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FISIOLOGIA CELULAR E POTENCIAL DE AÇÃO E TRANSMISSÃO SINÁPTICA SUMÁRIO FISIOLOGIA CELULAR 1. Introdução ..................................................................... 3 2. Estrutura e componentes celulares .................... 4 3. Membrana plasmática ...........................................21 4. Sinalização celular ...................................................45 POTENCIAL DE AÇÃO E TRANSMISSÃO SINÁPTICA 1. O sistema nervoso ..................................................70 2. Neurônios ....................................................................70 3. Potencial de ação e potencial de membrana 75 4. Propagação do potencial de ação .....................88 5. Transmissão sináptica ............................................95 6. Modulação da atividade sináptica ..................103 7. Neurotransmissores .............................................106 Referências Bibliograficas ......................................114 3FISIOLOGIA CELULAR E POTENCIAL DE AÇÃO E TRANSMISSÃO SINÁPTICA FISIOLOGIA CELULAR 1. INTRODUÇÃO As células são os blocos elementares de construção do corpo, fornecendo a estrutura dos tecidos e órgãos, in- gerindo nutrientes e convertendo-os em energia, e executando funções especializadas. As células também contêm o código hereditário que con- trola as substâncias sintetizadas por elas, o que lhes permite fazer cópias de si mesmas. As células eucarióticas se distinguem pela presença de um núcleo delimita- do por membrana. Com exceção dos eritrócitos humanos maduros, todas as células do organismo contêm um núcleo. Portanto, a célula se divide, efetivamente, em dois compartimen- tos: o núcleo e o citoplasma. O núcleo é separado do citoplasma pela membrana nuclear, e o citoplas- ma é separado dos líquidos circun- dantes pela membrana celular, ou membrana plasmática. O citoplasma é uma solução aquosa que contém diversas moléculas orgânicas, íons, elementos citoesqueléticos, além de estruturas físicas altamente organi- zadas, chamadas organelas intrace- lulares, as quais são essenciais para a manutenção da função celular. Cromossomos e DNA Complexo golgiense Membrana celular Nucléolo Glicogênio Ribossomos Lisossomo MicrofilamentosRetículo endoplasmático liso Retículo endoplasmático rugoso Mitocôndria Membrana nuclear Microtúbulos Grânulos de secreção Centríolos Figura 1. Reconstrução de célula típica, mostrando as organelas internas no citoplasma e no núcleo. Fonte: HALL, John E.. Tratado de Fisiologia Médica: Guyton e Hall. 13. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2017. 1176 p 4FISIOLOGIA CELULAR E POTENCIAL DE AÇÃO E TRANSMISSÃO SINÁPTICA 2. ESTRUTURA E COMPONENTES CELULARES Núcleo O núcleo, que é o centro de contro- le celular, contém grande quantidade de DNA, que compreende o geno- ma da célula. Nas células somáticas, esse genoma está contido em 46 cro- mossomos, 22 pares autossômicos e um par de cromossomos sexuais. O cromossomo é uma estrutura extre- mamente organizada, contendo ge- nes (DNA) e proteínas associadas (em especial, as histonas). Os genes determinam as características das proteínas da célula e controlam e pro- movem a reprodução da própria célu- la. Além disso, o núcleo contém a ma- quinaria enzimática necessária para a replicação, transcrição e eventuais reparos no DNA, e para a produção do RNA mensageiro (RNAm). Poros Nucleoplasma Retículo endoplasmático Nucléolo Envelope nuclear – membranas externa e interna Cromatina (DNA) Citoplasma Figura 2. Estrutura do núcleo. Fonte: HALL, John E.. Tratado de Fisiologia Médica: Guyton e Hall. 13. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2017. 1176 p 5FISIOLOGIA CELULAR E POTENCIAL DE AÇÃO E TRANSMISSÃO SINÁPTICA A membrana nuclear, também cha- mada de envelope nuclear, é, na ver- dade, constituída por duas membra- nas. A membrana externa é contínua com o retículo endoplasmático do ci- toplasma celular, e o espaço entre as duas membranas é contínuo com o espaço interno do retículo. Essa mem- brana é permeada por milhares de poros nucleares, os quais controlam a passagem das moléculas que entram e saem do núcleo. Na maioria das células, no interior de seus núcleos, há uma ou mais estru- turas conhecidas como nucléolos. O nucléolo não apresenta membrana delimitadora e corresponde a um acú- mulo de grande quantidade de RNA e proteínas que serão utilizadas na pro- dução dos ribossomos, organela que será vista adiante. 6FISIOLOGIA CELULAR E POTENCIAL DE AÇÃO E TRANSMISSÃO SINÁPTICA MAPA MENTAL – NÚCLEO NÚCLEO CELULARNucléolo Envelope nuclear Centro de controle da célula Componentes Dupla membrana Membrana externa Contínua com o RE Poros nucleares Produção de ribossomos RNA e proteínas Sem membrana Genoma Maquinaria enzimática Proteínas DNA Histonas Cromossomos 23 pares 22 autossômicos 1 sexual 7FISIOLOGIA CELULAR E POTENCIAL DE AÇÃO E TRANSMISSÃO SINÁPTICA Mitocôndrias As mitocôndrias estão em todas as áreas citoplasmáticas de cada célula, mas o número total por célula varia de acordo com a energia necessário, haja vista que a mitocôndria é a or- ganela capaz de produzir energia na forma de ATP, essencial para todas as funções celulares. Elas costumam se concentrar nas porções da células responsáveis pela maior parte do seu metabolismo energético. Além dis- so, costumam variar em tamanho e forma. SE LIGA! As células do músculo cardí- aco (cardiomiócitos) utilizam grandes quantidades de energia e têm muito mais mitocôndrias do que as células de gordura (adipócitos), que são muito me- nos ativas e consomem menos energia. A estrutura básica da mitocôndria é composta principalmente por duas membranas, cada uma formada por bicamada lipídica e proteínas: uma membrana externa e uma membra- na interna. A membrana mitocondrial externa permite a passagem de mo- léculas de até 5 kDa, de modo que a composição do espaço intermem- branoso é semelhante à do citoplas- ma no que diz respeito a pequenas moléculas e íons. Diversas dobras da membrana interna formam túbulos chamados cristas, que estão aderidas as enzimas oxidativas. Essas cristas proporcionam uma grande superfí- cie onde ocorre as reações químicas. Além disso, a cavidade interna da mi- tocôndria corresponde à matriz, que contém grandes quantidades de en- zimas dissolvidas, necessárias para a extração de energia dos nutrientes – enzimas do ciclo do ácido cítrico e oxidação dos ácidos graxos. 8FISIOLOGIA CELULAR E POTENCIAL DE AÇÃO E TRANSMISSÃO SINÁPTICA Membrana externaMembrana interna Membrana interna MatrizCristas Câmara externa Enzimas para a fosforilação oxidativa Figura 3. Estrutura da mitocôndria. Fonte: HALL, John E.. Tratado de Fisiologia Médica: Guyton e Hall. 13. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2017. 1176 p 9FISIOLOGIA CELULAR E POTENCIAL DE AÇÃO E TRANSMISSÃO SINÁPTICA MAPA MENTAL – MITOCÔNDRIA MITOCÔNDRIAConcentram-se nas regiões de maior metabolismo energético Maior quantidade em células que consomem muita energia Estrutura Produção de energia em forma de ATP Ex.: Cardiomiócitos Ciclo do ácido cítrico Oxidação dos ácidos graxos Presença de enzimas oxidativas Local da fosforilação oxidativa Similar ao citosol Passagem de moléculas Matriz mitocondrial Cristas mitocondriais Espaço intermembranoso Membrana interna Membrana externa SAIBA MAIS! Acredita-se que as mitocôndrias tenham evoluído a partir de um procarioto aeróbio que vivia no interior de células eucarióticas primitivas. Elas contêm DNA próprio para codificação das suas enzimas, além do RNA necessário para a transcrição e tradução do DNA mitocondrial. A presença do DNA, da dupla membrana e sua capacidade de autorreplicação são algumas características que corroboram para essa hipótese de que as mitocôndrias eram procariotos que vivam em simbiose com células eucarióticas. 10FISIOLOGIA CELULAR E POTENCIAL DE AÇÃO E TRANSMISSÃO SINÁPTICA Retículo Endoplasmático Rugoso O retículo endoplasmático rugoso (REr)é uma extensa rede de mem- branas, especialmente bem desen- volvido em células que produzem e secretam proteínas, como as células acinares do pâncreas. A essas mem- branas, se ligam os ribossomos, o que confere ao REr a característica de ser o local de tradução do RNAm, para síntese de proteínas, além de realizar modificações pós-traducionais das proteínas que serão secretadas pelas células ou direcionadas à membra- na plasmáticas ou outras organelas membranosas, como o aparelho de Golgi. SE LIGA! Os ribossomos são compos- tos por RNA e por proteínas e atuam na síntese de novas moléculas de proteí- nas a partir da tradução do RNAm. Sua presença nas membranas do REr, ao microscópio eletrônico, atribui uma apa- rência rugosa a essa organela, fazendo com que ela receba esse nome. Aparelho de Golgi O aparelho de Golgi, ou complexo golgiense, está intimamente relacio- nado com o retículo endoplasmático. As proteínas sintetizadas no retículo endoplasmático rugoso são transferi- das ao aparelho de Golgi por meio de vesículas revestidas. Normalmente é composto de quatro ou mais sacos membranosos achatados, finos, em- pilhados e dispostos na vizinhança de um dos lados do núcleo. Além de promover modificações pós- -traducionais nas proteínas vindas do retículo, o aparelho de Golgi também distribui as proteínas e as envolve em vesículas para que sejam enviadas a outras partes da célula, como mem- brana plasmática, lisossomos e grâ- nulos de secreção. 11FISIOLOGIA CELULAR E POTENCIAL DE AÇÃO E TRANSMISSÃO SINÁPTICA Vesículas golgienses Complexo golgiense Vesículas RE Retículo endoplasmático Figura 4. Complexo golgiense típico e sua relação com o retículo endoplasmático (RE) e com o núcleo. Fonte: HALL, John E.. Tratado de Fisiologia Médica: Guyton e Hall. 13. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2017. 1176 p SAIBA MAIS! O complexo golgiense corresponde a uma estrutura polarizada, cujas faces são diferentes – sua superfície convexa ou face cis recebe as vesículas que saem do retículo endoplasmático contendo as proteínas recém-formadas, enquanto a superfície côncava ou face trans origina vesículas onde o material deixa o Golgi. Com isso, as cisternas do aparelho de Golgi apresen- tam enzimas diferentes conforme sua posição, segundo o sentido cis-trans. 12FISIOLOGIA CELULAR E POTENCIAL DE AÇÃO E TRANSMISSÃO SINÁPTICA MAPA MENTAL – APARELHO DE GOLGI Promove modificações pós-traducionais APARELHO DE GOLGIEstrutura polarizada Formação de vesículas secretórias Recebe as proteínas do RE Formado por sacos membranosos finos e achatados Face trans Recebe vesículas Origina vesículas Face cis Retículo endoplasmático liso O retículo endoplasmático liso (REl), ou agranular, recebe esse nome devido à ausência de ribossomos associados à membrana. Serve para a síntese de substâncias lipídicas e para outros processos de metaboliza- ção e modificação de diversas subs- tâncias das células, promovidos pelas enzimas intracelulares. 13FISIOLOGIA CELULAR E POTENCIAL DE AÇÃO E TRANSMISSÃO SINÁPTICA Retículo endoplasmático granular Retículo endoplasmático agranular SE LIGA! No retículo endoplasmático liso, moléculas hidrofóbicas podem ser convertidas em hidrossolúveis, facilitando, assim, sua excreção no organismo pela ação do fígado ou dos rins. Além disso, devido a capacidade dessa organela de sintetizar lipídios, as células das glândulas suprarrenais que secretam o cortisol, hormônio esteroide, e as células do ovários e testículos, que secretam alguns hormônios, apresentam um REl bem desenvolvido. SAIBA MAIS! Nas células musculares, o REl é altamente especializado no armazenamento de íons cálcio, essenciais para a contração muscular, de modo que essa organela recebe o nome retículo sarcoplasmático. Figura 5. Estrutura do retículo endoplasmático. Fonte: HALL, John E.. Tratado de Fisiologia Médica: Guyton e Hall. 13. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2017. 1176 p 14FISIOLOGIA CELULAR E POTENCIAL DE AÇÃO E TRANSMISSÃO SINÁPTICA MAPA MENTAL - RETÍCULO ENDOPLASMÁTICO Rugoso RETÍCULO ENDOPLASMÁTICO Libera vesículas para a membrana celular e outras organelas Liso Síntese e modificações pós-traducionais de proteínas Associado a ribossomos Metabolização e modificação de substâncias Síntese de lipídios Ausência de ribossomos Células musculares Conversão de moléculas hidrofóbicas em hidrossolúveis Armazenamento de cálcio 15FISIOLOGIA CELULAR E POTENCIAL DE AÇÃO E TRANSMISSÃO SINÁPTICA Lisossomos Os lisossomos são organelas vesicu- lares que se formam separando-se do complexo golgiense e, depois, se dis- persando pelo citoplasma. Constituem um sistema digestivo intracelular que permite que a célula faça a digestão de (1) estruturas celulares danificadas (au- tofagia), (2) partículas de alimentos que foram ingeridos pela célula e (3) mate- riais indesejados, tais como bactérias. São cercados por uma membrana de bicamada lipídica, o interior é ácido (pH por volta de 4,5) e contêm diversas en- zimas digestivas (hidrolases), dentre elas, fosfatases, proteases, nucleases, glicosidases, lipases, fosfolipases e sul- fatases. O pH ácido é mantido por meio de H+-ATPases presentes em sua membrana, que bombeiam íons H+ para o interior dos lisossomos. SE LIGA! Essas organelas são encon- tradas em todas as células, porém, são mais abundantes nas fagocitárias, como os macrófagos e os leucócitos neutró- filos, e o conteúdo enzimático varia de acordo com a célula. O processo de degradação não é aleatório, sendo, muitas vezes, dire- cionado. Por exemplo, as proteínas chamadas chaperonas podem dire- cionar proteínas intracelulares para os lisossomos. Além disso, proteínas da membrana plasmática podem ser marcadas para endocitose e sua sub- sequente degradação pelos lisosso- mos, por meio da ligação de grupos específicos (p. ex., ubiquitina) à prote- ína. Esses grupos atuam como sinais para a degradação da proteína. Proteossomos Assim como os lisossomos, os pro- teossomos têm função degradativa. No entanto, não são organelas mem- branosas. Têm a função de degradar, principalmente, as proteínas intrace- lulares que foram marcadas (p. ex., ubiquitinadas) para a degradação. Também podem degradadas algumas proteínas associadas à membrana. SAIBA MAIS! Os cientistas descobriram que as proteínas indesejadas, capazes, por exemplo, de levar a erros na multiplicação das células, recebem o que foi denominado de “beijo da morte” de uma mo- lécula chamada ubiquitina, que se fixa a elas e as conduzem até os proteossomos. Um pouco antes da destruição pelos proteossomos começar, a ubiquitina solta-se de sua vítima e começa a procurar outra proteína a ser descartada. A descoberta desse mecanismo do “beijo da morte” rendeu o prêmio Nobel de Química ao bioquímico norte-americano Irwin Rose em 2004. 16FISIOLOGIA CELULAR E POTENCIAL DE AÇÃO E TRANSMISSÃO SINÁPTICA Peroxissomos Os peroxissomos são fisicamente parecidos com os lisossomos, mas diferentes em dois aspectos impor- tantes. Primeiro, acredita-se que eles sejam formados por autorreplicação (ou talvez por brotamento do retículo endoplasmático liso) e não pelo com- plexo golgiense. Em segundo lugar, eles contêm oxidases em vez de hi- drolases. Diversas oxidases são ca- pazes de combinar oxigênio com íons hidrogênio derivados de diferentes substâncias químicas intracelulares para formar o peróxido de hidrogênio (H2O2). O peróxido de hidrogênio é uma substância altamente oxidante e usado em combinação com a catala- se, outra oxidase presente em grande quantidade nos peroxissomos, para oxidar muitas substâncias que de ou- tra forma poderiam ser tóxicas para a célula. Além disso, os peroxissomos podem catabolizar os ácidos graxos de cadeia longa. SE LIGA! No fígado, os peroxissomos metabolizam cerca de metade do ál- cool que uma pessoa bebe, formando acetaldeído. 17FISIOLOGIA CELULAR E POTENCIAL DE AÇÃO E TRANSMISSÃO SINÁPTICA MAPA MENTAL – ORGANELASVESICULARES Presença de membrana ORGANELAS VESICULARES Lisossomos Peroxissomos Proteassomos Sistema digestivo intracelular Interior ácido H+-ATPases Macromoléculas (nutrientes metabólicos) Materiais indesejados Estruturas celulares danificadas Presença de hidrolases Não formam-se do Complexo de Golgi Catabolismo de ácidos graxos de cadeia longa Presença de oxidases Oxidação de substâncias tóxicas Formação de peróxido de hidrogênio Catalase Ausência de membrana Função degradativa Proteínas intracelulares e de membrana Ubiquitinadas “Beijo da morte” 18FISIOLOGIA CELULAR E POTENCIAL DE AÇÃO E TRANSMISSÃO SINÁPTICA Ribossomos livres Os ribossomos podem ser encontra- dos dispersos pelo citoplasma, não estando associados ao retículo endo- plasmático. Têm a função de traduzir o RNAm, formando as proteínas ci- tosólicas e que não serão secretadas pela célula nem incorporadas a estru- turas membranosas, como as enzi- mas mitocondriais. Citoesqueleto O citoesqueleto celular é uma rede de proteínas fibrilares geralmente or- ganizadas em filamentos ou túbulos. As moléculas precursoras são sin- tetizadas pelos ribossomos no cito- plasma e se polimerizam para formar filamentos. O citoesqueleto participa de uma série de eventos celulares di- nâmicos, tais como: a divisão celular, o transporte intracelular de vesículas, o movimento flagelar ou ciliar, mo- bilidade celular e a fagocitose. Seus componentes são os filamentos de actina (também chamados de micro- filamentos), filamentos intermediários e microtúbulos. Os filamentos de actina, ou microfi- lamentos, apresentam o menor di- âmetro, entre os componentes do citoesqueleto, e são formados pela polimerização da proteína globu- lar actina G. Nas células musculares, são componentes fundamentais do aparelho contrátil. Em outras células, estão relacionados à locomoção (ex.: macrófagos). A actina também com- põe o cerne das microvilosidades e liga o interior de célula a célula adja- centes por meio de junções celulares. Os filamentos intermediários são im- portantes na sustentação e estrutu- ração do envelope nuclear, na coesão entre células epiteliais ( junções célu- la-célula) e na resistência mecânica contra estresses físicos. São forma- dos por uma grande e diversa família de proteínas fibrosas. Por exemplo, as células epiteliais têm filamentos de queratina, enquanto os neurônios têm neurofilamentos. Por fim, os microtúbulos são a tercei- ra classe de componentes do citoes- queleto, sendo o mais espesso dentre eles. Os microtúbulos estão envolvi- dos em diversos processos celulares, incluindo a formação dos centríolos e do fuso mitótico (para separação dos cromossomos para as células-filhas) durante a divisão celular, o tráfego intracelular de vesículas e organe- las e a formação dos cílios e flagelos. São formados pela polimerização de proteínas globulares, denominadas tubulinas α e β, que foram os hete- rodímeros responsáveis pelo alonga- mento do filamento. Em geral, existe um centro organizador dos microtú- bulos, também conhecido como cen- trossomo, próximo ao núcleo celular, e os microtúbulos crescem a partir desse centro em direção à periferia da célula. 19FISIOLOGIA CELULAR E POTENCIAL DE AÇÃO E TRANSMISSÃO SINÁPTICA FILAMENTOS INTERMEDIÁRIOS FILAMENTOS DE ACTINA MICROTÚBULOS SE LIGA! O movimento de vesículas e organelas proporcionado pelos microtúbulos é impul- sionado por proteínas motoras. Uma proteína motora, a cinesina, impulsiona o transporte do centro da célula em direção à periferia, enquanto outra proteína motora, a dineína impulsiona o movimento no sentido contrário. A dineína é a proteína motora responsável pelo movimento dos cílios e flagelos. Figura 6. Elementos do citoesqueleto. Fonte: Bruce Alberts, Dennis Bray, Karen Hopkin, Alexander Johnson, Julian Lewis, Mar- tin Raff, Keith Roberts, Peter Walter. (2017). Fundamentos da Biologia Celular. 6ª Ed. Editora Artmed, Porto Alegre, 864p 20FISIOLOGIA CELULAR E POTENCIAL DE AÇÃO E TRANSMISSÃO SINÁPTICA MAPA MENTAL – CITOESQUELETO Funções Menor diâmetro Formados por actina G Filamentos de actina CITOESQUELETO Microtúbulos Filamentos intermediários Contração muscular Junções celulares Locomoção Microvilosidades Funções Formados por proteínas fibrosas Resistência mecânica Junções célula - célula Sustentação do envelope nuclear Funções Formados por tubulinas α e β Maior diâmetro Centrossomo Centríolos Fuso mitótico Cílios e flagelos Tráfego intracelular de vesículas e organelas Proteínas motoras (cinesina e dineína) 21FISIOLOGIA CELULAR E POTENCIAL DE AÇÃO E TRANSMISSÃO SINÁPTICA 3. MEMBRANA PLASMÁTICA As células do organismo são cerca- das pela membrana plasmática, uma estrutura fina, flexível e elástica que separa o conteúdo intracelular do ambiente extracelular. Além disso, as membranas também cercam diversas organelas intracelulares, subdividindo as células em compartimentos onde ocorrem diversos processos intrace- lulares importantes. Devido às propriedades e à compo- sição da membrana, ela está relacio- nada a diversas funções celulares im- portantes, entre elas: • Transporte seletivo de moléculas para dentro e para fora da célula, função realizada pelas proteínas de transporte; • Reconhecimento celular • Comunicação celular por meio de neurotransmissores, receptores de hormônios e vias de transdução de sinal • Organização tecidual, como as jun- ções celulares, além de interação com a matriz extracelular por meio de diversas moléculas de aderên- cia celular • Atividade enzimática • Determinação da forma celular, pela ligação do citoesqueleto à membrana plasmática Composição As membranas celulares são com- postas basicamente por uma bica- mada lipídica e proteínas associadas. A bicamada lipídica, um fino filme for- mado por dupla camada de lipídios – cada camada com espessura de apenas uma molécula – contínua por toda a superfície da célula. Essa du- pla camada é composta por três tipos principais de lipídios: fosfolipídios, es- fingolipídios e colesterol. 22FISIOLOGIA CELULAR E POTENCIAL DE AÇÃO E TRANSMISSÃO SINÁPTICA Cadeia glicídica do glicolipídio Cadeia glicídica do glicolipídio Bicamada fosfolipídica Proteína periférica Proteína integral Lipídio Figura 7. Esquema da ultraestrutura da membrana plasmática. Fonte: AIRES, Margarida de Mello. Fisiologia. 4. Ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2012 Lipídios Os fosfolipídios constituem o tipo mais abundante na membrana e são molé- culas anfipáticos, isto é, são caracte- rizados por uma extremidade solúvel em água (hidrofílica), formada por gli- cerol e um álcool ligado a ele por meio de um grupo fosfato, enquanto outra extremidade é solúvel apenas em li- pídios (hidrofóbica), formada por duas caudas de ácidos graxos. Pelo fato de as partes hidrofóbicas das molé- culas de fosfolipídio serem repelidas pela água, mas, se atraírem entre si, elas espontaneamente se dispõem no interior da membrana. Já as par- tes hidrofílicas constituem as duas superfícies (intracelular e extracelu- lar) da membrana celular completa. SE LIGA! O álcool ligado ao glicerol do fosfolipídio é variável, sendo os mais co- muns a colina, a etanolamina, a serina, o inositol e o glicerol. De acordo com o álcool presente, o fosfolipídio recebe um nome característico, como fosfatidilseri- na, fosfatidilinositol, fosfatidiletanolami- na etc. Os esfingolipídios, derivados do ami- noálcool esfingosina, também têm grupos hidrofóbicos e hidrofílicos, estão presentes em pequenas quan- tidades nas membranas celulares, particularmente nas células nervosas e atuam em diversas funções (ex.: 23FISIOLOGIA CELULAR E POTENCIAL DE AÇÃO E TRANSMISSÃO SINÁPTICA proteção contra fatores ambientais prejudiciais, transmissão de sinais e como sítios de adesão para proteínas extracelulares). As moléculas de colesterol na mem- brana também são lipídios, apresen- tam núcleos esteroidesaltamente lipossolúveis e encontram-se dissol- vidas na bicamada da membrana. É encontrado nos dois folhetos da membrana e serve para estabilizar a membrana na temperatura corporal normal, exercendo influência sobre sua fluidez. Fosfolipídio Glicolipídio Colesterol Re gi ão h id ro fíl ic a Álcool Fosfato Açúcar (p.ex., galactose) Grupo OH Região esteroide Cauda de ácidos graxos “Caudas de ácidos graxos” Re gi ão h id ro fó bi ca Figura 8. Modelos das principais classes de lipídio da membrana plasmática. Fonte: KOEPPEN, Bruce M.; STANTON, Bruce A.. Berne & Levy: Fisiologia. 6.ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009 SE LIGA! Como os lipídios e as proteínas podem se difundir pelo plano da membrana e sua aparência varia regionalmente, em virtude da presença de diferentes proteínas, a descrição da estrutura da membrana plasmática é frequentemente chamada de modelo do mosaico fluido. A fluidez da membrana é determina pela temperatura e por sua composição lipídica. À medida que a temperatura aumenta, a membrana fica mais fluida. A presença de cadeias insaturadas de ácidos graxos nos lipídios também aumenta a fluidez da membrana.] 24FISIOLOGIA CELULAR E POTENCIAL DE AÇÃO E TRANSMISSÃO SINÁPTICA A composição dos fosfolipídios da membrana varia entre os distintos ti- pos celulares, e, até mesmo, entre os folhetos da bicamada (assimetria), como vemos na tabela abaixo: FOSFOLIPÍDEO LOCALIZAÇÃO NA MEMBRANA (CAMADA) Fosfatidilcolina Externa Esfingomielina Externa Fosatidiletanolamina Interna Fosfatidilserina Interna Fosfatidilinositol* Interna Tabela 1. Distribuição dos fosfolipídios na membrana plasmática. Fonte: KOEPPEN, Bruce M.; STANTON, Bruce A.. Berne & Levy: Fisiologia. 6.ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009 SE LIGA! Algumas membranas contêm lipídios que se agregam, formando es- truturas chamadas de balsas lipídicas. Essas balsas, frequentemente, estão associadas a proteínas específicas e se difundem como unidades distintas no plano da membranas. As balsas lipídicas parecem ter diversas funções; um delas é segregar os mecanismos e as molécu- las de sinalização. Proteínas Além dos lipídios, outros componen- tes muito importantes das membra- nas são as proteínas, as quais com- põem até 50% da membrana. As proteínas de membrana são classifi- cadas, de acordo com sua localização na bicamada, em 3 grupos essenciais: • Proteínas periféricas (extrínsecas) - Compreendem aquelas que não chegam a interagir fortemente com as cadeias hidrocarbônicas dos li- pídios, situando-se essencialmen- te na região dos grupos polares, com os quais interagem através de pontes de hidrogênio ou eletrosta- ticamente. No entanto, as proteí- nas periféricas se ligam, com mais frequência, a proteínas integrais ou ancoradas, por lipídeos. Essas proteínas podem ser removidas da membrana com tratamentos pou- co agressivos, tais como mudança do pH ou da força iônica do meio. Tais manobras interferem, quase que exclusivamente, nas intera- ções proteína-proteína, não intro- duzindo modificações nos lipídios. • Proteínas ancoradas – Normal- mente, encontram-se covalente- mente ancoradas através de molé- culas lipídicas. • Proteínas integrais (intrínsecas) – São aquelas inseridas de tal modo na membrana celular que intera- gem não só em nível de cabeças polares, mas também com as regi- ões hidrofóbicas dos fosfolipídios. Por essa razão, podem ser vistas 25FISIOLOGIA CELULAR E POTENCIAL DE AÇÃO E TRANSMISSÃO SINÁPTICA também como substâncias anfipá- ticas, já que devem ter regiões po- lares e outras apolares para intera- ção com os lipídios. Sua remoção requer tratamentos mais drásticos, com substâncias que destroem a membrana, como os detergentes. As proteínas integrais, por trans- passarem completamente a bica- mada, servem à conexão entre o intra e o extracelular, prestando- -se à passagem de substâncias (como é o caso de carregadores transmembranas e canais iônicos) ou à transmissão de mensagens ao intracelular (como é o caso de receptores). SE LIGA! Uma proteína intrínseca pode atravessar a membrana uma única vez ou ter regiões que atravessam a bica- mada múltiplas vezes. Em qualquer situ- ação, tem que ser admitido que a região mergulhada no interior da bicamada deve ser constituída por aminoácidos hidrofóbicos. Carboidratos Os carboidratos na membrana ocor- rem, quase invariavelmente, em com- binação com proteínas ou lipídios, na forma de glicoproteínas ou glico- lipídios. Na verdade, muitas proteí- nas integrantes são glicoproteínas, e cerca de um décimo das moléculas de lipídios da membrana é composto de glicolipídios. Geralmente, as por- ções de açúcares dessas moléculas se estendem para a superfície exter- na da membrana da célula. Muitos outros compostos de carboidratos, chamados proteoglicanos – que são principalmente carboidratos ligados ao núcleo de pequenas proteínas -, estão frouxamente ligados também à superfície externa da célula. Assim, toda a superfície externa da célula, em geral, apresenta um revestimen- to frouxo de carboidratos conhecido como glicocálice. Essa camada de açúcares exerce algumas funções na célula: • Muitos deles têm carga elétrica ne- gativa, o que dá à maioria das cé- lulas uma superfície negativamen- te carregada que repele ânions. • O glicocálice de algumas células se une ao glicocálice de outras, assim fixando as células umas às outras. • Muitos dos carboidratos agem como receptores de substâncias para a ligação de hormônios, ati- vando proteínas internas acopla- das que, por sua vez, ativam cas- cata de enzimas intracelulares. • Alguns domínios de carboidratos participam de reações imunes. Transporte pela membrana Os líquidos intra e extracelulares são compostos, principalmente, por água, na qual se dissolvem os solutos, como íons, glicose, aminoácidos e outras 26FISIOLOGIA CELULAR E POTENCIAL DE AÇÃO E TRANSMISSÃO SINÁPTICA moléculas. A funcionalidade normal das células requer o movimento con- tínuo de água e solutos para dentro e para fora da célula. Nesse sentido, a característica anfipática da membrana faz com que ela funcione como uma barreira seletiva controlando o movi- mento de, praticamente, todos esses solutos de importância biológica, além de restringir o movimento de água. Assim, a não ser pelos gases e pelo etanol que são capazes de se difundir através da bicamada lipídica (difusão simples), as demais substâncias só são capazes de cruzar a membrana plasmática através de proteínas de transporte específicas. SE LIGA! O gradiente eletroquímico corresponde a uma medida de energia livre disponível para realizar o trabalho útil de transportar a molécula através da membrana. Apresenta dois componentes – um deles representa a energia no gradiente de concentração para uma subs- tância X através da membrana (diferencial de potencial químico), enquanto o outro (diferença de potencial elétrico) representa a energia associada a moléculas carregadas em movimento (ex.: íons) através da membrana, quando existe um potencial de membrana. Assim, para o movimento da glicose, por exemplo, através de uma membrana, só é necessário considerar as concentrações de glicose dentro e fora da célula. No entanto, o movimento de através da membrana, por exemplo, seria determinado tanto pela concentração de dentro e fora da cé- lula quanto pela voltagem da membrana. Considerando que já sabemos o que é gradiente eletroquímico, entende- mos que o transporte de soluto atra- vés da membrana pode ser de dois tipos: o transporte passivo, no qual o movimento de um molécula atra- vés da membrana ocorre na direção prevista pelo gradiente eletroquímico e corresponde aos processos de di- fusão simples e difusão facilitada; já o transporte ativo, é aquele que vai contra o gradiente eletroquímico, isto é, o movimento da molécula ocor- re no sentido oposto previsto pelo gradiente. 27FISIOLOGIA CELULAR E POTENCIAL DE AÇÃO E TRANSMISSÃO SINÁPTICA Difusãosimples É o movimento da substância de uma região de alta para uma de baixa con- centração; ocorre na mesma direção (a favor) do gradiente de concentra- ção da substância (no meio intra e ex- tracelular) e não há gasto energético por parte da célula. Difusão facilitada Muitos nutrientes essenciais para as células (como açúcares, aminoácidos, nucleotídeos e bases orgânicas) são constituídos por moléculas hidrofíli- cas e, por isso, não conseguem atra- vessar a membrana celular por di- fusão simples. Sendo assim, muitas membranas dispõem de sistemas especiais de transporte que permi- tem a translocação dessas moléculas entre os meios intra e extracelulares. Dentro as proteínas transportadores, temos: Canais de água Os canais de água, ou aquaporinas, são a principal via de transporte de água para dentro e para fora da cé- lula. Estão amplamente distribuídos por todo o organismo e são altamen- te especializados, embora existam di- ferentes isoformas nos diversos tipos celulares. A quantidade de água que sai ou entra na célula através desses canais pode ser relada pela alteração Figura 9. Vias de transporte através da membrana celular e seus mecanismos básicos de transporte. Fonte: HALL, John E.. Tratado de Fisiologia Médica: Guyton e Hall. 13. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2017. 1176 p 28FISIOLOGIA CELULAR E POTENCIAL DE AÇÃO E TRANSMISSÃO SINÁPTICA no número de canais na membrana ou de sua permeabilidade, isto é, nú- mero de canais abertos ou fechados. A rapidez com que as moléculas de água podem se difundir através da maioria das membranas celulares é impressionante. Como exemplo, a quantidade total de água que se difunde em cada direção pelas mem- branas das hemácias, a cada segun- do, é cerca de 100 vezes maior que o volume da própria hemácia. SE LIGA! O pH é um dos fatores capa- zes de modular a permeabilidade das aquaporinas. SAIBA MAIS! As aquaporinas se dividem em dois grupos. Um grupo só é permeável à água. O segundo grupo é permeável à água e, também a substâncias de baixo peso molecular. Por permitirem a passagem do glicerol, os integrantes do segundo grupo são chamados de aquagliceroporinas. Canais Iônicos Os canais iônicos estão presentes em todas as células sendo especial- mente importantes para a função das células excitáveis, como os neurônios e células musculares. São proteínas integrais que atravessam a membra- na e, quando abertas, possibilitam a passagem de determinados íons. São classificados conforme sua sele- tividade, que se baseia no tamanho do canal e na distribuição das cargas que o revestem. Podem ser altamen- te seletivos, permitindo a passagem de apenas um íon específico. No en- tanto, podem ser não-seletivos, per- mitindo a passagem de todos os cá- tions ou ânions, ou de grupos iônicos. Os canais também são caracterizados conforme sua condutância, que é, ti- picamente, expressa em picosiemens (pS). A condutância de um canal de- pende da probabilidade de o canal estar aberto. Quanto maior a probabi- lidade, maior a condutância, ou perme- abilidade. A abertura e o fechamento dos canais são controlados por com- portas. Em alguns canais, a condutân- cia varia conforme a direção na qual o íon se move. Por exemplo, se o canal tiver maior condutância quando os íons se movem para o interior da célula, será chamado de retificador de fluxo. A abertura ou fechamento do canais podem ser controlados pela voltagem da membrana, por agonistas ou an- tagonistas, por mensageiros intrace- lulares e pelo estiramento mecânico da membrana plasmática. O fluxo de íons através da membrana pode ser regulado pela alteração do número de canais na membrana ou pela abertura ou fechamento desses canais. 29FISIOLOGIA CELULAR E POTENCIAL DE AÇÃO E TRANSMISSÃO SINÁPTICA SAIBA MAIS! No caso de ativação da comporta por voltagem, a conformação molecular do canal ou das suas ligações químicas reage ao potencial elétrico através da membrana celular. Por exemplo, se há uma forte carga negativa no lado interno da membrana celular, poderia presumivelmen- te fazer com que as compostas externas do canal de sódio permanecessem fechadas; de modo inverso, se o lado interno da membrana perdesse sua carga negativa, essas comportas poderiam de modo abrupto se abrir, permitindo que o sódio entrasse na célula, passando pelos poros de sódio. Esse é o mecanismo básico para a geração de potenciais de ação nas fibras nervosas responsáveis pelos sinais nervosos. Exterior Interior Comporta Na+ fechada Comporta aberta Na+ Figura 10. Transporte de íons sódio através de proteínas canais. Fonte: HALL, John E.. Tratado de Fisiologia Médica: Guyton e Hall. 13. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2017. 1176 p Carreadores de solutos Os carreadores de solutos represen- tam uma grande família de transpor- tadores de membrana, apresentando mais de 40 tipos diferentes. Nesse tipo de transporte, o soluto a ser trans- portado liga-se a uma proteína carre- adora em um lado da membrana por meio de ligações fracas não covalen- tes, e então o carreador sofre mudan- ças conformacionais que permitem ao soluto ser liberado no outro lado da membrana. Podem ser utilizados em transportes tanto do tipo difusão facilitada, quanto do tipo transporte ativo primário ou secundário. Tais carreadores se dividem em três grupos funcionais principais: • Uniportadores – Transportam uma só molécula por vez através da membrana (ex.: GLUT2, transpor- tador que proporciona a entrada da glicose na célula) 30FISIOLOGIA CELULAR E POTENCIAL DE AÇÃO E TRANSMISSÃO SINÁPTICA • Simportadores (ou cotransporta- dores) – Associam o movimento de duas ou mais moléculas/íons através da membrana na mesma direção. • Antiportadores (ou trocadores ou contratransportadores) – As- sociam o movimento de duas ou mais moléculas ou íons através da membrana, porém, em sentidos opostos. Molécula transportada Local de ligação Proteína carreadora e alteração conformacional Liberação da ligação Figura 11. Mecanismo postulado para a difusão facilitado (tipo uniporte). Fonte: HALL, John E.. Tratado de Fisiologia Médica: Guyton e Hall. 13. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2017. 1176 p SE LIGA! Uma das diferenças entre canais e carreadores é que os primeiros formam vias permanentes de comunicação entre os dois lados da membrana, enquanto os segundos ex- põem, alternadamente, locais de ligação para o substrato, de um lado ou outro lado da mem- brana. Outra diferença é o fato de que os canais apresentarem taxas de transporte maiores que os carreadores. 31FISIOLOGIA CELULAR E POTENCIAL DE AÇÃO E TRANSMISSÃO SINÁPTICA Transporte ativo O transporte ativo consiste no movi- mento de substâncias contra um gra- diente de potencial eletroquímico. É termodinamicamente desfavorável e ocorre apenas quando acoplado a um processo de obtenção de energia, em geral a hidrólise do ATP. O transporte ativo é dividido em dois tipos, de acordo com a fonte de ener- gia usada para facilitar o transporte: primário e secundário. No transporte ativo primário, a energia é derivada di- retamente da degradação do trifosfa- to de adenosina (ATP) ou de qualquer outro composto de fosfato com alta energia. Existem dois grupos de trans- portadores dependentes de ATP: • Transportadores iônicos do tipo ATPase – Subdividem-se em ATPases dos tipos P e V. As ATPa- ses do tipo P são, caracteristica- mente, fosforiladas durante o ciclo de transporte. A ,- ATPase é um importante exemplo presente em todas as células, de modo que, com a hidrólise de cada molécula de ATP, três íons são transportados para fora da célula e dois íons para dentro da célula. Essa ATPase tem um papel fundamental na formação de gradientes iônicos e elétricos na manutenção do volume celular. Já a - ATPase do tipo V é encontrada nas membranas de diversas orga- nelas intracelulares, sendo assim chamada de - ATPase vacuolar. A - ATPase também está presen- te na membrana plasmática, tendo importante papel na acidificaçãourinária. Exterior Interior ATP 3Na+ 2K+ 2K+ 3Na+ ADP + Pi ATPase Figura 12. Mecanismo postulado para a bomba de sódio – potássio. Fonte: HALL, John E.. Tratado de Fisiologia Médi- ca: Guyton e Hall. 13. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2017. 1176 p 32FISIOLOGIA CELULAR E POTENCIAL DE AÇÃO E TRANSMISSÃO SINÁPTICA Transportadores do tipo ABC – Re- presentam um grande grupo de transportadores de membrana. São encontrados nas células procarióti- cas e eucarióticas, caracterizando-se por conterem domínios de aminoáci- dos que se ligam ao ATP, nomeados como cassetes de ligação ao ATP. Existem 7 subgrupos de transporta- dores do tipo ABC em humanos, e já foram identificados mais de 40 trans- portadores específicos que transpor- tam um grupo variado de moléculas e íons, como , colesterol, ácidos biliares, fármacos, ferro e ânions orgânicos. Já no transporte ativo secundário, a energia é derivada secundariamente da energia armazenada na forma de diferentes concentrações iônicas de substâncias moleculares secundá- rias ou iônicas entre os dois lados da membrana da célula, gerada origina- riamente por transporte ativo primá- rio. Em outras palavras, é um proces- so em que o transporte do soluto A, que se efetua contra seu gradiente eletroquímico, está acoplado ao do soluto B, que ocorre a favor de seu gradiente de potencial eletroquímico. Por exemplo, os íons (transportado para o interior celular a favor do seu gradiente de potencial eletroquímico) fornece energia para o movimento acoplado de outro soluto que passa a ser transportado contra seu poten- cial eletroquímico. Nessa condição, a energia metabólica proveniente da hidrólise do ATP não é utilizada dire- tamente para o transporte de soluto, mas é fornecida, de modo indireto, pelo gradiente de concentração do através da membrana celular. Há dois tipos de transporte ativo secundário: cotransporte ou simporte, quando o soluto move-se na mesma direção que o , e contratransporte ou antipor- te, quando o soluto move-se na di- reção oposta ao (os transportadores envolvidos nesse tipo de transporte já foram apresentados no tópico “Carre- adores de Solutos”). 33FISIOLOGIA CELULAR E POTENCIAL DE AÇÃO E TRANSMISSÃO SINÁPTICA Local de ligação de Na Na+ Glicose GlicoseNa+ Local de ligação da glicose Na+ Na+ Ca++ H+ Exterior Interior Figura 13. Mecanismo postulado para o cotransporte de sódio-glicose. Fonte: HALL, John E.. Tratado de Fisiologia Médica: Guyton e Hall. 13. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2017. 1176 p Figura 14. Contratransporte dependente de sódio de íons de cálcio de hidrogênio. Fonte: HALL, John E.. Tratado de Fisiologia Médica: Guyton e Hall. 13. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2017. 1176 p 34FISIOLOGIA CELULAR E POTENCIAL DE AÇÃO E TRANSMISSÃO SINÁPTICA Transporte vesicular Os solutos e a água podem ser le- vados ao interior da célula pelo pro- cesso de endocitose e removidos da célula pelo processo de exocitose. Nos dois processos, a integridade da membrana plasmática se mantém e as vesículas formadas permitem a transferência de substâncias entre compartimentos celulares. SE LIGA! Em algumas células, como nas células epiteliais que revestem o trato gastrointestinal, a endocitose atra- vés da membrana celular é seguida pela exocitose através da membrana oposta. Isso permite o transporte de substâncias através do epitélio pelo processo cha- mado transcitose. A endocitose pode ser subdividida em três mecanismos: • Pinocitose: Corresponde à ingestão de minúsculas partículas que for- mam vesículas de líquido extracelu- lar e por componentes particulados no interior do citoplasma da célula. Ocorre continuamente nas mem- branas celulares da maioria das cé- lulas, mas é especialmente rápida em algumas delas. Mesmo assim, as vesículas pinocíticas são muito pequenas, normalmente, apenas 100 a 200 nanômetros de diâme- tro, de modo que a maioria delas só pode ser vista ao microscópio ele- trônico. É a única forma pela qual a maioria das grandes macromolécu- las, tal como a maior parte das mo- léculas de proteínas, pode entrar nas células. A pinocitose é característica proeminente de células endoteliais que revestem os capilares, sendo responsável por parte da troca de lí- quidos que ocorre através dos vasos sanguíneos. SE LIGA! A velocidade de formação de vesículas pinocíticas costuma aumentar quando essas macromoléculas aderem à membrana celular. • Fagocitose: Ocorre de forma mui- to parecida com a pinocitose, mas envolve partículas grandes em vez de moléculas. Apenas certas célu- las têm a capacidade da fagocitose, principalmente os macrófagos dos tecidos e alguns leucócitos (célu- las do sistema imune). Ela se ini- cia quando uma partícula, tal como uma bactéria, uma célula morta, ou restos de tecido, se liga a recepto- res na superfície do fagócito. SAIBA MAIS! No caso das bactérias, cada uma geralmente está ligada a uma anticorpo específico, que é o anticorpo que se liga aos receptores do fagócito, arrastando a bactéria com ele. Essa interme- diação de anticorpos é chamada de opsonização. 35FISIOLOGIA CELULAR E POTENCIAL DE AÇÃO E TRANSMISSÃO SINÁPTICA • Endocitose mediada por recepto- res: Permite a absorção de molécu- las específicas na superfície celu- lar. Diversas proteínas acessórias, como a adaptina, a clatrina e a GTPase chamada dinamina, parti- cipam da endocitose. Figura 15. Três tipos de endocitose. Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Endocitose Por outro lado, a exocitose pode ser constitutiva ou regulada. A secreção constitutiva é vista, por exemplo, nos plasmócitos que secretam imunoglo- bulinas ou nos fibroblastos que secre- tam colágeno. Já a secreção regulada ocorre em células endócrinas, neurô- nios e células glandulares exócrinas. Nessas células, o produto secretado (ex.: hormônio, neurotransmissor ou enzima digestiva), depois de ser sin- tetizado e processado no REr e no aparelho de Golgi, é armazenado no citoplasma, dentro de grânulos se- cretores, até que seja recebido o si- nal apropriado para a secreção. Esses sinais podem ser hormonais ou neu- rais. Quando a célula recebe o estí- mulo apropriado, a vesícula secretora se funde com a membrana plasmáti- ca, liberando seu conteúdo no líquido extracelular. 36FISIOLOGIA CELULAR E POTENCIAL DE AÇÃO E TRANSMISSÃO SINÁPTICA SE LIGA! A fusão da vesícula com a membrana é mediada por diversas proteínas acessórias, com destaque para as proteínas SNAREs. Elas são proteínas de membrana que ajudam a direcionar a vesícula secretora para a membrana plasmática. Figura 16. Exocitose. Fonte: Bruce Alberts, Dennis Bray, Karen Hopkin, Alexander Johnson, Julian Lewis, Martin Raff, Keith Roberts, Peter Walter. (2017). Fundamentos da Biologia Celular. 6ª Ed. Editora Artmed, Porto Alegre, 864p SAIBA MAIS! O processo de secreção regulada, geralmente, é desencadeado pelo aumento intracelular de íons . No entanto, existem duas notáveis exceções a essa regra geral: a secreção de renina pelas células justaglomerulares renais é desencadeada por diminuição do intracelular, assim como a secreção de paratormônio (PTH) pelas células paratiroides. 37FISIOLOGIA CELULAR E POTENCIAL DE AÇÃO E TRANSMISSÃO SINÁPTICA MAPA MENTAL – MEMBRANA PLASMÁTICA Composição MEMBRANA PLASMÁTICA Transporte Funções Transporte seletivo de moléculas Reconhecimento celular Organização celular Atividade enzimática Comunicação celular Forma da célula Colesterol Fosfolipídios Ancoradas Carga negativa Esfingolipídios Periféricas Receptor Reações imunes Integrais Tipos Proteínas Glicocálice Influencia na fluidez Lipídios Bicamada Assimetria Carboidratos Passivo Ativo Sem gasto de energia A favor do gradiente eletroquímico Difusão simples Difusão facilitada Através da membrana Proteínas transportadoras Aquaporinas Canais iônicos Carreadoras de soluto Vesicular Contra o gradiente eletroquímico Gasto de energia Primário SecundárioATP Antiporte Simporte Endocitose Fagocitose Pinocitose Endocitose mediada por receptor Exocitose Regulada Constitutiva 38FISIOLOGIA CELULAR E POTENCIAL DE AÇÃO E TRANSMISSÃO SINÁPTICA Osmose e Pressão Osmótica Quando duas soluções aquosas com diferentes concentrações de solutos estão separadas por uma membra- na que só é permeável às moléculas de água, mas não às de soluto, as moléculas hídricas difundem da so- lução com menor concentração de soluto para aquela com maior con- centração. Esse fenômeno, muito im- portante para os seres vivos é conhe- cido por osmose. Água Solução de NaCl Osmose Figura 17. Osmose na membrana celular, quando a solução de cloreto de sódio é colocada em um lado da membrana e a água é colocada do outro lado. Fonte: HALL, John E.. Tratado de Fisiologia Médica: Guyton e Hall. 13. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2017. 1176 p O movimento de água é passivo e a força motriz para esse movimento é a diferença de pressão osmótica entre os dois lados da membrana celular. A pressão osmótica corresponde à pressão necessária para interromper a osmose e é determinada unicamen- te pelo número de moléculas presen- tes na solução. Ela pode ser expressa em termos de osmolaridade. Assim, independentemente do tipo de molé- cula, uma solução contendo 1mmol/L de soluto exerce pressão osmótica de 1 mOsm/L. No entanto, para as moléculas que se dissociam em solução, essa re- gra não se aplica haja vista que uma 39FISIOLOGIA CELULAR E POTENCIAL DE AÇÃO E TRANSMISSÃO SINÁPTICA solução de 150mmol/L de cloreto de sódio (NaCl) tem osmolaridade de aproximadamente 300 mOsm/L, pois cada molécula de NaCl se dissocia, formando íons e . Se a dissociação não for completa, a proporção entre a concentração e a osmolaridade não vai apresentar um número natural, mas isso não impede que a osmola- ridade seja calculada como em qual- quer outra solução: Osmolaridade = Concentração X Nú- mero de partículas dissociáveis mOsm/L = mmol/L X Nú- mero de partículas/mol Mas afinal, qual a diferença entre os- molaridade e osmolalidade? Para expressar a concentração osmótica de uma solução, são utilizados os termos osmolaridade ou osmolalidade. A osmo- laridade é definida como a concentração das partículas osmoticamente ativas, expressas em osmoles/litro. Quando é dito partículas de soluto osmoticamen- te ativas, faz-se referência às partículas que estão efetivamente dissolvidas no solvente e, em consequência disso, po- dem gerar pressão osmótica. A molaridade, que corresponde a con- centração química de um soluto em mol/L, e a osmolaridade são valores que dependem da temperatura, pois a água (o solvente) muda seu volume de acordo com a temperatura. Ape- sar de, em Fisiologia, comumente, ser utilizado o termo osmolaridade devi- do ao fato de que sua medida é mais fácil de calcular, necessita-se escla- recer que, do ponto de vista químico, é mais correto usar o termo osmo- lalidade. Isto porque a osmolalidade consiste na medida do número de osmoles de soluto por quilograma de solvente (osmol/kg),de modo que não sofre influência da temperatura. SE LIGA! Quando a concentração dos solutos é muito baixa, os termos osmo- laridade e osmolalidade são praticamen- te equivalentes. SE LIGA! Vamos deixar tudo mais cla- ro: a osmolaRidade é mais utilizada nos estudos fisiológicos, pois é mais fácil de calcular, como apresentado na fórmula acima. Porém, a osmolaLidade é a medi- da mais adequada ao abordar sistemas biológicos, pois não sofre influência da temperatura. Tonicidade A tonicidade é definida como a pres- são osmótica efetiva de uma solução, em relação a uma determinada mem- brana, exercendo influência sobre o volume da célula. Assim, as soluções podem ser classificadas como: • Isotônicas: Quando uma célula é suspensa em uma solução isos- molar determinada e não ocorre nenhuma variação do volume in- tracelular, esta solução é isotônica 40FISIOLOGIA CELULAR E POTENCIAL DE AÇÃO E TRANSMISSÃO SINÁPTICA para essa célula. Neste caso, a pressão osmótica efetiva da so- lução é igual à pressão osmótica efetiva do líquido intracelular. • Hipotônicas: Caso a célula seja sus- pensa em um solução isosmolar e haja aumento do volume intracelu- lar, a solução utilizada é hipotônica em relação ao líquido intracelular. A pressão osmótica efetiva da so- lução é substancialmente menor que a pressão osmótica efetiva do líquido intracelular. • Hipertônicas: Se a célula for sus- pensa em uma solução isosmolar e ocorrer uma diminuição do volu- me intracelular, esta solução é hi- pertônica para essa célula. A pres- são osmótica efetiva da solução é substancialmente maior que a pressão osmótica efetiva do líqui- do intracelular. Eritrócitos suspensos em solução isotônica Eritrócitos suspensos em solução hipertônica Eritrócitos suspensos em solução hipotônica Figura 18. Fluxo de água (Jágua) em eritrócitos humanos suspensos em soluções com diferentes tonicidades. Fonte: AIRES, Margarida de Mello. Fisiologia. 4. Ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2012 41FISIOLOGIA CELULAR E POTENCIAL DE AÇÃO E TRANSMISSÃO SINÁPTICA SE LIGA! Duas soluções são considera- das isosmóticas quando apresentam a mesma osmolalidade. A tonicidade também leva em consi- deração a capacidade das moléculas da solução de cruzar a membrana ce- lular. Para entender isso, vamos ver um exemplo: Considere uma solução de sacarose de 300 mmol/L e outra de ureia de 300 mmol/L. Ambas têm osmolalidade de 300 mOsm/kg H2O – isosmóticas. Quando colocamos eritrócitos nessas soluções (consideraremos que os eri- trócitos tenham osmolalidade de 300 mOsm/kg H2O em seu líquido intrace- lular), os que forem colocados na sa- carose manterão seu volume normal, enquanto os que forem colocados na ureia ficarão inchados, acabando por se romper. Assim, sabemos que a so- lução de sacarose é isotônica e a de ureia é hipotônica. Essa diferença está relacionada com as diferentes perme- abilidade da membrana plasmática à sacarose e à ureia. Portanto, a ureia cruza facilmente a membrana celular para o meio intracelular, movida pelo gradiente de concentração. Por outro lado, a membrana dos eritrócitos não contém transportadores de sacarose, de modo que esta não consegue en- trar na célula. Por ser capaz de exercer pressão os- mótica através de uma membrana, a molécula não deve cruzá-la. Como a membrana dos eritrócitos é imperme- ável à sacarose, ela exerce pressão osmótica de valor igual à pressão os- mótica gerada pelo conteúdo do eri- trócito em sentido oposto. Por outro lado, a ureia cruza facilmente a mem- brana do eritrócito, não sendo capaz de exercer pressão osmótica para equilibrar a que é gerada pelos solu- tos intracelulares do eritrócitos. Con- sequentemente, a sacarose é dita um osmol efetivo, enquanto a ureia é um osmol inefetivo. 42FISIOLOGIA CELULAR E POTENCIAL DE AÇÃO E TRANSMISSÃO SINÁPTICA FLUXOGRAMA – TONICIDADE Fonte das imagens: https://pt.khanacademy.org/science/biology/ membranes-and-transport/diffusion-and-osmosis/a/osmosis Pressão osmótica efetiva de uma solução de modo a exercer influência sobre o volume da célula nela suspensa. TONICIDADE As soluções Podem ser classificadas em: HipotônicaIsotônica Hipertônica Pressão osmótica efetiva da solução < Pressão osmótica efetiva do da celula Pressão osmótica efetiva da solução = Pressão osmótica efetiva do da celula Pressão osmótica efetiva da solução > Pressão osmótica efetiva do da celula Aumento do volume intracelular Sem variação do volume intracelular Redução do volume intracelular 43FISIOLOGIA CELULAR E POTENCIAL DE AÇÃO E TRANSMISSÃO SINÁPTICA Pressão Oncótica A pressão oncótica é a pressão os- mótica gerada por grandes moléculas (especialmente proteínas) nas solu- ções. A pressão oncótica exercida por proteínas no plasma humano tem o valor normal de aproximadamente 26 a 28 mmHg. Embora essa pressão pareça pequena quandoconsiderada em termos de pressão osmótica (28 mmHg = 1,4 mOsm/kg H2O), trata- -se de uma força importante, envolvi- da no movimento de líquidos através dos capilares. NA PRÁTICA! Kwashiorkor – Consiste em uma condição causada no indivíduo pela deficiência severa de proteínas na dieta alimentar. A falta extrema de proteínas provoca um desequilíbrio osmótico no sistema gastrointestinal causando edema e retenção de água. A retenção de fluidos é resultado direto do mau funcionamento do sistema linfático e das trocas ca- pilares. A pressão oncótica opõe-se à pressão hidrostática nos capilares e tende a retirar água de volta para esses vasos, mas devido à falta de proteínas, não há pressão suficien- te para extrair fluidos dos tecidos e isso causa inchaço e distensão do abdome. É a mais grave e a mais comum das deficiências nutricionais nos países subdesenvolvidos e em áreas ou situações de fome prolongadas, afetando principalmente crianças. Gravidade Específica A concentração total de todas as mo- léculas, em uma solução, também pode ser medida pela gravidade es- pecífica. Esta é definida como o peso de um volume de solução dividido pelo peso de um mesmo volume de água destilada. Assim, a gravidade específica da água destilada é igual a 1. Como os líquidos biológicos con- têm diversas moléculas distintas, eles têm gravidades específicas maiores que 1. Por exemplo, o plasma huma- no normalmente tem gravidade es- pecífica na faixa de 1,008 a 1,010. 44FISIOLOGIA CELULAR E POTENCIAL DE AÇÃO E TRANSMISSÃO SINÁPTICA MAPA MENTAL – FISIOLOGIA CELULAR Citoplasma FISIOLOGIA CELULAR Membrana plasmática Núcleo Mosaico fluido Composição Transporte Lipídios Proteínas Carboidratos Difusão simples Difusão facilitada Primário Secundário Fagocitose Pinocitose Endocitose mediada por receptor Passagem de água Meio menos concentrado → Meio mais concentrado Passivo Ativo Vesicular Osmose Armazena o genoma Proteínas DNA Envelope nuclear Poros nucleares Dupla membrana Nucléolo Síntese de ribossomos Mitocôndrias Retículo endoplasmático rugoso Aparelho de Golgi Lisossomos Proteossomos Peroxissomos Citoesqueleto Produção de energia (ATP) Fosforilação oxidativa Associado a ribossomos Síntese de proteínas Retículo endoplasmático liso Metabolização e modificação de substâncias Síntese de lipídios Modificações pós- traducionais nas proteínas Empacotamento em vesículas Digestão intracelular Autofagia Digestão de partículas Materiais indesejados Degradação de proteínas Oxidação de substâncias Microtúbulos Filamentos de actina Filamentos intermediários Proteínas motoras Actina G Proteínas fibrosas Tubulina 45FISIOLOGIA CELULAR E POTENCIAL DE AÇÃO E TRANSMISSÃO SINÁPTICA 4. SINALIZAÇÃO CELULAR A sinalização celular é um mecanis- mo de comunicação entre as células que se encontra presente nas mais diversas formas de vida, desde or- ganismos unicelular, como bacté- rias, fungos e protozoários, até seres multicelulares. A complexidade dos organismos multicelulares exibe um elevado grau de sofisticação devidos aos diversos e complexos sistemas de sinalização celular, presentes em diversos processos vitais. O mecanismo de sinalização celular envolve a participação de uma cé- lula sinalizadora, responsável pela produção e, na maioria dos casos, li- beração de uma molécula sinalizado- ra, denominada ligante, e uma célula- -alvo, que apresenta receptores para reconhecer o ligante específico. A natureza química dos ligantes é bas- tante diversa, incluindo desde gases, como o óxido nítrico, até pequenas moléculas hidrofóbicas, como lipíde- os e esteroides, ou mesmo peptídeos e proteínas. Por outro lado, os recep- tores celulares são proteínas específi- cas que podem estar localizadas nas membranas celulares ou solúveis no citosol ou no núcleo celular. 46FISIOLOGIA CELULAR E POTENCIAL DE AÇÃO E TRANSMISSÃO SINÁPTICA Molécula – sinal extracelular Proteína receptora Moléculas de sinalização intracelulares Proteínas efetoras Respostas celulares Enzima metabólica Proteína do citoesqueleto Regulador transcricional METABOLISMO ALTERADO FORMA OU MOVIMENTO CELULAR ALTERADOS EXPRESSÃO GÊNICA ALTERADA Figura 19. Visão geral da sinalização celular. Fonte: Bruce Alberts, Dennis Bray, Karen Hopkin, Alexander Johnson, Julian Lewis, Martin Raff, Keith Roberts, Peter Walter. (2017). Fundamentos da Biologia Celular. 6ª Ed. Editora Artmed, Porto Alegre, 864p Além dos sinais químicos externos, como hormônios, neurotransmisso- res, fatores de crescimento e produ- tos do metabolismo celular, que ser- vem como mensageiros químicos, os estímulos luminoso, mecânico e tér- mico são sinais físicos externos que também participam da coordenação da função celular por meio da sina- lização. Estas vias sinalizadoras ga- rantem que a resposta celular aos mensageiros externos seja específi- ca, amplificada, estritamente regula- da e coordenada. 47FISIOLOGIA CELULAR E POTENCIAL DE AÇÃO E TRANSMISSÃO SINÁPTICA As vias de sinalização são caracteri- zadas por (1) etapas hierárquicas e múltiplas; (2) amplificação do evento hormônio-receptor ligante, que maxi- miza a resposta; (3) ativação de múl- tiplas vias e regulação de múltiplas funções celulares; e (4) antagonismo, por meio de mecanismos constituti- vos e regulados por retroalimentação (feedback), que minimizam a respos- ta e proporcionam controle regulató- rio rígido sobre as vias de sinalização. Formas de sinalização celular • Sinalização Dependente de Con- tato: Neste tipo de sinalização, tanto os ligantes quantos os re- ceptores são proteínas integrais da membrana plasmática. Não ocorre liberação do ligante para o meio extracelular. Em alguns casos, um segundo mensageiro é transmitido de uma célula para outra, através de canais proteicos ( junções co- municantes) presentes nas mem- branas das duas células. Célula sinalizadora Célula alvoMolécula sinalizadora ligante de membrana Figura 20. Sinalização dependente de contato. Fonte: KOEPPEN, Bruce M.; STANTON, Bruce A.. Berne & Levy: Fisiologia. 6.ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009 SE LIGA! As junções comunicantes são junções especializadas que permitem a difusão de moléculas sinalizadoras intracelulares, geralmente menores que 1.200 Da em tamanho, do citoplasma de uma célula para célula adjacente. Também permitem que as células sejam ele- tricamente acopladas, o que é vitalmente importante para a atividade coordenada das células cardíacas e do músculo liso. 48FISIOLOGIA CELULAR E POTENCIAL DE AÇÃO E TRANSMISSÃO SINÁPTICA • Sinalização Parácrina: A molécu- la sinalizadora é liberada no meio extracelular, ativando somente cé- lulas vizinhas e que expressam o receptor para o ligante, presentes no mesmo microambiente. Este tipo de sinalização é muito comum nos processo alérgicos e inflama- tórios, onde os exemplos de ligan- tes parácrinos são a histamina e as citocinas. Normalmente, esses sinalizadores são absorvidos por células-alvo ou rapidamente de- gradados (dentro de minutos) por enzimas. Célula sinalizadora Hormônio local Célula alvo Figura 21. Sinalização parácrina. Fonte: KOEPPEN, Bruce M.; STANTON, Bruce A.. Berne & Levy: Fisiologia. 6.ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009 49FISIOLOGIA CELULAR E POTENCIAL DE AÇÃO E TRANSMISSÃO SINÁPTICA • Sinalização Autócrina: Envolve a li- beração de moléculas que afetam a mesma célula ou outras células do mesmo tipo. Hormônio localReceptor Figura 22. Sinalização autócrina. Fonte: KOEPPEN, Bruce M.; STANTON, Bruce A.. Berne & Levy: Fisiologia. 6.ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009 • Sinalização Sináptica: Ocorre quando neurônios transmitem si- nais elétricos ao longo de seus axônios e liberam neurotransmis- sores nas sinapses, e que afetam a função de outros neurônios ou células que estão distantes do cor- po celular do neurônio. A relação física entre o terminal nervoso e a célula-alvo assegura que o neu-rotransmissor alcance uma célula específica. A célula sinalizadora é sempre uma célula nervosa, e a célula-alvo pode ser outra célula nervosa, uma célula muscular ou uma célula de uma glândula endó- crina, por exemplo. 50FISIOLOGIA CELULAR E POTENCIAL DE AÇÃO E TRANSMISSÃO SINÁPTICA • Sinalização Endócrina: A molécu- la sinalizadora é liberada no meio extracelular, atingindo a corren- te sanguínea. As células-alvo en- contram-se em tecidos ou mesmo órgão e sistemas distantes da célu- la sinalizadora, que recebe o nome de célula endócrina. Neste caso, a molécula sinalizadora é conhecida como hormônio. Neurônio Axônio Corpo celular Sinapse Neurotransmissor Célula alvo Figura 23. Sinalização sináptica. Fonte: KOEPPEN, Bruce M.; STANTON, Bruce A.. Berne & Levy: Fisiologia. 6.ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009 51FISIOLOGIA CELULAR E POTENCIAL DE AÇÃO E TRANSMISSÃO SINÁPTICA A velocidade da resposta a uma sinal extracelular depende do mecanismo de apresentação do sinal. Os sinais endócrinos são relativamente lentos (segundos a minutos), porque é ne- cessário tempo para a difusão e para o fluxo sanguíneo para a célula-alvo, enquanto a sinalização sináptica é extremamente rápida (milissegun- dos). Se envolver alterações na ativi- dade de proteínas na célula, a respos- ta poderá ocorrer em milissegundos a segundos. Entretanto, se a resposta envolver variações na expressão gê- nica e a síntese de novas proteínas poderá demorar horas para ocorrer, necessitando de dias para atingir res- posta máxima. A resposta a uma molécula sinaliza- dora em particular também depende da capacidade da molécula de alcan- çar determinada célula, da expres- são do receptor específico e de mo- léculas sinalizadoras citoplasmáticas que interagem com o receptor. Des- sa forma, as moléculas sinalizadoras frequentemente apresentam muitos efeitos distintos que são dependen- tes do tipo celular. Célula endócrina Célula alvo Receptor Hormônio Corrente sanguínea Célula alvo Figura 24. Sinalização endócrina. Fonte: KOEPPEN, Bruce M.; STANTON, Bruce A.. Berne & Levy: Fisiologia. 6.ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009 52FISIOLOGIA CELULAR E POTENCIAL DE AÇÃO E TRANSMISSÃO SINÁPTICA SE LIGA! Um dos exemplos mais mar- cantes da propriedade citada acima é a resposta à acetilcolina pelas células musculares cardíacas, células muscu- lares esqueléticas e células das glân- dulas salivares. As células musculares cardíacas e esqueléticas possuem um tipo distinto de receptor da acetilcolina. Assim, enquanto nas cardíacas, a acetil- colina promove o relaxamento muscular, nas esquelética, o estímulo pelo mesmo ligante promove a contração da mus- culatura. Por outro lado, as células das glândulas salivares possuem o mesmo tipo de receptor das células musculares cardíacas, e quando estimuladas pela acetilcolina respondem com a secreção salivar. Sob o ponto fisiológico, geralmente, a resposta celular depende de um con- junto de sinais múltiplos e não de ape- nas um único sinal mediado por uma única molécula. Ou seja, a resposta fi- nal é o somatório de estímulos ao qual uma determina célula está submeti- da. Em alguns casos, a ausência de um estímulo modifica completamente a fisiologia celular, podendo, inclusive, levar a célula à morte. Receptores Todas as moléculas sinalizadoras se ligam a receptores específicos que atuam como transdutores de sinais, convertendo, dessa forma, um evento de ligação ligante-receptor em sinal intracelular que afeta a função celular. O número de receptores na célula-al- vo, em geral, não permanece cons- tante dia após dia ou, até mesmo, de minuto em minuto. As proteínas do receptor costumam ser inativadas ou destruídas durante o curso de sua função e, em outras vezes, são reati- vadas ou fabricadas novas proteínas. Por exemplo, o aumento da concen- tração de hormônio e o aumento da ligação aos receptores de sua célu- la-alvo, algumas vezes, fazem com que o número de receptores ativos diminua. Essa “regulação para baixo” (down-regulation) dos receptores pode ocorrer em decorrência de: (1) inativação de algumas das moléculas de receptores; (2) inativação de par- te das moléculas de sinalização das proteínas intracelulares; (3) sequestro temporário do receptor para o interior da célula, longe do local de ação dos ligantes que interagem com os recep- tores de membrana; (4) destruição dos receptores por lisossomos depois de serem interiorizados; ou (5) dimi- nuição da produção dos receptores. Em cada caso, a regulação para baixo diminui a responsividade do tecido- -alvo ao hormônio. Alguns hormônios causam regulação para cima (up-regulation) dos recep- tores e das proteínas de sinalização intracelular; isto é, estimular o hormô- nio induz a formação de receptores ou moléculas de sinalização intrace- lular, maior que a normal, pela célu- la-alvo ou maior disponibilidade do 53FISIOLOGIA CELULAR E POTENCIAL DE AÇÃO E TRANSMISSÃO SINÁPTICA receptor para interação com o hormô- nio. Quando isso ocorre, o tecido-alvo torna-se cada vez mais sensível aos efeitos de estimulação do hormônio. Os receptores podem ser divididos em duas classes básicas, baseados em sua estrutura e mecanismo de ação: receptores de membrana e re- ceptores nucleares. RECEPTORES DE SUPERFÍCIE CELULAR RECEPTORES INTRACELULARES superfície celular Receptor de Membrana plasmática Molécula – sinal hidrofílica (A) (B) Pequena molécula – sinal hidrofóbica Receptor intracelular Núcleo Figura 25. Tipos de receptores. Fonte: Bruce Alberts, Dennis Bray, Karen Hopkin, Alexander Johnson, Julian Lewis, Martin Raff, Keith Roberts, Peter Walter. (2017). Fundamentos da Biologia Celular. 6ª Ed. Editora Artmed, Porto Ale- gre, 864p 54FISIOLOGIA CELULAR E POTENCIAL DE AÇÃO E TRANSMISSÃO SINÁPTICA Receptores de membrana plasmática Os receptores de superfície celular são proteínas integrais transmem- brana, presentes na membrana cito- plasmática. O domínio extracelular é responsável pela interação com o li- gante, que normalmente é uma molé- cula de caráter hidrofílico. A interação do ligante com este domínio promove alterações conformacionais na prote- ína que se refletem no domínio cito- sólico. São tais mudanças conforma- cionais que serão responsáveis pela propagação do sinal para o meio in- tracelular, permitindo, assim, que a célula responda ao estímulo externo. Existem quatro tipos principais de re- ceptores de membrana plasmática definidos pelas vias de sinalização intracelular que utilizam: receptores acoplados a canais iônicos, recepto- res acoplados à proteína G, recepto- res catalíticos e uma quarta classe de receptores transmembrana que, quando ativados, liberam fatores de transcrição que passam por clivagem proteolítica e liberam fragmento cito- sólico que penetra no núcleo e modu- la a expressão gênica. • Receptores ligados a canais iôni- cos: Também conhecidos como canais iônicos ativados de ligan- tes, medeiam direta e rapidamente a sinalização sináptica entre cé- lulas eletricamente excitáveis. Os neurotransmissores se ligam aos receptores e podem abrir ou fechar o canal iônico, dessa forma, mu- dando a permeabilidade iônica da membrana plasmática e alterando o potencial de membrana. SE LIGA! Dois exemplos deste tipo de receptores são os receptores de acetil- colina da célula muscular esquelética, que atuam como um canal de sódio, e os receptores gabaérgicos expressos nos neurônios, que ao se ligarem ao neuro- transmissor inibitório GABA, promovem o influxo de íons cloreto e a consequente hiperpolarização da membrana plasmá- tica da célula neuronal. • Receptores acoplados à proteína G (GPCRs): Estes receptores consti- tuem a maior família de receptores de superfície celular e constituem proteínas integrais multipasso (isto é, que atravessam a membrana plasmática várias vezes), com sete domínios transmembranares. A ligação do ligante com estes re- ceptores promove uma mudança conformacionalno receptor e con- sequente ativação de uma proteína intracelular trimérica, denominada proteína G, composta por subuni- dades α, β e γ. Esta proteína é res- ponsável pela propagação do sinal dentro da célula, que pode ser feito pela ativação de enzimas especí- ficas, tais como a fosfolipase C ou a adenilil-ciclase, ou pela indução da abertura de canais iônicos na membrana plasmática. 55FISIOLOGIA CELULAR E POTENCIAL DE AÇÃO E TRANSMISSÃO SINÁPTICA SE LIGA! Alguns hormônios se acoplam com proteínas G inibitórias (Gi), enquan- to outros se unem proteínas G estimu- ladoras (Ge). Dessa forma, dependendo do acoplamento do receptor hormonal à proteína G inibitória ou estimuladora, o hormônio pode aumentar ou diminuir a atividade das enzimas intracelulares. Receptores catalíticos (ou com ativi- dade enzimática): Esta classe inclui receptores com atividades enzimá- ticas intrínsecas, ou seja, cuja cadeia polipeptídica do receptor possui um domínio de localização citosólica com atividade enzimática, e receptores com atividade enzimática extrínse- ca, onde a atividade enzimática en- contra-se em uma proteína perifé- rica associada ao receptor pelo lado citosólico da membrana. A maioria dos receptores acoplados a enzimas é uma proteinocinase ou está asso- ciada a proteinocinase, e a ligação ao ligante faz com que a cinase fosforile um subgrupo determinado de proteí- nas em aminoácidos específicos que, então, ativam ou inibem a atividade da proteína. SAIBA MAIS! As proteínas G triméricas são assim denominadas por sua capacidade de ligar-se a nucleotí- deos de guanosina, GDP e GTP. 56FISIOLOGIA CELULAR E POTENCIAL DE AÇÃO E TRANSMISSÃO SINÁPTICA RECEPTORES ASSOCIADOS A CANAIS IÔNICOS RECEPTORES ASSOCIADOS A PROTEÍNAS G RECEPTORES ASSOCIADOS A ENZIMAS Molécula - sinal Íons Membrana plasmática CITOSOL Molécula - sinal Proteína G Enzima Proteína G ativada Enzima ativada Molécula – sinal em forma de dímero Domínio catalítico inativo Domínio catalítico ativo Molécula - sinal Enzima associada ativada (A) (B) (C) Figura 26. Classes de receptores de superfície celular. Fonte: Bruce Alberts, Dennis Bray, Karen Hopkin, Alexander Johnson, Julian Lewis, Martin Raff, Keith Roberts, Peter Walter. (2017). Fundamentos da Biologia Celular. 6ª Ed. Edito- ra Artmed, Porto Alegre, 864p Algumas proteínas da membrana não se enquadram na definição clássica de receptores; apesar disso, elas de- sempenham função semelhante à de um receptor, pois reconhecem sinais extracelulares e convertem esses si- nais em segundo mensageiro intra- celular que tenha efeito biológico. Por exemplo, quando ativadas por ligan- te, algumas proteínas de membrana passam por proteólise intramem- brana regulada (PIR) que produz um fragmento peptídico citosólico capaz de penetrar no núcleo e regular a ex- pressão gênica. SE LIGA! O exemplo mais bem carac- terizado de PIR é o elemento regula- tório esterol-proteína ligante (SREB), proteína transmembrana expressa na membrana do retículo endoplasmático. Quando os níveis celulares de coleste- rol estão baixos, a SREB passa por PIR e o fragmento, clivado proteoliticamente, é translocado para o núcleo, onde ativa, por transcrição, genes que promovem a biossíntese de colesterol. 57FISIOLOGIA CELULAR E POTENCIAL DE AÇÃO E TRANSMISSÃO SINÁPTICA Receptores nucleares (ou intracelulares) Diversas classes de moléculas hi- drofóbicas pequenas, incluindo hor- mônios esteroides, hormônios da ti- reoide, retinoides e vitamina D, estão ligados a proteína plasmáticas, e, ten- do meia-vida biológica longa (horas a dias), se difundem através da mem- brana plasmática, ligando-se a recep- tores nucleares. Alguns receptores nucleares, como os que se ligam ao cortisol e à aldos- terona, estão localizados no citosol e penetram no núcleo após se ligarem ao hormônio, enquanto outros recep- tores, incluindo o receptor para o hor- mônio da tireoide, estão ligados ao DNA no núcleo mesmo na ausência do hormônio. Em ambos os casos, receptores inativos estão ligados a proteínas inibidoras, e a ligação do hormônio resulta na dissociação do complexo inibitório. A ligação do hor- mônio faz com que o receptor se ligue a proteínas coativadoras que ativam a transcrição gênica. Uma vez ativa- do, o complexo hormônio-receptor se liga ao DNA e regula a transcrição de genes específicos. Por controlarem a expressão gênica, necessariamen- te, esses receptores estão envolvi- dos na resposta lenta ao estímulo extracelular. Muitos tecidos diferentes têm recep- tores hormonais intracelulares idênti- cos, mas os genes que os receptores regulam são diferentes nos vários tecidos. Um receptor intracelular só pode ativar a resposta do gene se estiver presente a combinação apro- priada das proteínas reguladoras dos genes, e muitas dessas proteínas reguladoras são tecido-específicas. Desse modo, as respostas de diferen- tes tecidos ao hormônio são determi- nadas não apenas pela especificida- de dos receptores, mas também pela expressão dos genes que o receptor regula. Vias de transdução de sinais Os hormônios se ligam a receptores e o sinal é traduzido para proteínas efe- tores, dentro da célula, por proteínas sinalizadoras intracelulares. Recepto- res de membrana transmitem sinais, via sinalização intracelular, enquanto os receptores nucleares transmitem sinais, primariamente, pela regulação da expressão gênica. Os receptores amplificam e integram sinais, assim como regulam para menos e dessen- sibilizam sinais, o que reduz ou elimi- na a resposta, mesmo em presença do hormônio. A propagação do sinal no interior da célula tem por objetivo final a alte- ração da atividade de proteínas res- ponsáveis pela resposta ao estímulo externo, ativando-as ou inibindo-as. Na sinalização mediada por recep- tores com atividade enzimática do tipo cinase ou fosfatase, a alteração 58FISIOLOGIA CELULAR E POTENCIAL DE AÇÃO E TRANSMISSÃO SINÁPTICA conformacional das proteínas finais da cascata de sinalização (proteínas da resposta) ocorre por ação dire- ta das enzimas da via de sinalização (fosforilação ou desfosforilação), le- vando à modificação do estado fisio- lógico da célula. Em alguns casos, entretanto, a ativa- ção de proteínas da cascata de sina- lização ou mesmo da proteína envol- vida na resposta celular é mediada por moléculas que são geradas pela ativação do receptor pelo estímulo extracelular ou por íons que tem a sua concentração citosólica aumentada em resposta ao estímulo do receptor e das proteínas da cascata de sina- lização. Essas moléculas ou íons são denominados segundo mensageiros e incluem: carboidratos (trifosfato de inositol ou IP3), lipídeos (ceramida, eicosanóides, diacilglicerol ou DAG), nucleotídeos cíclicos (monofosfato de adenosina ou AMPc e monofosfato de guanosina ou GPMc) e íons (cálcio). SAIBA MAIS! Sinalizadores intracelulares também atuam como interruptores moleculares: quando um sinal é recebido, eles mudam de da forma inativa para ativa ou vice-versa, até que outra mo- lécula sinalizadora os desligam. As células podem ajustar sua sensi- bilidade ao sinal pela adaptação ou dessensibilização, por meio do qual a exposição prolongada ao hormônio reduz a resposta celular ao longo do tempo. A adaptação permite que as células respondam a variações nos níveis hormonais, e não em níveis ab- solutos. É um processo reversível que pode envolver redução do número de receptores expressos na membrana plasmática, inativação de receptores e alterações nas proteínas sinaliza- doras que medeiam o efeito seguinte dos receptores na cadeia. Vias de transdução do sinal ligados aos canais iônicos Esta classe de receptores converte um sinal químico em sinal elétrico, o que provoca resposta. Vias de transdução do sinal acopladas às proteínas G As proteínas G se acoplam a mais de 1000 receptores diferentes e, des- sa forma, medeiam a resposta celu- lar a um grupo incrivelmente diverso de moléculas
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