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Unidade 4 - Modernismo

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Panorama Cultural de Literatura 
Brasileira 
 
 
 
 1 
Unidade 4 
 
Modernismo 
 
 
Caro(a) aluno(a), 
 
o objetivo desta unidade é, na esteira das que se seguiram até 
aqui, pensar a cultura brasileira do início do século XX como um momento 
de revisão da própria constituição da sociedade e da cultura. Para tanto, o 
movimento modernista toca em pontos nevrálgicos da sociedade, que são 
justamente os que dizem respeito à ligação a antigos conceitos. Em 
contrapartida, propõe e vislumbra a criação de uma cultura tipicamente 
brasileira, ainda que com contato íntimo com as produções de outros 
países. 
 
 
4.1 O Pré-Modernismo 
 
Mitizi Gomes 
 
Porque, no me canso de repetirlo, la estridencia de piedras recalentadas al sol, que es la 
música de este idioma sonoro del libro de Euclides da Cunha, no puede ser imitada por la 
orquestación del teatro lírico de un idioma ceñido por las academias. Cuando más, lo que ha 
de ambicionar el traductor es el de transportar el contorno de la obra maestra, dejando que la 
imaginación del lector intuya la catarata de belleza que dentro de ese contorno se encierra. Es 
lo que he hecho. 
Benjamin de Garay, tradutor para o espanhol de Os Sertões, em 1942. 
 
Em fins do século XIX, a sociedade brasileira já dava indícios de que havia a necessidade 
de se voltar o olhar para as modificações sociais que vinham ocorrendo e que, de certa forma, já 
haviam alterado os rumos das manifestações artísticas e intelectuais do país. Ainda que algumas 
tendências artísticas vigorassem nesse período, era possível vislumbrar o nascimento de uma 
forma de olhar a realidade, diferente do que tínhamos até então. Assim sendo, muitos intelectuais 
começavam a questionar as regras vigentes. O movimento a que denominamos Pré-Modernismo, 
no Brasil, aponta para esse caminho. 
 
Folha de Rosto de Os Sertões, de 1902. 
Disponível em: 
<http://pt.wikipedia.org/wiki/Os_Sert%C3%
B5es> Acesso em: 02/06/2011 
 
Uma obra importante que fundamenta o chamado Pré-
Modernismo é Os Sertões, de Euclides da Cunha, que foi publicado em 
1902, mas escrito no momento em que Euclides da Cunha cobriu a 
Campanha de Canudos na Bahia, em 1897. O referido texto busca 
retratar uma realidade, a partir da observação do autor enquanto 
correspondente jornalístico. Ao fazê-lo, Euclides registrou um momento 
importante da história brasileira e denunciou a forma de vida bárbara do 
http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/7/7e/Os_Sert%C3%B5es_livro_1902.jpg
http://www.releituras.com/edacunha_bio.asp
 
Panorama Cultural de Literatura 
Brasileira 
 
 
 
 2 
homem do sertão, encontrando no sertanejo a “essência do país”. Essa atitude de Euclides da 
Cunha, segundo Luiz Costa Lima, provocou certo fascínio na sociedade daquele período, 
principalmente porque se empenhara no “conhecimento de sua terra” (LIMA, 1997, p.20), e 
proporcionou uma série de indagações nos intelectuais acerca da nossa constituição nacional. A 
divisão do texto em três partes (A Terra, O Homem, A Luta) pode explicar a tendência do autor 
em ratificar as idéias positivistas do século XIX, uma vez que a luta é justificada pela existência 
de um tipo de homem diferenciado pelo lugar onde habita. 
A guerra existiu porque havia diferenças entre os habitantes do sertão baiano e os 
habitantes do litoral, ou do resto do Brasil. Ainda que alguns críticos destaquem os traços 
literários do texto de Euclides, não se pode esquecer de que a obra não foi escrita inicialmente 
com objetivos literários. Entretanto, a forma como o autor constrói o sertanejo dá a esse 
arquétipo o estatuto de personagem ficcional, ainda que não haja a inserção de personagens 
fictícias para compor o quadro narrativo. Antes, Euclides mostra, em suas notas de rodapé, que 
muitas informações foram extraídas de relatos e relatórios1 de outras pessoas que também 
tiveram contato com a realidade de Canudos. 
Para construir seu arquétipo, Euclides da Cunha necessitou deslocar-se para o sertão, o 
que propiciou ao escritor uma pesquisa in loco. Para Flávio Loureiro Chaves, a “documentação e a 
interpretação da realidade circundante” (CHAVES, 1994, p.41) se impuseram na literatura 
brasileira a partir da escrita de Euclides da Cunha. Ao cobrir a campanha de Canudos, Euclides 
rompe, definitivamente, com a ideologia ufanista nascida e fortificada no Romantismo. O autor, 
segundo Chaves, ao entrar em contato com a realidade do sertão, dá, no livro, “voz aos 
dominados, assumindo a sua causa pela primeira vez na literatura brasileira” (CHAVES, 1991, 
p.22). Esse movimento altera não só os rumos da literatura ulterior como também a própria 
forma de tratar a realidade, uma vez que, a visão histórica de Euclides, de acordo com Flávio 
Loureiro, é marcada pela consciência de “que a miséria de toda dominação consiste precisamente 
em negar-se ao dominado a consciência da própria miséria a que está submetido” (CHAVES, 
1991, p.22). 
A visão cientificista acerca do sertanejo é modificada no decorrer do texto, e Euclides da 
Cunha aproxima seu olhar ao de um “observador direto” (CHAVES, 1994, p.41), utilizando-se 
de recursos estéticos para construir a imagem do sertanejo de forma subjetiva. Essa subjetividade 
com que vê o sertanejo é fruto, igualmente, do próprio distanciamento que o autor tem do povo 
do lugar, pois seu contato com a realidade deu-se, ainda que tenha acompanhado a expedição, 
principalmente através de relatos de terceiros ou do acompanhamento de interrogatórios dos 
prisioneiros de Canudos. Também não devemos esquecer de que entre suas anotações e a 
publicação do livro há uma lacuna de cinco anos. Entretanto, percebemos um embate entre as 
diferentes linguagens que emergem no texto, pois o objetivo cientificista não consegue se 
sobrepor às imagens que vão se formando sobre o sertanejo ao longo da escrita, uma vez que 
este se apresenta ambíguo. Diante da dificuldade de apreender o sertanejo e sua realidade, 
Euclides da Cunha acaba agindo como o conquistador/colonizador, que nem sempre possui um 
léxico abrangente o suficiente para definir o outro, e o faz a partir do uso de comparações e 
metáforas. Em relação a essa dificuldade do autor de Os Sertões, Zilly nos afirma que: 
 
Partindo da tese de que o sertão como terra e como sociedade era totalmente 
desconhecido, e quase inexplicável, Euclides tinha de estabelecer 
constantemente pontes e ligações entre o conhecido e o desconhecido, para 
 
1 Euclides da Cunha utiliza-se de “Memórias” de Manuel Ximenes e de “Crimes Célebre do Ceará, os Araújos e 
Maciéis”, do coronel João Brígido, ao falar da família Maciel; do “Relatório” de Freio Monte-Marciano, que teve 
contato com Antônio Conselheiro; de relatos do Barão de Jeremoabo, do doutor Edgar Henrique Albertazzi, 
médico da expedição, e de muitos outros documentos e relatos de diversas testemunhas. 
http://pt.wikipedia.org/wiki/Positivismo
 
Panorama Cultural de Literatura 
Brasileira 
 
 
 
 3 
assim transpor o abismo que via entre o interior bárbaro, o Nordeste […], e o 
Brasil civilizado e europeizado do litoral. […] E o método básico para explicar 
e para evidenciar plasticamente a alteridade total da realidade sertaneja é a 
comparação, implícita ou explícita, a analogia com o que é familiar ao leitor e 
ao próprio autor. (ZILLY, 1993, p.43) 
 
Outro fator que talvez tenha colaborado para que Euclides, por vezes, tenha desviado o 
olhar do cientificismo para contemplar o sertanejo como uma figura de ficção pode ter sido a 
insurgência de outros textos que o precederam acerca do tema, porém estes declaradamente 
literários. Sabemos que um texto é tecido sempre a partir de outros textos, ou, segundo Bakhtin, 
todo discurso está sempre impregnado do discurso de outrem, e ainda que tentemos reproduzir o 
discurso do outro, sempre o modificaremos, sempre adicionaremos a ele o nosso discurso. 
Nesse sentido, Guilhermino César nos lembra que o assunto “sertanejo” já fazia parte daliteratura brasileira, muito antes de os olhares oficiais se voltarem para o sertão. Mas não só o 
homem sertanejo fazia parte dessa literatura, e sim qualquer personagem brasileira que estava 
afastada do modelo de vida citadina. Dentre as obras que abordam o tema, Guilhermino destaca 
como precursora O Ermitão de Muquém (1858), de Bernardo Guimarães, e sua ênfase na 
mestiçagem, bem como alerta que tal texto já aponta para os problemas existentes no sertão, 
como “a ignorância, a superstição, o isolamento” (CÉSAR, 1966, p.12). Para o crítico, a literatura 
constatou, primeiro que a história, os problemas daquele povo. 
Foi somente após a falência do indianismo que os romancistas voltaram o olhar para o 
sertanejo, talvez já na falência do próprio Romantismo, uma vez que o “sertanismo” não poderia 
ter os matizes estilísticos românticos. Os romances O sertanejo, de José de Alencar, O cacaulista, de 
Inglês de Sousa, e O cabeleira, de Franklin Távora, vêm à luz no ano de 1876. Ainda sobre o tema, 
temos O sertão (1896), de Coelho Neto, publicado às vésperas da Campanha, e Pelo Sertão (1898), 
de Afonso Arinos, publicado logo após o término dela. 
Esse ambiente literário sertanista certamente colaborou para a construção da imagem do 
sertanejo e do sertão de Euclides. No que diz respeito à influência dos textos literários 
regionalistas, produzidos no período, sobre a escrita de Euclides da Cunha, Leopoldo Bernucci 
afirma haver uma intertextualidade entre a descrição do Conselheiro em Os Sertões e em O 
Sertanejo, de José de Alencar, bem como entre a definição dos tipos o sertanejo, o vaqueiro e o gaúcho 
de Euclides da Cunha e os definidos em O Gaúcho, também de José de Alencar (BERNUCCI, 
1995, p.22). Entretanto, Os Sertões afasta-se dos textos de seu predecessor principalmente porque 
o objetivo da produção do texto está ligado à satisfação histórica, e o autor de Os Sertões volta, 
muitas vezes, ao lugar de origem, deixando entrever em seu discurso o ideário colonialista-
nacionalista pela necessidade de que o país tem de integrar esses bárbaros do sertão à civilização. 
Assim, a coexistência de diferentes discursos no texto acaba dando a ele um cunho antitético, e 
cabe ao leitor perceber tais antíteses. 
No contexto latino-americano, é possível encontrar uma obra que tem, conforme estudos 
já desenvolvidos por diversos pesquisadores, relação estreita com o texto de Euclides. Facundo 
(1845), de Domingo Faustino Sarmiento, recupera a vida do caudilho Quiroga no contexto do 
governo de Rosas. Na obra, o autor argentino buscou mostrar os problemas sociais do país, 
decorrentes de fatores políticos e da formação étnica, que potencializavam a estagnação do 
progresso em solo argentino. Ainda que o objetivo de Sarmiento seja analisar a situação política 
do país, denunciando a barbárie decorrente do tipo de vida dos habitantes locais, a forma como 
ele constrói Facundo e sua trajetória transforma-o em personagem romanesca. 
Somente para levantar alguns aspectos convergentes, destacamos elementos dos estudos 
de Berthold Zilly (2004), tradutor que aprofundou suas investigações comparativas, que se 
iniciam a partir da estrutura textual e se estendem até a ideologia contida em cada um dos textos. 
http://es.wikipedia.org/wiki/Domingo_Faustino_Sarmiento
 
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 4 
Além desses elementos, Zilly afirma haver em Os Sertões a presença de Facundo, ainda que 
Euclides não faça referência direta ao texto de Sarmiento. A semelhança é constatada desde a 
“sequência dos tópicos: o meio físico, a população e a cultura, guerra” até ao fato da presença 
dos diversos gêneros literários e gêneros do discurso, que expressam uma variedade de pesquisas 
das diferentes áreas do conhecimento. 
O jagunço, assim como o caudilho artiguista, nasceu da união de diversos fatores, tanto 
políticos quanto históricos, econômicos, sociais e geográficos. Mas para entendermos as forças 
de Canudos como organizadas e fundamentadas, devemos reconsiderar a imagem construída de 
Antônio Conselheiro, que passaria de louco a uma espécie de “militar religioso” capaz de resistir 
às investidas militares das forças republicanas. Zilly não hesita em comparar as personagens 
Facundo e Conselheiro, uma vez que ambos são considerados “líderes de massas rurais”, mas 
que não possuem muitas características em comum. Para Euclides, o Conselheiro é “emissário do 
poder divino”, muito diferente de Facundo, que possui motivações mais políticas, sem ter 
qualquer relação de orientador do povo. 
No que diz respeito à dicotomia civilização/barbárie, Zilly destaca que, em ambos os 
textos, o segundo elemento é visto como um empecilho para o primeiro. Ainda que Euclides 
perceba as diferenças regionais, acredita que as ações da civilização podem ser justificadas 
quando visarem a um “progresso humanitário”. Sarmiento, por sua vez, acredita que o atraso – 
Rosas – é inimigo da civilização, e como tal deve ser combatido. Pela distância temporal existente 
entre as duas obras, Zilly explica que Sarmiento não problematiza a violência advinda da 
civilização porque não pôde ver, assim como Euclides viu, os reversos dela quando presenciou a 
Guerra de Canudos. 
 
 
Para refletir... 
 
Você já leu a obra de Euclides da Cunha? Conhece algo sobre o contexto em 
que foi escrita? 
Assista a um vídeo didático criado pela Fundação Joaquim Nabuco e pelo 
Ministério da Cultura. Nele, são reproduzidos alguns momentos importantes da 
história de Canudos e da Guerra do Contestado. O título é Canudos e 
Contestado, Guerra de Deus e do Diabo. Atente-se para o contexto e 
para a forma como o Arraial de Canudos foi criado, refletindo sobre o impacto das 
forças militares nas ações da comunidade. 
 
Acesse e assista ao vídeo em: 
http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm
.do?select_action=&co_obra=20505 
 
 
4.2 Antecedentes 
 
Andrea Perrot 
 
A Europa vivia a “Belle Époque”, com sua diversidade de tendências filosóficas, 
científicas, sociais e literárias, sendo estas últimas envoltas pelo clima da boemia em cafés e 
avenidas das grandes cidades. Havia no ar um sentimento de otimismo: uma pequena parcela da 
população, abastada, celebrava o surgimento acelerado de descobertas e invenções que tornavam 
http://pt.wikipedia.org/wiki/Belle_%25C3%2589poque
 
Panorama Cultural de Literatura 
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 5 
a vida mais confortável, como o telégrafo, o carro a vapor, a lâmpada elétrica, o telefone, o 
cinema e o avião. Era nessa minoria que a classe média se espelhava. 
Simultaneamente, uma grande massa de desassistidos morria de doenças e de fome, na 
mais completa miséria. A burguesia sabia do perigo que rondava o capitalismo e procurava 
aproveitar ao máximo o presente, num clima de euforia. No período de 1914 a 1918, a 1ª Guerra 
Mundial pôs um fim a esse clima “de festa”, trazendo insegurança e mais de 1 milhão de vítimas. 
Em 1917, a Revolução Russa propõe uma nova forma de governo – o Socialismo -, despertando 
novamente a esperança em todo o mundo. Vigora, então, um período de alívio que antecede à 
crise de 1929 e à 2ª Guerra Mundial, de 1939 a 1945. 
Frente a essa instabilidade, a arte se fragmenta, torna-se abstrata e passa a se alimentar 
da ruptura, do caos inventivo, da demolição, estabelecendo como preceito maior o irracionalismo 
como atitude existencial e estética (BOSI, 1974, p.342). No campo científico, Albert Einstein descobre 
a Teoria da Relatividade (1905). Sigmund Freud funda a Psicanálise (1916-17) numa tentativa de 
investigação psicológica como tratamento de neuroses. Na música, promove-se a dissonância, 
quebrando a linearidade e o equilíbrio. Tudo isso repercute tremendamente na literatura, fazendo 
surgir novas formas de expressão literária. São as vanguardas europeias que levam a cabo essa 
multiplicidade de tendências. 
 
4.3 As Vanguardas Europeias 
 
As principais vanguardas europeias foram o Cubismo, o Futurismo, o Expressionismo, 
o Dadaísmo eo Surrealismo. Trataremos de cada uma delas, de forma breve, a seguir. Na seção 
Para saber mais... você encontrará links para mais informações sobre cada uma. 
 
 Futurismo: criada pelo italiano Marinetti, buscava identificar a arte e o progresso 
tecnológico, exaltando a velocidade, a industrialização, a mecanização. 
 
 Dadaísmo: adotou formas desconcertantes, misturando procedimentos sérios e 
humorísticos de forma a reagir aos absurdos da época pela negação de tudo. É a 
vanguarda mais radical. Seu líder foi o romeno Tristan Tzara. 
 
 
 Cubismo: tendência da pintura que 
tenta definir geometricamente os 
objetos. Pablo Picasso foi seu 
criador. 
 
Guernica, Picasso, 1937. 
 
 
 
 Expressionismo: pintura que produz, com traços violentos e 
cores dramáticas, todo tipo de deformação da imagem, 
aproximando-se da caricatura e do grotesco. Seus principais 
representantes foram Munch, Kokoschka e Segal. 
 
O Grito, Munch, 1893. 
 
http://pt.wikipedia.org/wiki/Primeira_Guerra_Mundial
http://pt.wikipedia.org/wiki/Primeira_Guerra_Mundial
http://pt.wikipedia.org/wiki/Revolu%25C3%25A7%25C3%25A3o_Russa_de_1917
http://pt.wikipedia.org/wiki/Socialismo
http://pt.wikipedia.org/wiki/Grande_Depress%25C3%25A3o
http://pt.wikipedia.org/wiki/Segunda_Guerra_Mundial
http://pt.wikipedia.org/wiki/Teoria_da_relatividade
http://pt.wikipedia.org/wiki/Psican%25C3%25A1lise
http://pt.wikipedia.org/wiki/Conson%25C3%25A2ncia_e_disson%25C3%25A2ncia
 
Panorama Cultural de Literatura 
Brasileira 
 
 
 
 6 
 
 
 Surrealismo: propunha a exploração do domínio do 
automatismo psíquico, expressando o 
funcionamento real do pensamento, sem o controle 
da razão e sem qualquer preocupação estética. 
Exaltava os sonhos. Salavador Dali foi um de seus 
representantes. 
 
 
 
A Persistência da Memória, Dalí, 1931. 
 
 
 
Para saber mais... 
 
Assista aos vídeos abaixo no YouTube para compreender e visualizar a 
estética das vanguardas europeias que influenciaram a Semana de Arte Moderna e o 
Modernismo brasileiros: 
 
http://www.youtube.com/watch?v=GcNLrF2VNXs 
http://www.youtube.com/watch?v=N7Ph6H5OshE 
 
 
4.4 A Semana de Arte Moderna 
 
Segundo Alfredo Bosi, “O que a crítica nacional chama Modernismo está condicionado por 
um acontecimento, isto é, por algo datado, público e clamoroso, que se impôs à atenção da nossa 
inteligência como um divisor de águas: a Semana de Arte Moderna, realizada em fevereiro de 
1922, na cidade de São Paulo. [...] os promotores da Semana traziam, de fato, estéticas originais 
em relação às nossas últimas correntes literárias, já em agonia, o Parnasianismo e o Simbolismo” 
(BOSI, 1974, p.339). 
A Semana é realizada sob a influência de algumas determinantes históricas, das quais 
destacam-se “as mudanças socioculturais vividas pelo Brasil desde o início do século XX e o 
surgimento das correntes de vanguarda europeias que, já antes da 1ª Guerra Mundial tinham 
radicalizado e transfigurado a herança do Realismo” (BOSI, 1974, p.339). Idealizada por Di 
Cavalcanti e organizada por intelectuais paulista, tendo à frente o escritor Graça Aranha, o 
estrondoso evento foi realizado no Teatro Municipal de São Paulo. Ao comentá-la, Mário de 
Andrade, um dos seus principais nomes, declarou: “E vivemos uns oito anos, até perto de 1930, 
na maior orgia intelectual que a história artística do país registra”. 
Em relação às mudanças socioculturais vividas pelo Brasil, desenhava-se o seguinte 
contexto histórico: impera a política do café-com-leite, pela qual se alternavam no poder 
governos de São Paulo (café/agricultura) e Minas Gerais (leite/pecuária). A política era dominada 
pelas famílias ricas (oligarquia), que impunham seus representantes ao governo. 
A burguesia paulista, enriquecida pelo desenvolvimento da agricultura cafeeira, acelerou o 
processo de urbanização da cidade de São Paulo, uma vez que os barões do café deixavam suas 
fazendas para morar em mansões na capital. Ruas pavimentadas, automóveis, ferrovias, lojas 
http://www.youtube.com/watch?v=GcNLrF2VNXs
http://www.youtube.com/watch?v=N7Ph6H5OshE
http://pt.wikipedia.org/wiki/Semana_de_Arte_Moderna
http://pt.wikipedia.org/wiki/Di_Cavalcanti
http://pt.wikipedia.org/wiki/Di_Cavalcanti
http://pt.wikipedia.org/wiki/Gra%25C3%25A7a_Aranha
http://pt.wikipedia.org/wiki/Oligarquia
 
Panorama Cultural de Literatura 
Brasileira 
 
 
 
 7 
requintadas, comercializando produtos vindos do exterior, tudo isso levava São Paulo a imitar o 
ar moderno das capitais europeias. Por outro lado, a expansão industrial (principalmente as 
indústrias têxtil e alimentícia) propicia o surgimento dos bairros operários e das organizações 
anarquistas de defesa dos direitos dos trabalhadores. 
Imigrantes europeus, principalmente italianos, chegam ao Brasil para formar a massa 
trabalhadora que vai atuar na indústria, no comércio, na construção civil e na lavoura cafeeira. As 
famílias ricas passam temporadas inteiras na Europa, de onde trazem a moda, as tendências 
artísticas, as inquietações ideológicas. Com o término da 1ª Guerra Mundial, as exportações 
retomam seu ritmo normal, trazendo crescimento econômico para nosso país. O domínio 
político das oligarquias paulista e mineira passa a ser questionado, e irrompem as primeiras 
greves. 
Nesse contexto, São Paulo transforma-se na Pauliceia Desvairada2, onde conviviam barões 
do café, operários, anarquistas, industriais, banqueiros, estudantes, militares, advogados, negros, 
nordestinos, imigrantes europeus, num misto de culturas. Logo, jovens intelectuais acabam se 
juntando e manifestando seu descontentamento em relação às artes e à cultura brasileiras de um 
modo geral. Mário de Andrade assim define os sentimentos dessa juventude: “Nós não sabíamos 
o que queríamos, mas sabíamos o que não queríamos: o nosso sentido era especificamente 
destruidor.” 
Alguns dos fatos que antecederam a Semana de Arte Moderna, de certo modo já 
justificando a sua realização, foram os seguintes: 
 
1911 – Oswald de Andrade funda o semanário humorista O Pirralho, contando com a 
colaboração de Di Cavalcanti. A publicação circula até 1917. 
1914 – Anita Malfatti realiza sua primeira exposição de pintura. 
1917 – Oswald conhece Mário de Andrade numa comemoração no Conservatório 
dramático Musical onde Mário estudava. 
1921 – Num banquete no Clube Trianon, em homenagem a Menotti del Picchia, Oswald 
conclama os jovens artistas a combaterem a velha literatura que ainda se fazia no país; 
Mário de Andrade publica Paulicéia Desvairada e uma série de artigos críticos sobre os 
poetas parnasianos. Entre outras ironias, afirma: “Malditos sempre os mestres do 
Passado! Que a simples recordação de um de vós escravize os espíritos no amor 
incondicional pela Forma! Que o Brasil seja infeliz porque vos criou! Que o Universo se 
desmantele porque vos comportou! E que não fique nada, nada, nada!”; 
Exposição de Di Cavalcanti onde o pintor conhece Graça Aranha e surge a idéia da 
Semana de Arte Moderna. 
 
A primeira notícia sobre a realização da Semana saiu no jornal O Estado de São Paulo em 
29 de Janeiro de 1922: 
 
“Por iniciativa do festejado escritor, Sr. Graça Aranha, da Academia Brasileira 
de Letras, haverá, em São Paulo, uma “Semana de Arte Moderna”, em que 
tomarão parte os artistas que, em nosso meio, representam as mais modernas 
correntes artísticas”. 
 
A Semana aconteceu nos dias 13, 15 e 17 de fevereiro de 1922. Houve conferências (A 
Emoção Estética na Arte Moderna - Graça Aranha; A pintura e a escultura Moderna no Brasil - Ronald de 
Carvalho; Arte e Estética - Menotti Del Picchia), declamação de poemas modernistas, 
 
2 Nessa obra de Mário de Andrade está o famoso "prefácio interessantíssimo", considerado a base do modernismo 
brasileiro. 
http://pt.wikipedia.org/wiki/Anarquismo
http://pt.wikipedia.org/wiki/Anita_Malfatti
http://pt.wikipedia.org/wiki/Menotti_Del_Picchia
 
Panorama Cultural de Literatura 
Brasileira 
 
 
 
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apresentaçõesde música com Villa-Lobos, Ernani Braga e Guiomar Novaes, além de exposições 
de artes plásticas. 
A repercussão do evento na imprensa foi grande. O ano de 1922 era o ano do Centenário 
da Independência, marcado pela inovação dos jovens artistas que deram início a um movimento 
que reformulou não apenas as artes, mas todo o panorama social e político brasileiro. 
 
 
4.5 Modernismo 
 
De acordo com Bosi, “Os homens de 22 (Mário, Oswald, Bandeira...) viveram com 
maior ou menor dramaticidade uma consciência dividida entre a sedução da ‘cultura ocidental’ e 
as exigências de seu povo, múltiplo nas raízes históricas e na dispersão geográfica. Como no 
Romantismo, a coexistência deu-se de forma dinâmica e progressiva: e se na pressa dos 
manifestos houve apenas colagem de matéria-prima nacional e módulos europeus, nos frutos 
maduros do movimento se conhece a exploração feliz das potencialidades formais da cultura brasileira” (BOSI, 
1974, p.342-3). Esta parece ser a tônica do modernismo brasileiro, movimento que, em 
consonância com os acontecimentos históricos, políticos, econômicos e sociais, formulou as 
bases para uma nova arte nacional, reeditando alguns dos princípios do nosso Romantismo do 
século XIX, como a valorização da língua do povo e de suas raízes históricas. Os principais 
nomes do Modernismo, na sua 1ª fase, chamada de “fase heróica”, pois constitui o alicerce 
conceitual e estético do movimento, são Mário de Andrade, Oswald de Andrade e Manuel 
Bandeira. 
 
4.5.1 Mário de Andrade 
 
Mário Andrade, o chamado “pai do modernismo”, nasceu em São Paulo em 9 de 
outubro de 1893. Tinha uma verdadeira paixão pela música. Iniciou suas atividades de escritor 
colaborando em jornais e revistas da época. Seus primeiros textos eram ainda muito próximos do 
parnasianismo. Seu primeiro livro “Há uma gota de sangue em cada poema” apresenta também 
elementos passadistas. Foi publicado em 1917, ano em que também conheceu Oswald de 
Andrade. São dele as obras Paulicéia Desvairada (1922), Amar, verbo intransitivo (1927) e Macunaíma 
(1928) 
 
Prefácio Interessantíssimo (publicado em Paulicéia Desvairada) 
[...] 
Quando sinto a impulsão lírica escrevo sem pensar tudo que meu inconsciente 
me grita. 
Penso depois: não só para corrigir, como para justificar o que escrevi. Daí a 
razão deste Prefácio Interessantíssimo. 
Aliás muito difícil nesta prosa saber onde termina a blague, onde principia a 
seriedade. 
Nem eu sei. 
[...] 
Não sou futurista (de Marinetti). Disse e repito-o. Tenho pontos de contato 
com o futurismo. Oswald de Andrade, chamando-me de futurista, errou. A 
culpa é minha. Sabia da existência do artigo e deixei que saísse. Tal foi o 
escândalo, que desejei a morte do mundo. Era vaidoso. Quis sair da 
obscuridade. Hoje tenho orgulho. Não me pesaria reentrar na obscuridade. 
Pensei que se discutiram minhas idéias (que nem são minhas): discutiram 
http://pt.wikipedia.org/wiki/M%25C3%25A1rio_de_Andrade
 
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minhas intenções. Já agora não me calo. Tanto ridicularizaram meu silêncio 
como esta grita. 
Um pouco de teoria? 
Acredito que o lirismo, nascido no subconsciente, acrisolado num pensamento 
claro ou confuso, cria frases que são versos inteiros, sem prejuízo de medir 
tantas sílabas, com acentuação determinada. 
[...] 
Que Arte não seja porém limpar versos de exageros coloridos. Exagero: 
símbolo sempre novo da vida como sonho. Por ele vida e sonho se 
irmanaram. E, consciente, não é defeito, mas meio legítimo de expressão. 
[...] 
Não pretendo obrigar ninguém a seguir-me. Costumo andar sozinho. Virgílio, 
Homero, não usaram rima: Virgílio, Homero, têm assonâncias admiráveis. A 
língua brasileira é das mais ricas e sonoras. E possui o admirabilíssimo "ão". 
 
Marinetti foi grande quando redescobriu o poder sugestivo, associativo, 
simbólico, universal, musical da palavra liberdade. Aliás: velha como Adão. 
Marinetti errou: fez dela sistema. É apenas auxiliar poderosíssimo. Uso 
palavras em liberdade. Sinto que meu copo é grande demais para mim, e inda 
bebo no copo dos outros. 
[...] 
Harmonia: combinação de sons simultâneos. 
Exemplo: 
"Arroubos... Lutas... Setas... Cantigas... Povoar!..." 
Estas palavras não se ligam. Não formam enumeração. Cada uma é frase, 
período elíptico, reduzido ao mínimo telegráfico. 
Si pronuncio "Arroubos", como não faz parte de frase (melodia), a palavra 
chama atenção para seu insulamento e fica vibrando, à espera duma frase que 
lhe faça adquirir significado e que não vem."Lutas" não dá conclusão alguma a 
"Arroubos"; e, nas mesmas condições, não fazendo esquecer a primeira 
palavra, fica vibrando com ela. As outras vozes fazem o mesmo. Assim: em 
vez de melodia (frase gramatical) temos acorde arpejado, harmonia, - o verso 
harmônico. Mas, si em vez de usar só palavras soltas, uso frases soltas: mesma 
sensação de superposição, não já de palavras (notas) mas de frases (melodias). 
Portanto: polifonia poética. 
 
Pronomes? Escrevo brasileiro. Si uso ortografia portuguesa é porque, não 
alterando o resultado, dá-me uma ortografia. 
 
Escrever arte moderna não significa jamais para mim representar a vida atual 
no que tem de exterior: automóveis, cinema, asfalto. Si estas palavras 
freqüentam-me o livro é porque pense com elas escrever moderna, mas 
porque sendo meu livro moderno, elas têm nele sua razão de ser. 
 
Mas todo este prefácio, com todo a disparate das teorias que contém, não vale 
coisíssima nenhuma. Quando escrevi "Paulicéia Desvairada" não pensei em 
nada disto. Garanto porém que chorei, que cantei, que ri, que berrei... Eu vivo! 
[...] 
 
4.5.2 Oswald de Andrade 
 
Oswald de Andrade nasceu em São Paulo, em 11 de janeiro de 1890. Em 1911, funda o 
semanário humorista O Pirralho. Em 1912, faz sua primeira viagem à Europa, trazendo na volta o 
http://pt.wikipedia.org/wiki/Oswald_de_Andrade
 
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manifesto futurista de Marinetti. Nos anos que antecederam a Semana de Arte Moderna, instigou 
a ruptura com os padrões artísticos do passado. Seus romances mais importantes foram Memórias 
Sentimentais de João Miramar (1924) e Serafim Ponte Grande (1933). 
 
Manifesto Pau-Brasil (1924) 
A poesia existe nos fatos. Os casebres de açafrão e de ocre nos verdes da 
Favela, sob o azul cabralino, são fatos estéticos. 
O Carnaval no Rio é o acontecimento religioso da raça. Pau-Brasil. Wagner 
submerge ante os cordões de Botafogo. Bárbaro e nosso. A formação étnica 
rica. Riqueza vegetal. O minério. A cozinha. O vatapá, o ouro e a dança. 
Toda a história bandeirante e a história comercial do Brasil. O lado doutor, o 
lado citações, o lado autores conhecidos. Comovente. Rui Barbosa: uma 
cartola na Senegâmbia. Tudo revertendo em riqueza. A riqueza dos bailes e 
das frases feitas. Negras de Jockey. Odaliscas no Catumbi. Falar difícil. 
O lado doutor. Fatalidade do primeiro branco aportado e dominando 
politicamente as selvas selvagens. O bacharel. Não podemos deixar de ser 
doutos. Doutores. País de dores anônimas, de doutores anônimos. O Império 
foi assim. Eruditamos tudo. Esquecemos o gavião de penacho. 
A nunca exportação de poesia. A poesia anda oculta nos cipós maliciosos da 
sabedoria. Nas lianas da saudade universitária. 
[...] 
A volta à especialização. Filósofos fazendo filosofia, críticos, critica, donas de 
casa tratando de cozinha. 
A Poesia para os poetas. Alegria dos que não sabem e descobrem. 
[...] 
A poesia Pau-Brasil. Ágil e cândida. Como uma criança. 
Uma sugestão de Blaise Cendrars : – Tendes as locomotivas cheias, ides partir. 
Um negro gira a manivela do desvio rotativo em que estais. O menor descuido 
vos fará partir na direção oposta ao vosso destino. 
Contra o gabinetismo, a prática culta da vida. Engenheiros em vez de 
jurisconsultos, perdidos como chineses na genealogia das idéias. 
A língua sem arcaísmos, sem erudição. Natural e neológica. A contribuição 
milionária de todos os erros. Como falamos. Comosomos. 
Não há luta na terra de vocações acadêmicas. Há só fardas. Os futuristas e os 
outros. 
Uma única luta – a luta pelo caminho. Dividamos: Poesia de importação. E a 
Poesia Pau-Brasil, de exportação. 
Houve um fenômeno de democratização estética nas cinco partes sábias do 
mundo. Instituíra-se o naturalismo. Copiar. Quadros de carneiros que não 
fosse lã mesmo, não prestava. A interpretação no dicionário oral das Escolas 
de Belas Artes queria dizer reproduzir igualzinho... Veio a pirogravura. As 
meninas de todos os lares ficaram artistas. Apareceu a máquina fotográfica. E 
com todas as prerrogativas do cabelo grande, da caspa e da misteriosa 
genialidade de olho virado – o artista fotógrafo. 
Na música, o piano invadiu as saletas nuas, de folhinha na parede. Todas as 
meninas ficaram pianistas. Surgiu o piano de manivela, o piano de patas. A 
pleyela. E a ironia eslava compôs para a pleyela. Stravinski. 
A estatuária andou atrás. As procissões saíram novinhas das fábricas. 
Só não se inventou uma máquina de fazer versos – já havia o poeta 
parnasiano. 
Ora, a revolução indicou apenas que a arte voltava para as elites. E as elites 
começaram desmanchando. Duas fases: 10) a deformação através do 
impressionismo, a fragmentação, o caos voluntário. De Cézanne e Malarmé, 
 
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Rodin e Debussy até agora. 20) o lirismo, a apresentação no templo, os 
materiais, a inocência construtiva. 
O Brasil profiteur. O Brasil doutor. E a coincidência da primeira construção 
brasileira no movimento de reconstrução geral. Poesia Pau-Brasil. 
Como a época é miraculosa, as leis nasceram do próprio rotamento dinâmico 
dos fatores destrutivos. 
A síntese 
O equilíbrio 
O acabamento de carrosserie 
A invenção 
A surpresa 
Uma nova perspectiva 
Uma nova escala. 
Qualquer esforço natural nesse sentido será bom. Poesia Pau-Brasil 
O trabalho contra o detalhe naturalista – pela síntese; contra a morbidez 
romântica – pelo equilíbrio geômetra e pelo acabamento técnico; contra a cópia, 
pela invenção e pela surpresa. 
Uma nova perspectiva. 
A outra, a de Paolo Ucello criou o naturalismo de apogeu. Era uma ilusão 
ética. Os objetos distantes não diminuíam. Era uma lei de aparência. Ora, o 
momento é de reação à aparência. Reação à cópia. Substituir a perspectiva 
visual e naturalista por uma perspectiva de outra ordem: sentimental, 
intelectual, irônica, ingênua. 
Uma nova escala: 
[...] 
A Poesia Pau-Brasil é uma sala de jantar domingueira, com passarinhos 
cantando na mata resumida das gaiolas, um sujeito magro compondo uma 
valsa para flauta e a Maricota lendo o jornal. No jornal anda todo o presente. 
Nenhuma fórmula para a contemporânea expressão do mundo. Ver com olhos 
livres. 
Temos a base dupla e presente – a floresta e a escola. A raça crédula e dualista 
e a geometria, a algebra e a química logo depois da mamadeira e do chá de 
erva-doce. Um misto de "dorme nenê que o bicho vem pegá" e de equações. 
Uma visão que bata nos cilindros dos moinhos, nas turbinas elétricas; nas 
usinas produtoras, nas questões cambiais, sem perder de vista o Museu 
Nacional. Pau-Brasil. 
Obuses de elevadores, cubos de arranha-céus e a sábia preguiça solar. A reza. 
O Carnaval. A energia íntima. O sabiá. A hospitalidade um pouco sensual, 
amorosa. A saudade dos pajés e os campos de aviação militar. Pau-Brasil. 
O trabalho da geração futurista foi ciclópico. Acertar o relógio império da 
literatura nacional. 
Realizada essa etapa, o problema é outro. Ser regional e puro em sua época. 
O estado de inocência substituindo o estada de graça que pode ser uma atitude 
do espírito. 
O contrapeso da originalidade nativa para inutilizar a adesão acadêmica. 
A reação contra todas as indigestões de sabedoria. O melhor de nossa tradição 
lírica. O melhor de nossa demonstração moderna. 
Apenas brasileiros de nossa época. O necessário de química, de mecânica, de 
economia e de balística. Tudo digerido. Sem meeting cultural. Práticos. 
Experimentais. Poetas. Sem reminiscências livrescas. Sem comparações de 
apoio. Sem pesquisa etimológica. Sem ontologia. 
 
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Bárbaros, crédulos, pitorescos e meigos. Leitores de jornais. Pau-Brasil. A 
floresta e a escola. O Museu Nacional. A cozinha, o minério e a dança. A 
vegetação. Pau-Brasil. 
 
Manifesto Antropofágico (1928) 
Só a Antropofagia nos une. Socialmente. Economicamente. Filosoficamente. 
Única lei do mundo. Expressão mascarada de todos os individualismos, de 
todos os coletivismos. De todas as religiões. De todos os tratados de paz. 
Tupi, or not tupi that is the question. 
Contra todas as catequeses. E contra a mãe dos Gracos. 
Só me interessa o que não é meu. Lei do homem. Lei do antropófago. 
Estamos fatigados de todos os maridos católicos suspeitosos postos em 
drama. Freud acabou com o enigma mulher e com outros sustos da psicologia 
impressa. 
O que atropelava a verdade era a roupa, o impermeável entre o mundo interior 
e o mundo exterior. A reação contra o homem vestido. O cinema americano 
informará. 
[...] 
Contra todos os importadores de consciência enlatada. A existência palpável 
da vida. E a mentalidade pré-lógica para o Sr. Lévy-Bruhl estudar. 
Queremos a Revolução Caraíba. Maior que a Revolução Francesa. A 
unificação de todas as revoltas eficazes na direção do homem. Sem n6s a 
Europa não teria sequer a sua pobre declaração dos direitos do homem. 
A idade de ouro anunciada pela América. A idade de ouro. E todas as girls. 
[...] 
Nunca fomos catequizados. Vivemos através de um direito sonâmbulo. 
Fizemos Cristo nascer na Bahia. Ou em Belém do Pará. 
Mas nunca admitimos o nascimento da lógica entre nós. 
Contra o Padre Vieira. Autor do nosso primeiro empréstimo, para ganhar 
comissão. O rei-analfabeto dissera-lhe: ponha isso no papel mas sem muita 
lábia. Fez-se o empréstimo. Gravou-se o açúcar brasileiro. Vieira deixou o 
dinheiro em Portugal e nos trouxe a lábia. 
[...] 
Contra o mundo reversível e as idéias objetivadas. Cadaverizadas. O stop do 
pensamento que é dinâmico. O indivíduo vitima do sistema. Fonte das 
injustiças clássicas. Das injustiças românticas. E o esquecimento das 
conquistas interiores. 
Roteiros. Roteiros. Roteiros. Roteiros. Roteiros. Roteiros. Roteiros. 
O instinto Caraíba. 
Morte e vida das hipóteses. Da equação eu parte do Cosmos ao axioma 
Cosmos parte do eu. Subsistência. Conhecimento. Antropofagia. 
Contra as elites vegetais. Em comunicação com o solo. 
Nunca fomos catequizados. Fizemos foi Carnaval. O índio vestido de senador 
do Império. Fingindo de Pitt. Ou figurando nas óperas de Alencar cheio de 
bons sentimentos portugueses. 
Já tínhamos o comunismo. Já tínhamos a língua surrealista. A idade de ouro. 
[...] 
A fixação do progresso por meio de catálogos e aparelhos de televisão. Só a 
maquinaria. E os transfusores de sangue. 
Contra as sublimações antagônicas. Trazidas nas caravelas. 
Contra a verdade dos povos missionários, definida pela sagacidade de um 
antropófago, o Visconde de Cairu: – É mentira muitas vezes repetida. 
 
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Mas não foram cruzados que vieram. Foram fugitivos de uma civilização que 
estamos comendo, porque somos fortes e vingativos como o Jabuti. 
Se Deus é a consciênda do Universo Incriado, Guaraci é a mãe dos viventes. 
Jaci é a mãe dos vegetais. 
Não tivemos especulação. Mas tínhamos adivinhação. Tínhamos Política que é 
a ciência da distribuição. E um sistema social-planetário. 
As migrações. A fuga dos estados tediosos. Contra as escleroses urbanas. 
Contra os Conservatórios e o tédio especulativo. 
De William James e Voronoff. A transfiguração do Tabu em totem. 
Antropofagia. 
O pater famílias e a criação da Moral da Cegonha: Ignorância real das coisas+ 
fala de imaginação + sentimento de autoridade ante a prole curiosa. 
É preciso partir de um profundo ateísmo para se chegar à idéia de Deus. Mas a 
caraíba não precisava. Porque tinha Guaraci. 
Oobjetivo criado reage com os Anjos da Queda. Depois Moisés divaga. Que 
temos nós com isso? 
Antes dos portugueses descobrirem o Brasil, o Brasil tinha descoberto a 
felicidade. 
Contra o índio de tocheiro. O índio filho de Maria, afilhado de Catarina de 
Médicis e genro de D. Antônio de Mariz. 
A alegria é a prova dos nove. 
No matriarcado de Pindorama. 
Contra a Memória fonte do costume. A experiência pessoal renovada. 
Somos concretistas. As idéias tomam conta, reagem, queimam gente nas 
praças públicas. Suprimarnos as idéias e as outras paralisias. Pelos roteiros. 
Acreditar nos sinais, acreditar nos instrumentos e nas estrelas. 
Contra Goethe, a mãe dos Gracos, e a Corte de D. João VI. 
A alegria é a prova dos nove. 
[...] 
Contra Anchieta cantando as onze mil virgens do céu, na terra de Iracema, – o 
patriarca João Ramalho fundador de São Paulo. 
A nossa independência ainda não foi proclamada. Frape típica de D. João VI: 
– Meu filho, põe essa coroa na tua cabeça, antes que algum aventureiro o faça! 
Expulsamos a dinastia. É preciso expulsar o espírito bragantino, as ordenações 
e o rapé de Maria da Fonte. 
Contra a realidade social, vestida e opressora, cadastrada por Freud – a 
realidade sem complexos, sem loucura, sem prostituições e sem penitenciárias 
do matriarcado de Pindorama. 
 
4.5.3 Manuel Bandeira 
 
Manuel Bandeira nasceu em Recife, a 19 de abril de 1886. Ainda jovem muda-se para o 
Rio de Janeiro, e em 1903, vai para São Paulo. Em 1917, publica "Cinza das Horas", livro de 
estreia ainda sob influência simbolista. Em 1919, com a publicação de "Carnaval", já vai 
prenunciando seu caminho modernista, um pouco mais claro em "Ritmo Dissoluto", de 1924. 
 
 
QUESTÃO CULTURAL (apenas para pesquisa) 
 
Leia o poema Os sapos, de Manuel Bandeira, no qual o autor ridiculariza os poetas 
parnasianos, contra quem o Modernismo brasileiro se voltou. 
 
http://pt.wikipedia.org/wiki/Manuel_Bandeira
http://www.casadobruxo.com.br/poesia/m/sapos.htm
 
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 14
 
Em 1930, Bandeira publica Libertinagem, de onde retiramos o poema Poética, considerado 
um manifesto da poesia moderna. 
 
Poética 
Estou farto do lirismo comedido 
Do lirismo bem comportado 
Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente 
protocolo e manifestações de apreço ao Sr. diretor. 
Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar no dicionário 
o cunho vernáculo de um vocábulo. 
Abaixo os puristas 
Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais 
Todas as construções sobretudo as sintaxes de exceção 
Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis 
Estou farto do lirismo namorador 
Político 
Raquítico 
Sifilítico 
De todo lirismo que capitula ao que quer que seja 
fora de si mesmo 
De resto não é lirismo 
Será contabilidade tabela de co-senos secretário do amante 
exemplar com cem modelos de cartas e as diferentes 
maneiras de agradar às mulheres, etc 
Quero antes o lirismo dos loucos 
O lirismo dos bêbedos 
O lirismo difícil e pungente dos bêbedos 
O lirismo dos clowns de Shakespeare 
 
- Não quero mais saber do lirismo que não é libertação. 
 
 
 
REFERÊNCIAS 
 
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Cunha. São Paulo: EDUSP, 1995. 
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CANDIDO, Antonio. “Literatura como sistema”. In: _______. Formação da Literatura Brasileira. Belo 
Horizonte: Itatiaia, 1981, p. 23-37. 
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FREYRE, Gilberto. Atualidade de Euclydes da Cunha. Rio de Janeiro: CEB, 1943. 
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Cunha. Campinas: Mercado das Letras; São Paulo: Fapesp, 2001. 
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tragedia del hombre derrotado por el medio. Buenos Aires: Editorial Claridad, 1942. 
 
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Díaz e Euclides da Cunha. Pelotas: Editora e Gráfica da UFPel, 2010. 
LIMA, Luiz Costa. Terra ignota: a construção de Os Sertões. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1997. 
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Gínia Maria (org.). Euclides da Cunha: literatura e história. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2005, 27-51. 
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da Cunha. Da crônica à ficção”. In: CHIAPPINI, Ligia; AGUIAR, Flávio Wolf de (orgs.). Literatura e 
história na América Latina. São Paulo: EDUSP, 1993, 37-47.

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