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Aula Digital da saúde mental

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Aula Digital da saúde mental
DESCRIÇÃO
O cuidado em Saúde Mental pautado na liberdade e o vínculo construído no território.
PROPÓSITO
Compreender a importância da desinstitucionalização, do vínculo e do cuidado na Atenção Psicossocial, a fim de contribuir para uma atuação profissional pautada nos princípios da Reforma Psiquiátrica.
OBJETIVOS
Módulo 1
Descrever a importância da desinstitucionalização e do cuidado em liberdade
Módulo 2
Reconhecer a relevância do vínculo como principal ferramenta para enfrentar a questão do suicídio
Módulo 3
Descrever a importância de um olhar cuidadoso e singular no cuidado em Saúde Mental Infantojuvenil
Módulo 4
Reconhecer a relevância da aposta na integralidade do cuidado na clínica de uso abusivo de álcool e outras drogas
INTRODUÇÃO
Você já parou para pensar no que sustenta as relações que você construiu — e constrói — ao longo de sua vida? Diversos afetos e sentimentos permeiam as nossas relações, mas as que consideramos mais importantes têm como sustentação algo primordial: o vínculo estabelecido.
Podemos tomar atitudes cuidadosas e empáticas com pessoas com quem não temos uma relação próxima ou que nem conhecemos, mas quando nos preocupamos com alguém próximo ou agimos de maneira cuidadosa com uma pessoa que (
Para muitos, o entendimento de cuidado em Saúde se limita à realização de procedimentos e condutas somente levando em consideração o caráter técnico.
)faz parte de nossa vida, o vínculo torna-se mais um importante (
Porém, se queremos atuar na Saúde numa perspectiva ampliada, a concepção de cuidado também precisa se ampliar, superando a 
ideia
 dos “protocolos”.
)componente da relação.
Na esfera da Atenção Psicossocial, levando-se em conta a história de violência e isolamento em manicômios e os experimentos científicos já realizados — muitos deles agressivos e até envolvendo tortura —, não parece salutar conceber um trabalho dissociado da construção de laços de afeto.
O cuidado em Saúde Mental preconizado pela Reforma Psiquiátrica – que defende a criação e manutenção do vínculo entre os atores do processo — mostra-se mais eficiente e reforça a perspectiva integralista e ampliada da saúde.
Ao longo dos quatro módulos deste tema, discutiremos áreas específicas da Saúde Mental, com foco no vínculo e nas redes que são construídos no cotidiano dos serviços, das cidades e de todas as áreas de circulação de vida.
Você também irá conhecer a história de alguns personagens, em formato de estudo de caso, que te auxiliarão na compreensão, associação e assimilação do tema. São eles:
Esperamos que faça bom proveito de todo o conteúdo. Bons estudos!
MÓDULO 1
Descrever a importância da desinstitucionalização e do cuidado em liberdade
DESINSTITUCIONALIZAÇÃO X DESOSPITALIZAR
Neste vídeo, o(a) especialista explica as principais diferenças, trazendo exemplos importantes.
A HISTÓRIA DE MARIA
Vamos começar pensando em Maria (nome fictício), 58 anos de idade, que viveu por 40 anos internada em um grande hospital psiquiátrico no Rio de Janeiro
Confira o estudo de caso a seguir:
Clique nas barras para ver as informações.
A Infancia de Maria
Desde que nasceu, Maria vivia em um sítio no interior do Rio de Janeiro com sua família. Todos trabalhavam para os donos da propriedade rural em troca de moradia e alguns trocados. Para ela, aquela forma de vida incomodava. Dizia que, quando fizesse 18 anos, arrumaria um trabalho na capital e começaria a estudar.
Maria aprendeu a ler com a esposa do patrão do seu pai quando ainda tinha 6 anos. Ela e seus irmãos nunca tiveram acesso à escola. Sua infância foi marcada pelas cenas de uma mãe silenciosa cozinhando, costurando e cuidando da plantação do patrão. O pai se ocupava do gado e da vigilância do local. Maria e seus irmãos ajudavam em casa desde pequenos, restando pouco tempo para brincadeiras e distrações.
Adolecencia
Na adolescência, Maria tornou-se mais reativa, conforme as Ao completar 18 anos, Maria decidiu que sairia de casa em segredo, pois acreditava que seria impedida. Numa madrugada chuvosa, Maria juntou poucas roupas e fugiu em um cavalo do sítio, em busca de sua liberdade. Quando seus pais e o patrão confirmaram a fuga, iniciaram a busca. Dois dias depois, Maria foi encontrada em um município vizinho.demandas do trabalho em casa só aumentavam. Seus pais sempre reprimiram suas reações. Afinal, ela precisava se submeter às condições impostas, não tinha saída. O dono da propriedade demonstrava grande desconforto ao ouvir questionamentos ou recusas de Maria para realizar algum serviço diário.
Internação
O patrão ofereceu duas opções para Maria: ou seria presa por roubo ou iria para um hospital psiquiátrico para “cuidar da mente”. Maria acreditou que a internação seria o caminho mais leve. Pouco depois, pôde concluir que não havia leveza nenhuma em um hospital psiquiátrico.
Ao observar as outras mulheres internadas, Maria tinha a sensação de que eram todas iguais, vestidas em uniforme cinza, a mesma cor da parede do local. Ela não podia comer quando tinha fome e não podia recusar comida quando não desejava comer. Para ir ao banheiro, precisava solicitar papel higiênico à equipe de Saúde, que sempre lhe dava quantidade insuficiente.
Existia também conflito constante por cigarro. Os profissionais guardavam a quantidade de cada paciente e cediam dois a cada refeição, mesmo assim muitas brigas e trocas aconteciam, pois fumar parecia ser a única distração naquele local de isolamento e solidão.
O tempo passava e Maria percebia que poucas mulheres conseguiam alta hospitalar. Possivelmente sua vida inteira seria dentro daquele hospital. Precisou acostumar-se com o fato de que qualquer pessoa que fosse considerada um incômodo para o plantão seria amarrada e medicada — ou até sofreria outras agressões!
A prespectiva de uma vida mais digna
Ao longo do tempo, ocorreram alguns avanços na política de Saúde Mental e o cuidado em liberdade ganhou força: a formação de uma rede extra-hospitalar. Foi por isso que, após 40 anos, Maria saiu do hospital e pôde morar numa casa na cidade com outras três mulheres também egressas de longas internações. Maria passou a ter acompanhamento diário em um serviço sem grades, com retorno para casa ao final do dia O serviço de acompanhamento diário é o Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) e o de moradia é o Serviço Residencial Terapêutico (SRT), ambos criados para a concretização dos objetivos propostos pela Reforma Psiquiátrica Brasileira.
Maria comemorou pequenas conquistas — pequenas não, grandes conquistas! Agora podia utilizar a concha para pegar a quantidade de feijão que queria, podia apagar e acender a luz quando quisesse... Precisou, evidentemente, adaptar-se ao uso do dinheiro, oriundo de um benefício destinado às pessoas que passaram por anos de internação psiquiátrica. Agora em liberdade, Maria aprendeu a fazer compras no mercado e muitas outras tarefas desafiadoras do cotidiano.
A partir da história de Maria, podemos refletir sobre muitos pontos: a violência imposta pelos hospitais psiquiátricos, a cultura de internação e a separação do que incomoda, o desafio do retorno à vida em liberdade após anos de apagamento, o resgate da individualidade e do lugar como sujeito e não objeto.
REFORMA PSIQUIÁTRICA NO BRASIL: PONTOS DE AVANÇO E LUTA CONTÍNUA
Trataremos de alguns marcos históricos que ocorreram no Brasil, principalmente a partir do final da década de 1970, quando movimentos de trabalhadores, estudantes, familiares e usuários da Saúde Mental começaram a ganhar força junto com os movimentos sanitário e democrático.
Estamos nos referindo à Reforma Psiquiátrica, à Reforma Sanitária e à luta pelo fim do Regime Militar no país — a busca por um governo democrático e não autoritário. Tivemos, à época, um cenário de grande luta e mudança no país, que foi muito favorável para a área da Saúde Mental.
As mudanças na área da Saúde Mental no Brasil foram influenciadas por diversos movimentos de reforma ao redor do mundo, principalmente pelo movimento da Psiquiatria Democrática, na Itália ,liderado por Franco Basaglia (1924-1980), que defendia o fim dos manicômios e a construção de uma rede extra-hospitalar.
A Reforma Psiquiátrica ultrapassa a ideia de um movimento de mudança assistencial. Portanto, não basta construir novos serviços de saúde, é preciso romper com o preconceito e o estigma em torno dos transtornos mentais na sociedade, nos serviços de saúde, nas universidades, ou seja, em qualquer espaço vivo.
Atenção
O movimento de Reforma Psiquiátrica não chegou ao fim, ele ainda enfrenta muitos desafios!
Profissionais que atuam em correntes mais conservadoras continuam defendendo o fortalecimento do hospital psiquiátrico, ou seja, o retrocesso ronda os ganhos na política de Saúde Mental.
Os principais pontos de avanço desde o início da Reforma Psiquiátrica no Brasil são:
Lei n° 10.216
Lei n° 10.216, de 6 de abril de 2001, que reforça a importância da proteção e dos direitos das pessoas com transtornos mentais e também redireciona o modelo assistencial em Saúde Mental.
Portaria nº 336
Portaria nº 336, de 19 de fevereiro de 2002, que define e estabelece diretrizes para o funcionamento dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS).
Programa de Volta Para Casa
Traz incentivo financeiro a egressos de longas internações, criado pelo Ministério da Saúde por meio da Lei nº 10.708, de 31 de julho de 2003.
Rede de Atenção Psicossocial (RAPS)
Implantação da rede de Atenção Psicossocial (RAPS) pela Portaria GM/MS nº 3088, de 23 de dezembro de 2011, republicada em 21 de maio de 2013.
As mudanças foram significativas:
1 Tivemos um grande aumento do número de CAPS, que passaram a ocupar o lugar de ordenadores da rede de Saúde Mental como serviço substitutivo e não complementar ao hospital psiquiátrico.
2- Presenciamos a instituição das Unidades de Acolhimento (UA) e das Unidades de Acolhimento Infantojuvenil (UAI), com foco em pessoas que fazem uso abusivo de álcool e outras drogas e estão em situação de vulnerabilidade social.
3- Vimos ganhar força a estratégia de desinstitucionalização com o crescimento dos Serviços Residenciais Terapêuticos e o matriciamento da Saúde Mental na Atenção Básica, instrumentalizando os profissionais de saúde para atuação de acordo com o que preconiza a Reforma Psiquiátrica, a fim de promover atendimento e acolhimento no território.
Mas mesmo com tantos avanços, ainda temos o hospital psiquiátrico ocupando um lugar atuante na rede de Saúde Mental. Houve o fechamento de muitos manicômios, porém alguns hospitais e a adoção de práticas violentas – e até criminosas – ainda sobrevivem.
Apesar da busca por uma atuação mais humanizada, precisamos entender que persistem os espaços de internação, com caráter prisional, que separam e isolam os indivíduos.
DESINSTITUCIONALIZAR NÃO É SOMENTE DESOSPITALIZAR
Você pode estar se perguntando: “Por que estamos falando disso? E a história de Maria?”. A história de Maria tem total relação com esses avanços e desafios apontados, como tantas outras histórias de pessoas que tiveram suas vidas marcadas por muros de hospitais psiquiátricos.
Para Maria e tantos outros usuários de Saúde Mental, principalmente para os pacientes de longa permanência, ou seja, os que vivem em hospitais psiquiátricos há anos, a estratégia de desinstitucionalização é primordial para o cuidado. Mas o que isso significa? Para começar, não devemos entender desinstitucionalizar como sinônimo de desospitalizar. Qual é a diferença?
Para Tallemberg (2015, p. 62), “a desinstitucionalização, muito mais do que uma ação espacial (retirar do espaço do manicômio para o espaço do serviço, da cidade), é produzir novos reais sociais, inventar outras sociabilidades e relações com a cidade, a céu aberto.
Portanto, para acontecer a desinstitucionalização, é preciso muito mais do que fechar leitos e hospitais, como ocorre na desospitalização; é necessário considerar todas as questões que envolvem cidadania como:
Moradia		Renda		Trabalho		Alimentação
Lazer		Acesso às necessidades humanas básicas
Entre tantas outras
A desinstitucionalização traz a necessidade de novos modos de lidar com a loucura, por meio de serviços centrados nos usuários, de acordo com a lógica da clínica ampliada e com o território como foco de cuidado.
O Serviço Residencial Terapêutico (SRT) e o território
Um grande desafio é a desinstitucionalização das ações das próprias equipes, ou seja, cada envolvido nesse processo precisa reconhecer seus atos e pensamentos manicomiais, muitas vezes sutis, como, por exemplo, impor regras em um SRT, para que os moradores façam suas refeições em horas determinadas.
Os Serviços Residenciais Terapêuticos ou Residências Terapêuticas são importantes para muitos usuários de Saúde Mental, pois funcionam como moradia aos que não possuem suporte social para sair do hospital psiquiátrico e viver na comunidade.
Podem ser utilizados por pessoas que passaram
Cenário 1 			 x 				Cenário 2
 (
Por aqueles que, mesmo sem um histórico de longas internações, não possuem suporte social e familiar.
) (
Por longos anos de internação.
)
Pode parecer confuso um serviço que é também um lar! Existe uma equipe em cada casa para contribuir com o processo de reabilitação social, circulação e ocupação da cidade. Conta com profissionais formados em Saúde Mental na coordenação e organização das casas e com cuidadores capacitados para o cuidado e o acompanhamento do processo de morar.
Atenção
É importante reforçar que nas residências terapêuticas não se faz tratamento, pois essa atribuição é dos CAPS, Atenção Básica, entre outros serviços. Na residência terapêutica, o objetivo é contribuir com o “ato de morar”.
Existe um conjunto de leis e portarias que embasa as residências terapêuticas:
Lei nº 10.216/2001
Já vista no início deste módulo, que dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em Saúde Mental.
Lei nº 10.708/2003
Institui o Programa de Volta para Casa, que é o auxílio-reabilitação para pacientes egressos de internações psiquiátricas.
Portarias GM nº 52 e 53/2004
Portarias GM nº 52 e 53/2004, do Ministério da Saúde, que regulam a redução progressiva de leitos psiquiátricos e dos leitos já existentes.
Portaria nº 106/2000
Portaria nº 106/2000, do Ministério da Saúde, que traz os Serviços Residenciais Terapêuticos do SUS para egressos de longas internações.
Portaria nº 1.220/2000
Portaria nº 1.220/2000, que regulamenta a Portaria 106/2000, para cadastro e financiamento no SIA/SUS.
É importante respeitar as peculiaridades de cada residência terapêutica e, acima de tudo, de cada morador. Existem dois tipos de SRT:
 (
A SRT 
2
 conta com o acompanhamento presencial de 
cuidadores
 24 horas por dia, uma vez que seus moradores apresentam mais necessidade de cuidados.
) (
A SRT 
1
 é destinada a moradores mais estáveis e com mais autonomia
)SRT1					 A SRT 2				.
O cotidiano numa residência terapêutica permite novas descobertas e lança desafios aos moradores como apropriação da casa, convivência com profissionais e outros moradores, relação com a sociedade, impacto diante dos imprevistos da cidade etc.
Tudo isso envolve criação e fortalecimento de vínculos com pessoas e espaços, ou seja, tudo o que torna alguém vivo. O melhor cuidado é a liberdade!
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. Em relação à desinstitucionalização, marque a opção correta:
Desinstitucionalizar é sinônimo de desospitalizar.
A principal estratégia de desinstitucionalização é o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU).
O Serviço Residencial Terapêutico é uma estratégia primordial para a desinstitucionalização acontecer.
O Serviço Residencial Terapêutico é mais complexo que a Residência Terapêutica.
O CAPS pode substituir o trabalho realizado no Serviço Residencial Terapêutico.
Comentário
2. O Serviço Residencial Terapêutico (SRT) tem importantes características, marque a opção incorreta:
Pode ser dividido em SRT 1 e SRT 2.
O SRT 1 acolhe moradores com mais possibilidades de autonomia.
O SRT 2 acolhe moradores com mais dificuldades de autonomia.
O SRT3 é somente para moradores que são egressos de mais de 40 anos de internação.
O SRT não tem função de tratamento e sim de moradia.
Comentário
MÓDULO 2
Reconhecer a relevância do vínculo como principal ferramenta para enfrentar a questão do suicídio
O SERVIÇO RESIDENCIAL TERAPÊUTICO
Neste vídeo, o(a) especialista explica o funcionamento do Serviço Residencial Terapêutico e aponta a importância da desinstitucionalização.
A HISTÓRIA DE PAULA
Desta vez, vamos falar de Paula (nome fictício), 20 anos, solteira, estudante de Enfermagem, mora com seus pais no município do Rio de Janeiro.
Confira o estudo de caso a seguir:
Clique nas barras para ver as informações.
O QUE ACONTECEU?
Paula chegou ao Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) após uma tentativa de suicídio. Ela ingeriu grande quantidade de medicamentos e deixou uma carta de despedida. Seus pais chegaram a tempo de levá-la para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do bairro e realizar os procedimentos técnicos necessários. Depois, foram encaminhados para o CAPS.
Ao chegar ao CAPS, Paula estava apática e desconfiada, com olhar desinteressado durante o início da consulta de acolhimento realizada por duas profissionais. O atendimento inicial contou também com a presença dos pais de Paula, que trouxeram muitos pontos importantes sobre a situação e a história de vida da filha. Em alguns momentos, Paula relatava fatos primordiais para o acompanhamento.
A INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA DE PAULA
Os pais de Paula falaram sobre sua boa infância, com amigos, brincadeiras, boa escola e balé. Com a chegada da adolescência, a menina passou a isolar-se, tinha poucos amigos, mas permaneceu no balé — Paula contou que a dança era a única maneira que encontrava de expressar a dor que sentia, havia perdido a confiança nos amigos da escola nessa época. As profissionais de saúde perguntaram quando essa desconfiança havia começado, e Paula respondeu que aos 13 anos percebeu que seus amigos nunca a elogiavam, debochavam de tudo que ela fazia, por isso decidiu afastar-se.
Nesse momento, foi solicitado que somente Paula permanecesse na consulta, que seus pais aguardassem do lado de fora. A moça demonstrou alívio por estar sozinha e começou a contar sua história com menos desconforto.
PAULA COMPARTILHA AS SUAS DORES
Ela disse que seus pais começaram a brigar muito quando estava no início da adolescência, por motivos financeiros e afetivos. Relatou que precisaram sair de uma casa com muitos cômodos, piscina e jardim para uma casa com três cômodos em um local bastante violento; contou ainda que por duas vezes não conseguiram pagar a conta de luz e ficaram alguns dias sem energia elétrica. Em relação à escola e ao balé, Paula disse que conseguiu bolsa integral em função do seu desempenho e sua dedicação, mas que por essa razão desconfiava que os professores e colegas a olhavam com desprezo.
Quando as profissionais perguntaram sobre sua tentativa de suicídio, Paula disse que já pensava em acabar com a própria vida há 3 anos, na conclusão do ensino médio, quando começou a sentir medo de não ser aprovada no vestibular. Relatou que, desde então, qualquer situação de medo ou sofrimento dava vontade de querer morrer.
Paula pensa que o balé e sua graduação de Enfermagem são as únicas coisas que a sustentam, porém sente medo dessa vontade repentina de interromper a própria vida. Ela alega que não tem com quem compartilhar seu problema por medo de prejulgamentos e conselhos do tipo “Você é jovem, faz faculdade, tem casa, não deveria pensar isso”.
TRATAMENTO E ACOMPANHAMENTO
As profissionais do CAPS agendaram a visita diária de Paula ao serviço para contar sobre essa sensação e sobre sua história. Aos poucos, Paula criou um vínculo com a equipe e ganhou mais segurança para enfrentar seus medos. A partir desses atendimentos, Paula passou a sentir segurança nas relações e fez duas amigas na faculdade.
Certa vez, Paula contou que a vontade de ingerir grande quantidade de medicação ressurgiu muito forte, mas ela foi capaz de resistir. Quando as profissionais perguntaram o que a ajudou nessa hora, Paula disse: “Eu tenho vocês e o CAPS”. E assim os atendimentos seguem, com Paula enfrentando suas dificuldades cotidianamente, porém com o amparo do CAPS e da equipe do serviço.
EXPERIÊNCIAS DE CUIDADO NOS SERVIÇOS DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL
Você consegue perceber na história de Paula o quanto um vínculo fortalecido pode sustentar e dar suporte? Diariamente, nos serviços de Saúde Mental e Atenção Básica, principalmente nos CAPS e nas Clínicas da Família — serviços territoriais presentes nas comunidades —, muitas pessoas conseguem lidar com suas dificuldades e seus sofrimentos a partir do vínculo criado com os profissionais e os serviços. Isso tem contribuído significativamente para a redução e prevenção do suicídio.
A Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) é responsável por uma série de ações e serviços para um cuidado pautado na liberdade, buscando articulação e alinhamento entre seus componentes.
São componentes da RAPS:
Clique nas informações a seguir.
O trabalho no território é dinâmico e sempre atravessado por questões específicas de cada local, ou seja, em um mesmo município, cada bairro possui suas peculiaridades no cuidado.
Nesse sentido, não é suficiente analisar as tentativas de suicídio, a violência autoprovocada ou o próprio suicídio sob o aspecto individual, pois o problema envolve outras questões:
Familiares
Sociais
Culturais
Econômicas
Essa análise não pode ocorrer deslocada do tempo e do espaço.
Atualmente muitos protocolos são construídos para enfrentamento da questão do suicídio. Tais protocolos têm seu valor e grande importância, mas o trabalho do cotidiano exige criatividade, articulação, traz angústia e constante necessidade de reinvenção e aposta.
Nenhum profissional pode cuidar sozinho de pessoas em sofrimento psíquico com ideação suicida, é preciso um trabalho intersetorial, envolvendo múltiplos atores e serviços!
Os CAPS e as Clínicas da Família são serviços que acolhem crises diariamente. São muitos os desafios em torno da questão do suicídio: o atendimento direcionado para pessoas com tentativa e ideação suicida; o acolhimento aos familiares; as estratégias de prevenção do suicídio; o cuidado com os profissionais que lidam diretamente com esses usuários.
O acolhimento inicial é importante para a construção do vínculo e para o acompanhamento, porque ele pode produzir marcas positivas ou negativas.
Os profissionais precisam desligar-se constantemente de questões morais ou de prejulgamentos para que a prática de acolhimento seja completa e bem-sucedida.
 
É importante que sejam feitas articulações com escolas, associações da comunidade do entorno, serviços que não sejam somente da área da Saúde, para que as ações de promoção e prevenção em Saúde sejam eficazes – muitas vezes, na correria do cotidiano, apenas os casos agudos são priorizados, ou seja, os que chegam aos CAPS, às Clínicas da Família, às UPAS e aos hospitais.
Você sabia
Um serviço de apoio muito conhecido no país, ponto primordial de suporte emocional nos casos de tentativa de suicídio ou ideação suicida, é o Centro de Valorização da Vida (CVV), que presta acolhimento de maneira gratuita, com sigilo garantido, através de ligação telefônica, por e-mail ou chat.
TENTATIVA DE SUICÍDIO: SINAIS, SINTOMAS, CONTEXTO DE VIDA
É preciso analisar todo o contexto para o acolhimento da crise de quem tenta ou planeja colocar fim à própria vida, ou seja, não basta olhar para algum sinal ou sintoma isoladamente na questão do suicídio.
A fita amarela representa a prevenção do suicídio.
Você já deve ter ouvido a expressão “ideação suicida”. Muitas vezes ela se confunde com outra: “comportamento suicida”. Vamos esclarecer a diferença entre esses dois conceitos:
Ideação suicida
Significa que a pessoa produz pensamentos que podem se tornar planos para colocar fim à própria vida.
Comportamento suicida
Significa que a pessoa pode, de fato, cometer o suicídio ou colocar em prática uma ação para conseguir a própria morte.
Você provavelmentetambém ouviu falar ou conhece alguém que tenha feito ou faça cortes no próprio corpo. Em princípio, parece se tratar de um comportamento suicida, mas, como vimos anteriormente, é preciso avaliar de maneira singular cada situação.
No cotidiano dos serviços de saúde, vemos muitas pessoas que recorrem à automutilação sem pretensão de causar a própria morte.
Muitos relatam os cortes como forma de alívio da tensão, da sensação de vazio, da tristeza ou como modo de pedir ajuda para continuar vivendo — mas também pode significar um comportamento suicida.
Atenção
A automutilação nunca deve ser banalizada! É preciso escutar para elaborar a conduta a ser tomada diante do que a pessoa traz como sofrimento.
Acompanhe a seguir outros sinais nos quais devemos prestar atenção quando tratamos do tema Saúde Mental.
Clique nas barras para ver as informações.
ATENTE-SE AOS DISCURSOS
Muitas falas podem servir de alerta, como: “Eu cansei de viver”, “Vontade de dormir para sempre”, “Quero sumir”, “Vou acabar fazendo uma besteira”, “Se eu morrer, vai ser um alívio”, “Não vejo mais graça em nada”, entre outras. Atenção, pois algo que deve ser mudado é a ideia de que “quem fala, não faz”. Na verdade, qualquer aviso precisa ser levado a sério, pois rotineiramente sabemos de muitos suicídios que foram sinalizados antes de acontecerem de fato.
RELAÇÃO SUICÍDIO X DEPRESSÃO
Outra questão também importante: você acha que todo mundo que tenta suicídio sofre de depressão? Nem sempre! Às vezes, num ato de desespero, a pessoa toma uma atitude impulsiva e comete ou tenta o suicídio. É importante oferecer e buscar apoio ao perceber desespero ou situação complicada. Alguns minutos de oferta de presença podem salvar uma vida!
OUTROS INDICATIVOS
Outros sinais, sintomas e situações merecem atenção, mas sempre devem ser analisados no contexto de vida de cada sujeito: pessimismo, apatia, ansiedade permanente, insônia, tentativa de suicídio anterior, isolamento social, uso abusivo de álcool e outras drogas, perdas financeiras e afetivas significativas, abuso sexual, violência, desemprego, transtornos mentais – principalmente depressão –, entre outros.
Estamos chegando ao último tópico do módulo. Vamos lá?
Grupos de maior risco
Estudos apontam que as tentativas de suicídio são preponderantes entre as mulheres, porém os homens possuem um número maior de suicídio consumado, pois suas tentativas são muitas vezes mais agressivas e letais.
A menor busca pelo apoio de serviços de saúde por parte dos homens parece ter forte influência no agravamento do quadro.
Um número significativamente alto de adolescentes apresenta comportamento e/ou ideação suicida, o que configura o suicídio umas das principais causas de mortalidade na adolescência.
Muitos fatores influenciam o aumento do suicídio entre adolescentes, como:
swap_horiz Arraste para os lados.
As mudanças corporais e no ciclo de amizades.
O afloramento das questões da sexualidade.
O fim da infância e o caminho para a idade adulta.
O grande estímulo ao consumismo.
A influência das redes sociais, que causam adoecimento psíquico por alimentar padrões de vida, relacionamento e beleza muitas vezes inatingíveis.
O número de idosos que cometem suicídio também é alto. Muitos também apresentam ideação suicida em função de diversos fatores, entre eles:
Perdas financeiras;
Funções corporais diminuídas;
Autonomia prejudicada;
Sensação de dependência dos familiares e cuidadores;
Perda de entes queridos e relações construídas ao longo da vida.
O suicídio é uma questão prioritária de saúde pública. É preciso investimento em serviços territoriais, em ações de prevenção e também em cuidado humanizado, com profissionais disponíveis para acolher, criar vínculo e oferecer escuta. Por esse caminho, é possível enfrentar esse grande problema.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. Existem muitas concepções equivocadas em relação ao suicídio. Marque a opção que traz uma questão incorreta em relação ao tema:
O suicídio é um ato que pressupõe um período significativo de silêncio, pois quem tem ideação suicida não avisa sobre seus pensamentos.
As mulheres apresentam mais tentativas de suicídio, porém os homens conseguem consumar o suicídio com mais frequência.
A automutilação nem sempre configura uma tentativa de suicídio.
Existe um número significativo de suicídio entre os idosos.
Alguns casos de suicídio não são associados à depressão.
Comentário
2. Muitos serviços e ações de saúde são importantes no enfrentamento e na prevenção do suicídio. Marque a opção correta em relação à rede envolvida nesse cuidado:
O foco de cuidado deve ser centrado em hospitais, para evitar circulação da pessoa com risco de suicídio.
A Atenção Básica não tem autonomia para acompanhar os casos de tentativa de suicídio no território.
O CAPS é o único serviço territorial responsável pelo acolhimento à crise que diz respeito ao suicídio.
Todos os dispositivos da RAPS precisam estar envolvidos no cuidado direcionado para as pessoas com risco ou tentativa de suicídio.
A UPA é o principal serviço de cuidado direcionado às pessoas com tentativa de suicídio.
Comentário
MÓDULO 3
Descrever a importância de um olhar cuidadoso e singular no cuidado em Saúde Mental Infantojuvenil
INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA E FATORES DE SOFRIMENTO PSÍQUICO
Neste vídeo, o(a) especialista contextualiza os fatores que podem trazer sofrimento psíquico na infância e adolescência e as possíveis intervenções.
A HISTÓRIA DE CÁSSIO
Chegou a hora de conhecer a história de Cássio (nome fictício). Ele tem 17 anos, é autista e mora em um abrigo para crianças e adolescentes com necessidades especiais.
Confira o estudo de caso a seguir:
Clique nas barras para ver as informações.
A INFÂNCIA DE CÁSSIO
Cássio nunca teve vínculo familiar. Sua infância foi marcada por abrigos, solidão e silêncio, pois sua mãe vivia em situação de rua e julgava não ter condições para criá-lo, deixando o filho em uma igreja após seu nascimento.
Ao longo do tempo, profissionais de um dos abrigos onde Cássio morou perceberam que ele apresentava dificuldade de interação. Passava a maior parte do tempo deitado no chão e levando objetos até a boca, não desenvolveu a fala. Aos 7 anos, Cássio foi encaminhado para o Centro de Atenção Psicossocial Infantojuvenil (CAPSi) de sua cidade.
O INÍCIO DO TRATAMENTO
No CAPSi, Cássio não se adaptava às oficinas terapêuticas, pois a presença de muitas pessoas o deixava angustiado. Era então atendido individualmente por uma psicóloga, sua profissional de referência, e por uma estagiária de Serviço Social, com quem havia construído um vínculo.
Após a finalização do estágio de 5 meses, a estudante encerrou as atividades no CAPSi e se despediu de Cássio. A partir de então, a equipe começou a perceber em Cássio episódios de agressividade, com gritos (somente sons, sem palavras, sem formular frases) e com o corpo.
Inicialmente, houve intensa preocupação em acabar com essa agressividade crescente, pois a crise era encarada como algo de aspecto negativo que precisava ser silenciada com medicação. Tal conduta durou cerca de dois anos e quase nenhum progresso pôde ser observado no acompanhamento de Cássio. O comportamento agressivo permanecia.
CÁSSIO ESTABELECE UM NOVO VÍNCULO
A maior parte dos funcionários que conhecia Cássio sentia dificuldades no atendimento, mas a chegada de um novo profissional no serviço apontou uma sensível melhora no comportamento do menino. Um dia, esse enfermeiro, ao perceber que Cássio jogava todos os brinquedos no chão, falou: “Cássio, é muita coisa para te chatear, né? Eu entendo que assim você está mostrando que é difícil”.
A abordagem diferente de todas as anteriores proporcionou o início da construção de um vínculo entre Cássio e o enfermeiro. Tal postura passou a ser adotada por outros profissionais do serviço, o que contribuiu muito para os avanços no cuidado em outros casos.
AVANÇOS E CONQUISTAS
Aos 11 anos, Cássio começou a usar algumas palavras, a maioria delas de teor agressivo ou xingamentos. Alguns profissionais do CAPSi e do abrigo diziampara ele que não era possível xingar daquela maneira, porém, esse enfermeiro em quem Cássio confiava pôde perceber que, conforme o menino colocava seus sentimentos em palavras, deixava de quebrar objetos e sua agressividade diminuía. A possibilidade de avanço psíquico foi evidente, e a equipe passou a acolher a raiva manifestada verbalmente por Cássio. Pouco a pouco outras palavras surgiram, inclusive trechos de música.
Cássio segue no acompanhamento pelo CAPSi com frequência intensiva e eventualmente consegue participar de algumas oficinas, como a oficina de música e a de passeio, em que profissionais e usuários do serviço realizam visitas a pontos turísticos da cidade. Cássio está em processo de encaminhamento para morar em um Serviço Residencial Terapêutico (SRT), pois não possui laços familiares e necessita de cuidados constantes, além do fato de ser uma grande oportunidade poder escolher sua cama, sua alimentação, a hora que vai tomar banho, entre tantos outros detalhes envolvidos no “processo de morar” nunca antes experimentados por ele.
A vizinhança do CAPSi já conhece Cássio e muitos dirigem-se a ele de maneira afetuosa: no mercado, no barbeiro e na padaria. Tudo isso tem relação com o investimento da equipe e com a aposta de que existe um sujeito ali. Por meio do vínculo, mesmo com tantas dificuldades, Cássio pôde se posicionar psiquicamente e socialmente.
Depois de conhecermos a história de Cássio, vejamos quais são as reflexões que ela nos traz, de acordo com o conteúdo.
INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA E FATORES DE SOFRIMENTO PSÍQUICO
É comum ouvirmos que as melhores fases da vida são a infância e a adolescência. Muitas vezes associamos infância à pureza, ao aprendizado, crescimento e desenvolvimento.
Expectativa
Realidade
A adolescência é vista como a transição para o mundo adulto, quando será preciso pensar no futuro, ter uma profissão, construir uma família.
Você acha que todos estão incluídos nessa perspectiva de vida?
Sem dúvida, não! Pois muitos escapam e não se encaixam nesse cenário.
Quantas crianças e adolescentes estão sem estudar? Quantos não têm acesso à água potável, alimentação, ao saneamento básico? Quantos não possuem casa ou moram em condições precárias? Quantos precisam trabalhar?
Pensando em nosso país, nos seus mais diversos espaços, podemos afirmar que muitos se encontram nas situações apontadas. Ou seja, o adoecimento psíquico pode aparecer em função de todas essas barreiras e agravar a situação de muitas crianças e muitos adolescentes.
Tanto na infância quanto na adolescência existe maior vulnerabilidade a diversos tipos de violência: violência sexual, violência física, negligência, exploração, entre tantas outras que provocam adoecimento de crianças e adolescentes expostos por muito tempo em espaços que deveriam ser seguros, como a escola, a casa e a comunidade em que vivem.
Muitas vezes a criança apresenta comportamento mais arredio e agressivo ou prefere ficar sozinha quando está passando por sofrimento ou adoecimento psíquico.
Atenção
É muito importante que as pessoas ao redor observem mudanças no comportamento e ofereçam atenção a essa criança. Frequentemente, ela manifesta seu sofrimento nas brincadeiras ou quando deixa de brincar.
Existe uma delicadeza em distinguir o que é natural da personalidade da criança e o que é um adoecimento.
ATIVIDADE DE REFLEXÃO
Por exemplo, existem algumas crianças que são tímidas. Tal fato configura algo patológico ou uma característica pessoal?
A adolescência é um período naturalmente delicado, em função das inúmeras mudanças e transformações que podem estar relacionadas com:
Transformações corporais e do ciclo social.
Diversas questões relacionadas à sexualidade.
Rendimento escolar.
Pressão estética e do estímulo ao consumo, ambos escancarados nas redes sociais.
Outros tantos fatores também podem desencadear sofrimento e adoecimento psíquico:
Síndromes depressivas;
Transtornos de ansiedade;
Uso abusivo de álcool e outras drogas;
Comportamento violento;
Isolamento social.
A família tem papel extremamente importante nas questões de adoecimento e sofrimento psíquico na infância e adolescência. Em uma dinâmica familiar instável, violenta ou negligente, a criança ou o adolescente pode ser atravessado por essas questões, pois necessitam de suporte emocional e social.
Quando uma criança ou um adolescente adoece, a família também sofre mudanças e readaptações. Entretanto, muitas vezes tem dificuldades de buscar ajuda nos serviços de saúde, por resistência em aceitar a doença dos membros mais jovens da família, por impossibilidade financeira de arcar com tratamentos, por sobrecarga em função do cuidado demandado, entre outros.
A medicalização nos cuidados da Saúde Mental de crianças e adolescentes configura um outro problema carente de atenção.
É extremamente delicado diagnosticar crianças e adolescentes na área da Saúde Mental, pois o diagnóstico pode facilmente se transformar em um rótulo ou uma sentença.
Perceba que não se trata de desvalorizar o diagnóstico e a medicação, pois ambos são muito importantes para o cuidado. Mas não é possível banalizar o uso de psicotrópicos e diagnosticar precocemente sem considerar todo o contexto e a história ao redor da criança ou do adolescente.
CENTRO DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL INFANTOJUVENIL (CAPSI)
A promulgação da Lei nº 10.216, de 6 de abril de 2001, que aborda a questão dos direitos e proteção das pessoas com transtornos mentais e do redirecionamento da assistência em Saúde Mental, trouxe uma mudança muito importante na área da Atenção Psicossocial.
No ano seguinte, a Portaria nº 336, promulgada em 19 de fevereiro de 2002, essencial para o funcionamento de uma rede pautada em serviços diários e territoriais, definiu os tipos de CAPS e seu funcionamento:
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CONFIRA!
Ela estabeleceu sua independência em relação às estruturas hospitalares, entre outros pontos cruciais, para o CAPS ocupar o lugar de serviço substitutivo e ordenador do cuidado em Saúde Mental no Brasil.
O Centro de Atenção Psicossocial Infantojuvenil (CAPSi), segundo a Portaria nº 336, de 19 de fevereiro de 2002, é um serviço voltado para crianças e adolescentes, preferencialmente para municípios com população acima de 200.000 habitantes. Seguem os aspectos que precisam estar presentes no serviço:
Constituir-se em serviço ambulatorial de atenção diária destinado a crianças e adolescentes com transtornos mentais.
Possuir capacidade técnica para desempenhar o papel de regulador da porta de entrada da rede assistencial no âmbito do seu território e/ou do módulo assistencial, definido na Norma Operacional de Assistência à Saúde (NOAS), de acordo com a determinação do gestor local.
Responsabilizar-se, sob coordenação do gestor local, pela organização da demanda e da rede de cuidados em Saúde Mental de crianças e adolescentes no âmbito do seu território.
Coordenar, por delegação do gestor local, as atividades de supervisão de unidades de atendimento psiquiátrico a crianças e adolescentes no âmbito do seu território.
Supervisionar e capacitar as equipes de Atenção Básica, serviços e programas de Saúde Mental no âmbito do seu território e/ou do módulo assistencial, na atenção à infância e adolescência.
Realizar, e manter atualizado, o cadastramento dos pacientes que utilizam medicamentos essenciais para a área de Saúde Mental regulamentados pela Portaria/GM/MS nº 1077, de 24 de agosto de 1999, e medicamentos excepcionais, regulamentados pela Portaria/SAS/MS nº 341, de 22 de agosto de 2001, em sua área assistencial.
Funcionar de 8:00 às 18:00 horas, em dois turnos, durante os cinco dias úteis da semana, podendo comportar um terceiro turno que funcione até às 21:00 horas (Portaria nº 336, de 19 de fevereiro de 2002).
No CAPSi, diversas atividades acontecem no cotidiano. Elas estão detalhadas logo abaixo.
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ATIVIDADES
Atendimento individual; atendimento medicamentoso; oficinas terapêuticas; atendimento em grupos; atendimento familiar; refeições diárias;vista domiciliar; atividades que buscam a integração da criança e do adolescente nas escolas, na comunidade, na família e em outras questões de aspecto social; trabalho intersetorial, principalmente com escolas e demais serviços de educação, assistência social e justiça.
A equipe do CAPSi deve ser multiprofissional e interdisciplinar, com diversas formações atuando em prol da Atenção Psicossocial e em busca da integralidade do cuidado. Conforme orienta a Portaria nº 336, de 19 de fevereiro de 2002, a equipe técnica mínima para atuação no CAPSi II, para o atendimento de 15 crianças e/ou adolescentes por turno, tendo como limite máximo 25 pacientes/dia, será composta por:
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PROFISSIONAIS
1 médico psiquiatra ou neurologista ou pediatra com formação em Saúde Mental;
1 enfermeiro;
4 profissionais de nível superior entre as seguintes categorias profissionais: psicólogo, assistente social, enfermeiro, terapeuta ocupacional, fonoaudiólogo, pedagogo ou outro profissional necessário ao projeto terapêutico;
5 profissionais de nível médio: técnico e/ou auxiliar de enfermagem, técnico administrativo, técnico educacional e artesão.
O trabalho cotidiano no CAPSi exige criatividade, disponibilidade, investimento e articulação. Não é possível considerar — e aceitar — que este seja o único serviço responsável pelo atendimento a crianças e adolescentes em sofrimento psíquico e/ou portadores de transtornos mentais.
É preciso organizar parcerias com espaços e dispositivos frequentados pelos usuários; é necessário orientar outros serviços de saúde para acolhimento e atendimento como, por exemplo, as Clínicas da Família, para que assim o território seja espaço vivo e potente para prevenção, promoção e recuperação da saúde de crianças e adolescentes.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. O CAPSi é muito mais que um serviço, é uma estratégia para ampliação do olhar e do cuidado para crianças e adolescentes em sofrimento e adoecimento psíquico. Sobre o CAPSi, marque a opção incorreta:
O CAPSi tem seu funcionamento detalhado na Portaria nº 336, de 19 de setembro de 2002.
O CAPSi permite somente a presença do médico pediatra, sem possibilidade de médico psiquiatra.
O CAPSi é um serviço territorial, que deve ser independente de qualquer estrutura hospitalar.
O CAPSi tem como uma de suas atividades a visita domiciliar.
No CAPSi é possível ter acesso a tratamento medicamentoso.
Comentário
2. Muitas crianças e muitos adolescentes adoecem psiquicamente, mas existe grande dificuldade de identificar o momento em que é necessário tratamento. Marque a opção incorreta em relação à Saúde Mental Infantojuvenil:
Muitas crianças que estão em sofrimento psíquico tornam-se agressivas como forma de expressar seus sentimentos.
Muitos adolescentes recorrem ao uso abusivo de álcool e outras drogas para lidar com o sofrimento psíquico.
É comum que a violência contra crianças ocorra nas ruas, sendo pouco recorrente em ambientes que a criança frequenta, como casa e escola.
A vulnerabilidade social e econômica influencia fortemente no adoecimento psíquico de crianças e adolescentes.
As questões da sexualidade e mudanças corporais podem ser fatores desafiadores para os adolescentes.
Comentário
MÓDULO 4
Reconhecer a relevância da aposta na integralidade do cuidado na clínica de uso abusivo de álcool e outras drogas
O QUE SÃO VÍCIOS?
Desta vez, o(a) especialista contextualiza o que são vícios, o que é tolerável ou não. Também são apresentados exemplos pertinentes acerca do assunto.
A HISTÓRIA DE DIEGO, SARA E LUCAS
Chegamos ao nosso último estudo de caso! Diego (nome fictício) tem 19 anos de idade e vive em situação de rua há 7 anos junto com seus dois irmãos, Sara (nome fictício), de 15 anos, e Lucas (nome fictício), de 16 anos.
Confira o estudo de caso a seguir:
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BREVE HISTÓRICO DOS IRMÃOS
Os três irmãos resolveram abandonar a casa em que viviam na periferia do Rio de Janeiro após muitos anos de agressões físicas por parte do pai, que fazia uso abusivo de álcool. Nenhum deles estudava e desde pequenos vendiam balas e doces na rua para conseguir comida.
Estabeleceram muitos espaços como casa ao longo da jornada pelas ruas e, depois de muita circulação, firmaram moradia no centro da cidade, numa conhecida região boêmia e comercial. O local favorecia a venda de doces e balas, porém, por outro lado, deixava os três em situação de grande vulnerabilidade. Sara, a única menina da família, decidiu raspar o cabelo para se passar por menino, pois considerava que assim estaria mais segura.
A DEPENDÊNCIA QUÍMICA
Para suportar a violência e a vulnerabilidade nas ruas, passaram a recorrer a um solvente para tinta cujo efeito era alucinógeno, quando inalado. A frequência do uso do solvente aumentou e tornou-se parte do cotidiano dos irmãos, que passavam a maior parte do tempo intoxicados.
Muitas pessoas da vizinhança, que conheciam os irmãos, tentavam alertar sobre os riscos, ofereciam alimentação, davam conselhos. Certa vez, uma funcionária de um estabelecimento comercial disse a Júlia: “Isso destrói o pulmão, não faça isso!”. A menina logo respondeu: “Nós já nascemos destruídos”. Quanta dureza existe na vida desses irmãos que nasceram em situação de extrema pobreza, viveram sem acesso à educação e sofreram agressões físicas do pai por muitos anos!
Diego sempre foi o mais sensível. Muitas vezes, ao vender balas e pirulitos pelas ruas, recebia muitos “nãos”, mas acabava dando os doces de presente quando recebia atenção e conversa. Dizia que queria estudar, ter uma casa, e por isso precisava vender bastante doce.
TRATAMENTO E ENCAMINHAMENTO
Certa vez, Sara foi encaminhada para uma espécie de fazenda de recuperação, pois vinha apresentando agressividade pelas ruas. Diego e Lucas, nesse mesmo período, foram encaminhados para a enfermaria infantil de um hospital psiquiátrico do município, em função do uso excessivo do solvente.
Posteriormente, os dois foram encaminhados para o CAPSi do município para acompanhamento, mas voltaram a permanecer nas ruas, pois, apesar das muitas articulações feitas pelo CAPSi com espaços e serviços de moradia (abrigos), os adolescentes não conseguiam permanecer nesses espaços pelo excesso de regras e restrições impostas. Conseguiram importantes avanços com o cuidado no CAPSi: aprenderam a ler e escrever, participaram de muitas oficinas terapêuticas e tiveram atendimento individual.
Ao completar 18 anos, Diego foi encaminhado para o Centro de Atenção Psicossocial Álcool e outras Drogas (CAPS AD). Atualmente comparece ao CAPS AD todos os dias da semana, participa das oficinas de leitura, de cinema e de futebol, recebe atendimento individual, faz três refeições diárias e, através de uma articulação entre o CAPS AD e uma rede de supermercados, conseguiu seu primeiro emprego na padaria do supermercado.
QUAL FOI O DESFECHO DOS IRMÃOS?
Você pode estar pensando que tudo se encaminhou de maneira positiva, mas são muitos os desafios enfrentados por Diego. Ele conseguiu diminuir a intensidade no uso das drogas graças aos avanços apontados em seu projeto terapêutico singular, com ajuda de medicações para suportar o que chamamos de “fissura” – necessidade muito forte de usar drogas. Diego diz: “Cada dia é um desafio, nem sempre consigo vencer, mas às vezes sim, porque tenho o CAPS AD”.
Seus irmãos Sara e Lucas ainda fazem tratamento no CAPSi. Lucas tem solicitado apoio nos estudos, e a equipe do CAPSi se mobiliza para fazer articulações com a escola municipal. Sara ainda apresenta dificuldade em diminuir o uso intenso das drogas, porém aparece constantemente no serviço.
O mais importante nessa história é o olhar singular que cada um deles recebeu. Para além da droga, existem três pessoas com a vida marcada por sofrimento, violência e abandono, mas que tiveram a possibilidade de deixar a vida pulsar e enfrentar as dificuldades com amparo e apoio.
AS FORMAS DE TRATAMENTO E/OU ENFRENTAMENTO DE PROBLEMAS NO CAMPO DE ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS
Para começar, é importantefazer a seguinte reflexão: “O que é droga?”
Será que a resposta se limita apenas a citar o uso de drogas consideradas ilícitas, como maconha, cocaína ou crack?
Sem dúvidas, não! Podemos pensar também em bebidas alcóolicas, cigarro, medicações psicotrópicas e até solventes de tinta.
E o que podemos chamar de vício? O que consideramos aceitável ou não? Será que vício está ligado somente à dependência que ocasiona o uso abusivo de substâncias psicoativas? Podemos pensar também em pessoas que comem compulsivamente ou relatam dependência em consumir, e não estamos falando de drogas.
O sujeito que faz uso abusivo de álcool e outras drogas sofre grande preconceito na sociedade de uma forma geral, muitas vezes é julgado de uma perspectiva moral, considerado criminoso ou avaliado como doente.
Levando-se em conta a história de Diego, Lucas e Sara, podemos dizer que a droga configurava somente um adoecimento? Fica claro que a droga teve uma função de alívio diante de toda a violência e todo o abandono sofridos pelos irmãos. Obviamente o uso abusivo gera adoecimento e grandes prejuízos, mas é preciso compreender todo o contexto para evitarmos um viés meramente higienista e moral.
O uso de substâncias psicoativas está presente desde os primórdios da história da humanidade.
Clique nas informações a seguir.
Você acha que o modelo atual de enfrentamento às drogas pela repressão mais agressiva gera efeitos positivos?
Atenção
Antes de refletir sobre essa questão, é importante saber que o modelo de tratamento por meio do isolamento e da repressão para qualquer pessoa considerada desviante gerou mais adoecimento e violência, o oposto do que propõe a Atenção Psicossocial.
Ainda encontramos grandes desafios entre os próprios profissionais, principalmente no campo de uso abusivo de álcool e outras drogas. É preciso que a pessoa seja acolhida no serviço da maneira que ela puder chegar, mesmo que tenha feito uso prévio da substância.
As formas de tratamento e/ou enfrentamento de problemas no campo de álcool e outras drogas têm ocorrido por intermédio de:
Abstinência
Repressão
Redução de danos
É consenso entre os estudiosos da área que a abstinência como ponto de partida de tratamento é uma tentativa fracassada — na maior parte das vezes, a interrupção repentina do uso gera risco de vida para alguns usuários por questões fisiológicas e psíquicas.
A experiência indica que a repressão também não diminui o uso abusivo de substâncias psicoativas. Aqui, vamos focar na estratégia redução de danos.
Redução de Danos
A estratégia redução de danos aposta na autonomia do sujeito e não em sua tutela. Defende que a dependência não é só química, pois existem muitos fatores singulares em cada sujeito que levam ao uso abusivo de álcool e outras drogas.
Confira mais informações sobre a Redução de Danos a seguir:
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HISTÓRICO
Com o crescimento significativo da epidemia de HIV na década de 1980 —principalmente em função do compartilhamento de seringas e agulhas no uso intenso de drogas injetáveis —, as ações de saúde na lógica da Redução de Danos voltaram-se para a distribuição de seringas individuais e descartáveis, junto a cartilhas de orientação sobre o HIV. Essa ação gerou acesso, criação de vínculo e ainda tornou o sujeito protagonista do seu cuidado
HOLANDA E INGLATERRA
Na Holanda e na Inglaterra, a Redução de Danos ganhou força na década de 1980 e é considerada a alternativa mais eficaz no cuidado em relação ao uso abusivo de álcool e outras drogas do que os modelos de repressão, violência e abstinência.
BRASIL
No Brasil, a lógica da política de Redução de Danos nasceu mais sanitarista e higienista, com o objetivo de diminuir o número de pessoas infectadas por HIV e hepatite. Pouco se falava sobre as drogas. Somente após a Lei nº 10.216/2001 as ações de Redução de Danos ganharam força, com olhar humanizado voltado às pessoas que fazem uso de álcool e outras drogas.
A discussão sobre Redução de Danos começou a ganhar força no Brasil na década de 1990 e passou a ser entendida como estratégia do Sistema Único de Saúde (SUS) em 2003, com o lançamento da Política de Atenção Integral a Usuários de Álcool e Outras Drogas. Porém, o Decreto nº 9.761 de 11 de abril de 2019, retirou a Redução de Danos como frente principal de cuidados, o que aumentou as dificuldades para a questão do cuidado nesse campo.
A redução de danos prioriza o olhar para as questões sociais e de sofrimento psíquico, pois somente assim é possível criar vínculo e tentar amenizar o uso de alguma substância psicoativa.
A ESTRATÉGIA
Essa estratégia acolhe a liberdade dos sujeitos, como já mencionamos, respeitando seus direitos e sua cidadania. Seu objetivo é conseguir a inclusão social e também romper com o estigma ligado à pessoa que faz uso abusivo e prejudicial de álcool e outras drogas.
Os programas de redução de danos precisam acolher as condições sociais, econômicas, políticas e culturais do território, assim a configuração das equipes é capaz de acompanhar essas peculiaridades, desenvolvendo ações específicas.
Um importante componente da equipe é o redutor de danos, que normalmente vive próximo do território ou circula com frequência na região, o que contribui muito para a confiança dos usuários daquela área.
Essa categoria profissional enfrenta muitos desafios, como fragilidade no vínculo de trabalho, pouco investimento na formação, vulnerabilidade diante da proximidade e circulação por territórios violentos, entre outros.
Antes de começar o trabalho em um território, são feitos um mapeamento e um diagnóstico situacional da região para organizar as ações prioritárias, avaliar o público-alvo, as cenas de uso e a droga mais utilizada naquele espaço.
Algumas das ações tomadas pelo programa de redução de danos são:
Clique nas palavras.
Ações
Troca de materiais
Orientações e informações
Testagem de HIV
Terapias de substituição
Kits de redução de danos
Contribuição para o acesso aos serviços de saúde e assistência social
Segundo Dias et al. (2003, p.342):
“A redução de danos não é contra a abstinência, porém, ela procura ter uma visão realista de que o uso de drogas ocorre e que nem todos os usuários estão dispostos ou não conseguem mudar; acredita que todos devem ter acesso aos serviços de saúde e que a recusa ao tratamento não deve ser motivo para a exclusão do usuário, afinal, todos merecem ter acesso a informações e formas de tratamento disponíveis”.
Consultório na Rua e Unidade de Acolhimento (UA)
A população que se encontra em situação de rua tem mais chances de ser impactada com o uso de drogas, principalmente o crack e o álcool, por isso as ações de dois serviços são essenciais:Consultório na Rua e CAPS AD.
As equipes do Consultório na Rua atuam de maneira itinerante e diretamente no local que a população em situação de rua se encontra, sempre de maneira integrada e alinhada à Estratégia de Saúde da Família e ao CAPS, mas também com os demais serviços de saúde e assistência social.
É importante que você conheça a estratégia do Consultório na Rua.
Dica
Ele atua na lógica da redução de danos e contribui, por meio de uma equipe multiprofissional e interdisciplinar, para que a população em situação de rua tenha acesso ao cuidado. Em geral, essa população não procura os serviços de saúde por medo, preconceito ou outras barreiras, por isso o Consultório de Rua vai até ela.
A Unidade de Acolhimento (UA) é outro serviço essencial para a clientela que faz uso abusivo de álcool e outras drogas e se encontra em situação de rua, afastada de seu núcleo familiar ou em qualquer situação de vulnerabilidade maior.
A UA funciona como moradia temporária, realizando um trabalho multiprofissional e interdisciplinar.
Todos os usuários abusivos de álcool e outras drogas precisam de cuidado humanizado e clínico.
Estamos chegando ao final do módulo! Acompanhe com atenção o que vem a seguir.
Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Outras Drogas (CAPS AD)
As pesquisas mostram um aumento de consumo e comprade drogas ilícitas, como maconha e cocaína, em muitos locais diferentes do mundo, inclusive no Brasil. Podemos observar também o aumento do uso de remédios sem prescrição.
O CAPS AD é a principal estratégia nessa área. Presta um serviço territorial e diário, atuando na lógica da redução de danos. Em outras palavras, cuida não só do uso da droga, mas do sujeito e de sua reinserção na comunidade; atende seus familiares e contribui para diversas articulações, contando com equipe multiprofissional e interdisciplinar. O CAPS AD pode ser do tipo II ou III.
Segundo a Portaria n º 336/2002, de 19 de fevereiro de 2002, as atividades do CAPS AD II são:
Atendimento individual (medicamentoso, psicoterápico, de orientação, entre outros).
Atendimento em grupos (psicoterapia, grupo operativo, atividades de suporte social, entre outros).
Atendimento em oficinas terapêuticas executadas por profissional de nível superior ou nível médio.
Visitas e atendimentos domiciliares.
Atendimento à família.
Atividades comunitárias enfocando a integração do dependente químico na comunidade e sua inserção familiar e social.
Os pacientes assistidos em um turno (4 horas) recebem uma refeição diária; os assistidos em dois turnos (8 horas) recebem duas refeições diárias.
Atendimento de desintoxicação.
O CAPS AD III segue os mesmos parâmetros anteriormente referidos, porém com funcionamento ampliado para 24h por dia, incluindo feriados e finais de semana, pois quem faz uso abusivo de álcool e outras drogas muitas vezes sente maior vulnerabilidade durante a noite.
Diante do conteúdo aqui trabalhado, fica claro que a aposta no sujeito é primordial, somente a partir dela o vínculo pode surgir e, assim, conseguiremos avanços nessa área tão complexa que é a clínica de uso abusivo de álcool e outras drogas.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. Sobre o CAPS AD, marque a opção incorreta:
Tem o trabalho orientado pela lógica da abstinência do uso de drogas.
Tem o trabalho orientado pela lógica da redução de danos.
É composto por equipe multiprofissional e interdisciplinar.
Pode ser do tipo II ou do tipo III.
Contribui com a reinserção social dos usuários.
Comentário
2. Sobre a estratégia de redução de danos, marque a opção correta:
Começou no Japão, na década de 80.
Tem viés higienista e não social.
Começou na Holanda, na década de 80.
Consiste em um trabalho pautado na abstinência.
Tem como público-alvo somente mulheres.
Comentário
CONCLUSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Visitamos as principais questões relacionadas à estratégia de desinstitucionalização e ao cuidado em liberdade; ao suicídio e à aposta no vínculo como ferramenta principal; à singularidade do cuidado na Saúde Mental Infantojuvenil e à relevância da integralidade na clínica em relação ao uso abusivo de álcool e outras drogas.
Como vimos, o trabalho no território, pautado na liberdade e na construção de vínculo, oferece possibilidades potentes da Atenção Psicossocial, possibilitando ao sujeito ser protagonista de seu acompanhamento.
Aprendemos que o cuidado integral inclui o transtorno mental e/ou o sofrimento psíquico, de forma a acolher as peculiaridades que cada pessoa apresenta. É importante que o enfermeiro e os demais profissionais de saúde envolvidos no processo de desinstitucionalização possam trabalhar em conjunto, para que cada vez mais pacientes tenham qualidade de vida e autonomia.
A oferta de presença, a escuta e o olhar singular são estratégias de aposta na vida!
PODCAST
Agora, a(o) especialista Denise Machado encerra o tema fazendo um apanhado geral do que foi visto até o momento.
REFERÊNCIAS
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Para saber mais sobre os assuntos tratados neste tema:
Leia mais sobre residências terapêuticas na publicação Residências terapêuticas: o que são, para que servem, disponível na biblioteca virtual do Ministério da Saúde.
Leia o artigo Saúde Mental Infantojuvenil: visão dos profissionais sobre desafios e possibilidades na construção de redes intersetoriais para compreender questões mais recentes sobre o trabalho na Saúde Mental Infantojuvenil. Disponível na Revista Gaúcha de Enfermagem, v. 40, em versão impressa ou digital.
Visite o site oficial do Centro de Valorização da Vida (CVV) e conheça mais o trabalho da instituição no apoio emocional e na prevenção do suicídio.
Visite o site da Fundação Oswaldo Cruz e conheça o Programa Institucional Álcool, Crack e outras Drogas, que tem como valores centrais a cidadania e o direito à saúde.
CONTEUDISTA
Alice Medeiros Lima
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