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BIOÉTICA E BIOSSEGURANÇA APLICADA Amanda Stapenhorst Direitos do cliente/paciente Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Explicar os diferentes signi� cados semânticos e legais do paciente/ cliente. Reconhecer quais são os direitos dos pacientes nos serviços de saúde. Relacionar os direitos dos pacientes/clientes e a conduta pro� ssional do esteticista. Introdução No Brasil, em apenas dois anos, houve um aumento de 360% na procura por procedimentos estéticos não cirúrgicos (Sociedade Brasileira de Ci- rurgia Plástica – SBCP). A busca pela beleza sempre foi uma característica do ser humano e, com o crescimento do mercado da estética e a maior acessibilidade a todas as esferas sociais, a demanda por procedimentos cosméticos seguiu o padrão mercadológico. O aumento da demanda teve impacto direto sobre o número de clínicas de estética e de profissionais esteticistas presentes no mercado de trabalho brasileiro. Neste capítulo, vamos explorar as implicações dos direitos dos pa- cientes/clientes durante a atuação do profissional esteticista, abordando a importância da diferenciação na terminologia em relação ao paciente ou cliente, assim como as suas implicações legais. O significado de paciente e cliente e suas implicações na área da saúde Quando falamos sobre cuidados na área da saúde, automaticamente pensamos em um profi ssional habilitado atendendo às necessidades de um indivíduo que busca atendimento clínico. Entretanto, é importante pensar sobre o signifi cado de cada palavra e como elas podem induzir modifi cações na percepção e na compreensão de determinadas situações. U2_C09_Bioetica e biossegurança.indd 97 27/10/2017 16:26:16 Como você chama os indivíduos que procuraram pelos seus serviços? Pacientes? Clientes? Esse questionamento se faz necessário porque cada uma das expressões acima são diferentes, apesar de serem amplamente utilizadas como sinônimos. Ainda existe controversa entre o uso dos termos paciente e cliente na área da saúde, pois a relação estipulada é implicitamente profis- sional, em que uma das partes compra um serviço da outra parte envolvida. A palavra paciente, originado do Latim patiens, significa sofredor, muito di- ferentemente ao que encontramos nos dicionários, em que ser paciente significa “ter paciência, calma e serenidade”. Já o Dicionário Médico Merriam-Webster define que a palavra paciente se refere a “indivíduo enfermo, aguardando ou realizando tratamento médico ou cirurgia”. Em sua versão mais atual, o dicionário incluiu que o termo também pode significar “cliente para serviço médico”. O termo cliente foi inicialmente vinculado ao vocabulário da econo- mia liberal de mercado, em que o indivíduo que procura atendimento de saúde privado é o consumidor de um bem de consumo, ou seja, do acesso à saúde. A Organização Mundial de Saúde (OMS) define a saúde como “um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não somente ausência de afecções e enfermidades”. Todo indivíduo possui o direito fundamental à saúde, assegurado sem distinção de raça, orientação sexual, religião, ideologia política ou condição socioeconômica. No século XX, a saúde se baseava em pressupostos morfológicos, juntamente com a integridade de órgãos, bom desempenho das funções vitais, vigor físico e equilíbrio mental individual. Atualmente, a saúde é um valor mais comunitário do que individual, pois ela passou a ser considerada como um fator imperativo para a relação do indivíduo com o trabalho e a comunidade. Após 1950, os movimentos em defesa dos direitos humanos aumentaram exponencialmente, principalmente com o término da Segunda Guerra Mun- dial. Esses movimentos foram tão intensos que atingiram toda as esferas da sociedade, incluindo os profissionais da saúde e a sua prática clínica. Em 1948, a Organização das Nações Unidas (ONU) publicou um manifesto que definia os princípios básicos de respeito e de dignidade da pessoa humana. No Brasil, os direitos dos pacientes foram incialmente instituídos pelo movimento Proposta do Grupo de Brasília, no qual o atual Código de Ética Médica se baseia. Após esse primeiro ato para instituir os diretos dos pacientes/ clientes, outros códigos de ética profissionais foram elaborados, visando à proteção desses mesmos direitos (BRASIL, 1988). Com a criação do Código de Ética Médica, várias propostas começaram a ser formuladas e amplamente debatidas no cenário nacional, mas foi apenas depois de 1986, durante as VIII e IX Conferências Nacionais da Saúde, que Direitos do cliente /paciente98 U2_C09_Bioetica e biossegurança.indd 98 27/10/2017 16:26:16 os direitos dos pacientes foram efetivamente conquistados. Os direitos dos pacientes também estão garantidos na Constituição Brasileira, no Código Civil Brasileiro, no Código Penal Brasileiro e, mais recentemente, no Código de Defesa do Consumidor (BRASIL, 1986, 1982). Nas últimas décadas, houve um aumento expressivo da preocupação com os aspectos éticos e legais na área da saúde. O Novo Código Civil Brasileiro documenta, de maneira clara e objetiva, os principais conceitos legais de res- ponsabilidade civil. Os artigos: “Art. 186º – Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito ou causar prejuízo a outrem, fica obrigado a reparar o dano.” e “Art. 1545º – Os médicos, cirurgiões, farmacêuticos, parteiras e dentistas são obrigados a satisfazer o dano sempre que da imprudência, negligência ou imperícia em atos profissionais, resultar em morte, inabilitação de servir ou ferimento” (BRASIL, 2002). Em nosso país, a saúde é considerada um serviço público e, após a promul- gação da Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990, responsável pela adoção do Código de Defesa do Consumidor (CDC), o acesso à saúde também passou a ser legalmente considerado um bem de consumo. O Artigo 6º do CDC lista os direitos básicos de consumidor, entre eles a garantia do direito à informação e ainda, no inciso X, a prestação de serviços públicos em geral de maneira adequada e eficaz, assegurando, assim, os diretos do usuário na utilização de um serviço de saúde (BRASIL, 1990). O Código de Defesa do Consumidor define no “Art. 2°: Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final” e no “Art. 3°: Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonaliza- dos, que desenvolvem atividade de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços” (BRASIL, 1990). Também dentro do Artigo 3º, é estipulado que “Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista”. Ou seja, para os autores do Código de Defesa do Consumidor, o paciente é o CONSUMIDOR para quem se presta um SERVIÇO (atendimento) e o profis- sional da saúde é o FORNECEDOR, pois está desenvolvendo atividades de prestação de serviços mediante remuneração (BRASIL, 1990). Também é previsto no Artigo 14º, do CDC, que “o fornecedor de serviços responde independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, 99 Direitos do cliente /paciente U2_C09_Bioetica e biossegurança.indd 99 27/10/2017 16:26:16 bem como por informações insuficientes e inadequadas sobre sua fruição ou risco.” (BRASIL, 1990). Vamos refletir rapidamente sobre o artigo acima: “o fornecedor de serviços responde independentemente da existência de culpa [...]”. Você acha que seria legalmente aceitável que um profissional da saúde respondesse pela reparação dos danos causados ao consumidor, sem a existência de culpa? Ainda mais quando considerarmosque os serviços da saúde nem sempre são realizados de maneira objetiva, os pacientes/clientes não possuem as mesmas características que os outros? Pensando nisso, o Parágrafo 4º desse artigo declara que “a responsabilidade pessoal dos profissionais liberais será apurada mediante a verificação da culpa”. Portanto, fica declarado por lei que, na atividade dos profissionais liberais, mesmo sendo ela uma atividade de risco, não existe culpa presumida. Entre- tanto, a análise da existência de culpa também fará uso de informações sobre a conduta do profissional da saúde como prestador de serviços, assegurando que ela tenha atendido ao que é determinado nos Códigos de Ética Profissionais. Dessa forma, a responsabilidade dos profissionais da área da saúde é analisada subjetivamente, ficando sob encargo do paciente/cliente produzir provas que comprovem a existência de culpa e a consequente reparação dos danos causados ao consumidor durante a prestação de serviços. Entretanto, é considerado infração ética não esclarecer adequadamente o paciente/cliente sobre propósitos, custos e alternativas de tratamento, assim, entende-se que a responsabilidade civil do profissional liberal se estende desde o planejamento, até a execução e o término do tratamento. O Artigo 3º do Código de Defesa do Consumidor diz que: “Fornecedor é toda pes- soa física ‘(PROFISSIONAL)’ ou jurídica ‘(CLÍNICA)’, pública (ESTADO) ou privada (PARTICULAR), nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividades de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços”. Então podemos concluir que toda vez que o cliente contrata uma clínica de estética, a empresa também deve respeitar os direitos do paciente/cliente e responder legalmente em nome dos seus profissionais (BRASIL, 1990). Direitos do cliente /paciente100 U2_C09_Bioetica e biossegurança.indd 100 27/10/2017 16:26:17 Direitos dos pacientes/clientes A Declaração Universal de Direitos Humanos, formalizada em 1948 pela Or- ganização das Nações Unidas (ONU), reconhece “que todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos”. Foi por meio dessas noções fundamentais de igualdade e de dignidade que se desenvolveu o conceito dos direitos dos pacientes, ou seja, o que é devido ao paciente como ser humano, além disso, existe grande variação de acordo com o país e as diferentes jurisdi- ções. No Brasil, o Ministério da Saúde declarou, por intermédio da Portaria nº 1286, de 26 de outubro de 1993, Art. 8º, e nº 74, de 04 de maio de 1994, quais são os direitos básicos do paciente no atendimento da saúde (BRASIL, 1993). Todos os pacientes têm direito a atendimento humano e respeitoso por todos os profissionais da saúde e devem ser devidamente identificados pelo seu nome e sobrenome. Ele não deve ser chamado pelo nome da doença, de forma genérica, imprópria, desrespeitosa ou preconceituosa. O profissional da saúde deve ser identificado por crachá preenchido com nome, função e cargo e fornecer, ao paciente, auxílio imediato e oportuno. É de responsabilidade do profissional informar ao paciente, de maneira clara, sobre o procedimento ao qual vai ser submetido e também sobre a sua finalidade. A mesma abordagem é válida para a realização de exames laboratoriais. Ademais, o paciente tem direito a informações claras, simples e compreensivas, adaptadas à sua condição cultural. Essas informações comtem- plam o diagnóstico e a abordagem terapêutica, possíveis eventos adversos e quais instrumentos serão utilizados. O paciente tem o direito de consentir ou recusar qualquer tipo de procedi- mento, diagnóstico ou abordagem terapêutica. Ele deve consentir, de forma livre, voluntária e esclarecida, com informações adequadas para cada situação. É de direito do paciente revogar o consentimento previamente fornecido, sem que ele sofra punições morais ou legais. Para ser legalmente válido, o consentimento deve se basear nas informações relevantes e fornecidas pelo profissional ao paciente. O consentimento pode ser fornecido de forma escrita ou verbal, desde que o paciente possua condições cognitivas, seja maior de idade e totalmente informado sobre a natureza e as possíveis consequências da intervenção clínica. Caso o procedimento seja experimental ou parte de um projeto de pes- quisa, o paciente deve ser informado sobre os possíveis riscos, a existência de alteração no curso da doença, o possível aumento no seu sofrimento e o maior desenvolvimento da sua patologia. Nenhum procedimento experimen- tal ou de pesquisa deve ser realizado sem o consentimento do paciente, que 101 Direitos do cliente /paciente U2_C09_Bioetica e biossegurança.indd 101 27/10/2017 16:26:17 tem garantido por lei o seu direito de recusa. Em casos de aceite por parte do paciente, um termo de consentimento livre e esclarecido, no qual consta a descrição de todos os procedimentos aos quais o paciente será submetido, deve ser assinado para ter validade legal. Caso o paciente esteja impossibili- tado de expressar seu consentimento, este deve ser dado por escrito por seus familiares ou responsáveis. O paciente deve ter acesso livre ao seu prontuário, que deve ser preenchido de forma legível, contendo o conjunto de documentos sobre o seu histórico, condição patológica, raciocínio clínico, exames, conduta terapêutica e outras anotações clínicas pertinentes ao caso. Se necessário, o paciente pode solicitar que seu diagnóstico e seu tratamento sejam fornecidos por escrito, de maneira clara e legível, juntamente com a identificação do profissional de saúde e o seu registro no respectivo conselho profissional. Os medicamentos fornecidos ao paciente devem ser acompanhados de bula impressa, com data de fabricação e validade, além de receitas com o nome genérico do medicamento, com assinatura e com carimbo que contenha o número do registro do conselho profissional. O profissional deve fornecer o acesso às contas detalhadas referentes às despesas do tratamento, dos exames, das medicações e de outros procedi- mentos. O paciente não deve ser discriminado por ser portador de qualquer tipo de patologia, especialmente no caso de ser portador de HIV/Aids ou de doenças infectocontagiosas. Também é direito do paciente ser acompanhado, se desejar, tanto nas consultas como nas internações. O paciente tem direto, pelo sigilo profissional, de ter seus segredos resguar- dados, desde que os mesmos não resultem em riscos a terceiros. Tais segredos incluem tudo aquilo que, mesmo desconhecido pelo próprio indivíduo, possa ser compreendido pelo profissional da saúde através das informações obtidas no histórico do paciente, exames laboratoriais e radiológicos. O paciente tem direito à sua segurança e à sua integridade física nos esta- belecimentos de saúde, sejam eles públicos ou privados. O paciente tem direito à indenização no caso de qualquer complicação em suas condições de saúde, resultantes de imprudência, negligência ou imperícia dos profissionais da área. Concluindo, conhecer e reconhecer os direitos do paciente e exercê-los durante a sua atuação profissional resultará em melhorias na qualidade dos serviços prestados, além de facilitar a sua relação com o seu paciente/cliente. Direitos do cliente /paciente102 U2_C09_Bioetica e biossegurança.indd 102 27/10/2017 16:26:17 O paciente como cliente: a conduta profissional do esteticista Atualmente, existe um código brasileiro de direitos dos pacientes e vários textos, entre eles leis, resoluções, declarações e códigos que regem dentro da sua esfera de competência quais são esses direitos. Para você ter uma visão geral de quais são esses textos, podemos citar a Constituição Federal do Brasil, o Código Civil Brasileiro, o Código de Defesa do Consumidor, as Declarações Internacionais de Princípios, as Normas do Ministério da Saúde e também vários textoslegislativos que são esparsos entre si e abordam o tema apenas dentro de um pequeno escopo legal. Essa tridimensionalidade do direito, o direito dos pacientes e os deveres do profi ssional resultam em uma sobreposição entre cada esfera legal (civil, penal ou consumidor), portanto, o paciente, enquanto seu cliente, possui seus direitos assegurados por toda legislação atual, dependendo do olhar jurídico que for empregado. A partir de agora, o indivíduo que está sob seus cuidados como profissional esteticista habilitado também é seu cliente e a sua conduta profissional é fator determinante na conquista e na manutenção do usuário dos seus serviços. Como um profissional esteticista, você encontrará inúmeros dilemas, sejam eles éticos ou legais, e em algumas dessas situações pode existir mais de um possível curso de ação. Entretanto, os diretos do paciente sempre serão a sua prioridade. Primeiramente, devemos deixar claro que a relação profissional/ paciente se baseia em três pressupostos: a conduta clínica, os aspectos éticos e os parâmetros legais. No último Relatório de Denúncias em Serviços de Interesse para a Saúde, publicado pela Agência Nacio- nal de Vigilância Sanitária (ANVISA) em março de 2017, os serviços de estética e embelezamento dominam o quadro de reclamações, totalizando 52% de todas as denúncias e as reclamações realizadas no ano de 2016. Acesse o link a seguir e sabia mais sobre o assunto: https://goo.gl/o9qJck 103 Direitos do cliente /paciente U2_C09_Bioetica e biossegurança.indd 103 27/10/2017 16:26:18 O respeito à autonomia do paciente é um dos principais desafios éticos que você enfrentará durante o exercício da sua profissão. Na área da saúde, o profissional deve reconhecer e respeitar o direito de livre escolha do indivíduo, suas crenças pessoais e seus valores, respeitando, dessa forma, a autonomia do seu paciente. Esse é o direito fundamental que deve ser estabelecido entre o profissional e o paciente. Os pacientes que procuram tratamento confiam nas suas habilidades como profissional esteticista, mas isso não significa que eles automaticamente abri- ram mão do seu direito de autonomia. Mas considere que, apesar do seu direito de autonomia, nem sempre o paciente fará a melhor escolha. E é justamente nesses casos em que o conhecimento teórico e prático do profissional são de extrema importância para a tomada de decisão, ou seja, você deve explicar, de forma clara, fornecendo o máximo de informação possível para o seu paciente, possibilitando que ele saiba exatamente quais são os impactos do tratamento na sua qualidade de vida. Tendo em vista que o paciente/cliente possui o direito legal de indenização quando for constatado caso de imprudência, negligência ou imperícia durante o curso do tratamento estético, procure sempre realizar o procedimento mais adequado para o seu paciente, examine-o atentamente e não realize técnicas arriscadas, principalmente quando não há justificativa para a realização destas. Ademais, não realize procedimentos fora da sua competência profissional ou técnicas que ainda não são totalmente dominadas. A sua capacidade de aceitar as responsabilidades atribuídas à profissão de esteticista deve ser um componente inerente da sua conduta profissional. Você é responsável não apenas pelos seus pacientes, mas também pela maneira como você se porta quando estiver confrontado por conta de algum problema clínico. Como profissionais da área de estética, a maioria dos pacientes que você atenderá estará em busca de tratamentos para melhorar a pele, as feições ou o corpo e, possivelmente, apresentará algum grau de ansiedade ou desconforto. Para muitos pacientes, a primeira consulta requer coragem e também alto nível de consideração durante a escolha do profissional esteticista. Portanto, é necessário que você passe confiança e guie seu paciente de maneira confortável e segura durante todo o processo de escolha de tratamento, possibilitando, dessa forma, a construção de uma relação profissional/paciente de maneira eficaz e duradora. A confiança do paciente possibilita que ele fale mais aber- tamente sobre as suas preocupações estéticas, permitindo que o esteticista faça uso do seu conhecimento para elaborar um plano de tratamento ideal para cada situação. Direitos do cliente /paciente104 U2_C09_Bioetica e biossegurança.indd 104 27/10/2017 16:26:18 Sempre escute o paciente de uma maneira aberta e sem julgamentos, assim você poderá criar um plano de tratamento especificamente direcionado para ele. Além disso, não esqueça de fornecer as informações necessárias sobre o tratamento, sendo assim, o paciente poderá exercer o seu direito de escolha e de consentimento livre e esclarecido. A coexistência da relação profissional com alguma outra afinidade pessoal com o paciente, como, por exemplo, familiares e amigos, pode interferir na sua capacidade de se concentrar exclusivamente nas necessidades do paciente e acabar alterando a sua capacidade de julgamento diante de alguma deter- minada situação. Outro componente essencial na conduta profissional é o respeito pela dignidade do paciente. Nesse quesito, utilizaremos a linguagem como exem- plo de conduta profissional e a sua importância para a relação profissional/ paciente. Alguns indivíduos já se sentem desconfortáveis apenas pelo fato de estarem na situação de paciente (talvez isso já tenha acontecido com você) e esse desconforto pode ser agravado por conta da linguagem utilizada para explicar o procedimento ou até mesmo pelos possíveis eventos adversos após o tratamento. Tenha sempre em mente que nem todos os indivíduos possuem o mesmo nível de escolaridade e conhecimento, logo, o uso de terminologia muito técnica pode não apenas assustar o paciente, mas também fazer com que ele se sinta inferior a você, que é o profissional responsável pelo seu bem-estar. O uso de linguagem adequada também é importante, portanto, evite utilizar gírias ao explicar o procedimento para o seu paciente. Possuir uma conduta profissional requer um balanço adequado entre o distanciamento profissional e o comportamento casual. Leve sempre em consideração a sua imagem pessoal e a imagem que ela passa para o seu pa- ciente. Embora seja normal conversar com paciente sobre aspectos pessoais, principalmente no início da construção da relação profissional/paciente, tendo como objetivo deixar o paciente mais à vontade ou até mesmo para estabelecer um certo grau de confiança entre os lados, fornecer, de forma excessiva, informações pessoais pode gerar uma situação desconfortável. Nos dias de hoje, a qualificação profissional é necessária, não apenas para melhorar a sua prática clínica, mas também para reassegurar o seu paciente das suas habilidades como profissional esteticista. É dever do profissional estar sempre atualizado com novas técnicas e novos equipamentos e também é direito do paciente questionar as competências clínicas do esteticista. Atualmente, os procedimentos estéticos estão altamente sofisticados, eficazes e acessíveis. Entretanto, o aumento do acesso a esses procedimentos também acarretou o 105 Direitos do cliente /paciente U2_C09_Bioetica e biossegurança.indd 105 27/10/2017 16:26:18 aumento de procedimentos sem indicações e de alto risco, geralmente motivado pela pressão social e também pela eterna busca por beleza. O desejo inato de ter uma boa aparência é um dos motivos que leva o paciente a buscar tratamentos estéticos, mas é de responsabilidade do pro- fissional detectar a real necessidade do procedimento, sem ser influenciado pelas demandas do paciente. No caso de um paciente que apresenta grau excessivo de preocupações estéticas, é importante que você questione as reais motivações para o tratamento em questão, se o paciente já realizou outros tratamentos estéticos e com qual frequência e também se existe histórico de transtornos psiquiátricos. Nos últimos anos, o Transtorno Dismórfico Corporal apresentouaumento na sua incidência, independentemente do gênero, faixa etária e classe socioeconô- mica. Esse transtorno é definido pela OMS como um excesso de preocupação ou distorção exagerada de um aspecto estético mínimo ou imaginário. Portanto, o entendimento da motivação do paciente que procura o tratamento estético é fundamental, pois ela pode ser resultante de pressão externa (familiar e social) e são esses pacientes que apresentam o menor nível de satisfação com os resultados do tratamento estético. Você também deve avaliar qual a expectativa do paciente com o tratamento estético. Pacientes que são socialmente ajustados geralmente apresentam expectativas realistas e se beneficiam com o tratamento estético. Em contra- partida, os pacientes que estão enfrentando alguma forma de pressão social tendem a apresentar expectativas irreais e, consequentemente, baixo grau de satisfação após o procedimento estético. Para evitar problemas relacionados às expectativas dos pacientes, é fundamental que você não prometa resultados excelentes. O desenvolvimento da conduta profissional e a construção de uma relação saudável entre você e o seu paciente se baseia não apenas nas suas habilidades clínicas e etiqueta, mas também em valores éticos e morais. O desenvolvimento dos seus próprios princípios morais e éticos permitirão que você identifique os direitos do seu paciente enquanto seu cliente e esse reconhecimento permitirá que você não apenas beneficie seu paciente/cliente, mas também respeite os seus direitos ao longo de toda a interação entre as partes envolvidas. Direitos do cliente /paciente106 U2_C09_Bioetica e biossegurança.indd 106 27/10/2017 16:26:19 Nos últimos anos, Walter começou a ficar mais preocupado com as suas rugas de expressão, principalmente as localizadas na fronte e ao redor dos olhos. Outros indi- víduos, em geral, acham que Walter é mais velho do que sua verdadeira idade, o que o deixa constrangido e atualmente começou a afetar sua autoconfiança. Recentemente, Walter deixou de socializar e também faltou vários dias de trabalho. Rafaela, a esposa de Walter, está preocupada e sugere que ele pense sobre fazer algumas aplicações de toxina botulínica para reduzir a aparência das rugas faciais. Inicialmente, Walter reluta, pois ele acredita que outras pessoas farão piadas se desco- brirem que ele realizou tratamento estético, entretanto, Rafaela consegue convencê-lo e marca uma consulta com um profissional esteticista para discutirem as opções de tratamento. Eles vão juntos para a primeira consulta de Walter, porém, o esteticista que o atenderia não está trabalhando e ele então é repassado para uma consulta com um profissional recém formado, que apenas possui experiência na aplicação de toxina botulínica para o tratamento de hiperhidrose (suor excessivo). Vamos considerar que o profissional, por não ter experiência com esse tipo de procedimento facial, está apto a realizar o tratamento? Não! É direito do paciente e dever do profissional sempre atuar dentro das suas competências, ou seja, você jamais pode realizar um procedimento pela primeira vez, sem treinamento supervisionado por outro profissional habilitado. O profissional que realizou a consulta deveria ter informado a Walter que não possuía conhecimento prévio para esse tipo de tratamento ou então ter procurado outro esteticista para acompanhá-lo. Entenda e saiba mais sobre o Transtorno Dismórfico Corporal, assim você poderá identificar com maior facilidade qual a verdadeira importância do trata- mento cosmético para o seu paciente. Acesse o link: https://goo.gl/CMDDTf 107 Direitos do cliente /paciente U2_C09_Bioetica e biossegurança.indd 107 27/10/2017 16:26:19 1. Segundo o Código de Defesa do Consumidor: a) Consumidor é toda pessoa física que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final. b) Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final. c) Consumidor é toda pessoa jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final. d) Consumidor é toda a empresa que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final. e) Consumidor é quem compra algum produto. 2. Segundo a Portaria nº 1286, de 26 de outubro de 1993, Art. 8º, e nº 74, de 04 de maio de 1994, marque a afirmativa correta sobre os direitos básicos do paciente no atendimento da saúde. a) O profissionais da saúde podem chamar os pacientes por termos pejorativos. b) O paciente não pode ter acesso livre ao seu prontuário, somente médicos e profissionais da saúde. c) O paciente tem o direito de consentir ou recusar qualquer tipo de procedimento, diagnósticos ou abordagens terapêuticas. d) O paciente não pode acessar as contas detalhadas referentes às despesas do tratamento. e) Nenhuma das alternativas anteriores. 3. Em caso de imprudência ou imperícia do profissional da saúde, o paciente: a) Não tem direito a indenização. b) Somente tem direito a indenização por parte do estabelecimento/clínica. c) Somente tem direito a indenização por parte do profissional da saúde. d) Tem direito à indenização no caso de qualquer complicação em suas condições de saúde. e) Tem direito a indenização somente em casos muito graves. 4. Marque a definição correta para o Transtorno Dismórfico Corporal: a) Excesso de preocupação ou distorção exagerada de um aspecto estético mínimo ou imaginário. b) Distorção de uma parte específica do corpo. c) Distorção mental do que é estética. d) Transtorno relacionado à forma do corpo. e) Indivíduo que realiza muitos procedimentos estéticos. 5. Segundo o Código de Defesa do Consumidor, o profissional da saúde e o paciente são, respectivamente: a) Ambos consumidores. b) Fornecedor de um serviço e consumidor. c) Consumidor e fornecedor de serviço. d) Ambos fornecedores de serviço. e) Autônomo e fornecedor de serviço. Direitos do cliente /paciente108 U2_C09_Bioetica e biossegurança.indd 108 27/10/2017 16:26:20 BRASIL. Ministério da Saúde. Conferência Nacional de Saúde: IX relatório final. Brasília, DF: Centro de Documentação do Ministério da Saúde, 1992. BRASIL. Ministério da Saúde. Conferência Nacional de Saúde: VIII relatório final. Brasília, DF: Centro de Documentação do Ministério da Saúde, 1986. BRASIL. Conselho Federal de Medicina. Código de ética médica. Rio de Janeiro: CRE- MERJ, 1988. BRASIL. Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990. Dispõe sobre a proteção do consumidor e dá outras providências. Brasília, DF, 1990. Disponível em: <http://www.planalto.gov. br/ccivil_03/leis/L8078.htm>. Acesso em: 17 out. 2017. BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Brasília, DF, 2002. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406.htm>. Acesso em: 17 out. 2017. BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 1.286, de 26 de outubro de 1993. Brasília, DF, 1993. Disponível em: <http://www.lex.com.br/doc_4362_portaria_N_1286_DE_26_DE_OU- TUBRO_DE_1993>. Acesso em: 17 out. 2017. ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Declaração universal dos direitos humanos. Brasí- lia, 1948. Disponível em: <http://unesdoc.unesco.org/images/0013/001394/139423por. pdf>. Acesso em: 17 out. 2017. ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Constituição da Organização Mundial da Saúde (OMS/WHO). Nova Iorque, 1946. Disponível em: <http://www.direitoshumanos.usp.br/ index.php/OMS-Organiza%C3%A7%C3%A3o-Mundial-da-Sa%C3%BAde/constituicao- -da-organizacao-mundial-da-saude-omswho.html>. Acesso em: 17 out. 2017. Leituras recomendadas AMESTOY, S. C.; SCHWARTZ, E.; THOFEHRN, M. B. A humanização do trabalho para os profissionais de enfermagem. Acta Paulista de Enfermagem, São Paulo, v. 19, n. 4, p. 444-449, 2006. CARVALHO, J. C. C.; FARIAS, R. S. Do culto à beleza ao direito à estética: problemas abertos para uma filosofia jurídica da complexidade. Cadernos de Graduação: Ciências Humanas e Sociais: FACIPE, Recife,v. 1, n. 2, p. 75-83, nov. 2013. KREISCHER, E. D. et al. Os direitos do paciente segundo o posicionamento de médicos e enfermeiros: pesquisa exploratória. Revista Brasileira de Enfermagem, Brasília, DF, v. 49, n. 4, p. 625-638, dez. 1996 . 109 Direitos do cliente /paciente U2_C09_Bioetica e biossegurança.indd 109 27/10/2017 16:26:20 MORI, A. T. Expectativas com relação aos resultados estéticos dos tratamentos odontoló- gicos. 2003. Dissertação (Mestrado em Deontologia e Odontologia Legal)- Faculdade de Odontologia, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2003. SAITO, D. Y. T. et al. 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