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7ºAula Hormônios Vegetais Objetivos de aprendizagem Ao término desta aula, vocês serão capazes de: • diferenciar hormônio vegetal e regulador de crescimento; • descrever os principais hormônios vegetais, seu metabolismo e funções fisiológicas. Nas aulas anteriores, estudamos os diferentes processos metabólicos que ocorrem nas plantas. Nesta aula, iremos estudar como os hormônios vegetais controlam o crescimento e o desenvolvimento, por meio de uma comunicação eficiente entre células, tecidos e órgãos. Serão abordados os cinco fitormônios clássicos: auxina, giberelina, citocinina, etileno e ácido abscísico, destacando a caracterização química, biossíntese e funções fisiológicas de cada classe hormonal. Vamos conhecer um pouco mais sobre os hormônios vegetais? Bons estudos! 50Fisiologia Vegetal Seções de estudo 1- Crescimento e Desenvolvimento 2- Auxina 3- Citocinina 4- Ácido Giberélico 5- Etileno 6- Ácido abscísico (ABA) 1- Crescimento e Desenvolvimento O crescimento é um fenômeno quantitativo e pode ser entendido como um aumento irreversível no tamanho, volume ou na massa de uma célula, órgão ou organismo em decorrência da divisão celular e expansão celular. Para avaliação do crescimento das plantas, pode-se utilizar a massa fresca, massa de matéria seca, comprimento, altura, diâmetro e área. A escolha do tipo de avaliação depende de qual representa melhor o crescimento do órgão ou planta. Desenvolvimento é defi nido como as modifi cações observadas na forma, bem como o estado de complexidade adquirido por um organismo, por meio de crescimento e diferenciação. Trata-se de um fenômeno qualitativo, ocorre mudança irreversível de fase, ou seja, constitui as diferentes etapas por que passa o vegetal desde a germinação até a senescência. Diferenciação é o processo pelo qual, células com constituição genética idêntica adquirem diferentes características anatômicas e funcionais umas das outras e das células meristemáticas que lhes deram origem. A diferenciação celular é reversível em plantas, pois determinadas células readquirem a capacidade meristemática, reiniciam a divisão celular e, em alguns, casos podem regenerar uma planta completa. As células vegetais apresentam totipotência, ou seja, conservam a informação genética necessária para o desenvolvimento de uma planta completa. As plantas são organismos pluricelulares complexos e necessitam para o seu crescimento e desenvolvimento ordenado uma comunicação efi ciente entre células, tecidos e órgãos. Os principais meios de comunicação intercelular são os hormônios que atuam como mensageiros químicos que, em concentrações muito baixas, podem transmitir sinais entre células e iniciar respostas fi siológicas. Os hormônios vegetais ou fi tormônios são compostos orgânicos produzidos em diferentes partes da planta que, em baixas concentrações, promovem, inibem ou modifi cam qualitativamente o crescimento e o desenvolvimento vegetal. Para o desenvolvimento integrado das plantas, os níveis de seus hormônios são controlados rigorosamente, de acordo com a natureza do órgão, estágio de desenvolvimento e as condições ambientais. Os fi tormônios clássicos, mais estudados são Auxina, giberelina, citocinina, etileno e ácido abscísico. Mais recentemente, alguns outros compostos têm sido descritos como hormônios vegetais, tais como brassinosteróides, jasmonatos, ácido salicílico, poliaminas, embora muitas dúvidas permaneçam quanto a classifi cação desses compostos. Reguladores de crescimento ou fi torreguladores são substâncias sintéticas, produzidas em laboratório, quando aplicadas nas plantas produzem efeitos semelhantes aos dos hormônios. Estas substâncias são importantes na agricultura, são utilizadas como defensivos (herbicidas), estimuladores, inibidores, provocando respostas favoráveis ao seu uso. 2- Auxina A auxina foi o primeiro fi tormônio descoberto. O termo auxina (do Grego auxein, crescer) foi proposto por Fritz Went (1926, Holanda), para descrever um composto não identifi cado que causava a curvatura em coleóptilos de aveia em direção à luz. O primeiro pesquisador a observar isto foi Darwin (1881). Os estudos de Went demonstraram a existência de uma substância que se deslocava de um lado para outro no coleóptilo. Em 1930, dois grupos de pesquisa determinaram a forma bioquímica da auxina mais abundante nos vegetais, o ácido indolil-3-acético (AIA), posteriormente, outras auxinas naturais foram identifi cadas (Fig.1). Existem vários tipos de auxinas sintéticas tais como: o ácido a-naftalenoacético (a-ANA), o ácido 2,4- didorofenoxiacético (2,4-D), o ácido 2-metoxi-3,6- didorobenzóico (dicamba) e o ácido 4-amino-3,S,Stricloropicolínico (picloram) Grande parte das auxinas sintéticas é empregada na agricultura como herbicida. Quimicamente a característica que unifi ca todas as moléculas com atividade auxínica é a presença de uma cadeia lateral ácida, a qual deve estar ligada a um anel aromático. Figura 7.1. Estrutura química das principais auxinas naturais encontradas nos vegetais (KERBAUY, 2008). 2.1 Biossíntese e metabolismo de auxina A biossíntese do AIA está associada com locais de divisão celular, especialmente, no meristema apical caulinar, folhas jovens, frutos e sementes em desenvolvimento. Nas plantas superiores, as rotas bioquímicas que levam à biossíntese do AIA não estão totalmente defi nidas, sabe-se que existem múltiplas rotas que permitem aos vegetais sintetizar o AIA. O triptofano é precursor da via de biossíntese e por meio de três rotas pode ser produzido o AIA, entretanto, evidências a parir de mutantes mostram a síntese por uma rota independente do triptofano. 51 As plantas controlam o nível celular de AIA livre, regulando a síntese ou inativando temporariamente através da conjugação ou degradação por oxidação. Outras formas de regulação dos níveis de AIA livre em determinada célula é a compartimentalização nos cloroplastos e o transporte. Embora o AIA livre seja a forma biologicamente ativa, a maior parte do conteúdo de auxinas presente nas plantas encontra-se na forma inativa conjugada como AIA-glicose, AIA-inositol e AIA-aspartato. Essas formas conjugadas podem ser revertidas para a forma livre, ou seja, ativas. As auxinas podem ser inativadas irreversivelmente quando degradadas pelo processo de oxidação pela enzima AIA oxidase. As formas conjugadas de AIA não são inativadas pela peroxidase, sendo atribuído à conjugação do AIA a função de proteção contra a degradação. O transporte de auxinas tem grande importância no crescimento e desenvolvimento dos vegetais. O transporte é do tipo polar, vai do ápice em direção à base (raízes) e independe da gravidade. As células transportadoras são do parênquima vascular. 2.2 Efeitos fisiológicos das auxinas Divisão celular O estabelecimento da arquitetura da planta e das diferentes funções das células vegetais depende da divisão celular e diferenciação. A auxina junto com a citocinina estimulam a divisão celular, aumentando a síntese e induzindo a atividade das cinases (enzimas que controlam o ciclo celular). Expansão/ alongamento Celular Muitos fatores influenciam a taxa de expansão/ alongamento celular, provavelmente, modificando certas propriedades da parede celular, que é rígida e deve ser afrouxada de alguma maneira. A auxina aumenta extensibilidade da parede celular, possibilitando o crescimento celular e sua ação é explicada pela Hipótese do crescimento ácido: onde a auxina estimula a extrusão de H+ pela membrana plasmática, acidificando a parede celular. A parede celular com pH baixo (ácido) ativa as proteínas expansinas que promove o afrouxamento da parede celular por quebrar as ligações de hidrogênio entre os polissacarídeos da parede. Auxina acidifica a parede ativando H+-ATPase e síntese de H+-ATPase. A auxina também atua na expansão celular estimulando a absorção de solutos osmóticos na célula, possibilitando dessa forma a entradade água e ativa certas enzimas relacionadas com a biossíntese de polissacarídeos de parede. Quebra da dominância apical e crescimento da gema axilar A maioria das plantas apresenta dominância apical, ou seja, o desenvolvimento da gema apical inibe o desenvolvimento das gemas laterais. A inibição pode ser evidenciada com a remoção da gema apical provocando a brotação das gemas laterais. A teoria mais amplamente aceita pressupõe que a concentração ideal de auxina para estimular o crescimento da gema axilar seria mais baixa que o teor de auxina necessário ao crescimento do ápice caulinar e com a remoção do ápice(local de produção de AIA) reduz o fornecimento de auxina na região da gema lateral, liberando-a da inibição. Outros hormônios, a citocinina e ácido abscísico estão envolvidos no processo. Desenvolvimento radicular O conteúdo de auxina da raiz primária tem origem, principalmente, no transporte polar desse hormônio da parte aérea, proporcionando o crescimento das células radiculares num processo de desenvolvimento normal. Células do periciclo na raiz primária são responsivas à auxina e iniciam o processo de divisão celular, formando o primórdio da raiz lateral. As auxinas têm importância na propagação vegetativa de plantas por estaquia, induzindo a formação de raízes. São formadas raízes adventícias na região basal das estacas devido ao transporte polar das auxinas e acúmulo nesta região. Desenvolvimento de frutos A auxina produzida pela semente e pelo fruto estimula a divisão celular e expansão celular nos tecidos dos frutos, em decorrência do aumento na extensibilidade das paredes celulares e uma maior absorção e retenção de água e solutos. Em algumas espécies, frutos sem sementes (partenocarpicos) podem ser produzidos naturalmente ou por tratamento de flores não polinizadas com auxinas. Inibição da abscisão foliar O processo de queda das folhas, flores e fruto é conhecido com abscisão. A auxina tem função inibitória da abscisão, os níveis são altos nas folhas jovens, decrescem progressivamente com a maturação da folha e são relativamente baixos nas folhas senescentes. Tem outros hormônios envolvidos com o processo. Tropismos Os tropismos são movimentos de crescimento orientados, realizados em direção às fontes de estímulos ou na direção oposta. Geralmente está associado à distribuição desigual de auxinas nos tecidos da planta. O fototropismo é a alteração do padrão de crescimento vegetal, em resposta à direção da luz. No estímulo luminoso unilateral, a auxina do ápice é transportada lateralmente para a zona de alongamento no lado sombreado, promovendo maior crescimento do lado sombreado, o que leva a curvatura da planta em direção da luz. O gravitropismo é o crescimento vegetal em resposta a gravidade. Em plantas orientadas horizontalmente, a parte aérea cresce em direção oposta da gravidade (AIA é transportado lateralmente para parte inferior), tendo maior crescimento nessa região, enquanto, o sistema radicular cresce no sentido da gravidade , tendo maior concentração de AIA na parte inferior inibe crescimento, parte superior menor concentração, promove crescimento. As células da raiz são inibidas pela alta concentração do AIA, enquanto as células do caule são ativadas para o crescimento. Os diferentes tecidos e órgãos apresentam sensibilidade diferente para uma mesma classe hormonal. 52Fisiologia Vegetal 3- Citocinina Conhecido como hormônio de controle da divisão celular. Pesquisadores procuravam uma substância que fosse responsável pela divisão celular em vegetais, utilizando técnicas biotecnológicas de cultivo de tecidos. Sabiam que auxina junto com constituintes complexos com a água de coco (endosperma líquido) promoviam uma intensa proliferação das células cultivadas in vitro. Entretanto, queriam identifi car a substância. Em 1955, Miller conseguiu isolar uma substância que na presença da auxina promovia a divisão celular a partir do DNA autoclavado de esperma de arenque. Esta substância era muito ativa na divisão celular de tecidos isolados de plantas e foi denominada de cinetina. Em 1973, foi proposto termo citocinina. Sendo designado citocinina toda substância que promove o crescimento e diferenciação em cultura de calo (aglomerado de células). A defi nição foi baseada na função e não em critério químico. Na década de 70, foi isolada a primeira citocinina natural em endosperma de milho, chamada de Zeatina. Outras citocininas de ocorrência natural foram identifi cadas nas plantas, como a Dihidrozeatina e a Isopentenil Adenina. As citocinas naturais (zeatina, dihidrozeatina e isopentenil adenina) podem ser encontradas na forma livre, como ribosídeo, como ribotídeo ou como glicosídeo (Figura 7.2). 3.1 Biossíntese e metabolismo de citocinina As citocininas são aminopurinas com N6 substituído, são derivadas da base púrica adenina. O principal local de síntese é o ápice de raízes, mas pode ser sintetizada por sementes e folhas jovens. Pode ser sintetizada por bactérias, insetos e nematódeos associados às plantas. Figura 7.2 Estrutura das principais citocininas que ocorrem naturalmente nos tecidos vegetais. Isopenteniladenina - iP; trans-zeatina - t-Z e diidrozeatina - (diH) Z são consideradas formas livres desses hormônios. As três formas podem se ligar a um açúcar, a ribose (ribosilação) (KERBAUY, 2008). A citocinina produzida nas raízes é distribuída para toda planta via xilema, principalmente, na forma conjugada de ribosídeo (forma de transporte) de zeatina. As diferentes formas químicas de citocininas são rapidamente interconvertidas pelos tecidos vegetais. Sementes em desenvolvimento e folhas jovens, também sintetizam citocininas sendo distribuída na própria parte aérea, via fl oema. O nível endógeno das citocininas é regulado pela taxa de biossíntese, por redução da cadeia lateral; conjugação com açúcar; hidrólise e oxidação da cadeia lateral. O transporte também constitui uma forma de regulação dos níveis de citocinina em determinado tecido ou órgão. 3.2 Efeitos fi siológicos das citocininas Controle da Divisão celular: as citocininas junto com auxina promovem a divisão celular nas regiões meristemáticas, regulando a atividade das cinases (enzimas) que por sua vez controlam o ciclo celular. As citocininas estão ligadas também na diferenciação das células, sobretudo no processo de formação de gemas caulinares. Retarda a Senescência: as citocininas inibem as enzimas como proteases e nucleases que fazem a degradação das células, além de estimular síntese proteica. A senescência é o processo de degradação das estruturas e macromoléculas celulares, antecedendo a morte das células e tecidos vegetais. Plantas transgênicas de fumo que possuem um gene que controla a biossíntese de citocininas apresentam senescência foliar retardada (fi gura 7.3). Estabelecimento de drenos: as citocininas atuam sobre proteínas que promovem o descarregamento do fl oema, favorecendo a chegada de açúcar para o crescimento de brotos. Figura 7.3 Retardamento na senescência em transgênicos que regulam a biossíntese de citocininas nas folhas maduras (esquerda). O genótipo que não autoregula a produção de citocininas nas folhas (à direita) apresenta-se em fase avançada de senescência (TAIZ; ZEIGER, 1998). Desenvolvimento da Parte Aérea: a citocinina induz a formação de gemas caulinares e, consequentemente, desenvolvimento da parte aérea. 53 Modifi cam Dominância Apical: embora a dominância apical possa ser determinada primariamente pelas auxinas, a aplicação de citocininas estimula a divisão celular e o crescimento das gemas laterais. A aplicação de citocinina ou a remoção do ápice desloca o dreno e a dominância é quebrada. Em plantas mutantes de fumo e de Arabidopsis superprodutoras de citocininas apresentam desenvolvimento das gemas laterais e são altamente ramifi cadas em relação às plantas selvagens (não mutantes). Balanço auxina/citocinina e o desenvolvimentovegetal: o balanço auxina/citocinina é importante para o desenvolvimento integrado das plantas: as citocininas produzidas nos ápices das raízes são transportadas para a parte aérea e induzem a formação de ramos. Os ápices dos ramos são fontes de auxinas que transportadas para as raízes, estimulam a produção de novas raízes. Morfogênese em cultura de tecidos: a citocinina junto com a auxina são fundamentais para a divisão celular, possibilitando a multiplicação de células com a formação de tecidos e órgãos in vitro. A razão auxina: citocinina regula a morfogênese: Concentrações iguais: promove a formação de calo (massa de células indiferenciadas) Maior concentração de citocinina: promove a formação de parte aérea. Maior Concentração de auxina: promove a formação de raízes. 4- Ácido Giberélico As giberelinas foram descobertas em 1926 e isoladas por pesquisadores japoneses na década de 1930, como produtos naturais no fungo Gibberella fujikuroi, que infectava as plantas de arroz, tornando-as anormalmente altas, o que as deixa suscetíveis à queda e com produção reduzida; daí o nome bakanae, ou “doença da planta boba”. Posteriormente, descobriu-se que as plantas também produzem giberelinas. A primeira GA vegetal a ser identifi cada foi GA1, descoberta em extratos de sementes do feijão, em 1958 (TAIZ; ZEIGER, 2017). 4.1 Biossíntese e metabolismo de giberelina São diterpenos cíclicos, que possuem 19 ou 20 átomos de carbono. A síntese envolve três etapas, em diferentes locais das células vegetais: plastídios, reticulo endoplasmático e citosol. Nas plantas a biossíntese das giberelinas ocorrem nos frutos e sementes em desenvolvimento, zona de alongamento da gema apical caulinar e raízes. Em plântulas, as giberelinas armazenadas nas sementes são transportadas pelo fl oema nas formas livres ou conjugadas. A partir das raízes, as giberelinas são transportadas via xilema. De todas as giberelinas conhecidas, apenas GA4 e GA1 (Figura 7.4) são ativas e responsáveis pelos efeitos nas plantas, as demais são precursoras ou metabólitos. A GA3 produzida por fungos tem efeitos sobre o desenvolvimento das plantas e pode ser obtida comercialmente para uso agronômico. Figura 7.4 Estrutura das giberelinas ativas produzidas por plantas (TAIZ; ZEIGER, 2017). O nível endógeno da giberelina ativa é regulado pela taxa de biossíntese através da inibição retroativa (aumento de GA inibe sua síntese) ou por inativação pelo catabolismo, conjugação com açúcares (glicosilação) de forma reversível e também através do transporte de GA. Fatores ambientais, como fotoperíodo (dia longo) e baixa temperatura pode, em algumas espécies de plantas, aumentar a síntese de giberelina na forma ativa (GA1). 4.2 Efeitos Fisiológicos das Giberelinas Crescimento do caule: vários estudos comprovam a ação de GA no alongamento do caule. Plantas com arquitetura em roseta cultivadas em dias longos são estimuladas a entrar na fase reprodutiva e ocorre o crescimento do caule devido aumento na síntese de GA. Em mutantes anões de milho com alteração na síntese das giberelinas pode ocorrer a reversão do nanismo com aplicação de GA (Figura 7.5) O crescimento é devido GA induzir a síntese de enzimas que ativam o ciclo de divisão celular nos meristemas, levando ao aumento da divisão celular. Atuam também no alongamento celular, ativando enzimas que aumentam a extensibilidade da parede celular. Transição da Fase Juvenil para Fase adulta: coníferas jovens podem ser induzidas a entrar na fase reprodutiva por aplicações de GAs. Frutifi cação: promove a formação e desenvolvimento do fruto em maça e uva. A aplicação de GA estimula a partenocarpia (formação do fruto sem a necessidade de fecundação e formação de sementes). Figura 7.5 O efeito da GA exógena sobre o crescimento do milho. Mutante anão em A, mutante anão com aplicação de GA em B, tipo selvagem (normal) com aplicação de GA em C e tipo selvagem (normal) sem aplicar GA (TAIZ; ZEIGER, 2017). 54Fisiologia Vegetal Quebra de Dormência: algumas espécies necessitam de dias frios (vernalização) e outras de dias longos (fotoperíodo) para quebrar a dormência de sementes e ocorrer a germinação. A aplicação de GA pode substituir a necessidade de vernalização e fotoperíodo, comprovando que os fatores ambientais aumentam a síntese de GA na forma ativa. Abaixo, temos alguns exemplos: • Sementes que necessitam de frio para germinarem (pêssego); • Plantas que necessitam de frio para fl orescerem (pêssego, pera e maçã); • Germinação de sementes fotoblásticas positivas (alface, eucalipto); • Brotações em tubérculos de batatas. Germinação de Sementes A germinação de sementes pode requerer GA em alguma das possíveis etapas: Ativação do crescimento do embrião; mobilização de reservas do endosperma; Quebra de dormência em algumas espécies. Em sementes de cereais (milho, trigo, cevada, sorgo etc.) as giberelinas atuam da seguinte forma: as giberelinas são sintetizadas no embrião e transportadas para o endosperma; elas se difundem para a camada de aleurona, induzem a síntese e secreção de α-amilase, bem como, outras enzimas hidrolíticas, que degradam o amido e outros compostos para substâncias solúveis de baixa massa molecular (açúcares) que são transportadas para o eixo embrionário em crescimento (Figura 7.6). Figura 7.6 A estrutura da semente de cevada e as funções dos vários tecidos durante a germinação (TAIZ; ZEIGER, 1998). 5- Etileno No século XIX, a partir do gás utilizado na iluminação das ruas, foi descoberta a presença de um composto (etileno) que causava abscisão das folhas das árvores. Em 1901, através de ensaio em laboratório foi detectado que o etileno afetava o crescimento e desenvolvimento das plantas, causando resposta tríplice: redução no alongamento do caule; aumento do crescimento lateral. crescimento horizontal anormal. Somente na década de 1930, o etileno foi identifi cado quimicamente como um produto natural do metabolismo e, devido aos seus efeitos sobre as plantas, ele foi classifi cado como um hormônio vegetal gasoso. O etileno, um hidrocarboneto insaturado gasoso que apresenta uma das moléculas orgânicas mais simples com atividade biológica (H2C=CH2). 5.1 Biossíntese e metabolismo de etileno O etileno é derivado do aminoácido metionina e do intermediário S-adenosilmetionina (SAM) e este sob ação da enzima sintase do ACC é convertido ao ácido 1-aminociclopropano carboxílico (ACC) e em condições aeróbicas é convertido a etileno pela enzima oxidase do ACC. Uma parte do ACC produzido no tecido não é convertido para etileno, mas para uma forma conjugada não volátil, N-malonil-ACC, podendo ter um importante papel no controle da biossíntese de etileno (Figura 7.7). O etileno é sintetizado por bactérias, fungos, algas e vegetais. Nas plantas pode ser sintetizado por todas as partes, sendo a taxa de biossíntese dependente do tipo de tecido e do estágio de desenvolvimento. Regiões meristemáticas são mais ativas na sua biossíntese. Embora, sua produção também aumente durante a abscisão foliar, senescência de fl ores e amadurecimento de frutos. Além disso, lesão (danos mecânicos), estresses por seca e inundação, e algumas doenças podem induzir a biossíntese de etileno (Figura 7.7). 55 Figura 7.7 Rota biossintética do etileno em plantas (TAIZ; ZEIGER, 2017). A anaerobiose e temperatura abaixo de 35 oC, inibem a síntese de etileno por inibir a enzima ACC oxidase. A auxina e etileno podem causar respostas similares em plantas, em decorrência da capacidade das auxinas de promover a biossíntese de etileno. O transporte do etileno ocorre por difusão nos espaços intercelulares, podendo ser perdido para o ambiente. 5.2 Efeitos Fisiológicos do Etileno Maturação de frutos: o etileno é importante para a maturação de um grupo de frutos classificados como climatéricos, amadurecem em resposta ao etileno, como exemplo temos banana, maçã, abacate, tomate, pêssego, ameixa, figo,manga, caqui, fruta-do-conde e graviola. Nesses frutos, antes da fase de maturação ocorre aumento da produção de etileno e elevação da taxa de respiração. O etileno está envolvido nas mudanças de coloração, sabor e amolecimento dos frutos. Os frutos não climatéricos, amadurecem independente do etileno, como exemplo temos a uva, cítricos, abacaxi e morangos. A função do etileno no amadurecimento de frutos climatéricos tem resultado em muitas aplicações práticas que objetivam uniformizar, acelerar ou retardar o amadurecimento. Pode retardar o amadurecimento de frutos armazenados, inibindo a biossíntese de etileno, controlando-se a atmosfera com baixas concentrações de O2 e baixas temperaturas ou com o uso de altas concentrações de CO2, que inibe a ação do etileno. Promove senescência foliar: a senescência é regulada pelo balanço de etileno e citocinina. Maior concentração de etileno ocorre a senescência foliar, enquanto a citocinina inibe a senescência foliar. Promove abscisão foliar: o etileno promove abscisão por aumentar a atividade da celulase(que degrada a parede celular), desencadeando a queda da folha. A auxina quando presente impede a abscisão, agindo como supressor do efeito do etileno, no entanto, auxinas sintéticas são utilizadas como herbicidas, quando aplicadas em concentrações elevadas promove a síntese do etileno ocasionando a senescência e abscisão foliar. Promove indução floral: embora, em muitas espécies o etileno inibe o florescimento, na família do abacaxi ocorre a indução. Expansão do caule: o etileno promove o crescimento radial e inibe o crescimento longitudinal do caule, por promover a expansão lateral das células. Promove formação de raízes adventícias e pelos radiculares: o etileno é capaz de promover a formação de raízes em folhas e caules e atua como um regulador positivo na diferenciação dos pelos de raízes. 56Fisiologia Vegetal Uso Comercial: o etileno regula muitos processos fi siológicos no desenvolvimento da planta, no entanto, devido a sua alta taxa de difusão (hormônio gasoso), torna-se difícil a aplicação de etileno. O composto mais amplamente usado é o Ethefhon ou Ethrel que, quando misturado em água e absorvido pela planta, libera etileno em pH fi siológico. É utilizado para acelerar o amadurecimento de frutos climatéricos, sincronizar o fl orescimento e o estabelecimento do fruto em abacaxi, acelerar a abscisão de fl ores e frutos. Tem vários inibidores da ação de etileno que são utilizados para aumentar a longevidade de fl ores, frutos e folhas. 6- Ácido abscísico (ABA) O ácido abscísico é um hormônio vegetal identifi cado na década de 1960, inicialmente considerado um inibidor de crescimento, por promover a dormência de gemas e a abscisão de frutos de algodão. Trabalhos posteriores evidenciaram que o ABA está mais envolvido no processo de senescência, em vez da própria abscisão. Atualmente, sabe-se que o ABA promove diversas funções durante o crescimento e desenvolvimento das plantas. 6.1 Biossíntese e metabolismo do ácido abscísico O ABA é um sesquiterpeno formado de 15 carbonos de ocorrência em plantas e fungos (Figura 7.8). Nas plantas é sintetizado a partir da degradação de um carotenoide presente no cloroplasto e outros plastídios. A parte fi nal da síntese ocorre no citosol. A síntese ocorre em quase todas as células que possuem plastídios, sendo na maioria dos órgãos e tecidos. O ABA é facilmente transportado entre folhas e raízes pelo fl oema, xilema e células parenquimáticas. Os níveis de ABA ativo são regulados e pode ocorrer inativação por glicosilação, formando ABA-glicose ou por oxidação, formando ácido faséico e ácido diidrofaséico. Os níveis de ABA variam muito em resposta as mudanças no desenvolvimento (sementes em desenvolvimento, os níveis de ABA podem aumentar cerca de 100 vezes e, depois declinam na fase de maturação) e do ambiente (no défi cit hídrico, ocorre aumento na síntese). Figura 7.8 Estrutura do ácido abscísico de ocorrência em plantas (TAIZ; ZEIGER, 2017). 6.2 Efeitos Fisiológicos do Ácido Abscísico Desenvolvimento da semente Os níveis de ABA variam durante as fases de desenvolvimento das sementes. No início da embriogênese o conteúdo de ABA é baixo e depois se eleva na fase intermediaria e, então, decresce gradualmente, fi cando baixo quando a semente alcança a maturidade. O ABA promove a síntese das proteínas de armazenamento e lipídios, bem como de proteínas LEA (late embryogenesis abundant – proteínas abundantes no fi nal da embriogênese) envolvidas na tolerância dos embriões à dessecação. Durante o desenvolvimento da semente o ABA inibe a germinação precoce e a viviparidade (germinação pré- colheita). No milho, mutantes vivíparos, produzem embriões ABA-defi ciente e ocorre germinação precoce, nos quais os embriões germinam na espiga enquanto ainda permanecem presos à planta. Promove dormência em sementes Uma semente viável é considerada dormente, quando não germina, mesmo que todas as condições ambientais necessárias para o crescimento sejam adequadas. A dormência pode ser devido à presença de inibidores, especialmente o ABA, bem como da ausência de promotores, tal como as giberelinas. A dormência e germinação das sementes são controladas pela razão entre ABA e GA. Nas sementes de cereais, o ABA inibe a germinação, atuando na inibição da síntese de enzimas hidrolíticas (α-amilase) que são ativadas por GA (que promove a germinação). Resposta ao estresse hídrico Os níveis de ABA aumentam em condições de baixo potencial hídrico (estresse hídrico) e desencadeia várias respostas adaptativas das plantas: Plantas estressadas apresentam um aumento na relação raiz/parte aérea O ABA estimula o crescimento de raízes otimizando a absorção de água e inibe o crescimento da parte aérea, reduzindo a transpiração, ajudando a planta a superar a seca. Fechamento estomático: Ocorre aumento de ABA nas folhas, chega aumentar em até 50 vezes durante a seca. O ABA age na membrana plasmática das células guardas, causando o efl uxo de K+ e aníons, reduzindo a pressão de turgor das células guardas, provocando a saída de água e os estômatos se fecham (Figura 7.9). Figura 7.9 Fechamento estomático em resposta ao ABA. Na presença da luz, os estômatos estão abertos para as trocas gasosas com o ambiente (à esquerda). O tratamento com ABA fecha os estômatos na presença da luz (à direita). Essa reação reduz a perda de água durante o dia sob condições de estresse pela seca (TAIZ; ZEIGER, 2017). 57 Senescência e abscisão foliar O ABA promove a senescência foliar independente do etileno, no entanto, a abscisão foliar é estimulada pelo ABA em apenas algumas espécies. Dormência de gemas O desenvolvimento das gemas é regulado pelo balanço entre inibidores de crescimento, como o ABA, e hormônios que induzem o crescimento, como as citocininas, auxinas e giberelinas. O acúmulo de ABA promove a dormência nas gemas. Finalizamos nossa aula e para fi car mais claro o entendimento de vocês, vamos recordar: Retomando a aula 1- Crescimento e Desenvolvimento Os hormônios vegetais são compostos orgânicos produzidos em diferentes partes da planta e atuam como mensageiros químicos, regulando e coordenando o crescimento e o desenvolvimento vegetal. 2- Auxina Foi o primeiro hormônio a ser identifi cado, durante estudos da curvatura do coleóptilo devido ao fototropismo. A biossíntese está associada com locais de divisão celular, especialmente, no meristema apical caulinar, folhas jovens, frutos e sementes em desenvolvimento. Atua no processo de divisão e expansão celular, controla o processo de dominância apical junto com outros hormônios. Promove o desenvolvimento radicular, com importância na propagação vegetativa das plantas. Inibe a abscisão das folhas e atua nas respostas das plantas a gravidade e direção da luz. 3- Citocinina Conhecida como hormônio de controle da divisão celular, o principal localde síntese é o ápice de raiz. As citocininas promovem a diferenciação das células, sobretudo no processo de formação de gemas caulinares e, consequentemente, desenvolvimento da parte aérea. Atua junto com a auxina no controle da dominância apical e o balanço auxina/citocinina é importante para o desenvolvimento integrado das plantas. Retarda a senescência foliar e promove os estabelecimentos de drenos. 4- Giberelina Atua no alongamento do caule e promove a transição da Fase Juvenil para Fase adulta. A síntese de giberelina aumenta, em algumas espécies por temperaturas baixa e dias longos, para quebrar a dormência de sementes e de gemas para fl orescer. A germinação de sementes requer GA em alguma das fases do processo. 5- Etileno Hormônio gasoso é a taxa de biossíntese dependente do tipo de tecido e do estágio de desenvolvimento, sua produção aumenta durante a abscisão foliar, senescência de fl ores e amadurecimento de frutos. Além disso, estresses por seca, inundação e ferimento promovem sua síntese. O etileno é importante para a maturação de um grupo de frutos classifi cados como climatéricos, promove a senescência e abscisão foliar. 6- Ácido abscísico Foi descoberto em 1960. Era considerado um inibidor de crescimento e promotor de dormência de gemas. O ABA promove a síntese das proteínas durante o desenvolvimento da semente, promove a tolerância dos embriões à dessecação e dormência de sementes e de gemas. Os níveis de ABA aumentam em condições de estresse hídrico, e desencadeia várias respostas adaptativas das plantas, como o fechamento dos estômatos. Experimento para observação da ação do etileno sobre o Amadurecimento de frutos climatéricos. Disponível em: http://www.periodicos.uem.br/ojs/index.php/ArqMudi/ article/view/19992/10845. Vale a pena acessar KERBAUY, G.B. Fisiologia Vegetal. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2012. TAIZ, L.; ZEIGER, E.; trad. SANTARÉM, E. R. et al. Fisiologia Vegetal. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2013. Vale a pena ler Vale a pena Minhas anotações
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