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N1 - ESTUDO DA JURISPRUDÊNCIA PREVIDENCIÁRIA

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N1 - ESTUDO DA JURISPRUDÊNCIA PREVIDENCIÁRIA
Diante do fato narrado, do tempo de serviço, da idade e da comorbidade, entende-se que a segurada possui direito à aposentadoria por invalidez, podendo solicitar, após completar os 55 anos, a conversão para aposentadoria especial (rural).
Conforme as informações referentes ao trabalho nas terras da Família Hoffmann, onde a Sra. Cleuza trabalhou por cerca de 20 anos sem registro de ctps, sendo despedia sem justa causa sem receber nenhuma verba rescisória. Cabe o ajuizamento de Reclamatória Trabalhista para reconhecimento do vínculo empregatício, bem como o pagamento de todos os seus diretos (FGTS + multa de 40%, férias +1/3, férias vencidas +1/3, aviso prévio, saldo salário, 13ª salário contribuições previdenciárias etc.).
Com o requerimento indeferido na esfera administrativa, para a concessão da aposentadoria da Sra. Cleuza, é necessário realizar o requerimento na esfera judicial. No caso da Sra. Cleuza, caberia a solicitação da aposentadoria por invalidez (auxílio por incapacidade permanente). No que tange ao Trabalhador rural, que é o caso da Sra. Cleuza, não há exigência do cumprimento da carência, tendo em vista que o artigo 39, inc, I, da Lei 8.219/91 dispõe que a aposentadoria por invalidez ou auxílio-doença será concedido desde que o segurado comprove o exercício da atividade rural, ainda que de forma descontínua, no período de 12 meses.
Existe um critério que deve ser levado em consideração da incapacidade do indivíduo deve pautar-se na análise biopsicossocial, ou seja, considerando-se conjuntamente os critérios físicos, psíquicos e sociais do segurado, tais como: idade, tipo de incapacidade, nível de escolaridade, profissão, possibilidade de acesso a tratamento adequado, agravamento que a atividade pode causar para a doença; o risco que a permanência na atividade pode ocasionar para si e para terceiros; suscetibilidade ou potencial do segurado à readaptação profissional.
Ainda, de acordo com a Sum 47 do TNU, uma vez reconhecida a incapacidade parcial para o trabalho, o juiz deve analisar as condições pessoais e sociais do segurado para a concessão de aposentadoria por invalidez.
O STJ e a TNU têm aplicado o critério da incapacidade biopsicossocial em seus julgados:
PROCESSUAL CIVIL E PREVIDENCIÁRIO. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. APOSENTADORIA POR INVALIDEZ. INCAPACIDADE LABORAL. AFERIÇÃO POR CRITÉRIOS SOCIAIS E CULTURAIS. POSSIBILIDADE. NÃO VINCULAÇÃO AO LAUDO PERICIAL.
1. Esta Corte tem entendimento no sentido de que, para a concessão da aposentadoria por invalidez, o magistrado não está vinculado à prova pericial e pode concluir pela incapacidade laboral levando em conta os aspectos socioeconômicos, profissionais e culturais do segurado.[2]
PREVIDENCIÁRIO. RECURSO ESPECIAL. APOSENTADORIA POR INVALIDEZ. LAUDO PERICIAL CONCLUSIVO PELA INCAPACIDADE PARCIAL DO SEGURADO. NÃO VINCULAÇÃO. CIRCUNSTÂNCIA SÓCIO-ECONÔMICA, PROFISSIONAL E CULTURAL FAVORÁVEL À CONCESSÃO DO BENEFÍCIO.
1. Os pleitos previdenciários possuem relevante valor social de proteção ao Trabalhador Rural Segurado da Previdência Social, devendo ser, portanto, julgados sob tal orientação exegética.
2. Para a concessão de aposentadoria por invalidez devem ser considerados outros aspectos relevantes, além dos elencados no art. 42 da Lei 8.213/91, tais como, a condição sócio-econômica, profissional e cultural do segurado. (grifos nossos)
3. Embora tenha o laudo pericial concluído pela incapacidade parcial do segurado, o Magistrado não fica vinculado à prova pericial, podendo decidir contrário a ela quando houver nos autos outros elementos que assim o convençam, como no presente caso.
4. Em face das limitações impostas pela avançada idade (72 anos), bem como por ser o segurado semi-analfabeto e rurícula, seria utopia defender sua inserção no concorrido mercado de trabalho, para iniciar uma nova atividade profissional, pelo que faz jus à concessão de aposentadoria por invalidez.
5. Recurso Especial não conhecido.[3]
PREVIDENCIÁRIO - APOSENTADORIA POR INVALIDEZ - PRINCÍPIO DO LIVRE CONVENCIMENTO MOTIVADO DO MAGISTRADO - INCAPACIDADE CONJUGADA COM CONDIÇÕES PESSOAIS - JURISPRUDÊNCIA PACÍFICA DA TURMA NACIONAL DE UNIFORMIZAÇÃO - RECURSO CONHECIDO E PROVIDO 1 - Pedido de Uniformização da parte autora alega incoerência na valoração das provas acostadas aos autos e na decisão da Turma de origem, uma vez que restou comprovada a gravidade da patologia que acomete a requerente, o que, aliado às suas condições pessoais, conduz a total impossibilidade de reinserção desta no mercado de trabalho. 2 - É assente na Jurisprudência desta Turma Nacional, que mesmo que não exista incapacidade total para o trabalho, do ponto de vista médico, o magistrado poderá considerar outros fatores para averiguar a possibilidade de conceder a aposentadoria por invalidez. O julgador não está adstrito ao laudo pericial, sendo-lhe permitido decidir opostamente a ele quando encontrar, nos autos, elementos suficientes para motivar sua decisão. A análise da incapacidade laborativa deve levar em conta não apenas a limitação de saúde da pessoa, mas igualmente a limitação imposta pelo seu universo social, pelo tipo de atividade que desempenha, pelos fatores pessoais e sociais que impossibilitem a reinserção do segurado no mercado de trabalho. 3 - Conforme destacado, na própria decisão impugnada, o Perito do Juízo registrou que a parte autora não apresentou nenhuma melhora de saúde, mesmo após cirurgia realizada no ano 2006, atestou quadro clínico crítico e sem chances de reabilitação. Conjugando tais informações com as questões aduzidas no recurso, à gravidade da patologia, à idade e à baixa escolaridade da autora, há de se concluir que a decisão impugnada destoou do entendimento desta Corte quando afastou os aspectos pessoais e sociais da segurada e reformou a sentença do Juizado. 4 - Desta feita, é evidente que a decisão da Turma de origem está dissonante da jurisprudência desta TNU, e merece ser reformada, nos termos da Questão de Ordem nº 06, aplicada analogicamente, pois se vê que as condições pessoais foram analisadas pela Turma de origem, favoravelmente à autora, todavia, deixou-se de conceder o benefício em virtude de tese contrária à jurisprudência desta Corte, conforme se depreende do acórdão impugnado: "(...) Desta forma, não há que se confundir impossibilidade de reabilitação - que além do exame da natureza da enfermidade, perpassa também pelas características pessoais do segurado - com a impossibilidade de melhora (incapacidade permanente), capaz de ensejar a concessão da aposentadoria por invalidez. (...)" 5 - Assim sendo, CONHEÇO E DOU PROVIMENTO AO PEDIDO DE UNIFORMIZAÇÃO SUSCITADO PELA PARTE AUTORA, para afastar o acórdão recorrido e restabelecer a sentença de fls. 63/65.ACÓRDÃO Acordam os membros desta Turma Nacional de Uniformização em conhecer o pedido de uniformização suscitado pela parte autora e dar-lhe provimento para afastar o acórdão da Turma Recursal de origem e restabelecer a sentença do Juizado.[4] (grifos nossos).
Sendo assim, o ato médico-pericial deve se amparar não somente na avaliação clínica, mas também na repercussão social e psicológica sobre a capacidade de trabalho em atividade que possibilite ao segurado determinado nível de subsistência, o que tecnicamente se denomina capacidade de ganho.
Fontes:
1. STJ, AgRg no AREsp 103.056/MG, Rel. Ministro BENEDITO GONÇALVES, PRIMEIRA TURMA, julgado em 25/06/2013, DJe 02/08/2013 
2. STJ, REsp 965.597/PE, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, QUINTA TURMA, julgado em 23/08/2007, DJ 17/09/2007, p. 355 
3. TNU, PEDILEF 200933007021873, JUIZ FEDERAL VLADIMIR SANTOS VITOVSKY, DOU 11/05/2012.

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