiança nos outros supere a desconfiança; na adolescência, torna-se importante que a própria pessoa seja confiável. Erikson via como o principal perigo desse estágio a confusão de identidade ou de papel que pode atrasar consideravelmente a maturidade psicológica. Algum grau de confusão de identidade é normal. REFERÊNCIA: PAPALIA, Diane E.; FELDMAN, Ruth Duskin (Colab.). Desenvolvimento Humano. 12ª ed. Porto Alegre: AMGH Editora, 2013. De acordo com Erikson, ela é responsável pela natureza aparentemente caótica de grande parte do comportamento dos adolescentes e pela penosa autoconsciência deles. Grupos fechados e intolerância com as diferenças, ambos marcas registradas do cenário social adolescente, são defesas contra a confusão de identidade. A teoria de Erikson descreve o desenvolvimento da identidade masculina como norma. De acordo com ele, um homem não é capaz de estabelecer uma intimidade real até ter adquirido uma identidade estável, enquanto as mulheres se definem através do casamento e da maternidade (algo que talvez fosse mais verdadeiro na época em que Erikson desenvolveu sua teoria do que na atualidade). Desse modo, as mulheres (ao contrário dos homens) desenvolvem a identidade por meio da intimidade, não antes dela. Essa orientação masculina da teoria de Erikson foi alvo de críticas. De acordo com as pesquisas realizadas pelo psicólogo James E. Marcia (1966, 1980), existem quatro diferentes estados de identidade, ou estados do ego (self): 1) realização de identidade; 2) execução; 3) moratória; e 4) difusão de identidade. As quatro categorias diferem conforme a presença ou ausência de crise – período de tomada de decisão consciente – e compromisso – investimento pessoal em uma ocupação ou em um sistema de crenças/ideologias –, os dois elementos que Erikson via como cruciais para a formação da identidade. Ele encontrou relações entre o estado de identidade e certas características como ansiedade, autoestima, raciocínio moral e padrões de comportamento. Realização de identidade: (a crise que leva ao compromisso). As pessoas dessa categoria são mais maduras e competentes socialmente do que as pessoas das outras três, porque conseguem resolver suas crises de identidade, fazendo escolhas e expressando um forte compromisso com elas. Estas têm compromisso com as escolhas feitas após uma crise, um período gasto na exploração de alternativas. Execução: (compromisso sem crise). As pessoas dessa categoria costumam assumir compromissos, mas não a partir de sua própria vontade – pelo contrário, aceitam os planos de outras pessoas para as suas vidas. Estas não passaram um tempo considerando alternativas, ou seja, não estiveram numa crise. Moratória: (crise sem ainda haver compromisso). As pessoas dessa categoria estão considerando alternativas (em crise) e parecem estar rumando para o compromisso. Difusão de identidade: (nenhum compromisso, nenhuma crise). As pessoas dessa categoria ainda não pensaram seriamente em nenhuma opção para o futuro e evitam compromissos. Estas tendem a ser infelizes e frequentemente solitárias. REFERÊNCIA: PAPALIA, Diane E.; FELDMAN, Ruth Duskin (Colab.). Desenvolvimento Humano. 12ª ed. Porto Alegre: AMGH Editora, 2013. *Essas categorias não são estágios; elas representam o estado do desenvolvimento da personalidade em um determinado momento, e elas provavelmente mudam em qualquer direção à medida que os jovens se desenvolvem (Marcia, 1979). Ao final da adolescência, conforme propôs Marcia, um número cada vez maior de pessoas se encontra na fase de moratória ou de realização: procurando ou encontrando sua própria identidade. Embora as pessoas que se encontram na fase sob execução pareçam ter tomado decisões definitivas, isso nem sempre ocorre. Muitas pesquisas apoiam a visão de Erikson de que, para as mulheres, a identidade e a intimidade se desenvolvem juntas. Em vez de verem esse padrão como uma contradição à norma masculina, alguns pesquisadores, entretanto, veem-no como algo que aponta para uma fragilidade na teoria de Erikson, a qual, afirmam, se baseia em conceitos ocidentais masculinos de individualidade, autonomia e competitividade. Para Carol Gilligan, o senso de identidade feminino se desenvolve tanto pela conquista de uma identidade individual quanto pelo desenvolvimento de relacionamentos. Garotas e mulheres, diz Gilligan, julgam-se a si mesmas quanto ao desempenho de suas responsabilidades e quanto à capacidade de cuidarem dos outros, bem como de si mesmas. Alguns pesquisadores sugerem que diferenças individuais podem ser mais importantes do que diferenças de gênero (Archer, 1993; Marcia, 1993). Contudo, o desenvolvimento da autoestima durante a adolescência parece sustentar o que Gilligan pensa. A autoestima masculina costuma estar vinculada à luta pela realização individual, enquanto a feminina depende mais das vinculações com os outros (Thorne e Michaelieu, 1996). Em geral, a autoestima diminui durante a adolescência e aumenta gradualmente até a idade adulta. Essas mudanças podem dever-se em parte à imagem corporal e a outras ansiedades associadas com a puberdade e com as transições para as últimas séries do ensino fundamental ou para o ensino médio (Robins e Trzesniewski, 2005). Para muitos jovens de grupos minoritários, a etnia é fundamental na formação da identidade. Existem quatro estados de identidade étnica: 1. Difusa: quando alguém faz pouca ou nenhuma exploração de sua etnia e não entende claramente as questões envolvidas. 2. Execução: quando alguém faz pouca ou nenhuma exploração de sua etnia, mas tem sentimentos claros a respeito. Esses sentimentos podem ser positivos os negativos, dependendo das atitudes absorvidas na família. REFERÊNCIA: PAPALIA,Diane E.; FELDMAN, Ruth Duskin (Colab.). Desenvolvimento Humano. 12ª ed. Porto Alegre: AMGH Editora, 2013. 3. Moratória: quando alguém começa a explorar a sua etnia, mas ainda não entende bem o que isso significa para si. 4. Realizada: quando alguém explorou sua identidade e entende e aceita sua etnia. Para alcançar o estado de realização, existem aplicações práticas. Aumentos na identidade racial foram relacionados com uma diminuição no risco de sintomas depressivos mesmo quando fatores como autoestima são controlados (Mandara et al., 2009). Além disso, a identidade étnica pode atenuar as tendências a uma queda nas notas e na ligação com a escola durante a transição do ensino fundamental para o ensino médio o (Altschul, Oyserman e Bybee, 2006). Por outro lado, a percepção de discriminação durante a transição para a adolescência pode interferir na formação da identidade positiva e levar a problemas de conduta ou a depressão. As interações com os membros de outros grupos étnicos podem estimular a curiosidade dos jovens sobre sua própria identidade étnica (French et al., 2006). Socialização cultural: refere-se a práticas que ensinam as crianças sobre sua herança étnica, promovem costumes e tradições culturais e alimentam o orgulho racial/étnico e cultural. Os adolescentes que passaram por socialização cultural tendem a ter identidade étnica mais forte e mais positiva do que aqueles que não a experimentaram (Hughes et al., 2006). A aquisição da identidade sexual diz respeito ao reconhecimento da própria orientação sexual, a chegar um acordo com as primeiras manifestações da sexualidade e à formação de uniões afetivas ou sexuais. Esse processo é impulsionado biologicamente, mas a sua expressão é, em parte, definida culturalmente. Durante o século XX algumas mudanças ocorreram no modo de se relacionar sexualmente, pois o sexo antes do casamento, inclusive o casual, passou a ser mais aceito, assim como a homossexualidade. Esses avanços ocorreram com a colaboração da tecnologia/internet. Contudo, preocupações, como a aquisição de ISTs e a gravidez na adolescência, também surgiram. Por outro lado, a epidemia de AIDS levou muitos jovens a abster-se de atividades sexuais fora dos relacionamentos estáveis ou a envolver- -se em práticas sexuais mais seguras. A orientação sexual de uma pessoa geralmente se torna uma questão importante na adolescência, mesmo que já esteja presente na infância. Esta diz respeito à atração: se essa pessoa se tornará consistentemente atraída por pessoas do outro sexo (heterossexual), do mesmo sexo (homossexual) ou de ambos os sexos (bissexual). REFERÊNCIA: PAPALIA, Diane E.; FELDMAN, Ruth Duskin (Colab.). Desenvolvimento Humano. 12ª ed. Porto Alegre: AMGH Editora, 2013. Apesar da maior aceitação da homossexualidade nos Estados Unidos, muitos adolescentes que se identificam abertamente como homossexuais ou bissexuais sentem-se isolados em um ambiente hostil. Eles podem estar sujeitos a discriminação ou a violência. Outros podem relutar em revelar sua orientação sexual, até mesmo aos seus pais, por medo de uma forte desaprovação ou de uma ruptura na família (Hillier, 2002; C. J. Patterson, 1995b). Eles também podem ter dificuldade de encontrar e identificar potenciais parceiros do mesmo sexo (Diamond e Savin-Williams, 2003). Não há uma rota única para o desenvolvimento da identidade e do comportamento homossexual ou bissexual. Devido à falta de formas socialmente aprovadas de exploração da sexualidade, muitos adolescentes homossexuais experimentam a confusão de identidade (Sieving, Oliphant e Blum, 2002). Os jovens homossexuais que são incapazes de estabelecer grupos de pares que compartilhem sua orientação sexual podem lutar contra o reconhecimento das atrações pelo mesmo sexo (Bouchey e Furman, 2003; Furman e Wehner, 1997). O comportamento sexual vem aumentando entre adolescentes. Em média as meninas têm sua primeira relação sexual aos 17 anos, os meninos aos 16, e aproximadamente um quarto de meninos e meninas relatam ter tido relações sexuais aos 15 anos (Klein & AAP Committee on Adolescence, 2005). Esse comportamento traz consigo condutas sexuais de risco. Duas preocupações importantes relativas à atividade sexual são os riscos de contrair infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) e, para heterossexuais, de gravidez. Os que correm mais risco são os jovens com iniciação sexual precoce, pois têm múltiplos parceiros, não fazem uso de contraceptivos regularmente e possuem informações inadequadas – ou errôneas – sobre sexo (Abma et al., 1997). Outros fatores de risco são viver em comunidades carentes, usar drogas, ter comportamento antissocial e associação com pares desviantes. O monitoramento dos pais pode ajudar a reduzir esses riscos. Alguns adolescentes praticam sexo precocemente por conta de alguns fatores, dentre eles: a entrada precoce na adolescência; o mau desempenho escolar; a falta de objetivos acadêmicos e de carreira; um histórico de violência sexual ou negligência dos pais; e padrões culturais e familiares de experiência sexual precoce. Uma das influências mais poderosas é a percepção de normas do grupo de pares. Os jovens frequentemente sentem-se pressionados a envolver-se em atividades para as quais não se sentem preparados. À medida que os adolescentes norte-americanos se tornaram mais conscientes dos riscos da atividade sexual, a porcentagem dos que já haviam mantido relações sexuais decresceu, especialmente entre os REFERÊNCIA: PAPALIA, Diane E.; FELDMAN, Ruth Duskin (Colab.). Desenvolvimento Humano. 12ª ed. Porto Alegre: AMGH Editora, 2013. meninos (Abma et al., 2004). Entretanto, formas de prática sexual genital do tipo sem coito, como sexo oral ou anal e masturbação mútua são comuns. Uso de contraceptivos: o uso de anticoncepcionais entre adolescentes aumentou desde 1990. Ainda assim, a melhor proteção para jovens sexualmente ativos é o uso regular de preservativos, que dão alguma proteção contra ISTs e contra gravidez. Adolescentes que começam usando contraceptivos prescritos pelo médico frequentemente param de usar preservativos, em alguns casos não percebendo que isso os deixa sem proteção contra ISTs (Klein e AAP Committee on Adolescence, 2005). Onde os adolescentes obtêm informações sobre sexo: essas informações costumam vir dos amigos, dos pais, da educação sexual na escola e dos meios de comunicação. Adolescentes que podem conversar sobre sexo com irmãos mais velhos ou com os pais estão mais propensos a assumir posturas positivas em relação às práticas sexuais mais seguras (Kowal e Pike, 2004). Infelizmente, muitos adolescentes obtêm grande parte de sua “educação sexual” dos meios de comunicação, os quais apresentam uma visão distorcida da atividade sexual. Infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) são doenças transmitidas por contato sexual. As principais razões para a prevalência de ISTs entre adolescentes incluem a atividade sexual precoce, a qual aumenta a probabilidade de se ter múltiplos parceiros de alto risco, a falta de uso ou o uso irregular e incorreto de preservativos; e, para as mulheres, uma tendência de se relacionarem sexualmente com parceiros mais velhos (CDC, 200b; Forhan et al., 2008). As ISTs em meninas adolescentes têm maior probabilidade de não ser detectadas. Embora os adolescentes tendam a considerar o sexo oral menos arriscado que o intercurso vaginal, uma série de ISTs, especialmente gonorreia faríngea, podem ser transmitidas daquela forma (Remez, 2000). A IST mais comum é o papilomavírus humano (HPV). As mais curáveis são a clamídia e a gonorreia. A educação sobre sexo e IST/HIV abrangente é fundamental para promover a tomada de decisão responsável e para controlar a disseminação dessas doenças. O índice de gravidez na adolescência é alto, sendo que mais de 90% das adolescentes grávidas descrevem suas gestações como não planejadas(Klein e AAP Committee on Adolescence, 2005). Muitas dessas meninas cresceram órfãs de pai (Ellis et al., 2003). Entre 9.159 mulheres em uma clínica de cuidados primários na Califórnia, aquelas que haviam engravidado na adolescência tinham maior probabilidade, quando crianças, de terem sofrido abuso físico, emocional ou sexual e/ou terem sido REFERÊNCIA: PAPALIA, Diane E.; FELDMAN, Ruth Duskin (Colab.). Desenvolvimento Humano. 12ª ed. Porto Alegre: AMGH Editora, 2013. expostas a divórcio ou separação dos pais, violência doméstica, uso de drogas ou terem um membro da família que era mentalmente doente ou envolvido em comportamentos criminosos (Hillis et al., 2004). Os pais adolescentes, também, tendem a ter recursos financeiros limitados, desempenho acadêmico deficiente e altas taxas de evasão escolar (Campa e Eckenrode, 2006; Klein e AAP Committee on Adolescence, 2005; Pears et al., 2005). A gravidez na adolescência frequentemente tem desfechos negativos. Muitas das mães são pobres e têm pouca escolaridade, e algumas são usuárias de drogas. Muitas não se alimentam adequadamente, não ganham peso suficiente e têm atendimento pré-natal inadequado ou nulo. Provavelmente seus bebês serão prematuros ou perigosamente pequenos, e terão um risco maior de outras complicações do parto: morte fetal, neonatal; problemas escolares e de saúde, abuso e negligência; e deficiências de desenvolvimento que podem prosseguir na adolescência. Contudo, diversos estudos de longo prazo revelam que, duas décadas após dar à luz, a maioria das mães adolescentes não estão dependendo da previdência social: muitas terminaram o ensino médio e garantiram empregos estáveis; e não têm famílias grandes. Programas abrangentes de atendimento à gravidez na adolescência e de visitação domiciliar parecem contribuir para bons desfechos. O problema da gravidez na adolescência requer uma solução multifacetada. Ela deve incluir programas e políticas para encorajar o adiamento ou a abstinência da atividade sexual, mas também deve reconhecer que muitos jovens se tornam sexualmente ativos e necessitam de educação e informação para prevenir a gravidez e as ISTs. Ela requer atenção a fatores subjacentes que colocam os adolescentes e as famílias em risco – redução da pobreza, do fracasso escolar, dos problemas comportamentais e familiares, e aumento de empregos, treinamento de habilidades e educação sobre a vida familiar (AGI, 1994; Children’s Defense Fund, 1998; Kirby, 1997) – e deve visar aqueles jovens com risco mais alto (Klein e AAP Committee on Adolescence, 2005). Programas de intervenção precoce abrangentes para pré-escolares e estudantes do ensino fundamental têm reduzido a gravidez na adolescência (Hawkins et al., 1999; Lonczak et al., 2002; Schweinhart et al., 1993). Na adolescência, os indivíduos passam mais tempo com os amigos e menos com a família. Contudo, a maioria dos valores fundamentais dos adolescentes permanece mais próxima dos valores de seus pais. Mesmo quando eles se voltam aos amigos em busca de modelos de comportamento, companhia e intimidade, continuam vendo nos pais uma “base segura” a partir da qual podem experimentar sua liberdade. Os adolescentes mais seguros têm relações fortes e sustentáveis com pais que permanecem em sintonia com a maneira pela qual os jovens veem a si mesmos, que permitem e REFERÊNCIA: PAPALIA, Diane E.; FELDMAN, Ruth Duskin (Colab.). Desenvolvimento Humano. 12ª ed. Porto Alegre: AMGH Editora, 2013. encorajam seus esforços para adquirir independência e constituem um porto seguro nos momentos de tensão emocional (Allen et al., 2003; Laursen, 1996). Os adolescentes costumam passar menos tempo com suas famílias. Contudo, esse afastamento não representa uma rejeição ao seio familiar, mas uma resposta às necessidades do desenvolvimento. Aqueles que estão no início da adolescência frequentemente se trancam em seus quartos; parecem precisar ficar algum tempo sozinhos para se desvencilhar das exigências das relações sociais, para reconquistar a estabilidade emocional e refletir sobre questões de identidade (Larson, 1997). As variações culturais no uso do tempo refletem necessidades, valores e práticas culturais diversas (Verma e Larson, 2003). A etnia pode afetar a ligação com a família. Embora a quantidade total de assistência fornecida a suas famílias varie entre os grupos étnicos e culturais, dar assistência à família está associado com sentimentos de conexão, e, portanto, é benéfico. Os relacionamentos com os pais durante a adolescência – o grau de conflito e abertura de comunicação – são baseados largamente na intimidade emocional desenvolvida na infância; e os relacionamentos dos adolescentes com os pais, por sua vez, estabelecem a base para a qualidade do relacionamento com um(a) companheiro(a) na idade adulta (Overbeek et al., 2007). A adolescência traz consigo alguns desafios especiais. Da mesma forma que os adolescentes sentem a tensão entre a dependência dos pais e a necessidade de se libertar, os pais querem os filhos sejam independentes; contudo, acham difícil deixá-los partir. Os pais têm que caminhar sobre a linha tênue Existe a crença popular de que os adolescentes são rebeldes. Contudo, os poucos adolescentes profundamente problemáticos tendiam a vir de famílias perturbadas e, quando adultos, continuavam a ter uma vida familiar instável e a rejeitar as normas culturais. Aqueles criados em lares com uma atmosfera familiar positiva tendiam a atravessar a adolescência sem nenhum problema sério e, quando adultos, a ter casamentos sólidos e a levar uma vida bem ajustada (Offer et al., 2002). Ainda assim, a adolescência pode ser uma época difícil para os jovens e seus pais. Conflito familiar, depressão e comportamento de risco são mais comuns do que em outras fases da vida (Arnett, 1999; Petersen et al., 1993). As emoções negativas e as variações de humor são mais intensas no início da adolescência, talvez devido à tensão ligada à puberdade. No final da adolescência, as emoções tendem a tornar-se mais estáveis (Larson et al., 2002). REFERÊNCIA: PAPALIA, Diane E.; FELDMAN, Ruth Duskin (Colab.). Desenvolvimento Humano. 12ª ed. Porto Alegre: AMGH Editora, 2013. entre dar suficiente independência aos adolescentes e protegê-los de falhas de julgamento decorrentes da imaturidade. As tensões podem levar a conflito familiar e os estilos de parentalidade dos pais podem influenciar sua forma e desfecho. A monitoração eficaz depende de quanto os adolescentes deixam seus pais saberem sobre suas vidas, e essas revelações podem depender da atmosfera que os pais estabeleceram. A personalidade também é um fator importante. A amabilidade dos adolescentes e a extroversão dos pais predizem relacionamentos afetuosos (Denissen, van Aken e Dubas, 2009). Individuação e conflito familiar: a individuação é uma luta do adolescente por autonomia e diferenciação, ou identidade pessoal. Um aspecto importante da individuação é a criação de fronteiras de controle entre ele e os pais (Nucci, Hasebe e Lins-Dyer, 2005), e este processo pode acarretar conflito familiar. Os jovens autônomos em suas atividades diárias tendem a passar mais tempo socializando com seus pares sem supervisão e têm maior risco de apresentarem problemas de comportamento no ensino médio. Por outro lado, aqueles que consideram seus pais altamente intrometidos em suas vidas tendem a ficar sob influência negativa dos pares e ajuntar-se a seus amigos em comportamentos de risco. Portanto, os pais de adolescentes devem encontrar um equilíbrio delicado entre liberdade excessiva e intromissão excessiva (Goldstein, Davis-Kean e Eccles, 2005). Especialmente para as meninas, as relações familiares podem afetar a saúde mental. Adolescentes que têm mais oportunidades para tomar decisões relatam autoestima mais alta do que aquelas que têm menos oportunidades. Além disso, interaçõesfamiliares negativas estão relacionadas a depressão adolescente, enquanto a identificação familiar positiva está relacionada a menos depressão (Gutman e Eccles, 2007). Ademais, o apoio à autonomia por parte dos pais está associado com autorregulação adaptativa de emoções negativas e envolvimento acadêmico (Roth et al., 2009). Estilos de parentalidade e autoridade dos pais: o estilo de parentalidade democrático continua a promover o desenvolvimento psicossocial saudável (Baumrind, 1991, 2005). Pais que demonstram decepção pelo mau comportamento dos adolescentes são mais eficazes em motivar comportamento responsável do que pais que punem severamente (Krevans e Gibbs, 1996). O estilo de parentalidade excessivamente rigoroso e autoritário pode levar um adolescente a rejeitar a influência dos pais e a procurar apoio e aprovação dos pares a qualquer preço (Fuligni e Eccles, 1993). O controle psicológico, exercido através de técnicas de manipulação emocional como retirada do amor, pode prejudicar o desenvolvimento psicossocial e a saúde mental dos adolescentes (Steinberg, 2005; Tabela 12.4). Por exemplo, o uso da retirada do amor como estratégia de controle está associado com aumento nos sentimentos de ressentimento em relação aos pais e diminuição na capacidade dos adolescentes de autorregular as emoções negativas (Roth et al., 2009). REFERÊNCIA: PAPALIA, Diane E.; FELDMAN, Ruth Duskin (Colab.). Desenvolvimento Humano. 12ª ed. Porto Alegre: AMGH Editora, 2013. Monitoração parental e autorrevelação dos adolescentes: a monitoração parental eficaz pode ajudar a prevenir problemas de comportamento dos adolescentes (Barnes, Hoffman e Welte, 2006). Em um estudo com 690 adolescentes belgas, os jovens estavam mais dispostos a divulgar informação sobre si mesmos quando os pais mantinham um clima familiar afetuoso e responsivo no qual os adolescentes eram encorajados a falar abertamente e quando os pais tinham expectativas claras sem serem abertamente controladores (Soenens et al., 2006) – em outras palavras, quando o estilo de parentalidade era democrático. Estrutura e atmosfera familiares: adolescentes que vivem com seus pais casados tendem a ter significativamente menos problemas comportamentais do que aqueles em outras estruturas familiares (pais solteiros, coabitação ou família recomposta). Um fator importante é o envolvimento do pai. O envolvimento de alta qualidade de um pai não residente ajuda muito, mas não tanto quanto o envolvimento de um pai que vive na mesma casa (Carlson, 2006). Por outro lado, um estudo multiétnico de filhos de mães solteiras de 12 e 13 anos de idade – avaliados pela primeira vez quando as crianças tinham 6 e 7 anos – não encontrou efeitos negativos desta situação sobre o desempenho escolar e nem maior risco de problemas de comportamento. O que mais importava eram o nível e a capacidade educacional da mãe, a renda familiar e a qualidade do ambiente doméstico (Ricciuti, 2004). Este achado sugere que os efeitos negativos de viver com um genitor solteiro podem ser neutralizados por fatores positivos. Na medida em que os adolescentes passam mais tempo com seus pares, eles têm menos tempo e menos necessidade da gratificação emocional que costumavam obter da ligação com os irmãos. Os adolescentes têm menos intimidade com seus irmãos do que com seus pais ou amigos, são menos influenciados por eles e tornam-se mesmo mais distantes durante a adolescência (Laursen, 1996). À medida que as crianças se aproximam do ensino médio, suas relações com os irmãos tornam-se progressivamente mais uniformes. Os irmãos mais velhos exercem menos poder sobre os mais jovens, e os irmãos mais novos não mais precisam de tanta supervisão. Os níveis de intimidade entre irmãos do mesmo sexo permaneceram estáveis. Irmãos de sexo distinto, em contrapartida, tornaram-se menos íntimos entre a terceira infância e o início da adolescência, mas mais íntimos na metade da adolescência, uma época em que a maioria dos jovens começa a interessar-se pelo sexo oposto. O conflito entre irmãos diminuiu a partir da metade da adolescência. REFERÊNCIA: PAPALIA, Diane E.; FELDMAN, Ruth Duskin (Colab.). Desenvolvimento Humano. 12ª ed. Porto Alegre: AMGH Editora, 2013. As relações entre irmãos tendem a refletir tanto as relações entre pai e filho como o relacionamento conjugal dos pais. Por exemplo, os irmãos eram mais íntimos se a mãe fosse afetuosa e compreensiva. O conflito entre pai e filho estava associado ao conflito entre irmãos. Por outro lado, quando o pai estava menos feliz no casamento, os irmãos se tornavam mais íntimos e brigavam menos (Kim et al., 2006). Em um estudo longitudinal de cinco anos com 227 famílias norte-americanas de origem latina e africana, os relacionamentos entre irmãos sob certas circunstâncias tinham efeitos importantes sobre o irmão mais novo. Em famílias de mães solteiras, um relacionamento afetuoso com uma irmã mais velha tendia a prevenir o envolvimento de uma irmã mais nova com uso de drogas e comportamento sexual de risco. Por outro lado, ter uma irmã mais velha dominadora tendia a aumentar o comportamento sexual de alto risco de uma irmã mais nova (East e Khoo, 2005). O grupo de pares serve como uma rede de apoio emocional na adolescência, sendo uma fonte de afeto, acolhimento, compreensão e orientação moral; um lugar para experimentação; e um ambiente para conquistar autonomia e independência dos pais. É um lugar para formar relacionamentos íntimos que servem de ensaio para a intimidade adulta. Na adolescência há maior formação de panelinhas, ou seja, grupos estruturados de amigos que fazem as coisas juntos. Um tipo de agrupamento maior, as turmas, que normalmente não existem antes da adolescência, baseiam-se não nas interações pessoais, mas na reputação, imagem ou identidade. A admissão como membro da turma é uma construção social, um conjunto de rótulos pelos quais os jovens dividem o mapa social baseados em vizinhança, etnia, nível socioeconômico ou outros fatores, por exemplo: os sarados, os cabeças ou nerds, ou os drogados. A maior intimidade entre amigos adolescentes reflete o desenvolvimento cognitivo e emocional. Os adolescentes são agora mais capazes de expressar seus pensamentos e sentimentos particulares. Podem considerar mais prontamente o ponto de vista de outra pessoa e, desse modo, têm mais facilidade para entender os pensamentos e sentimentos de um amigo. Adolescentes que têm amizades íntimas, estáveis e solidárias geralmente têm uma opinião favorável a respeito de si mesmos, têm bom desempenho escolar, são sociáveis e provavelmente não são hostis, ansiosos ou deprimidos (Berndt e Perry, 1990; Buhrmester, 1990; Hartup e Stevens, 1999). Eles também tendem a ter estabelecido vínculos fortes com os pais (B. B. Brown e Klute, 2003). REFERÊNCIA: PAPALIA, Diane E.; FELDMAN, Ruth Duskin (Colab.). Desenvolvimento Humano. 12ª ed. Porto Alegre: AMGH Editora, 2013. Além das amizades, os relacionamentos amorosos são uma parte central do mundo social dos adolescentes. Na metade da adolescência, a maioria dos jovens tem pelo menos um parceiro exclusivo que dura de diversos meses a cerca de um ano. Os relacionamentos com os pais e os pares podem afetar a qualidade do relacionamento amoroso. O próprio casamento ou relacionamento afetivo dos pais pode servir como modelo para seus filhos adolescentes. Análises de muitos estudos concluíram que os genes influenciam de 40 a 50% da variação no comportamento antissocial dentro de uma população, e de 60 a 65% da variação no comportamento antissocial agressivo (Rhee e Waldman, 2002; Tackett et al., 2005). Os genes sozinhos, entretanto, não são preditivos de comportamento antissocial. Achados de pesquisa recentes sugerem que embora a genética influencie a delinquência, as influências ambientais incluindo família, amigos e escola afetam a expressão genética(Guo, Roettger e Cai, 2008). Déficits neurobiológicos, particularmente nas porções do cérebro que regulam as reações ao estresse, podem ajudar a explicar por que algumas crianças se tornam antissociais. Como resultado desses déficits neurológicos, que podem resultar da interação de fatores genéticos ou de temperamento difícil com ambientes adversos, as crianças podem não receber ou não perceber sinais de alerta normais para refrear o comportamento impulsivo ou imprudente (van Goozen et al., 2007). Pesquisadores identificaram dois tipos de comportamento antissocial: um tipo de início precoce, começando aos 11 anos de idade, que tende a levar à delinquência juvenil crônica na adolescência; e um tipo mais leve, de início tardio, começando após a puberdade, que tende a aparecer temporariamente em resposta às mudanças da adolescência: o descompasso entre maturidade biológica e social, desejo aumentado de autonomia e supervisão adulta diminuída. Os adolescentes com comportamento antissocial de início tardio tendem a cometer infrações relativamente mais leves (Schulenberg e Zarret, 2006). O comportamento antissocial do tipo início precoce é influenciado pela interação de fatores que variam de influências do microssistema, tais como hostilidade entre pai e filho, práticas de criação dos filhos e desvio comportamental dos pares a influências do macrossistema como estrutura da comunidade e apoio social dos vizinhos (Buehler, 2006; Tolan, Gorman-Smith e Henry, 2003). *A imensa maioria dos jovens envolvidos em atos delinquentes não se torna adultos criminosos. A delinquência atinge seu auge em torno dos 15 anos aproximadamente e então decai quando a maioria dos adolescentes e suas famílias chegam a um acordo sobre a necessidade dos jovens de assegurarem sua independência. Entretanto, adolescentes que não enxergam alternativas positivas ou que vêm de famílias problemáticas são mais propensos a adotarem permanentemente um estilo de vida antissocial. REFERÊNCIA: PAPALIA, Diane E.; FELDMAN, Ruth Duskin (Colab.). Desenvolvimento Humano. 12ª ed. Porto Alegre: AMGH Editora, 2013.
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