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DESENVOLVIMENTO DO ESMALTE DENTÁRIO (AMELOGÊNESE) As células do epitélio interno do órgão do esmalte diferenciam-se em ameloblastos e formarão o esmalte. Os pré-ameloblastos, completam sua diferenciação em ameloblastos somente após a deposição da primeira camada de dentina. A formação propriamente dita do esmalte inicia-se durante a fase de coroa. Desde a fase em que são células indiferenciadas do epitélio interno do órgão do esmalte até que seja completada a formação e a maturação pré-eruptiva do esmalte, os ameloblastos passam por fases sucessivas de desenvolvimento, as quais constituem o “ciclo vital”. As fases da amelogênese são: morfogenética, de diferenciação, secretora, de maturação e protetora. Fase morfogenética: O epitélio interno do órgão do esmalte determina a forma da coroa do dente. Esta fase corresponde ao início do estágio de campânula, quando nas regiões dos vértices das futuras cúspides (ou borda incisal) do dente as células do epitélio interno do órgão do esmalte param de se dividir, determinando que a forma da coroa do dente seja estabelecida pela dobra desse epitélio. As células são cúbicas, com núcleo ovóide, grande e central ou próximo à lâmina basal que as separa da papila dentária; O citoplasma tem numerosos ribossomos livres, polirribossomos, mitocôndrias esparsas e complexo de Golgi pouco desenvolvido, localizado na região adjacente ao retículo estrelado. Essas características sugerem que, nessa fase, o material sintetizado pelas células do epitélio interno é destinado principalmente a fins intracelulares, como, por exemplo, o desenvolvimento das organelas. Fase de diferenciação: Com a inversão da sua polaridade, as células do epitélio interno do órgão do esmalte tornam-se pré-ameloblastos. Após o período de divisão, as células do epitélio interno do órgão do esmalte se alongam, alcançando quase o dobro de sua altura original. Desse modo, as células que inicialmente eram cúbicas passam a ser cilíndricas. Coincidentemente, duas ou três camadas de células achatadas aparecem nitidamente localizadas entre as células do epitélio interno e o retículo estrelado, constituindo uma nova estrutura no órgão do esmalte, denominada estrato intermediário. Com o alongamento das células do epitélio interno, ocorre a inversão da polaridade: o núcleo localiza-se ao lado da célula, constituindo o novo polo proximal, enquanto o complexo de Golgi migra em sentido inverso, para o lado próximo à papila dentária, determinando, o novo pólo distal. Desenvolvem-se, também, cisternas de retículo endoplasmático granular, as quais se orientam, paralelas, ao eixo longitudinal da célula. Esses eventos coincidem com o aparecimento de um citoesqueleto bem desenvolvido. Nesse estágio do desenvolvimento, com a nova disposição do núcleo e das organelas, as células se denominam pré-ameloblastos. A diferenciação deles ocorre gradualmente, até tornarem-se ameloblastos secretores. Os pré-ameloblastos induzem a diferenciação das células da periferia da papila dentária, enquanto isso, o processo de diferenciação dos futuros ameloblastos continua gradualmente, completando a diferenciação somente após a formação da primeira camada de matriz orgânica de dentina. A altura dos pré-ameloblastos aumenta, tornando-os células cilíndricas altas e inicia-se também a liberação de enzimas lisossomais que degradam e tornam a lâmina basal descontínua. Ao mesmo tempo, desenvolvem-se numerosos e curtos processos na superfície distal, que se projetam para a matriz de dentina, que, por sua vez, está apenas começando sua mineralização. Esses processos dos pré-ameloblastos formam contatos com processos de odontoblastos e com vesículas da matriz. Entre os pré-ameloblastos, estabelecem-se junções intercelulares comunicantes (GAP), desmossomos e junções oclusivas (TIGHT) nos dois pólos celulares, formando, desse modo, os complexos juncionais proximais e distais. Após esses eventos, os pré-ameloblastos tornam-se ameloblastos diferenciados, prestes a secretar matriz de esmalte. Fase secretora: No início desta fase, o órgão do esmalte é constituído pelo epitélio externo, o retículo estrelado, o estrato intermediário e os ameloblastos recém-diferenciados. No início desta fase, todos os componentes do órgão do esmalte ligam-se entre si pelas junções intercelulares comunicantes (GAP) e desmossomos. Entretanto, entre os ameloblastos recém-diferenciados, as junções oclusivas (TIGHT) dos complexos juncionais distais, já observados entre pré-ameloblastos, desenvolvem-se ainda mais, passando a constituir extensas fileiras. Desse modo, a formação do esmalte e sua mineralização são reguladas exclusivamente pelos ameloblastos, em razão da consequente restrição da via intercelular. A fase secretora marca o início da amelogênese propriamente dita: os ameloblastos já têm todas as características ultraestruturais das células sintetizadoras e secretoras de proteínas. O retículo endoplasmático rugoso inicia a síntese das proteínas da matriz orgânica do esmalte e seguem-se a condensação e o empacotamento do material no complexo de Golgi, sendo observados, posteriormente, grânulos de secreção envolvidos por membrana no citoplasma, contendo material orgânico. Rapidamente, esses grânulos migram para o polo distal e são liberados nos espaços intercelulares e sobre a dentina do manto, que nesta fase está consolidando seu processo de mineralização. A superfície distal dos ameloblastos, nos primeiros momentos da fase secretora, é mais ou menos plana, apresentando, porém, numerosas e curtas protrusões com aspecto de microvilos e invaginações. A matriz orgânica do esmalte é constituída por proteínas distintas das que constituem as matrizes de natureza colágena, a sua composição é basicamente protéica, contendo carboidratos e lipídios, expressando a origem não conjuntiva do esmalte. Costumam ser reconhecidos dois grupos de proteínas na matriz de esmalte recém-secretada: as amelogeninas e suas isoformas, as mais abundantes e hidrofóbicas, e as enamelinas. Nos últimos anos, foram identificados novos e vários tipos de proteínas, também dois grandes grupos: as amelogeninas e as não amelogeninas. Todavia, recentemente foram identificadas mais duas proteínas do esmalte, a amelotina e a apina. A mineralização do esmalte começa imediatamente após o início de secreção da matriz orgânica. A mineralização inicial chega apenas até 15% do total da matriz recém-formada, sendo, portanto, o esmalte jovem constituído principalmente por componentes orgânicos. Os primeiros cristais de mineral, ou seja, de hidroxiapatita, são depositados em contato direto com a dentina do manto, que, neste estágio, forma uma camada mineralizada contínua. Desse modo, forma-se, inicialmente, uma primeira camada mais ou menos homogênea de esmalte, com os cristais de mineral alinhados perpendiculares à superfície de dentina. Estudos recentes apontam para a capacidade da proteína tufelina como agente nucleador de mineral. A interação entre a enamelina e tufelina, desencadearia, o início da mineralização, ou seja, a formação dos característicos cristais em forma de fita. Nesse estágio, as moléculas de amelogenina se agregam, formando pequenos glóbulos, denominados nanosferas. Estas se alinham helicoidalmente, orientando, o crescimento dos cristais de mineral. Após a deposição de uma fina camada aprismática, os ameloblastos desenvolvem o processo de Tomes Como consequência da deposição da primeira camada de esmalte. O aparecimento dessa nova estrutura no pólo distal dos ameloblastos inicia a segunda parte da fase secretora, em razão dessas projeções passarem a comandar a orientação do esmalte em formação. Nas regiões que contêm ameloblastos secretores, ocorre a involução dos demais elementos do órgão do esmalte. Enquanto a camada de ameloblastos secreta ativamente e apresenta, no conjunto, sua porção distal com aspecto serrilhado, em razão dos processos de Tomes, os outros componentes do órgão do esmaltesofrem também algumas modificações. Como consequência disso, a totalidade do órgão do esmalte, na região correspondente à matriz em formação, sofre colapso, tornando possível a aproximação entre os ameloblastos e o folículo dentário. Assim, o folículo representa a única fonte de nutrição, pois a dentina calcificada impede a passagem de nutrientes provenientes dos vasos sanguíneos da papila dentária. Os vasos do folículo dentário passam a constituir, portanto, a fonte de nutrientes dos ameloblastos para a secreção das moléculas da matriz e continuação do processo de mineralização. Além disso, neste estágio da amelogênese, vasos sanguíneos do folículo penetram na região do retículo estrelado. Como foi mencionado, após o desenvolvimento dos processos de Tomes, os ameloblastos formam um esmalte estruturalmente diferente, constituído pelo arranjo dos cristais de mineral em unidades características denominadas prismas, devido à mudança na movimentação dos ameloblastos durante a deposição da matriz e mineralização. Todavia, é por meio de pequenas reentrâncias formadas em sua face plana secretora (superfície "S") que ocorre a liberação dos grânulos que contêm a matriz orgânica do esmalte; na face côncava do processo (superfície "N"), não ocorre secreção. Com o avançar da secreção, os outros componentes do órgão do esmalte, ou seja, o estrato intermediário, o retículo estrelado e o epitélio externo completam seu colapso, passando a compor uma só estrutura constituída por duas ou três camadas de células pavimentosas. Os processos de involução dos componentes do órgão do esmalte ocorrem, provavelmente, por mecanismos de morte celular programada - apoptose. Ao finalizar a fase secretora, o ameloblasto não mais apresenta processo de Tomes. A formação do esmalte, seguindo o padrão descrito anteriormente, continua até a deposição das últimas camadas. Fase de maturação A degradação e a remoção da matriz orgânica possibilitam o crescimento dos cristais de mineral. Após a deposição da fina camada superficial de esmalte aprismático, os ameloblastos reduzem sua altura, diminuindo suas organelas relacionadas com síntese e secreção, por meio de mecanismos de autofagia. Assim, os ameloblastos mostram-se, nesta fase de maturação, como células cilíndricas baixas, assemelhando-se, neste último caso, à borda estriada das células elásticas. Enquanto os primeiros estão envolvidos na remoção de elementos orgânicos e água, os últimos participam no rápido bombeamento de íons cálcio e fosfato para a matriz, tornando possível também o rápido crescimento dos cristais de hidroxiapatita. Além disso, nesta fase, o alto conteúdo inicial de amelogeninas é reduzido pela degradação, provavelmente, pela ação de metaloproteinases. Esse evento parece ser importante para o aumento do componente mineral, já que as amelogeninas em cultura inibem o crescimento de cristais. Tem sido observado que os cristais de mineral em forma de fitas, após o início da remoção de material orgânico da matriz, aumentam rapidamente de largura em mais ou menos duas ou três vezes, enquanto sua espessura aumenta mais lentamente, alcançando, porém, dimensões quase oito vezes maiores que as iniciais. O aumento no tamanho dos cristais é acompanhado pela fusão de vários deles. A existência simultânea de dois grupos de ameloblastos e sua alternância são responsáveis pelos eventos cíclicos de remoção de elementos orgânicos e o influxo de íons para a matriz. Assim, essa fase inicia-se nas camadas mais profundas, na região da junção amelodentinária, e termina quando a superfície externa é completamente mineralizada. Esta fase corresponde, na verdade, à denominada maturação pré-eruptiva. Fase de proteção O epitélio reduzido recobre o esmalte maduro até a erupção do dente. Uma vez completada a maturação do esmalte, os ameloblastos perdem a ondulação da sua superfície distal, a qual se torna definitivamente lisa. A altura das células diminui ainda mais, o que as transforma em células cúbicas, que secretam um material semelhante ao da lâmina basal localizada entre as células do epitélio externo e o folículo dentário adjacente. Esse material é depositado sobre o esmalte recém-formado. Todavia, são formados hemidesmossomos que ligam os ameloblastos a essa lâmina basal. Externamente a esta camada de células, os outros componentes do órgão do esmalte, que já na fase de maturação mostravam-se francamente reduzidos, nesta fase, perdem por completo sua identidade. Estabelece-se assim, com a camada de ameloblastos protetores, o epitélio reduzido do esmalte, estrutura que reveste a coroa do dente até sua erupção na cavidade oral, separando-a do conjuntivo adjacente. Esse epitélio reduzido contribui para a formação do epitélio juncional da gengiva. Com a exposição do esmalte na cavidade oral e o avançar da idade, ocorrem modificações químicas e estruturais. Essas modificações incluem perda de água, diminuição do conteúdo orgânico e aumento da cristalinidade. BIBLIOGRAFIA: Histologia E Embriologia Oral - Katchburian; Arana - 3 Ed. (2013) - Ponto
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