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Aline Layoun é redatora publicitária, roteirista e coidealizadora da plataforma de ensino @osalto. Formada em Comunicação Social, ela possui MBA em Marketing pela FGV e domina a língua portuguesa como ninguém. Vanessa Biondini é formada em Letras pela UFMG, possui MBA em Gestão Estratégica de Pessoas pelo SENAC e, atualmente, é mestranda em Educação e Formação Humana pela UEMG. SOBRE AS AUTORAS ÍNDICE O que esperar da redação da UERJ? Sobre a obra Quem é o autor? Gênero: romance-policial Linguagem Narrador Tempo da narrativa Espaço da narrativa Enredo Principais personagens da obra Temáticas principais Temáticas secundárias Proposta de redação estilo UERJ Redação-modelo Bibliografia 4 5 5 6 7 7 8 8 9 10 13 21 24 25 26 Análise Literária UERJ - 2022 O QUE ESPERAR DA REDAÇÃO DA UERJ? Desde 2017, a UERJ indica uma obra de literatura como leitura prévia da prova de Redação. O tema escolhido advém de uma das questões levantadas pelo livro em questão. Para o vestibular de 2022, a obra indicada é “Uma janela em Copacabana”, do autor Luiz Alfredo Garcia-Roza. O que os corretores da UERJ esperam é que os candidatos leiam o livro e discutam a narrativa, ao longo do ano, com seus colegas e professores. Assim, eles terão tempo para elaborar suas próprias opiniões a respeito das temáticas levantadas, bem como fortalecer a sua argumentação. Desse modo, o texto exigido pela universidade carioca é a dissertação, que pode ser definida como a ação de defender uma opinião própria por meio de argumentos articulados entre si. O candidato, por sua vez, tem liberdade para defender qualquer opinião, desde que seus argumentos estejam apoiados em fatos. Em outras palavras, os argumentos precisam ser tanto suficientes e pertinentes quanto válidos e verdadeiros. Por fim, de acordo com os documentos anexados ao edital do vestibular da UERJ, “serão avaliados a habilidade de leitura e interpretação para reconstrução de textos em diversos níveis, o domínio de gênero “dissertação”, a construção de argumentação, e o emprego de formas e estruturas linguísticas de acordo com a norma padrão.” Análise Literária UERJ - 2022 SOBRE A OBRA Uma janela em Copacabana, da autoria de Luiz Alfredo Garcia-Roza, é um romance policial que se passa no Rio de Janeiro. Na história, três policiais são executados em um curto espaço de tempo. Todos eles eram tiras de segundo escalão, possuíam carreiras medíocres e foram eliminados pela mesma pessoa, um assassino que dispara à queima-roupa e não deixa rastro. O mundo policial entra imediatamente em rebuliço e o delegado Espinosa é encarregado de desvendar o caso, descobrindo que os crimes são consequência de um forte esquema de corrupção e lavagem de dinheiro entre os policiais. QUEM É O AUTOR? LUIZ ALFREDO GARCIA-ROZA (1936-2020), formado em filosofia e psicologia, foi professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e publicou oito livros sobre psicanálise e filosofia. Deixou a vida acadêmica para dedicar-se à ficção policial e às investigações do delegado Espinosa, personagem central de quase todas as suas histórias. Seu romance de estreia, O silêncio da chuva, recebeu em 1997 os prêmios Nestlé de Literatura e Jabuti, além de ter sido traduzido para diversos idiomas. GÊNERO: ROMANCE-POLICIAL Os romances policiais, também conhecidos como gênero policialesco, seguem, em sua maioria, uma estrutura narrativa marcada pela presença do crime, da investigação e da revelação do autor, um criminoso acima de qualquer suspeita. Esses elementos compõem a receita de sucesso que fazem do gênero um dos mais vendidos em todo mundo. A tradição começou em 1841, ano de publicação do conto Assassinatos da Rua Morgue, de Edgar Allan Poe, precursor do gênero. A história de dois assassinatos brutais de mulheres em Paris, investigados pelo detetive C. Auguste Dupin, foi publicada nas colunas de um periódico da Filadélfia, o Graham’s Magazine, nos Estados Unidos. Outras histórias de Poe foram apresentadas ao público por meio do jornal, processo que continuou até o século XIX, quando os romances policiais passaram a ser editados em livros populares. O detetive Dupin, concebido por Edgar Allan Poe, foi o primeiro da literatura de ficção e inspirou Arthur Conan Doyle na criação do célebre personagem Sherlock Holmes, o mais famoso detetive de todos os tempos. Análise Literária UERJ - 2022 Linguagem A metalinguagem se faz bem presente na obra “Uma janela em Copacabana”, promovendo um diálogo intertextual comum ao gênero policial, que possui uma espécie de caráter autorreflexivo. A narrativa promove a intertextualidade ao dialogar com a própria literatura policial, com a psicanálise e com o cinema, envolvendo o leitor em um jogo metalinguístico e convidando-o a ocupar também o lugar de detetive. Para a autora Marta Maria Rodrigues, o livro “Uma janela em Copacabana”, de Luiz Alfredo Garcia-Roza, dialoga com o filme “Uma janela indiscreta”, de Alfred Hitchcock. Enquanto o primeiro é um romance policial em que o detetive protagonista é leitor de narrativas policiais, o segundo é um filme em que o detetive é fotógrafo, ou seja, um produtor de imagens. Ambos reafirmam a vocação intertextual e metalinguística da literatura policial ao realizarem um jogo não somente com ela, mas também com o cinema e ainda com a psicanálise, trabalhando com imagens, palavras e, acima de tudo, com o olhar, essa “janela da alma”. CURIOSIDADE - O filme Janela indiscreta, de Alfred Hitchcock, é baseado no conto “It had to be murder”, de Cornell Woolrich. Durante a investigação dos crimes, Espinosa estava lendo este mesmo livro, herdado pela avó. Narrador A obra conta com um narrador em terceira pessoa, onisciente, que conhece não só os fatos referentes à trama como o passado e os pensamentos mais íntimos do protagonista, o delegado Espinosa. Esse personagem é recorrente em cerca de 11 livros do autor Garcia-Roza. Análise Literária UERJ - 2022 Tempo da narrativa A trama se desenvolve em tempo cronológico, ou seja, está associada diretamente à passagem de dias, horas e segundos. Pelo desenrolar da história, percebe-se que a narrativa ocorre aproximadamente no mesmo ano em que a obra foi escrita, em 2001. Espaço da narrativa O delegado Espinosa, protagonista da história, vive no Rio de Janeiro e conduz o leitor pelas ruas de sua geografia predileta, entre os bairros do Leme e de Copacabana. Ele mora num apartamento no Bairro Peixoto e trabalha na 12ª DP, na Rua Hilário de Gouveia. Quase todo o desenrolar da trama acontece nessa região, salvo os momentos que Espinosa viaja para encontrar Irene em São Paulo. Análise Literária UERJ - 2022 ENREDO No romance policial “Uma janela em Copacabana”, Luiz Alfredo Garcia-Roza busca retratar a realidade corrupta da polícia do Rio de Janeiro, uma vez que os crimes centrais são apenas consequência de um forte esquema de corrupção e lavagem de dinheiro entre os policiais. Na história, Nestor, Silveira e Ramos pertencem à chamada “banda podre da polícia”, nome dado pela imprensa aos oficiais corruptos que se beneficiam de propinas pagas pela máfia do jogo do bicho. Além disso, eles estão envolvidos em um esquema de roubos de automóveis que visa a vender os carros aos verdadeiros donos ou comercializar suas peças no mercado paralelo. Com o tempo, o negócio conquista grandes dimensões e os lucros tornam- se exorbitantes, despertando a ganância de Celeste, amante de um dos policiais. A personagem, que mais tarde se revela a assassina da história, elimina cada um dos integrantes do grupo para ficar com todo o dinheiro. Quando as suspeitas recaem sobre ela, a única alternativa é convencer o delegado Espinosa, responsável pela investigação, de que ela seria a próxima vítima. Seduzido pela beleza e a simpatia da assassina, o delegado acaba prosseguindo a investigação descartando a possibilidade de que Celeste seja a culpada. No entanto, ainda havia umatestemunha ocular da história, Serena Rodes, esposa de um influente representante da área econômica do governo federal. Quando Celeste atirou em uma das suas vítimas, Serena assistiu a tudo pela janela do prédio onde morava. Por isso, ela se tornou o último alvo da assassina, que elimina a testemunha e foge do país deixando uma carta para Espinosa. Assim, o delegado descobre, por meio da confissão, que Celeste era a assassina, mas já era tarde demais para prendê-la, pois com sua fuga, ele não sabia onde encontrá-la. Análise Literária UERJ - 2022 PRINCIPAIS PERSONAGES DA OBRA Análise Literária UERJ - 2022 O delegado que combate a corrupção Delegado Espinosa – é o delegado titular da 12ª DP, em Copacabana, no Rio de Janeiro. Na vida pessoal, ele pode ser descrito como um homem comum, que leva uma vida comedida, é divorciado, mantém um discreto romance e é um ávido leitor. Como membro de uma corporação, é um delegado cujas principais características são a integridade e a honestidade incorruptíveis. CURIOSIDADE - O nome do delegado é uma homenagem ao filósofo holandês Baruch Espinosa (1632 – 1677, Amsterdã), reconhecido pela sua integridade. O núcleo de policiais assassinados Nestor, Silveira e Ramos, os três policiais assassinados, não eram considerados pessoas especialmente inteligentes. Apesar de queridos pelos colegas, eles não se destacavam como investigadores ou em suas funções administrativas. Eles também não eram honestos, já que tinham um negócio de automóveis, que envolvia o roubo de carros e seguradoras, e, além disso, os três recolhiam e distribuíam a contribuição do jogo do bicho para a polícia. Ramos – tira de segundo escalão do Rio de Janeiro, era um policial com uma vida profissional discreta e sem grandes feitos. Apesar de casado, tinha uma amante, com quem mantinha um relacionamento extraconjugal – Maria Rita. Ramos foi o primeiro policial vítima da série de assassinatos investigados na obra, morto com um tiro à queima roupa, na frente do pai, portador do mal de Alzheimer. Silveira – antigo policial da 3ª DP, no Rio de Janeiro, era considerado um “detetive da antiga”, discreto, que contava o tempo para se aposentar, tinha uma conduta exemplar e era querido pelos colegas. Apesar de ser casado e ter uma família, mantinha um relacionamento extraconjugal com Aparecida. É assassinado com um tiro à queima roupa na nuca, sentado em um banco de praça em Copacabana. Nestor – policial da 12ª DP, no Rio de Janeiro, era um profissional cuja folha de serviço “não o recomendava nem o comprometia”. Ao saber da morte dos outros dois colegas de profissão, procura o delegado Espinosa e revela a sua preocupação com o caso. Era casado e mantinha um relacionamento extraconjugal com Celeste. Foi o terceiro dos policiais a ser morto, com um tiro à queima roupa na nuca, em um conjugado em Copacabana. A equipe de investigação Para a investigação da morte em série de policiais, em Copacabana, o delegado Espinosa selecionou três de seus homens: Welber, Ramiro e Artur. Do ponto de vista operacional, o grupo ficava sob a chefia do inspetor Ramiro. Detetive Welber – assistente e colega de trabalho de vários anos do delegado Espinosa, na 12ª DP, em Copacabana, no Rio de Janeiro, normalmente mostrava-se entusiasmado com as investigações. Welber era um homem em quem o delegado Espinosa depositava total confiança. Inspetor Ramiro – inspetor com vinte anos de polícia, chefe dos detetives e elemento de ligação entre o delegado e os policiais da delegacia. Era hábil na tomada de depoimentos e considerado pelos colegas um bom investigador. Artur – detetive recém-saído da academia de polícia, inteligente e ainda não contaminado pela corrupção. As mulheres da trama Sejam como amantes, companheiras ou mandantes de crimes, as mulheres se tornam, ao longo da trama, verdadeiras peças-chave da investigação. Irene – “namorada” do delegado Espinosa, é uma mulher independente com quem o delegado desenvolve suas possíveis teorias e ouve uma perspectiva externa dos crimes. Análise Literária UERJ - 2022 Maria Rita – amante do policial Ramos, foi encontrada morta dentro de um carro, com um tiro na cabeça dado à queima-roupa. Aparecida – amante do policial Silveira, foi encontrada morta, no banheiro do apartamento onde costumava se encontrar com o policial, dentro do boxe, nua e molhada, com um buraco no meio do peito. Celeste – amante do policial Nestor, procura o delegado Espinosa e dá a ele todas as respostas de que precisava para as soluções dos crimes, já que foi ela a responsável pelos assassinatos ocorridos e, depois, desaparece, deixando o delegado com mais dúvidas. A motivação para os crimes seria, segundo suposição do delegado Espinosa, o desejo de ficar com todo o dinheiro advindo das ações corruptas dos policiais. Rosita – amiga de Celeste, tem a sua morte investigada por ter caído da janela do apartamento onde morava, levantando diferentes hipóteses para o ocorrido, como assassinato, acidente ou suicídio. Serena – jovem mulher enigmática e insinuante, é casada com Guilherme, um figurão da área econômica do governo federal. Serena é quem testemunha o último crime – a morte de Rosita - e acaba se tornando mais uma vítima de toda a trama. Em determinado momento, tem um breve e complexo envolvimento com o delegado Espinosa. CURIOSIDADE - Serena observa pela janela de seu apartamento, em Copacabana, a morte de Rosita, que, inclusive, morre ao ser jogada da janela de um edifício também em Copacabana. Essas ocorrências, por sua vez, dialogam diretamente com o nome da obra “Uma janela em Coapacabana”. Análise Literária UERJ - 2022 TEMÁTICAS PRINCIPAIS 1 - Criminalidade e segurança pública: A criminalidade está bem marcada no livro “Uma janela em Copacabana”. A história gira em torno da investigação de seis assassinatos: três de policiais e três de pessoas ligadas a eles. No enredo, não é só a facilidade de matar que chama a atenção do leitor, mas o fato de o criminoso terminar a narrativa impune. Em um certo momento da narrativa, descobrimos que Celeste é a verdadeira serial killer da história. Quando a personagem percebe que é suspeita pelos assassinatos, arquiteta um plano para fazer com que todos acreditem que ela seria a próxima vítima e que, por isso, precisava de proteção policial. O delegado Espinosa, então, seduzido e manipulado pela criminosa, prossegue com a investigação desconsiderando Celeste como assassina. Desse modo, a personagem ganha tempo para fugir do país, terminando a história impune. REPERTÓRIOS SOBRE O ASSUNTO: A) Estatísticas sobre a criminalidade no Brasil: Em 2020, a taxa de Mortes Violentas Intencionais (MVI), no Brasil, chegou a 23,6% por cada 100.000 habitantes. Os números chamam a atenção, principalmente, porque nos dois anos anteriores (2018 e 2019) o país vinha passando por reduções sucessivas dessas mortes. De acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, em 2020, a categoria de Mortes Violentas Intencionais foi composta por: - 83% de homicídios dolosos - 12,8% de mortes decorrentes de intervenções policiais - 2,9% de latrocínios - 1,3% de lesões corporais seguidas de morte Análise Literária UERJ - 2022 B) Dados sobre a impunidade no Brasil: O Instituto Sou da Paz realiza, desde 2017, a pesquisa “Onde mora a Impunidade”. O estudo, que busca consolidar um Indicador Nacional de Esclarecimento de Homicídios, chegou à 3ª edição em 2021, revelando que apenas 11 estados brasileiros conseguem esclarecer 30% dos seus homicídios, sendo o Rio de Janeiro o pior neste ranking (apenas 11% de homicídios esclarecidos). Para que o Brasil passe a priorizar a investigação de homicídios, o Instituto Sou da Paz propõe, entre outras recomendações, a modernização da gestão, da infraestrutura e da remuneração das Polícias Civis Estaduais, e a garantia da disponibilidade ininterrupta de equipes completas (delegado, investigadores e peritos) para chegada rápidaao local do crime em todas regiões dos estados. Além disso, a organização sugere a padronização e a integração dos sistemas de informação dos Ministérios Públicos estaduais, a fim de conferir mais transparência à resposta que o estado dá aos crimes contra a vida. Análise Literária UERJ - 2022 2 - Corrupção praticada pela polícia O delegado Espinosa se apresenta ao leitor como um dos poucos profissionais íntegros que existem no meio policial. Na delegacia onde atua, a maior parte da equipe está envolvida em esquemas de corrupção, aos quais ele combate fervorosamente. Não é à toa que, na narrativa, os assassinatos compõem justamente a chamada “banda podre da polícia”, nome dado pela imprensa aos oficiais corruptos que se beneficiam de propinas pagas pela máfia do jogo do bicho. Na história, o narrador denuncia os baixos salários dos policiais, que complementam a baixa remuneração que recebem com dinheiro advindo da corrupção. Desse modo, conseguem dar conforto para as famílias e ainda nutrir certos luxos, como sustentar amantes em vidas paralelas à matrimonial. Em um dos trechos da história, Welber, o detetive assistente do delegado Espinosa, diz: Delegado, é quase impossível listar os que recebem propina. Os caras se sentem como se estivessem cortando o salário deles, encaram a propina como um complemento legítimo que pode significar o dobro do salário, às vezes até mais. A dificuldade não é saber quem recebe. Todo mundo sabe, até porque muita gente recebe. O problema está em fazer alguém falar, ainda mais sabendo que estamos investigando. O senhor mesmo é capaz de dizer quem, na delegacia, recebe dinheiro. Mas e daí? O que vai fazer com eles? Mandar embora? O combate à corrupção nas delegacias fica ainda mais difícil quando os policiais corruptos se tornam cúmplices uns dos outros. Na narrativa, a honestidade se apresenta como um valor perdido. Não é à toa que a história termina com a impunidade da assassina. Se o delegado Espinosa obtivesse sucesso na investigação, o desfecho traria uma mensagem de otimismo e esperança no combate à corrupção policial e não é essa a mensagem que o autor deseja passar aos leitores. Análise Literária UERJ - 2022 REPERTÓRIOS SOBRE O ASSUNTO: A) Teoria das maçãs podres A biologia comprova que uma maçã podre pode estragar todas as outras que estiverem ao lado. Mas, na vida social, o mesmo raciocínio não pode ser aplicado. Afinal, um comportamento criminoso, como a corrupção, não necessariamente vem de um indivíduo, mas de um sistema organizacional. Para a antropóloga, Ana Paula Miranda, a “teoria das maçãs podres” reduz os problemas a casos isolados, escolhendo “bodes expiatórios” para preservar a imagem da instituição. Afinal, o seu foco é a inspeção, a identificação e a remoção de indivíduos em “desvio de conduta”. Porém, esse discurso tem duas conseqüências negativas: - permite que os dirigentes e governantes não assumam suas responsabilidades; - não permite ver os problemas a partir dos processos de trabalho. B) Culpabilização x responsabilização Para a antropóloga Ana Paula Miranda, só será possível reduzir as transgressões disciplinares e os crimes policiais quando o mecanismo de culpabilização for substituído pelo de responsabilização. Fique de olho! Culpabilização: medidas punitivas e fiscalização de condutas são formas de culpar os agentes pelos seus erros e punições. Responsabilização: o paradigma do controle diz respeito à profissionalização dos agentes, atribuição de responsabilidades, como a prestação de contas pelos agentes e gestores públicos. Análise Literária UERJ - 2022 3 - Desmilitarização da polícia Desmilitarizar a polícia significa, de forma geral, rever a sua forma de organização. Não cabe ao policial receber um treinamento militar, voltado para o enfrentamento e para o combate quando, para isso, já existe o Exército Brasileiro. O dever da polícia é (ou deveria ser) atuar para a prevenção de crimes, colocando-se a serviço da cidadania e na salvaguarda dos Direitos Humanos. Apesar disso, a instituição policial brasileira assume um papel de opressora e seus profissionais habituam-se com a violência em suas mais variadas facetas. Com isso, a sociedade civil teme a opressão da polícia como teme a tirania do bandido, perdendo a confiança no poder regulador do Estado. Essa relação conflituosa é exposta por Luiz Alfredo Garcia-Roza no seguinte trecho do livro: “A mensagem recebida pelo rádio do carro falava em morte por arma de fogo. Pensou em como aquelas palavras se aplicavam a tudo no seu dia a dia. Desde que fora designado para o serviço de patrulha nas ruas não vira outra coisa que não fosse violência, e morte por arma de fogo nem sempre era a maior das violências. O pouco treinamento que tivera antes de ir para a rua não lhe possibilitara dar mais de meia dúzia de tiros — economia de munição, diziam —, mas incluía o que chamavam de preparação psicológica, sendo que a moça que fazia as palestras para os recrutas usava a palavra psicologia como usava batom: para enfeitar a boca. O rapaz não entendia de psicologia, mas entendia de violência. Convivera com ela desde o dia em que nascera. Seus vinte e dois anos de vida, todos eles vividos na favela, tinham-no habituado a violência de todo tipo, tanto a dos bandidos e traficantes como a da própria polícia. Mudara-se de lá fazia menos de um mês. Estavam matando policiais. O próprio comando tinha providenciado a mudança. É isso mesmo, morro não é lugar para policial. Lá, a lei é a do traficante, depois vem a lei de Deus.” REPERTÓRIOS SOBRE O ASSUNTO: A) Insegurança em relação à atuação das forças policiais Uma pesquisa do Datafolha de 2019, divulgada pelo jornal “Folha de São Paulo”apontou que 51% dos brasileiros têm mais medo do que confiança na polícia. Já para 81% dos deles, a polícia não deveria ter liberdade para Análise Literária UERJ - 2022 atirar em suspeitos sob o risco de atingir inocentes, sendo que apenas 17%, admitem esse tipo de ação. B) Princípios do policiamento comunitário O policiamento comunitário já é realidade em países como Bélgica, França, Itália, entre outros. Ele funciona como um órgão de prestação de serviço para cada cidadão e não como um instrumento de força para o governo local ou nacional. Para Eddie Hendrickx, ex-vice-diretor da Polícia Nacional belga e responsável pela desmilitarização da polícia em seu país, “policiamento comunitário é essencialmente isso – juntar polícia e cidadãos, sociedade civil e autoridades políticas, para discutir quais são os problemas de segurança e conjuntamente achar soluções. (…) Para as pessoas se sentirem mais seguras, é preciso identificar os problemas de segurança reais no nível mais elementar e então buscar soluções”. Análise Literária UERJ - 2022 4 - Gentrificação do espaço urbano Toda a narrativa da obra em questão se passa no Rio de Janeiro e é impossível falar da cidade carioca e dos seus bairros sem pensar em gentrificação. Esse fenômeno urbano transforma áreas periféricas em espaços modernos e revitalizados, segregando grande parte da população. Desse modo, áreas antes ocupadas por favelas vão mudando gradativamente de aspecto e perfil populacional. Os espaços se valorizam e recebem cada vez mais investimentos públicos e privados, “expulsando” os antigos moradores, de renda mais baixa para locais ainda mais afastados e deficientes de infraestrutura básica. Assim, um empreendimento com aspecto de “periferia” numa área nobre da cidade causa uma sensação de estranhamento nos moradores. Esse é o caso do sebo retratado na narrativa em questão. Inaugurado a uma quadra da delegacia, em uma área nobre de Copacabana, o antiquário chama a atenção de todos. Trecho da conversa entre Welber e o delegado Espinosa: “— Abriram um sebo a apenas uma quadra da delegacia. A notícia teve um efeito inesperado para Welber. O delegado parou de andar, ficou olhando para ele em silêncio como se não tivesse entendidoa frase, e retomou a marcha. — Não gostou da notícia, delegado? …— Muito. A ponto de se transformarem num possível projeto de vida. É que quando vemos esse projeto sendo realizado tão próximo de nós, ficamos assustados. De qualquer maneira, é uma excelente notícia. Obrigado.” CURIOSIDADE - O termo gentrificação é a versão aportuguesada de gentrification (de gentry, “pequena nobreza”), conceito criado pela socióloga britânica Ruth Glass (1912-1990), em London: Aspects of Change (1964), para descrever e analisar transformações observadas em diversos bairros operários em Londres. Análise Literária UERJ - 2022 REPERTÓRIOS SOBRE O ASSUNTO: A) Projeto Prata Preta O Projeto Porto Maravilha, criado pela Lei Municipal 101 de 2009, visa à revitalização urbana da Região Portuária do Rio de Janeiro e contempla alguns estudos como o relatório “Prata Preta —um levantamento inédito dos cortiços localizados na zona portuária do Rio de Janeiro”. Coordenado pelo professor Orlando Alves dos Santos Jr, o estudo em questão faz parte das ações em defesa do direito à moradia no contexto da Operação Urbana Porto Maravilha e tem como objetivo dar visibilidade à situação econômica, social, cultural, jurídica e urbanística dos moradores dos cortiços da área central do Rio; e também identificar a demanda por regularização fundiária e habitação de interesse social. B) Especulação imobiliária Segundo Patrícia Ramos Novaes, mestre e doutora em Planejamento Urbano e Regional pela UFRJ, várias questões aparecem no processo de gentrificação das favelas da zona sul carioca, como a especulação imobiliária. Para ela: “a introdução da dinâmica de mercado com ausência de mecanismos de regulações estatais, levou à especulação imobiliária e ao aumento dos valores de venda e aluguel praticados nas favelas. Como resultado, gerou-se processos objetivos e subjetivos de aumento do custo de vida e deslocamentos de moradores para outras partes da cidade e até mesmo para dentro das favelas”. Análise Literária UERJ - 2022 TEMÁTICAS SECUNDÁRIAS 1 - Homofobia O delegado Espinosa, apesar de detentor de um caráter íntegro e ilibado, apresenta uma personalidade marcada por uma sociedade machista e historicamente patriarcal. Em alguns trechos do livro, é possível perceber seu comportamento homofóbico, por exemplo em sua dificuldade em estabelecer um relacionamento sério com Irene. “Ficou pensando se a resistência a estabelecer uma relação mais estável com Irene tinha algo a ver com o episódio homossexual dela.” Em suas reflexões, o personagem atribuía seu comportamento homofóbico à criação que recebera quando criança: “Mas o fato é que ele não podia responder pelos preconceitos acumulados por um menino que passara a infância no bairro de Fátima, no Centro, antes de morar em Copacabana. Naquele tempo era tudo muito simples: menino era menino, menina era menina, e cada qual se comportava de acordo com os padrões do seu gênero. Não havia confusão. Pelo menos assim pensava ele. O que não podia avaliar era o quanto daquele menino continuava presente e atuante nele.” 2 - Alcoolismo Serena, testemunha ocular de um dos assassinatos da história, é alcoólatra e frequenta diariamente um grupo de Alcoólicos Anônimos. Seu histórico com o álcool é uma temática que perpassa toda a narrativa da personagem. Em uma das cenas do livro, Serena marca um encontro com o delegado Espinosa em uma das reuniões dos AA. Após o evento, ele a questiona sobre o vício: “— Há quanto tempo... — ... sou alcoólatra? — Ia perguntar há quanto tempo você frequenta os AA, mas acho que é a mesma Análise Literária UERJ - 2022 pergunta. — Eu me dei conta de que era alcoólatra há quase dez anos, eu tinha vinte e cinco, mas só passei a frequentar os aa aos vinte e sete, pouco antes de me casar com Guilherme. — Ele também era alcoólatra? — Ninguém era alcoólatra. Tem membros que estão sóbrios há vinte anos e continuam se considerando alcoólatras; sabem que se tomarem uma única dose deflagram um mecanismo que os fará tomar a garrafa inteira. Guilherme não é alcoólatra, embora beba quase todo dia... Mas não o dia todo. Quando conheci Guilherme, frequentava os AA quase diariamente. Casamo-nos no ano seguinte e quase nos separamos antes do primeiro aniversário de casamento. Mas a responsável pelo abalo não foi a bebida, foi meu passado. As pessoas padecem sobretudo de memória. A imagem que faço da memória é a de um bichinho de estimação que a pessoa ganha ao nascer e que vai crescendo junto com ela até ameaçar devorá-la. Para certas pessoas, o único escape é submeter-se às exigências do bicho. Só que, no nosso caso, o bicho fez morada na cabeça do meu marido. Não me arrependo da vida que levava antes de conhecer Guilherme. Na época não estava preocupada com a bebida, mas com minha voz e com meu desempenho. Achava que tinha uma voz bonita e que cantava bem. Cantei e bebi durante cinco anos. Quando conheci Guilherme, tinha parado de cantar e estava lutando para parar de beber. Aquela era uma das horas de maior movimento no Largo do Machado. Saíram andando na direção da praia do Flamengo de braços dados, ele pensando como aquele braço colara-se ao dele. — Pelo que entendi, o pior já passou. — Mas não acabou. A ameaça continua presente dentro da gente. É como um cão feroz que foi amansado. Um dia pode morder o dono.” 3 - Pessoas em situação de rua Uma das temáticas exploradas pelo autor Luiz Alfredo Garcia-Roza em seus livros é a vulnerabilidade em que vivem as pessoas em situação de rua. Embora menos presente na obra “Uma janela em Copacabana”, a narrativa é permeada por momentos em que o delegado Espinosa sai para lanchar ou espairecer em um banco de praça e se depara com grupos de pessoas que vivem marginalizadas. “O problema de almoçar num banco de rua é que se acaba forçosamente tendo de partilhar a refeição. Um menino que devia ter uns seis anos de Análise Literária UERJ - 2022 idade, mas que parecia ter três ou quatro, e que ficou parado na frente de Espinosa olhando fixo para ele, saiu carregando o saco de batatas fritas.” DICA - Não se deve usar termos como “morador de rua”, “pessoa de rua” ou até mesmo “mendigo”para se referir a indivíduos que se encontram nesse contexto social. Afinal, esses rótulos sustentam ideias de fracasso moral e individual, desconsiderando especificidades dessa população e ignorando sua possibilidade de mudar ou sair da situação em que se encontra. 4 - Incentivo à leitura O protagonista, Espinosa, cultiva uma paixão pela leitura, hábito incentivado pela sua avó. Na narrativa, a sua relação com a leitura é constantemente retratada, seja pela sua forma peculiar de organizar os livros, seja pelo seu apreço pelos sebos, interesse conhecido pelos colegas da profissão. “A caminho da praça do Lido, pensava no seu gosto pelos livros. Não era propriamente pelos livros; não era um bibliófilo, seus livros não tinham sequer estante, eram empilhados junto à parede da sala, uma fileira de livros em pé, outra de livros deitados simulando uma prateleira, outra de livros em pé e assim por diante, tendo atingido uma altura que superava a dele próprio. Também não era um erudito. Longe disso. Faltava-lhe cultura. O que procurava nos livros era boas narrativas, histórias bem contadas. Devia à avó, responsável por sua educação, o gosto pela leitura.” Análise Literária UERJ - 2022 PROPOSTA DE REDAÇÃO ESTILO UERJ “Quero ressaltar que, independentemente da origem e dos fins, não há boa propina. Propina não é complemento salarial. Propina é suborno. Quem aceita suborno, assim como quem suborna, é corrupto. E corrupção, além de ser um problema legal, é um problema ético.” Uma janela em Copacabana, de Luiz Alfredo Garcia-Roza Muito se diz sobre a corrupção ser algo inerente aos seres humanos, mas, também, é quase unanimidade a associação de atos corruptivos ao desvirtuamento e à falta de cuidado com o bem comum, o que desperta os mais variados debatessobre como seria possível romper com essa cultura de suborno e desvirtuamento. A partir da leitura do romance, escreva uma redação dissertativa- argumentativa, com 20 a 30 linhas, em que discuta a seguinte questão: É possível combater a corrupção ou ela é algo inerente ao ser? Seu texto deve atender à norma padrão da língua portuguesa, conter um título, além de ser inteiramente escrito com caneta. Análise Literária UERJ - 2022 REDAÇÃO-MODELO Culpabilizar maçãs ou responsabilizar agentes? No século XVIII, Jean-Jacques Rousseau proferiu a célebre frase “o homem nasce bom, e a sociedade o corrompe”. A partir dessa proposição, o filósofo nos afirma que as ações dos indivíduos são um reflexo do meio em que eles estão inseridos. Essa premissa, por sua vez, permeia importantes debates sobre quais seriam os elementos que corrompem a natureza humana. Com efeito, dessa reflexão surge uma importante indagação: seria a corrupção um vício inato ou uma reprodução que pode ser combatida? Primordialmente, há de se considerar que parte da sociedade acredita que a corrupção é uma condição inerente ao ser. Sobre isso, o cientista político Jorge Almeida, da Universidade Federal da Bahia (UFBA), acrescenta que a competitividade comum das sociedades contemporâneas amplia o potencial corruptivo. Em suma, ele entende que, em espaços onde existem dificuldades para se obter determinados bens, aumenta-se a possibilidade de corrompimento. Desse modo, é cabível depreender que a dificuldade de acesso aos bens necessários para se viver pode ser um fator determinante para o aumento de atos ímprobos. Exemplo disso é a narrativa de Garcia-Roza, em “Uma janela em Copacabana”, que denuncia a ocorrência de corrupção dentro da polícia do Rio de Janeiro, que seria, inclusive, motivada pelos baixos salários pagos aos policiais. Todavia, em prol do bem-estar coletivo, é preciso que não haja a aceitação desses desvirtuamentos. Na linha do existencialismo, a filósofa alemã Hannah Arendt já havia refletido que um mal praticado corriqueiramente torna-se banal. Assim, podemos problematizar como a naturalização da corrupção dificulta o combate dela. Nesse sentido, a antropóloga Ana Paula Miranda, alerta que é essencial analisar as ocorrências de crimes de corrupção para além da “teoria das maçãs podres”, ou seja, que se deixe de culpabilizar os infratores e se comece a responsabilizar agentes e gestores públicos, a fim de, efetivamente, buscar soluções para reduzir as transgressões e romper com essa cultura de reprodução do corrompimento. Portanto, é preciso compreender que, apesar dos fatores que favorecem a prática de atos corruptivos entre os seres humanos, essa cultura deve ser combatida. Para produzir tal efeito, é fundamental que haja, conforme proposto pela antropóloga Ana Paula Miranda, uma substituição da culpabilização dos sujeitos pela responsabilização dos agentes. Somente assim, desvios como a desigualdade de acesso aos bens necessários para viver serão corrigidos e a corrupção será rechaçada. Análise Literária UERJ - 2022 BIBLIOGRAFIA ALC NTARA, Maurício Fernandes de. 2018. Gentrificação. In: Enciclopédia de Antropologia. São Paulo: Universidade de São Paulo, Departamento de Antropologia. Disponível em: http://ea.fflch.usp.br/conceito/gentrificacao Acesso em novembro de 2021. BICHIR, Renata; GOMES, Maria Laura; REIMBERG, Juliana. 2020. 10 perguntas que a ciência já respondeu sobre população em situação de rua. In: Nexo Jornal. Disponível em: https://pp.nexojornal.com.br/perguntas-que-a-ciencia-ja-respondeu/2020/10- perguntas-que-a-ciência-já-respondeu-sobre-população-em-situação-de-rua Acesso em novembro de 2021. GARCIA-ROZA, Luiz Alfredo. Uma janela em Copacabana. São Paulo: Companhia das Letras, 2001. KRAUSE, Gustavo Bernardo. 2019. Para pensar melhor: A redação da UERJ. 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