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As alterações e adaptações do organismo materno na gravidez são decorrentes da ação de hormônios e enzimas sobre órgãos reprodutores, desenvolvimento do feto – levando a um aumento do volume e circulação do útero – e a necessidade fetal de O2 e nutrientes. Essas adaptações têm por objetivo criar um ambiente favorável para o desenvolvimento do concepto. A gestação pode ser dividida em 3 etapas: 1. Atividade do Corpo Lúteo; 2. Transição Luteoplacentária; 3. Predomínio da atividade da placenta. o Ganho de 11 a 15 Kg à feto, placenta, anexos, líquido aminiótico, útero e mamas. o Aumento de aproximadamente 3 kg de aumento de volume líquido extracelular – impacta o sistema cardiovascular e faz com que o rim seja mobilizado para realizar filtração. o Estas adaptações ocorrem por conta de hormônios. o Ocorre principalmente nos último dois trimestres da gestação. o Maior apetite por ação do metabolismo fetal e ação hormonal. o Hipófise aumenta em 50% a secreção de ACTH, TSH e PRL por ação dos estrogênios que lactotrofos. o Tireoide aumenta em 50% seu tamanho e secreção de hormônios. → Vulva e Vagina: o Aumento dos grandes lábios; o Aumento da vascularização e elasticidade; o Mudança de coloração: tonalidade arroxeada (por conta do aumento da vascularização), o Consistência amolecida (por conta do afrouxamento do tecido conjuntivo); o Espessamento da mucosa vaginal. (de forma protetora). → Colo do Útero: o Coloração arroxeada por conta da maior vascularização; o Consistência amolecida e elasticidade; o Alteração do epitélio colunar; o Hiperplasia e hipertrofia de glândulas cervicais: colo do útero (ectocérvice) friável e sangrante ao menor traumatismo – facilita pequenos traumas e por isso é comum sangramentos pequenos no ínicio da gestação. o 900 g; o Aumento volume a partir 5-6 semanas (hiperplasia elementos glandulares); o Hipersensibilidade (dolorida) aproximandamente até 10ª semana – por conta do aumento do desenvolvimento dos ductos e dos alvéolos (aumento da sensibilidade dolorosa); o Aumento da circulação cutânea – aumento do fluxo sanguíneo na rede venosa à rede venosa de Haller; o Aumento da pigmentação dos mamilos e aréolas àsinal de Hunter. o Hipertrofia das glândulas sebáceas periareolares → tubérculos de Montgomery; o Enquanto os níveis de estrógeno e progesterona estão altos, a lactação não ocorre. o Deslocamento anterior do centro gravitacional do corpo (peso adicional útero, feto, anexos e mamas). o Lordose lombar: pode ocorrer dor lombar. o Marcha Anserina (marcha de Trendelenburg ou miopática): ampliação da base de sustentação, andar oscilante, passos curtos e lentos. o Flexão mantida pescoço: pode ocorrer dor cervical. o Estrogênios estimula Hormônio Melanocíto Estimulante (MSH). - Hiperpigmentação. o Linha alba abdome →Linha Nigra; o Vulva, aréolas mamárias → sinal de Hunter. o Face e pescoço → cloasma gravídico ou “máscara gravídica”. o Estrias (abdome, mamas, coxas): alteração do colágeno e hiperdistenção da pele (se distendem muito em curto perido de tempo). o Aumento vascularização da pele: eritema palmar. o Distensão gradativa; o Modificação do contorno e forma; o Cicatriz umbilical escurecida; o Linha nigra; o Estrias. o Aumento do estrógeno e progesterona pelo corpo lúteo e posteriormente pela placenta. o Hormônio Lactogênio Placentário. o Produção de hormônios pelas glândulas (hipófise, tireóide, suprarrenal...). o Prolactina: estimulada pela hipófise anterior; produção do leite materno. o ACTH: estimula o córtex suprarrenal à aumenta níveis de cortisol e aldosterona. o THS: estimula a glândula tireóideàaumenta níveis de T3 que aumenta taxa de metabolismo basal. o Hiperfuncionalidade da glândula supra-renal pela estimulação do ACTH. o A secreção de aldosterona aumenta em 2x nas mulheres grávidas. Esse aumento da aldosterona associado à ação dos estrogênios, causa aumento da reabsorção do Na+ e acúmulo de H2O nos túbulos renais → retenção de líquidos na gravidez: aumento do volume do líquido extracelular. Acompanhando isto, está o aumento do cortisol → aumento progressivo do cortisol durante a gestação. o O aumento do TSH que vai para essa glândula, há o aumento de T3 e T4; o Aumento do metabolismo basal da mãe; o Aumento de volume; o Tendência à hiperfunção à Hipertrofia da glândula tireóide. o Aumento do glucagon; o Redução da utilização periférica da glicose pela mãe; à estimulando a ida desta glicose para o embrião/feto; o Tendência à hipoglicemia e cetonúria. o Metabolismo basal aumenta em 15% (T4, ACTH, esteroides sexuais). o Permanente demanda de glicose e aminoácidos, (especialmente glicose) para o feto: diminui a sensibilidade à insulina e utilização de glicose para a mãe → a redução da utilização periférica da glicose pela mãe, a partir de 26ª semana gera aumento da resistência à insulina; o Ácidos graxos livres não atravessam a placenta. o Concentrações reduzidas de glicemia em jejum. o As concentrações diminuídas de glicose no organismo materno causam aumento do apetite, o que pode levar o aumento da ingesta alimentar e consequentemente maior ganho de peso. o Quando a mulher já possui disposição para ter Diabetes, esta pode se desenvolver durante a gestação por conta dos hormônios hiperglicemiantes (cortisol, estrógeno, progesterona e prolactina) → Diabetes gestacional. o Níveis elevados glucagon, adrenalina, GH e hPL → favorecem a lipólise o ↑ catabolismo gorduras - ↑ ácidos graxos plasmáticos. Esses ácidos graxos são a principal fonte de energia materna → tendência à cetose o Os kg de tecido adiposo ganhados durante a gravidez servem para o fornecimento de ácidos graxos para a mãe. o Maior síntese proteica para desenvolvimento fetal e das estruturas maternas). o Maior utilização de aminoácidos, que se encontram em menor concentração plasmática). o Aumento do valor absoluto das proteínas totais Porém, pela hemodiluição estão em menor concentração. o Trofoblastos invadem as arteríolas do endométrio uterino → vasos sanguíneos da parede uterina sofrem alterações no local de implantação da placenta (vasodilatação intensa) → ↓ resistência ao fluxo de sangue. o Adaptação dos Vasos Sanguíneos: 1. facilitar a perfusão de sangue placentária – garantir nutrição do embrião/feto 2. remodelamento arteríolas com resposta intensa de vasodilatação. - Aumento do diâmetro das artérias espiraladas à vasodilatação arteríolas do endométrio uterino. - Localmente no útero, fatores placentários pró-angiogênicos (estimula crescimento dos vasos) para estimular a perfusão de sangue e favorecer a implantação. - No sistema circulatório feminino ocorrera uma modificação da resposta das arteríolas que antes respondia com vasoconstrição passando a realizar vasodilatação – arteríolas desenvolve uma diminuição de resposta a fatores vasoconstritores sistêmicos, como angiotensina e adrenalina. - Sendo assim, na gestação, predominam fatores e resposta vasodilatadores em comparação com vasoconstritores → EQUILIBRIO da Pressão arterial na gravidez. - Perfusão placentária depende de diferenças de pressão entre as circulações materna e fetal → Se ↓ Pressão sanguínea materna (vasodilatação muito intensa): deficiência de perfusão da placenta → Insuficiência placentária e sofrimento fetal. o Modificações Hemodinâmicas: - Por conta do aumento no volume de sangue no organismo materno, ocorre aumento do debito cardíaco (volume sistólico que o coração bombeia a cada sístole → DC: freq. cardíaca (FC) x Volume Sistólico = L/min). - O aumento deste DC (principalmente a partir da27ª semana de gestação) faz com que a frequência cardíaca da gestante também seja aumentada mesmo em repouso. - Mesmo com a FC aumentada, a PA não aumenta na gestante por conta do mecanismo de vasodilatação sistêmica (por diminuição de resposta a fatores vasoconstritores) que gera diminuição da resistência vascular periférica → isso causa diminuição da pressão arterial da gestante. - PA = diminuição no 1º trimestre, maior queda no 2º e normaliza no 3º. - Falha nesse processo de adaptação fisiológica materna: hipertensão na gravidez. o Alterações Hematológicas: - Aumento da necessidade de ferro e ácido fólico (anemia) → Aumento do número hemácias da gestante (33%) → Aumento volume plasmático - volume circulante de sangue (45%); - Por conta do volume aumentado de água (ação da aldosterona e estrógeno), há maior hemodiluição e a concentração de hematócrito tende a ser menor o É normal ocorrer leucocitose (aumento de leucócitos no sangue). - Também ocorre uma diminuição da resposta imune da gestante (para que não ocorra rejeição do embrião/feto) → propensão à infecções; - Existe também o aumento da produção de fibrinogênio e outros fatores coagulantes (exceto XI e XIII), para que no momento do parto não haja hemorragia muito intensa o Aumento do Volume Sanguíneo: - Antes do nascimento: volume mãe 30% acima do normal; - Fatores que promovem esse aumento de volume: > aldosterona/estrogênios = retenção de Na+ e H2O; > medula óssea: produção de hemácias = 1-2 litros sangue extra na circulação; > ACTH, cortisol, anti-diurético (ADH), hormônios tireoidianos (T3 e T4) → hormônios que aumentam o metabolismo, aumentando a demanda por água. o Aumento do débito cardíaco à aumento da quantidade de sangue indo em direção aos pulmões para ser oxigenado à aumento do trabalho respiratório. o Consumo de O2 aumentado: 20 a 30% final gestação. o O aumento do metabolismo gera aumento na quantidade de CO2 (principalmente no fim da gestação). o Além disso, a progesterona promove sensibilidade dos neurônios (centro respiratório SNC) à quantidade de CO2. o Com o aumento na ventilação pulmonar à PO2 normal e PCO2 mais baixa em relação à não grávida; pH mantido. o É importante lembrar que o estrogênio aumenta a vascularização e eleva o diafragma. Isto somado com o útero pressionando os conteúdos abdominais para cima gera aumento da frequência respiratória para manter a ventilação à principalmente no último trimestre o Maior formação de urina com aumento da filtração: aumenta a ingestão de líquidos e produção de metabólitos durante a gestação; o A progesterona promove a dilatação dos ureteres e da pelve renal (tamanho é aumentado em 50mL). o Aumento da estase urinária (acúmulo de urina na pelve renal) → leva a tendência de formação de cálculos renais e infecções o A gestante muitas vezes sofre de incontinência urinária pois o útero com a presença do feto pressiona a bexiga urinaria para baixo, diminuindo a quantidade de urina armazenada. Além disso ocorre afrouxamento dos tecidos assoalho pélvico → pouca retenção de urina. o Essas adaptações são necessárias para garantir a redução dos metabolitos fetais. Além da progesterona, outros hormônios favorecem esse aumento de trabalho renal como Lactogênio placentário (hPL); Cortisol; Paratormônio; Aldosterona; Prolactina; Prostaglandinas (no sistema renal fazem vasodilatação) Estrogênios. o Na gestante a perfusão sanguínea no parênquima renal é aumentada por conta do aumento de prostaglandina que são vasodilatadoras, auxiliando a filtração glomerular (remoção dos metabolitos do metabolismo fetal e da gestante) e a produção de urina. o Náuseas e vômitos no 1° trimestre – promovida pela progesterona. o Diminuição do peristaltismo no TGI (esôfago, estômago, vesícula e intestino) → o feto e o útero pressionando o estomago leva a diminuição do esvaziamento gástrico e a secreção do estomago torna-se mais alcalina → tendência de azia, má digestão e refluxo. o Maior crescimento do feto ocorre durante o último trimestre da gestação: O grande consumo de proteínas, cálcio, fosfato e ferro deve ser suprida pela mãe. o Dieta + armazenamento extra pelo organismo materno. o Necessidade de Ferro: 375 mg (feto) + 600 mg (mãe); na gravidez: a mãe tem 100 a 700 mg; Em caso de dieta insuficiente: anemia hipocrômica (mãe); o Necessidade de vitamina D: para absorção do Ca2+ no trato gastrointestinal (utilização pelo feto); o Necessidade de vitamina K: coagulação sanguínea (especialmente do feto); impede hemorragia cerebral no nascimento. o Tanto o ferro quanto as vitaminas D e K devem ser suplementados durante a gravidez. o Ação da aldosterona nos túbulos renais. o A vasodilatação leva a hipertensão pois além de não haver a vasodilatação necessária para receber grande volume. o A falta do mecanismo vasodilatador na gestante somado a uma grande quantidade de aldosterona que promove aumento da reabsorção sódio e então de água à leva a retenção de líquido maior, aumentando o débito cardíaco e consequentemente tendência a hipertensão. o Normalmente ocorre mais intensamente no 3º trimestre da gestação. o Esse mecanismo normalmente é encontrado na eclampsia. o Gonadotrofina Coriônica Humana (hCG): é o primeiro hormônio detectável resultante da atividade trofoblástica no processo de formação da placenta. Assim, o aparecimento de hCG no sangue e na urina 24 h após a implantação do embrião constitui o primeiro sinal detectável de gestação. A secreção de hCG aumenta gradativamente até atingir valores máximos de concentração plasmática durante o terceiro mês de gestação, quando começa a diminuir paulatinamente até estabilizar-se no último trimestre de gestação. A ação luteotrófica da hCG é fundamental para manutenção da gestação, especialmente no primeiro trimestre, já que neste período a placenta não está completamente desenvolvida. Tal ação promove aumento da secreção de estrogênios e progesterona, hormônios indispensáveis na manutenção de condições adequadas no endométrio para implantação e manutenção do futuro embrião. A concentração plasmática de hCG pode apresentar-se mais elevada em situações de gestação múltipla, diabetes, coriocarcinoma, entre outras. Em fetos masculinos, a hCG estimula células intersticiais responsáveis pela secreção de testosterona, que em parte é convertida pela ação da enzima Sa- redutase em outro androgênio, a di- hidrotestosterona. Estes dois androgênios são responsáveis pela diferenciação das estruturas genitais masculinas internas e externas. o Somatotrofina Coriônica (hPL): este hormônio, também chamado de lactogênio placentário, começa a ser produzido mais tardiamente que a hCG, por volta da sexta semana de gestação. Há evidências de que tenha ações metabólicas semelhantes a estes dois hormônios hipofisários, porém com potência reduzida. As ações da somatotrofina coriônica teriam o objetivo de disponibilizar quantidade maior de substrato energético ao feto. Neste sentido, poderiam ter influência em alterações metabólicas na gestante, como a diminuição de sensibilidade à glicose e de sua utilização, lipólise e inibição da neoglicogênese. o Estrogênio: a placenta não dispõe da maquinaria enzimática completa para vias biossintéticas esteroidais. Assim, a síntese de esteroides placentários depende de esteroides produzidos pela gestante e pelo feto. Apesar de a placenta produzir muita progesterona, ela é incapaz de convertê-la em estrogênio devido à deficiência da enzima 17alfa- hidroxilase. Os estrogênios placentários são sintetizados a partir da conversão dos androgênios desidroepiandrosterona (DHEA) e 16-hidroxide-sidroepiandrosterona (160H-DHEA), secretados pelas adrenais fetais e maternas. Entre as principais ações estrogênicas, incluem-se: aumento do útero materno pelo aumento do miométrio (estímulo da síntese de proteínas), acúmulo de líquido (retenção de água e eletrólitos) e elevação da vascularização (indução de angiogênese). Outras ações significativas ocorrem nas glândulas mamárias, principalmente no crescimento e desenvolvimento do sistema de duetos, preparando-as para a lactação pós-parto. o Progesterona: facilita a manutenção do embrião no útero, impedindo as contrações uterinas para evitar o aborto espontâneo. Também tem ação significativa nas glândulas mamárias, principalmente no crescimento e desenvolvimento dos alvéolos, onde ocorre a produção do leite por ação estimuladora da prolactina. • ANSELMO-FRANCI, J.A.; POLI, M.S.; FRANCI, C.R. AIRES, M.M. Fisiologia da reprodução. In: AIRES, M.M. Fisiologia. 4.ed. Rio de Janeiro: Guanabara-Koogan, 2012, p. 1226-1235. • GUYTON, A. C & HALL, J. E. Gravidez e lactação. In: Tratado de fisiologia médica. 10.ed. Rio de Janeiro: Guanabara-Koogan, 2002, p. 883-893. • HAMMER, G.D.; MCPHEE, S.J. Fisiopatologia da doença: uma introdução à medicina clínica. 7ª ed. Porto Alegre: AMGH, 2016. Cap. 22.
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