Buscar

4 VIROSES RESPIRATÓRIAS

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 98 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 98 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 98 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

4 VIROSES RESPIRATÓRIAS
DEFINIÇÃO
Características dos vírus causadores de viroses respiratórias: vírus influenza, vírus parainfluenza, vírus sincicial respiratório humano e novo coronavírus associado à síndrome respiratória aguda grave. Viroses transmitidas por artrópodes: dengue, febre amarela, chikungunya, febre do mayaro e zika.
PROPÓSITO
Compreender as características dos vírus causadores das principais doenças respiratórias, bem como apresentar as arboviroses distinguindo as suas particularidades.
OBJETIVOS
MÓDULO 1
Identificar os principais vírus respiratórios e as suas características
MÓDULO 2
Distinguir as viroses transmitidas por vetores artrópodes e as suas particularidades
INTRODUÇÃO
A doença viral ocorre em consequência de uma infecção viral em um hospedeiro, o qual pode apresentar sintomas e sinais clínicos. Dentre os micro-organismos causadores de doenças do trato respiratório, os vírus são os principais responsáveis em relação a outros patógenos microbianos e geram uma dívida para a sociedade e os sistemas de saúde, uma vez que acarretam elevada morbidade e mortalidade, para a população infanto-juvenil e adulta, em todo o mundo.
Anualmente, em torno de 29 a 59 milhões de pessoas nos Estados Unidos são infectadas pelo vírus influenza. Destas, 200.000 precisam ser hospitalizadas e aproximadamente 36.000 morrem. As doenças respiratórias virais agudas geralmente envolvem as vias respiratórias superiores ou inferiores e são o resultado de infecções por uma gama de vírus. Dentre os mais relevantes, destacam-se o vírus sincicial respiratório, o influenza, o parainfluenza e, atualmente, o novo coronavírus (SARS-CoV-2). Este último é causador da COVID-19, caracterizada pela OMS como pandemia em 2020, levou a mais de 400 mil vítimas fatais.
Entretanto, além das doenças respiratórias, temos um segundo importante grupo de infecções virais, denominadas de arboviroses e transmitidas por artrópodes. Você deve se lembrar dos casos de microcefalia causados pelo zika vírus, do elevado número de casos de dengue em 2019 (1,5 milhão) que culminou em mais de 750 mortes confirmadas ou das dores nas articulações relatadas por um familiar ou amigo infectado pelo vírus chikungunya.
Este tema tem por objetivo apresentar os principais vírus causadores de viroses respiratórias e transmitidas por artrópodes, evidenciando as características estruturais virais, as particularidades das doenças, o modo de transmissão viral e a sintomatologia.
MÓDULO 1
Identificar os principais vírus respiratórios e as suas características
VIROSES RESPIRATÓRIAS
As infecções respiratórias virais são comuns entre todas as faixas etárias, sendo a maioria das doenças aguda, relativamente leve e limitada às vias aéreas superiores de crianças e adultos imunocompetentes. Entretanto, observa-se uma gama de sintomas podendo variar de resfriados comuns com ou sem dor de garganta até infecções da laringe e traqueobrônquicas graves, bronquiolite e pneumonia. Comumente, ocorrem complicações incluindo infecções bacterianas secundárias que causam otite, sinusite ou mesmo pneumonia.
Cada vírus tem uma preferência por determinada faixa etária e certas partes do trato respiratório, causando uma variedade de doenças. Embora alguns possam ser associados a síndromes específicas, é possível que cada síndrome seja causada por mais de um vírus respiratório.
Os vírus respiratórios são facilmente transmitidos por meio do contato direto com infectados, gotículas infecciosas durante tosse e espirros; ou indireto, por meio de transferência manual de secreções, e transferência de objetos ou superfícies contaminados ao epitélio nasal ou conjuntival de pessoas suscetíveis.
VÍRUS INFLUENZA
Os vírus infuenza (A, B e C) são membros da família Orthomyxoviridae e pertencem a três gêneros: Influenzavirus A, Influenzavírus B e Influenzavírus C (Quadro 1). São identificados por diferenças antigênicas na nucleoproteína e na proteína de matriz, infectando diferentes vertebrados:
Fonte: Blue Flourishes/Shutterstock
VÍRUS INFLUENZA A
Humanos, outros mamíferos e aves.
Fonte: Blue Flourishes/Shutterstock
VÍRUS INFLUENZA B E C
Principalmente, humanos.
Quadro 1 - Gêneros Influenzavírus A, B e C e suas respectivas espécies e sorotipos.
	Gêneros
	Espécies
	Sorotipos ou subtipos
	Influenzavírus A
	Vírus Influenza A
	H1N1, H1N2, H2N2, H3N1, H3N2, H3N3,
H5N1, H5N2, H5N3, H5N8, H5N9, H7N1,
H7N2, H7N3, H7N4, H7N7, H9N2, H10N7
	Influenzavírus B
	Vírus Influenza B
	 
	Influenzavírus C
	Vírus Influenza C
	 
 Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal
Fonte: Molinaro, Caputo e Amendoeira, 2009.
ESTRUTURA VIRAL
Os influenzavírus são esféricos, pleomórficos, envelopados, com nucleocapsídeo medindo entre 80-120nm de diâmetro. Possuem como material genético um RNA de fita simples, polaridade negativa e segmentado (Figura 1).
Fonte: Designua/ShutterstockFigura 1 - Estrutura do vírus Influenza.
Dependendo do tipo, os influenzavírus apresentam sete (vírus influenza c) ou oito (vírus influenza a e b) segmentos. Em sua constituição proteica, estão presentes as seguintes proteínas estruturais e não estruturais:
HEMAGLUTININA (HA)
Glicoproteína de superfície que medeia a ligação do vírus (adsorção) a resíduos de ácido siálico na membrana da célula hospedeira, permitindo a fusão viral e consequente entrada de vírus na célula.
Fonte: Designua/ShutterstockFigura 2 - Ciclo replicativo do influenzavírus.
NEURAMINIDASE (NA)
Glicoproteína de superfície que remove resíduos de ácido siálico da célula hospedeira, permitindo a liberação de novas partículas virais, da superfície das células infectadas.
· Nucleoproteína (NP)
· Proteínas de matriz M1 e M2
· Proteínas não estruturais NS1 e NS2
· Proteínas do núcleo PA, PB1 (polimerase básica 1), PB1-F2 e PB2
ALTERAÇÕES GENÉTICAS
Dentre as proteínas acima apresentadas, a HA e a NA podem sofrer alterações decorrentes de mutações e recombinações gênicas, sem ocorrer perda ou alteração de função. Esses processos acarretam o que chamamos de drift e shift antigênicos.
E o que isso significa?
As mutações menores do genoma viral (drift) levam a epidemias anuais. Já as mutações maiores do genoma viral (shift) podem levar a pandemias. Dentre as três espécies de vírus influenza, o subtipo A sofre mutações genéticas frequentes, resultando em drift antigênico e surtos anuais consistentes e, menos comumente, sofrem rearranjo gênico, levando a shift antigênico e grandes pandemias em todo o mundo. Já a espécie B e, principalmente, a C são menos diversificadas geneticamente e, por consequência, drift e shift antigênicos são menos frequentes.
VOCÊ SABIA
Você já ouviu falar da Gripe Espanhola que ocorreu em 1918?
Ela foi um exemplo claro de uma pandemia de influenza que assolou a Europa e chegou a atingir diversos países em outros continentes, incluindo o Brasil. Causada pelo vírus H1N1, a gripe espanhola dizimou entre 20 a 40 milhões de pessoas, segundo estimativas da OMS.
Outras pandemias decorrentes de grandes mutações aconteceram, como a gripe asiática (1957), causada pelo vírus influenza A (H2N2), a gripe de Hong Kong (1968), ocasionada pelo vírus influenza A (H3N2) e a gripe A, inicialmente, chamada de gripe suína, causada por uma cepa de H1N1. Esta última ocorreu primeiramente no México e logo atingiu outras nações, incluindo o Brasil, causando a morte de até 575 mil pessoas em todo o mundo.
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
Quais são as principais manifestações clínicas decorrente da infecção por influenzavírus?
RESPOSTA
Febre alta, dor de cabeça, calafrios, dores musculares, tosse seca, dentre outros sintomas que duram em média 3 dias. O período de fase aguda é de 4-8 dias, seguido pelo período de convalescência que dura de 1 a 2 semanas.
Indivíduos idosos, imunodeprimidos ou que apresentem alterações cardíacas e pulmonares podem apresentar complicações neurológicas e pneumonia.
DIAGNÓSTICO LABORATORIAL
A partir da coleta de secreção nasofaringe (obtida por swab ou aspiração), pode-se realizar:
Fonte: diy13/Shutterstock
SWAB NASOFARÍNGEO
·Isolamento Viral em cultura de células.
· Identificação dos Antígenos Virais.
· Diagnóstico molecular (identificação de material genético viral).
PREVENÇÃO E TRATAMENTO
A prevenção é feita por meio de vacinas de vírus vivo inativado e o tratamento a partir de fármacos, como: cloridrato de amantadina e rimantadina.
VÍRUS PARAINFLUENZA HUMANO
Os vírus parainfluenza humano (HPIVs) são significativas causas de doenças respiratórias, tanto em crianças, quanto em adultos e com uma ampla gama de manifestações clínicas, incluindo resfriados, gripe, bronquiolite e pneumonia.
ATENÇÃO
As epidemias sazonais do HPIV correspondem a 40% de internações pediátricas por doenças do trato respiratório inferior e a 75% dos casos de crupe. A imunidade resultante da doença na infância é incompleta e a reinfecção pode ocorrer durante a vida adulta, entretanto, os sintomas são geralmente leves e autolimitados. Em adultos imunocomprometidos ou idosos, a infecção pode progredir para o trato respiratório inferior e causar pneumonia grave com risco fatal.
CRUPE
Croup em inglês, ou crupe em português, é uma afecção da laringe que gera tosse e uma respiração ruidosa. O grande risco é a obstrução da laringe, dificultando ou impossibilitando a respiração.
Os HPIVs estão associados a um amplo espectro de doenças como otite, faringite, conjuntivite, traqueobronquite, crupe e pneumonia. Manifestações respiratórias menos frequentes, como apneia, bradicardia e parotidite também podem também ser relatadas. Embora HPIVs infectem primariamente tecidos do trato respiratório, a infecção disseminada pode causar doenças neurológicas, renais e reumatológicas.
Os HPIVs pertencem à família Paramyxoviridae e possuem 4 sorotipos (1 a 4). Em relação à população alvo de cada sorotipo, temos:
Fonte: Blue Flourishes/Shutterstock
HPIV 1 E HPIV 2
Maior preocupação em crianças com idade entre 6 meses a 12 anos.
Fonte: Blue Flourishes/Shutterstock
HPIV 3
Principalmente, crianças <1 ano de idade.
Fonte: Blue Flourishes/Shutterstock
HPIV 4
A maioria das crianças é soropositivo por volta dos 10 anos.
ESTRUTURA VIRAL
Os vírus são pleomórficos, com diâmetro que varia entre 150 a 200 µm; seu material genético consiste em uma fita simples de RNA polaridade negativa que codifica 6 proteínas essenciais (Figura 3):
Fonte: Adaptado de Moscona, 2005Figura 3 - Esquema da estrutura do vírus parainfluenza.
Proteína do nucleocapsídeo (NP)
Fosfoproteína (P)
Proteína de matriz (M)
Glicoproteína de fusão (F)
Glicoproteína hemaglutinina-neuraminidase (HN)
RNA polimerase (L)
As glicoproteínas HN medeiam a ligação do vírus (adsorção) a resíduos de ácido siálico na membrana da célula hospedeira, e as glicoproteínas F à fusão viral e, consequentemente, à entrada do vírus na célula. Assim como os vírus influenza, a porção de neuraminidase da proteína HN também funciona para liberar partículas virais recém-montadas da superfície das células infectadas.
DIAGNÓSTICO
Embora a síndrome clínica de crupe seja comumente associada ao HPV 1, a maioria das outras apresentações de infecção por HPIV não possui características únicas que permitam diagnosticar infecção viral. Assim, se o diagnóstico viral específico for desejado, são necessários testes laboratoriais a partir de amostras coletadas por meio de: swab nasofaríngeo, swab combinado de nariz e garganta, escarro e secreção broncoalveolar. Em seguida, pode-se realizar:
Fonte: Chippo Medved/Shutterstock
Isolamento viral em cultura de células.
Fonte: Chippo Medved/Shutterstock
Identificação dos antígenos virais.
Fonte: Chippo Medved/Shutterstock
Diagnóstico molecular (identificação de material genético viral).
PREVENÇÃO E TRATAMENTO
Atualmente, não existe vacina licenciada para a prevenção de infecção por parainfluenza, bem como não existem agentes antivirais com eficácia comprovada. Portanto, o tratamento da infecção por HPIV varia de acordo com a sintomatologia, podendo incluir: corticosteroides, agentes antivirais e ribavirina.
VÍRUS SINCICIAL RESPIRATÓRIO HUMANO (RSV)
O RSV é classificado como pneumovírus pertencente à família Paramyxoviridae, tem como população alvo as crianças com idade inferior a 5 anos (pico de atividade aos 6 meses para 2 anos de idade) e idosos.
Há maior incidência no outono e inverno, em locais de clima temperado e, durante todo o ano, em regiões de clima tropical. Seus principais sintomas são: bronquiolite e pneumonia.
ESTRUTURA VIRAL
O material genético do RSV consiste em um RNA fita simples, linear, com polaridade negativa. Este é revestido por um capsídeo, seguido de um envelope lipídico. O genoma possui 10 genes que codificam duas proteínas não estruturais (NS1 e NS2) e 9 proteínas estruturais (Figura 4).
Fonte: Alila Medical Media/ShutterstockFigura 4 - Vírus sincicial respiratório humano.
Destas, temos:
Três glicoproteínas de membrana (G, F e SH)
Proteína da matriz (M), a qual está envolvida na montagem viral
Proteína nucleocapsídeo (N)
Proteína fosfoproteína (P)
Proteínas de matriz M2-1 e M2-2, envolvidas na atividade e regulação da transcrição
RNA polimerase (L) dependente de RNA
Você saberia dizer por que este vírus é chamado de sincicial?
RESPOSTA
É porque ele possui a capacidade de formar sincício. E o que isso significa? O RSV possui duas glicoproteínas de superfície que medeiam a fixação (G) e a fusão (F) do vírus na superfície da célula hospedeira, permitindo a entrada do vírus. Entretanto, após a entrada viral, a glicoproteína F também medeia a formação de sincícios celulares multinucleados por meio da fusão de membranas celulares de células hospedeiras adjacentes.
A partícula viral também é considerada pleomórfica, apresentando formas esféricas ou filamentosas. Apresenta, ainda, um único tipo antigênico de RSV dividido em dois subgrupos, A e B, sendo o subgrupo A associado as doenças mais graves.
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
Assim como ocorre com os vírus influenza, o espectro de doenças clínicas causadas por infecções por RSV é diverso e heterogêneo. Adultos mais jovens podem ser reinfectados a cada 5 a 7 anos e manifestar sintomas como sinusite ou resfriado, ou ainda, permanecer assintomático.
ATENÇÃO
Em idosos, o RSV pode causar infecções autolimitantes do trato respiratório superior, faringite, rinossinusite, pneumonia, insuficiência respiratória e morte.
SARS-COV-2 E COVID-19
Todos nós tivemos de praticar o distanciamento social em 2020 devido à pandemia provocada por COVID-19, causada pelo novo coronavírus.
Fonte: Kira_Yan/Shutterstock
Os coronavírus (CoVs) compõem uma grande família de vírus de RNA, a qual pode infectar animais e humanos, causando uma variedade de sintomas que vão desde problemas respiratórios a doenças gastrointestinais, hepáticas e neurológicas. Os CoVs são divididos em quatro gêneros:
Fonte: Blue Flourishes/Shutterstock
· Alfa-coronavírus
· Beta-coronavírus
· Coronavírus gama
· Delta coronavírus
Até 2019, existiam APENAS seis coronavírus humanos (HCoVs) identificados:
	Alfa-CoVs:
	HCoVs-NL63 e HCoVs-229E.
	2. Beta-CoVs:
	HCoVs-OC43, HCoVs-HKU1, SARS-CoV (coronavírus da síndrome respiratória aguda grave)
e MERS-CoV (coronavírus da síndrome respiratória do Oriente Médio).
 Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal
EPIDEMIOLOGIA
No final de dezembro de 2019, várias autoridades locais de saúde começaram a relatar sucessivamente casos inexplicáveis de pacientes com pneumonia de causa desconhecida em alguns hospitais de Wuhan, província de Hubei, na China. Posteriormente, foi verificado que os casos tinham histórico de exposição a um grande mercado de frutos do mar. A infecção respiratória aguda foi confirmada ser causada por um novo coronavírus e, rapidamente, a doença se espalhou para outras áreas da China, bem como para outros países.
Em meio a esse cenário, a Organização Mundial da Saúde (OMS) tomou as seguintes medidas:
	· Em 30 de janeiro de 2020, declarou que o surto da doença causada pelo novo coronavírus (COVID-19) constituía uma emergência de saúde pública de importância internacional – o mais alto nível de alerta da organização,conforme previsto no Regulamento Sanitário Internacional.
	 Em 11 de março de 2020, caracterizou a COVID-19 como uma pandemia.
 Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal
ESTRUTURA VIRAL
A partícula viral apresenta-se com morfologia esférica, envelopada e com cerca de 100-160 nm de diâmetro. O material genético do SARS-CoV-2 consiste em RNA de fita simples, com polaridade positiva e tamanho de 32Kb (Figura 5).
Fonte: Orpheus FX/ShutterstockFigura 5 – Estrutura viral do SARS-CoV-2.
Os CoVs recebem o nome de “corona” pela semelhança a uma “coroa” em torno do seu envelope, quando observados por microscopia eletrônica, graças às glicoproteínas espículas (S). Estas se ligam aos receptores (ACE) nas células hospedeiras e fundem o envelope viral com as membranas celulares. Os SARS-CoV-2 também possuem uma glicoproteína hemaglutinina-acetilesterase (HE) que se liga a porções de açúcar nas membranas celulares.
HOSPEDEIRO E RESERVATÓRIO
Assim como SARS-CoV, MERS-CoV e muitos outros coronavírus, o SARS-CoV-2 se originou em morcegos. Pesquisas científicas descobriram que o vírus é 96% idêntico em comparação ao genoma completo do coronavírus encontrado em morcegos, logo, esses animais são os mais prováveis reservatórios naturais de SARS-CoV-2.
É possível que o morcego transmita o vírus diretamente para os humanos?
Sim, mas não é a teoria mais apontada pelos cientistas, uma vez que, geralmente, os CoVs precisam passar de um morcego para um hospedeiro intermediário antes de adquirir a mutação necessária para infectar humanos. Dentre os hospedeiros intermediários apontados, mas não comprovados, estão os pangolins, vendidos no mercado de produtos perecíveis em Wuhan.
Fonte: Binturong-tonoscarpe/ShutterstockPangolins são mamíferos da ordem Pholidota que vivem em zonas tropicais da Ásia e da África. Há oito espécies diferentes de pangolim.
ROTA DE TRANSMISSÃO
A transmissão acontece de uma pessoa doente para outra ou por meio de:
Fonte: Panji Anang/Shutterstock
· Toque do aperto de mão
Fonte: Panji Anang/Shutterstock
· Gotículas de saliva
Fonte: Panji Anang/Shutterstock
· Espirro
Fonte: Nadiinko/Shutterstock
· Tosse
Fonte: Nadiinko/Shutterstock
· Catarro
Fonte: linea vectors/Shutterstock
· Objetos ou superfícies contaminadas, como: celulares, maçanetas e brinquedos.
Casos assintomáticos também podem desempenhar papel crítico no processo de transmissão do vírus. Além disso, o SARS-CoV-2 foi detectado em fezes de pacientes confirmados em diferentes países, indicando que o vírus pode existir e replicar no trato digestivo, sugerindo a possibilidade de transmissão fecal-oral. Não se apavore, ainda não é certo que alimentos contaminados por vírus causem infecção e transmissão.
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
Os sintomas da CoVID-19 são inespecíficos e a doença pode variar de nenhum sintoma (assintomático) ou ainda, pneumonia grave e morte. Os sintomas mais relatados são:
Fonte: Nadiinko/Shutterstock
· Febre
Fonte: Nadiinko/Shutterstock
· Tosse
Fonte: Nadiinko/Shutterstock
· Mialgia ou fadiga
Fonte: Nadiinko/Shutterstock
· Coriza, dor de garganta
Fonte: Nadiinko/Shutterstock
· Diarreia
Fonte: linea vectors/Shutterstock
· Dificuldade para respirar
Um estudo que analisou 1099 casos confirmados relatou que 25,2% dos pacientes tinham, pelo menos uma, doença prévia (como: hipertensão, doença pulmonar obstrutiva crônica).
Outras pesquisas indicaram um maior risco entre idosos (acima de 60 anos) em relação às crianças, as quais, além da menor probabilidade de serem infectadas, mostraram sintomas mais leves ou até mesmo infecção assintomática. Entre os casos confirmados, a maioria tem entre 30 e 79 anos e apresentaram um quadro de pneumonia leve.
DIAGNÓSTICO LABORATORIAL
Para distinguir a COVID-19 de outras doenças causadas por vírus respiratórios ou mesmo de doenças não infecciosas, o diagnóstico laboratorial é necessário, sendo realizado, primeiramente, pelo profissional de saúde que deverá avaliar a presença de critérios clínicos:
· Pessoa com quadro respiratório agudo, caracterizado por sensação febril ou febre, que pode ou não estar presente na hora da consulta (podendo ser relatada ao profissional de saúde), acompanhada de tosse OU dor de garganta OU coriza OU dificuldade respiratória, o que é chamado de síndrome gripal.
· Pessoa com desconforto respiratório/dificuldade para respirar OU pressão persistente no tórax OU saturação de oxigênio menor do que 95% em ar ambiente OU coloração azulada dos lábios ou rosto, o que é chamado de síndrome respiratória aguda grave.
 Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal
O paciente apresentando um dos sintomas supracitados, o profissional de saúde poderá solicitar exames laboratoriais:
MOLECULARES
IMUNOLÓGICO (TESTE RÁPIDO)
MOLECULARES
Por meio da RT-PCR em tempo real, podem detectar a presença de material genético viral, permitindo diagnosticar, tanto COVID-19, quanto outras viroses respiratórias, a partir de amostras coletadas da parte superior do trato respiratório (swab orofaríngeo e nasofaríngeo).
IMUNOLÓGICO (TESTE RÁPIDO)
Detecta, ou não, a presença de anticorpos em amostras coletadas somente após o sétimo dia de início dos sintomas.
PREVENÇÃO E TRATAMENTO
Até o momento da produção deste tema, não existe vacina ou tratamento antiviral para COVID-19, tornando urgente a identificação de opções de tratamento medicamentoso. A base do manejo clínico é o tratamento amplamente sintomático e a internação em unidades de terapia intensiva para cuidar de pacientes gravemente enfermos. As estratégias gerais incluem repouso no leito, terapia antiviral, antibioticoterapia e oxigenação.
Estas são as recomendações de prevenção da OMS:
Fonte: Isaac Zakar/Shutterstock
Lavar com frequência as mãos até a altura dos punhos, com água e sabão, ou então higienizar com álcool em gel 70%.
Ao tossir ou espirrar, cobrir nariz e boca com lenço ou com o braço, e não com as mãos.
Evitar tocar olhos, nariz e boca com as mãos não lavadas.
Manter uma distância mínima de 2 metros de qualquer pessoa tossindo ou espirrando.
Evitar abraços, beijos e apertos de mãos.
Não compartilhar objetos de uso pessoal, como talheres, toalhas, pratos e copos.
Evitar circulação desnecessária nas ruas, estádios, teatros, shoppings, shows, cinemas e igrejas.
Se estiver doente, evitar contato físico com outras pessoas, principalmente, idosos e doentes crônicos, e ficar em casa até melhorar.
Utilizar máscaras caseiras ou artesanais feitas de tecido em situações de saída de sua residência.
ASPECTOS CLÍNICOS E TERAPÊUTICOS DA INFECÇÃO DA COVID-19
Veja, a seguir, o vídeo sobre os aspectos clínicos e terapêuticos da infecção da COVID-19.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
Parte superior do formulário
1. A PARTIR DA ANÁLISE DA ILUSTRAÇÃO ABAIXO, IDENTIFIQUE O VÍRUS RESPIRATÓRIO E A DOENÇA/MANIFESTAÇÃO CLÍNICA PROVOCADA POR ELE:
Vírus influenza – Gripe.
Vírus parainfluenza – Pneumonia.
Vírus sincicial respiratório – glicoproteína HA.
SARS-CoV-2 – COVID-19.
Parte inferior do formulário
Parte superior do formulário
2. ALGUNS VÍRUS PODEM TER SUAS PROTEÍNAS ALTERADAS DECORRENTE DE PROCESSOS DE MUTAÇÕES E RECOMBINAÇÕES GÊNICAS, SEM OCORRER PERDA OU ALTERAÇÃO DA FUNÇÃO PROTEICA. TAIS PROCESSOS SÃO DENOMINADOS DE DRIFT E SHIFT ANTIGÊNICOS. ASSINALE ABAIXO A AFIRMATIVA CORRETA, QUE INDICA QUAL VÍRUS RESPIRATÓRIO E A(S) PROTEÍNA(S) QUE PODE(M) PASSAR POR ESTE PROCESSO:
Vírus influenza - glicoproteínas HA e NA.
Vírus parainfluenza – glicoproteína NA.
Vírus sincicial respiratório – glicoproteína HÁ.
SARS-CoV-2 – glicoproteína S.
Parte inferior do formulário
GABARITO
1. A partir da análise da ilustração abaixo, identifique o vírus respiratório e a doença/manifestação clínica provocada por ele:
A alternativa "D " está correta.
A imagem apresenta na estrutura viral a presença da glicoproteína spike (S) que confere a aparência de “coroa”, característica dos CoVs.
2. Alguns vírus podem ter suas proteínas alteradas decorrente de processos de mutações e recombinações gênicas, sem ocorrerperda ou alteração da função proteica. Tais processos são denominados de drift e shift antigênicos. Assinale abaixo a afirmativa correta, que indica qual vírus respiratório e a(s) proteína(s) que pode(m) passar por este processo:
A alternativa "A " está correta.
Dentre as proteínas, que podem sofrer alterações decorrente de mutações e recombinações gênicas, sem ocorrer perda ou alteração de função, temos as glicoproteínas HA e NA presentes nos vírus influenza.
MÓDULO 2
Distinguir as viroses transmitidas por vetores artrópodes e as suas particularidades
ALPHAVIRUS E FLAVIVÍRUS
No primeiro módulo, analisamos os vírus que acometem o trato respiratório, os quais já causaram surtos, epidemias e pandemias. Entretanto, outro grupo de vírus, chamado de arbovírus, também pode levar ao surgimento de novos surtos e epidemias.
O que são arbovírus?
RESPOSTA
A palavra é de origem inglesa, arthropod-born 32vírus, que significa vírus carregado por um artrópode. Os vírus ficam armazenados no vetor e, por vezes, proliferam, sem causar danos. As doenças causadas por estes arbovírus são chamadas de arboviroses.
Após a ingestão de sangue de um hospedeiro vertebrado infectado, os arbovírus se multiplicam no intestino do inseto (hospedeiro invertebrado) e invadem os tecidos subjacentes, causando uma infecção (período de incubação extrínseco) e uma alta carga viral, particularmente, nas glândulas salivares. Eles são repassados aos seres humanos ou outros vertebrados durante a picada dos insetos.
Dos mais de 500 arbovírus isolados, sabe-se que cerca de 150 causam doenças no homem: febres indiferenciadas, encefalites, febres hemorrágicas, síndrome congênita, entre outras enfermidades.
A maioria dos arbovírus causadores de doenças humanas pertencem a três famílias:
Fonte: Kateryna Kon/Shutterstock
TOGAVIRIDAE
Gênero Alphavirus. Ex: vírus mayaro (MAYV) e vírus chikungunya (CHIKV).
Fonte: Kateryna Kon/Shutterstock
FLAVIVIRIDAE
Gênero Flavivirus. Ex: vírus da febre amarela (YFV), vírus da dengue (DENV), zika vírus (ZIKV), vírus do Oeste do Nilo (WNV).
Fonte: Kateryna Kon/Shutterstock
BUNYAVIRIDAE
Bunyavirus, Orthobunyavirus, Gêneros Nairovirus e Phlebovirus.
O grupo mais importante, pelo menos de uma perspectiva de doença humana, é o dos flavivírus, o qual contém diversos vírus que geram preocupação com a saúde. A disseminação de arbovírus em várias regiões é um alerta de interesse global. Podemos citar os seguintes casos:
Fonte: Dmitry Demidovich/Shutterstock
· WNV, com sua migração do Oriente Médio para as Américas.
Fonte: Fsolipa/Shutterstock
· CHIKV movendo-se para ilhas no sudoeste do Oceano Índico, o sudeste da Ásia e as Américas.
Fonte: LightShoot/Shutterstock
· ZIKV, que saiu da África para o Sudeste Asiático, as ilhas da Polinésia e depois para o Brasil, culminando na epidemia de 2015-2016.
A expansão geográfica em andamento dos vírus da dengue (DENV), juntamente com os surtos explosivos do vírus do oeste do Nilo (WNV), vírus chikungunya (CHIKV) e, mais recentemente, o vírus zika (ZIKV) servem como lembretes de que novas epidemias podem surgir a qualquer momento. Neste módulo, nos concentraremos no estudo dos Alphavirus e Flavivirus.
Fonte: Frees/Shutterstock
DENGUE
EPIDEMIOLOGIA
A dengue é uma arbovirose causada por um dos 4 sorotipos do vírus (DENV-1, DENV-2, DENV-3 e DENV-4), sendo transmitida predominantemente pelo mosquito Aedes aegypti e em menor extensão pelo Aedes albopictus. Além disso, é considerada uma das principais doenças tropicais negligenciadas, acometendo cerca de 50-100 milhões de pessoas/ano.
Fonte: khlungcenter/ShutterstockMosquito Aedes aegypti.
Estudos mais recentes sugerem que estes números sejam ainda maiores se consideradas as infecções assintomáticas, atingindo uma média de 390 milhões de novas infecções anualmente.
A dengue representa a arbovirose de maior dimensão e a que dissemina mais rapidamente entre os humanos, sendo endêmica em mais de 100 países no sudeste da Ásia, nas Américas, no oeste do Pacífico, na África e no sudeste das regiões mediterrâneas (Figura 6). Sua incidência aumentou em 30 vezes nos últimos 50 anos, seguida de sua expansão geográfica para novos países.
Fonte: ShutterstockFigura 6 - Incidência global da dengue.
As linhas de contorno indicam os limites geográficos de sobrevivência
do Aedes aegypti, principal mosquito vetor do vírus da dengue.
VÍRUS DA DENGUE
O vírus da dengue pertence à família Flaviviridae e ao gênero Flavivirus e apresenta quatro sorotipos geneticamente relacionados, mas antigenicamente distintos. São esféricos, envelopados e apresentam capsídeo icosaédrico (Figura 7).
Fonte: Fonte: Adaptado de Nature Education, 2011Figura 7 – Estrutura do Vírus da Dengue.
O genoma do DENV é constituído por um RNA fita simples, com polaridade positiva e de aproximadamente 11 mil pares de bases. Uma vez na célula hospedeira, este genoma é traduzido em uma poliproteína (Figura 8), que é quebrada em:
Fonte: Chippo Medved/Shutterstock
3 PROTEÍNAS ESTRUTURAIS
Capsídeo (C), pré-membrana (prM) e envelope (E)
Fonte: Chippo Medved/Shutterstock
7 PROTEÍNAS NÃO ESTRUTURAIS
Destacam-se NS3, helicase e protease viral, e NS5, uma RNA polimerase responsável pela replicação do material genético do vírus.
Fonte: Guzman et al., 2010Figura 8 – Genoma do Vírus da Dengue.
O vírus da dengue (Figura 9) infecta e se replica em monócitos, macrófagos e células endoteliais; para isso, se liga à superfície da célula hospedeira e entra na célula por um processo chamado endocitose. Uma vez dentro da célula, o vírus se funde com a membrana endossômica e é liberado no citoplasma.
Fonte: Adaptado de Mukhopadhyay, Rossmann e Kuhn, 2005Figura 9 – Replicação do Vírus da Dengue.
A partícula do vírus se desfaz, liberando o genoma viral. O RNA viral é traduzido em um único polipeptídeo que é quebrado nas proteínas estruturais e não estruturais e o genoma viral é replicado. A montagem do vírus ocorre na superfície do retículo endoplasmático. Quando as proteínas estruturais e o RNA recém-sintetizado saem do retículo, são transportados através do complexo de Golgi, amadurecem e se convertem em sua forma infecciosa. Os vírus maduros são então liberados da célula e podem infectar outras células.
A partir do momento da inoculação, DENV replica e se dissemina para vários órgãos linfoides, produzindo viremia. O início da febre e os sintomas ocorrem aproximadamente 24 horas após o início da viremia.
SINTOMAS E CLASSIFICAÇÃO DA DENGUE
A dengue, na maioria dos casos, apresenta-se como uma doença assintomática, ocorrendo apenas a viremia, que se inicia logo após o período de incubação (3 a 7 dias) e pode permanecer por volta de 8 dias.
Quando os sintomas se fazem presentes, geralmente, manifestam-se logo após o início da viremia. Estes são os sintomas clássicos da dengue:
Fonte: Love You Stock/Shutterstock
· Cefaleia intensa
· Dor retro-orbital
· Febre alta
Fonte: Love You Stock/Shutterstock
· Manchas avermelhadas na pele
Fonte: Love You Stock/Shutterstock
· Dores musculares e nas articulações
O quadro de sintomas brandos pode evoluir para um mais grave. O paciente pode apresentar petéquias (poros da pele vermelhos), trombocitopenia (queda na contagem de plaquetas, levando à disfunção de coagulação), extravasamento de plasma, sangramento de mucosas, dentre outros eventos hemorrágicos.
Ainda é possível haver um agrave do caso, como o choque hipovolêmico que, apesar de raro, potencialmente, leva ao óbito do paciente devido ao intenso extravasamento do plasma sanguíneo, à queda da pressão arterial e à consequente parada cardiorrespiratória. A reidratação intravenosa é a terapia a ser escolhida nesses casos, devido à ausência de antiviral disponível.
Esta intervenção pode reduzir a taxa de letalidade para menos de 1% dos casos graves. Portanto, triagem, tratamento apropriado e decisão sobre onde este deve ser iniciado (em instituição de saúde ou em casa) são decisões influenciadas pela classificação da dengue, principalmente, durante os surtos da doença, frequentes em todo o mundo, onde os serviçosde saúde precisam ser adaptados para lidar com o súbito aumento da demanda.
Em 2009, foi sugerida a atual classificação da doença quanto aos aspectos clínicos, a qual divide os casos da seguinte maneira:
· Dengue (ou dengue clássica): subclassificada em dengue com sinais de alarme.
· Dengue grave
Com a nova classificação, é possível não somente notificar os casos de dengue grave com maior acurácia, como também expressar melhor o grau de gravidade dos pacientes, implicando em uma melhor tomada de decisões de tratamento (prevenção do choque).
Os critérios para o diagnóstico da dengue (com ou sem sinais de alarme) e dengue grave são apresentados na Figura 10. Vale ressaltar que a classificação antiga (febre da dengue, febre hemorrágica da dengue e síndrome do choque da dengue) continua a ser amplamente utilizada.
Fonte: Adaptado de WHO, 2009.Figura 10 - Classificação dos casos de dengue e seus graus de gravidade.
A espessura das setas indica a probabilidade de um paciente com dengue clássica desenvolver a forma grave da doença.
FATORES DE RISCO PARA DENGUE GRAVE
Os fatores que contribuem para os diferentes desfechos da dengue ainda não são claramente entendidos. Porém, como na maioria dos processos biológicos multifatoriais, o desfecho da doença pela dengue depende da interação entre os fatores genéticos e imunológicos do hospedeiro e os fatores genéticos virais.
Além disso, a extensão da doença por DENV é afetada pela magnitude e duração da replicação viral, a secreção exacerbada de citocinas, a ativação e proliferação das células imunes, idade (crianças e idosos), gravidez, diabetes e hipertensão.
A doença pode ser mais grave em pacientes infectados pela segunda vez por um sorotipo diferente, desencadeando a produção de anticorpos, que, embora se liguem às partículas virais, não são específicos, logo, são incapazes de neutralizá-las. Isso leva a uma amplificação da infeção e da entrada das partículas virais nas células hospedeiras, cujos receptores, ao se ligarem aos anticorpos, internalizam a partícula viral destes.
DIAGNÓSTICO PARA DENGUE
Os métodos de diagnóstico para dengue variam de acordo com a fase da doença:
Fonte:Shutterstock
FASE AGUDA (1 – 5 DIAS APÓS INÍCIO DOS SINTOMAS):
· Isolamento do vírus em cultura de células.
· Detecção do genoma viral por RT-PCR. Embora bastante específico, pouco acessível para os sistemas públicos de saúde.
· Detecção de NS1 (teste rápido) até o 10º dia.
Fonte:Shutterstock
FASE CONVALESCENTE (6-21 DIAS APÓS INÍCIO DOS SINTOMAS):
Detecção de anticorpos: IgM e IgG.
PREVENÇÃO E TRATAMENTO
Em dezembro de 2015, a primeira vacina dengue (Dengvaxia® - Laboratório Sanofi Pasteur) foi licenciada no Brasil. Outras agências regulatórias de vários países da Ásia e América Latina também aprovaram seu uso. Trata-se de uma vacina de vírus vivos atenuados e cujos perfis de segurança e eficácia para os quatro sorotipos foram demonstrados em vários ensaios clínicos. Entretanto, não deve ser administrada em indivíduos que não tenham sido previamente infectados pelo vírus da dengue.
Não existe um tratamento específico para a dengue, e uma importante forma de prevenção é evitar a proliferação do Aedes aegypti, eliminando água armazenada, ambiente que pode se tornar um criadouro do mosquito.
ZIKA
EPIDEMIOLOGIA E TRANSMISSÃO
Você deve se lembrar da epidemia de zika que ocorreu no Brasil nos anos de 2015 e 2016.
Você conhece a origem desse nome?
RESPOSTA
Esse vírus foi isolado pela primeira vez em 1947 a partir do soro de um macaco rhesus, na copa da Floresta Zika no continente africano, sendo nomeado de acordo com a área geográfica.
A infecção por ZIKV em humanos foi descrita pela primeira vez na Nigéria apenas em 1954 e, por meio século, menos de 20 infecções humanas foram documentadas. O primeiro surto relatado de zika ocorreu somente em 2007 na ilha de Yap, na Micronésia, seguido por uma epidemia maior na Polinésia Francesa em 2013 e 2014.
Essas epidemias foram seguidas por surtos menores até que, em 2015, ZIKV surgiu pela primeira vez nas Américas (sendo detectada no Brasil em março). Desde o final de janeiro de 2016, a circulação autóctone de ZIKV tem sido relatada em mais de 20 países na América do Sul, Central e do Norte e no Caribe. Na maioria dos casos, a infecção pelo zika é uma doença leve, autolimitada e relatável.
Fonte: Crystal Eye Studio/Shutterstock
Os dados epidemiológicos e de sequenciamento do genoma viral dão suporte à hipótese de que as cepas que deram origem à epidemia de 2015/2016 surgiram através de mudanças genéticas no vírus da linhagem asiática. Muito provavelmente, dois desses eventos ocorreram, um em Yap e o outro na Polinésia Francesa. Esta última cepa apresentou maior virulência e foi introduzida no Brasil e em outros países da América.
As doenças causadas pelo vírus Zika são predominantemente arbovirais e transmitidas pela picada de mosquitos fêmeas do gênero Aedes aegypti e Aedes albopictus.
ATENÇÃO
Entretanto, já foram confirmados outros modos de transmissão, como:
· Transmissão sexual
· Transfusão de sangue
· Transplante de órgãos
· Transmissão ocupacional em laboratório
· Transmissão vertical materno-fetal
ZIKA VÍRUS
O ZIKV é um vírus envelopado pertencente ao gênero Flavivirus e à família Flaviviridae. Assim como o DENV, os ZIKV são esféricos, envelopados, apresentam capsídeo icosaédrico e genoma constituído de uma fita simples de RNA com polaridade positiva de 10.794 bases (Figura 11) que codifica uma poliproteína, a qual, ao ser clivada, gera:
Fonte: El Design/ShutterstockFigura 11 – Estrutura do ZIKV.
3 PROTEÍNAS ESTRUTURAISCapsídeo (C), precursor de membrana (PrM) e envelope (E).7 PROTEÍNAS NÃO ESTRUTURAISNS1, NS2a, NS2B, NS3, NS4A, NS4B e NS5. Quando a saliva do mosquito contendo ZIKV é inoculada na pele humana, o vírus pode infectar queratinócitos epidérmicos, fibroblastos da pele na camada subcutânea e macrófagos. O ciclo replicativo do ZIKV é semelhante ao do DENV.
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
A maioria dos pacientes com infecção por ZIKV é assintomático. Apenas 18% dos indivíduos são sintomáticos, apresentando uma doença febril leve e autolimitada com um período de incubação de até 10 dias, muitas vezes, confundida com outras infecções arbovirais, como dengue ou chikungunya, com baixa taxa de hospitalização (MUSSO et al., 2015).
Os sintomas clínicos relatados são:
· Febre baixa, muitas vezes não sentida
· Erupções cutâneas
· Artrite e/ou artralgia e/ou mialgia
· Conjuntivite (olho vermelho) sem secreção
· Fadiga/mal-estar
· Cefaleia, vômitos, edema e icterícia relatados com menor frequência
· Complicações digestivas (dor abdominal, diarreia e constipação) e o prurido raramente são observados.
Fonte: Ministério da Saúde
Os sintomas geralmente desaparecem espontaneamente após 3-7 dias. Contudo, assim como muitos membros da família Flaviviridae são conhecidos por serem neurotrópicos e associados a doenças neurológicas em humanos. O ZIKV apresenta um tropismo neuronal e, portanto, causa doenças de cunho neurológico como síndrome de Guillain-Barré, encefalite, mielite aguda e meningoencefalite em adultos.
O ZIKV também causa a síndrome congênita do zika em neonatos, a qual envolve:
· Microcefalia (anormalidades no crescimento do cérebro)
· Artrogripose (deformidades articulares e musculares)
· Ventriculomegalia (dilatação dos ventrículos cerebrais fetais)
· Microftalmia (globo ocular anormalmente pequeno)
· Hipertonia (aumento da rigidez muscular)
Fonte: Luciano Cosmo/Shutterstock
Fonte: Anatolir/Shutterstock
DIAGNÓSTICO
A investigação laboratorial apresenta maior importância nos casos suspeitos de infecção pelo ZIKV que evoluíram para complicações neurológicas, sejam em gestantes sejam em adultos, para definição diagnóstica.
O diagnóstico pode ser:
Fonte:Shutterstock
MOLECULAR
Ao utilizar a técnica de RT-PCR, é possível amplificar o genoma viral em amostras de sangue (por volta de quatro a sete dias após o início dos sintomas), urina (até 15 dias após o início do quadro clínico) e líquor (para casos de síndrome de Guillain-Barré).
Fonte:ShutterstockSOROLÓGICO
Feito por meio da pesquisa de anticorpos, entretanto, é comum ocorrer reação cruzada com outros flavivírus.
Os recém-nascidos com suspeita de comprometimento neurológico necessitam de exames de imagem, como: ultrassom, tomografias ou ressonância magnética. Em caso de confirmação do zika vírus, a notificação deve ser feita ao Ministério da Saúde em até 24 horas.
PREVENÇÃO E TRATAMENTO
O tratamento do zika vírus é feito de acordo com os sintomas, com o uso de analgésicos, antitérmicos e outros medicamentos para controlar a febre e a dor. No caso de sequelas mais graves, como doenças neurológicas, deve haver acompanhamento médico para avaliar o melhor tratamento a ser aplicado.
As sequelas são tratadas em centros multiprofissionais especializados, como os Centros Especializados de Reabilitação (CERS). Dada a inexistência de uma vacina, a melhor e mais eficaz forma de prevenção é evitar a proliferação do Aedes aegypti, eliminando água armazenada, ambiente que pode se tornar um criadouro do mosquito.
FEBRE AMARELA
EPIDEMIOLOGIA E TRANSMISSÃO
O nome Febre Amarela foi atribuído em alusão às manifestações clínicas mais características da doença (a febre e a icterícia). Existem dois tipos de febre amarela:
Fonte: Aratehortua/Shutterstock
SILVESTRE
Cujos vetores são os mosquitos dos gêneros Haemagogus e Sabethes (no Brasil) e Aedes (na África), os principais hospedeiros e amplificadores são os macacos, especialmente, os bugios.
Michal Sanca/shutterstock
URBANA
Cujos vetores são os mosquitos do gênero Aedes aegypti, e o hospedeiro é o homem.
Com a introdução da vacina contra a febre amarela no Brasil em 1937 e, consequente, imunização em massa da população e o forte combate ao vetor, a febre amarela urbana não é mais registrada. Sua transmissão permaneceu confinada ao ciclo silvestre em áreas com baixa densidade populacional e com baixo número de casos anuais.
No entanto, mudanças ambientais e de comportamento humano nas últimas décadas criaram condições para um aumento exponencial nos casos de febre amarela silvestre no país durante o surto de 2016/2017. Após décadas de silêncio, o vírus se espalhou nas zonas costeiras da Mata Atlântica e migrou rapidamente para as regiões sudeste e sul do país, alcançando quatro estados populosos (Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo) cujos moradores não haviam sido vacinados para febre amarela.
A grande preocupação dos órgãos de saúde é o retorno do ciclo de transmissão urbana no Brasil, pois se um indivíduo adquirir a doença na floresta, voltar para a cidade no período de viremia e lá for picado pela fêmea de um mosquito Aedes, este se tornará infectado pelo YFV. Como a transmissão dos vírus no mosquito ocorre de maneira transovariana (para ovos e larvas), sua prole também estará automaticamente infectada, aumentando a contaminação dos mosquitos urbanos.
VÍRUS DA FEBRE AMARELA (YFV)
Os YFV, assim como o DENV e o ZIKV, são esféricos, envelopados, apresentam capsídeo icosaédrico e genoma constituído de uma fita simples de RNA com polaridade positiva que codifica uma poliproteína que, ao ser clivada, gera proteínas estruturais e não estruturais.
Após a picada pelo mosquito vetor, o vírus rapidamente atinge linfonodos e passa a infectar células linfoides e macrófagos preferencialmente.
Posteriormente, as novas partículas virais são levadas pelos vasos linfáticos à corrente sanguínea e daí até o fígado, principal órgão acometido na febre amarela. O vírus amarílico causa necrose em grandes extensões do parênquima hepático.
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
A resposta à infecção amarílica é ampla e variável. O quadro clínico pode ser dividido em:
· Leve: febre e cefaleia.
· Moderado: sintomas anteriores mais mialgia, artralgia, náuseas, vômitos e astenia.
· Grave: sintomas anteriores mais hepatite com icterícia, insuficiência renal, hemorragia, choque e morte (20-60% dos casos).
DIAGNÓSTICO LABORATORIAL
O diagnóstico laboratorial para febre amarela pode ser realizado por meio de:
Fonte:Shutterstock
Isolamento do vírus em cultura de células.
Fonte:Shutterstock
Detecção de antígenos virais e do RNA viral.
Fonte:Shutterstock
Dosagem de anticorpos específicos pelo método de MAC ELISA (captura de IgM em ensaio enzimático) ou conversão sorológica em testes de inibição da hemaglutinação (IH).
TRATAMENTO
Assim como para outras arboviroses, não há medicamentos específicos contra o vírus da febre amarela. Em casos graves, o paciente deve ser tratado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), para hidratação endovenosa e reposição do sangue perdido nas hemorragias.
VACINAÇÃO CONTRA FEBRE AMARELA
A forma mais eficaz de evitar a febre amarela é por meio da vacinação. Esta é produzida com vírus vivo atenuado cepa 17DD, sendo segura e eficaz a partir dos 9 meses de idade em residentes, ou viajantes, de áreas endêmicas e a partir dos 6 meses em situações de surto. A partir da produção em níveis adequados de anticorpos, protege após 10 dias da sua aplicação.
Fonte: Andrey_Popov/Shutterstock
FEBRE CHIKUNGUNYA
EPIDEMIOLOGIA E TRANSMISSÃO
A febre de chikungunya é uma doença infecciosa febril, causada pelo vírus chikungunya (CHIKV), e transmitida pela picada das fêmeas dos mosquitos Aedes aegypti e, em menor extensão, Aedes albopictus.
A doença é relativamente nova no Brasil, tendo o primeiro caso de transmissão registrado em 2014, mas é uma enfermidade endêmica nos países do sudeste da Ásia, África e Oceania.
VOCÊ SABIA
O termo chikungunya vem do swahili, idioma falado no sudeste da Tanzânia, que significa curvar-se ou se tornar contorcido, uma relação direta com a aparência curvada dos pacientes infectados que não conseguem se manter eretos por causa das dores nas articulações.
VÍRUS CHIKUNGUNYA (CHIKV)
Os CHIKV pertencem ao gênero Alphavirus e à família Togaviridae. Os Alfavírus são esféricos, envelopados, possuem cerca de 70 nm de diâmetro, capsídeo icosaédrico e um genoma de RNA fita simples linear com polaridade positiva, de aproximadamente 11 kb, que codifica oito genes, estruturais e não estruturais.
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
Alguns indivíduos desenvolvem a forma assintomática da infecção (baixa taxa se comparada a outras arboviroses) e a grande maioria inicia as manifestações clínicas entre 4 a 8 dias após a picada do mosquito (podendo variar de 1 a 12 dias).
Os sintomas são parecidos com os da dengue, mas a grande característica dessa doença são as fortes dores nas articulações, as quais permanecem por meses ou anos, cujo tratamento é semelhante ao da artrite reumatoide (doença autoimune crônica).
Estes são os sintomas mais frequentes:
Fonte: Ministério da Saúde
Menos de 5% dos infectados também desenvolvem manifestações atípicas, seja por efeito direto do vírus, pela resposta imune ou pela toxicidade das drogas utilizadas durante o tratamento. Podemos citar, por exemplo, convulsão, meningoencefalite, encefalopatia, síndrome de Guillain-Barré, neurite óptica, miocardite, pericardite, insuficiência cardíaca, hiperpigmentação por fotossensibilidade, dermatoses vesiculobolhosas, insuficiência renal aguda entre outras manifestações.
ATENÇÃO
Assim como outras infecções virais, a chikungunya pode desenvolver a síndrome de Gulliain-Barre, encefalite e outras complicações neurológicas.
SÍNDROME DE GULLIAIN-BARRE
A síndrome de Guillain Barré é um distúrbio autoimune, ou seja, o sistema imunológico do próprio corpo ataca parte do sistema nervoso, que são os nervos que conectam o cérebro com outras partes do corpo.
DIAGNÓSTICO
O diagnóstico laboratorial para febre da chikungunya pode ser realizado por meio de:
Fonte: Chippo Medved/Shutterstock
Pesquisa de vírus (isolamento do CHIKV).
Fonte: Chippo Medved/Shutterstock
Pesquisa de genoma de vírus (detecção de RNA de CHIKV por RT-PCR em tempo real ou RT-PCR clássico/convencional).
Fonte: Chippo Medved/Shutterstock
Pesquisa de anticorpos IgM por testes sorológicos (ELISA).
Fonte: Chippo Medved/Shutterstock
Demonstração de soroconversão (ELISA ou teste de Inibição da Hemaglutinação-IH).
TRATAMENTO
Não há um tratamento específico,sendo de suma importância manter o paciente hidratado. Como já relatado, por causar inflamação nas articulações, deve-se tratar como artrite reumatoide (doença autoimune crônica), uma vez que a artralgia pode durar até três anos após a infecção pelo vírus.
Fonte: Freeograph/Shutterstock
FEBRE DO MAYARO
EPIDEMIOLOGIA E TRANSMISSÃO
A febre do mayaro é uma doença infecciosa febril aguda, cujo quadro clínico geralmente é de curso benigno. O vírus mayaro (MAYV) foi isolado pela primeira vez em Trinidad, em 1954, e o primeiro surto no Brasil ocorreu em Belém, no Pará, em 1955.
Desde então, casos esporádicos e surtos localizados têm sido registrados nas Américas, incluindo a região Amazônica do Brasil. Também é importante frisar que a febre do mayaro compõe a lista nacional de doenças de notificação compulsória imediata.
Como ocorre a transmissão da febre do mayaro?
RESPOSTA
De maneira semelhante ao ciclo silvestre da febre amarela, a partir da picada de mosquitos fêmeas do gênero Haemagogus em primatas (principais hospedeiros) ou humanos (hospedeiro acidental) infectados com o MAYV. Após um período de incubação extrínseca (em torno de 12 dias), os mosquitos podem transmitir o vírus por toda a vida. Assim como ocorre na febre amarela, a febre do mayaro é considerada uma zoonose silvestre e, portanto, de impossível eliminação.
VÍRUS MAYARO (MAYV)
Os MAYV pertencem ao gênero Alphavirus e à família Togaviridae. Assim como os CHIKV, são esféricos, envelopados, possuem cerca de 70 nm de diâmetro, capsídeo icosaédrico e um genoma de RNA fita simples linear com polaridade positiva, de aproximadamente 11 kb, que codifica oito genes, estruturais e não estruturais que são traduzidos em duas poliproteínas. Estas são clivadas, respectivamente, em 6 proteínas estruturais: capsídeo (C), envelope (E) E1, E2, E3, 6K, transframe e 4 proteínas não estruturais (nsP1, 2, 3 e 4).
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
Quais são os sintomas da febre do mayaro?
Semelhantes aos sintomas provocados por outros arbovírus, iniciando-se com síndrome febril aguda inespecífica, cefaleia (dor de cabeça), mialgia (dor muscular) e exantema (manchas avermelhadas na pele), o que pode dificultar o diagnóstico diferencial. A forma grave da doença é representada por quadros de artralgia (dor nas articulações), que pode ser acompanhada de edema (inchaço) articular, persistindo por meses.
Fonte: Puwadol Jaturawutthichai.Shutterstock
DIAGNÓSTICO LABORATORIAL
O diagnóstico laboratorial da febre do mayaro é feito por meio de:
Fonte: Chippo Medved/Shutterstock
Isolamento viral em cultura de células.
Fonte: Chippo Medved/Shutterstock
Testes moleculares para detecção do material genético viral.
Fonte: Chippo Medved/Shutterstock
Testes sorológicos para detecção de anticorpos.
TRATAMENTO
Por ainda não existir terapia específica ou vacina, recomenda-se repouso acompanhado de tratamento sintomático, com analgésicos e/ou drogas anti-inflamatórias, que podem proporcionar alívio da dor e da febre.
Fonte: megaflopp/Shutterstock
COMBATE AEDES AEGYPTI
Muitas das arboviroses estudadas neste módulo são transmitidas pelo Aedes aegypti. Este é um mosquito doméstico cuja reprodução acontece em água parada (limpa ou suja) a partir da postura de ovos pelas fêmeas.
Fonte: Luciano Cosmo/Shutterstock
	Seguem algumas medidas que ajudam a combater esse inseto:
	1. Tampe os tonéis e caixa d’água.
	2. Mantenha as calhas sempre limpas.
	3. Deixe garrafas sempre viradas com a boca para baixo.
	4. Mantenha lixeiras bem tampadas.
	5. Deixe ralos limpos e com aplicação de tela.
	6. Limpe semanalmente ou preencha pratos de vasos de plantas com areia.
	7. Limpe com escova ou bucha os potes de água para animais.
	8. Retire água acumulada na área de serviço, atrás da máquina de lavar roupa.
	9. Adotar repelentes ambientais e inseticidas, usados para matar mosquitos adultos, desde que sejam registrados na Anvisa, atentando-se aos cuidados e às precauções descritas nos rótulos dos produtos. Aplicados diretamente na pele e por cima da roupa, os repelentes de uso tópico podem ser usados em gestantes e crianças maiores de dois anos.
 Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal
FATORES ASSOCIADOS À DENGUE HEMORRÁGICA
No vídeo abaixo serão apresentados os fatores fisiológicos que estão envolvidos na evolução para o quadro de dengue hemorrágica.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
Parte superior do formulário
1. PACIENTE CAUCASIANO DE 37 ANOS, SEXO MASCULINO, RELATOU TER VISITADO RECENTEMENTE A MATA ATLÂNTICA. INICIOU QUADRO DE FEBRE, PROSTRAÇÃO E MIALGIA. ALGUNS DIAS DEPOIS, PROCUROU ATENDIMENTO E FOI ENCAMINHADO À INTERNAÇÃO EM HOSPITAL LOCAL. QUAL A ARBOVIROSE SUSPEITA DE OCASIONAR OS SINTOMAS RELATADOS?
Dengue.
Zica.
Febre amarela.
Febre chikungunya.
Parte inferior do formulário
Parte superior do formulário
2. UMA DAS PRINCIPAIS ARBOVIROSES NO BRASIL É CAUSADA POR UM VÍRUS QUE APRESENTA QUATRO SOROTIPOS ANTIGENICAMENTE DISTINTOS. A DOENÇA PODE SER MAIS GRAVE EM PACIENTES INFECTADOS PELA SEGUNDA VEZ POR UM SOROTIPO DIFERENTE, DESENCADEADA PELA PRODUÇÃO DE ANTICORPOS, QUE, EMBORA SE LIGUEM ÀS PARTÍCULAS VIRAIS, NÃO SÃO ESPECÍFICOS E, PORTANTO, INCAPAZES DE NEUTRALIZÁ-LAS. DE QUAL ARBOVIROSE O TEXTO FAZ MENÇÃO? ASSINALE A ALTERNATIVA CORRETA.
Dengue.
Zika.
Febre da Chikungunya.
Febre mayaro.
Parte inferior do formulário
GABARITO
1. Paciente caucasiano de 37 anos, sexo masculino, relatou ter visitado recentemente a mata Atlântica. Iniciou quadro de febre, prostração e mialgia. Alguns dias depois, procurou atendimento e foi encaminhado à internação em hospital local. Qual a arbovirose suspeita de ocasionar os sintomas relatados?
A alternativa "C " está correta.
Dentre as arboviroses supracitadas nas alternativas, a que possui um vetor silvestre e que poderia ser responsável pela transmissão da infecção ao paciente durante visita à região de mata é a febre amarela.
2. Uma das principais arboviroses no Brasil é causada por um vírus que apresenta quatro sorotipos antigenicamente distintos. A doença pode ser mais grave em pacientes infectados pela segunda vez por um sorotipo diferente, desencadeada pela produção de anticorpos, que, embora se liguem às partículas virais, não são específicos e, portanto, incapazes de neutralizá-las. De qual arbovirose o texto faz menção? Assinale a alternativa correta.
A alternativa "A " está correta.
A dengue pode ser mais grave em pacientes infectados pela segunda vez por um sorotipo diferente, desencadeada pela produção de anticorpos, que, embora se liguem às partículas virais, não são específicos e, portanto, incapazes de neutralizá-las. Isso leva a uma amplificação da infeção e da entrada das partículas virais nas células hospedeiras, cujos receptores, ao se ligarem aos anticorpos, internalizam a partícula viral destes.
CONCLUSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Começamos este tema apresentando os principais vírus respiratórios, dentre eles os vírus influenza e parainfluenza, o vírus sincicial respiratório humano e, por fim, o novo coronavírus (SARS-CoV-2), detalhando as características estruturais, principais manifestações clínicas, o diagnóstico, tratamento e a prevenção de cada um deles.
Durante o segundo módulo, conceitos de arbovírus e arboviroses foram apresentados. Em seguida, destacamos as principais famílias virais nas quais se encontram os arbovírus de maior incidência em humanos e diferenciamos cada uma dessas doenças, as quais têm por característica em comum a forma de transmissão. Destacamos as particularidades de cada vírus transmitida por vetores artrópodes, como a estrutura viral, as manifestações clínicas da doença, o diagnóstico, o tratamento e a prevenção.

Continue navegando