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1 Laís Flauzino | MEDICINA ANATOMIA DO FÍGADO É o órgão central do metabolismo e o maior órgão do sistema digestório e maior glândula do corpo. É um órgão vital. Localização intraperitoneal, na região superior direita do abdome. Está fixo ao diafragma e por isso acompanha as incursões respiratórias. FUNÇÕES DO FÍGADO: • Metabolismo e armazenamento de nutrientes (glicogênio, gorduras, aminoácidos, vitaminas, metais). • Detoxificação e eliminação de substâncias tóxicas. • Produção de bile (glândula exócrina) • Produção de proteínas plasmáticas – fatores de coagulação, albumina e fatores hematopoiéticos. • Produção de fatores de crescimento (glândula endócrina) • Defesa imunológica • Degradação de eritrócitos (hemólise) e função hematopoiética no período fetal. A veia porta do fígado conduz os nutrientes absorvidos nos intestinos e o sistema linfático conduz os lipídios na forma de lipoproteínas. Alguns processos metabólicos ocorrem exclusivamente no fígado, como o ciclo da ureia. A glicose é convertida em glicogênio assim como várias vitaminas (A, B12 e ácido fólico), o ferro e o cobre, que são armazenados em seu interior. A partir dos aminoácidos, uma variedade de proteínas plasmáticas é sintetizada, como a albumina, fatores de coagulação sanguínea, hormônios e seus precursores, além de proteínas do sistema complemento, componentes da imunidade inata. O fígado converte as lipoproteínas absorvidas no intestino para que elas possam ser usadas pelos tecidos do corpo, além de ser o local central da produção de colesterol, que é formado dependendo do suprimento de alimentos. O colesterol é convertido em ácidos biliares – componente da bile. Após a liberação nas vias biliares, a bile é armazenada na vesícula biliar. Durante a alimentação, a bile é lançada no lúmen intestinal. Deste modo, a bile permite a disponibilização do colesterol para o corpo, ao mesmo tempo que colabora na digestão das gorduras. O fígado é um órgão excretor – substâncias endógenas (bilirrubina) e exógenas (medicamentos) são detoxificados e eliminados através da bile no lúmen intestinal, ou liberados no sangue para excreção através do rim. Regulação da defesa imunológica: proteínas plasmáticas e células de Kupffer. PROJEÇÃO DO FÍGADO: No lado esquerdo: o lobo esquerdo se estende até o QSE do abdome, aproximadamente até a linha medioclavicular esquerda – posicionando-se à frente do estômago. Encontra-se sobre a 5ª costela. No lado direito: a margem superior do lobo direito do fígado projeta-se na posição normal do diafragma sobre o 4° espaço intercostal. Devido à curvatura do diafragma (cúpulas), o fígado se sobrepõe anterior e posteriormente em parte à cavidade pleural. Na anatomia normal, a margem inferior do fígado é recoberta pelo arco costal até a linha medioclavicular direita. Para a estimativa do tamanho do fígado, considera-se como medida padrão que o fígado não deve ocupar mais de 12 cm no diâmetro craniocaudal na linha medioclavicular direita. O fígado não é palpável sob o arco costal direito. No entanto, sua posição é determinada pelo volume dos pulmões e pela posição do diafragma, de modo que nem sempre há um aumento de tamanho do fígado quando ele é palpável. ESTRUTURA ANATÔMICA: Dividido em: • Lobo hepático direito (Grande) • Lobo hepático esquerdo (pequeno) Separados anteriormente pelo ligamento falciforme do fígado. 2 Laís Flauzino | MEDICINA Ligamento redondo do fígado: está na margem inferior do lig falciforme, estendendo-se para frente, em direção à parede abdominal. É um resquício da veia umbilical. Faces do fígado: • Face diafragmática: superior, adjacente ao diafragma. Não é recoberta pelo peritônio visceral – área nua. • Face visceral: inferior, voltada para as vísceras. É delimitada anteriormente pela margem inferior. Porta do fígado: na face visceral, continua à fissura do ligamento redondo. Nela os troncos principais direito e esquerdo dos vasos e os ductos do fígado geralmente entram ou saem, da direção anterior para posterior, na seguinte ordem: • Ducto hepático comum • Artéria hepática própria • Veia porta do fígado Devido à presença conjunta do ligamento redondo do fígado, do ligamento venoso, da veia cava inferior e da vesícula biliar, forma-se uma estrutura em “formato de H”, cuja barra transversal representa a porta do fígado. Na face inferior do lobo direito do fígado são delimitadas duas áreas – anterior e posterior à porta do fígado: • Lobo quadrado – anteriormente • Lobo caudado – posteriormente Mas são extensões e não lobos propriamente ditos. 3 Laís Flauzino | MEDICINA O fígado não é recoberto pelo peritônio em quatro áreas principais: • Área nua • Porta do fígado • Fossa da vesícula biliar • Sulco da veia cava inferior PARTES E SEGMENTOS DO FÍGADO: O fígado é subdividido em oito segmentos funcionais. As 3 veias hepáticas dividem o fígado em 4 áreas adjacentes e o tecido conectivo circunjacente forma as fissuras. As quatro divisões verticais são subdivididas pelos ramos vasculares e ductos da tríade portal do fígado (veia porta do fígado, artéria hepática própria e ducto hepático comum), em oito segmentos hepáticos. O lobo quadrado é parte do segmento IVb. Posteriormente, foi descrito um nono segmento, que se situa entre os segmentos VIII e I, mas até então este novo segmento não foi considerado no contexto cirúrgico. Sob o ponto de vista funcional, é importante que os segmentos I-IV sejam supridos pelos ramos esquerdos da tríade portal e, portanto, agrupados na parte esquerda do fígado, em contraste com os lobos hepáticos macroscopicamente identificáveis, enquanto os segmentos V-VIII são dependentes dos ramos direitos da tríade portal e, sob o ponto de vista funcional, representam a parte direita do fígado. Somente o segmento I é suprido regularmente por ramos de ambos os lados. Deste modo, os limites entre as partes direita e esquerda do fígado, sob o ponto de vista funcional, situam-se no plano sagital entre a veia cava inferior e a vesícula biliar (“plano cava-vesícula biliar”), e não no nível do ligamento falciforme do fígado. Os segmentos do fígado são de grande significado na cirurgia abdominal. Na prática, o cirurgião realiza a remoção dos segmentos considerando os ramos individuais dos vasos aferentes, de modo que os segmentos do fígado possam ser identificados de forma confiável em função de sua descoloração associada à redução do fluxo sanguíneo. O fígado é dividido em oito segmentos, dos quais – sob o ponto de vista funcional – os segmentos I-IV pertencem à parte esquerda do fígado de acordo com seu suprimento sanguíneo, enquanto os segmentos V-VIII pertencem à parte direita do fígado. Consequentemente, a parte funcional esquerda do fígado é maior do que o lobo esquerdo anatômico do fígado. HISTOLOGIA DO FÍGADO: O parênquima hepático é dividido em lóbulos hepáticos clássicos. Nos vértices se situam os espaços porta – onde se localizam os ramos terminais da tríade portal. No centro de cada lóbulo está uma veia centrolobular, que coleta o sangue oriundo dos vasos sanguíneos das tríades portais após ele ter passado entre as células do fígado (hepatócitos), sendo conduzido para as veias sublobulares e, daí, para as veias hepáticas. Dessa forma, os hepatócitos capturam nutrientes e substâncias liberadas no sangue e também secretam substâncias sintetizadas, tais como as proteínas plasmáticas. 4 Laís Flauzino | MEDICINA O sangue flui no sentido do centro do lóbulo hepático clássico e, portanto, no sentido oposto ao da bile, que é conduzida por entre os hepatócitos em direção à periferia dos lóbulos, onde entra nos ductos biliares intra- hepáticos presentes nos espaços porta. Quando a estrutura dos lóbulos é comprometida pela reorganização cicatricial do tecido conjuntivo na cirrose hepática, que promove a formação de nódulos parenquimatosos (pseudolóbulos), o fluxo sanguíneoé prejudicado. Como consequência, ocorrem o refluxo do sangue na veia porta do fígado e o aumento de pressão sanguínea portal (hipertensão portal). A consequência é a possível criação de desvios do sangue nas redes colaterais vasculares (anastomoses portocavas. TOPOGRAFIA: O fígado se adapta ao formato dos órgãos circunjacentes e eles deixam impressões na sua superfície – artefatos de fixação. O fígado apresenta relações anatômicas diretas com os seguintes órgãos vizinhos: • Rim, glândula suprarrenal, duodeno e intestino grosso (lobo direito) • Esôfago e estômago (lobo esquerdo) 5 Laís Flauzino | MEDICINA Na face diafragmática, o ligamento falciforme do fígado se continua cranialmente no ligamento coronário. Este ligamento envolve a área nua e se continua, de cada lado, com um ligamento triangular direito e um ligamento triangular esquerdo, como conexões ao diafragma. O ligamento triangular esquerdo se funde ao apêndice fibroso do fígado, de formato cônico. Abaixo do ligamento falciforme, segue o ligamento redondo do fígado (resquício da veia umbilical da circulação fetal). Ambos os ligamentos se projetam na parede anterior do tronco e contêm pequenas artérias, veias (veias paraumbilicais) e canais linfáticos, através dos quais o fígado recebe conexões dos leitos vasculonervosos da parede anterior do tronco. Os ligamentos do fígado são de grande importância nas cirurgias. O ligamento triangular esquerdo estabiliza o lobo hepático esquerdo quando a metade direita (funcional) do fígado deve ser removida, impedindo, assim, uma rotação do lobo com distúrbios do fluxo venoso. Por outro lado, a secção do ligamento triangular direito ou do ligamento triangular esquerdo permite a mobilização do respectivo lobo do fígado, caso haja a necessidade de acesso à veia cava inferior, ao esôfago ou ao diafragma. Devido às conexões arteriais entre o segmento IV e a região de suprimento da artéria torácica interna no ligamento redondo do fígado, esse ligamento geralmente deve ser ligado ou cauterizado para prevenir hemorragias em todas as cirurgias na região direita do abdome que exijam mobilização do fígado. A partir da face visceral do fígado se origina o omento menor, que é subdividido em: • Ligamento hepatogástrico – os ramos hepáticos parassimpáticos, derivados dos troncos vagais, seguem para o fígado e originam os ramos pilóricos para o estômago. • Ligamento hepatoduodenal – os vasos, nervos e ductos seguem para o fígado na seguinte ordem: à direita: ducto colédoco; à esquerda: artéria hepática própria; posteriormente: veia porta do fígado; além disso: canais linfáticos, linfonodos e nervos autônomos (plexo hepático). Atrás do ligamento hepatoduodenal se localiza a entrada da bolsa omental (forame omental/epiploico), que representa uma projeção (recesso) da cavidade peritoneal posteriormente ao omento menor e ao estômago. 6 Laís Flauzino | MEDICINA ARTÉRIAS DO FÍGADO: O fígado é suprido pela artéria hepática própria que é uma continuação da artéria hepática comum (ramo do tronco celíaco). Após a origem da artéria gástrica direita, a artéria hepática própria se estende no ligamento hepatoduodenal, juntamente com a veia porta do fígado e o ducto colédoco, em direção à porta do fígado. Neste local, a artéria, geralmente, se divide em um ramo direito e um ramo esquerdo para as duas partes funcionais do fígado. A artéria mesentérica superior está envolvida no suprimento do lobo hepático direito, ou a artéria gástrica esquerda está envolvida no suprimento do lobo hepático esquerdo (artérias hepáticas acessórias). Mais raramente, toda a artéria hepática comum ou a artéria hepática própria se originam da artéria mesentérica superior (3%). 7 Laís Flauzino | MEDICINA VEIAS DO FÍGADO: O fígado possui dois sistemas venosos, um aferente e outro eferente: • Veia porta do fígado – conduz o sangue, rico em nutrientes, oriundo dos órgãos abdominais não pares (estômago, intestinos, pâncreas, baço) para o fígado. • 3 veias hepáticas conduzem o sangue do fígado para a veia cava inferior. A veia porta do fígado tem cerca de 7cm recebe 3 troncos principais: • Veia mesentérica superior – se une posteriormente ao colo do pâncreas, com a veia esplênica para a formação da veia porta do fígado. • Veia esplênica • Veia mesentérica inferior – desemboca ou na veia esplênica, ou na veia mesentérica superior ou na confluência dos troncos principais. Na região da porta do fígado, a veia porta do fígado se divide em troncos principais direito e esquerdo. As tributárias da veia esplênica (drenam o sangue do baço e de partes do estômago e do pâncreas) são as seguintes: • veias gástricas curtas; • veia gastromental esquerda; • veia gástrica posterior (inconstante); • veias pancreáticas (da cauda e do corpo do pâncreas). 8 Laís Flauzino | MEDICINA As tributárias da veia mesentérica superior (drenam o sangue de partes do estômago e do pâncreas, de todo o intestino delgado, e dos colos ascendente e transverso) são: • veia gastromental direita, com veias pancreaticoduodenais; • veias pancreáticas (da cabeça e do corpo do pâncreas); • veias jejunais e ileais; • veia ileocólica; • veia cólica direita; • veia cólica média. As tributárias da veia mesentérica inferior (drenam o sangue do colo descendente e da parte superior do reto): • veia cólica esquerda; • veias sigmóideas; • veia retal superior: esta veia se conecta à veia retal média e à veia retal inferior, que fazem parte da área de drenagem da veia cava inferior. Além disso, ainda existem veias que, após a fusão dos troncos principais, desembocam diretamente na veia porta do fígado: • veia cística (oriunda da vesícula biliar); • veias paraumbilicais (através de veias no ligamento redondo do fígado, da parede abdominal ao redor do umbigo); • veias gástricas direita e esquerda (oriundas da curvatura menor do estômago); • veia pancreaticoduodenal superior posterior (posteriormente à cabeça do pâncreas). ANASTOMOSES PORTOCAVAS: São as conexões da veia porta do fígado com as regiões de drenagem das veias cavas superior e inferior. Circulações colaterais possíveis através de anastomoses portocavas: • Veia gástrica direita e esquerda: conexão através das veias esofágicas e das veias do sistema ázigo à veia cava superior – pode levar à dilatação das veias da submucosa do esôfago (varizes esofágicas) • Veias paraumbilicais: conexões com as veias cavas superior e inferior, por meio das veias da parede anterior do corpo (veias profundas - veia epigástrica superior e veia epigástrica inferior; veias superficiais: veia toracoepigástrica e veia epigástrica superficial). A dilatação das veias superficiais leva à cabeça de medusa. • Veia retal superior: através de veias da porção inferior do reto e da veia ilíaca interna, para a veia cava inferior. Raramente ocorre formação de varizes ao redor do ânus, o que não deve ser confundido com hemorroidas. • Anastomoses retroperitoneais: através da veia mesentérica inferior para a veia testicular/ovárica, com conexão à veia cava inferior. Com um aumento de pressão na circulação portal do fígado (hipertensão portal), por exemplo, na cirrose hepática, as conexões com as regiões de drenagem das veias cavas superior e inferior (anastomoses portocavas) podem ser abertas ou formadas. As conexões com as veias esofágicas são importantes, sob o ponto de vista clínico, porque o sangramento de varizes esofágicas rompidas é fatal e é a principal causa de morte na cirrose hepática. As conexões com a parede anterior do tronco, no entanto, são apenas de relevância diagnóstica. Embora a “cabeça de medusa” ocorra apenas raramente, a imagem é tão característica que uma cirrose hepática não pode ser ignorada. Em contrapartida, as conexões retroperitoneais e as anastomoses entre as veias do reto são pouco significativas sob o ponto de vista clínico.Sob a ótica terapêutica, é possível realizar uma ligadura e a escleroterapia das varizes esofágicas nos casos graves de hipertensão portal. Alternativamente, pode-se estabelecer uma conexão entre as veias hepáticas e os ramos congestos da veia porta do fígado por meio de um cateter balão colocado na veia cava inferior, através do parênquima hepático (desvio – ou derivação – portossistêmico[a] intra-hepático[a] transjugular, TIPS – transjugular intrahepatic portosystemic shunt). 9 Laís Flauzino | MEDICINA O aumento de tamanho do baço (esplenomegalia) também ocorre devido à estase sanguínea e como consequência da hipertensão portal. VASOS LINFÁTICOS DO FÍGADO: Há dois sistemas de vasos linfáticos no fígado: • Sistema subperitoneal superficial, na superfície do fígado • Sistema intraparenquimatoso profundo, que segue os vasos sanguíneos das tríades portais até a porta do fígado. De acordo com os linfonodos regionais, existem duas vias principais de drenagem: 10 Laís Flauzino | MEDICINA • Na direção caudal, para a porta do fígado (principal via de drenagem), através dos linfonodos hepáticos na porta do fígado, de onde a linfa segue, através de vasos linfáticos no ligamento hepatoduodenal, para os linfonodos celíacos na origem do tronco celíaco, e daí para os troncos intestinais. • Na direção cranial, através do diafragma (através do forame da veia cava e do hiato esofágico), via linfonodos frênicos inferiores e superiores nos linfonodos mediastinais, que estabelecem conexões com os troncos broncomediastinais. Os carcinomas do fígado também podem usar esta via para propagar metástases nos linfonodos torácicos. Vasos linfáticos individuais, no ligamento coronário e nos ligamentos triangulares, também podem desembocar no ducto torácico sem a interposição de canais linfáticos. INERVAÇÃO DO FÍGADO: Inervado pelo plexo hepático – plexo nervoso autônomo intrínseco situado ao redor da artéria hepática própria, que representa uma continuação do plexo celíaco. • Inervação simpática: fibras nervosas pós-ganglionares, derivadas de neurônios, cujos corpos celulares se localizam nos gânglios celíacos (durante os exercícios, estas fibras nervosas estimulam a degradação do glicogênio de modo a aumentar os níveis de glicose no sangue; a secreção de bile é suprimida). • Inervação parassimpática: fibras nervosas pré-ganglionares que, adicionalmente, se ramificam como ramos hepáticos no omento menor, derivados dos troncos vagais, e fazem conexões sinápticas no plexo hepático (estas fibras nervosas estimulam a produção da bile durante a ingestão de alimentos). • Inervação sensitiva: o peritônio na superfície da cápsula do fígado é inervado pelo nervo frênico direito (ramo frenicoabdominal) e pelos nervos intercostais inferiores. Devido à inervação sensitiva da cápsula do fígado provida pelo nervo frênico (plexo cervical), podem ocorrer sensações dolorosas diretamente na parede abdominal durante uma punção do fígado ou uma ruptura da cápsula hepática, bem como no ombro direito (dor referida). Vesícula biliar e vias biliares: • Localização intraperitoneal, na região superior direita do abdome, na face inferior do fígado, incluída na fossa da vesícula biliar. • Está ligada ao fígado e ao duodeno através das vias biliares. • Serve para armazenamento e concentração da bile produzida pelo fígado. • É preenchida por meio de um refluxo, quando o esfíncter hepatopancreático está fechado em sua desembocadura no duodeno. • Não é um órgão vital. PROJEÇÃO E TOPOGRAFIA: O fundo da vesícula ultrapassa a margem inferior do fígado e se projeta no nível da 9ª costela ficando diretamente em contato com a parede abdominal. Ela só se torna palpável quando está intensamente aumentada de volume em função de uma estase da bile. Devido às íntimas relações anatômicas com o duodeno e o intestino grosso, nos casos de uma inflamação da vesícula biliar (colecistite), devido à presença de cálculos biliares (colelitíase), tais cálculos podem atingir o intestino a partir da perfuração da parede da vesícula biliar, podendo ser excretados ou ocasionar obstrução intestinal (ileus por cálculos biliares). ESTRUTURA ANATÔMICA DA VESÍCULA BILIAR E DAS VIAS BILIARES EXTRA -HEPÁTICAS: A vesícula mede 7-10 cm, em repouso comporta 40-70mL e é dividida em: • Corpo da vesícula biliar • Fundo da vesícula biliar • Colo da vesícula biliar 11 Laís Flauzino | MEDICINA O colo é seguido pelo ducto cístico (excretor), com 3-4 cm de comprimento, fechado pela prega espiral de Heister antes de se unir ao ducto hepático comum (principal do fígado) para a formação do ducto colédoco. O ducto hepático comum se forma na porta do fígado, a partir da união dos ductos hepáticos direito e esquerdo. Ducto colédoco mede 6cm e tem 0,4 a 0,9 cm de calibre. Em casos raros, ele pode estar duplicado ou ausente. O ducto colédoco segue, inicialmente, no ligamento hepatoduodenal, anteriormente e à direita da veia porta do fígado, em seguida posteriormente à parte superior do duodeno e, finalmente, atinge a parte descendente do duodeno passando através da cabeça do pâncreas. Sua desembocadura se localiza na papila maior do duodeno (papila de Vater), distante 8-10 cm do piloro do estômago. Antes da desembocadura, o ducto colédoco geralmente se une (em 60% dos casos) ao ducto pancreático para formarem a ampola hepatopancreática. A musculatura lisa da parede forma um músculo esfíncter do ducto colédoco cujo segmento inferior, caracterizado como músculo do esfíncter da ampola hepatopancreática (esfíncter de Oddi), também inclui a ampola e a sua desembocadura. Juntamente com o músculo esfíncter do ducto pancreático, forma-se um complexo esfinctérico com 3 cm de comprimento. Uma vez que o ducto colédoco atravessa a cabeça do pâncreas e apresenta uma constrição na papila maior do duodeno, em função do músculo esfíncter da ampola hepatopancreática, nos carcinomas do pâncreas (geralmente indolores) podem ocorrer desde obstrução da papila, devido a um cálculo biliar retido (normalmente doloroso, com cólicas biliares) até estase biliar (colestase), com refluxo de bile para a corrente sanguínea. Devido à deposição da bilirrubina, um pigmento biliar, no tecido conjuntivo, ocorre tipicamente a pigmentação de tonalidade amarelada da esclera do olho e, mais tarde, da pele (icterícia). Nestes casos, os ductos biliares são visualizados por meio da ultrassonografia ou por radiografia com meio de contraste (colecistopancreatografia retrógrada endoscópica, CPRE). Um alargamento do ducto colédoco acima de 1 cm de diâmetro indica colestase. Devido à união do ducto colédoco com o ducto pancreático, pode ocorrer, simultaneamente, um refluxo da secreção pancreática, ocasionando inflamação do pâncreas (pancreatite) causada por autodigestão parcial do órgão. VASOS E NERVOS DA VESÍCULA BILIAR E DAS VIAS BILIARES: SUPRIMENTO ARTERIAL DA VESÍCULA BILIAR: Artéria cística: Se origina do ramo direito da artéria hepática própria e se ramifica, emitindo um ramo superficial para a própria vesícula biliar e um ramo profundo para a fossa da vesícula biliar, que se anastomosam entre si. 12 Laís Flauzino | MEDICINA Além disso, delgados ramos, derivados do parênquima hepático (originados da ramificação do ramo direito da artéria hepática própria para o segmento hepático V) se aproximam do corpo da vesícula biliar. A artéria cística também pode se originar de outros ramos, ou do tronco da artéria hepática própria ou, ainda, da artéria gastroduodenal. Embora apenas uma artéria cística esteja presente em 80% dos casos, uma artéria cística acessória pode estar presente em até 20%. Este rico suprimento explica por que razão a necrose da vesícula biliar é rara. SUPRIMENTO ARTERIAL DAS VIAS BILIARES: Enquanto o ducto hepático comum é suprido apenas por ramos da artéria cística e pelo ramo direito da artéria hepática própria,o ducto colédoco apresenta, além destas duas artérias descendentes, artérias ascendentes, derivadas da artéria gastroduodenal. O terço distal do ducto e a papila maior do duodeno são supridos por um plexo vascular, originado da artéria pancreaticoduodenal superior. Devido às variações na origem da artéria cística, é necessário um grande cuidado durante a remoção da vesícula biliar (colecistectomia). Sempre se deve excluir a presença de uma segunda artéria cística, de modo a evitar sangramentos pós- -cirúrgicos. A rica perfusão sanguínea da papila maior do duodeno também explica por que razão, durante a remoção cirúrgica de um cálculo biliar retido (papilotomia), podem ocorrer sangramentos intensos da artéria pancreaticoduodenal superior posterior. DRENAGEM VENOSA: Veia cística: Segue na face peritoneal da vesícula biliar e desemboca diretamente na veia porta do fígado. Na face voltada para o fígado se situam muitos pequenos ramos que também drenam os segmentos proximais das vias biliares. O sangue oriundo dos segmentos distais flui através das veias na cabeça do pâncreas para a veia porta do fígado. VASOS LINFÁTICOS: A vesícula biliar, geralmente, tem o seu próprio linfonodo cístico no colo, a partir do qual a linfa é drenada, através dos linfonodos da porta do fígado, para os linfonodos celíacos. Em contrapartida, os vasos linfáticos dos segmentos da vesícula biliar, adjacentes ao fígado, entram no parênquima hepático e se conectam com as vias de drenagem linfática do fígado. A linfa oriunda do segmento proximal do ducto colédoco também segue para o linfonodo cístico, enquanto a linfa da porção distal chega aos linfonodos na cabeça do pâncreas. INERVAÇÃO: A inervação corresponde ao suprimento do fígado: A inervação simpática e parassimpática deriva do plexo hepático. A contração mediada pela divisão parassimpática sustenta a contração – induzida por hormônios – da musculatura da parede da vesícula biliar, inibindo o músculo esfíncter da ampola hepatopancreática, promovendo, assim, a eliminação da bile. A divisão simpática apresenta funções antagônicas. Inervação sensitiva: o peritônio na superfície da vesícula biliar, distante do fígado, é inervado pelo nervo frênico direito (ramo frenicoabdominal). Sobre a organização geral do sistema nervoso autônomo no abdome. Tal como acontece com o fígado, as dores podem irradiar para o ombro direito nos casos de inflamação da vesícula biliar (colecistite) devido à inervação sensitiva da cápsula do fígado pelo nervo frênico (plexo cervical). TRÍGONO CISTO-HEPÁTICO: O ducto cístico forma, juntamente com o ducto hepático comum e a superfície inferior do fígado, o trígono cisto- hepático, que também é chamado triângulo de Calot. Seus limites são: 13 Laís Flauzino | MEDICINA • Ducto cístico • Ducto hepático comum • Superfície inferior do fígado O trígono cisto-hepático é uma importante referência de orientação que deve ser reconhecida durante a remoção da vesícula biliar. Antes de proceder à remoção, todas as estruturas relevantes são identificadas antes que a artéria cística e o ducto cístico sejam ligados. Isso pode reduzir o risco de ligadura errônea do ducto colédoco, o que causaria estase da bile (colestase). Referência: WASCHKE, Jens. Sobotta Anatomia Clínica. [Digite o Local da Editora]: Grupo GEN, 2018. 9788595151536. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788595151536/. Acesso em: 04 abr. 2022.
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