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TCC 2021 Postagem Final

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UNIP- UNIVERSIDADE PAULISTA 
Polo – Arcos – MG 
Curso: Letras Português/Inglês 
 
 
 
 
 
 
 
O FLUXO DA CONSCIÊNCIA E A EPIFANIA NAS OBRAS DE CLARICE 
LISPECTOR E SUA NARRATIVA DE ESTRANHAMENTO 
 
 
 
 
ALLYNE SILVA MOREIRA GUEDES 
 RA: 1870136 
 
 
 
 
 
 
 
 
Arcos- MG 
2021 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Allyne Silva Moreira Guedes 
 
 
 
 
O FLUXO DA CONSCIÊNCIA E A EPIFANIA NAS OBRAS DE CLARICE 
LISPECTOR E SUA NARRATIVA DE ESTRANHAMENTO 
 
 
 
 
 
 
 
Trabalho Monográfico - Curso de Graduação - Licenciatura em 
Letras Português e Inglês, apresentado à comissão julgadora da 
UNIP – Polo Arcos, sob a orientação do Professor Mestre Adilson 
Silva Oliveira 
 
 
 
 
 
 
 
 
Arcos – MG 
2021 
 
 
 
 
 
 
Banca Examinadora 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Arcos – MG 
2021 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A Deus, 
pela força e luz no meu caminho e 
Para a pessoa cheia de coragem 
Que se empenhou e dedicou a esse momento, 
EU 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
Sou muito grata por cada momento em minha vida. Até mesmo aos obstáculos e 
dificuldades que me fortalecem e me enchem de orgulho. Agradeço a Deus pela 
oportunidade de realizar um sonho, minha graduação. Nunca é tarde para conquistar um 
sonho, basta querer muito. 
Gratidão, essa é a palavra que define esse momento. Tive muitas dificuldades em 
todos esses anos do curso, principalmente estando praticamente sozinha, o esforço foi 
triplicado. 
Foram momentos de desespero, ansiedades e muitas lágrimas, mas o gostinho 
da vitória é tão melhor assim! Sou mãe, esposa e dona de casa em uma família que 
muito dedico. E equilibrar tudo isso, não foi fácil. 
Agradeço ao meu esposo Johnny, pela compreensão e força, por eu estar um 
pouco afastada, focada e com a cabeça na lua nesse período. Amo você. 
Agradeço aos meus pais, Ana Maria e José, pela forma com que me educaram. 
Espelho em vocês pelo caráter, integridade e dignidade de viver. 
Aos meus filhos, Kauan e Miguel, por acreditarem em mim. Vocês são minha vida 
toda, minha melhor parte. Espero estar dando exemplo a vocês de que se queremos 
algo, temos que correr atrás e lutar. 
E por fim, um agradecimento especial a todos os professores que estiveram 
comigo nessa jornada, contribuindo com os seus saberes e fazendo com que eu me 
apaixonasse ainda mais pelo curso que escolhi e pela profissão que desejo seguir. E 
claro, gratidão ao meu orientador, Mestre Adilson Silva Oliveira, pelas dicas, auxílios e 
pelo apoio. O meu muito obrigado a todos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“Clarice veio de um mistério e partiu para outro. Ficamos sem 
saber a essência do mistério. Clarice não foi um lugar comum.” 
 Carlos Drumond de Andrade 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
 
INTRODUÇÃO …..........................................................................................................9 
1 O ESTILO NARRATIVO DE CLARICE LISPECTOR E O MODERNISMO …..........11 
1.1 O fluxo da consciência ….....................................................................................12 
1.2 A epifania …...........................................................................................................15 
2 QUEM É CLARICE LISPECTOR …..........................................................................17 
2.1 O estilo único em sua narrativa de estranhamento ….......................................18 
2.2 Por que Clarice escreve assim? …......................................................................20 
2.3 Sua vida refletida em suas obras …....................................................................23 
3 CLARICE LISPECTOR E A CRÍTICA …...................................................................27 
3.1 Como a crítica a recebeu na época ….................................................................27 
3.2 A relação do leitor com suas obras …................................................................31 
CONSIDERAÇÕES FINAIS …......................................................................................35 
REFERÊNCIAS …........................................................................................................36 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
RESUMO 
 
Essa pesquisa foi desenvolvida com a intensão de fazer com que os leitores 
compreendam melhor Clarice Lispector e suas obras. 
No início apresenta-se um pouco sobre sua história de vida, sua peculiaridade no modo 
de sentir as coisas e escrever sobre elas. 
A pesquisa também mostra duas técnicas narrativas muito utilizadas por ela, o fluxo da 
consciência e a epifania. Com definições objetivas e com clareza, deixando o leitor mais 
próximo do seu modo de escrever. 
Clarice Lispector é uma mulher incrível, com personalidade forte. Sua história de vida e 
suas obras são muito importantes para a literatura do Brasil e do mundo e atravessará 
gerações. 
A pesquisa também fala sobre a sua vida refletida em suas obras, com passagens que 
exemplificam os fatos. As dificuldades de publicação e as primeiras reações da crítica na 
época, que deixavam Clarice desconfortável, mas que a tornou um ícone da nossa 
literatura. 
E por fim, a sua relação com os leitores que é o objetivo central dessa pesquisa. Fazer 
com que os leitores mais que a compreendam, a sintam. E passem a observar suas 
obras com outros olhos, que se coloquem no lugar do próximo, como ela retrata em seus 
próprios personagens. 
E assim, o leitor possa mergulhar com Clarice nesse mundo de complexidade e entrar 
mais profundo dentro de si mesmo. 
Palavras – chave: Clarice Lispector, leitores, literatura, obras. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ABSTRACT 
 
This research was developed with the intention of making readers better undertand 
Clarice Lispector and her works. 
At first it presents a little about his life story, his peculiarity in the way of feeling things and 
writing about them. 
The research also shows two narrative techniques widely used by her, the flow of 
consciousness and epiphany. With objective definitions and clarity, leaving the reader 
closer to your way of writing. 
Clarice Lispector is an amazing woman with a strong personality. His life story and works 
are very important for Brazilian and world literature and will cross generations. 
The research also talks about his life reflected in his works, with passages that exemplify 
the facts. The difficulties of publication and the first reactions of the criticism at the time, 
which made Clarice uncomfortable, but which made her an icon of our literature. 
And finally, its relationship with readers is the central objective of this research. Make the 
readers who understand it more, feel it. And come to observe her works with other eyes, 
which put themselves in the place of the next, as she portrays in her own characters. 
And so, the reader can dive with Clarice into this world of complexity and enter deeper 
into himself. 
Keywords: Clarice Lispector, readers, literature, works. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
9 
 
 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
Esta pesquisa visa estudar sobre a escrita peculiar de Clarice Lispector, como o 
fluxo da consciência e a epifania, tão presentes em suas obras. Esses elementos 
narrativos revolucionaram a literatura brasileira na fase do Modernismo e Clarice foi a 
pioneira com esse estilo narrativo e o fez com maestria. 
O fluxo da consciência é uma técnica narrativa que transcreve o complexo 
processo de pensamento de uma personagem, desde as coisas mais banais, 
entremeando raciocínio lógico feitos pelo narrador com impressões pessoais 
momentâneas e mostrando os processos de associação de ideias. 
Não cabe nestapesquisa o rigor científico sobre a técnica de fluxo da 
consciência, os diferentes tipos e termos técnicos. A intensão é entender o conceito e 
saber identificar o estilo nas obras e exemplos que serão citados. 
A epifania também está presente em algumas de suas obras e num sentido 
literário, é definido como uma inspiração, uma ideia que se desenvolve a partir da 
observação de algo. É uma revelação inesperada a partir do momento que se vê um 
objeto ou um ser, que traz reflexões filosóficas e psicológicas aos personagens e 
chegando ao leitor. 
Clarice Lispector foi uma escritora que se destacou no século XX. Uma mulher 
misteriosa, mística e que carregou uma história de vida muito difícil desde o ventre de 
sua mãe. A estranha, a estrangeira que não se adequava, que não se encaixava e que 
causou um rebuliço entre os críticos da época. 
Suas obras causam um estranhamento no leitor e tudo que é estranho causa 
curiosidade, fascínio, mas também desconforto. Ela provoca, traz confusão, reflexão e 
transformação. Clarice escreve com a alma, ela exterioriza os seus sentimentos. Sua 
vida reflete em suas narrativas. Por isso ela foi e é tema de pesquisas, dissertações e 
doutorados. 
Esta pesquisa tem como objetivo definir os dois elementos narrativos em 
algumas de suas obras de forma objetiva e relacionar de forma breve vida e obra, que 
10 
 
 
 
muitas vezes se confunde. Obras que causam estranhamento e admiração nos leitores 
até nos dias de hoje. 
Clarice Lispector nunca deve ser esquecida. Uma escritora pesquisada e 
estudada até mesmo por psicanalistas e filósofos, ela traz o mais íntimo do seu interior 
transformados em simples enredos, mas com muita profundidade. 
O que falar sobre uma escritora que se tornou um mito? 
Falar de Clarice nunca é o suficiente, mesmo à tantas pesquisas e estudos 
sobre a autora. Mergulhar em seu mundo é se colocar diante de um abismo, e melhor, 
junto com ela. 
O objetivo desta pesquisa é esclarecer como ela escreve e porque ela escreve 
assim. Contribuindo para a compreensão dos leitores de suas obras, formando um elo 
entre leitor e escritora. Conhecendo-a profundamente e entendendo suas técnicas 
narrativas, o leitor poderá ler suas obras de alma e mente aberta e assim, sentir. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
11 
 
 
 
 
 
1- O ESTILO NARRATIVO DE CLARICE LISPECTOR E O MODERNISMO 
 
Cada movimento literário tem seu estilo narrativo que se alteram com o passar do 
tempo. E com o Modernismo no século XX, não foi diferente. O Modernismo no Brasil foi 
marcado por vários acontecimentos históricos, como as duas grandes guerras mundiais, 
a ditadura de Getúlio Vargas, depois quando foi deposto, abrindo espaço para a 
democracia no país. 
Moderno é tudo que vai contra o tradicional. Nesse período a Literatura deixou a 
característica de denúncia e crítica social e voltou-se para a questão interna, valorizando 
o indivíduo e a subjetividade. Começou-se a trabalhar muito com questões psicológicas 
e introspectivas, conhecido como, o fluxo da consciência. 
Surgem as Vanguardas, novas expressões de arte, novos modos de 
experimentações. 
Aqui, tem-se uma ideia do que a própria Clarice pensava sobre o Modernismo e 
as Vanguardas em seu texto “Literatura de vanguarda no Brasil”. 
 
O movimento de 1922 foi um movimento de profunda libertação, libertação 
significa sobretudo um novo modo de ver, libertação é sempre vanguarda, e 
também nessa de 1922 quem estava na linha de frente se sacrificou. Mas 
libertação é às vezes avanço apenas para quem se está libertando, e pode não 
ter valor de moeda corrente para os outros. Para nós, 1922 significou vanguarda, 
por exemplo, independente de qualquer valor universal. Foi movimento de posse: 
movimento de tomada de nosso modo de ser, de um dos nossos modos de ser, o 
mais urgente naquela época, talvez. 
(Lispector, 2020, p. 101) 
 
Clarice Lispector foi a pioneira no Brasil a utilizar esse novo estilo, revolucionando 
a literatura brasileira na fase do Modernismo. Ela assume um estilo único, sendo elogiada 
e criticada por ser impulsiva, peculiar e abordar o tema da alma. Sua escrita é algo 
que envolve e que destrói ao mesmo tempo, deixando o leitor imerso nessa explosão de 
palavras. 
 
 
 
12 
 
 
 
 
1.1 - O fluxo da consciência 
 
É uma técnica literária utilizada que transcreve o processo de pensamento da 
personagem com opiniões pessoais, intercalando entre a narrativa e essas expressões 
momentâneas de ideias. A característica não linear deste processo de pensamento trás 
rupturas na sintaxe e na pontuação, misturando consciente e inconsciente, realidade e 
desejo, as lembranças da personagem e o enredo narrado. 
Os personagens passaram a ter voz e o enredo deixado um pouco de lado. 
Consciências das personagens são reveladas ao leitor de forma simultânea com o 
narrador, conduzindo a história em uma espécie de transcrição direta dos pensamentos. 
De acordo com Carvalho, 
 
No caso do eu-protagonista, a visão do narrador não é periférica: é central. Tem, 
entretanto, a desvantagem de ser fixa. O narrador protagonista é um personagem 
que, por definição, é atuante, não podendo ser, ao mesmo tempo, espectador, 
crítico ou colecionador de opiniões alheias. 
(Carvalho, 2020, p.28) 
 
A técnica de fluxo da consciência apresenta o pensamento ainda não claramente 
formulado do ponto de vista lógico, exprimindo a fluida realidade psíquica saindo dos 
moldes da linguagem tradicional. Segundo Carvalho, “O leitor é orientado para os fatos 
externos, para a situação, ao mesmo tempo que é usado um estilo que caracteriza a 
personagem, apresentando-se a sequência não lógica dos seus pensamentos”. 
(Carvalho, 2020, p.77). 
Também de acordo com o teórico Alfredo Leme de Coelho Carvalho, “o fluxo da 
consciência é um método ficcional que pode ser definido como a apresentação 
idealmente exata, não analisada, do que se passa na consciência de um ou mais 
personagens” (Carvalho, 2020, p. 72). 
Quantas vezes as pessoas se perdem em seus pensamentos, desde as situações 
mais banais do cotidiano, lembranças de algo ou algum tempo, planejando coisas a curto 
e longo prazo, fazendo críticas internas sobre alguém ou alguma situação ao redor e até 
mesmo nas lutas e conflitos internos com seus próprios fantasmas. Às vezes esses 
pensamentos até escapolem em voz alta, em um monólogo interior, “definem monólogo 
13 
 
 
 
interior como a apresentação direta e imediata, na literatura narrativa, dos pensamentos 
não falados de um personagem, sem a intervenção de narrador”, diz (Carvalho, 2020, p. 
74). Na literatura isso é chamado de fluxo da consciência. 
O fluxo da consciência é metafísico, muito trabalhado na psicanálise, pois trabalha 
a complexidade dos pensamentos. E na literatura transforma em uma realidade para as 
personagens, retratando em forma de arte. 
Os autores que utilizam esse estilo permeiam entre os pensamentos 
inconscientes e conscientes de suas criaturas, num indo e vindo que pode durar toda a 
extensão do enredo. Cada pensamento é único e os sentimentos estão ligados ao 
pensamento. O estado da mente, as sensações e memórias nunca serão os mesmos. 
Os sentimentos podem ser conscientes ou inconscientes. Usados em textos 
narrativos, onde os personagens são construídos em processos literários, as 
representações verbais, tornam-se claros e concretos porque os processos internos do 
pensamento foram transformados em percepções, assim sendo cientes de suas 
emoções. 
Inaugurado pelo escritor Marcel Proust(1871 – 1922) e depois explorado por 
James Joyce e Virgínia Woolf, o fluxo da consciência escreve de forma fiel o fluir dos 
pensamentos, desde os mais banais. No Brasil, Clarice inaugura esse estilo com 
maestria. Ela rompe com a sequência de começo, meio e fim, deixando o enredo em 
segundo plano e focando no universo particular. Um exemplo de fluxo da consciênciaestá em um trecho de sua obra Perto do coração Selvagem, onde pode-se observar, 
 
Não se sentia fraca, mas pelo contrário possuída de um ardor pouco comum, 
misturado a certa alegria, sombria e violenta. Estou sofrendo, pensou de repente 
e surpreendeu-se. Estou sofrendo, dizia-lhe uma consciência à parte. E 
subitamente esse outro ser agigantou-se e tomou o lugar do que sofria. Nada 
acontecia se ela continuava a esperar o que ia acontecer... 
(Lispector, 2019, p. 50). 
 
É nítida a mistura entre o narrador em terceira pessoa e a intromissão dos pensamentos 
da personagem Joana em primeira pessoa. 
Há várias formas de apresentar essa técnica em um discurso narrativo: o 
monólogo interior direto, o monólogo interior direto, a descrição por autor onisciente e o 
solilóquio. Para (Carvalho, 2020, p. 79), em todas essas formas “há falta de elucidação 
14 
 
 
 
lógica. Os pensamento são enunciados como se o fossem para ser ouvidos”. Segundo 
o mesmo pesquisador: 
 
existe o autor onisciente ou analítico. Neste caso o autor penetra na mente dos 
personagens e nos desvenda os seus pensamentos e sentimentos. 
(…) o autor onisciente pode assumir duas atitudes: a) apenas relatar os 
pensamentos, sentimentos e fatos; b) não só relatá-los, como também fazer 
comentário sobre ele. 
(Carvalho, 2020, p.21) 
 
Tais pensamentos provocam rompimentos com o tempo e o espaço da narrativa. 
Fatos exteriores surgem do nada, intrometendo na sequência da narrativa, 
aparentemente sem importância, mas que leva o leitor para o interior da personagem. 
Para a pesquisadora Sônia Maria Machado (1981), em sua dissertação de mestrado, 
 
o fluxo da consciência na ficção se prende especialmente ao lado psicológico da 
personagem, quer pronunciado por ele mesmo, por outro personagem ou por 
outro recurso impetrado pelo narrador para exteriorizar o conteúdo existente na 
consciência da personagem. 
(Machado, 1981, p. 16) 
 
O narrador tem o privilégio de levar o leitor a seguir as pegadas de uma narrativa 
que diz mais do que se pretende dizer. E isso se observa nos pensamentos das 
personagens. Narrador e personagem andam juntos em um mesmo contexto. 
A pesquisadora Sônia Maria Machado diz que os pensamentos das personagens 
são descritos da maneira que vem à mente, de forma natural, sem refinamentos na 
escrita: 
 
mesmo usando o monólogo interior direto, o narrador, pretendendo-se onisciente, 
quer dominar o conteúdo mental dos seus personagens em todos os níveis […], 
inclusive aqueles que nem ele mesmo entende, posto que são expressos na forma 
mesma com que são concebidos, sem passar pelo buliramento literário. 
(Machado, 1981, p.122). 
 
As personagens de Clarice Lispector nem sempre são descritas no começo das 
histórias. Conforme essa narrativa intercalada vai acontecendo, é através da própria 
consciência das personagens que o leitor vai compreendendo a história. Ainda 
complementando Machado, 
 
15 
 
 
 
O fluxo da consciência, servindo-se do mecanismo da livre associação de ideias, 
também evoca ideias espontâneas, num estado de consciência, buscando 
acontecimentos passados que vêm à mente através da associação com algo que 
se passa no momento atual do ser humano. 
(Machado, 1981, p.13). 
 
O conceito de fluxo da consciência é a maneira de questionar, de filosofar a vida 
de acordo com o desenrolar do enredo em uma obra. É difícil ser entendido e entender 
o próximo sem julgamentos, muitas coisas que pensamos são indizíveis. Para 
(Carvalho,pág. 77) “o leitor é orientado para os fatos externos, para a situação, ao mesmo 
tempo que é usado um estilo que caracteriza o personagem, apresentando-se a 
sequência não lógica dos seus pensamentos”. 
Nessa característica de narrativa, as personagens dialogam consigo mesmos e é 
papel do narrador expor essa consciência ao leitor, tornando a leitura mais profunda, às 
vezes pouco compreendida, mas muito sentida. 
Por isso essa técnica é muito valorizada e admirada em Clarice. Ela sempre foi 
ela mesma, dentro e fora de suas obras e sempre fez questão de deixar isso bem claro. 
Em suas obras a distância entre as vozes do narrador e personagem são 
indefinidas. Assim tudo se mistura, passado e presente, realidade e fantasia, falas e 
ações, amor e ódio, desejo e repulsa. Como a própria autora disse, sua narrativa não se 
prende a uma lógica ou ordem de ideias e escrita. 
As personagens surgem em suas obras sem uma definição de espaço e tempo, 
simplesmente contam a continuação de algo que já está acontecendo. As reações e o 
consciente simplesmente fluem. Suas personagens expressam a realidade, com 
intuições que surgem do nada como uma epifania. 
 
1.2- A Epifania 
 
Epifania na literatura é como uma inspiração, uma iluminação que surge do nada. 
É uma revelação banal, cotidiana, uma ideia súbita e repentina sem nenhuma 
importância aparente. É algo que vem na mente quando se olha para um objeto qualquer. 
Uma explosão de ideias, características muito presentes nas obras de Clarice Lispector. 
Um grande exemplo de epifania, encontra-se em seu conto “O ovo e a galinha” 
no livro (A legião estrangeira, 2020, p. 51), logo em seu início: “De manhã na cozinha 
16 
 
 
 
sobre a mesa vejo o ovo.” “Ver um ovo nunca se mantém no presente: mal vejo um ovo 
e já se torna ter visto um ovo há três milênios”. 
A narradora tem uma iluminação ao ver o ovo, um objeto banal do cotidiano e a 
partir disso, começa a ter ideias filosóficas, questionamentos sobre a vida, sobre a 
maternidade: “Eu te amo, ovo. Eu te amo como uma coisa nem sequer sabe que ama 
outra coisa”. 
 
Ovo é coisa que precisa tomar cuidado. Por isso a galinha é o disfarce do ovo. 
Para que o ovo atravesse os tempos a galinha existe. Mãe é para isso. O ovo vive 
foragido por estar sempre adiantado demais para a sua época. Ovo por enquanto 
será sempre revolucionário. 
(Lispector, 2020, p. 53). 
 
A epifania é dada como um processo de manifestação entre o eu do indivíduo que 
é modificado na sua forma de ver e pensar, através de um evento aparentemente comum 
e que ocorre de forma natural e abrupta em seu cotidiano. 
É nessa explosão epifânica que emerge grande parte da obra de Clarice. Ao ler 
suas obras, o leitor parece entrar em um transe, em um mundo onde só Clarice consegue 
explicar o inexplicável. 
Outro exemplo de epifania clariciana é em seu primeiro livro “Perto do coração 
selvagem”, onde a personagem Joana ainda menina tem um vislumbre ao olhar o relógio 
do pai: 
 
A máquina do papai batia tac-tac...tac-tac-tac... O relógio acordou em tin-dlen sem 
poeira. O silêncio arrastou-se zzzzz. O guarda-roupa dizia o quê? Roupa-roupa-
roupa. Não não. Entre o relógio, a máquina e o silêncio havia uma orelha à escuta, 
grande, cor-de-rosa e morta. Os três sons estavam ligados pela luz do dia e pelo 
ranger das folhinhas da árvore que se esfregavam rediantes. 
(Lispector, 2019. p.11). 
 
Ela escrevia ao mesmo tempo em que era dona de casa e mãe. O espanto pelo 
mistério e as coisas do dia a dia surgem em suas obras em forma de arte, de filosofia. 
Com a correria dos dias, as pessoas deixam de observar, de questionar. Simplesmente 
seguem o fluxo no automático. E Clarice traz esse olhar para o interior, para as questões 
da alma. 
17 
 
 
 
Dentre várias de suas obras, um exemplo de epifania está em sua obra de maior 
destaque, A Paixão segundo G.H. O livro todo é um misto de epifania e monólogo interior, 
quando a personagem se depara com uma barata no quarto da antiga empregada: 
 
Só que ter descoberto súbita vida na nudez do quarto me assustara como se eu 
descobrisse que o quarto morto era na verdade potente. Tudo ali havia secado - 
mas restara uma barata. Uma barata tão velha que era imemorial. O que sempre 
me repugnara em baratas é que elas eram obsoletas e no entanto atuais. 
(Lispector, 2020, p. 46) 
 
Muito lida e estudada por psicanalistas, pois ela tem a capacidade de mostrar a 
perspectivano olhar do outro, em diferentes pontos de vista. Ajuda muitos leitores, 
principalmente mulheres a questionarem sobre a própria vida. “É que eu olhara a barata 
viva e nela descobria a identidade de minha vida mais profunda. Em derrocada difícil, 
abriam-se dentro de mim passagens duras e estreitas.” (Lispector, 2020, p. 56). 
Esses pensamentos geralmente acontecem em fatos triviais do cotidiano e a 
personagem já mergulhada nesse fluxo da consciência, passa a ter um novo olhar sobre 
o mundo e sobre si mesma, levando o leitor a enxergar de diferentes formas e fazer 
reflexões sobre a vida. 
 
 
II- QUEM É CLARICE LISPECTOR 
 
Chaya Pinkhasovna Lispector nasceu em 10 de dezembro de 1920. De origem 
judáica Russa, sua família veio buscar refúgio no Brasil, chegando em 1922 quando era 
ainda bem pequena. Todos os cinco membros da família receberam nomes da língua 
portuguesa, onde Chaya virou Clarice. Era a casula de três filhas. 
Teve uma infância muito difícil em meio a fome, a doença de sua mãe e a difícil 
adaptação de seu pai em busca de trabalho. 
Chegaram primeiro em Maceió, onde já viviam alguns parentes refugiados. Mas 
em meio à tantas dificuldades, logo partiram para Recife, onde Clarice viveu a maior 
parte da sua infância. E após a morte de sua mãe, foram para o Rio de Janeiro onde 
Clarice viveu a maior parte de sua vida. 
18 
 
 
 
Desde pequena devorava os livros que pegava emprestado na biblioteca. Ela 
disse em uma entrevista dada no dia 20 de outubro de 1976, na sede do Museu da 
Imagem e do Som do Rio de Janeiro, encontrada no livro (Outros Escritos, 2020, p.142): 
“Não sabia que havia um autor por trás de tudo. Lá pelas tantas eu descobri que era 
assim e disse: Isso eu também quero”. 
Foi naturalizada com 21 anos, mas Clarice sempre se considerou brasileira e 
nordestina. Se formou em direito, mas seu interesse sempre foi pela escrita. Trabalhou 
como tradutora, jornalista, escritora, contista e ensaísta. Como diz (Moser, 2017, p. 15) 
em sua obra Clarice, uma biografia: “Seu ar indecifrável fascinava e inquietava todos os 
que a encontravam”. 
Se casou com o diplomata Maury Gurgel no Rio e teve dois filhos, passando a 
viver de país em país. Cansada dessa vida instável de não pertencer à lugar nenhum e 
o amor pelo Brasil falando mais alto, em 1959, Clarice se separa de Maury e volta para 
o Brasil com os filhos, onde vive o resto de sua vida. 
Faleceu em 1977, um dia antes de completar 57 anos, por complicações de um 
câncer no ovário. Clarice deixou uma ampla coleção de suas obras, entre contos, novelas 
e romances, além de um grande exemplo de mulher forte, única e destemida. 
Em um ano em que estaria com 100 anos se estivesse viva, é um imenso prazer 
estudar, pesquisar e falar sobre ela. 
 
2.1- O estilo único em sua narrativa de estranhamento 
 
Seu estilo literário foi comparado com alguns escritores que já usavam tais 
técnicas, como James Joyce e Virgínia Woolf, mas ela dizia nunca ter lido nada deles 
antes. Foi conhecer só depois de publicar seus primeiros livros. 
Clarice não gostava das comparações e disse que sempre evocou ela mesma 
desde sua primeira obra até a última, encontrada depois de sua morte. Como diz o 
pesquisador Moser, 
 
a garota cujas histórias nunca foram lineares e que esteve sempre muito menos 
interessada no aparato romanesco de trama e personagens do que no processo 
através do qual a escrita poderia alcançar a verdade interior. 
(Moser, 2017, p. 109) 
19 
 
 
 
 
Sua literatura foge dos rótulos, causa espanto, estranhamento. Não se encaixa 
nas convenções. Como diz a pesquisadora Nádia Battella Gotlib, 
 
A escrita já nasce aí de uma certa inquietação, explode subvertendo valores 
convencionais, com vistas a buscar um novo sentido. […] é a personagem, ora 
mais, ora menos consciente do seu papel; é a narradora solta, levemente 
dissimulada, ao mesmo tempo trágica, ao mesmo tempo irônica e com postura 
crítica; é a autora implícita, manifestando-se diante dessas todas, de modo ora 
mais direto, ora dissimulado. 
(Gotlib, 2013, p.184). 
 
Ela mesma sentia não pertencer ao mundo e isso é exteriorizado em suas obras. 
Sempre esteve muito à frente de sua época. 
Os temas de Clarice são psíquicos e humanos, as relações entre as personagens, 
os problemas nas relações familiares, os jogos enganosos e principalmente a condição 
social das mulheres, são assuntos de destaque em sua narrativa, deixando de lado o 
enredo e buscando o interior. 
Sua produção traz questões filosóficas, sociais e de existencialismo. As 
personagens femininas são fortes, autênticas, mesmo em meio ao machismo e 
totalitarismo da época, assim como a própria Clarice. 
Seu processo de construção textual é um misto de eulírico, metáfora e fluxo da 
consciência. Ela escrevia com profundidade. 
Em suas obras, o narrador é tão intrigante quanto a personagem, causando um 
desconforto ao leitor. Muito da interpretação está no silêncio do narrador, com 
fragmentos dos pensamentos das personagens. O entendimento se constrói nas 
entrelinhas. 
Estranho é aquilo que está de fora, que não pertence a um determinado grupo e 
suas regras, que não se encaixa. Mas são considerados estranho porque não 
compreendemos. A própria pessoa pode se considerar estranha por não se enquadrar e 
por não se compreender, como no caso de Clarice, tanto sua pessoa como suas obras. 
Estranha e estrangeira, ela não se adequava aos vários lugares onde viveu, não 
se sentia pertencer a lugar nenhum. Isso reflete em muitas histórias que ela escreveu. 
Ela torcia a compreensão do real, tornando sua escrita não linear. Não tem começo, meio 
e fim, a história simplesmente começa de um ponto ou acontecimento que a personagem 
20 
 
 
 
já estava vivendo, e assim segue com a história. Atemporal, sem riqueza de enredo, suas 
personagens não encontram seu lugar dentro de um círculo qualquer. 
 
 
 
2.2- Por que Clarice escreve assim? 
 
Em sua relação com a escrita, Clarice disse em uma entrevista dada à TV Cultura 
em 1977, “Escrevo porque encontro nisso um prazer que não sei traduzir. Não sou 
pretenciosa. Escrevo para mim, para que eu sinta minha alma falando e cantando e as 
vezes chorando.” 
Seus dramas pessoais refletem na força de suas palavras: a perda da mãe ainda 
criança que lutava contra uma sífilis proveniente de um estupro cometido por soldados 
antes de chegar ao Brasil, o assassinato do avô no período da guerra, a perda do pai 
vítima de um erro médico durante uma cirurgia de rotina, todo esse sofrimento era 
absolvido pela menina Clarice. Em suas poucas entrevistas citadas na obra de Moser, 
ela relata, 
 
Fui preparada para ser dada à luz de um modo tão bonito. Minha mãe já estava 
doente, e, por uma superstição bastante espalhada, acreditava-se que ter um filho 
curava uma mulher da doença. Então fui deliberadamente criada: com amor e 
esperança. Só que não curei minha mãe. E sinto até hoje essa carga de culpa: 
fizeram-me para uma missão determinadda e eu falhei. 
(Lispector, 1977, apud Moser, 2017, p. 45) 
 
Ela tinha um dom e um talento incrível junto com uma força de colocar para fora 
sua luta interior e os questionamentos de sua existência, que só poderiam resultar em 
uma explosão de palavras e sensações. Como ela mesma diz em uma passagem 
encontrada na obra (Clarice: uma vida que se conta), de Nádia Battella Gotlib, 
 
Quem sabe se comecei a escrever tão cedo na vida porque, escrevendo, pelo 
menos eu pertencia um pouco a mim mesma. O que é um fac-símile triste. Nesta 
altura da crônica, define explicitamente a situação: Com o tempo, sobretudo os 
últimos anos, perdi o jeito de ser gente. Não sei mais como é. E uma espécie de 
solidão de não pertencer começou a me invadir como heras num muro. 
(Lispector,1971, apud Gotlib, 2013, p. 136). 
 
21 
 
 
 
Desde menina, Clarice sempre foi autêntica, com um talento para liderança e 
persuasão. Começou a escreverbem cedo e enviava suas histórias para concursos, mas 
nunca foi escolhida porque ela fugia dos padrões do “Era uma vez”. 
Clarice sempre externou o que trazia de mais íntimo em suas obras, com o 
compromisso de expressar a sua verdade impressa nas inquietações de sua alma. Seus 
escritos não devem ser entendidos e sim sentidos. 
Teve depressão por muito tempo e escrever era sua válvula de escape. Ela 
transformou tudo que era escuro e vazio dentro de si na arte de escrever. 
Como ela mesma relatou em seu leito de morte à sua amiga Olga Borelli, trecho 
encontrado no livro: “Clarice – uma vida que se conta”. 
 
Sou um objeto querido por Deus. E isso me faz nascerem flores no peito. Ele me 
criou igual ao que escrevi agora: sou um objeto querido por Deus e ele gostou de 
ter me criado como eu gostei de ter criado a frase. E quanto mais espírito tiver o 
objeto humano mais Deus se satisfaz. 
(Lispector, 1977, apud Gotlib, 2013, p. 601) 
 
Sua tendência à tristeza foi se intensificando com o passar do tempo. Já carregava 
a culpa de não ter conseguido salvar sua mãe da doença, que na sua cabeça, foi 
concebida só para isso. Depois veio a paixão proibida por seu grande amigo, Lúcio 
Cardoso. Mais tarde o casamento com o diplomata Maury Gurgel e as mudanças de país 
em país que em nada agradava Clarice o fato de estar em vários lugares e não pertencer 
a lugar nenhum. 
As coisas só pioraram quando ela deixou Maury em 1959 e voltou para o Brasil 
com os dois filhos. Mesmo trabalhando para uma conceituada revista na época, não lhe 
sobrava muito tempo para escrever seus livros, que era sua maior paixão. Passou por 
dificuldades financeiras e nesse período também teve problemas com seu filho Pedro, 
que foi desenvolvendo fortes crises de esquizofrenia. 
Depois de alguns anos, sua tendência à depressão se intensificou quando sofreu 
um acidente. Ela dormiu sobre o efeito de remédios com um cigarro aceso em seu quarto 
e este ficou destruído pelo fogo. Teve queimaduras em várias partes do corpo e quase 
perdeu uma de suas mãos. 
Em sua última entrevista à TV Cultura, em 1977 no programa Panorama Especial, 
é notório ver a depressão em seu olhar e durante a entrevista fumava sem parar. Nesse 
22 
 
 
 
período já lutava contra sua doença e já previa seu destino. Seu sotaque parece de 
estrangeiro, mas é problema de dicção, tinha a língua presa e não viu necessidade em 
cirurgia. 
Ela se considerava desde a adolescência uma pessoa caótica, intensa, totalmente 
fora da realidade da vida. Tinha muita dificuldade de se comunicar com os adultos, “todo 
adulto é triste e solitário”, preferia as crianças e os animais. 
Clarice não tinha nenhuma pretensão com suas histórias, não tinha a intensão de 
mudar o mundo, simplesmente escrevia, desabrochava. “Enquanto estou escrevendo 
estou vivendo”, disse. 
Também nunca se assumia como escritora, se considerava amadora, pois queria 
a liberdade de escrever quando tivesse vontade, às vezes produzindo muito, outras 
vezes pouco. 
Clarice se considerava tímida e ousada ao mesmo tempo, tinha opinião própria e 
corria atrás de puplicações para seus livros. Ela deu poucas entrevistas, não se sentia à 
vontade. E em uma delas, gravada em 20 de outubro de 1976, na sede do Museu da 
Imagem e do Som, no Rio, ela responde à Affonso Romano de Santanna: 
 
Eu elaboro muito inconscientemente. Às vezes pensam que eu não estou fazendo 
nada. Estou sentada numa cadeira e fico. Nem eu mesma sei que estou fazendo 
alguma coisa. De repente vem uma frase... 
(Lispector, 1976, apud Outros Escritos,2020, p.154) 
 
Era de poucas palavras, mas seu silêncio transmitia muito de si. Conseguia 
traduzir as emoções humanas. Transformava sua indignação com os fatos da vida em 
histórias, transmitindo a dor de viver. Ela se sentia vazia quando não estava escrevendo. 
Uma mulher de alma inquieta que deixava claro em suas obras, o choque entre 
expectativa e realidade da vida. Nessa mesma entrevista ela diz sobre seus escitos: 
 
Eu não releio. Eu enjoo. Quando é publicado já é como um livro morto, não quero 
mais saber dele. E quando leio, eu estranho, acho ruim, por isso não leio. Também 
não leio as traduções que fazem dos meus livros para não me irritar. 
(Lispector, 1976, apud Outros Escritos, 2020, p.157) 
 
Amigos mais próximos e colegas de trabalho diziam que era muito difícil lidar com ela. 
“Era assim que muitas pessoas a viam: estranha, misteriosa e difícil, um gênio místico 
23 
 
 
 
incognoscível, muito acima, e fora, do grosso da humanidade”, assim diz seu 
pesquisador e biógrafo (Moser, 2017, p. 382). Descobriu também na pintura, uma forma 
de aquietar a sua alma. 
Existe a literatura antes e depois de Clarice Lispector. Foi novidade na sua época 
com seu estilo único e ousado, mas demorou décadas para se tornar conhecida e 
aclamada. 
Uma mulher sensível que via as coisas de fora, em um olhar inaugural. Como se 
fosse uma criança que estivesse vendo pela primeira vez e aprendesse. Ela muda a 
sintonia dos sentidos, via com espanto e leva o leitor a enxergar assim. 
Para Clarice o amor é sufocante, sofredor e esperança é maldição. Sentimentos 
que são positivos para a maioria dos seres humanos, para ela é nostálgico e depressivo, 
motivos de inspiração. Escreve pela graça de escrever em um ato libertador. 
 
 
 
2.3- Sua vida refletida em suas obras 
 
Sua história de vida influencia em suas obras. Através das palavras ela pode 
expressar sentimentos e emoções, como também tocar o corarão de quem lê. Falar de 
sensações e sentimentos é algo muito presente na vida humana, principalmente nos dias 
de hoje. 
Sua arte trás o íntimo do pensamento da mulher, embora também tenha 
personagens masculinos, seu enfoque é na mulher e com isso podemos compreender 
sua história de vida, pois ela transmite seus mais profundos sentimentos através da sua 
arte em escrever. 
Sua personalidade na infância foi claramente retratada na personagem Joana 
menina em Perto do Coração Selvagem, sua primeira obra. Como diz o pesquisador 
(Moser, 2017, p. 234), “a personagem principal, Joana, guarda uma notável semelhança 
com sua criadora: as mesmas circunstâncias familiares, a mesma personalidade 
obstinada, a mesma resistência às convenções”. Clarice tinha uma proximidade muito 
forte com os animais e tudo que era selvagem. 
24 
 
 
 
Também na infância, Clarice relembra no conto Felicidade Clandestina, uma 
situação que ocorreu com ela quando menina. Ela sempre gostou de ler, mas sua 
situação não permitia ter os livros em casa, dependia de empréstimos. Uma coleguinha, 
filha de um livreiro, vivia lhe prometendo emprestar, mas quando ia à sua casa buscar o 
livro, a coleguinha enrolava e não emprestava. “Olhando bem para meus olhos, disse-
me que havia emprestado o livro a outra menina, e que eu voltasse no dia seguinte para 
buscá-lo”. (Lispector, 2020, p.8). 
Era o livro As reinações de Narizinho de Monteiro Lobato. A mãe da menina 
descobriu toda a tramoia e reprimiu a filha, dizendo que o livro sempre estivera ali. 
Emprestou o livro à Clarice e disse que podia ficar o tempo que quisesse com o livro: 
 
Eu estava estonteada, e assim recebi o livro na mão. Acho que não disse nada. 
Peguei o livro. Não, não saí pulando como sempre. Saí andando bem devagar. 
Sei que segurava o livro grosso com as duas mãos, comprimindo-o contra o peito. 
Quanto tempo levei até chegar em casa, também pouco importa. Meu peito estava 
quente, meu coração pensativo. 
(Lispector, 2020, p. 10). 
 
O próprio ex marido, Maury Gurgel entendeu a identificação de Clarice com as 
personagens Joana e Lídia em Perto do coração selvagem. Ele faz essa comparação 
em uma carta sua para Clarice tentando reconciliação, trecho da carta encontrado na 
obra de Moser: 
 
Mas intuitivamente jamais deixei de acreditar que coexistissem em você, Clarice, 
Joana e Lídia. Rejeitei Joana porque o seu mundo me inquietava, ao invés dedar-
lhe a mão. Aceitei, demais, o papel de Otávio e acabei me convencendo de que 
éramos incapazes de nos libertar por amor. Fui incapaz de desfazer a apreensão 
de Joana de se ligar a um homem sem lhe permitir que a aprisione. […]Lídia, ao 
contrário, e que também é uma faceta de Clarice, não tem medo do prazer e o 
aceita sem remorso. Perdoe-me, meu benzinho, de não ter sabido, embora 
sentisse difusamente a unidade de ambas, de não ter sabido, em dezesseis anos 
de casamento, realizar a reconciliação de ambas. Não ter sabido convencer Joana 
de que ela e Lídia eram, e são, a mesma pessoa em Clarice. 
(Moser, 2017, p.294) 
 
Clarice em sua adolescência, teve um fascínio por um professor, vivia fazendo 
expeculações sobre assuntos que não condiziam com as aulas. Ela insistia mesmo, 
contou sua irmã Tania a uma entrevistadora. Como conta (Moser, 2017, p.92), “O 
professor aparece em Perto do coração selvagem e em Os desastres de Sofia, a história 
25 
 
 
 
de uma selvagem e brilhante menina de nove anos que atormenta um professor que ela 
ama e despreza ao mesmo tempo”. 
No conto A legião estrangeira, título dado à uma coletânea de contos, a 
personagem Ofélia representa muito de sua infância: “A menina começa a visitar a 
vizinha, que tem um pintinho assustado, o pinto cheio de graça, coisa breve e amarela”, 
conta Moser, 2017, p.339. E também diz: 
 
A referência à sua mãe ausente não está longe. “Ele trocará todas as 
possibilidades de um mundo por: mãe. Mãe é: não morrer.” No conto que dá título 
ao livro, percebe-se que Clarice se identifica tanto com a inteligente e travessa 
Ofélia como o pintinho desamparado, que perdeu a mãe. 
(Moser, 2017, p. 340) 
 
Como em todas as suas obras, Uma aprendizagem e depois Água Viva são as 
que mais se aproximam de autobiográficas. A própria autora diz estar se humanizando 
e os livros refletem isso. Em Uma Aprendizagem, o nome de Clarice está escondido 
dentro do nome da personagem Lucrécia. 
Em Água Viva, Clarice o escreve quase como um diário, misturando prosa poética 
e metáforas. Como mostra em tais citações, 
 
Escrevo-te toda inteira e sinto um sabor em ser e o sabor-a-ti é abstrato como o 
instante. É também com o corpo todo que pinto os meus quadros e na tela fixo o 
incorpóreo, eu corpo a corpo comigo mesma. 
(Lispector, 2020, p. 8) 
 
As obras foram acompanhando a vida da autora. É notório e de fácil percepção 
para quem conhece sua história e suas obras. Em uma passagem de A maçã no escuro, 
o romance que Clarice escreveu quando vivia em Washington, fase em que ela já estava 
depressiva, fazendo uso de calmantes e com saudades do Brasil, ela descreve: 
Ah, disse ela com simplicidade, é assim: vamos dizer que uma pessoa estivesse 
gritando e então a outra punha um travesseiro na boca da outra para não se ouvir 
o grito. Pois quando eu tomo calmante, eu não ouço o meu grito, sei que estou 
gritando mas não ouço, é assim, disse ela ajeitando a saia. 
(Lispector, 2020, p.187) 
 
A loucura em A maçã no escuro é uma ferramenta em busca do conhecimento, não um 
meio de autodestruição. 
26 
 
 
 
Em uma entrevista na sede do Museu da Imagem e do Som, em 1976 no Rio de 
Janeiro, Clarice diz à entrevistadora Marina Colasanti sobre a personagem Macabéa de 
A hora da Estrela, encontrada na obra Outros Escritos: 
 
Mas existe a pessoa, eu vejo a pessoa, ela se comanda muito. Ela é nordestina 
e eu tinha que botar para fora um dia o Nordeste que eu vivi. Então estou fazendo, 
com muita preguiça, porque o que me interessa é anotar. Juntar é muito chato. 
(Lispector, 1976, apud Outros Escritos,2020, p.151) 
 
Sua vida sempre foi claramente relacionada com suas obras, desde a primeira até 
a última. Podemos ver essa evolução desde sua infância até sua morte. Todos os seus 
sofrimentos, suas buscas internas e seu estranhamento em relação ao mundo. 
Para Clarice, custava muito viver, era doloroso. Mas como ela mesma disse em 
uma crítica referente ao suicídio de Virgínia Woolf, a arte estava em aguentar até o final. 
Já próximo de sua morte, no ano de 1977, Clarice estava escrevendo alguns 
fragmentos que se tornariam Um sopro de Vida, estruturado e publicado postumamente 
por sua amiga Olga Borelli. Uma obra que também era uma prosa poética, relacionando 
muito com sua doença e seu fim. 
Como mostra o pesquisador: 
 
Em Um sopro de Vida tanto Ângela como o personagem masculino do Autor que 
Clarice interpõe entre ela própria e Ângela são Clarice Lispector, muito mais do 
que o foram suas criaturas anteriores. Mesmo num conjunto de obra com tal 
riqueza autobiográfica como o de Clarice, nenhum personagem, nem mesmo 
Martim, Joana ou G.H., jamais foi tão ousada e transparente Clarice. 
(Moser, 2017, p.433) 
 
Mais à frente no mesmo capítulo Moser diz, 
 
Os dois personagens entram num diálogo encantatório que se estende por todo 
livro, mudando nomes, trocando papéis e embarcando em especulações místicas 
que ardem com intensidade feroz à medida que a autora, neste caso a 
“verdadeira” autora, Clarice Lispector, sente a aproximação da morte. 
(Moser, 2017, p.436) 
 
Sua amiga Olga Borelli, que organizou os fragmentos deixados por Clarice e 
depois o publicou, também compreendeu essa conexão. Ela omitiu uma frase dita por 
um dos personagens na época para a família não ficar muito sofrida, como vemos em 
um trecho na obra de Moser: 
27 
 
 
 
 
Eu pedi a Deus que desse a Ângela um câncer e que ela não pudesse se livrar 
dele. Porque a Ângela não tem coragem de se suicidar. Ela precisa, porque ela 
diz “Deus não mata ninguém. É a pessoa que se morre”. Clarice dizia também 
que cada pessoa escolhe a maneira de morrer. 
(Moser, 2017, p.438) 
 
Clarice Lispector foi considerada juntamente com Guimarães Rosa, a escritora de 
maior destaque do século. Foi alvo de muitas críticas, tanto positivas quanto negativas, 
atraindo cada vez mais o leitor, desde sua época até os dias de hoje. Leitor esse, que 
como a própria Clarice diz, não precisa de nenhuma inteligência superior para 
compreender suas obras, apenas sentir, se conectar. Esses são assuntos para o próximo 
capítulo. 
 
 
 
 
III- CLARICE LISPECTOR E A CRÍTICA 
 
3.1- Como a crítica a recebeu na época 
 
Clarice foi considerada uma escritora inqualificável no estilo e na forma. “Não 
escrevo para agradar ninguém”, disse ela várias vezes quando reclamavam de não 
entender o que ela escrevia em suas obras. Um jornal em Pernambuco rejeitou todos os 
seus contos enviados quando menina e mesmo assim, nunca se importou com isso. 
Mesmo estudando direito, sempre quis escrever e não atuou só como escritora, 
mas também como jornalista escrevendo artigos de opinião. Ela era uma artista genial, 
difícil de se enquadrar nos parâmetros normais. Como diz o crítico Tristão de Athayde, 
que publicou um artigo sobre Clarice na Folha de São Paulo, 12 de janeiro de 1978, 
encontrado no livro de (Gotlib, 2013, p.23), 
 
Clarice via demais, e o sofrimento lhe brotava da crispação de suas retinas 
expostas às agulhas de luz que saltam do coração selvagem da vida. […] Vidente 
e visionária, Clarice era fustigada, crucificada pelo excesso de estímulos, 
28 
 
 
 
conscientes e inconscientes, que tinha de domar. (Athayde, 1978, apud Gotlib, 
2013) 
 
Os temas que ela abordava eram sobre mulheres, sobre o cotidiano, temas 
simples, mas escritos de uma maneira que ia além, com uma escrita que causava 
estranheza no estilo e na forma. Sua intenção não era transmitir fatos e sim, sensações. 
Como a própria Clarice disse sobre escrever e sobre os críticos em uma 
entrevista, encontrada no livro “Outros Escritos”: 
 
Escrever, e falo de escrever de verdade, é completamente mágico. As palavras 
vêm de lugares tão distantes dentro de mim que parecem ter sido pensadas por 
desconhecidos, e não por mim mesma. Os críticos consideram que escrevo o que 
chamam de “realismo mágico”. E um crítico, não me lembro de qual país da 
AméricaLatina, escreveu sobre mim: ela não é escritora, é uma bruxa. 
(Lispector, apud Outros Escritos, 2020, p.126) 
 
 
Ela era um enigma e se tornou um mito, mal dando atenção às críticas em suas 
entrevistas. Até mesmo alguns grupos de brasileiros cultos se viram desconcertados pelo 
ardor que ela inspirava, sem serem capazes de compreender o que ela escrevia. 
O mistério em torno da vida e das obras de Clarice foi tema de inúmeras análises, 
pesquisas e estudos entre críticos e leitores. Como pode-se observar no comentário do 
crítico Antonio Callado: 
 
Clarice, que, ao isolar-se voluntariamente, cercava-se de uma aura de mistério, 
permanecendo intocável e favorecendo, quem sabe, certas mitificações: 
belíssima, sobretudo na mocidade; em qualquer época, sedutoramente atraente; 
antissocial, esquisita, complicada, difícil, mística, bruxa... 
(Callado, apud Gotlib, 2013, p.22) 
 
Clarice sempre teve dificuldades em absorver as críticas, mesmo as elogiosas. 
Como ela responde à Marina Colasanti em uma entrevista, encontrada no livro “Outros 
Escritos”. 
 
Quando eu estou trabalhando, uma crítica sobre mim interfere na minha vida 
íntima, então eu paro de escrever para esquecer a crítica. Inclusive as elogiosas, 
pois eu cultivo muito a humildade. De modo que, às vezes, me sentia quase 
agredida com os elogios. 
(Lispector, 1976, apud Outros Escritos, 2020, p.170) 
 
29 
 
 
 
O professor e crítico literário mais famoso desde a época de Clarice, Antônio 
Cândido foi o seu primeiro crítico. Ele escreveu sobre Perto do Coração Selvagem na 
Folha de São Paulo, em 16 de julho de 1944: “Em relação a Perto do Coração Selvagem, 
se deixarmos de lado as possíveis fontes estrangeiras de inspiração, permanece o fato 
de que, dentro de nossa literatura, é uma performance da melhor qualidade.” 
A escritora sempre teve dificuldades com as publicações de seus livros, desde os 
primeiros contos quando criança, como ela mesma dizia, suas histórias eram sensações 
enquanto a das outras crianças começavam com Era uma vez. Como lembra o jornalista 
Paulo Francis em um depoimento à imprensa logo após a morte de Clarice, 
 
Tinha fama, sim, mas entre intelectuais e escritores. Os editores a evitavam, como 
a praga, o que se devia ao caráter moderno da sua literatura, que não seguia o 
realismo socialista e representava a realidade em relances, indireta e 
indutivamente. 
(Francis, 1977, apud Gotlib, 2013, p.383) 
 
Sempre foi muito influenciada e ajudada por um grupo de amigos escritores, como 
Lúcio Cardoso, Fernando Sabino, Mário de Andrade, Érico Veríssimo, Ledo Ivo, entre 
outros, mas no momento de encontrar uma editora, era sempre um problema. 
Álvaro Lins, da editora José Olympio, a princípio rejeitou o seu primeiro romance, 
como a própria Clarice conta, 
 
Eu man...eu dei o livro, telefonei para ele, perguntei se ele...se valia a pena 
publicar. Ele disse: Telefone daqui a uma semana. E eu telefonei e ele disse: Olha, 
não entendi seu livro não, viu? Fala com o Otto Maria Carpeaux, é capaz de ele 
entender. Eu não falei com ninguém e publiquei meu livro que foi rejeitado pela 
José Olympio. 
(Lispector, apud Gotlib, 2013, p.200) 
 
 
E não ficou só por isso. Clarice foi alvo de Álvaro Lins em muitos de seus artigos, 
criticando sua obra de estreia, Perto do Coração Selvagem. Ela não reagia bem à tais 
críticas e ficava mal, como pode-se ver em uma declaração sua para a irmã em uma 
carta: 
 
[…] as críticas, de um modo geral, não me fazem bem: a do Álvaro Lins me abateu 
e isso foi bom de certo modo. Escrevi para ele dizendo que não conhecia Joyce 
30 
 
 
 
nem Virgínia Woolf nem Proust quando fiz o livro, porque o diabo do homem só 
faltou me chamar de representante comercial deles. 
(Lispector, apud Gotlib, 2013, p.204) 
 
Em compensação, seu amigo e também escritor, Lúcio Cardoso defende o livro 
das críticas negativas, 
 
Gosto do ar mal arranjado, até mesmo displicente com que está armado. Parece-
me uma das qualidades do livro este ar espontâneo e vivo, esta falta de jeito e 
dos segredos do métier, que dá a Perto do Coração Selvagem uma impressão de 
coisa estranha e agreste. 
Cardoso, 1946, apud Gotlib, 2013, p.211) 
 
Fernando Sabino escreveu em uma carta direcionada à Clarice, em 6 de julho de 
1946, mostrando sua admiração e preocupação com a escritora: 
 
Não concordo com você quando diz que faz arte apenas porque “tem um 
temperamento infeliz e doidinho”. Tenho uma grande, uma enorme esperança em 
você e já te disse que você avançou na frente de nós todos, passou pela janela, 
na frente deles todos. Apenas desejo intensamente que você não avance demais, 
para não cair do outro lado. Você tem que ser equilibrista até o fim da vida. 
(Sabino, 1946, apud Gotlib, 2013, p.286) 
 
 
 
Mais tarde, Lúcio Cardoso fala sobre as mais recentes obras de Clarice, A cidade 
sitiada, e A maçã no escuro, obras que a escritora demorou anos para conseguir 
publicação, sendo enrolada por algumas editoras. 
 
Seus livros são muros que circundam perpetuamente uma cidade indefesa – de 
fora, assistimos ao resplendor da sua cólera. Mas nesse mundo, o romancista não 
penetra: a cidade de Clarice, como essa maçã que brilha melhor no escuro, arde 
sozinha: dentro dela não há ninguém. 
(Cardoso, apud Gotlib, 2013, p.299) 
 
Clarice era a mais rara personalidade literária no mundo das letras, algo de 
excepcional, dotada de uma estonteante riqueza verbal. 
Entre esse misto de críticas tanto positivas quanto negativas, no decorrer de toda 
sua vida de escritora, Clarice Lispector foi crescendo. Se tornou alvo de curiosidade e 
31 
 
 
 
mistério. Uns foram cativados, outros se afastavam, e assim, um ícone da literatura 
brasileira foi surgindo. 
 
 
 
3.2- A relação do leitor com suas obras 
 
Ler as obras de Clarice realmente não é uma tarefa fácil. Suas histórias não 
lineares e sem a composição de um enredo tradicional, exige total concentração do leitor, 
do começo ao fim. E isso torna a leitura um pouco massante. Mas o fato de você aprender 
a olhar para dentro de si através de seus personagens, expandir os horizontes e enxergar 
as coisas com outros olhos, é muito prazeroso e enriquecedor. 
O leitor que lê suas histórias do começo ao fim, se vê perdido em uma busca 
incessante de interpretação, uma instabilidade linguística que impedem uma leitura 
rápida e fluida, querendo uma compreensão imediata e que muitas vezes não consegue. 
Os livros de Clarice devem ser sentidos na alma, o leitor deve ler de coração e 
mente abertas. O leitor que aprecia as obras de Clarice, se torna mais íntimo dela, 
compreendendo-a e admirando-a em cada palavra escrita. 
Segundo Nádia Battella Gotlib, 
 
Eis o que a literatura de Clarice nos traz: em meio à banalidade do cotidiano, a 
ruptura do tempo histórico, mergulhando numa outra realidade que se eterniza e 
se repete no gosto doce e amargo das coisas de que somos feitos. Essa 
experiência de passeio pelo jardim ou de leitura dessa Clarice - realça a inevitável 
convivência com a difícil e paradoxal realidade da condição humana. 
(Gotlib, 2013, p.70) 
 
O grande leitor de Clarice entende como ela se tornou um mito, absorve toda a 
sua história de vida, desde sua infância, todo sofrimento e perdas. Compreende que ela 
era uma mulher intensa que não cabia dentro de si, causando uma erupção de palavras. 
Ela dá voz aos seus pensamentos através de suas famosas e enigmáticas 
personagens. Seu pensamento é um turbilhão e as palavras precisam sair de si em um 
atropelamento de ideias desconexas que deixam o leitor confuso e perdido. 
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É através do estilo de fluxo da consciência e de ideias epifânicas de suas 
personagens, muitas vezes intrometido nas falas do narrador, que o não dito faz o leitor 
mergulhar de cabeça na leitura e simplesmente sentir. 
Para muitos ainda hoje esse tipo de leitura pode ser um choque. Muitas coisas 
ficam sem dizer, sem respostase cabe ao leitor construir esse sentido. Não é uma leitura 
pronta, suas obras devem ser contempladas. O que o leitor encontra é o vislumbre de 
uma dor. 
Seus textos sozinhos não transmitem nada, não tem um enredo elaborado por 
isso suas primeiras histórias foram classificadas como inqualificadas para publicação na 
época. De acordo com a pesquisadora, 
 
Essa seria uma das causas de certo estranhamento que o livro pode causar, numa 
primeira leitura. Sua estrutura, basicamente alegórica, propicia o trabalho de 
decifração para a constatação das equivalências. Mas surge daí uma narrativa 
estranha, às vezes desfocada, descentrada, tal como a visão da própria 
personagem, segundo a narradora. 
(Gotlib, 2013, p.322) 
 
Depende do leitor com sua bagagem de vida e literária, produzir significados e 
compreensão à suas obras. É no não dito que a palavra escondida se manifesta abrindo 
possibilidades diferentes de significados. 
Clarice tinha problemas com o mundo e consigo mesma. Ela estranhava e 
enxergava aquilo que era invisível no cotidiano da maioria das pessoas. Uma mulher 
sensível. Através desse estranhamento, ela olhava a si mesma e ao mundo a partir de 
outras perspectivas, como se estivesse observando pela primeira vez. 
Muitos leitores que tem um primeiro contato com a escrita de Clarice pode sofrer 
um impacto e se afastar. É normal esse estranhamento, mas depois que se conhece 
essa grande mulher, sua história, seus conflitos internos e externos, sua capacidade 
única de criação, o leitor aprende a criar novos sentidos para coisas que eram invisíveis 
aos seus olhos. 
Como a autora mesmo dizia, não precisa ser inteligente e culto para entender 
seus livros, apenas ser sensível e conectar. Suas tramas são mínimas, mas cada detalhe 
é explorado intimamente. Suas personagens são transformadoras e fortes, 
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demonstradas através de cenas banais. Como ela mesma conta em uma entrevista à TV 
Cultura: 
 
Por exemplo, o meu livro A paixão segundo G.H., um professor de português do 
Pedro II veio lá em casa e disse que leu quatro vezes o livro e não sabe do que 
se trata. No dia seguinte uma jovem de dezessete anos veio me visitar e disse 
que esse livro é o livro de cabeceira dela. 
(Lispector, 1977, apud Moser, 2017, p.451) 
 
O estranhamento convida a despertar, a abrir novos horizontes, a enxergar as 
coisas de outras perspectivas. Clarice mexe com zonas sombrias, a mente humana. Ela 
vai aos lugares mais profundos da complexidade das pessoas. Essa percepção tão 
aguçada dos detalhes da vida pode ser uma das causas de seu sofrimento interno e sua 
constante busca para se encontar e se situar em relação ao mundo. 
Ela provoca o leitor, traz confusão, reflexão, transformação. Alguns correm desse 
tipo de leitura, outras já se identificam tanto e querem desmitificar. Clarice dizia que essa 
mitificação toda a tornava um monstro sagrado, deixando-a infeliz. As pessoas, 
principalmente as mais próximas, a temiam, e isso fazia com que ela temesse a si 
própria. As pessoas se afastavam e ela ficava sozinha. 
Alguns diziam, que mulher incrível, mas sua narrativa é estranha. Tudo o que é 
estranho causa curiosidade, fascínio, mas também repulsa, desconforto. Há o medo de 
se envolver com o que é estranho e arrebatador. Talvés por esses motivos, Clarice tenha 
se tornado um ícone. 
O leitor que consegue entrar em suas obras, passa a reconhecer coisas com olhar 
diferente. Adquire um alargamento do seu conhecimento interno, para compreender o 
outro, se colocar no lugar do outro. 
A maioria dos contos é narrado no pretérito imperfeito, causando uma certa 
nostalgia no leitor. Alguns personagens nem tem nomes, representando qualquer um. 
Clarice tinha um estranhamento em relação ao mundo e ela passa isso à seus 
personagens. 
Suas obras mesmo hoje após 44 anos de sua morte, ainda causam fascínio nos 
novos leitores. Essa característica intimista e misteriosa de Clarice promove um elo entre 
leitor e escritora, como se o eu clariciano introduzisse na essência de suas personagens, 
comunicando-se também com a interioridade de quem a lê. 
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No Brasil de hoje seu rosto sedutor adorna selos postais. Seu nome empresta 
classe a condomínios de luxo. Suas obras, muitas vezes rejeitadas como 
herméticas ou incompreensíveis quando ela era viva, são vendidas em 
distribuidores automáticos em estações de metrô. Na internet fervilham centenas 
de milhares de fãs, e é raro passar um mês sem que surja um livro examinando 
um ou outro aspecto de sua vida e obra. 
(Moser, 2017, p.14) 
 
No ano em que a escritora completaria cem anos de vida, muitas homenagens 
aconteceram. Documentários, nova publicação de suas obras em coleção especial, 
brindes entre clubes de leitura homenageando a escritora e várias outras coisas. Clarice 
passou por tanta luta com as publicações, teve tantas dificuldades financeiras, já que 
não recebia quase nada com seus livros. É uma pena que essa glória toda que ela tem 
hoje, não aconteceu em vida. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
Em minha pesquisa sempre pretendi falar sobre um assunto que gosto, um 
escritor que amo. Em um ano do centenário de Clarice Lispector, não poderia ser mais 
propício. Resolvi estudar sobre a escritora que passei a admirar a partir de uma obra 
lida, “A Hora da Estrela”, mesmo sem conhecer nada sobre sua vida. Mas o que falar? 
Que problemática encontrar em uma escritora que se tornou um ícone? 
No decorrer do meu fichamento, percebi quão conflituosa Clarice é, rendendo 
assuntos desde sua estreia até os dias de hoje. Decidi falar sobre sua escrita peculiar, 
seus métodos narrativos que causam estranhamento nos leitores. Um estranhamento 
que atrai, mas também afasta. 
Clarice Lispector tem uma forma diferente de ver o mundo. Toda sua história de 
vida reflete em suas obras. Cada livro, cada personagem representa um pedacinho da 
sua vida, seja em romances, contos e até mesmo nos livros infantis. 
Ela é sensitiva, observadora, analítica e enxerga a dor, o sofrimento como um 
processo de criação. É através de suas obras que Clarice exterioriza seus sentimentos. 
Depois de tantas biografias lidas, suas obras, documentários, artigos e outras 
pesquisas, pensei que fosse me cansar sobre o assunto, que fosse enjoar de estudar 
sobre Clarice, e pelo contrário, só me trouxe mais admiração por essa mulher. 
Só posso concluir, e com experiência própria, que Clarice convida o leitor a 
mergulhar de cabeça em uma percepção interior, em enxergar as coisas de outras 
perspectivas, coisas que não estamos habituados a fazer. 
Vivemos em uma sociedade líquida, onde tudo é descartado, onde tudo é correria. 
E com isso, muitos detalhes em nossas vidas que realmente deveriam importar, nos 
passam despercebidos. Inclusive o nosso próprio conhecimento, o nosso interior. 
Conhecendo melhor nosso interior, é muito mais fácil desenvolvermos a empatia, o ato 
de se colocar no lugar dos outros, e é isso que a leitura de Clarice oferece. 
Como a escritora mesmo disse algumas vezes, não precisa ser intelectual para 
entender sua escrita, basta ter a capacidade de sentir. A relação entre o leitor e suas 
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obras é de afinidade, criando um elo forte capaz de atravessar gerações. Clarice é 
inesquecível. A leitura se torna muito mais prazerosa e envolvente quando o leitor 
conhece sua história de vida, que não foi nem um pouco fácil, e entende sua capacidade 
de transformar em palavras toda a dor e todo o sofrimento que é viver. Ela tem um dom 
incrível de transformar sentimentos em palavras. 
Eu termino meu trabalho com lágrimas nos olhos e a sensação de dever cumprido. 
Quero buscar mais sobre Clarice, sempre reler suas obras e poder conversar muito sobre 
ela. 
 
 
 
 
REFERÊNCIAS 
 
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