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Anais do Congresso ANPTECRE, v. 05, 2015, p. GT0138 EDUCAÇÃO, RELIGIÃO E DIVERSIDADE RELIGIOSA NO ESPAÇO ESCOLAR Adriana Thomé – SEED/PR thadriana@seed.pr.gov.br Angela Dorcas de Paula – SEED/PR angelsociologie@gmail.com Carolina do Rocio Nizer – SEED/PR carolinanizer@gmail.com Cristina Elena Taborda Ribas – SEED/PR cribas01@gmail.com Resumo: O presente artigo apresenta uma análise da relação entre Religião, Educação e Diversidade Cultural Religiosa no espaço escolar, a partir de uma releitura baseada no Plano Estadual de Educação do Estado do Paraná - PEE/PR (2015 a 2024). A análise conta com pressupostos teóricos de estudiosos do tema e Leis que tratam da obrigatoriedade da inserção da disciplina de Ensino Religioso nas escolas públicas do Estado do Paraná (BASTOS, 2001; BRASIL, 1988; CANCLINI, 2009; DURKHEIM, 1981; GEERTZ, 1989; MARX, 1991; PARANÁ, 2008 - 2015; WEBER, 2000). O foco da análise é a Proposta Pedagógica da referida disciplina, incluída no Currículo Escolar, por meio da qual é possível trabalhar com a diversidade cultural religiosa no processo de ensino e aprendizagem e auxiliar na formação integral dos educandos. Os espaços escolares não confessionais, dentre eles os da rede pública, necessitam repensar sua identidade na sociedade, que é plural, composta por diferentes estruturas, tais como: gênero, política, economia, religiosidade entre outras. Igualmente necessário se faz o desenvolvimento de um trabalho pedagógico, capaz de libertar o ser humano das cadeias sociais que têm como herança a dominação e o lucro, que aniquila os direitos e as possibilidades de reflexão, respeito e valorização daqueles, cuja cultura religiosa se distingue das demais. Por isso, o Ensino Religioso precisa focar no conhecimento, discutir o Sagrado nos seus múltiplos significados propiciando, assim, o respeito à diversidade cultural e religiosa, à superação de formas de discriminação e preconceito. Por meio do ensino religioso, veiculado também pelas disciplinas de Sociologia e História é possível abordar as religiões de matriz social e culturalmente marginalizadas, pelo uso da interdisciplinaridade, como forma de viabilizar as relações dialógicas entre a Religião, Educação e a Diversidade Religiosa no espaço escolar. Palavras-chave: Religião. Educação. Diversidade Religiosa no Espaço Escolar. Anais do V Congresso da ANPTECRE “Religião, Direitos Humanos e Laicidade” ISSN:2175-9685 Licenciado sob uma Licença Creative Commons mailto:cribas01@gmail.com Anais do Congresso ANPTECRE, v. 05, 2015, p. GT0138 Introdução O presente estudo objetiva analisar a relação entre a Religião, Educação e a Diversidade Religiosa no espaço escolar, a partir de uma releitura baseada no Plano Estadual de Educação do Paraná (PEE-PR), o qual tem vigência decenal (2015 a 2024)1 e de pressupostos teóricos de alguns pensadores que discutem essa questão. A religião é abordada na Educação Básica do Estado do Paraná, por meio de diversas disciplinas, dentre elas a de Ensino Religioso, regulamentada pela lei nº 9394/1996, artigo 33, da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN). Essa Lei dispõe: O Ensino Religioso, de matrícula facultativa, é parte integrante da formação básica do cidadão e constitui disciplina dos horários normais das escolas públicas de Ensino Fundamental, assegurado o respeito à diversidade cultural religiosa do Brasil, vedadas quaisquer formas de proselitismo.2 Conforme a redação apresentada, a lei nacional, que abrange toda a federação, visa à superação do aspecto confessional e proseletista rompendo o preconceito social e viabilizando ao aluno a construção do respeito à diversidade cultural e religiosa. Posteriormente, em 2002, o Conselho Estadual de Educação (CEE) do Estado do Paraná aprovou a Deliberação 03/2002, que regulamentou o Ensino Religioso em 1 O Plano Nacional de Educação foi instituído pela Emenda Constitucional nº 59/2009 e da Lei nº 13.005 de 25 de junho de 2014. A partir deste, o Estado do Paraná construiu o Plano Estadual de Educação (PEE), um plano decenal de educação que reúne e orienta objetivos comuns para discentes, docentes, escolas e famílias por meio do envolvimento de sujeitos que atuam nos segmentos educacionais e setores da sociedade envolvidos com a educação. O PEE-PR foi aprovado por meio da lei 18.492 de 24 de junho de 2015. 2 Brasil. LDB nacional [recurso eletrônico]: Lei de Diretrizes e Bases Da Educação Nacional: Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. – 11. Ed. – Brasília: Câmara dos Deputados, Edições Câmara, 2015. – (Série legislação; n. 159). Anais do Congresso ANPTECRE, v. 05, 2015, p. GT0138 todas as escolas públicas do Sistema de Ensino desse Estado. A partir disso, a Secretaria de Estado da Educação do Paraná (SEED/PR) elaborou uma Instrução Conjunta nº. 001/2002, que estabeleceu as normas para o Ensino Religioso. Em 2006, o CEE-PR aprovou uma nova Deliberação nº. 01/2006, a qual institui novas normas para ministrar as aulas de Ensino Religioso no espaço escolar. Dentre os avanços destaca-se: [...] a consideração da diversidade religiosa no Estado frente à superação das tradicionais aulas de religião; a necessidade do diálogo e do estudo na escola sobre as diferentes leituras do sagrado na sociedade; o ensino da disciplina em cuja base se reconhece a expressão das diferentes manifestações culturais e religiosas (PARANÁ, 2008). Os avanços delineados a partir desta Deliberação são notáveis, como o repensar do objeto da disciplina; a produção do documento orientador, conhecido pelos professores como Diretrizes Curriculares de Ensino Religioso3; o compromisso com a formação docente, a produção de materiais pedagógicos na perspectiva do trabalho com as quatro matrizes religiosas: africana, indígena, ocidental e oriental; a consideração da diversidade religiosa no Estado e a abordagem a partir das diferentes leituras do Sagrado na sociedade. Por fim, no estado do Paraná, em 2015, com a elaboração e aprovação do Plano Estadual de Educação - PEE, o direito à diversidade religiosa no espaço escolar fica assegurado por meio da Lei nº 18.492, art. 2, incisos III, IV, V, VI e X, a qual trata: 3 É reconhecido pelos profissionais da educação como um documento oficial que em sua construção contou com a participação de diferentes profissionais da educação, ou seja, Escolas, Núcleos Regionais de Educação do Estado, Secretaria de Estado da Educação, Instituições Superiores e demais entidades. Esse documento representa as vozes de todos os professores das escolas públicas estaduais, por projetar estratégias que contribuem no planejamento do professor buscando garantir a apropriação do conhecimento ao definir em seu texto o objeto de estudo, conteúdos, bem como encaminhamento metodológicos. Anais do Congresso ANPTECRE, v. 05, 2015, p. GT0138 III - superação das desigualdades educacionais, com ênfase na promoção da cidadania e na erradicação de todas as formas de discriminação; IV - melhoria da qualidade da educação; V - formação para o trabalho e para a cidadania, com ênfase nos valores morais e éticos em que se fundamenta a sociedade; VI - promoção do princípio da gestão democrática da educação pública; X - promoção dos princípios do respeito aos direitos humanos, à diversidade e à sustentabilidade socioambiental. Neste artigo, destacam-se os incisos III, V e X. O primeiro assegura a superação de todas as formas de discriminação; o segundo, a ênfase nos valores morais e éticos e, o terceiro, o direito à promoção dos princípios de respeito aos Direitos Humanos. Percebe-se que todos estão baseados no direito e no respeito à diversidade cultural religiosa.Diante do exposto, na sequência aborda-se a relação entre a Religião, Educação e Diversidade Religiosa no espaço escolar das instituições públicas estaduais do Paraná. Religião No Brasil, atualmente, tem se desenvolvido com mais intensidade a cultura do diálogo entre as mais diversas religiões. A ocorrência desse fato se deve possivelmente à promulgação da Constituição Nacional de 1988, a qual assegura por meio do art.5º, cap. I, inciso VI o direito de se ter liberdade de credo e de culto. Esse direito representou uma árdua conquista, que se deu com muita luta, pois havia o domínio da visão eurocêntrica católica no período colonial brasileiro, que legitimava a inferiorização e até proibia a prática de outras religiões que se encontravam no país - por meio dos povos indígenas e negros. O início das conquistas legais se deu com a Constituição do Anais do Congresso ANPTECRE, v. 05, 2015, p. GT0138 Império, de 1824, que previa somente a liberdade de crença, negando a expressão pública ao culto religioso. Segundo Bastos (2001, p. 199), nesse período “só se reconhecia como livre o culto católico. Outras religiões deveriam contentar-se a celebrar um culto doméstico, vedada qualquer forma exterior de templo”. Nessa construção histórica acerca da liberdade religiosa4, o Brasil foi influenciado desde o seu descobrimento pela cultura europeia. As conquistas foram conseguidas a partir da Constituição elaborada na Proclamação da República em 1891, que garantia a liberdade de crença e também de culto. Nesse sentido, Nestor Canclini (2009), diz que era comum as pessoas legitimarem hábitos e valores que fossem trazidos do continente europeu como ‘cultura refinada’. Na perspectiva sociológica a religião é entendida de diferentes formas, as quais são relevantes para o diálogo sociocultural. Para Émile Durkheim (1981), a religião tem o papel de fortalecer os laços de coesão social e colaborar para a solidariedade dos membros do grupo. Podendo, desta forma, ser compreendida como um processo pedagógico que constrói valores na vida do ser humano. Na percepção de Karl Marx (1991, p. 106) a religião é o “ópio do povo”, porém esta afirmativa se dá a partir do momento que a religião tolhe o poder de reflexão do indivíduo. Max Weber (2000), por meio de seus estudos comparativos que a religião ocidental pode contribuir para o desenvolvimento capitalista, uma vez que o trabalho e o enriquecimento são entendidos como uma forma de favorecimento da divindade. Em contrapartida a religião oriental não compartilha com o pensamento de que enriquecer materialmente é beneficio do divino aos seus contempladores. Para Geertz (1989) a religião é “um sistema de símbolos que atua para estabelecer poderosas, penetrantes e duradouras disposições e motivações através de formulação de 4 Sobre direito à liberdade de religião existem três tipos de liberdades que estão relacionadas entre si: a liberdade de culto, liberdade de crença e a liberdade de organização religiosa. Sendo que a primeira “consiste na liberdade de orar e de praticar os atos próprios das manifestações exteriores em casa ou em público”; já a liberdade de organização religiosa faz relação “à possibilidade de estabelecimento e organização de igrejas em suas relações com o Estado.” Quanto à liberdade de crença refere-se a “liberdade de escolha da religião, a liberdade de aderir a qualquer seita religiosa, a liberdade (ou o direito) de mudar de religião, mas também compreende a liberdade de não aderir a religião alguma, assim como a liberdade de descrença, a liberdade de ser ateu e de exprimir o agnosticismo.” (SILVA, 1989, p. 223). Anais do Congresso ANPTECRE, v. 05, 2015, p. GT0138 conceitos de uma ordem de existência geral”. Enfim, a religião tem o papel de reorientar e estimular o ser humano por meio de um sistema simbólico e essas interpretações que a religião aborda, necessitam ser trabalhadas por meio de um diálogo crítico e contextualizado. Este processo de reorientação, por sua vez, propõe o respeito à diversidade cultural e religiosa, por meio da disciplina de Ensino Religioso, o qual é embasado no diálogo com outras disciplinas na educação formal. Educação e Ensino Religioso O Ensino Religioso assim como as demais disciplinas, perpassa a educação formal a qual contribui para a transformação do ser humano, propiciando, por meio do conhecimento, autoconfiança, necessária para reforçar a vontade de buscar mais informações, de inserir-se em meios desconhecidos da sociedade, participando enfaticamente na transformação desta. É importante ressaltar que a educação começa desde o nascimento do ser humano, pois no contato com seus cuidadores, já se inicia a aprendizagem. Mais adiante, começa a se relacionar com os demais familiares, e suas experiências vão gradativamente se ampliando, até chegar o momento de ir à escola, local no qual deverá aprender com seus professores e também a partir da convivência com seus colegas. A educação formal está em constante mudança em suas propostas pedagógicas, reformas de ensino, adaptando-se e aperfeiçoando suas grades curriculares para que correspondam às necessidades do contexto social no qual o estudante está inserido. Ao encontro das ideias anteriormente citadas, o educador Rubem Alves (1994, p. 55) chama atenção ao modo de ensino que contempla exclusivamente o contexto social vigente, defendendo um processo pedagógico equilibrado, que dialogue com os diferentes tempos, a fim de que os estudantes possam pensar ousar e inovar com ideias e sonhos, tornando-se protagonistas de suas vidas ao invés de coadjuvantes de uma sociedade orquestrada para legitimar o poder econômico e social da minoria. Anais do Congresso ANPTECRE, v. 05, 2015, p. GT0138 Nesse sentido, a disciplina de Ensino Religioso nas instituições públicas estaduais de ensino do Paraná, vem colaborar para a formação dos sujeitos na prerrogativa de sua proposta pedagógica, trabalhando com a diversidade cultural e religiosa em seu processo de ensino e aprendizagem. Nesse contexto sociopolítico e cultural o Ensino Religioso, deve: [...] oferecer subsídios para que os estudantes entendam como os grupos sociais se constituem culturalmente e como se relacionam com o Sagrado. Essa abordagem possibilita estabelecer relações entre as culturas e os espaços por ela produzidos, em suas marcas de religiosidade. (PARANÁ, 2008). A partir dessa abordagem, no estado do Paraná, a disciplina de Ensino Religioso apresenta em seus conteúdos as quatro ‘Matrizes Religiosas’5 tendo por objetivo propiciar no espaço escolar “a compreensão, a comparação e análise das diferentes manifestações do Sagrado nas religiões, com vistas à interpretação dos seus múltiplos significados” (PARANÁ, 2008). Assim, esta disciplina, por meio de seus fundamentos teóricos e metodológicos contribuirá para a formação integral e humana dos estudantes, bem como para o desenvolvimento da cidadania. Nessa perspectiva, o professor deve ser aquele que instiga no aluno qualidades como ação, reflexão, crítica, curiosidade, questionamento, incerteza, inquietação e a capacidade de dialogar com o diferente, buscando superar as desigualdades étnico-religiosas e garantir o direito constitucional de liberdade de crença, de expressão e, por consequência, o direito à liberdade individual e política, garantindo a diversidade religiosa no espaço escolar. 5 Considerar as quatro matrizes culturais e religiosas como estratégias pedagógicas no trabalho com os conteúdos da disciplina de Ensino Religioso nas Escolas Estaduais do Estado do Paraná que visam contemplar e garantir o estudo da diversidade cultural e religiosa, tendo em vista que os conteúdos serão organizados a partir das matrizes que influenciaram a constituiçãodo povo brasileiro: africana, indígena, ocidental e oriental. Anais do Congresso ANPTECRE, v. 05, 2015, p. GT0138 Respeito e Diversidade Religiosa no Espaço Escolar Historicamente é possível identificar diferentes grupos e sociedades, nos quais se manifestam formas peculiares de ser, viver, agir, pensar, crer e se relacionar, que são características da diversidade cultural de um povo. Assim, dentre as diversas formas de manifestações culturais podemos identificar as expressões, as crenças, os movimentos e as tradições religiosas que influenciam e são influenciadas pelas diferentes culturas. Portanto, não se pode dissociar a religiosidade da cultura, pois o aspecto religioso é um elemento presente em todas as tradições culturais apresentando-se como uma tentativa de resposta aos questionamentos e desafios postos ao ser humano. Partindo então desse pressuposto, entende-se que a manifestação religiosa deve ser considerada como um direito dos povos, pois em contextos socioculturais diferentes, cada ser humano se constitui como ser único e singular e, ao mesmo tempo, diverso. Segundo a Declaração Universal de Direitos Humanos, da qual somos signatários, a liberdade religiosa é um dos direitos fundamentais da humanidade. Também podemos citar o artigo 5º, inciso VI da Carta Magna o qual afirma que: “é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantia, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e suas liturgias” (BRASIL, 1988, Art. 5, VI). Portanto, uma democracia, ao defender os princípios de liberdade, de consciência e de crença, possibilita aos indivíduos a autonomia do pensamento, bem como a interdependência de todos, assegurando assim, o respeito à diversidade cultural e religiosa e o pleno exercício da cidadania. Na sociedade contemporânea, ainda existem muitas controvérsias quando se trata da questão da diversidade religiosa, principalmente no posicionamento e no imaginário das pessoas. O respeito à diversidade pressupõe ultrapassar a uma simples Anais do Congresso ANPTECRE, v. 05, 2015, p. GT0138 condição de aceitação ou mesmo de tolerância ao outro. Por isso, faz-se necessário destacar a diferença entre a tolerância e respeito. A formação religiosa numa determinada confissão não é função da escola nas sociedades plurais e democráticas. Nestas sociedades, a diversidade religiosa necessita estar presente no espaço escolar. Diante dessa necessidade, os ambientes escolares não confessionais, dentre eles os espaços escolares da rede pública, necessitam repensar suas identidades na sociedade, que é composta por diferentes estruturas, tais como: gênero, política, economia, religiosidade entre outras. Por essa razão, é necessário desenvolver um processo pedagógico que liberte o ser humano das cadeias sociais que tem como primeiro objetivo, a dominação e o lucro, aniquilando o seu direito e poder de reflexão, de respeito e de valorização àqueles que têm credo, cor e raça diferente da sua, como afirmou Nelson Mandela: “ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender; e, se podem aprender a odiar, podem ser ensinadas a amar.” Assim, a escola, como instituição social, responsável pela formação dos sujeitos, tem como um dos papéis fundamentais a transmissão da cultura e do conhecimento, sendo imprescindível em sua abordagem questões acerca da diversidade cultural religiosa. Dessa maneira, teremos um modelo de escola plural e democrática que aborde em seu processo pedagógico elementos relacionados à diversidade cultural, bem como as questões da religiosidade e sua ligação com o Sagrado, por meio do convívio intercultural. Nesse contexto, a disciplina de Ensino Religioso, bem como as disciplinas da área das Ciências Humanas, que fazem parte do currículo básico das escolas públicas estaduais do Paraná, tem a função de propiciar ao educando a possibilidade de refletir sobre diversos aspectos da existência, entre eles o Sagrado. Indagar sobre o sentido da vida, entender o comprometimento com a sociedade e com o outro, oferecendo assim subsídios para que os estudantes compreendam como os grupos sociais se constituem culturalmente. Anais do Congresso ANPTECRE, v. 05, 2015, p. GT0138 Conclusão A luz desse entendimento compreende-se que a formação religiosa do sujeito não é papel da escola pública, a qual deve ser plural, laica e democrática, podendo esta função social de formação religiosa, ser da família e suas respectivas comunidades. No espaço escolar, a diversidade religiosa deve ser respeitada com equidade de valor. O Ensino Religioso necessita ser tratado com foco no conhecimento, contextualizado e historicizado para discutir nos ambientes escolares as diversas tradições religiosas, contemplando assim as quatro matrizes religiosas: africana, indígena, ocidental e oriental. Para tanto, a interdisciplinaridade é uma das formas de viabilizar uma relação dialógica entre a Religião, a Educação e a Diversidade Cultural Religiosa no Espaço Escolar. Faz-se necessário que o espaço escolar tematize as questões sobre diversidade cultural religiosa sem referir-se necessariamente a uma religião em concreto. Por isso, para se ter um modelo de escola plural e democrático é de suma importância que a instituição aborde em seu processo pedagógico as questões da religiosidade e sua ligação com o transcendente, por meio do convívio intercultural. Tal convívio é possível por meio de processos educativos que valorizem a diversidade cultural, concomitante com as identidades na sociedade, por meio da compreensão dos outros, propiciando uma forma singular e coerente de expressão, de desenvolvimento da autonomia humana para se ter a liberdade de optar ou não por uma religião. REFERENCIAS ALVES, Rubem. A alegria de ensinar. 3ª. Ed. São Paulo: ARS Poética Editora Ltda, 1994, p. 55. BASTOS, Celso Ribeiro. Curso de Direito Constitucional. 22 ed. São Paulo: Saraiva 2001. Anais do Congresso ANPTECRE, v. 05, 2015, p. GT0138 BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil, 1988. Art. 5, VI. BRASIL. Lei n.º 10.172, de 9 de janeiro de 2001. Aprova o Plano Nacional de Educação e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 11 jan. 2001. Seção 1, p. 1. CANCLINI, G. Néstor. Diferentes, Desiguais e Desconectados. 3ª ed. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2009. DURKHEIM, Émile. Religião e conhecimento. In: Sociologia, 2ª ed. São Paulo: Ática, 1981. FREIRE, Paulo; SHOR, Ira. Medo e Ousadia: O Cotidiano do professor. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1986. GEERTZ, C. A interpretação das Culturas. Rio de Janeiro: LTC, 1989. LEITER, Brian. Why tolerate religion? Manuscrito não publicado, fornecido pelo autor durante o Workshop Direito e Filosofia, coordenado por Brian Leiter na University of Chicago l a w School, no período compreendido entre setembro de 2008 e maio de 2009. MARX, Karl. Introdução à crítica da filosofia do direito de Hegel. In: Questão Judaica. 2ª. Ed. São Paulo: Moraes, 1991, pg.106. ONU. Declaração Universal dos Direitos Humanos. Disponível em: http://www.onu- brasil.org.br/documentos_direitoshumanos. php. Acesso em 29 dez. 2010. 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