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Comportamento dos jovens e dos adolescentes na familia (AutoRecovered)

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RESUMO
O presente trabalho tem como objetivo pesquisar, na literatura especializada, estudos acerca do comportamentos dos adolescentes e jovens no seio da família, considerando seu processo de desenvolvimento psicossocial. 
A necessidade de os pais orientarem o comportamento da criança é fundamental aolongo do seu desenvolvimento, em particular quando se pretende a sua progressiva auto-re-gulação. Sabe-se que a qualidade desta auto-regulação é conseguida, sobretudo, através docontrolo e da disciplina impostas pelos cuidadores. Entende-se aqui por disciplina um conjunto de acções parentais positivas que pretendem orientar o comportamento da criança ouadolescente para uma trajectória aceitável. Incidindo nestas dimensões de controlo e orien-tação comportamental, que se inserem num processo de socialização dos menores, pretende-se com esta revisão da literatura reflectir sobre as diferentes comportamentos dos adolesntes e jovens consequentes das práticas disciplinares e clarificar as dinâmicas envolvidas na tarefa parental de regulação do comportamento dos adolecesntes e jovens.
Contextualização
A compreensão da juventude e da adolescência como fenômenos históricos, políticos e culturais, no ocidente, nos remete à Europa, entre o final do século XIX e o início do século XX, quando a “adolescência” torna-se objecto de investigação das ciências médicas e psicopedagógicas, no auge da ciência positivista.
Assim, a adolescência, tal como é compreendida no presente, diz respeito às investigações científicas da passagem do século XIX para o século XX, e ao seu modelo específico de separação entre juventude e idade adulta. Tal como formulado pela psicopedagogia, o conceito de adolescência deveria ser pensado em relação a um conceito da maturidade, que significaria suplantar com êxito a fase da adolescência, instaurando-se, então, aquela etapa da vida marcada pela independência afetiva e financeira, na qual o indivíduo estaria pronto para construir a sua própria família, para provê-la adequadamente, para produzir rebentos saudáveis e educá-los de maneira satisfatória (CESAR, 1998).
No discurso das práticas institucionais, a adolescência foi descoberta como um problema relacionado à educação, que visava à produção de um sujeito higiênico e disciplinado. Ou seja, simultaneamente à invenção da adolescência pelo discurso psicopedagógico, inventaram-se também as figuras que sinalizavam a falta da aplicação de dispositivos educacionais: a “delinqüência juvenil” e a “sexualidade adolescente”, imagens dos perigos que, segundo especialistas, rondavam a adolescência, tornando-a perigosa (DONZELOT, 1986).
De acordo com o Censo Demográfico de 2017, em Moçambique, 65% da população moçambicana está abaixo dos 25 anos de idade (INE, 2017). Juventude, mocidade, adolescência, puberdade, flor da idade, novo, nubilidade, muitos são os termos e conceitos utilizados para se caracterizar esse período da vida. É importante esclarecer que, em Moçambique, há um uso concomitante de dois termos: adolescência e juventude. Suas semelhanças e diferenças nem sempre são esclarecidas e suas concepções ora se superpõem, ora constituem campos distintos, mas complementares, ora traduzem uma disputa por abordagens distintas.
Adolecencia e Juventude: conceito e considerações preliminares
Jeventude é um termo amplamente utilizado pelos sociólogos, educadores e psicólogos, ou seja, é conceito de uso corrente no campo das ciências humanas. Mas, encontramos uma limitação bibliográfica no que se refere às reflexões psicológicas sobre o conceito de juventude. A psicologia tem uma rica tradição com o conceito de adolescência. Dessa forma, parece-nos pertinente apontar alguns elementos definidores da adolescência para pensar os pontos de aproximação e distanciamento da ideia de juventude.
Adolescência
O termo adolescência tem sua origem no Latim, sendo composto pelo sufixo a, que indica a para mais e o prefixo olescere forma incoativa de olece, crescer. Portanto, a adolescência significa o crescimento ou o processo de crescimento para idade adulta. 
Trata-se de uma etapa do desenvolvimento humano, predominada por mudanças nos aspectos biológicos, psicológicos, cognitivos, sócio-emocionais e estruturação da personalidade para a condução adulta. Seu início é marcado pela puberdade, na qual o corpo prepara-se para reprodução, isto é, as meninas menstruam pela primeira vez e os rapazes vivenciam o total desenvolvimento genital. A partir das precoces modificações físicas surge a iniciativa da auto-percepção que se amplia a observação crítica aos seus novos papéis na sociedade (FERRONATO, 2015). 
A adolescência é marcada, principalmente, por mudanças externas advindas da puberdade e ocasionam implicações internas. Para a Organização Mundial de Saúde, citado por Ferronato (2015), a adolescência abrange as idades de 10 a 19 anos enquanto que a juventude estende-se dos 15 aos 24 anos de idade.
Juventude
Para León (2005) que a categoria juventude foi concebida como uma construção social, histórica, política, econômica, territorial, cultural e relacional e, assim, suas definições dependem de movimentações históricas. Não podemos localizar a primeira vez que o termo juventude foi utilizado, mas devemos mencionar que os primeiros manuscritos de autores como Hegel e Marx são denominados por seus comentadores como escritos de juventude. Nesse caso, juventude se refere a um momento que se contrapõe aos escritos maduros. A ideia de juventude aparece vinculada a um processo temporal que revela movimentos humanos em direção a um ideal de realização, no caso a maturidade intelectual.
Comportamento, adolescência e juventude: conceitos e tipologias
Palmer (2003), comportamento é “tudo que um organismo faz” e ele pode ser visto com uma somatóriade de múltiplos contribuintes e múltiplos resultados. Ocomportamento é definido por uma resposta, que é a saída do sistema, uma entrada de estimulação (“interna” ao organismo ou externa a este)”, e um conjunto de sistemas e subsistemas que, em certa medida, podem ser mapeados no cérebro’’.
Por outro lado, Freitas (2005), designa o período juvenil, em determinados contextos e por usos instrumentais associados, como o conceito que amplia para baixo e para cima, podendo estender-se entre uma faixa máxima que compreende desde os 12 aos 35 anos.
No mundo ocidental o conceito de adolescência é considerado como um espaço entre a infância e a idade adulta, deixando as crianças de serem consideradas um adulto em miniatura, surge no início do século XX, ganhando expressão após a Segunda Guerra Mundial.
A adolescência como fase peculiar de desenvolvimento
Durante a adolescência ocorrem significativas mudanças hormonais, que acabam influenciando diretamente no comportamento dos adolescentes. Em geral há alterações no estado do humor, no comportamento, na agressividade, na alternância de períodos de tristeza, felicidade e agitação, sendo características comuns a essa fase de desenvolvimento. Nesse período os processos psicológicos e as formas de identificação passam da fase infantil para a fase adulta, fazendo com que o adolescente passe por uma transição de dependência econômica total para um estado de relativa independência.
Segundo Bock, Furtado e Teixeira (1999, p.106) citado por Feronato (2015) No aspecto afetivo, o adolescente vive conflitos, deseja libertar-se do adulto, mas ainda depende dele. Deseja ser aceito pelos amigos e pelos adultos, o grupo de amigos é um importante referencial para o jovem, determinando o vocabulário, as vestimentas e outros aspectos do seu comportamento. Começa a estabelecer sua moral individual, que é referenciada à moral do grupo, os interesses do adolescente são diversos e mutáveis, sendo que a estabilidade chega com a proximidade da idade adulta.
Uma marca comum na maioria dos adolescentes é a necessidade de fazer parte de um grupo. Essa necessidade está relacionada à importância atribuída as amizades, as quais possibilitam a integração a um grupo de interesses comuns. O grupo exerce influências sobre suasescolhas, gostos, comportamentos e atitudes.
Outro aspecto de suma importância é a construção da identidade, que acontece durante toda, ou grande parte da vida do individuo, pois desde o nascimento o homem inicia uma longa interação com o meio em que está inserido, a partir da qual constituirá não só a sua identidade, como sua inteligência, suas emoções, seus medos e sua personalidade.
Romamelli e Watarai (2005) citado por Ferronato, acrescentam que nessa fase, paralelamente ao surgimento de novas formas de sociabilidade e com a emergência de mudanças corporais e o início de manifestações de sexualidade, os adolescentes vivem sentimentos conflitantes enquanto buscam conquistar independência financeira e autonomia em relação aos pais e aos adultos em geral. Trata-se de um processo marcado por novas descobertas, que são vividas de modo intenso na busca de construção da identidade, elemento chave da realidade subjetiva, elo entre o individuo e a estrutura social. A identidade é algo em constante desenvolvimento.
Para os adolescentes oriundos de classes sociais mais favorecidas, criam-se expectativas para que quando o jovem adentrar para o mundo adulto, termine os estudos, saia da família de origem, constitua outra família e tenha um emprego estável, já para as famílias empobrecidas preocupa-se com a luta diária pela garantia e manutenção da sobrevivência.
Nestas circunstâncias diz Losacco (2007) citado por Ferronato (2015), que os jovens de classes menos favorecidas e dos segmentos mais pobres da sociedade, exige-se a entrada precoce no mundo do trabalho. Sem a possibilidade da preparação necessária (escolaridade formal, cultural e técnica) para o desempenho de um papel profissional especializado, vemos cada vez mais dificultada a conquista de emprego e ampliada a exploração de sua mão de obra, exploração, esta concretizada pelos baixos salários e o acúmulo de jornadas de trabalho para garantia de sua manutenção.
Bachman et al. (1991), Wallace e Bachman (1994) referem que os jovens de origem africana não se envolvem – ou envolvem-se com menor frequência – em comportamentos-problema, apesar de apresentarem características associadas a estilos de vida que envolvem perigosidade (normalmente são mais pobres, provêm de famílias mono-parentais, e são sujeitos a pressões específicas – aculturação, desenraizamento, preconceito). Sugere-se a existência nestes grupos, de factores que influenciam positivamente o comportamento dos jovens: a existência de laços familiares fortes, a religiosidade e o envolvimento em organizações sociais, que aumentam a coesão social e o apoio mútuo (Gibbs & Hines, 1989; Amey, Albrecht & Miller, 1996). 
São aplicáveis aos estudos dos comportamentos juvenis e aos seus contextos, alguns modelos teóricos gerais, entre os eles o Modelo de Influência Social e O Modelo de Desenvolvimento Social. No Modelo de Influência Social, o foco primordial é a influência das forças sociais (pares, pais e media) nos indivíduos, nas suas interacções situacionais e as suas percepções sobre as normas relacionadas com o uso e abuso de substâncias (Flay, 1985; Hansen, 1988). O Modelo de Desenvolvimento Social, incorpora o conjunto dos vários domínios, interrelacionados, relevantes e potencialmente influenciadores do comportamento, que vão desde a vulnerabilidade bioquímica e genética no plano individual, às normas e às leis na área societal. Estes determinantes negativos constituem padrões etiológicos similares para os comportamentos perigosos, tendo sido sistematizados por Hawkins, Catalano e Miller (1992). Numerosos factores são susceptíveis de influenciar os comportamentos juvenis: factores de natureza individual – auto-conceito, depressão e «stress» «locos de controlo» – e factores sócioculturais – a família, a escola, o grupo de pares, as actividades de ocupação de tempos livres, as tensões inerentes às situações de aculturação e a etnicidade. Quanto à família, a qualidade dos laços familiares e das normas transmitidas, a modelação parental, a disfunção familiar, a natureza da estrutura familiar e os estilos educativos, são relevantes no envolvimento no uso e abuso de substâncias (Andrews et al., cit. por E. R. Oetting, & J. F. Donnermeyer, 1998; Hawkins & Fitzgibbon, 1993)
Portanto, as diferenças e semelhanças existentes entre os adolescentes de diferentes classes sociais, explicam as diversas formas de ver, de reagir e de inteirar-se com o mundo, com padrões de comportamentos singulares. Na realidade é necessário reconhecer que em razão das diferenças nas condições concretas de vida em sociedade, a adolescência, mais do que uma fase peculiar de desenvolvimento, tem seus contornos definidos e é delimitada pela realidade sócio histórica em que está inserida.
Família e desenvolvimento humano
A família possui um papel primordial no amadurecimento e desenvolvimento biopsicossocial dos indivíduos, apresentando algumas funções primordiais, as quais podem ser agrupadas em três categorias que estão intimamente relacionadas: funções biológicas (sobrevivência do indivíduo), psicológicas e sociais (Osório, 1996). 
A função biológica principal da família é garantir a sobrevivência da espécie humana, fornecendo os cuidados n Em relação às funções psicológicas, podem-se citar três grupos centrais: a) proporcionar afeto ao recém-nascido, aspecto fundamental para garantir a sobrevivência emocional do indivíduo; b) servir de suporte e continência para as ansiedades existenciais dos seres humanos durante o seu desenvolvimento, auxiliando-os na superação das “crises vitais” pelas quais todos os seres humanos passam no decorrer do seu ciclo vital (um exemplo de crise que pode ser mencionado aqui é a adolescência); c) criar um ambiente adequado que permita a aprendizagem empírica que sustenta o processo de desenvolvimento cognitivo dos seres humanos (Osório, 1996).ecessários para que o bebê humano possa se desenvolver adequadamente. 
Segundo Romanelli (1997) a família corresponde a um lugar privilegiado de afeto, no qual estão inseridos relacionamentos íntimos, expressão de emoções e de sentimentos. Portanto, pode-se dizer que é no interior da família que o indivíduo mantém seus primeiros relacionamentos interpessoais com pessoas significativas, estabelecendo trocas emocionais que funcionam como um suporte afetivo importante quando os indivíduos atingem a idade adulta. Estas trocas emocionais estabelecidas ao longo da vida são essenciais para o desenvolvimento dos indivíduos e para a aquisição de condições físicas e mentais centrais para cada etapa do desenvolvimento psicológico.
No que tange à função social da família, o cerne está na transmissão da cultura de uma dada sociedade aos indivíduos (Osório, 1996), bem como na preparação dos mesmos para o exercício da cidadania.
Nesse sentido, Scabini (1992) ressalta que a família, constituindo-se como uma organização complexa de relações entre os membros que a compõem, tem por objetivo organizar, produzir e dar forma a essas relações. Sendo assim, há a necessidade de adaptações constantes da rede complexa de relações familiares frente às constantes transformações que ocorrem no âmbito familiar, para que essas relações promovam o desenvolvimento de seus membros (Romanelli, 1997).
O ciclo vital evolutivo da família é dinâmico (Osório, 1996), sendo marcado tanto por eventos críticos previsíveis (nascimento, adolescência, casamento dos filhos, entre outros) quanto por eventos críticos não previsíveis (separações, doenças, perdas, entre outros), os quais causam grande impacto no contexto familiar, provocando um aumento da pressão e uma desorganização dentro deste contexto, o que acaba influenciando diretamente no processo de desenvolvimento da família (Scabini, 1992). Considerando-se este contexto, é necessário que a família supere as crises pelas quais passa e consiga modificar-se, englobando as diferenças e mudanças pessoais dos membros que a constituem, como as que ocorrem nos períodos considerados como típicos de transição, por exemplo, a adolescência.
Entretanto, destaca-seque a manutenção da saúde familiar não depende apenas da capacidade de superação das crises, mas também da boa qualidade das relações entre os membros da família e da boa qualidade das trocas familiares com o meio social no qual está inserida (Scabini, 1992). Neste sentido, a harmonia, a qualidade do relacionamento familiar e a qualidade do relacionamento conjugal são aspectos importantes que exercem influência direta no desenvolvimento dos filhos, podendo influenciar até mesmo no possível aparecimento de déficits e transtornos psicoafetivos nos indivíduos (Pratta e Santos, 2007). Assim a relação entre pais e filhos é a que apresenta o vínculo mais forte dentro do contexto familiar, ligando-se “à reprodução da família em sentido mais amplo, englobando a reprodução biológica e, sobretudo, a reprodução social”
Família, adolescência: os pais frente a adolescência dos filhos
Na concepção de Minuchin (1985) a família é um complexo sistema de organização, com crenças, valores e práticas desenvolvidas ligadas diretamente às transformações da sociedade, em busca da melhor adaptação possível para a sobr’
Para Losacco (2007) Citado por Ferronato (2009)a família é a célula do organismo social que fundamenta uma sociedade. Lócus nascendi das histórias pessoais, é a instância predominantemente responsável pela sobrevivência de seus componentes; lugar de pertencimento, de questionamentos; instituição responsável pela socialização, pela introjeção de valores e pela formação de identidade; espaço privado que se relaciona com o espaço público.evivência de seus membros e da instituição como um todo.
Cabe ressaltar que hoje vemos a família constituída de diferentes maneiras, seja pelo casamento civil ou religioso, pela união estável, por grupos formados pelos pais ou ascendentes e seus filhos, sobrinhos ou netos, mães e pais solteiros e uniões homossexuais, deixando a família de ser vista só como aquela formada unicamente pelo casamento formal. Essas novas configurações são baseadas mais no afecto do que nas relações de consanguinidade, parentesco ou casamento.
De acordo com estudos de ROCHA, MOTA & MATOS (2011) a imagem que os adolescentes criam de si e dos outros estão associadas as relações estabelecidas com a figura cuidadora. A esse respeito Szymanski (2003) citado por Ferronato (2015) complementa que, a família, em especial, a relação mãe-filho, tem aparecido como referencial explicativo para o desenvolvimento emocional da criança. A descoberta de que os anos iniciais de vida são cruciais para o desenvolvimento emocional posterior; focalizou a família como o lócus potencialmente produtor de pessoas saudáveis, emocionalmente estáveis, felizes e equilibradas, ou como o núcleo gerador de inseguranças, desequilíbrios e toda sorte de desvios de comportamento. 
A família figura ainda como fonte de segurança e em referencial para o adolescente uma vez que este vivencia intensamente o processo de construção de sua identidade, sendo fundamental a experiência vivida em família e a convivência com os pais, irmãos, avós e outras pessoas significativas. Uma atitude de oposição a seu modelo familiar e aos pais é parte inerente do processo de diferenciação em relação a estes e de construção de seu próprio eu. O desenvolvimento da autonomia se dará de modo crescente, mas o adolescente, em diversos momentos, precisará recorrer tanto a fontes sociais que lhe sirvam de referência (educadores, colegas e outras) quanto à referência e à segurança do ambiente familiar (PNCFC, 2006, p.31).
De acordo com Romanelli (2003) a forma de organização da família é um elemento relevante no modo como ela conduz o processo de socialização dos adolescentes e jovens imaturos, transmitindo lhes valores, normas e modelos de conduta e orientando-os no sentido de tornarem-se sujeitos de direitos e deveres no universo doméstico e no domínio público.
A autoestima e a segurança surge como variáveis associadas ao desenvolvimento psicossocial dos jovens, ou seja, a forma como é cuidado e o amor que lhe é dado servirá modelo no estabelecimento das relações com o meio.
As demais legislações produzidas ao longo da década de 1990 e 2000, reafirmam os princípios constitucionais e ressaltam a importância da família no desenvolvimento psicossocial de crianças e adolescentes, uma vez que, é no seio da família e da comunidade que são construídas as relações primárias.
De acordo com Guimarães (2007): O Estado deve ser o maior responsável e a sociedade no seu conjunto, co-responsável, na execução de uma política global de família com especial atenção para com seus membros mais vulneráveis e mais desprotegidos. Devendo ser proporcionados às famílias, os meios e recursos necessários para que deles possam cuidar, tendo como primazia a manutenção dos vínculos familiares, independente da situação de vulnerabilidade social.
A família: seu lugar na perspectiva dos jovens
O sistema familiar muda à medida que a sociedade muda, e todos os seus membros podem ser afetados por pressões interna e externa, fazendo que ela se modifique com a finalidade de assegurar a continuidade e o crescimento psicossocial de seus membros.
Estudos evidenciam que a adolescência corresponde a um fenômeno biopsicossocial cujo elemento psicológico do processo é constantemente determinado, modificado e influenciado pela sociedade (Kalina, 1999). Ela corresponde a um período de descobertas dos próprios limites, de questionamentos dos valores e das normas familiares e de intensa adesão aos valores e normas do grupo de amigos. Nessa medida, é um tempo de rupturas e aprendizados, uma etapa caracterizada pela necessidade de integração social, pela busca da auto-afirmação e da independência individual e pela definição da identidade sexual (Silva & Mattos, 2004). Os adultos têm um papel central neste processo, pois oferecem a base inicial aos mais jovens, a bagagem de regras e normas essenciais para o social, bem como atuam como modelos introjetados, geralmente como ideais, cujas atitudes e comportamentos serão transmitidos às gerações que os sucedem (Biasoli-Alves, 2001).
Mas o alto índice de jovens que coabitam com seus pais, ou que, logo após os 20 anos já constituíram seus próprios núcleos familiares autônomos, sugere que a família detém, ainda hoje, algum grau de influência na formação das futuras gerações e um papel relevante no nucleamento dos laços sociais. Assim, os números não questionam a presença efectiva da família no cotidiano dos jovens.
Nessa etapa do desenvolvimento, o indivíduo passa por momentos de desequilíbrios e instabilidades extremas, sentindo-se muitas vezes inseguro, confuso, angustiado, injustiçado, incompreendido por pais e professores, o que pode acarretar problemas para os relacionamentos do adolescente com as pessoas mais próximas do seu convívio social. Entretanto, essa crise desencadeada pela vivência da adolescência é de fundamental importância para o desenvolvimento psicológico dos indivíduos (Drummond & Drummond Filho, 1998), o que faz dela uma crise normativa.
Contudo, a vivência da adolescência não é um processo uniforme para todos os indivíduos, mesmo compartilhando de uma mesma cultura. Ela costuma ser, geralmente, um período de conflitos e turbulências para muitos, no entanto há pessoas que passam por esta fase sem manifestarem maiores problemas e dificuldades de ajustamento. 
Dados epidemiológicos evidenciam que cerca de 20% dos adolescentes apresentam problemas de saúde mental e necessitam de ajuda, enquanto que os demais atravessam essa etapa do desenvolvimento sem maiores problemas (Marturano & cols., 2004 citado por Pratta & Santos, 2007), ou seja, passam pela adolescência “absolutamente imunes a qualquer tipo de crise. Simplesmente vivem, adquirem ou não determinados valores, idéias e comportamentos e chegam ‘incólumes’ à idade adulta” (Becker, 1994).
Além disso, é necessário ressaltar ainda que o processo de adolescência não afeta apenas os indivíduos que estão passando por este período, mas também as pessoas que convivem diretamente com os mesmos, principalmentea família. Isso porque a adolescência dos filhos tem influência direta no funcionamento familiar, constituindo-se, portanto, como um processo difícil e doloroso tanto para os adolescentes quanto para seus pais, uma vez que, como já foi discutido anteriormente, a família não é constituída pela simples soma de seus membros, mas um sistema formado pelo conjunto de relações interdependentes no qual a modificação de um elemento induz a do restante, transformando todo o sistema, que passa de um estado para outro.
Assim, a adolescência favorece as condições necessárias para a emergência de uma série de problemas e conflitos dentro do contexto familiar, sendo que muitos estudos enfatizam que há um aumento das brigas e disputas entre pais e filhos durante os anos da adolescência, uma vez que a necessidade de negociação constante, inerente a esta etapa, aumenta o potencial de conflitos entre as gerações (Pratta & Santos, 2007). A literatura ressalta ainda que o aumento desses conflitos geralmente está acompanhado de uma diminuição na proximidade do convívio, principalmente em relação ao tempo que adolescentes e pais passam juntos 2001. Contudo, um conflito bem negociado pode levar a um crescimento para os filhos e para os pais.
Por esse motivo o diálogo nessa etapa do desenvolvimento assume um papel ainda mais importante, apesar de muitas vezes os adolescentes buscarem se fechar em seu “mundo” próprio. Devido à essa tendência à reclusão e a busca de refúgio na fantasia e no devaneio, o diálogo com os membros da família, nessa etapa da vida, é essencial, pois é justamente nesse período que eles mais necessitam da orientação e da compreensão dos pais, sendo que todo o legado que a família transmitiu aos mesmos desde a infância continua sendo relevante (Pratta & Santos), 2007). A falta de diálogo no ambiente familiar pode, portanto, acarretar ou, em certos casos, acentuar algumas dificuldades, principalmente em termos de relacionamento, podendo afetar até mesmo o bem-estar e a saúde psíquica dos adolescentes.
Nesse contexto, Drummond & Drummond Filho (1998) salientam que, além do recurso do diálogo, quando a família busca desde cedo estabelecer relações de respeito, confiança, afeto e civilidade entre seus membros, tende a lidar com essa fase do desenvolvimento de uma maneira mais adequada e com menos dificuldades do que uma outra família na qual tais valores não foram praticados. Quando um grupo familiar possui um filho adolescente, o grupo como um todo parece adolescer. Os pais vivenciam sentimentos variados em decorrência da adolescência de seus filhos e as respostas que são capazes de dar aos adolescentes estão condicionadas à forma pela qual os mesmos resolveram o seu processo adolescente, “ao nível de integração que têm como casal e à sua capacidade de adaptação às redefinições que esta situação implica” (Kalina, 1999). Assim, pode-se dizer que, frente à adolescência dos filhos, os pais apresentam uma angústia intensa, tanto em função de suas próprias inseguranças quanto por evocações conscientes ou inconscientes de suas fantasias e/ou atitudes vivenciadas durante o seu próprio processo adolescente (Levisky, 1998).
Dessa forma, actualmente, além das preocupações gerais dos pais com a questão de como lidar com a adolescência dos filhos, existem dois grandes problemas que vêm afligindo os adultos que possuem filhos adolescentes. São eles: a iniciação sexual precoce e a ameaça da drogadição, os quais trazem consigo também a preocupação crescente com a possibilidade de contaminação pelo vírus HIV, uma vez que tem crescido assustadoramente o número de adolescentes contaminados por este agente infeccioso. Estes dois aspectos se destacam na pauta de preocupações parentais, uma vez que as influências do contexto no qual os adolescentes se desenvolvem, tanto no que diz respeito à família quanto no que concerne ao ambiente macrossocial, associadas às características de imaturidade emocional, impulsividade e comportamento desafiador que freqüentemente estão presentes na fase da adolescência, resultam no engajamento em comportamentos considerados de risco, como por exemplo a iniciação sexual precoce, a ausência de proteção durante o ato sexual, uso de substâncias psicoativas e baixos níveis de atividade física (Pratta, 2007).
Segundo Drummond & Drummond Filho (1998), as inadequações de comportamento e até mesmo a exposição a riscos desnecessários podem surgir em função da própria curiosidade, extremamente presente nessa etapa evolutiva, e de outros fatores cognitivos, biológicos, psicológicos, sociais e culturais que podem exercer um papel importante na determinação de comportamentos de risco nesse período do desenvolvimento. No caso específico do consumo de substâncias psicoativas, regulamentadas ou ilícitas, apesar de sempre ter existido, só se tornou um fator preocupante para os pais na atualidade, pois o consumo de drogas aumentou significativamente entre os adolescentes nos últimos anos (Pratta, 2003).
Experiências de comportamentos chave entre adolescentes e jovens
Muitos adolescentes e jovens enfrentam pressões ao uso de álcool, cigarros ou outras drogas e para iniciar as relações sexuais em idades mais precoces, colocando-se em risco elevado de lesões intencionais e não intencionais, gravidezes indesejadas e infecções de doenças sexualmente transmissíveis (DSTs), incluindo o da imunodeficiência humana imunodeficiência humana (HIV). Muitos também experimentar uma grande variedade de ajustes e problemas de saúde mental. Padrões de comportamento que são estabelecidas durante este processo, tais como o uso de drogas ou não uso e tomada de risco sexual ou de proteção, pode ter efeitos positivos e negativos duradouros sobre o futuro da saúde e bem-estar. Como resultado, durante este processo, os adultos têm a oportunidade única de influenciar os jovens.
Os adolescentes e jovens, são diferentes, tanto de crianças e de adultos. Especificamente, os adolescentes não são plenamente capazes de compreender conceitos complexos, ou a relação entre o comportamento e as consequências, ou o grau de controle que têm ou podem ter sobre a tomada de decisões de saúde, incluindo as relacionadas ao comportamento sexual. Esta incapacidade pode torná-los particularmente vulneráveis à exploração sexual e comportamentos de alto risco. Leis, costumes e práticas podem também afetar os adolescentes de forma diferente do que os adultos. Por exemplo, as leis e políticas muitas vezes restringir o acesso dos adolescentes à informação e aos serviços de saúde reprodutiva, especialmente quando eles são casados. Além disso, mesmo quando os serviços não existem, atitudes fornecedor sobre adolescentes fazendo sexo muitas vezes representam uma barreira significativa à utilização de tais serviços.
Na adolescência mais tarde, duas coisas dominam a mente de um adolescente: encontrar um namorado ou namorada e encontrar uma maneira de ganhar a vida. A maneira como essas necessidades são expressas podem variar de tentar fazer sexo com quem você vai ter e fazer, empréstimo ou roubar dinheiro suficiente para fazer uma boa exibição, a um esforço sério para criar as bases para uma parceria ao longo da vida baseada no amor e na formação para uma carreira financeiramente e pessoalmente gratificante.
Problemas Emocionais e de Comportamento e Clima Familiar em Adolescentes e seus Pais
Para os pais, a adolescência dos filhos se mostra, frequentemente, um período difícil e desafiador. Teodoro&Saraiva e Cardoso (2014) revisam diversos autores e concluem que durante a adolescência dos filhos a maioria das famílias, mesmo aquelas que até então haviam tido relações predominantemente harmoniosas, atravessa uma época de desgastes, desajustes e maiores conflitos. A comunicação entre pais e filhos, assim, pode se deteriorar em algum momento e provocar mudanças nos padrões de interação. A família precisa se flexibilizar e se adaptar a um novo funcionamento, oferecendo um ambiente que promova o crescimento e desenvolvimento dos filhos adolescentes. O papel dos adultosé fundamental neste processo, pois são eles que devem prover a base inicial aos mais jovens, as regras e normas sociais, servindo como modelos a partir de ideias, atitudes e comportamentos transmitidos (Pratta, 2007). Face às transições típicas da faixa etária, a adolescência pode ser um período de vulnerabilidade para o surgimento de problemas emocionais e de comportamento (PEC) (Jacobs, Reinecke, Gollan, & Kane, 2008). Os PEC na infância e adolescência não possuem consenso quanto à sua definição, havendo na literatura científica uma diversidade de conceituações que os designam. Neste estudo, adotou-se a definição proposta por Achenbach (1991), que caracteriza os PEC como sendo padrões sintomáticos, que podem ser divididos em dois tipos: externalizantes e internalizante.
Normalmente, os adolescentes exercem sua independência questionando as regras dos pais, o que às vezes os leva a quebrar regras. Pais e profissionais de saúde devem distinguir erros de julgamento ocasionais de um grau de mau comportamento que requer intervenção profissional. A gravidade e frequência das infrações são guias. Por exemplo, o uso excessivo e recorrente de álcool e o envolvimento em absentismo recorrente ou roubo são muito mais significativos do que episódios isolados das mesmas atividades. Sinais de alerta que sugerem comportamentos disruptivos são comprometimento funcional e incluem deterioração do desempenho escolar e fugir de casa. Adolescentes que causam lesões graves ou usam armas em uma luta são particularmente preocupantes.
Como os adolescentes são muito mais independentes e tem mobilidade muito maior do que eram quando crianças, eles frequentemente estão fora do controle físico direto de adultos. Nessas circunstâncias, o comportamento dos adolescentes é determinado pelo seu próprio código moral e comportamental. Os pais orientem em vez de controlar diretamente as acções de seus filhos. É menos provável que adolescentes que se sentem acolhidos e apoiados por seus pais se envolvam em comportamentos de risco, bem como aqueles cujos pais transmitem expectativas claras sobre o que esperam do comportamento deles e determinam limites consistentes e vigilância.
O controle parental autoritativo é um estilo parental em que as crianças participam na definição das expectativas e regras familiares. Esse estilo parental, ao contrário da parentalidade severa ou permissiva, tem maior probabilidade de promover comportamentos maduros, onde os adolescentes compreendem melhor as regras comportamentais exigidas pelos pais, adptam atitudes de eductivas e de respeito.
Pais autoritários normalmente usam um sistema de privilégios graduados, em que os adolescentes inicialmente recebem pequenas responsabilidades e liberdades (p. ex., cuidar de um animal de estimação, fazer as tarefas domésticas, comprar roupas, decorar o quarto, gerenciar a mesada, participar de eventos sociais com amigos, dirigir). Se os adolescentes lidam bem com essas responsabilidades ao longo de um período de tempo, mais privilégios são concedidos. Por outro lado, julgamento ruim ou falta de responsabilidade leva à perda de privilégios. Cada novo privilégio exige monitoramento atento por parte dos pais para garantir que os adolescentes cumprem com as regras acordadas.
Alguns pais e adolescentes brigam sobre quase tudo. Nessas situações, a questão central é realmente o controle. Os adolescentes querem se sentir no controle de suas vidas, mas os pais não estão prontos para abrir mão do controle. Nessas situações, todos podem se beneficiar quando os pais escolhem as batalhas deles e focam seus esforços nas ações do adolescente (p. ex., frequentar a escola e cumprir com as responsabilidades domésticas), em vez em suas expressões (p. ex., roupas, penteado e entretenimento preferido).
Adolescentes cujo comportamento é perigoso ou inaceitável apesar dos melhores esforços de seus pais podem precisar de intervenção profissional. O uso de substâncias é um gatilho comum dos problemas comportamentais, e transtornos pelo uso de substâncias requerem tratamento específico. Problemas comportamentais também podem ser um sintoma de transtornos de aprendizagem, depressão ou outros distúrbios de saúde mental. Esses transtornos tipicamente exigem tratamento com fármacos, bem como aconselhamento. Se os pais não são capazes de limitar o comportamento perigoso do filho, eles podem solicitar ajuda do sistema judicial e um oficial de condicional pode ser atribuídos para que possa ajudar a impor regras razoáveis em casa.
Os jovens sentem necessidade de se distanciar da família, de se aproximar de amigos e ideias que reafirmem quem querem ser.
Quando o adolescente descobre ser um indivíduo único e não apenas uma extensão da família, seu movimento natural é afirmar e fortalecer essa individualidade. Eles sentem necessidade de se aproximar de amigos e de conteúdos que reafirmem quem querem ser. O afastamento e algum nível de confronto são importantes para o desenvolvimento do jovem nessa fase. Esse afastamento saudável é um dos primeiros geradores de angústia nos pais. 
A diminuição do tempo com os filhos é agravada pela forma como os pais encaram sua função na vida deles. Desde o momento em que eles dão seu primeiro choro, a organização da vida familiar gira em torno de seu bem-estar. Pais que trabalham destinam todo o tempo livre para cumprir o papel de cuidador. Mães deixam de trabalhar para se dedicar aos filhos. O carro que comprarão, a programação de férias e até a forma como distribuirão os móveis pela casa são decisões baseadas, primeiro, na necessidade das crianças (ou no que os pais imaginam ser essa necessidade). Depois de passar tantos anos submersos na tarefa de criar seus filhos, não é de estranhar a sensação de vazio, ou invisibilidade, relatada por muitos pais.
Filhos de qualquer idade têm o potencial de pôr em evidência problemas dos pais que eles mesmos não conheciam. No caso dos adolescentes, essa capacidade é maior. À medida que os jovens se tornam mais parecidos com adultos – na aparência, no discurso e nas atitudes –, surge a possibilidade de projeções e identificações. Na prática, significa que podem surgir – tanto da parte de pais quanto de filhos – sentimentos de competitividade, inveja e desgosto, por mais estranho que possa ser vivê-los ou reconhecê-los. A similaridade de sexos faz diferença nesse momento: a relação entre pais e filhos e mãe e filhas tem mais possibilidade de conflito. É como se as mães, ao vir as moças que se tornaram suas filhas, se dessem conta do que mudou nelas mesmas. 
As situações capazes de produzir reflexões (às vezes, dolorosas) são cotidianas. Os adolescentes costumam criticar as escolhas que seus pais fizeram ao longo da vida. É o momento em que crises e conflitos não resolvidos afloram. Nesses casos, o estresse não é gerado pelo adolescente, mas pelos pontos cegos que ele ilumina na vida dos pais. Crises no casamento são comuns. Muitos casais se separam. 
Os adolescentes, frequentemente se portam de forma errática e provocativa. Tornam-se mais distantes podem ser malcriados e mais agressivos do que costumavam ser, em contrapartida, abrir espaço ao filho implica ceder poder sobre questões que eram de domínio dos pais 
São comuns descompassos entre o desejo de autonomia dos adolescentes e sua capacidade real de lidar sozinho com as situações. Inúmeros estudos nos últimos 20 anos mostraram que a parte do cérebro responsável por controlar nossos impulsos ainda está em fase de mudança no adolescente. Ela não é tão madura quanto num adulto. Para completar, a produção do hormônio responsável por nossa sensação de prazer, a dopamina, é explosiva nessa fase. “Situações de risco produzem muito mais prazer em adolescentes que em adultos”, diz Jennifer Senior. Boa parte das preocupações dos pais é justificada. Ainda assim, mantê-los embaixo das asas não é uma opção. O desafio dos adultos é descobrir até que ponto eles podem seguir sozinhos e quando precisam de ajuda.
Considerações finais 
A adolescência tem sido alvo de numerosos estudos. A revisãoda literatura que se empreendeu nesta consulta bibliográfica, demonstrou que há evidências consistentes de que a família nos dias de hoje ainda exerce um papel importante no desenvolvimento de seus membros, principalmente no período da adolescência.
Considerando a atitude de empatia, essa relação pode ser subsidiada pelo movimento de compreensão relativo à visão de se posicionar no lugar do outro para buscar entendê-lo. Conforme esse processo avança, a resultante vinculação mais estreita pode colaborar para atitudes mais assertivas ao educar.
Pensar a família, portanto, e os papeis nela representados se constituirão, sempre, como um tema em discussão em decorrência da sua natureza intrínseca a que cada pessoa está atrelada. Pois não se deve pensar na constituição do indivíduo sem a determinante relação com outros indivíduos, sobretudo, em âmbito mais conexo.
Concluindo, os estudos sugerem que a família ainda mantém seu papel específico no contexto social em que se insere. No nível microssocial, continua a ter um papel central durante todo o processo de desenvolvimento de seus membros, desempenhando funções particulares em cada etapa, embora tenham sido observadas alterações em termos da intensidade com que essas funções são exercidas na contemporaneidade (Nogueira, 1998). 
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