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1 Disciplina: Organização, estrutura e funcionamento do SUS Autora: Esp. Viviane Possa Patrício Revisão de Conteúdos: Sérgio Antonio Zanvettor Júnior Revisão Ortográfica: Esp. Juliano de Paula Neitzki Ano: 2019 Copyright © - É expressamente proibida a reprodução do conteúdo deste material integral ou de suas páginas em qualquer meio de comunicação sem autorização escrita da equipe da Assessoria de Marketing da Faculdade São Braz (FSB). O não cumprimento destas solicitações poderá acarretar em cobrança de direitos autorais. 2 Viviane Possa Patrício Organização, estrutura e funcionamento do SUS 1ª Edição 2019 Curitiba, PR Editora São Braz 3 Editora São Braz Rua Cláudio Chatagnier, 112 Curitiba – Paraná – 82520-590 Fone: (41) 3123-9000 Coordenador Técnico Editorial Marcelo Alvino da Silva Revisão de Conteúdos Sérgio Antonio Zanvettor Júnior Revisão Ortográfica Juliano de Paula Neitzki Desenvolvimento Iconográfico Juliana Emy Akiyoshi Eleutério FICHA CATALOGRÁFICA PATRÍCIO, Viviane Possa. Organização, estrutura e funcionamento do SUS / Viviane Possa Patrício. – Curitiba: Editora São Braz, 2019. 62 p. ISBN: 978-85-5475-415-0 1. Aspectos de Gestão. 2. Movimentos Sociais. 3. Prestação de Cuidados Material didático da disciplina de Organização, estrutura e funcionamento do SUS – Faculdade São Braz (FSB), 2019. Natália Figueiredo Martins – CRB 9/1870 4 PALAVRA DA INSTITUIÇÃO Caro(a) aluno(a), Seja bem-vindo(a) à Faculdade São Braz! Nossa faculdade está localizada em Curitiba, na Rua Cláudio Chatagnier, nº 112, no Bairro Bacacheri, criada e credenciada pela Portaria nº 299 de 27 de dezembro 2012, oferece cursos de Graduação, Pós-Graduação e Extensão Universitária. A Faculdade assume o compromisso com seus alunos, professores e comunidade de estar sempre sintonizada no objetivo de participar do desenvolvimento do País e de formar não somente bons profissionais, mas também brasileiros conscientes de sua cidadania. Nossos cursos são desenvolvidos por uma equipe multidisciplinar comprometida com a qualidade do conteúdo oferecido, assim como com as ferramentas de aprendizagem: interatividades pedagógicas, avaliações, plantão de dúvidas via telefone, atendimento via internet, emprego de redes sociais e grupos de estudos, o que proporciona excelente integração entre professores e estudantes. Bons estudos e conte sempre conosco! Faculdade São Braz 5 Sumário Prefácio .......................................................................................................................... 07 Aula 1 – Pilares do SUS .................................................................................................. 08 Apresentação da Aula 1 ................................................................................................. 08 1.1 - O Sistema Único de Saúde .............................................................................. 08 1.2 - Princípios do SUS ............................................................................................ 08 1.2.1 - Princípios doutrinários ................................................................................. 09 1.2.2 - Princípios organizativos ............................................................................... 10 1.3 - As três esferas na gestão do SUS ................................................................... 13 1.3.1 - Esfera Federal e Ministério da Saúde ........................................................... 15 1.3.2 - Esfera Estadual e Secretaria Estadual de Saúde .......................................... 16 1.3.3 - Esfera Municipal e Secretaria Municipal de Saúde ....................................... 17 Conclusão da aula 1 ....................................................................................................... 19 Aula 2 – Gestão em saúde .............................................................................................. 20 Apresentação da aula 2 .................................................................................................. 20 2.1 - Promoção e prevenção ................................................................................... 20 2.1.1 - Estudo de caso: iodo .................................................................................... 24 2.2 - Cogestão ......................................................................................................... 26 2.2.1 - Conferências de saúde ................................................................................ 26 2.2.2 - Conselhos de saúde .................................................................................... 28 2.2.3 - Comitês técnicos .......................................................................................... 28 2.3 - Interoperabilidade ............................................................................................ 28 2.3.1 - Interoperabilidade nos sistemas de saúde .................................................... 30 2.3.2 - Interoperabilidade e segurança de dados ..................................................... 31 Conclusão da aula 2 ....................................................................................................... 32 Aula 3 – Gestão no SUS: uma gestão participativa ........................................................ 33 Apresentação da aula 3 .................................................................................................. 33 3.1 - Políticas específicas ........................................................................................ 34 3.2 - ParticipaSUS ................................................................................................... 34 3.2.1 - Monitoramento e avaliação ........................................................................... 37 3.3 - PlanejaSUS ..................................................................................................... 40 3.3.1 - PlanejaSUS: instrumentos de planejamento ................................................ 41 3.4 - HumanizaSUS ................................................................................................. 42 3.4.1 - HumanizaSUS: diretrizes ............................................................................. 44 Conclusão da aula 3 ....................................................................................................... 45 Aula 4 – Redes de atenção ............................................................................................. 46 Apresentação da Aula 4 ................................................................................................. 46 4.1 - As redes de atenção ........................................................................................ 46 6 4.2 - Hierarquia da complexidade ............................................................................ 46 4.2.1 - Atenção primária .......................................................................................... 47 4.2.1 - Atenção intermediária ................................................................................... 49 4.2.3 - Atendimento de alta complexidade .............................................................. 50 4.3 - Urgência e emergência ................................................................................... 50 4.3.1 - Rede de Atenção às Urgências e Emergências (RUE) ................................. 524.3.2 - Política Nacional de Atenção às Urgências – PNAU ..................................... 55 4.3.3 - SAMU ........................................................................................................... 56 Conclusão da aula 4 ....................................................................................................... 57 Conclusão da disciplina .................................................................................................. 58 Índice Remissivo ............................................................................................................ 59 Referências .................................................................................................................... 61 7 Prefácio Esta disciplina objetiva proporcionar a compreensão acerca do funcionamento, da maneira como é organizado e estruturado o Sistema Único de Saúde (SUS). Diferente de sistemas de saúde privados, o SUS tem características próprias de gestão, organização e planejamento devido à sua estrutura descentralizada, na qual as esferas municipal, estadual e federal atuam em conjunto na tomada de decisões. Serão expostos quais os mecanismos que estimulam a participação popular e como se analisam as demandas da população, a estrutura disponível para que sejam articulados os processos necessários para a obtenção de resultados satisfatórios, utilizando uma gestão construída com a participação de todos. Também serão apresentados os diferentes conselhos e as conferências que se realizam para discutir as necessidades da população, além dos profissionais envolvidos nas discussões e planejamento ou reestruturação de políticas de saúde. Além disso, serão expostas políticas específicas, como a Política Nacional de Humanização e as Políticas de Urgência e Emergência, compreendendo quais relações de hierarquia existem entre o atendimento básico até o de alta complexidade e como se pode transitar entre eles. Bons estudos! 8 Aula 1 – Pilares do SUS Apresentação da aula 1 Nesta primeira aula serão abordadas as questões relativas aos pilares que direcionam o Sistema Único de Saúde, como as diretrizes que orientam o gestor no planejamento de suas ações e organização de gestão do SUS. Também serão apresentadas as diferentes esferas envolvidas, quais seus campos de atuação e órgãos representativos. 1.1 O Sistema Único de Saúde O Sistema Único de Saúde (SUS) foi criado em razão da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, que, por meio do artigo 196, garante a saúde como direito de todos e dever do Estado. Desde então, o SUS vem prestando atendimento a qualquer cidadão brasileiro, de maneira universal e igualitária, em todos os níveis de atenção à saúde e em todo o território nacional, gratuitamente. As mudanças no perfil demográfico da população, demandas sociais e avanços na medicina foram promovendo transformações importantes ao longo dos anos. 1.2 Princípios do SUS Para que seja possível compreender de maneira adequada a organização, estrutura e funcionamento do SUS, é importante conhecer as bases de estruturação do SUS, ou seja, os princípios e diretrizes que orientam suas ações e sua organização. Com a Constituição Federal de 1988, foram regulamentados os princípios e diretrizes do SUS no capítulo II, artigo 7º da lei 8.080/1990, que dispõe sobre as condições para promover, proteger e recuperar a saúde do cidadão, além de orientar a organização e o funcionamento dos serviços de saúde. Os princípios e diretrizes do SUS são quatorze ao todo. Destes, seis são os mais importantes e, por isso, mais comumente abordados no âmbito político e acadêmico, assim sendo, serão abordados mais profundamente abaixo. 9 Eles são divididos em princípios doutrinários e princípios organizativos: Princípios Doutrinários: universalidade, integralidade e equidade; Princípios Organizativos: são todos os outros que estão no artigo 7º da lei 8.080/1990. Porém, os mais importantes e que serão abordados com maior profundidade neste material são: Regionalização e Hierarquização; Descentralização e Participação Popular. 1.2.1 Princípios Doutrinários Responsáveis pelo direcionamento das ações e na criação de políticas de saúde em todas as esferas, os princípios doutrinários são três: Universalidade, Integralidade e Equidade: Universalidade: se refere ao direito que todo cidadão brasileiro, independentemente de qualquer característica social ou pessoal, possui de poder receber assistência em saúde e do dever do Estado de provê-la. O SUS é para todos os cidadãos brasileiros e o atendimento à saúde, como direito de todos, não pode discriminar ninguém. Este princípio garante que a individualidade do cidadão será respeitada; Integralidade: diz respeito ao cuidado integral em saúde de um cidadão, atendendo a todas as suas necessidades, desde o seu nascimento até o seu óbito, em todos os níveis de atendimento à saúde. Dessa maneira, é garantido desde o atendimento básico, como a aferição da pressão arterial ou uma marcação de consulta de rotina até o atendimento de alta complexidade, como um transplante de órgão, passando pela distribuição de medicamentos de alto custo ou realização de exames que exigem tecnologias mais avançadas; 10 Equidade: visa diminuir as desigualdades no acesso à saúde. Este princípio garante atendimento em todos os locais dentro do território nacional. Assim, todo cidadão terá acesso igualitário ao serviço de saúde, em todos os níveis de atenção à saúde, ainda que em regiões isoladas, de difícil acesso e longe das grandes cidades. Esse acesso é possível por meio das unidades itinerantes de saúde, como as unidades fluviais de saúde que atuam em localidades de difícil acesso, assim como outras unidades móveis, como ônibus ou vans adaptadas à prestação de serviços essenciais. Barco da Saúde: unidade fluvial de saúde para atender a população ribeirinha Fonte: https://i1.wp.com/www.ac24horas.com/wp-content/uploads/2014/04/Vagner_04 .jpg 1.2.2 Princípios organizativos Os princípios organizativos, ou diretrizes organizativas, são um conjunto responsável pelo funcionamento adequado do sistema de saúde. Os principais são: Regionalização e Hierarquização, Descentralização e Participação Popular. Regionalização e Hierarquização: a regionalização ocorre com o mapeamento das regiões, identificando a área geográfica e o perfil 11 epidemiológico da população que irá ser atendida, tornando possível articular os serviços em hierarquias de complexidade crescente. Vocabula rio Epidemiológico: de epidemiologia, é o estudo da frequência, da distribuição e dos determinantes dos problemas de saúde em populações humanas, bem como a aplicação desses estudos no controle dos eventos relacionados com saúde. É a principal ciência de informação de saúde, sendo a ciência básica para a saúde coletiva. Os serviços obedecem a uma hierarquia, sendo desde o atendimento básico até o mais complexo ofertado para aquela população e articulados entre si, visando à resolução do problema. Cada região é responsável pela organização de hierarquia das redes de saúde de seu território, sendo possível realizar pactos com outras regiões, a fim de prover os serviços necessários, conforme será visto mais adiante nesta aula. Descentralização: no SUS, a descentralização se refere à distribuição de recursos financeiros, poder e responsabilidade política entre as esferas federal, estadual e municipal. Assim o poder não fica concentrado em apenas uma esfera, como a federal, dando liberdade aos estados e municípios de atenderem demandas regionais e investiremem infraestrutura e atividades de maneira autônoma. A fiscalização por parte dos cidadãos também é facilitada com esse arranjo. Conforme a divisão das esferas, cada uma delas tem poder e autonomia sobre si, mas não tem poder sobre as demais, diretamente. Dessa forma, a instância federal apenas pode impor medidas sobre os estados como um todo (ou seja, sobre todo o território nacional e instância cujo poder lhe cabe) e não sobre um estado específico. 12 Em caso de a União criar uma nova regulamentação, esta deverá ser aplicada em todos os estados do país e não poderá ser aplicada apenas ao Paraná, por exemplo. Já nas instâncias estaduais e municipais ocorre o mesmo. Um município tem autonomia de criar um mini-hospital, por exemplo. Caso a esfera estadual ou federal não esteja de acordo com isso, não poderá delimitar a extinção do mini-hospital daquela cidade especificamente. Para que essa extinção ocorra, a esfera estadual terá que regular sobre todo o estado na qual tem autonomia para que a ação possa surtir efeito naquela cidade. Da mesma maneira, a instância federal terá de regular a proibição de mini-hospitais em todo o território nacional a fim de extinguir aquele em uma cidade específica. Participação Popular: o SUS precisa e valoriza a participação popular para conhecer e atender as necessidades das comunidades de diferentes locais, conhecendo suas características demográficas e epidemiológicas. Além de conhecer também as necessidades de diferentes profissionais de saúde e de outras áreas relacionadas, como os gestores. A participação popular é incentivada por meio dos Conselhos e Conferências de Saúde. Além destes, é importante que os outros princípios organizativos sejam conhecidos, pois também eles serão determinantes nas ações de gestão de saúde pública. Os demais princípios organizativos são os seguintes: LEI Nº 8.080, DE 19 DE SETEMBRO DE 1990 Dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras providências. O PRESIDENTE DA REPÚBLICA: Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: Capítulo II Dos Princípios e Diretrizes 13 Art. 7º As ações e serviços público de saúde e privados contradados ou conveniados que integram o Sistema único de Saúde (SUS) são desenvolvidos de acordo com as diretrizes previstas no art. 198 da Constituição Federal, obedecendo ainda aos seguintes princípios: [...] III - Preservação da autonomia das pessoas na defesa de sua integridade física e moral; IV - Igualdade da assistência à saúde, sem preconceitos ou privilégios de qualquer espécie; V - Direito à informação, às pessoas assistidas, sobre sua saúde; VI - Divulgação de informações quanto ao potencial dos serviços de saúde e a sua utilização pelo usuário; VII - Utilização da epidemiologia para o estabelecimento de prioridades, a alocação de recursos e a orientação pragmática; [...] XI - Conjugação de recursos financeiros, tecnológicos, materiais e humanos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios na prestação de serviços de assistência à saúde da população; XII - Capacidade de resolução dos serviços em todos os níveis de assistência; e XIII - Organização dos serviços públicos de modo a evitar duplicidade de meios para fins idênticos; XIV - Organização de atendimento público específico e especializado para mulheres e vítimas de violência doméstica em geral, que garanta, entre outros, atendimento, acompanhamento psicológico e cirurgias plásticas reparadoras, em conformidade com a Lei nº 12.845, de 1º de agosto de 2013. (Redação dada pela Lei nº 13.427, de 2017) Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8080.htm A décima quarta diretriz, adicionada recentemente às treze diretrizes estabelecidas originalmente, trata especificamente da atenção às mulheres e vítimas da violência doméstica. Essa adição se dá em função de demandas sociais, reforçando o caráter democrático e de participação popular conferido ao SUS. Percebe-se que essas diretrizes são um conjunto coeso e específico que indica como o sistema deve ser organizado, mesmo com o surgimento de novas tecnologias e evolução de teorias de gestão. Assim, as diretrizes conversam com as demandas sociais, cabendo ao gestor manter-se atualizado quanto às diretrizes que orientam suas ações em diferentes esferas. 1.3 As três esferas na Gestão do SUS A descentralização do SUS proporciona à administração uma gestão democrática, com participação social e distribuída entre a sociedade civil organizada, representantes de classes profissionais da área da saúde (médicos, 14 enfermeiros, fisioterapeutas, etc.) e de outras profissões correlatas (como assistentes sociais, advogados, administradores, técnicos em logística, etc.) e as diferentes esferas do Estado: federal (ministério), estadual e municipal da saúde. Na questão financeira, a União se responsabiliza por metade dos custeios na saúde pública, a outra metade se divide igualmente entre os estados e municípios, ou seja, a União entra com 50% dos recursos, o Estado com 25% e os outros 25% são de responsabilidade do município. Para refletir Os estados e municípios se responsabilizam pela formação de conselhos de saúde, sua organização também fiscaliza os recursos de saúde. Mas como os gestores do SUS atuam? Como é a alocação dessas esferas? Os estados e os municípios se responsabilizam pela formação de conselhos de saúde, dentro dos quais esses grupos se organizam também para fiscalizar os recursos de saúde. No SUS, os gestores atuam em diferentes órgãos do executivo, de acordo com a esfera na qual estão alocados, da seguinte forma: Federal: é representada pelo Ministério da Saúde; Estadual e o Distrito Federal: Secretaria Estadual de Saúde ou órgão equivalente; Municípios: Secretaria Municipal de Saúde, ou órgão equivalente. Em tese, não há hierarquia entre essas esferas e sim diferentes competências para os gestores de cada uma delas. 15 Três esferas da Gestão no SUS Fonte: elaborado pelo autor (2019). 1.3.1 Esfera Federal e Ministério da Saúde O Ministério da Saúde é o órgão que se encontra no topo da pirâmide de gestão, responsável pela direção do SUS em âmbito nacional. Esse órgão tem como competências a formulação, avaliação e apoio às políticas referentes à alimentação e à nutrição. Participa na formulação e implementação de políticas de saneamento básico, no controle de agressões ao meio ambiente que impactam na saúde da população e também nas condições e ambientes de trabalho que podem ser insalubres e representar riscos à saúde dos trabalhadores. O Ministério da Saúde também é o responsável pela coordenação da vigilância sanitária, epidemiológica, das redes de laboratórios de saúde pública e as redes integradas de assistência e alta complexidade. Basicamente, pode tomar parte nas discussões sobre diferentes aspectos que podem influenciar na saúde da população. Desde a fiscalização do exercício profissional na área da saúde, vigilância de portos, aeroportos e fronteiras, procedimentos (como cirurgias) e substâncias (como medicamentos) até a determinação da execução de ações a nível nacional quando ocorre alguma situação, como uma epidemia, que corre o risco de ser disseminada nacionalmente. Embora tome parte das discussões e elaboração de políticas de saúde, o Ministério da Saúde não realiza as ações. As ações são realizadas pelos estados e municípios, além de parceiros como empresas, fundações ou organizações 16 não governamentais. A União também faz o repasse de recursos financeiro para os estados e municípios por meio de 5 blocos: Atenção Básica; Atenção de Média e Alta Complexidade; Vigilância em saúde; Assistência Farmacêutica; Gestão do SUS. Com relação aos medicamentos, especificamente, a União repassa cerca de 80% do valor de medicamentos ditos excepcionais, que são os medicamentos de alto custo, como os utilizados em doenças raras, ou os de tratamento continuado, como para indivíduos que realizaram transplantes. A União também faz a compra de medicamentos para DST/AIDS e realiza o repasse às secretarias de saúde. Além dos atributos ligados direta ou indiretamente à saúde, a esse órgão compete a coordenação e avaliação técnica relativa à área financeira do SUS, por meio do Sistema Nacional de Auditoria (SNA). O SNA do SUS promove ações de auditoria para adequada alocação e utilização dos recursos, oportunizando acesso à saúde de qualidade, respeitando as diretrizes do SUS. Assim, realiza avaliações contábeis, financeiras e patrimoniais, de maneira técnica e transparente. Na esfera federal, as políticas do SUS são discutidas e estabelecidas por meio da Comissão Intergestores Tripartite (CIT). Essa comissão conta com representantes das secretariais municipais de saúde, secretarias estaduais de saúde e representantes do Ministério da Saúde. 1.3.2 Esfera Estadual e Secretaria Estadual de Saúde As Secretarias Estaduais de Saúde se encontram logo abaixo do Ministério da Saúde e acima das Secretarias Municipais de Saúde, sendo responsáveis pela direção estadual do SUS. As Secretarias Estaduais de Saúde são órgãos que se responsabilizam por promover a descentralização dos 17 serviços e ações de saúde para os municípios, além disso, prestam apoio técnico e financeiro para a organização dos serviços. Nos estados, os gestores aplicam recursos próprios e realizam os repasses da União. Sua função é reguladora, organizando o SUS apenas em seu território, sendo parceiro da esfera federal colocando suas políticas em prática. Dessa forma, desenvolve programas de saúde que atendam as necessidades específicas daquele estado, que diferem de outros estados por conta do perfil epidemiológico, demográfico, localização geográfica, condições climáticas, dentre outros aspectos. Também promove a ampliação de programas já existentes, de acordo com a pertinência e importância de cada um. Na esfera estadual, as ações do SUS são debatidas e estabelecidas por meio da Comissão Intergestores Bipartite (CIB). Essa comissão conta com representantes das secretariais municipais de saúde e secretarias estaduais de saúde. Ví deo O decreto 7508 regulamenta a lei no 8.080 do SUS. Assista ao vídeo referente ao decreto 7508, disponível no link: https://www.youtube.com/watch?v=z8bTDPqmXj0 1.3.3 Esfera Municipal e Secretaria Municipal de Saúde As Secretarias Municipais de Saúde são a base da pirâmide da hierarquia da gestão, sendo elas o órgão responsável pela direção municipal do SUS. As Secretarias Municipais podem ainda se organizar em distritos municipais, a fim de propiciar atendimento mesmo em localidades mais afastadas do centro da cidade. Cabe a esse órgão o planejamento, a organização, o controle e a avaliação referentes aos serviços de saúde. Embora seja parte integrante do SUS, a Secretaria Municipal de Saúde também é responsável pelo controle e fiscalização dos procedimentos de saúde na esfera privada. Além de estar mais próximo às necessidades da população, atuando de acordo com as demandas sociais, planejando, programando e organizando a 18 rede de forma regional e hierarquizada, cabe a participação de execução, controle e avaliação epidemiológica e sanitária, além de outros aspectos comuns a todos os órgãos de saúde. Então, além de elaborar suas próprias políticas de saúde e colocá-las em prática, a esfera municipal é parceira do Estado e da União para a implantação eficiente das políticas oriundas dessas esferas. Assim, o município realiza o repasse financeiro do Estado e da União, além de alocar recursos próprios, sendo assim o principal responsável por garantir a saúde da população. Na esfera municipal, é possível fazer convênios com serviços de saúde privados para ampliar a rede de atuação no município e também formar consórcios com outros municípios, atuando de maneira integrada e colaborativa. Além disso, os municípios podem fazer pactos com outros municípios vizinhos para, por exemplo, ter acesso à compra de medicamentos mais baratos, em maior quantidade, ou ter a possibilidade de realizar o encaminhamento de pacientes aos hospitais de referência ou com maior complexidade, caso não possa oferecer esse atendimento. Todas as esferas atuam alinhadas com as diretrizes e princípios do SUS e entre si, colaborando umas com as outras e reforçando políticas de saúde em todo o território nacional. As esferas municipais fornecem dados como taxas de morbidade e mortalidade às esferas estaduais, contribuindo com os indicadores levados às políticas de saúde estaduais e nacionais, que podem refletir esses dados em políticas mais amplas. Vocabula rio Morbidade: termo usado para designar o conjunto de casos de uma dada doença ou a soma de agravos a saúde que atingem um grupo de indivíduos, em um dado intervalo de tempo e lugar específico. Por exemplo: supondo que uma epidemia de sarampo se inicie em um município, a Secretaria Municipal de Saúde responsável pela região informa à Secretaria Estadual e esta ao Ministério da Saúde. O Ministério da Saúde, de 19 posse dessas informações, verifica que vários municípios, em três estados próximos, estão apresentando índices elevados de sarampo. Como o Ministério da Saúde não pode atuar apenas em três estados e pensando em evitar uma epidemia nacional, cria-se uma política de imunização contra o sarampo em todo território nacional, para evitar a disseminação da doença. No âmbito municipal, as discussões e pactos em saúde são realizados e aprovados pelo Conselho Municipal de Saúde (CMS). Conclusão da aula 1 Nesta primeira aula foram abordadas as diretrizes e princípios do SUS que norteiam as ações dos gestores em suas três esferas: federal, estadual e municipal. Também se abordou a organização de gestão do SUS e quais órgãos representam cada esfera e suas atribuições. Um gestor precisa conhecer os princípios que direcionam a atuação do SUS em todas as esferas para definir suas ações de maneira efetiva, eficaz e adequada, sem interferir na autonomia das outras, além de conhecer e respeitar a hierarquia e os órgãos que representam cada esfera. Atividade de Aprendizagem Elabore uma campanha em saúde. Cite no mínimo três princípios do SUS e explique como sua campanha irá respeitá-los. Por exemplo: uma campanha de vacinação contra o sarampo. Ela respeitará a equidade, pois será oferecida em todos os distritos. Respeitará a autonomia, pois não obrigará quem não deseja a se vacinar, etc. 20 Aula 2 – Gestão em saúde Apresentação da aula 2 Nesta segunda aula serão explorados aspectos da gestão que são pertinentes à saúde, especialmente conceitos aplicados ao SUS, como a gestão participativa e aspectos específicos, por exemplo, a prevenção e promoção de saúde, fundamentais na saúde coletiva. Também serão exploradas as diferentes ferramentas que propiciam a participação popular na gestão, como os conselhos de saúde, comitês técnicos e conferências de saúde. Por fim, serão explorados aspectos da interoperabilidade e sua importância no futuro da gestão integrada de sistemas de saúde. Gestão em saúde Fonte: https://br.depositphotos.com/similar-images/68312065.html?qview=154288814 2.1 Promoção e prevenção Um dos maiores diferenciais do SUS em relação aos serviços privados de saúde é a implantação de políticas e ações educativas que visam à promoção da saúde e à prevenção de doenças. Essas ações são particularmente importantesao conhecimento do gestor, devido as suas características que devem obedecer aos princípios e diretrizes vistos anteriormente, além de serem de grande volume e importância no contexto do SUS. 21 Importante Destarte, é importante compreender a diferença entre prevenção e promoção: A prevenção é quando se deseja prevenir uma doença específica. As campanhas de vacinação são o melhor exemplo, pois são direcionadas a prevenir uma determinada doença, como o sarampo, a rubéola, a paralisia infantil, etc. Já a promoção se dá por meio de processos que visam melhorar a saúde como um todo. As ações que promovem a saúde são aquelas direcionadas a fomentar mudanças ativas que possibilitam a melhora da saúde, qualidade de vida e bem- estar como um todo. Por exemplo, se uma Unidade Básica de Saúde (UBS) estabelece um programa de caminhada coletiva para idosos diariamente, é um programa que visa à promoção da saúde, pois estimula socialização e atividade física. Embora seja possível prever melhora de depressão devido à socialização e a diminuição da pressão arterial devido à atividade física, o programa não tem foco em uma doença específica, mas no estado de bem-estar geral do sujeito. Saúde e doenças de uma população estão intimamente ligados a diversos fatores, assim distúrbios ou doenças podem ter etiologias muito variadas, tendo raízes biológicas, genéticas, ambientais, laborais, sociais, psicológicas, dentre muitas outras. Vocabula rio Etiologia: ramo do conhecimento que se dedica ao estudo e à pesquisa acerca daquilo que pode determinar as causas e origens de um certo fenômeno; estudo, análise e pesquisa sobre as causas das doenças. A visão de saúde como apenas ausência de doença já foi há muito tempo substituída pelo conceito de saúde multifatorial. A saúde é hoje definida pela OMS como: “um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não somente ausência de afecções ou enfermidades”. Assim, como foi visto anteriormente, as competências dos diversos órgãos do SUS dispõem sobre a 22 vigilância em saúde, saneamento, alimentação, meio ambiente e saúde do trabalhador, dentre outros aspectos, justamente por compreender a importância da etiologia multifatorial no surgimento de enfermidades. A integralidade, presente entre as diretrizes do SUS, reforça que um atendimento integral deve priorizar a prevenção, sem prejudicar as ações curativas. Há muitos motivos pelos quais investir em prevenção e promoção é tão importante quanto investir em saúde curativa. Existem nesse aspecto diferentes tipos de ações: ações preventivas, ações de promoção à saúde e ações educativas: Ações preventivas: visam prevenir uma doença específica e são responsáveis por diminuir os custos do sistema de saúde. Os custos de uma campanha preventiva, assim como as de promoção à saúde, são menores do que os custos de hospitalização, exames, medicamentos e custo humano. O custo humano tanto pode ser compreendido como os profissionais que irão realizar o atendimento quanto uma pessoa afetada pela desordem de saúde, o que acarreta sofrimento, pode causar danos permanentes e até levá-la a óbito. Ações de promoção: são especialmente responsáveis pela melhora da qualidade de vida da população, fomentando a saúde de maneira integral, diminuindo a incidência de doenças que poderiam ser evitadas com mudanças de hábitos. Ex.: a campanha de caminhada orientada. Um indivíduo que modifica seus hábitos buscando uma vida mais saudável se beneficia da melhora em diversos aspectos de sua vida. Além de reduzir custos aos serviços de saúde, a manutenção de hábitos saudáveis pode ser o diferencial entre o desenvolvimento ou não de uma doença e sua gravidade ou o tempo que decorre entre o surgimento de um distúrbio até um evento importante, como um infarto, por exemplo. Um indivíduo que aos 30 anos sofre de problemas de pressão alta poderia ter um acidente vascular encefálico (AVE) aos 40 anos, ter sequelas ou mesmo 23 ir a óbito. Ao modificar os hábitos de maneira precoce, esse mesmo indivíduo pode desenvolver pressão alta apenas aos 60 anos e nunca ser acometido por um AVE. Ações educativas: elas possibilitam a disseminação da informação e do conhecimento entre a população sobre como fazer escolhas mais saudáveis. A população, munida de informações sobre como cuidar da própria saúde, faz escolhas mais saudáveis, dissemina informação e transforma o seu entorno positivamente ao diminuir a incidência de problemas evitáveis e promover mudanças de hábitos de vida. Para que essas ações surtam efeito e sejam bem assimiladas pela população, elas devem ser feitas respeitando a diferença da linguagem científica para a linguagem popular, em que o discurso deve ser o mais acessível possível à população à qual se direciona. Durante a sua formação, os profissionais da saúde precisam dominar uma terminologia específica que muitas vezes não é acessível à população leiga, por esse motivo, o discurso deve ser feito sempre tomando o cuidado para ser o mais acessível à população para qual se destina, devendo se atentar à região, nível cultural e educacional do público ao qual será direcionada a informação. No âmbito da saúde pública, quase todos os profissionais têm histórias para contar sobre como eufemismos, analogias e metáforas foram tomados literalmente pelos pacientes ou usuários do sistema de saúde, levando a atitudes ineficientes ou mesmo perigosas. Amplie Seus Estudos SUGESTÃO DE LEITURA Leia o Artigo Cuidados do Corpo em Vila de Classe Popular (Jaqueline Ferreira). O Artigo faz um recorte antropológico na Vila Dique, periferia de Porto Alegre, sobre os cuidados com o corpo que seus moradores relatam, suas visões do processo saúde-doença. Reflita sobre o que você aprendeu de promoção e prevenção em saúde e relacione com os relatos e práticas expostos no artigo. Disponível no link: http://books.scielo.org/id/yw42p/pdf/duarte-9788575412572- 03.pdf 24 2.1.1 Estudo de caso: iodo A adição de iodo ao sal de cozinha é um caso relativamente antigo e de sucesso quando se pensa em ações de saúde coletiva com viés preventivo que foram eficazes e eficientes. Os distúrbios que se originam devido à deficiência de iodo no organismo são ainda um sério problema de saúde pública em vários países. A ausência de iodo provoca problemas no funcionamento da glândula tireoide, que pode levar à redução do crescimento e do desenvolvimento infantil, o que pode ocasionar baixa estatura, atraso no desenvolvimento cerebral, prejuízos motores, de fala e de audição, além de abortos no caso de gestantes. Esses problemas de saúde interferem diretamente em questões escolares e sociais, como pode ser observado pelo aumento na tendência à evasão escolar, redução da capacidade de trabalho e outros aspectos que podem atrapalhar a qualidade de vida de um indivíduo, bem como elevar os custos de saúde e previdência no país. Na natureza, o iodo é encontrado majoritariamente em frutos do mar, algo que não é facilmente acessível no território brasileiro, seja pelo custo, seja pelo distanciamento da costa marítima em muitas localidades. A prevenção dos distúrbios causados pelo déficit desse micronutriente é simples: ocorre por meio da adição de iodo ao sal de cozinha, que é consumido com frequência pela população e apresenta baixo custo, tornando-se uma alternativa de custo acessível. Desde 1953, quando foi promulgada a lei 1.944, a iodação do sal para consumo humano é obrigatória. Essa lei foi sendo fortalecida por decretos que delimitavam e posteriormente ampliaram a área onde o sal iodado deveria ser consumido, a regulação da quantidade de iodo, dentre outras, fortalecendo essa ação preventiva. Para que haja sucesso na implementação de uma medida preventiva como essa, é importante que hajauma comunicação adequada com a população, como informar que não há necessidade de consumir mais sal (o que, por sua vez, poderia acarretar outros problemas de saúde, como a hipertensão arterial). O sal não deve ser armazenado por mais de 2 anos nem ser armazenado em local úmido, dentre outros cuidados. 25 Além disso, deve-se fazer campanhas educativas junto à população rural, orientando-a a não consumir o sal destinado aos animais, que não possui iodo em quantidade adequada. Assim, com uma medida simples e de baixo custo, se aumenta a qualidade de vida da população, se reduz a incidência de doenças e distúrbios ligados ao déficit de iodo e também são reduzidos os custos com saúde curativa e previdência. Bócio (aumento da glândula tireoide) Fonte: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/5/53/Goiter.JPG Saiba Mais Em 1978, a vila de Heilongjian, na China, era conhecida como “vila dos idiotas”. Mas teve o seu desenvolvimento socioeconômico grandemente afetado após o programa de adição de iodo ao sal. A prevalência de bócio despencou de 80% para 4,5%, o que reduziu a taxa de reprovação escolar de mais de 50% para apenas 2% e até mesmo a renda per capita subiu de 43 para 550 yuaǹ. Cadernos de atenção básica: Carências de Micronutrientes. Ministério da Saúde, Unicef. Disponível no link: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/cadernos_atenca o_basica_carencias_micronutrientes.pdf 26 2.2 Cogestão A abordagem tradicional da gestão, como aparece na Teoria Geral da Administração, que ocorre de forma verticalizada, mostrou-se problemática na organização dos serviços de saúde, devido à autonomia e profissionalização de todos os envolvidos no fazer da saúde. Assim, o SUS adotou políticas de gestão participativa, com características mais horizontalizadas, nas quais a participação de todos é valorizada. Cogestão é uma maneira de fazer administração coletivamente, de forma que todos os trabalhadores possam ter voz ativa na tomada de decisão e não apenas se subordinar às decisões unilaterais do gestor responsável. A cogestão pode ser melhor visualizada como uma reunião administrativa que tem a forma de uma roda de conversa, e não uma pessoa tomando sozinha as decisões que todos os outros terão de acatar sem possibilidade de diálogo. No SUS, cada profissional pode trazer as próprias demandas de sua área à luz do debate para buscar soluções que não beneficiem apenas um ou outro grupo especificamente. Neste formato, os usuários do sistema também são incentivados a participar dos debates e decisões. No SUS, essa participação popular se dá em todas as esferas por meio das Conferências de Saúde, Conselhos de Saúde e Comitês técnicos. Assim, usuários do sistema, gestores, diferentes profissionais de saúde e de outras áreas relacionadas ao cuidado (arquitetos, assistentes sociais, advogados, etc), usuários do SUS e representantes das esferas municipal, estadual e federal, participam do debate, analisando a situação coletivamente e discutindo ações possíveis para a resolução dos problemas que se apresentam. Para isso, foram criados diferentes mecanismos para deliberação, criação de pactos, formulação de políticas em diferentes esferas na busca da melhora dos serviços. 2.2.1 Conferências de saúde As Conferências de Saúde objetivam avaliar a situação da saúde a fim de orientar os governos na elaboração de planos e definição de ações, além disso, elas propõem políticas nos três níveis: municipal, federal e nacional. As Conferências Nacionais de Saúde, regulamentadas pela lei nº 8.142, de 28 de 27 dezembro de 1990, são realizadas a cada quatro anos, devendo contar com representantes de vários segmentos, como sociedade civil organizada, parlamentares, profissionais da saúde e prestadores de serviços. As Conferências Nacionais de Saúde trazem à tona demandas discutidas nas Conferências Estaduais de Saúde que, por sua vez, discutiram tópicos trazidos pelas Conferências Municipais de Saúde. A primeira Conferência Nacional de Saúde foi realizada em 1941. Entre 1941 e 1963, já se debatiam tópicos a respeito da descentralização, municipalização e organização sanitária. No começo dos anos 80, criou-se o Conselho Consultivo de Administração da Saúde Previdenciária (CONASP) para atuar na busca de soluções para redução de cursos e melhora da assistência médica. Em 1985, foram criados o CONASS e o CONASEMS e em 1986 foi realizada a conferência que mais teve influência na criação do SUS. O CONASS e o CONASSEM também são importantes conselhos deliberativos que participam das comissões intergestores: CONASS: Conselho Nacional de Secretários de Saúde. Fazem parte de sua composição os secretários de saúde dos estados que realizam debates, discussões e intercâmbio de experiências, formulando e propondo políticas e diretrizes constitucionais. Eles representam os gestores estaduais nas Comissões Intergestores Tripartite; CONASEMS: Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde. Sendo a esfera municipal a mais importante e principal responsável no atendimento à população e no desenvolvimento de ações, este órgão se compõe de secretários municipais de saúde. Seu principal objetivo é de realizar a formulação de políticas, propor novas ações, discutindo acerca de suas experiências além de apoiar os municípios e poder representá-los nas Comissões Intergestores Tripartite (CIT). 28 2.2.2 Conselhos de saúde Os Conselhos de Saúde possuem caráter permanente e deliberativo. Eles ocorrem nas três esferas, de forma que são divididos em: Conselho Municipal de Saúde; Conselho Estadual de Saúde; Conselho Nacional de Saúde. Fazem parte desses conselhos diferentes categorias, como representantes dos usuários do SUS, profissionais de saúde, gestores, representantes do governo e prestadores de serviços. Dentro desse conselho são formuladas estratégias de aplicação das políticas de saúde e são também fiscalizadas as formas como os recursos de saúde são alocados. 2.2.3 Comitês técnicos Os comitês técnicos são espaços de participação social, compostos por todas as esferas além de representantes de movimentos sociais ou entidades representativas e representantes de conselhos de saúde. Há também os Comitês Técnicos de Equidade em Saúde, que consistem de grupos consultivos e que monitoram, avaliam e assessoram discussões e políticas que dizem respeito à promoção da equidade. 2.3 Interoperabilidade Com os avanços tecnológicos na área computacional e a conexão em rede interligando diversos dispositivos na década de 1990, tornou-se possível o armazenamento e a transferência de dados de forma rápida e eficiente ao redor do globo. 29 Fonte: https://br.depositphotos.com/similar-images/44889037-st60.html?qview=15763 9858 A interoperabilidade surge como uma característica resultante desse processo, da capacidade de diferentes organizações e sistemas de trabalhar em conjunto a fim de tornar possível que sistemas interajam para promover a troca de informações. Por meio dessa estrutura, pode-se trabalhar em conjunto, compartilhando dados, em que as informações podem ser gerenciadas e são propiciadas conexões entre diversas estruturas, como governos, entidades privadas e pessoas. Para que isso seja possível, é importante que se utilizem padrões que possam ser acessíveis, assim dados salvos em determinado sistema podem ser convertidos e acessados em outro sistema diferente. A interoperabilidade existe em diversos campos, da comunicação à tecnologia da informação, de governos à sociedade civil. Essa integração facilitada e transparente permite que dados sejam armazenados e não precisem ser coletados novamente, assim esses dados podem ser disponibilizados a qualquer tempo, em qualquer lugar e até mesmopermitindo o trabalho simultâneo de diferentes profissionais. Essa característica torna a interoperabilidade uma prática muito interessante no âmbito da gestão em saúde e é especialmente desejável nas próximas décadas. 30 2.3.1 Interoperabilidade nos sistemas de saúde As tecnologias em saúde têm evoluído rapidamente e, além delas, as tecnologias em outros campos podem ser agregadas com objetivos de torná-las mais acessíveis, com menor custo em longo prazo e maior eficiência para o usuário do sistema de saúde. Já existem à disposição tecnologias que começam a tornar essa integração possível, como o Prontuário Eletrônico do Cidadão (PEC). O PEC é um software desenvolvido pelo Departamento de Informática do SUS, o DataSUS, que foi implementado nas Unidades Básicas de Saúde e tornado obrigatório em 2017. Mesmo assim, a implementação do PEC apresenta muitos desafios, como a dificuldade de informatizar o serviço de saúde e a resistência de alguns gestores a mudanças e aos custos de implantação. Com um prontuário eletrônico integrado, o profissional de saúde pode ter acesso a todo histórico médico de saúde de um usuário do SUS, como exames já realizados, medicamentos que faz uso, alergias, históricos de cirurgias dentre outras informações relevantes para elaboração de um diagnóstico preciso que, muitas vezes, acabam se perdendo quando realizados de forma tradicional, em papel ou mesmo pelo esquecimento do usuário devido ao volume de informações. Um usuário do sistema de saúde que more em determinada cidade, ao sofrer um acidente em uma viagem, em uma outra região do país, pode ter seu atendimento agilizado com a disponibilidade de informações que constam no PEC. Essa agilidade pode ser determinante entre um desfecho favorável e o óbito. Além disso, esse sistema promove a redução dos custos ao sistema de saúde e sofrimento do paciente ao evitar a realização de exames repetidos desnecessariamente, oferecendo controle adequado do uso de medicamentos, reduzindo a polifarmácia e, consequentemente, as interações medicamentosas que podem trazer efeitos colaterais. Vocabula rio Polifarmácia: também chamado Polimedicação, é um termo que designa o uso de múltiplos medicamentos concomitantemente e em tratamento prolongado (mais de 3 31 meses), principalmente por pessoas idosas. Considera-se que um paciente está polimedicado quando o número de medicamentos que toma diariamente é superior a cinco, tendo os estudos sido efetuados sobretudo em pessoas de terceira idade, vivendo em lares para idosos. Alguns autores incluem na polimedicação os casos em que a medicação, apesar de inferior a 5, inclui medicamentos desnecessários para o indivíduo. Porém, para que a interoperabilidade ocorra, é necessário mais do que isso. É preciso que ocorra a integração desse sistema público com o privado: hospitais, clínicas e laboratórios devem ter sistemas que sejam compatíveis entre si, mesmo que diferentes. É como se os programas utilizados nesses dispositivos de informática, ainda que não partilhem das mesmas plataformas, compartilhem dados para que não seja necessário fazer cópias de dados de maneira manual ou se utilizar de mais de uma plataforma para que seja possível realizar a consulta de dados. De maneira grosseira, seria como uma “rede social” de saúde onde todos os dados do paciente (medicação, internações, alergias e etc) estão em apenas uma rede social. Essa rede única funciona em diferentes dispositivos, como computadores, notebooks, tablets e celulares, para que não seja necessário acessar outra “rede social” (plataforma) para coletar dados específicos, como uma rede de laboratórios para acessar um exame de sangue e uma rede hospitalar para acessar cirurgias prévias. Além disso, com acesso a esses dados, torna-se possível melhor compreender as necessidades e demandas da população, elaborando planos de ação mais precisos e eficientes. Assim, para que esses avanços da tecnologia se tornem auxiliares nos processos de saúde, melhorando a qualidade do atendimento e reduzindo custos e tempo, é necessário possibilitar a interoperabilidade entre todos os sistemas envolvidos. 2.3.2 Interoperabilidade e segurança de dados A principal crítica quanto à utilização de sistemas eletrônicos para armazenar ou transferir dados de pacientes é a segurança de dados, muitas vezes essa critica é feita devido ao desconhecimento da tecnologia blockchain, 32 que garante segurança de dados de criptomoedas até outros tipos de dados empresariais e de saúde. Com o surgimento das criptomoedas, a partir da criação da primeira criptomoeda bem-sucedida, o Bitcoin, desenvolveu-se uma tecnologia inovadora chamada blockchain. Pesquise O que é blockchain? Como funciona? Como utilizá-lo na prática? Por que é tão difícil atacar o blockchain? Essas questões podem ser respondidas acessando o link disponível: https://cointimes.com.br/o-que-e-blockchain-como-funciona/ A blockchain é uma estrutura de blocos de código únicos que são identificados por uma timestamp (uma marcação do momento em que aquele bloco foi gerado) que acompanha o código em qualquer transferência de dados que seja realizada. Com isso, foi eliminada a possibilidade de se gastar duas vezes uma mesma unidade de criptomoeda, pois elas eram identificadas de modo unitário, perpétuo e absoluto. Uma vez que isso foi aplicado com sucesso às criptomoedas, se percebeu que poderia ser aplicado a qualquer informação que precise de validação e segurança, assim surgiram os primeiros usos de blockchain na saúde, para validar os dados de pacientes de maneira segura, registrar qualquer alteração realizada por profissionais da saúde, em qualquer momento, de modo inconfundível e garantir que os dados não pudessem ser manipulados por pessoas não autorizadas ou falsificados. Hoje, poucos anos após o surgimento da tecnologia, existem diversas aplicações, já em uso ou ainda em desenvolvimento, em países como Canadá, Estados Unidos, Japão e Alemanha, para controlar exames, prontuários, contratos e informações financeiras e administrativas das instituições de saúde. Conclusão da aula 2 Nesta segunda aula foram abordadas as políticas de promoção e prevenção em saúde. A cogestão foi explicada juntamente com a exposição dos 33 diversos mecanismos utilizados pelo SUS para o debate do gestor em todas as esferas. Por fim, a interoperabilidade foi abordada, trazendo suas novas perspectivas de melhora no sistema de saúde. É importante conhecer ações de promoção e prevenção, grandes diferenciais do SUS e importantes na construção de uma sociedade mais saudável, com menor índice de doenças e com mais qualidade de vida. Também é preciso conhecer os espaços de atuação do gestor e os canais dos quais pode participar do fazer em saúde e trazer seus conhecimentos para o debate e melhoria dos serviços. Além disso, é importante conhecer as novas tecnologias e as melhores maneiras de integrá-las aos serviços de saúde, para beneficiar os usuários e implementar melhorias para todos. Atividade de Aprendizagem Faça um pequeno texto, como se tivesse sido convidado a participar de um espaço de discussão coletiva enquanto gestor no Sistema Único de Saúde. Sua pauta é defender a implementação de um sistema eletrônico integrado. Destaque a importância da interoperabilidade. Aula 3 – Gestão no SUS: uma gestão participativa Apresentação da aula 3 Nesta terceira aula serão abordadas três políticas específicas: o ParticipaSUS, o PlanejaSUS e o HumanizaSUS. Elas organizam os mecanismos de participação social, importante aspecto na gestão do SUS; estimulam e organizam o planejamento adequado em cada uma das esferas e promovem a valorização do gestor e da humanização de usuários e profissionais, respectivamente. Neste ínterimserá compreendido como é realizada a organização de recursos, como o levantamento de informações e o uso dessas informações para a análise da estrutura, objetivando a melhora dos resultados oferecidos ao usuário final. 34 Fonte: https://br.depositphotos.com/similar-images/49366257.html?qview=97919904 3.1 Políticas específicas No âmbito do SUS, existem políticas específicas que foram criadas a fim de atender certas demandas e necessidades, como a criação de mecanismos que possibilitem uma gestão participativa, observando o monitoramento e a avaliação de informações que possibilitem a orientação dessas ações. A participação popular, valorização de profissionais, gestores e usuários, além do estímulo ao planejamento, é o que essas políticas buscam. Assim, serão abordadas as seguintes: ParticipaSUS; PlanejaSUS; HumanizaSUS. 3.2 ParticipaSUS Na segunda aula desta disciplina foram abordadas a cogestão e a gestão participativa, nas quais todos os colaboradores do SUS têm voz, além dos usuários do próprio sistema de saúde. Esses conceitos são importantes para o modelo de gestão do SUS, mas sem um direcionamento, por meio de ferramentas, instruções e normatizações, seriam apenas expressões de efeito. 35 Por tal razão, nesta aula, serão abordadas políticas importantes que trazem a prática da gestão mais próxima dos indivíduos que atuam em diferentes esferas dentro do SUS, tornando efetivamente possível a existência da cogestão e da gestão participativa. Um desses programas é o ParticipaSUS, cujo nome oficial é “Política Nacional de Gestão Estratégica e Participativa no SUS”, que foi aprovada pela portaria nº 3.027, de 6 novembro de 2007. Essa política nacional tem por bases reafirmar o direito universal à saúde e reforçar os princípios e diretrizes do SUS, como a universalidade, equidade, integralidade e participação popular. Também visa valorizar mecanismos institucionais que fomentem e estimulem a participação da sociedade em geral na gestão do SUS. Entre esses mecanismos institucionais destacam-se as Conferências de Saúde e os Conselhos de Saúde. Populações específicas são estimuladas a participar dos debates, a fim de promover a equidade do direito à saúde, um dos princípios do SUS, como visto anteriormente. Os espaços de discussão para essa finalidade também buscam ser ampliados, para estimular a participação de gestores de órgãos governamentais e não governamentais das três esferas. A ampliação do espaço de participação popular também faz com que os usuários do sistema possam fiscalizar, monitorar e avaliar as atividades realizadas dentro do sistema de saúde, desde a aplicação de políticas específicas até o monitoramente de repasses de verbas, permitindo uma atuação transparente e a melhora da elaboração de políticas públicas voltadas aos usuários. Para que esse diálogo aconteça, além da Gestão Participativa, faz-se uso da Gestão Estratégica com a ampliação de espaços de diálogo e busca por valorizar e respeitar as diferenças individuais, tanto dos usuários do sistema quanto dos colaboradores. Assim, os usuários desse sistema, como também os profissionais que atuam nele, podem fazer com que suas vontades, desejos e necessidades sejam compreendidos e melhor avaliados, promovendo também o acolhimento desses indivíduos. A aplicação da Gestão Estratégica, nesta acepção, evita que situações que poderiam ser resolvidas no local, pela equipe de gestão de um hospital, por exemplo, tenham de ser levadas ao judiciário ou instâncias superiores do próprio 36 SUS, o que gera custo, tanto de recursos financeiros quanto de tempo e pessoal. Assim, a Gestão Participativa e a Gestão Estratégica compõem as ferramentas, ou abordagens utilizadas para promover a melhora da gestão do SUS, buscando a criação de consensos e o reconhecimento das diferenças para que possam ser apresentadas alternativas adequadas a cada necessidade. Para que isso seja possível, são adotadas as seguintes práticas: Mecanismos institucionalizados voltados à participação da sociedade civil organizada; Processos participativos de gestão; Instâncias de pactuação entre gestores; Mecanismos de Mobilização Social; Processos de educação popular em saúde; Reconstrução do significado da educação em saúde; Intersetorialidade. Mecanismos institucionalizados voltados à participação da sociedade civil organizada: esses mecanismos são representados pelos diversos profissionais da área da saúde, membros da sociedade civil organizada, Conselhos e Conferências de saúde, em todas as três esferas no governo. Além destes, outros mecanismos vêm surgindo e sendo propostos ao longo do tempo, como as Plenárias Regionais. Processos participativos de gestão: aqui são estruturadas mesas de negociação a fim de promover, em todas as esferas, uma gestão participativa nas relações de trabalho, atuando em setores de educação continuada em saúde, grupos de trabalho, comitês técnicos, dentre outros. Instâncias de pactuação entre gestores: são as Comissões Intergestores Bipartites (CIB), que contam com participantes das esferas estadual e municipal, e as Comissões Intergestores Tripartites (CIT), cujos representantes provêm das três esferas do governo, federal, estadual e municipal. Mecanismos de Mobilização Social: são os movimentos populares reivindicando e utilizando os espaços de discussão popular junto de gestores e profissionais da saúde. Pode-se argumentar que esses movimentos populares 37 fazem parte da sociedade civil organizada e por isso estariam incluídos no primeiro item, mas, neste caso, trata-se de uma discussão menos institucionalizada. Processos de educação popular em saúde: promovem o diálogo e disseminam informações com a participação dos usuários do sistema de saúde, além de outras entidades e grupos da sociedade. Reconstrução do significado da educação em saúde: neste caso, a discussão ocorre em escolas, universidades e nos próprios espaços de saúde, para fortalecer a produção de saúde e estimular um posicionamento a favor e em defesa do SUS. Intersetorialidade: ações articuladas entre governo e sociedade civil, compartilhando decisões entre os setores. Dessa forma, o ParticipaSUS não apenas estimula e fomenta a participação de todos os setores, mas também cria mecanismos pelos quais essa participação se torna possível a todos. 3.2.1 Monitoramento e avaliação Desde a criação do SUS, há uma preocupação constante, por parte da administração pública, relativa ao monitoramento e à avaliação dos diferentes processos que fazem parte de sua gestão. Devido ao conceito ampliado de saúde e das diretrizes utilizadas pelo SUS como norteadoras, é importante que, além de indicadores de ações e serviços tradicionais, também exista espaço para avaliar indicadores e fatores sociais, culturais, de participação social, ações intersetoriais e indicadores de desigualdade e inequidade. Para que os processos e resultados sejam avaliados, é necessário que ainda que estejam presentes indicadores de estrutura em relação à alocação de recursos financeiros e humanos, criando-se um sistema de observação, avaliação e medição contínua das atividades. Quanto à prestação de contas, por sua vez, ocorre o envolvimento de órgãos como a Secretaria Federal de Controle, da Controladoria Geral da União (SFC/CGU). Assim, há um processo sistemático de acompanhamento contínuo dos indicadores, a fim de estruturar a tomada de decisão, adaptando e corrigindo as demandas. 38 Essa necessidade levou à criação do Departamento de Monitoração e Avaliação da Gestão do SUS, sendo este integrado à Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa. Esse departamento publica o Painel de Indicadores do SUS, juntamente da OPAS (Organização Pan-Americana de Saúde) e do Ministérioda Saúde. Essa publicação tem por objetivo a disseminação de informações e o auxílio na tomada de decisões baseadas no monitoramento e avaliação dos serviços de saúde nas três esferas, além da implementação de ações fundamentadas nos princípios do SUS. Saiba Mais O Painel de Indicadores do SUS é distribuído gratuitamente e para ter acesso a ele basta escrever para: Departamento de Monitoramento e Avaliação da Gestão do SUS; Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa; Ministério da Saúde; Esplanada dos Ministérios, Bloco G, Edifício-sede, 4o Andar, Sala 403, 70058-900 Brasília-DF; Ou para o endereço eletrônico: segep.dema@saude.gov.br fonte: http://www.redeblh.fiocruz.br/media/indicadsus1.pdf Assim, a informação se torna acessível a gestores e usuários, reforçando o caráter de acesso à informação e aos indicadores de saúde, auxiliando nas tomadas de decisão e contribuindo para o diálogo entre diferentes esferas e setores, governamentais ou da sociedade civil. Estes painéis aliam a acessibilidade da informação com o rigor técnico e apresentam dados obtidos por diferentes entidades, tais como: IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística; SIM/MS, o Sistema de Informações sobre Mortalidade, do Ministério da Saúde; mailto:segep.dema@saude.gov.br http://www.redeblh.fiocruz.br/media/indicadsus1.pdf 39 SIOPS, o Sistema de Informações sobre Orçamentos Públicos em Saúde; SNES, Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde; IPEA, Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada; DASIS – Departamento de Análise de Situação em Saúde; SVS/MS, Secretaria de Vigilância em Saúde, do Ministério da Saúde; DataSUS, o Departamento de Informação e Informática do SUS; Dentre outros. Como se pode observar, por meio da lista acima, o SUS conta com diversas ferramentas para obter dados pertinentes ao perfil epidemiológico e demográfico brasileiro, além de outras ferramentas que podem variar de acordo com a época e a região onde ocorre a coleta de informações. Os dados obtidos pela coleta dessas instituições são cruzados entre si para gerar dados estatísticos que possam nortear ações e verificar a eficiência dos programas que já estão em funcionamento. Por exemplo, idade e causa da morte podem indicar que jovens morrem mais em acidentes de transito ou que a mortalidade infantil tem diminuído. Para o gestor, essa informação pode ser instrumental para definir qual setor demanda mais atenção e recursos em certo momento. Outros dados podem agregar mais valor às informações e proporcionar dados mais precisos, como a verificação de que a diminuição da mortalidade infantil se deve ao maior número de realização de consultas pré-natais pela gestante e mais acesso ao saneamento básico em determinada região. O que esse exemplo diz ao gestor? Depende do contexto, mas a título de exemplo pode dizer que é preciso estimular a atenção ao pré-natal e que as instâncias superiores da administração precisam ser estimuladas a desenvolver campanhas em favor dessa atividade e cobrar o atendimento ao saneamento básico. Além disso, esses dados podem nortear programas de educação, promoção e prevenção que venham a diminuir a incidência de doenças crônicas não transmissíveis, doenças infectocontagiosas e causas de morte traumáticas, como acidentes de transito ou ocorridos em ambientes de trabalho perigosos. 40 Também é preciso considerar que houve a criação de uma ouvidoria para estabelecer um canal de comunicação direta dos usuários com o sistema, assim podem ser realizadas reclamações, elogios ou sugestões e também denúncias e obter informações sobre os serviços. A ouvidoria realiza o acolhimento do usuário, orientando, acompanhando ou encaminhando-o conforme sua necessidade, para resolver suas demandas da melhor maneira e com maior brevidade possível. A Ouvidoria Geral do SUS, o Disque Saúde, é uma central de atendimento telefônico direta e gratuita, que atende pelo numero 136 e tem parceria em todas as esferas e com diferentes órgãos do Ministério da Saúde, como o Instituto Nacional do Câncer (INCA) e Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), dentre outros. Há também a auditoria do SUS, que objetiva avaliar a gestão na sua aplicação de recursos, seus processos e as atividades que desempenha. Essa auditoria é feita por órgãos como o Sistema Nacional de Auditoria (SNA), que realiza o controle interno das questões técnicas e patrimoniais, além de avaliação financeira e contábil. Para refletir Qual a finalidade do Sistema de Planejamento do Sistema Único de Saúde, regulamentado pela portaria no 3.085 de 1 de dezembro de 2006? As diferenças entre as esferas municipal, estadual e federal devem ser consideradas? 3.3 PlanejaSUS O Sistema de Planejamento do Sistema Único de Saúde, o PlanejaSUS, foi regulamentado pela portaria nº 3.085, de 1º de dezembro de 2006, como uma forma de estimular que as esferas municipal, estadual e federal realizem seu planejamento de maneira que seja adequado às suas responsabilidades e alinhado aos princípios e diretrizes do SUS, melhorando a resolução de 41 demandas e propiciando uma maior qualidade na atenção à saúde e nos mecanismos de gestão. Para que esse planejamento seja organizado, não se estimula que seja baseado na hierarquização, mas sim no adequado funcionamento de todas essas esferas, atuando de maneira harmônica e integrada. Assim, são realizadas articulações e trocas entre os representantes de diferentes esferas, para que seu funcionamento ocorra adequadamente, promovendo as trocas de informações e de experiências. Essa atuação deve ocorrer realizando o monitoramento e a avaliação de forma contínua e principalmente funcionando de uma maneira que torne possível estimular a participação social, a integração de diferentes setores e dentro dos próprios setores atuantes, estimulando o planejamento. As diferenças entre as esferas municipal, estadual e federal devem ser consideradas para que os modelos se adaptem às necessidades de cada uma, respeitando as diretrizes do SUS. Por meio do PlanejaSUS, a gestão tem a orientação quanto aos blocos específicos de financiamento: atenção primária, secundária e terciária, assistência farmacêutica, vigilância em saúde e gestão do SUS. Quanto à regionalização, esse programa definirá os instrumentos de planejamento do Plano Diretor de Regionalização, do Plano Diretor de Investimento e do Programa Pactuada e Integrada. Esse planejamento deve ser realizado respeitando, além da esfera na qual o gestor atua, a agenda daquele determinado momento e as demandas internas ou externas que são apresentadas. A proposta de ação deve respeitar a alocação de recursos e os planos definidos para cumprir objetivos de médio e longo prazo, atentando às necessidades de saúde e aos eventuais contingenciamentos financeiros que promovem a reestruturação de alguns desses planejamentos. 3.3.1 PlanejaSUS: Instrumentos de planejamento Existe, no PlanejaSUS, uma diversidade de instrumentos utilizados para direcionamento e aperfeiçoamento de ações e serviços de saúde, tanto no âmbito da prevenção e da promoção, como na recuperação da saúde e 42 reabilitação. Existem instrumentos que são comuns às três esferas, sendo considerados elementos básicos: O Plano de Saúde (OS); Programação Anual de Saúde (PAS); Relatório Anual de Gestão (RAG). O Plano de Saúde é o instrumento mais básico no qual o gestor irá apresentar suas intenções e os resultados que espera alcançar nos próximos quatro anos. Deve ser escrito de forma que constem objetivos, metas e diretrizes. Quando sua vigência chega ao fim, deverão ser avaliados os resultados que foram de fato alcançados com ele. O Plano de Saúde elaborado pelo gestor deve ainda ser pertinente ao Plano Plurianualda esfera no qual está alocado. A Programação Anual de Saúde é um instrumento que funciona em conjunto com o Plano de Saúde, operacionalizando as intenções determinadas nele. Aqui, são determinadas quais ações serão pertinentes a cada área. Por fim, o Relatório Anual de Gestão vai registrar o resultado alcançado com o plano, contendo ainda orientações de mudanças que possam ser necessárias para alcançar os objetivos planejados. É importante ressaltar que os objetivos devem ser exequíveis e viáveis de serem alcançados do ponto de vista técnico e financeiro, além de serem adequados à esfera na qual se encontram e respeitarem as diretrizes do SUS. Devem apresentar linguagem clara e serem precisos para facilitar a compreensão de outros gestores e técnicos. Além disso, devem ser encaminhados para a apreciação e aprovação do Conselho de Saúde da esfera em questão. 3.4 HumanizaSUS A Política Nacional de Humanização (PNH), também conhecida como HumanizaSUS, tem o intuito de fomentar trocas solidárias, criação de vínculos e transformação da realidade por meio da responsabilidade compartilhada. O HumanizaSUS tem um foco especial em três categorias de indivíduos: 43 Usuários; Gestores; Colaboradores/Profissionais. A intenção é de valorizar esses sujeitos, estimular que possam pensar e agir com autonomia, cuidar de si e do outro e desenvolver relações com afeto e corresponsabilidade. Essa política tem um caráter mais próximo da população e daqueles que estão mais envolvidos no fazer saúde em seu dia a dia, porém a articulação entre esses grupos também é compartilhada com grupos regionais de secretarias estaduais e municipais, além da Secretaria de Atenção à Saúde, do Ministério da Saúde em Brasília. Essa política tem um caráter ascendente, partindo da menor esfera (a relação entre um usuário do sistema e um profissional) chegando até a maior (ministério da Saúde), levando demandas e formas inovadoras de encontrar soluções para o serviço de saúde em todo o país. A valorização de usuários, gestores e profissionais se dá por meio de rodas de conversa, possibilitando que profissionais sejam incluídos na gestão, assim como os usuários, estimulando o cuidado de si e do outro, compartilhando responsabilidades e colaborando para incentivar e dar voz às novas ideias para solução de diferentes demandas. A inovação tem um papel muito importante no HumanizaSUS, reconhecendo a diversidade que se apresenta em um país de dimensões continentais e culturas muito diferentes entre si, com indivíduos de características muito distintas cujas necessidades podem não ser as mesmas do grupo no qual estão inseridos. Um usuário que sofre de uma doença rara, por exemplo, pode, por meio desse diálogo, apresentar suas demandas de um atendimento mais humano, diferenciado e apresentar sugestões de como pode ser propiciado um ambiente mais acolhedor e um atendimento mais ágil. Os modelos e as propostas são divididas aumentando o grau de corresponsabilidade entre os sujeitos, estimulando a criação de vínculos e caminhando na direção de um SUS cada vez mais humano, participativo e comprometido com a qualidade. 44 3.4.1 HumanizaSUS: diretrizes O HumanizaSUS conta com algumas diretrizes próprias, a fim de orientar as ações em prol da humanização, colaboração e valorização profissional. São elas: Acolhimento; Gestão Participativa e cogestão; Ambiência; Clínica ampliada e compartilhada; Valorização do trabalhador; Defesa dos Direitos dos Usuários. O acolhimento se baseia na construção de uma relação de confiança, quando o usuário do sistema sente que está sendo ouvido em suas necessidades, que tem garantido seu atendimento, independentemente da gravidade da situação. A ambiência diz respeito à criação de um ambiente acolhedor e confortável, além de respeitar a privacidade. Aqui, o diálogo com profissionais como arquitetos, por exemplo, além de profissionais de saúde e usuários, se torna fundamental para a criação de um ambiente adequado. A clínica ampliada e compartilhada é considerar a totalidade de um sujeito em seu processo único de adoecimento, considerando outros fatores além de causas e consequências orgânicas, permitindo o diálogo. Já a valorização do trabalhador se refere à inclusão dos sujeitos nos processos de decisão, por meio do diálogo e da compreensão das necessidades apresentadas por cada um. Por fim, a defesa dos direitos dos usuários é garantir os direitos assegurados por lei para cada cidadão, mantendo-os informados sobre seu real estado de saúde. Além das diretrizes, o HumanizaSUS ainda é pautado por três princípios: A transversalidade, a indissociabilidade entre atenção e gestão e o protagonismo, corresponsabilidade dos sujeitos e coletivos. Por isso, essa política se insere em todos os programas do SUS, priorizando o diálogo e a transversalidade das relações. Fomentando a participação de profissionais e 45 usuários na gestão, organização e tomada de decisão, criando uma sensação de responsabilidade compartilhada e incentivando a autonomia. Conclusão da aula 3 Nesta terceira aula foram abordados três mecanismos importantes para a organização e o planejamento no SUS e a valorização dos atores que atuam com o fazer saúde. Foi compreendido como é realizada a organização de recursos, como o levantamento de informações e o uso dessas informações para a análise da estrutura, objetivando a melhora dos resultados oferecidos ao usuário final. Assim, foram apresentadas três políticas: o ParticipaSUS, o Planeja SUS e o HumanizaSUS. O SUS apresenta uma estrutura orgânica e mutável, as demandas oriundas da participação dos usuários do sistema criam discussões que podem levar ao desenvolvimento de políticas que procuram resolver essas necessidades, criando mecanismos que estimulam as mudanças. É importante estar atento às mudanças e aos diversos indicadores de saúde que irão nortear diferentes ações em todas as esferas. Atividade de Aprendizagem Considere que você foi realocado como gestor, sendo instalado em uma unidade básica de saúde na periferia de uma grande cidade que apresenta elevado número de reclamações quanto ao tempo de atendimento, longas filas e descaso dos profissionais. Baseado nas políticas vistas nesta aula, elabore um plano de ação resumido, em no máximo 15 linhas, com o objetivo de reduzir as reclamações e resolver as demandas apresentadas. Não esqueça de incluir como será feito o acompanhamento de suas ações para saber se as necessidades foram atendidas. 46 Aula 4 – Redes de Atenção Apresentação da aula 4 Esta quarta e última aula tratará da organização das redes de atenção à saúde, abordando toda sua hierarquia, desde a atenção primária até o atendimento de alta complexidade. Juntamente desse assunto, serão abordados importantes aspectos relativos à prestação de cuidados de urgência e emergência, além da política que levou à criação do SAMU e como esses serviços permeiam toda a hierarquia, garantindo cuidado integral à saúde do indivíduo. 4.1 As redes de atenção As Redes de Atenção à Saúde (RAS) buscam garantir a integralidade do cuidado à saúde, utilizando-se para isso de diferentes tecnologias disponíveis, integrando gestão e logística ao apoio de técnicos capacitados para tornar possível que o cidadão seja acompanhado durante toda a sua vida com suas demandas satisfeitas: de uma consulta de rotina a um transplante de órgão. 4.2 Hierarquia da complexidade Cada prestador de serviço direto dentro do SUS (SAMU, UPA 24H, Hospital, UBS etc.) é um ponto nessas redes de atenção, que se integram para fornecer o atendimento, e todos os pontos juntos formam as Redes de Atenção à Saúde, que são a estrutura da frente de atendimento direto do SUS. Dentro
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