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Antropologia e Sociologia Jurídica Responsável pelo Conteúdo: Prof. Dr. Américo Soares da Silva Revisão Textual: Prof.ª Esp. Kelciane da Rocha Campos Primeiras Conceituações e a Origem da Sociologia Primeiras Conceituações e a Origem da Sociologia • Permitir que o estudante inicie o processo de reflexão sobre a sua realidade utilizando cate- gorias sociológicas. OBJETIVO DE APRENDIZADO • Por que Uma Antropologia e Sociologia Jurídica? • Primeiras Conceituações e a Origem da Sociologia; • Quase Sociologia...; • Agora Uma Sociologia? UNIDADE Primeiras Conceituações e a Origem da Sociologia Por que Uma Antropologia e Sociologia Jurídica? Muitas vezes, a compreensão adequada de uma determinada disciplina passa pela compreensão do papel que os conteúdos dessa disciplina desempenham junto aos demais conteúdos da área de conhecimento em questão. A disciplina de Antropologia e Sociologia Jurídica se enquadra perfeitamente na categoria citada. Primeiramente por ser um conteúdo por si só composto de duas áreas de conhecimento: Antropologia, que é uma área autônoma de conhecimento das ciências humanas, e Sociologia, que possui esse mesmo status acadêmico. So- me-se a isso ela ser “Jurídica” e, portanto, terá em suas discussões um destaque maior para aspectos, temas e/ou exemplos que mais se aproximem da área jurídica. Ou seja, apesar de seus conteúdos serem compatíveis com outras áreas, espera-se que sejam disponibilizados para estudantes que procuram uma formação jurídica e que assumam, então, a condição de operadores do direito. Esse, portanto, é o desafio de uma disciplina de Antropologia e Sociologia Jurí- dica, partindo-se de um ponto de amálgama entre duas áreas das ciências humanas, com a finalidade de proporcionar ao estudante do Direito alguns conhecimentos acerca da Sociedade e da Cultura, em um movimento interdisciplinar fundado no entendimento de que o Direito, enquanto área de conhecimento, não deve perma- necer alheio às forças que o cercam. O Direito não surge no vácuo e tampouco permanece isolado da sociedade que o produz. Quando se fala em Direito, fala-se de conceitos como o de lide, fontes do próprio Direito, entre outras especificidades que lhe são próprias. Mas, apesar de ser importantíssimo perceber essas especificidades, enquanto fenômeno humano e também social, o Direito deve se apropriar, em certa medida, de conhecimentos oriundos de outras ciências humanas, como uma maneira de enriquecer e apurar seu senso crítico, para uma melhor reflexão acerca dos seus fundamentos e da sociedade que o rodeia, mesmo porque, como seria possível reco- nhecer os costumes como uma possível fonte de direito sem minimamente debruçar- -se sobre a questão do que são compostos esses costumes? Como eles se formam? Esse é o desafio da disciplina Antropologia e Sociologia Jurídica. Primeiras Conceituações e a Origem da Sociologia Para permitir que o estudante de Direito possa formular inferências mais perspi- cazes sobre a temática em discussão, é necessário acessar, ao menos, um conheci- mento básico daquilo que é objeto de estudo das áreas de Antropologia e Sociologia e, em consequência, desenvolver ferramentas acadêmicas mais interdisciplinares. Para tanto, faremos, então, um itinerário de conceitos, autores e escolas de pensamento. 8 9 Contudo, também é necessária, para otimizarmos esse percurso, uma apresenta- ção de alguns conceitos que são recorrentemente utilizados por diversos estudiosos, de uma maneira quase consensual. Para fins didáticos, usaremos as definições com- piladas por Clóvis Pansani. Vamos a elas: • Grupo social: “conjunto de indivíduos unidos entre si, associados permanente- mente pela interação e, por isso, capazes de ação conjugada visando a um ob- jetivo comum. Distinguem-se de outros indivíduos por relações sociais positivas e complementares ” (PANSANI, 2018, p. 60). Assim sendo, obviamente, não se pode falar de “grupo” se não estivermos pen- sando em um conjunto de pessoas, ou seja, o indivíduo não é um “grupo”. Um pouco além desse óbvio, é a condição de “social”, esse aspecto requer, como na definição citada, que haja “ação conjugada visando a um objetivo comum”. Ou seja, também não é um amontoado de pessoas que formam um grupo social. Se analisarmos os grandes centros urbanos – isso inclusive é uma condição pro- blemática em várias das grandes cidades – as pessoas ao voltarem do trabalho (que se encontra distante das áreas residenciais) se veem “unidas” em longas filas de es- pera, ou amontoadas dentro do transporte público, e/ou “presas” em longos conges- tionamentos. O ponto em questão é que essas pessoas estão lá enquanto indivíduos e não como grupo social. O fato de ser uma coletividade muito numerosa não as torna um grupo social, pelo menos não no sentido que utilizaremos aqui. Note, o fato de você se dirigir após o trabalho para a região norte da cidade e haver muitas outras pessoas no terminal de ônibus indo na mesma direção não torna a ação de vocês articulada, não houve planejamento, não houve sequer comunicação, apenas uma coincidência de naquele ponto do trajeto a direção tomada ser a mesma. Nem todos estão rumando para o mesmo endereço ou se conhecem o suficiente para ter alguma intenção em comum. Sem isso, temos apenas estranhos numa fila qualquer (banco, supermercado, guichê do bilhete de transporte, etc.). Cada um está ali por motivações próprias, que não são compartilhadas pelos outros. Figura 1 – Pessoas na fi la do ônibus Fonte: Getty Images 9 UNIDADE Primeiras Conceituações e a Origem da Sociologia Figura 2 – Pessoas na fila do trem Fonte: Getty Images Os exemplos dados nos ajudam a entender que existem níveis diferentes de inte- ração social, isso nos leva para uma posição em que além de descrevermos se em uma dada situação há ou não a presença de grupos sociais, também tentamos deter- minar, pela intensidade do contato entre as pessoas, tipos de grupos que são quali- tativamente diferentes. Não é somente o número de pessoas articuladas que define a natureza do grupo, mas também o tipo de contatos (intensidade de interações) que são compartilhados. Observe: • Grupos primários: “grupo de pequeno volume que se caracteriza pela íntima associação e cooperação face a face, modelador da natureza social e dos ideais sociais do indivíduo” (PANSANI, 2018, p. 60); • Grupos secundário: “possui certas características que se apresentam como opostas às do grupo primário. Grupo volumoso, cujos membros estão unidos por interesses comuns. As relações geralmente são estabelecidas por contato indireto, e no caso de serem por contato direto, são passageiras e desprovidas de intimidade; as relações são ainda formais e impessoais. Nos grupos secun- dários, a consciência de ‘nós’ é fraca, o tipo de contato predominantemente se- cundário e categórico, a posição dos membros define-se em relação aos papéis que lhes cabem, sendo sua participação limitada à contribuição que prestam” (PANSANI, 2018, p. 60). Obtemos aqui cenários distintos, de um lado os contatos com mais intimidade, proximidade física (face a face), em que podemos acrescentar regularidade de con- vívio; neste tipo de contato, próprio de grupos primários, há uma proximidade afe- tiva muito maior, daí também a lealdade, cooperação e ajuda mútua, o sentimento de identidade compartilhada (sentimento de “nós”). Como voltaremos a mencionar adiante, trata-se comumente dos grupos familiares e de vários casos de comunidades menores. Podemos partir de uma pergunta simples: “Você conhece o seu vizinho?” Se estivermos falando de grupos primários que se formam em comunidades meno- res e menos complexas, além da própria família, temos um conjunto de relações que 10 11 podem também ser consideradas primárias, pois as diferentes famílias são bastante próximas. É comum, neste tipo de cenário, um nível de integração tal, que um deter- minado morador de uma rua conhece pessoalmente (conversa e tem boas relações de camaradagem)todos os vizinhos que moram na mesma rua, não apenas sabe os no- mes deles, mas sabe qual criança é filha de quem, como está a saúde da senhora que é mãe da vizinha da quarta casa depois da sua, isso porque o tema foi objeto de conversa com a vizinha na semana anterior e, é claro, todos foram nascidos e criados no muní- cipio em questão. O vizinho conhece pessoalmente a mãe da vizinha, pois frequenta- va a casa da mesma desde a infância... Em um cenário como este, a classificação de “amigos de infância” ganha uma conotação tão íntima, que podem ser considerados tranquilamente como do grupo primário, mesmo não tendo laços de parentesco. Aproveitemos a pergunta anterior para esmiuçar o contraste com os grupos cha- mados de secundários. Imagine agora um morador de um grande centro urbano que vive em um apar- tamento. Podemos brincar com a referência e assumir que um prédio residencial é uma rua vertical. Então, adaptamos a pergunta: “Qual a possibilidade de o mora- dor de um grande edifício residencial conhecer todos os seus vizinhos?”. Podemos dizer que não é nada comum um grande condomínio em que todos se conheçam de uma forma mais pessoal, que sejam amigos de infância, por exemplo. Mesmo a figura do síndico; provavelmente, ele será conhecido pela maioria dos moradores de uma maneira mais formal, impessoal, e está ligado ao papel que exerce junto aos demais condôminos. Se pensamos no ambiente de trabalho, salvo exceções como empresas familiares, a relação de coleguismo com os demais membros do grupo de trabalho não é do mesmo nível de proximidade que a do núcleo familiar, os contatos diretos no ambiente profissional podem ser passageiros ou temporários (no caso de um cliente, por exemplo). O mesmo valendo para o ambiente universitário. Note que esses exemplos não são categorias absolutas. É possível que estudantes que se co- nheçam na universidade – ou pessoas que se conheçam no mesmo condomínio - se transformem em grandes amigos. Algumas vezes, essa proximidade leva ao desen- volvimento de afetos mais profundos, as pessoas se conheceram, se aproximaram, namoraram e casaram. Mesmo assim, nos exemplos citados, esse tipo de situação em que contatos secundários se tornam contatos primários não acontece com todos o tempo todo, pode-se dizer que muitas vezes isso ocorre de forma pontual. Mas, falaremos mais sobre sociedades complexas e sociedades mais simples no devido tempo. Outro conceito que é interessante de ser apresentado no início desse estudo é o conceito de instituição. Para Eduardo Iamundo, “as instituições sociais figuram como as organizações em que as sociedades se estruturam e se movimentam. A formação das instituições é oriunda das inúmeras determinações sociais e culturais presentes em uma socieda- de ao longo da história” (I AMUNDO, 2013, p. 30). Aproveitando essa formulação, incluímos do mesmo autor: “as instituições jurídicas derivam das instituições sociais e possuem particularmente a função de exercer um controle e executar as funções legais com o objetivo de manter a organização social” ( IAMUNDO, 2013, p. 31). 11 UNIDADE Primeiras Conceituações e a Origem da Sociologia Podemos acrescentar que instituições sociais são como padrões, padrões de en- tendimento e de comportamento. Esses padrões vão sendo cristalizados ao longo do tempo, então nunca podemos esquecer o aspecto “social” das instituições sociais. Essa recorrência de ideias e de ações forma essas organizações, as quais, ao difundir sua forma de encarar o mundo e determinadas linhas de conduta (ações), acabam por se reforçar e assim garantir que esse tipo de organização continue através dos anos, ou mesmo séculos. Nem sempre se trata de uma única organização, mas de um modelo de conduta de grupo, que passa a ser copiado geração após geração. Pense, por exemplo, nos modernos Estados-nação, a existência de uma estrutura or- ganizacional central que estabelece articulações para o restante da sociedade (dentro do território em que é reconhecido como soberano) é uma instituição governamen- tal. O governo de um país é uma instituição. Mas, e se disséssemos que a família é uma instituição? Caberia a pergunta “qual família”? Essencialmente, não. Pois, não há apenas uma única família – até porque a população é muito grande para se ter uma família só. O que temos são milhares, milhões (dependendo do país) de núcleos familiares. A família é uma instituição enquanto um modelo (socialmente criado) de apoio e cooperação mútua entre os seus membros, podendo esses terem laços san- guíneos ou não (casais que adotam filhos). E em se tratando de comportamento hu- mano, a palavra “modelo” é no sentido de “forma”, e não de ideal – este é o modelo correto – até porque tudo o que se refere ao comportamento humano é muito mais no domínio da tendência, daquilo que é provável, afinal encontramos muitos casos em que os membros de uma família (por variados motivos) rompem os seus laços e passam a não mais serem um grupo de apoio mútuo. Figura 3 Fonte: Wikimedia Commons Podemos, então, incluir como exemplos de instituições: o Estado, o Direito, a Família, a Igreja, a Escola, etc. Sendo que elas podem ser espontâneas, formadas ao longo do tempo pelas interações sociais, sem um planejamento prévio. Ou elas podem ser criadas atendendo a necessidades sociais, ou seja, elas foram previamente planejadas e não moldadas devagar, quando surgem já há bastante conhecimento do papel que irão desempenhar – por exemplo: o sistema monetário. 12 13 Isso nos traz mais para perto das instituições jurídicas, as quais derivam desses arranjos sociais e por meio deles obtêm a sua legitimidade. Enquanto componente de coerção e regulação junto à própria sociedade que o cria, o Direito reforça a si mes- mo e as estruturas organizadas na sociedade. Podemos partir do seguinte diagrama: Indivíduo Organização Social Grupos (sociedade) Regras de convívio (Direito) Coerção Figura 4 Uma vez que os indivíduos se uniram em grupos, foi necessário o convívio e com ele regras que pudessem harmonizar o mesmo. Mas, para muitos, a regra somente tem a força necessária para se fazer valer quando a mesma é apoiada não apenas pela força do discurso, mas, também, pela coação física. Se pensamos em regras de convívio e em formas de coercitividade para assegurar o cumprimento das mesmas, estamos no território das instituições jurídicas – por exemplo, o Tribunal. Essa articu- lação que se estabelece entre as instituições sociais e as instituições jurídicas cria um formato social, ou uma forma de organização social que tende a perdurar. É claro, como já afirmamos antes, quando se trata daquilo que é humano e, prin- cipalmente, que se dá em sociedade, nada é fixo. Tendências podem mudar ao longo do tempo, dando origem a outras tendências. Novos indivíduos, mesmo agora sendo influenciados por uma organização social já estabelecida, podem vir a pensar outros arranjos sociais, novas regras para o convívio, o que, por sua vez, de tempos e tempos, leva a uma atualização dessas regras junto ao Direito, mudando a própria organização social. Basta olharmos para o passado próximo e depois para o passado distante e nos daremos conta de como a sociedade se transformou ao longo do tempo. Um ponto de convergência entre as diferentes abordagens sobre o estudo da sociedade é que não estamos mais em uma posição originária, podemos até ima- giná-la, por razões especulativas, contudo, ao nascermos, uma sociedade já existe, instituições já estão estabelecidas – algumas há séculos – portanto, não pensamos os indivíduos como desprovidos de história. Conviver com outros sob certas regras, que refletem determinados valores culturais, terá muito a dizer sobre os caminhos a serem tomados por aquele indivíduo quando chegar à idade adulta. Por isso, um con- ceito bastante utilizado nas ciências sociais, para abordar essa constante interação entre sociedade e indivíduo, chama-se: processo de socialização. Algumas vezes, você pode ter ouvidoa expressão “você precisa se socializar mais”. Embora a expressão tenha sido usada de uma maneira mais informal, na es- sência tem o mesmo sentido usado nos estudos da sociedade. Socializar é se integrar à sociedade. De uma maneira mais técnica, socializar é: “Ato de inculcar a estrutura de ação de uma sociedade no indivíduo ou grupo” (PANSANI, 2018, p. 107). 13 UNIDADE Primeiras Conceituações e a Origem da Sociologia Leis, valores religiosos, instituições dentro da sociedade, padrões de compor- tamento do cotidiano, etc. são elementos transmitidos para as gerações seguin- tes, isso é fundamental para a manutenção das estruturas de qualquer organiza- ção social. Diversas sociedades evoluíram em direção a duas formas principais de transmis- são: a educação formal e a educação informal. Ambas têm como objetivo esse movimento de auxiliar a sociedade a tornar parte do grupo os membros das novas gerações. A Escola, enquanto instituição, é claramente um exemplo de educação formal. Há rituais (assistir aulas), con- teúdos programáticos (conhecimentos estruturados em disciplinas), avaliações, estágios que refletem o nível de aprendizagem, a exigência mínima de conheci- mentos a serem apreendidos ao longo do período para indicar se o ciclo foi ou não finalizado. Neste modelo, está toda a educação formal, indo da pré-escola até o nível superior. Figura 5 Fonte: Getty Images A chamada educação informal se dá pelo aprendizado cotidiano nas próprias interações sociais: o convívio familiar, a “socialização” com os colegas na escola, assim como a interação em ambientes de lazer e de trabalho; transmite muito das formas de comportamento do cotidiano que foram sendo construídas ao longo de muito tempo. Vários desses códigos de conduta não estão sacramentados nas páginas de lei escrita, tampouco são sujeitos a sanções formais por parte do Estado. Usualmente, ninguém é preso ou multado por esquecer de dizer “por favor” e “obrigado”. Aqui, alcançamos um ponto de entrada; podemos, por fim, com essas ideias preliminares, começar os estudos das correntes de pensamento da Sociologia e, posteriormente, da Antropologia. Vamos começar! 14 15 Quase Sociologia... Charles-Louis de Secondat, Barão de Montesquieu, ou simplesmente Montesquieu, como ficou conhecido na posteridade. Figura 6 Fonte: Wikimedia Commons Montesquieu (1689-1755) foi autor de trabalhos fascinantes, como “As cartas persas” e “O espírito das leis”, obras de um pensador astuto, grande observador e crítico mordaz, muito do seu trabalho tem um grande apelo para a filosofia política. Mas e a sociologia? Fora Montesquieu o fundador dessa ciência? A resposta é não. Todavia, o pensamento montesquiano deixou contribuições interessantes para as ciências sociais, filosofia e política, ao ponto de sociólogos contemporâneos se debruçarem sobre ele, mesmo que ao final concluam que seu papel foi mais de um precursor, que merece ser lido, do que propriamente um sociólogo, no sentido mais estrito do termo. É o que pensa, por exemplo, o sociólogo contemporâneo Raymond Aron: Por que, então, Monstequieu é considerado apenas um precursor da so- ciologia e não um sociólogo? [...] A primeira razão é que a palavra socio- logia não existia no tempo de Monstesquieu, e que o termo, que tentou pouco a pouco nos costumes, foi forjado por Auguste Comte. A segunda razão, muito mais profunda, é que Montesquieu não meditou sobre a sociedade moderna. [...] isto é, da sociedade considerada como essencial- mente industrial ou capitalista. [...]. (ARON, 2008, p. 62-63) 15 UNIDADE Primeiras Conceituações e a Origem da Sociologia Temos aqui uma demarcação bastante relevante, pois o objeto preferencial da sociologia é a sociedade moderna, mesmo porque são as angústias dessa sociedade moderna e industrial que dão um impulso maior para a sua compreensão e com isso a demanda de uma área de conhecimento próprio. Em seu “O espírito das leis”, Montesquieu faz um compilado dos costumes de dife- rentes povos, da sua relação com as Leis, como uma forma de apreender o que viria a ser esse recorrente impulso legislador presente em tão diferentes sociedades. Esse caminho o leva a avaliar as diferentes formas de governo e a relação dos súditos/ cidadãos com as estruturas do Estado. Também o levou para observações muito pró- prias aos costumes locais. Em uma passagem famosa de “O espírito das leis”, temos: Muitas coisas governam os homens: o clima, a religião, as leis, as máximas do governo, os exemplos das coisas passadas, os costumes, as maneiras, resultando disso a formação do espírito geral. À medida que, em cada nação, uma dessas causas age com mais força, as de- mais lhe cedem outro tanto. Entre os selvagens, a natureza e o clima dominam quase sozinhos; as maneiras governam os chineses; as leis tiranizam o Japão; os costumes antigos o faziam em Roma. (MONTESQUIEU, 1979, p. 266) Fica claro para Montesquieu que essa abordagem física, biológica e geográfica é influenciadora profunda de uma sociedade. Contudo, é importante destacar que determinados vieses de entendimento foram caindo em desuso e hoje são vistos com bastante reticência pelos pesquisadores da área. Argumentar que há múltiplas causalidades que influenciam as estruturas de uma determinada sociedade é bastante razoável. Entretanto, mesmo havendo o reconhecimento do fato de que as condições natu- rais de uma determinada área, climas, solo, disponibilidade maior ou menor de água potável tenham um impacto importante na economia daquela sociedade, e isso ajude a influenciar a organização social e/ou suas Leis (por exemplo, um povo estabelecido em uma região de constante seca pode acabar elaborando leis mais rígidas quanto ao desperdício do recurso, quando o comparamos com povos que não sejam afligi- dos com tal carência), assumir isso como causa para o “temperamento” de um povo (entendemos temperamento do povo como uma mentalidade coletiva média) soa bastante estranho aos nossos ouvidos contemporâneos. Observemos alguns trechos do livro XIV, na terceira parte de “O espírito das leis”, no qual Montesquieu discorre sobre “as leis na relação que elas têm com a natureza do clima”: O ar frio comprime as extremidades das fibras externas do nosso corpo [...] O ar quente, ao contrário, relaxa as extremidades das fibras e as alonga, diminui, portanto, sua força e energia. [...] Tem-se assim mais vigor em climas frios. [....] Esta força maior deve produzir muitos efeitos. Por exemplo: mais confiança em si mesmo, isto é, mais coragem; mais conhecimento de sua superioridade, isto é, mais franqueza, menos sus- peitas, menos política, menos malícia. [...] Os povos das regiões quentes são tímidos como os anciões; os das regiões frias são corajosos como os jovens [...]. (MONTESQUIEU, 1979, p. 201) 16 17 E ainda: [...] esta fraqueza de órgãos que faz com que os povos do Oriente rece- bam as mais fortes impressões do mundo, acrescentardes certa preguiça do espírito, relacionada naturalmente com a do corpo, que faz com que esse espírito não seja capaz de qualquer ação, de qualquer esforço, de qualquer contenção, compreendereis que a alma, que uma vez recebeu impressões, não mais pode modificar-se. É isso que faz com que as leis, os costumes e as maneiras, mesmo as que parecem indiferentes, como a maneira de vestir, sejam hoje, no Oriente, semelhantes às de mil anos atrás. ( MONTESQUIEU, 1979, p. 203) Novamente, Montesquieu acerta bastante ao valorizar como uma influência pode- rosa o clima, a religião, as leis, acontecimentos do passado (história), mas podemos dizer que erra ao interpretar a influência climática articulada com uma interpretação fisiológica para formar uma “causa” para vários costumes e práticas dos povos. Essa linha de raciocínio, inspirada na fisiologia, foi amplamente descartada pelo avanço das ciências sociais, visto que, cientificamente, as ciências sociais não conseguiram encontrar evidências que validassem fortemente esse tipo de especulação.Se pensa- mos na comparação montesquiana entre os povos das regiões frias e os povos das regiões mais quentes, o segundo grupo, mesmo no espaço da Europa, deveria levar desvantagem em relação ao primeiro. No espaço europeu isso significaria uma “su- perioridade” dos povos nórdicos da Europa em relação à população mediterrânea, uma tese difícil de sustentar, dada a extensão, duração, influência e desenvolvimento cultural, por exemplo, do Império Romano . Somam-se a isso o fato também de a Biologia e a Medicina nunca terem encon- trado evidências sobre esse tipo de leitura mais fisiologista do comportamento dos povos e, como não poderia deixar de ser mencionada, a articulação desastrosa que ideias de “raça mais forte” ou “raça superior” produziram no século XX ao serem levadas para o campo político. Então, estudamos Montesquieu apenas para nos lembramos dos limites do seu pensamento? Na verdade, a resposta correta seria: sim e não! Analisamos o pensamento montesquiano para também ver em que ele acerta, o que ainda hoje é reconhecido como sendo válido no estudo da sociedade. Podemos dizer que a religiosidade e as Leis são um fator importante, enquanto instituição e enquanto influência cultural. O ponto em questão é: todas as linhas de pensamento seguem as influências e os limites de conhecimento de sua época. Alguns elementos são mais bem aproveitados posteriormente, outros não. No caso do pensamento de Montesquieu, que ainda não era exatamente uma sociologia, temos uma distinção conceitual que é mantida por vários estudiosos pos- teriores e que também aqui utilizaremos. 17 UNIDADE Primeiras Conceituações e a Origem da Sociologia Os costumes e as maneiras [hábitos] são práticas que as leis não estabe- leceram, ou não puderam, ou não quiseram estabelecer. Há esta diferença entre as leis e os costumes: as leis regem mais as ações do cidadão e os costumes regem mais as ações do homem. Há esta diferen- ça entre os costumes e as maneiras [hábitos]: as primeiras concernem mais à conduta interior e as outras à exterior. (MONTESQUIEU, 1979, p. 271) Antes de discorrermos sobre esse último ponto, destacamos que seguiremos a linha adotada na tradução do texto de Raymond Aron, que usa a palavra “hábitos” como equivalente de “maneiras”1. Assim sendo, encontramos em Montesquieu uma importante separação entre aquilo que é lei e aquilo que é costume. É importante lembrar que a lei é imposta pelo Estado, o qual fiscaliza o seu cumprimento e penaliza a não observância da regra (confira em Aron, 2008, p. 32). Por outro lado, o costume enquanto regra, enquanto proibição, é estabelecido pela comunidade, mas não tende a ter interferência do Estado. Na diferença entre costumes e hábitos, podemos assumir os hábitos como modelos de ações interiori- zados, enquanto nos costumes, há uma certa “pressão” da comunidade para que aquela ação transcorra daquela maneira. Se pensarmos na sociedade brasileira, o casamento religioso seria classificado como um costume, pois é uma ação que acontece pela rela- ção que o indivíduo tem com o seu grupo social, com um sentimento de religiosidade que também é compartilhado com outras pessoas. Então aquele grupo familiar e/ou religioso valoriza e incentiva aquele membro do grupo a realizar um casamento religioso. O Estado brasileiro não interfere nessa decisão obrigando a cerimônia religiosa do ca- samento, mesmo porque ele, Estado, reconhece como legal (dentro da lei) o casamento registrado no cartório civil, ainda que a cerimônia religiosa jamais aconteça. Destacamos aqui a importância de não se confundir, como normalmente é feito no senso comum, hábitos e costumes, aqui trataremos ambos como conceitos com significados distintos. Se o costume é algo que envolve as expectativas da comunidade, as ações que você executa apenas como indivíduo são hábitos, não costumes. Um bom exemplo, é o hábito que você teria de tomar café com leite pela manhã. Isso, obviamente, não é uma Lei, pois o Estado não irá multá-lo(a) porque na semana passada você passou a consumir suco de laranja no lugar do café com leite...Tampouco, trata-se de um costume, pois sua família e as famílias dos seus vizinhos não ficam incentivando você a tomar café com leite diariamente ou irão criticá-lo(a) porque há duas semanas você está tomando café puro... Reteremos de Montesquieu essa distinção entre Lei, costumes e hábitos e lem- braremos de suas abordagens que em alguns momentos fizeram uso da fisiologia para explicar comportamentos sociais, e que as últimas não são mais aceitas pelas ciências sociais na atualidade. Podemos seguir para o próximo autor a ser abordado: o pensador francês Auguste Comte. 1 O tradutor Sérgio Bath, ao traduzir as referências de Aron ao texto de Montesquieu, traduziu a palavra francesa “manières” como “hábitos”, e tendo em vista que outros autores da sociologia jurídica seguiram essa mesma con- venção, a manteremos em nosso texto de agora em diante. 18 19 Agora Uma Sociologia? Como estamos percebendo até aqui, uma área de conhecimento não emerge do nada, como num fiat lux. Condições históricas específicas geram preocupações próprias, e essas preocupações servem como catalizador de novas e aperfeiçoadas buscas por compreensão e por respostas. Após o Renascimento, a Era Moderna nos trouxe mudanças, é claro que já ocorriam transformações antes, mas o ponto principal é que até então o mundo não mudava de maneira tão rápida. A própria velocidade de transformação do mundo foi acelerando- -se a cada nova geração. O advento da revolução científica, mais tarde combinado com a chamada revolução industrial, trouxe um impulso transformador ainda mais dramático. Se isso já chamou a atenção de Montesquieu em pleno século XVIII, as contínuas mudanças nas estruturas econômicas, sociais e políticas ainda preocupavam os pensadores posteriores – e ainda são objeto de estudo na atualidade. Auguste Comte (1798-1857) e Karl Marx (1818-1883) são filhos do século XIX, cada um compreendeu e encarou as transformações do seu século de uma maneira diferente. Ambos percorreram a estrada da Filosofia para chegar em suas teoriza- ções, com resultados e objetivos distintos. Mas, coube a Comte diretamente propor a necessidade de uma “física social”, que mais tarde seria chamada de sociologia. Se Montesquieu pode ser visto como um precursor, Comte é visto como um fun- dador, justamente por ser o primeiro a propor um estudo científico da sociedade, à parte da própria filosofia ou da política. Auguste Comte nasceu na França, em Montpellier, de 1798; na juventude chegou a frequentar a escola politécnica e, posteriormente, ter contato com uma varieda- de de conhecimentos, desde aqueles ligados às chamadas ciências “duras” (Física, Químic a, e Matemática), como a leitura de obras de economistas e filósofos, como: Adam Smith (1723-1790), Jean-Baptiste Say (1767-1832), David Hume (1711-1776), com destaque especial aos trabalhos de Condorcet (1743-1794), do qual mais tarde reconheceria ter recebido grande influência. Figura 7 Fonte: Wikimedia Commons 19 UNIDADE Primeiras Conceituações e a Origem da Sociologia Comte terá uma visão bem mais otimista do futuro da sociedade, se comparado a alguns dos seus contemporâneos. Encontramos esse otimismo em diferentes aspectos da sua obra, como, por exem- plo, em sua tese sobre a evolução da própria civilização. Estudando, assim, o desenvolvimento total da inteligência humana em suas diversas esferas de atividade, desde seu primeiro voo mais simples até nossos dias, creio ter descoberto uma grande lei fundamental, a que se sujeita por uma necessidade invariável, e que me parece poder ser solidamente estabelecida, quer na base de provas racionais fornecidas pelo conhecimento de nossa organização, quer na base de verificações históricas resultantes dum exame atento do passado. Essa lei consiste em que cada uma de nossas concepções principais, cada ramo de nossos conhecimentos, passa sucessivamente por trêsestados históricos dife- rentes: estado teológico ou fictício, estado metafísico ou abstrato, estado científico ou positivo. (COMTE, 1978, p. 35) A lei dos três estados (alguns manuais falam em três estágios, mas o sentido é o mesmo) pode ser compreendida como uma das contribuições mais marcantes do pensamento comteano. Antecipamos que a lei dos três estados, hoje, é vista de forma controversa. Como teremos oportunidade de comentar mais adiante, ela inspirou abordagens em outras áreas, como a Antropologia, que ainda iria se formar, mas, posteriormente, os es- tudos antropológicos contemporâneos viriam a rejeitar fortemente abordagens cuja linha de raciocínio fosse idêntica à da proposta comteana. Por enquanto, vamos entender melhor a proposta de Comte. Comte não apenas fala em “estados históricos diferentes”, não é apenas uma questão descritiva, há embutida na sua explicação (daí a sua leitura da história ser considerada otimista) a ideia de progresso. Segundo a proposta de Comte, a humanidade evolui de um estágio inicial, qual o filósofo francês compararia com a “infância” da humanidade. Esse estado primitivo, que Comte chama de teológico, se caracteriza pela busca de “causas primeiras e finais”, do entendimento que os fenômenos da natureza têm por trás de si, “agentes sobrenaturais” (COMTE, 1978, p. 35). Ora, a descrição comteana pode facilmente englobar várias sociedades politeístas, seja no presente ou mesmo aquelas que já não mais seguem essa influência religiosa. Teríamos como exemplo a antiga sociedade grega e sua mitologia. A mitologia grega foi para os povos que nela estavam imersos fonte religiosa, de explicação do mundo, desde o funcionamento dos fenômenos naturais, da morte, nascimento, passando pela chuva, as estações do ano, até o sucesso ou não das colheitas, além de ser parâmetro para práticas culturais, como a ação ética e a política. Seguindo essa linha de sucessão, pela qual o estado posterior é melhor, supe- rior ou mais desenvolvido que o estado anterior, Comte defende que no estado metafísico, que na sua base de comparação seria a “adolescência da humanidade”, 20 21 “agentes sobrenaturais são substituídos por forças abstratas” (COMTE, 1978, p. 35). Reconhecemos aqui o esforço de entendimento dos primeiros filósofos que inferiam a existência de uma “lógica na natureza”. A Natureza seria como um ente (quase consciente); ela, a Natureza, teria um “plano”, o que explicava a harmonia existente no mundo. Ou ainda, a defesa da existência de uma substância primordial, da qual todas as demais derivariam. Uma variação, bastante conhecida, é associar a base do universo a elementos primordiais: água, terra, fogo e ar. Tanto em um caso como no outro, os pensadores antigos usavam o seu raciocínio lógico e a imaginação para es- pecular como o mundo de fato funcionava, era o início de explicações racionais, que se afastavam dos antigos mitos (que Comte chamaria de estado teológico), contudo, mesmo essas explicações racionais careciam de um método de observação mais sistemático e do uso da experimentação, como somente será possível muito tempo depois, quando se formar o método científico. Tendo esses aspectos em vista e assumindo um pressuposto de “evolução”, a etapa seguinte para Comte deve ser superior à etapa anterior, que pese nesse cri- tério o grau não apenas de conhecimento, mas a eficiência com que manipulamos aquilo que compreendemos. Se há alguma coisa que foi bastante eficiente em nos transmitir conhecimento e em facilitar o surgimento da tecnologia para alterarmos as condições do mundo ao nosso redor, essa coisa foi a ciência moderna. Assim sendo, não é de se estranhar que a última etapa de desenvolvimento da sociedade, seu estágio mais aprimorado, que o próprio Auguste Comte reconhece como a “maturidade” da humanidade, seja justamente a etapa positiva ou científica ( COMTE, 1978, p. 35). Nesse estado positivo, Comte afirma que renunciamos à busca por explicações absolutas, fossem pela personificação de entidades sobrenaturais (estado teológico), fosse pela racionalização e criação de construtor abstratos (estado metafísico) para explicar o mundo (COMTE, 1978, p. 35). Em ambos os casos, há um esforço de explicar tudo, conhecer um “sentido” para o mundo. Na leitura comteana, no estado positivo as explicações que serão aceitas são oriundas do método científico, a observação sistemática e controlada dos fenômenos (algumas vezes, recorrendo-se à recriação do fenômeno em laboratório, o experi- mento) é o que dá condições ao pesquisador da natureza formular Leis científicas, a ligação entre os eventos particulares e os fatos gerais ( COMTE, 1978, p. 35). Esse elogio ao estado positivo, embora reconhecendo-se que as diferentes socie- dades não se desenvolvem ao mesmo tempo e na mesma velocidade (o que em uma leitura positivista à la Comte ajudaria a explicar a primazia europeia, pois estaria no século XIX bastante perto do estado positivo), levou o pensador francês a se preocu- par com o desenvolvimento das ciências como um todo. E uma maneira de contribuir para esse desenvolvimento seria entender tanto o seu método como o seu objeto de pesquisa. Por isso, Comte desenvolve uma classificação das ciências. Para o filósofo francês, a filosofia positiva divide as ciências em cinco ciên- cias fundamentais: 21 UNIDADE Primeiras Conceituações e a Origem da Sociologia • Astronomia; • Física; • Química; • Fisiologia; • Física Social (mais tarde receberia o nome de Sociologia). O critério comteano apontaria por ir dos fenômenos mais gerais e mais simples em direção aos “mais particulares, mais complicados” (COMTE, 1978, p. 100). Considerando, talvez, uma compreensão da época, pudesse, bem a grosso modo, fazer sentido esse tipo de classificação se tomássemos como base, por exemplo, o número de corpos celestes no sistema solar, o seu comportamento, que tem um ní- vel bastante razoável de previsibilidade (como no caso de suas órbitas), e fôssemos o comparando com ciências que precisam incorporar um número maior de variáveis, que por isso mesmo tornam-se cada vez mais difíceis de apresentar uma melhor precisão em suas predições; até chegarmos no extremo dessa dificuldade de tentar entender o fenômeno social com seus milhares (milhões) de indivíduos em constantes e complexas interações. Ainda assim, encontramos no pensamento de Comte um empenho em que o fe- nômeno social também pudesse ser investigado cientificamente, mesmo com toda a sua complexidade. Em seu comentário introdutório sobre a vida e a obra comteana, José Arthur Giannotti destaca: Aspecto fundamental da sociologia comteana é a distinção entre a está- tica e a dinâmica sociais. A primeira estudaria as condições constantes da sociedade; a segunda investigaria as leis de seu progressivo desen- volvimento. A ideia fundamental da estática é a ordem; a da dinâmica, o progresso. Para Comte, a dinâmica social subordina-se à estática, pois o progresso provém da ordem e aperfeiçoa os elementos perma- nentes de qualquer sociedade: religião, família, propriedade, linguagem, acordo entre poder espiritual e temporal, etc. (GIANOTTI, in COMTE, 1978, p. 23) Havia no pensamento de Comte um prelúdio de valorização das instituições so- ciais, as quais seriam reconhecidas como parte da “ordem” daquilo que tende a se manter na sociedade, ou pelo menos a evoluir muito gradativamente, destaque aqui para o termo “evoluir”, tendo em vista o que já foi dito sobre a lei dos três estados. De qualquer maneira, esses “lastros” da sociedade somente podem impulsionar uma mudança se trouxerem possibilidade de aperfeiçoamento (progresso), que é o que leva um estado da sociedade para o nível seguinte. Eis, portanto, a necessidade de (na leitura comteana) estudarmos também o próprio progresso da sociedade. Essa combinação de “ordem” e “progresso” se tornou lema do positivismo comte- ano, que também foi assimilado como um movimento político que combinava respei- to às tradiçõese instituições com uma fé no desenvolvimento tecnológico-industrial, que, por consequência, traria também desenvolvimento social. 22 23 Esse progressismo positivista ultrapassou as fronteiras da terra natal do seu funda- dor e ganhou adeptos em diferentes lugares do mundo, inclusive em terras além-mar. Vale a breve menção a influências dessas ideias no Brasil no final do século XIX, inclusive sobre várias personalidades do movimento republicano brasileiro, com des- taque para Benjamin Constant (1836-1891). O resultado desse entusiasmo foi incluir na bandeira brasileira (a única no mundo com essa menção) o lema positivista de “ordem e progresso”. Figura 8 Fonte: Getty Images A sociedade e suas contradições Karl Marx (1818-1883) é outro autor oriundo da filosofia cujas reflexões se orga- nizaram em torno da sociedade e suas transformações. Sua posição na sociologia é um tanto diferente. Esse pensador, nascido na Alemanha, dará uma importante contribuição para os estudiosos da sociedade que viriam depois dele, mesmo que ele próprio não tenha se dedicado a desenvolver uma ciência da sociedade, sequer tenha sugerido uma ciência separada para os estudos. Partindo de uma matriz mais filosófica, Karl Marx irá integrar discussões acerca da filosofia política com intensos estudos da teoria econômica da sua época (autores clássicos como Adam Smith e David Ricardo). Esse amálgama produzirá um siste- ma de pensamento bastante peculiar, que busca integrar abordagens tão distintas e amplas que terminam por fazer parte das referências bibliográficas de estudantes de diferentes áreas das ciências humanas, tal como a Ciência Política, a Filosofia, a Economia e, como não poderia deixar de ser, a Sociologia. Dada a necessidade de nos mantermos nos trilhos do tema proposto e de con- cisão, como foi feito muitas vezes por diferentes estudiosos da Sociologia, vamos expor alguns dos conceitos do pensamento de Marx que são considerados mais essenciais em seu pensamento e não iremos aprofundar tanto a discussão em torno da sua teoria econômica, contudo ela estará presente, pois é parte indissociável do seu sistema de pensamento. 23 UNIDADE Primeiras Conceituações e a Origem da Sociologia Partindo dessas considerações, o primeiro ponto (e muito importante) no enten- dimento do pensamento marxista é a ideia de conflito social (ou conflito distributivo). Uma premissa do pensamento marxista é que sempre houve tensão social, devido ao conflito interno nas relações sociais. Esse conflito variou de intensidade ao longo da história da humanidade, mas, de uma maneira ou de outra, sempre esteve ali. Para entendermos esse aspecto, não é demais recordar que Marx vive em um período bastante turbulento e de muitas e muito rápidas transformações na socie- dade europeia. Esse cenário favorecia a reflexão tanto das relações sociais, como sobre as insti- tuições, podendo chegar ao limite de se questionar a organização social como um todo. Houve elaborações teóricas neste sentido, mas que não tiveram a posterior repercussão que teve o pensamento marxista. Devido ao trabalho de Karl Marx, aqueles ficaram conhecidos como socialistas utópicos, enquanto Marx descreveria seu próprio trabalho como socialismo científico. Figura 9 Fonte: Getty Images Contornando as vastas querelas políticas, que têm o marxismo como um dos seus protagonistas, encontramos alguns conceitos que sugerem como a organização so- cial se estabelece e que força propulsora a modifica. Segundo Marx: [...] A conclusão geral a que cheguei e que, uma vez adquirida, serviu de fio condutor dos meus estudos, pode formular-se resumidamente assim: na produção social da sua existência, os homens estabelecem relações determinadas, necessárias, independentes da sua vontade, relações de 24 25 produção que correspondem a um determinado grau de desenvolvimento das forças produtivas materiais. O conjunto destas relações de produção constitui a estrutura econômica da sociedade, a base concreta sobre a qual se eleva uma superestrutura jurídica e política e à qual correspon- dem determinadas formas de consciência social. O modo de produção da vida material condiciona o desenvolvimento da vida social, política e inte- lectual em geral. [...] Em certo estágio de desenvolvimento, as forças pro- dutivas materiais da sociedade entram em contradição com as relações de produção existentes ou, o que é a sua expressão jurídica, com as relações de propriedade no seio das quais se tinham movido até então. [...] Uma organização social nunca desaparece antes que se desenvolvam todas as forças produtivas que ela é capaz de conter; nunca materiais de existência destas relações se produzam no próprio seio da velha sociedade. (MARX, 2015, p. 24-25) Essa passagem permite-nos elencar algumas premissas que o pensamento mar- xista tem acerca de como a sociedade se estrutura e como a mesma funciona. Primeiramente, o materialismo: não se trata do uso vulgar do senso comum, que muitas vezes associa “materialismo” à pessoa que valoriza bens de consumo e não se importa com os aspectos intangíveis da cultura, como a arte, a moral, os costumes etc. Não é um sinônimo de consumismo. O materialismo marxista segue uma linha filosófica que compreende que o mundo natural como um todo, e a maneira que nos adaptamos a ele, tem uma influência social maior do que algumas tradições/costu- mes; em verdade, esse tipo de leitura destaca que são essas condições físicas (e no caso Marx enfatiza a economia) que determinam a própria formação dos costumes e tradições e não o desígnio de alguma entidade sobrenatural. Sim, é uma perspectiva ateísta; portanto, ao contrário de Montesquieu, por exemplo, Marx não consideraria a religião como uma das impulsionadoras da mudança social, uma vez que a própria, enquanto componente cultural, também foi influenciada pelas condições materiais. Essas “condições materiais” são o nível de desenvolvimento das forças produti- vas; o marxismo não considera a Natureza inerte (solo, vegetação, clima, etc.) como impulso para a organização social. É necessária a ação, a produção ou, como Marx prefere, a “organização das forças produtivas”. Chegamos a uma distinção importante para o autor alemão, a relação entre su- perestrutura e estrutura. A Estrutura da organização social é a sua base econômica, como essa sociedade produz sua riqueza, como ela a distribui. Se fosse um modelo de sociedade escra- vista como no mundo antigo, então temos toda a força de trabalho (plantar, colher, o trabalho braçal da construção, etc.) feita pelos escravos, os quais, diria Marx, são os principais produtores de praticamente tudo daquela sociedade; por outro lado, seriam os senhores de escravo que ficariam com o benefício de toda a riqueza pro- duzida, não restando nada para o escravo, o qual, diga-se de passagem, também era considerado como uma propriedade de outros. 25 UNIDADE Primeiras Conceituações e a Origem da Sociologia A Superestrutura “se ergue da base material”. Marx, como vimos, afirma que a base material determina aquilo que faria parte da “consciência social”, ou seja, tudo aquilo que não é, possui ou depende de objetos materiais, físicos. Uma coisa é uma ponte, outra é a ideia de justiça. Você pode escrever uma ideia de justiça no papel, ou registrá-la na memória de um computador. Mas, ainda é uma ideia, algo não físi- co, não material. Assim também são as Leis, registradas para não serem esquecidas, mas ainda são ideias de como deveríamos conviver. O que está por trás desse princípio de Marx é que nos organizamos para responder às nossas necessidades. Determinadas práticas no mundo material vão se estabelecen- do (modificações no mundo natural, como o plantio) e vão se enraizando na sociedade; quando isso acontece, é então necessário que “regulamentemos”, “expliquemos para nós mesmos” por que as coisas funcionam assim. Ou seja, produzimos regras morais ou leis para o convívio com base numa forma de organização socialque está se esta- belecendo. Ou ainda, a organização começa a se formar e somente depois surge, a partir dela, a necessidade de “regras para melhor organizar”. Enfim, não são criadas Leis primeiro e a sociedade depois, pelo menos não é assim para Karl Marx. Outro ponto importante é que Marx associa a mudança na base material como o motor para o restante da transformação na sociedade. O trabalho de servidão que os plebeus medievais forneciam ao senhor feudal vai desaparecendo à medida que surgiram outras relações de trabalho; neste caso, o predomínio do trabalho assala- riado, que se alastra pelo mundo moderno. Essa dinâmica de transformação ficou conhecida como materialismo histórico. Mas onde está o conflito? Justamente na forma como a divisão do trabalho (segun- do Marx) não distribui a riqueza gerada pela sociedade, deixando um dos lados sem os benefícios totais do seu trabalho, enquanto o outro lado usufrui da riqueza gerada pelo trabalho acumulado. Aqui temos alguns conceitos marxistas que se complementam. Para começarmos, vejamos a divisão do trabalho na sociedade capitalista (foco principal dos estudos de Marx). Antes havia o artesão, que podíamos dizer que de- tinha o conhecimento de todas as etapas do seu ofício. O mestre carpinteiro pega a madeira em estado bruto, consegue moldá-la, dar polimento, enfim, manipulá-la ao ponto de chegar ao final com uma peça utilitária pronta e acabada, como um conjunto de mesa e cadeiras. Essa qualidade técnica, obviamente, exigia um deter- minado tempo de execução, o que também repercutia na quantidade produzida. Um comerciante que quisesse adquirir muitas peças de mobiliário de uma vez ou faria uma grande encomenda a um único mestre carpinteiro – e esperaria um bom tempo até todas as peças estarem prontas – ou contrataria vários carpinteiros para produzir em paralelo, e assim conseguir a grande quantidade de mobília desejada. Com o advento da divisão do trabalho, os processos produtivos dos mais diversos produtos foram sendo fracionados em etapas. Com o tempo, com ou sem o auxílio das máquinas, o agora operário (proletariado) não mais produzia um produto do início ao fim do processo, esse operário aprendia e se concentrava na execução da sua tarefa em particular, o processo seguinte era tarefa de outro operário, e depois outro, até o produto estar acabado. Marx faz uso do conceito de alienação para 26 27 analisar essa situação. No sentido marxista, alienação corresponderia a não deter mais o conhecimento e nem mais a posse sobre o produto do próprio trabalho. Não nos esqueçamos de que na fábrica, o espaço da produção, as máquinas, ferramentas e matérias-primas são de propriedade do dono da fábrica (a quem Marx classificaria como capitalista). Se o dono do capital é o proprietário, desde as ferramentas até as máquinas, então o que é de posse do proletário? Resposta: sua força de trabalho. O operário vende ao capitalista sua força de trabalho, que fazendo uso dos insumos que são da posse do capitalista, gera o produto final, que também pertence ao capi- talista, para ser vendido. Neste contexto, não é apenas a venda da força de trabalho por si só a causa da assimetria entre capitalistas e proletariado, o problema também passa pelos termos em que essa venda se dá. O que era pago ao operário pelo seu trabalho diário não tinha como base o valor de troca da mercadoria. Resumindo a interessante digressão feita por Marx em sua obra “Contribuição à crítica da economia política”, a mercadoria teria um valor de uso e um valor de troca. O valor de uso está ligado à própria natureza física da mercadoria. O algodão tem um uso específico para a fabricação de tecido e poste- riormente de vestuário, independentemente de em que parte do mundo foi plantado e colhido, é um uso diferente do trigo, por exemplo, que serve para a produção de alimentos (MARX, 2017). Já o valor de troca advém da possibilidade de se criar uma medida de troca entre coisas de usos muito diferentes, o que, por sinal, é a base do comércio. Quantas sacas de farinha de trigo seriam necessárias para se trocar por uma bela casa? Tratar-se-ia, então, de possuirmos uma “grandeza” um medida quan- titativa, pela qual diferentes usos fossem equivalentes – obviamente, isso é uma abs- tração, ter um teto sobre o qual se abrigar da chuva é um uso diferente de algo com o que podemos nos alimentar... Mas, tendo essa “medida quantitativa” poderíamos realizar trocas mais facilmente, inclusive calcular quantas sacas um produtor de trigo precisa produzir para ter o suficiente para trocar por uma casa . Marx partirá da ideia de que o tempo de trabalho para se produzir uma mercado- ria nos permite o ponto de partida para pensarmos essa “grandeza” (Idem) com a qual avaliamos as coisas e, então, a sociedade poder fazer comércio com elas. Quantas ho- ras trabalhadas de um artesão são necessárias para produzir um único par de sapatos? Quantas horas trabalhadas um artesão levaria para fabricar uma carruagem? Não iremos nos aprofundar nos detalhes, que vão se tornando cada vez mais próprios da disciplina econômica, como o uso da moeda nas relações de troca e como reserva de valor, ou questões mercadológicas mais contemporâneas em que o preço de uma mercadoria sofre influência da “marca” e/ou do nome do fabricante, a chamada grife. Expomos esses aspectos porque Marx entende a produção de riqueza como re- sultado do trabalho social. No capitalismo, pela questão das dinâmicas de trocas e da divisão do trabalho, aquilo que é produzido e o seus respectivos valores são estabelecidos socialmente. Acabamos de mencionar um conceito importante para Marx, que é a ideia de alienação do operário em relação à mercadoria que esse mesmo operário contribui 27 UNIDADE Primeiras Conceituações e a Origem da Sociologia para produzir. Para o pensamento marxista, não é apenas o fato de o operário não ser o dono da mercadoria final, e de não ter mais o conhecimento completo da sua manufatura. Afinal, o proletário vendeu sua força de trabalho ao proprietário da fábrica; sim, no capitalismo a força de trabalho também pode ser considerada como uma mercadoria. Aqui temos um outro conceito importante para o marxismo: a ideia de mais-valia. Uma vez que o valor de troca de uma mercadoria pode ser estabelecido pelo tempo de trabalho embutido nela, esse valor também serviria de referência para remunerar o operário, já que o tempo de trabalho do mesmo constitui parte do trabalho social para a produção de determinada mercadoria. Mas, argumentaria Marx, o operário é remunerado apenas na proporção necessária para a sua própria manutenção, ou seja, para a sua sobrevivência. E aqui temos – na leitura de Marx – um problema, que é justamente essa remuneração pelo tempo de trabalho ao operário. O valor de troca com o qual a mercadoria chega ao mercado (preço final) remunera muito mais o ca- pitalista do que o proletário. O preço carrega um mais-valor, daí o conceito marxista de mais-valia; a apropriação desse excedente de valor (também podemos chamar de lucro) garantiria ao capitalista uma boa remuneração por ter mobilizado e organizado o seu empreendimento. Contudo, o operário receberia uma ninharia apenas para não morrer de inanição e poder voltar no dia seguinte para continuar trabalhando. Aqui é bom destacarmos duas coisas. Primeiramente, o contexto histórico. Nunca é demais lembrar que as condições de vida dos operários do século XIX, época em que Marx vive, eram miseráveis. Não é apropriado, quando se fala em trabalho ope- rário daquela época, imaginarmos operários bem remunerados das fábricas multina- cionais do começo do século XXI. Em segundo lugar, nada de legislação trabalhista, tal como a conhecemos atualmente, estava disponível no período, muitos tópicos sobre esse tema somente foram desenvolvidos muitas décadas depois. Voltamos, então, finalmente, ao problema inicial para o pensador alemão, o con- flito social. A forma de distribuição da riqueza do capitalismocolocaria dois grupos principais em lados opostos e em permanente tensão social. Pelo pensamento de Marx, cada um dos lados ficaria conhecido como sendo uma classe social própria. De um lado, a classe proletária, do outro a classe capitalista. A primeira contribuiria grandemente para a produção e o aumento da riqueza, no entanto seria a classe capitalista (tam- bém chamada por Marx de burguesia) que se apropriaria e usufruiria dessa riqueza. Esse antagonismo entre classes sociais fica conhecido dentro do pensamento mar- xista como luta de classes. Há quem possa se perguntar acerca do Estado enquanto instituição: este não deveria mediar o conflito? Quiçá apaziguá-lo? Marx concebe o Estado como instituição que traduz as relações sociais de produção, portanto, a estrutura estatal não está acima da sociedade, muito pelo contrário, faz-se presente no interior das dinâmicas sociais e, por consequência, não expressa e muito menos representa a vontade geral da sociedade. (IAMUNDO, 2013, p. 44) 28 29 Neste contexto, o interesse de classe produz como armas de disputa discursos que justificam visões parciais de mundo, dando relevo aos aspectos que lhes são mais relevantes e deixando de destacar aquilo que contrariasse seus próprios interesses, essa é uma versão simplificada do conceito de ideologia (ver Pansani, 2018). Para Marx, as formas de pensar são influenciadas pelas condições materiais, não apenas da sociedade como um todo, mas de grupos em particular. Assim sendo, as forças políticas que se digladiariam e se apropriariam do Estado não são “neutras” quanto aos interesses que defendem. Retornando, mais uma vez, ao conflito distributivo, como também nos recor- da Iamundo ( IAMUNDO, 2013, p. 44), a mais-valia ainda se delinearia em dois níveis. Em um primeiro nível, a mais-valia depende diretamente do tempo de traba- lho dispendido pelo trabalhador, essa é a mais-valia absoluta. Quanto mais horas trabalhadas, maior a mais-valia, ou seja, a única forma de aumentá-la é buscando jornadas de trabalho cada vez mais longas por parte do operário. O segundo nível é o da mais-valia relativa; novas tecnologia, novos e melhores maquinários incor- porados à produção permitem um aumento extraordinário no resultado final (quan- tidade de mercadorias produzidas). Ou melhor, a contradição social, para Marx, é estrutural, inerente ao próprio sistema capitalista, e a medida em que o trabalho é cada vez mais mecanizado, essa contradição apenas aumentaria, pois uma maior produção tenderia a gerar um aumento de riqueza, sem, contudo, que esse aumento fosse compartilhado com o operariado, o qual era mantido em inalterada situação de penúria. Tal situação, segundo Marx, elevaria a tensão social a níveis insustentáveis, que mais cedo ou mais tarde desembocariam em uma ruptura revolucionária. Não compete aqui o julgamento do projeto político do marxismo, avaliar o quanto suas previsões foram ou não foram acertadas em relação aos acontecimentos do século XX; deixamos esse debate para a Filosofia e a Ciência Política. Porém, a compreensão da contribuição do pensamento de Marx para o estudo da sociedade não pode ser menosprezada, a saber, a dinâmica conflituosa entre classes sociais, o conflito em torno da riqueza, as condições de trabalho, a influência das condições materiais da sociedade nos aspectos não materiais da cultura, os diferentes grupos de interesse e a transparência ou não dos canais de participação são temas que ainda atraem o olhar dos estudiosos nos dias atuais. 29 UNIDADE Primeiras Conceituações e a Origem da Sociologia Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Livros Manual de antropologia jurídica ASSIS, O. Q.; KÜMPEL, V. F. Manual de antropologia jurídica. São Paulo: Saraiva, 2011. (e-book) Programa de sociologia jurídica CAVALIERI FILHO, S. Programa de sociologia jurídica. 15ª ed. São Paulo: Atlas, 2019. (e-book) Fundamentos de sociologia e antropologia OLIVEIRA, C. B. F. Fundamentos de sociologia e antropologia. Porto Alegre: Sagah, 2018. (e-book) Sociologia geral e jurídica: fundamentos e fronteiras ROCHA, J. M. S. Sociologia geral e jurídica: fundamentos e fronteiras. 4ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015. (e-book) Sociologia geral e jurídica: a era do direito cativo SCURO NETO, P. Sociologia geral e jurídica: a era do direito cativo. 8ª ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2019. (e-book) 30 31 Referências ARON, R. As etapas do pensamento sociológico. Tradução de Sérgio Bath. 7ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 2008. COMTE, A. Curso de filosofia positiva. Discurso sobre o espírito positivo; Discur- so preliminar sobre o conjunto do positivismo; Catecismo positivista. Seleção de tex- tos de José Arthur Giannotti; traduções de José Arthur Giannotti e Miguel Lemos. São Paulo: Abril Cultural, 1978 , (Os Pensadores) . IAMUNDO, E. Sociologia e antropologia do direito. São Paulo: Saraiva, 2013. MARX, K. Contribuição à crítica da economia política. Tradução de Helena Barreiro Alves. São Paulo: Folha de São Paulo, 2015. MONTESQUIEU. Do espírito das leis. Introdução e notas de Gonzague Truc; tra- dução de Fernando Henrique Cardoso e Leôncio Martins Rodrigues. 2ª ed. São Paulo: Abril Cultural, 1979 , (Os Pensadores) . PANSANI, C. Pequeno dicionário de sociologia. Campinas: Autores Associados, 2018. ( e-book) 31
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