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CADERNO – 1ª UNIDADE – DIREITO CONSTITUCIONAL II/ DIOGO GUANABARA AULAS 01 E 02 – APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA E INTRODUÇÃO À FEDERAÇÃO BRASILEIRA Observações gerais: Professor Diogo Guanabara; Tópicos a serem discutidos: Estado brasileiro a partir de duas perspectivas/dois conteúdos distintos: a estrutura da federação (organização político-administrativa do Estado, repartição de competências, intervenção federal – sistema constitucional de crises); e os poderes institucionais (separação dos poderes, poder legislativo, processo legislativo, poder executivo, poder judiciário e funções essenciais à justiça); Referências: Curso de Direito Constitucional – Bernardo Gonçalves Fernandes; Direito Constitucional contemporâneo – Luís Roberto Barroso (focado no poder judiciário); Curso de Direito Constitucional – Dirley da Cunha Jr; Curso de Direito Constitucional – Gilmar Mendes (atual e supercrítico); Comentários da Constituição do Brasil – J.J Gomes Canotilho e Gilmar Mendes; Direito Constitucional e Teoria da Constituição – J. J. Gomes Canotilho; Avaliações: 2 avaliações formais valendo 8,0 pontos; 2 trabalhos valendo 2,0 pontos feitos em sala de aula; 1ª avaliação formal: 07/04; 2ª avaliação formal: 11/06; 1. Federação brasileira: entes e vedações Art. 18 CF: A organização político-administrativa da República Federativa do Brasil compreende a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, todos autônomos, nos termos desta Constituição. O caput do artigo anterior expõe a necessidade de se organizar o Brasil. O Art. 19 traz regras mínimas de convivência entre os entes federativos do Brasil: Art. 19 CF: É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: I – estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los, embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com eles ou seus representantes relações de dependência ou aliança, ressalvada, na forma da lei, a colaboração de interesse público; Conforme o inciso I, a relação entre política e religião deve ser pautada em uma convivência harmônica e não em uma relação de subserviência. Assim, visa-se a ratificar a laicidade do Estado. Vale ressaltar que, nesse aspecto, a Constituição de 1988 diferencia-se da Constituição de 1824, por exemplo, uma vez que esta, outorgada por D. Pedro I, instituía o Catolicismo como a religião oficial do império – evidente na realização de missas para a tomada de posse de cargos políticos. OBS: De acordo com Diogo Guanabara, a presença de crucifixos em tribunais – como o STF – não é ideal, mas não chega a ser inconstitucional por não ferir à laicidade estatal prevista no Art. 19, constituindo muito mais uma manifestação cultural. OBS: Se o estado da Bahia quiser reformar igrejas – como a Igreja do Bonfim na cidade de Salvador –, essa ação não é inconstitucional, mas sim uma valorização de patrimônios histórico-culturais e turísticos soteropolitanos. II – recusar fé aos documentos públicos; Destarte, o estado de São Paulo não pode se recusar, por exemplo, a admitir a apresentação de um documento cujo RG é da Bahia. III – criar distinções entre brasileiros ou preferências entre si. É proibido, nesse cenário, realizar privilégios em concursos públicos. Por exemplo, um concurso que é realizado na Bahia não pode impor uma condição para inscrição pautada na nacionalidade – e, destarte, um candidato que mora em Manaus (Amazonas), caso aprovado, pode vir a tomar posse aqui sem nenhum impedimento. OBS: O preâmbulo da nossa Constituição de 1988, ratificado em decisão do STF, por não se tratar de uma norma jurídica e, portanto, não produzir efeitos no mundo dos fatos, não pode ser considerado inconstitucional por mencionar “Deus”. Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembleia Nacional Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL. Art. 150 CF: Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: VI – instituir impostos sobre: a) patrimônio, renda ou serviços, uns dos outros. Observa-se, portanto, uma imunidade tributária recíproca. Assim sendo, a União não pode cobrar impostos dos Estados e do Distrito Federal, nem estes dos municípios, e vice-versa. AULA 03 – REFLEXÕES SOBRE RÚSSIA X UCRÂNIA A LUZ DO DIREITO CONSTITUCIONAL BRASILEIRO Os imigrantes podem se beneficiar do SUS? Sim, os imigrantes têm direito a acessar o SUS. E se a Rússia invadir o Brasil? Temos alguns remédios constitucionais para períodos de crise: estado de sítio, estado de defesa, intervenção e exercício regular do Direito. O estado de sítio é a saída mais plausível no caso de uma invasão estrangeira. Estado de sítio – Art. 137 (a CF/88 estabeleceu limites e freou o processo de decreto de estado de sítio). Art. 137 – CF: O Presidente da República pode, ouvidos o Conselho da República e o Conselho de Defesa Nacional, solicitar ao Congresso Nacional autorização para decretar o estado de sítio nos casos de: I - comoção grave de repercussão nacional ou ocorrência de fatos que comprovem a ineficácia de medida tomada durante o estado de defesa; II - declaração de estado de guerra ou resposta a agressão armada estrangeira. O Presidente da República pode, ouvidos dois conselhos, solicitar o decreto de estado de sítio ao Congresso Nacional, nos casos de: 1º - Comoção grave; 2º - Ineficácia do Estado de Defesa; 3º - Declaração de guerra; 4º - Resposta a agressão armada estrangeira; Art. 138 – CF: O decreto do estado de sítio indicará sua duração, as normas necessárias a sua execução e as garantias constitucionais que ficarão suspensas, e, depois de publicado, o Presidente da República designará o executor das medidas específicas e as áreas abrangidas. Durante o estado de sítio, podem ser suprimidos os direitos e garantias fundamentais expressos no art. 5 da CF (tais como a liberdade). O caos inerente a um estado de defesa não apresenta vínculo com o início de uma guerra Art. 136. O Presidente da República pode, ouvidos o Conselho da República e o Conselho de Defesa Nacional, decretar estado de defesa para preservar ou prontamente restabelecer, em locais restritos e determinados, a ordem pública ou a paz social ameaçadas por grave e iminente instabilidade institucional ou atingidas por calamidades de grandes proporções na natureza. Eu vou ter que ir pra guerra? Provavelmente sim. Art. 143. O serviço militar é obrigatório nos termos da lei. § 1º Às Forças Armadas compete, na forma da lei, atribuir serviço alternativo aos que, em tempo de paz, após alistados, alegarem imperativo de consciência, entendendo-se como tal o decorrente de crença religiosa e de convicção filosófica ou política, para se eximirem de atividades de caráter essencialmente militar. § 2º - As mulheres e os eclesiásticos ficam isentos do serviço militar obrigatório em tempo de paz, sujeitos, porém, a outros encargos que a lei lhes atribuir. Conforme observado, há uma previsão na Constituição de que, em tempos de paz, os cidadãos podem alegar fatores – como crença religiosa e convicção filosófico-política – para se eximirem de atividade militar. O Decreto-Lei 1187/39 regulamenta o serviço militar no Brasil: causas de alistamento, causas de obrigatoriedade, causas de dispensa... Art. 1º Todo brasileiroé obrigado ao serviço militar para a defesa nacional, na forma das leis federais e respectivos regulamentos e o prestará de acordo com a sua situação, capacidade e aptidão. Parágrafo único. As mulheres só em caso de mobilização serão aproveitadas em encargos compatíveis com a sua situação e natureza, seja nos hospitais no serviço de assistência noscomial, fora das zonas das operações, seja nas indústrias e misteres correlatos com as necessidades da guerra Qual ordem de quem será convocado? Todo mundo que está na reserva terá que ir, começando pelos militares da reserva, seguido da ordem disposta no Decreto-Lei citado. Qual a idade mínima/máxima para convocação? 18 e 55, respectivamente, tendo em vista que o Decreto-Lei analisado é de 1939 e, naquela época, 55 anos já era considerada uma idade avançada (hoje nem tanto, o que permite inferir uma “desatualização” da norma). AULA 04 – OS ENTES FEDERATIVOS DO BRASIL 1. A autonomia política dos entes da federação: De acordo com o art. 18 da Constituição Federal, os entes da federação são autônomos politicamente. Essa autonomia política proporciona aos entes federativos: negociar, criar decretos, legislar, ter patrimônio, administrar a coisa pública, etc. Tal lógica é diferente de um Estado Unitário – como evidenciado no Brasil Imperial – visto que neste todas as decisões políticas se submetem às ordens de um centro (no caso do Brasil isso teve como consequência uma série de conflitos e revoltas em prol das autonomias locais). Nesse sentido, a autonomia política se vincula a quatro atributos: https://www.jusbrasil.com.br/topicos/12085092/art-1-do-decreto-lei-1187-39 https://www.jusbrasil.com.br/topicos/12085069/art-1-1-do-decreto-lei-1187-39 Auto-organização: Capacidade de criar uma lei organizatória (cada um dos entes da federação tem uma lei que o organiza). Por exemplo, o estado da Bahia possui a constituição da Bahia e esta constituição apresenta capacidade organizatória; Autolegislação: Capacidade de criar leis regulamentares próprias. Salvador tem leis municipais criadas pela sua Câmara dos Vereadores; a Bahia tem leis estaduais criadas pela Assembleia Legislativa da Bahia; já a União tem leis federais criadas pelo Congresso Nacional; Autogoverno: Capacidade de organizar, de acordo com os seus próprios interesses, os poderes públicos sem interferência dos demais entes da federação; Autoadministração: Capacidade de organizar os serviços públicos/servidores, ou seja, organizar a máquina burocrática do próprio ente. No município de Alagoinhas, o fornecimento de água é realizado por uma companhia local e não pela Embasa (como é o caso da capital baiana); 2. A União: 2.1 - Atributos da autonomia política: Auto-organização: Reger-se pela sua Constituição (CF/88); Autolegislação: Capacidade de elaborar e reger-se pelas suas leis (leis federais). A elaboração de leis federais brasileiras é feita pelo Congresso Nacional; Autogoverno: Capacidade de eleger o seu Poder Executivo (confiado ao Presidente da República) e Poder Legislativo (confiado ao Congresso Nacional), bem como de organizar o Poder Judiciário (existe o campo da justiça federal); Autoadministração: Capacidade de organizar a estrutura administrativa, dos serviços públicos e servidores; OBS: O território – a área de incidência – da União trata-se de todo o território brasileiro (sem se confundir com o Brasil). 2.2 – União x República Federativa do Brasil: União: Entidade Federal formada pela reunião das partes componentes da federação; A função da União é manter a integridade do federalismo brasileiro e preservar a harmonia entre os demais entes da federação; A República Federativa do Brasil é o nosso Estado – sendo composta pela União, pelos estados-membros, pelo Distrito Federal e pelos municípios; No âmbito internacional (externo), a representação da República Federativa do Brasil compete à União, mais especificamente ao Ministério das Relações Exteriores (ou Itamaraty) – daí a confusão, geralmente feita no senso comum, entre União e República Federativa do Brasil; 3. Estados-membros: 3.1 – Conceito: Frações políticas que compõem o Estado Federal dotadas de autonomia. 3.2 – Atributos da autonomia política: Auto-organização (art. 25, caput): Elaborar e reger-se pela sua Constituição (Poder Constituinte Derivado Decorrente) – a Bahia tem a sua Constituição, Sergipe tem a sua Constituição e assim sucessivamente; Autolegislação (art. 25, caput): Capacidade de elaborar e reger-se pelas suas próprias leis (leis estaduais – criadas pelas Assembleias Legislativas dos respectivos estados). Essa Assembleia Legislativa é a manifestação direta do exercício do Poder Legislativo em um determinado estado-membro; Autogoverno (arts. 27, 28 e 125): Capacidade de eleger seu Poder Executivo e Poder Legislativo, bem como de organizar o Poder Judiciário – sem interferência dos demais entes da federação; Autoadministração: Capacidade de organizar a estrutura administrativa, dos serviços públicos e servidores. Cada estado-membro apresenta sua própria estrutura burocrática, o que impede, por exemplo, um juiz do estado do Amazonas querer transferência para a Bahia (já um professor da UFBA pode conseguir transferência para outra universidade federal, por exemplo); 3.3 – Formação de estados-membros: Não há no Brasil – assim como os demais Estados Federais – o direito de secessão, ou seja, o direito dos estados-membros se tornarem independentes da República. Isso não impede a reconfiguração dos estados-membros ou a criação de novos estados-membros, respeitando- se os procedimentos previstos no parágrafo 3º do art. 18 da Constituição Federal. Art. 18, § 3º - CF: Os Estados podem incorporar-se entre si, subdividir-se ou desmembrar-se para se anexarem a outros, ou formarem novos Estados ou Territórios Federais, mediante aprovação da população diretamente interessada, através de plebiscito, e do Congresso Nacional, por lei complementar. Incorporar-se = fusão; Subdividir-se = cisão; Desmembrar-se = desmembramento; OBS: Observa-se que a norma que trata da criação de estados-membros é uma norma de eficácia limitada (vide os estudos de Direito Constitucional I), uma vez que há o emprego do termo “lei complementar”. 3.4 – Etapas de formação de um estado-membro: A) Plebiscito com a “população diretamente interessada”: É necessário ouvir as pessoas – com título de eleitor (que gozam de direitos políticos) – que serão diretamente impactadas. Se, por exemplo, Bahia e Sergipe quiserem se fundir, é necessário ouvir os baianos e os sergipanos (ambos os participantes desse novo processo de formação de estado-membro). Esse plebiscito é uma condição prévia e essencial à formação de um novo estado, isto é, tem que ocorrer previamente à formação do estado (e não após já concretizada, por exemplo, a fusão). Se não houver plebiscito prévio, a formação do estado-membro é nula. Ademais, esse plebiscito é prejudicial pois a depender do resultado obtido, o processo de formação do estado-membro pode ter rumos diferentes: NÃO (processo arquivado) x SIM (o processo continua); B) Uma vez autorizada pelo plebiscito, ocorrerá uma propositura do projeto de Lei Complementar, ou seja, a estruturação do novo estado a ser formado. Essa propositura é feita no Congresso Nacional (Brasília); C) Audiência das Assembleias Legislativas: Objetivo de munir o Congresso Nacional de argumentos para decidir acerca da elaboração da Lei Complementar. Se Bahia e Sergipe quiserem se fundir, é necessário ouvir as duas Assembleias Legislativas – do estado da Bahia e do estado de Sergipe. O parecer dessas Assembleias Legislativas não é vinculante, uma vez que a decisão final compete ao Congresso Nacional(que pode concordar ou não com os argumentos apresentados pelas Assembleias Legislativas); D) Aprovação pelo Congresso Nacional: Cabe ao Congresso Nacional a aprovação da elaboração da Lei Complementar em questão por meio de maioria absoluta (art. 69 da CF/88). OBS: A partir da Constituição Federal vigente (1988), esse processo nunca foi cumprido na sua totalidade. O mais próximo evidenciado foi a busca do estado do Pará de criar outros dois estados-membros além do Pará: Tapajós e Carajás, entretanto, o NÃO ouvido no plebiscito realizado (1ª etapa) culminou no arquivamento do processo. 3.5 – Fusão entre estados-membros: Dois ou mais estados-membro se fundem, originando outro; Os estados A, B e C que vão incorporar-se entre si desaparecerão (A + B + C = D); 3.6 – Cisão de estados-membros: Subdivisão de um estado-membro em dois ou mais estados-membros; Estado A ao se subdividir, desparecerá (A B + C) 3.7 – Desmembramento dos estados-membros: Possibilidade de um ou mais estados-membros ceder parte de seu território para formar um novo estado/território federal que não existia (formação), ou se anexar a um estado- membro que já existe (anexação). 3.7.1 – Desmembramento-formação: forma-se um novo estado-membro: 3.7.2 – Desmembramento-anexação: um estado-membro já existente incorpora a porção territorial desmembrada. Por exemplo, supondo que o oeste baiano – que apresenta características mais próximas com o Centro-Oeste brasileiro em comparação ao litoral da própria Bahia – decida se anexar ao estado de Goiás. Desse modo, tem-se um desmembramento-anexação. 4. Municípios: 4.1 – Conceito: Frações políticas que compõem o Estado Federal dotados de autonomia; 4.2 – Atributos da autonomia política: Auto-organização (art. 29, caput): Capacidade de elaborar e reger-se pela sua Lei Orgânica; Autolegislação (art. 30): Capacidade de elaborar e reger-se pelas suas leis municipais elaboradas na Câmara dos Vereadores; Autogoverno (art. 29, I): Capacidade de eleger o seu Poder Executivo (confiado ao prefeito) e Poder Legislativo (confiado à Câmara dos Vereadores) – não há, portanto, um Poder Judiciário no que tange aos municípios (o que alguns doutrinadores usam para questionar o status de ente federativo dos municípios). Apesar de não apresentar Poder Judiciário, possui autonomia política, logo, devemos considerar como um ente federativo (vide o art. 18 da CF já estudado); Autoadministração: Capacidade de organizar a estrutura administrativa, dos serviços públicos e servidores de acordo com a sua conveniência (cada município apresenta a capacidade de criar a sua máquina burocrática); 4.3 – Formação de municípios (art. 18, § 4º - CF): § 4º A criação, a incorporação, a fusão e o desmembramento de Municípios, far-se-ão por lei estadual, dentro do período determinado por Lei Complementar Federal, e dependerão de consulta prévia, mediante plebiscito, às populações dos Municípios envolvidos, após divulgação dos Estudos de Viabilidade Municipal, apresentados e publicados na forma da lei. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 15, de 1996) Vide art. 96 – ADCT 4.4 – Etapas de formação de municípios: A) Elaboração de Lei Complementar Federal que determine o período de criação de municípios: Por exemplo, podem ser criados municípios até dois anos antes do período eleitoral ou de dez em dez anos. Entretanto, essa lei ainda não foi criada no Brasil. Ao longo da história brasileira, diversos municípios foram criados a partir de manobras inconstitucionais, uma vez que tal Lei Complementar não foi criada. Assim, apesar de inconstitucional, municípios – como Luís Eduardo Magalhães – foram criados após a realização de um plebiscito. Na ADI 2240-BA, o STF declarou inconstitucional a lei que criou o município de Luís Eduardo Magalhães pelo fato de não ter sido criada uma Lei Complementar, sem decretar, todavia, a nulidade da lei, concedendo ao Congresso Nacional o prazo de dois anos para a criação de tal Lei Complementar. O prazo expirou e a tal Lei Complementar não foi criada. O Congresso Nacional, através da EC 57 que criou o Art. 96, ADCT – tornou “constitucional” a criação de municípios sem a necessidade da Lei Complementar. Art. 96, ADCT - Ficam convalidados os atos de criação, fusão, incorporação e desmembramento de Municípios, cuja lei tenha sido publicada até 31 de dezembro de 2006, atendidos os requisitos estabelecidos na legislação do respectivo Estado à época de sua criação. Supondo que exista essa Lei Complementar disciplinando a janela de criação de municípios no Brasil, seguiremos para a segunda fase. B) Propositura do Projeto de Lei Estadual; C) Estudo de viabilidade municipal: Estudo técnico envolvendo economistas, advogados, antropólogos e profissionais de outras áreas do conhecimento para compreender se é viável ou não – em diversos aspectos – a criação do município. Tal estudo deve ser divulgado, ou seja, as pessoas precisam ter acesso a ele; D) Plebiscito com a “população diretamente interessada”: Condição prévia essencial e prejudicial. O Plebiscito pode ter dois resultados: NÃO (processo arquivado) ou SIM (segue para última etapa); E) Lei Estadual criadora do município na Assembleia Legislativa; http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Constituicao.htm#art96adct OBS: Somente se pode criar munícipios dentro da estrutura de um mesmo estado. Destarte, é vedada a criação de um município através da fusão entre municípios limítrofes pertencentes a diferentes estados-membros, tais como Juazeiro (BA) e Petrolina (PE); 5. Distrito Federal: 5.1 – Conceito: Porção territorial encravada no estado de Goiás composta por Brasília + “Cidades Satélites” (como Gama, Taguatinga...); O Distrito Federal é uma estrutura política que comporta a sede do governo brasileiro (a capital federal); As “cidades satélites” não são consideradas municípios e são administradas pelo governador do DF; 5.2 – Atributos da autonomia política: Auto-organização (art. 32, caput): Capacidade de elaborar e reger-se pela sua Lei Orgânica; Autolegislação (art. 32, § 2º): Elaborar e reger-se pelas suas leis distritais; Autogoverno (art. 32, § 3º): Eleger o seu Poder Executivo e Poder Legislativo, bem como organizar o seu Poder Judiciário; Autoadministração: Organizar a estrutura administrativa, dos serviços públicos e servidores; 5.3 – Características importantes: Não pode subdividir-se em municípios (art. 32, caput); Autonomia do DF é parcialmente tutelada pela União visto que serve apenas para sediar os principais órgãos políticos do Brasil; Art. 21, XIII e XIV – CF: Art. 21 – CF: Compete à União: XIII - organizar e manter o Poder Judiciário, o Ministério Público do Distrito Federal e dos Territórios e a Defensoria Pública dos Territórios; XIV - organizar e manter a polícia civil, a polícia penal, a polícia militar e o corpo de bombeiros militar do Distrito Federal, bem como prestar assistência financeira ao Distrito Federal para a execução de serviços públicos, por meio de fundo próprio; Art. 22, XVII – CF: Art. 22 – CF: Compete privativamente à União legislar sobre: XVII - organização judiciária, do Ministério Público do Distrito Federal e dos Territórios e da Defensoria Pública dos Territórios, bem como organização administrativa destes; A União deve bancar a polícia, o bombeiro, o Poder Judiciário, o Ministério Público do DF (evidenciando uma restrição à autonomia do Distrito Federal – o que proporciona a caracterização deste de forma diferente em relação aos estados-membros); 6. Territórios federais: Não são entes federativos; São autarquias (órgãos) pertencentes à União (art. 18, § 2º - CF): § 2º Os Territórios Federaisintegram a União, e sua criação, transformação em Estado ou reintegração ao Estado de origem serão reguladas em lei complementar. O processo de criação de territórios federais segue as mesmas etapas de criação de estados-membros; Os interesses para a criação de territórios federais podem variar: proteger o Meio Ambiente, impulsionar economicamente uma área, aumentar a segurança em determinada localidade...; No Brasil, atualmente, não há territórios federais em virtude do processo demorado para a criação destes bem como do desgaste político muito grande (já que é assumir a baixa qualidade do trabalho de um governador, por exemplo, e passar essa obrigação à União); 6.2 – Já existiram territórios federais antes da CF/88 no Brasil? Sim, Amapá e Roraima (art. 14, caput, ADCT) transformados em estados-membros e Fernando de Noronha (art. 15, ADCT) incorporado ao território do estado de Pernambuco (PE); 6.3 – Características importantes dos territórios federais: Regulação por Lei Federal – art. 33, caput; Podem se subdividir em municípios – art. 33, § 1º; Poder Executivo: Governador – porém nomeado pelo Presidente da República e não eleito (art. 84, XIV); Poder Legislativo: 4 deputados federais (art. 45, § 2º); Poder Judiciário: Ministério Público; Defensoria Pública territórios com mais de 100 mil habitantes (art. 33, § 3º c/c art. 21, XIII); AULAS 05 E 06 – REPARTIÇÃO DE COMPETÊNCIAS OBSERVAÇÕES: 1ª avaliação – 07/04 (8.0 pontos) Trabalho 1ª avaliação – 28/04 (2.0 pontos) 1. Considerações gerais: Poder de ação e atuação atribuído aos vários órgãos. Entes federação e agentes constitucionais com o fim de realizar as tarefas constitucionalmente previstas. Essa repartição de atribuições políticas consiste em uma tarefa bastante complexa. Às vezes, criar regras desiguais auxilia na aplicabilidade do princípio da isonomia. 2. Princípio da predominância de interesses: ENTE FEDERATIVO INTERESSE União Geral Estados-membros Regional Município Interesse local Distrito Federal Regional + local (art. 32, § 1º - CF) Compete à União, por exemplo, emitir moeda. Seria inimaginável e sem sentido cada estado-membro emitir a sua própria moeda pois acarretaria na necessidade de conversões constantes. Tudo aquilo que não é geral nem local, é regional (definição por exclusão). A racionalidade da repartição de competências se encontra pautada na noção de interesses (gerais, regionais, locais). 3. Técnicas clássicas de repartição de competências: Estados Unidos, México e Argentina: Enumeração de poderes (União) + poderes remanescentes (estados-membros); Canadá: Enumeração de poderes (estados-membros) + poderes remanescentes (União); Índia e Venezuela: Prevê expressamente, de forma exaustiva, as competências de cada ente (se aproxima mais da realidade brasileira); 4. Classificação de competências: 1ª classificação: Legislativa: Criar leis; Material (não legislativa; administrativa): Criar políticas públicas (exercitar o chamado Poder de Polícia) – o Estado pode intervir na vida dos cidadãos, seja de forma mais ampla ou mais específica; 2ª classificação: Exclusivas: Não admitem delegação; Privativas: Admitem delegação – são dadas a um ente e este ente pode delegar/encaminhar aquela competência que é dele para outro ente (diferentemente das competências exclusivas); Comum (cumulativa ou paralela): Natureza administrativa (material) – tais como a capacidade de executar políticas públicas – e que pertence, ao mesmo tempo, à União, aos estados-membros, aos municípios e ao Distrito Federal; Concorrentes: Natureza legislativa (criar leis) – pertencem ao mesmo tempo à União, aos estados-membros e ao Distrito Federal. Observa-se que do ponto de vista constitucional, os municípios não apresentam competência concorrente; Do ponto de vista constitucional, as restrições de saúde pública são de competência da União (e, portanto, centralizadas). A decisão do STF, durante a pandemia da covid-19, foi extremamente complexa, extraordinária, mas plausível. A delegação de autonomia para os estados-membros e municípios se fez interessante para a imposição de medidas restritivas, muito em razão da existência de um Presidente da República que se opõe, veementemente, a teses científicas. No âmbito da competência concorrente, é necessária a imposição de regras no que concerne à criação de leis pela União, pelos estados-membros e pelo DF. Compete à União criar normas gerais; Compete aos estados e ao DF criar normas suplementares. Essas normas suplementares suprem a ausência de norma geral que não foi criada pela União (exercício de competência suplementar-supletiva – art. 24, § 3º - CF) ou complementam uma norma geral criada pela União (exercício de competência suplementar-complementar). Até 2010, inexistia uma norma geral que discorra sobre resíduos sólidos, podendo os estados-membros e DF legislarem sobre tal. Existe uma norma geral que disciplina os procedimentos e etapas de um processo licitatório no Brasil (quando o Estado compra coisas). Se quero construir uma ponte, pela lei federal, é necessário seguir os procedimentos de tal lei. É possível o estado da Bahia complementar tal lei ou adaptar tal lei à realidade do estado. 5. União: Competência material (políticas públicas): Competência exclusiva (art. 21 – CF): Art. 21. Compete à União: I - manter relações com Estados estrangeiros e participar de organizações internacionais; II - declarar a guerra e celebrar a paz; III - assegurar a defesa nacional; IV - permitir, nos casos previstos em lei complementar, que forças estrangeiras transitem pelo território nacional ou nele permaneçam temporariamente; V - decretar o estado de sítio, o estado de defesa e a intervenção federal; VI - autorizar e fiscalizar a produção e o comércio de material bélico; VII - emitir moeda; (...) Competência comum (U + EM + M + DF – art. 23 – CF): Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios: I - zelar pela guarda da Constituição, das leis e das instituições democráticas e conservar o patrimônio público; II - cuidar da saúde e assistência pública, da proteção e garantia das pessoas portadoras de deficiência; (Vide ADPF 672) III - proteger os documentos, as obras e outros bens de valor histórico, artístico e cultural, os monumentos, as paisagens naturais notáveis e os sítios arqueológicos; IV - impedir a evasão, a destruição e a descaracterização de obras de arte e de outros bens de valor histórico, artístico ou cultural; V - proporcionar os meios de acesso à cultura, à educação, à ciência, à tecnologia, à pesquisa e à inovação; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 85, de 2015) VI - proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas formas; VII - preservar as florestas, a fauna e a flora; VIII - fomentar a produção agropecuária e organizar o abastecimento alimentar; IX - promover programas de construção de moradias e a melhoria das condições habitacionais e de saneamento básico; (Vide ADPF 672) X - combater as causas da pobreza e os fatores de marginalização, promovendo a integração social dos setores desfavorecidos; XI - registrar, acompanhar e fiscalizar as concessões de direitos de pesquisa e exploração de recursos hídricos e minerais em seus territórios; XII - estabelecer e implantar política de educação para a segurança do trânsito. Pode-se falar em um federalismo de cooperação pautado em uma noção de solidariedade (envolve um coletivo de entes). Todos os entes federativos são solidariamente responsáveis por realizar determinadas tarefas – como cuidar da saúde (art. 23, II – CF). Destarte, no contexto pandêmico, todos os entes da federação sãocompetentes para cuidar da saúde, o que gerou debates polêmicos. Se todos são responsáveis por todos, como tudo é organizado? O Parágrafo Único do art. 23 discorre sobre tal dúvida. Parágrafo único. Leis complementares fixarão normas para a cooperação entre a União e os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, tendo em vista o equilíbrio do desenvolvimento e do bem-estar em âmbito nacional. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006) No âmbito de competência comum, existirão leis complementares que irão auxiliar na divisão racional de tarefas das competências do art. 23. Competência legislativa (leis): Competência privativa (admite delegação, art. 22 – CF): A União, pelo art. 22, tem a capacidade de legislar sobre as principais matérias do Brasil. Isso se mostra bem diferente da lógica de federação dos Estados Unidos, visto que lá os estados- membros concentram as maiores e melhores competências, inclusive sobre matérias penais e eleitorais. Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: I - direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho; II - desapropriação; III - requisições civis e militares, em caso de iminente perigo e em tempo de guerra; IV - águas, energia, informática, telecomunicações e radiodifusão; V - serviço postal; VI - sistema monetário e de medidas, títulos e garantias dos metais; VII - política de crédito, câmbio, seguros e transferência de valores; VIII - comércio exterior e interestadual; IX - diretrizes da política nacional de transportes; X - regime dos portos, navegação lacustre, fluvial, marítima, aérea e aeroespacial; XI - trânsito e transporte; XII - jazidas, minas, outros recursos minerais e metalurgia; XIII - nacionalidade, cidadania e naturalização; XIV - populações indígenas; XV - emigração e imigração, entrada, extradição e expulsão de estrangeiros; (...) A hipótese de delegação se encontra presente no parágrafo único do referido artigo. A Bahia se quiser dar um salário mínimo maior do que se encontra previsto pela União, pode, uma vez que a competência de legislar sobre direito do trabalho é privativa da União. Parágrafo único. Lei complementar poderá autorizar os Estados a legislar sobre questões específicas das matérias relacionadas neste artigo. Competência concorrente (art. 24 – CF): Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre: I - direito tributário, financeiro, penitenciário, econômico e urbanístico; (Vide Lei nº 13.874, de 2019) II - orçamento; III - juntas comerciais; IV - custas dos serviços forenses; V - produção e consumo; VI - florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza, defesa do solo e dos recursos naturais, proteção do meio ambiente e controle da poluição; VII - proteção ao patrimônio histórico, cultural, artístico, turístico e paisagístico; VIII - responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico; IX - educação, cultura, ensino, desporto, ciência, tecnologia, pesquisa, desenvolvimento e inovação; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 85, de 2015) X - criação, funcionamento e processo do juizado de pequenas causas; XI - procedimentos em matéria processual; XII - previdência social, proteção e defesa da saúde; (Vide ADPF 672) XIII - assistência jurídica e Defensoria pública; XIV - proteção e integração social das pessoas portadoras de deficiência; XV - proteção à infância e à juventude; XVI - organização, garantias, direitos e deveres das polícias civis. Regras: § 1º No âmbito da legislação concorrente, a competência da União limitar-se-á a estabelecer normas gerais. (Vide Lei nº 13.874, de 2019) § 2º A competência da União para legislar sobre normas gerais não exclui a competência suplementar dos Estados. (Vide Lei nº 13.874, de 2019) § 3º Inexistindo lei federal sobre normas gerais, os Estados exercerão a competência legislativa plena, para atender a suas peculiaridades. (Vide Lei nº 13.874, de 2019) § 4º A superveniência de lei federal sobre normas gerais suspende a eficácia da lei estadual, no que lhe for contrário. (Vide Lei nº 13.874, de 2019) No caso da inexistência de uma norma geral que discorra sobre resíduos sólidos, podem os estados-membros e DF legislarem sobre tal. Em 2010, a União criou uma lei federal – a Política Nacional de Resíduos Sólidos. No Ceará e no Espírito Santo, desde 2006, encontravam-se em vigência leis estaduais sobre resíduos sólidos. Todavia, a lei federal não pode revogar norma estadual (vide os estudos de IED: normas só podem ser revogadas por outras de mesmo nível hierárquico). O que ocorre é uma suspensão, ou seja, a lei federal, uma vez criada, suspenderá as leis estaduais apenas no que for incompatível. É o que justamente traz o § 4º do art. 24 da Constituição Federal. A Política Nacional de Resíduos Sólidos proibiu o depósito de lixo em lixões a céu aberto. Entretanto, a lei estadual do Ceará permitia tal conduta. Sendo perceptível uma incompatibilidade, tal disposição da lei do Ceará foi suspensa pela lei federal. 6. A questão das normas gerais: “Normas Gerais são normas com Aplicação Federativa Uniforme” – Min. Aires Brito “Normas Gerais são normas com maior abstração, à semelhança dos princípios” – Min. Carlos Velloso “Normas Gerais são normas que permitem ou proíbem certas condutas” – Min. Ellen Grace Essa terceira visão (Min. Ellen Grace) é a que apresenta maior credibilidade. Aquela norma do Ceará que permitia a existência dos lixões tinha um conteúdo de norma geral, sendo suspensa por uma norma geral da União que proíbe a existência dos lixões. Se diante de uma competência concorrente, o estado-membro criar uma norma geral quando já existe uma norma geral criada pela União, ele está extrapolando a sua competência. A norma geral somente pode ser criada pela União, não podendo os estados- membros contrariá-la/invadir tal competência. Hoje existe, no Brasil, uma lei que regulamenta o Uber. Supondo que o estado da Bahia resolva criar uma lei restringindo o acesso ao Uber no estado com o intuito de potencializar a circulação de táxis. Essa norma criada pela Bahia estaria extrapolando o limite de sua competência, sendo, portanto, inconstitucional. 7. Estados-membros: Competência material: Competência remanescente ou residual (art. 25, § 1º - CF): Aos estados-membros são reservadas as matérias e leis que não são indicadas nem para a União, nem para os municípios. É compreendida a partir de uma óptica excludente. Art. 25 – CF: Os Estados organizam-se e regem-se pelas Constituições e leis que adotarem, observados os princípios desta Constituição . § 1º São reservadas aos Estados as competências que não lhes sejam vedadas por esta Constituição. Competência comum (art. 23 – CF): Os estados-membros podem criar políticas públicas, se aplicando tudo aquilo que se relaciona à União. Explorar serviço local de gás canalizado (art. 25, § 2º - CF). Por isso que a Bahia criou a BahiaGás – dedicada à exploração e serviço de gás canalizado. § 2º Cabe aos Estados explorar diretamente, ou mediante concessão, os serviços locais de gás canalizado, na forma da lei, vedada a edição de medida provisória para a sua regulamentação. Instituir regiões metropolitanas, aglomerações urbanas e microrregiões (art. 25, § 3º - CF): Trata-se da tentativa do estado-membro de organizar melhor o seu território. § 3º Os Estados poderão, mediante lei complementar, instituir regiões metropolitanas, aglomerações urbanas e microrregiões, constituídas por agrupamentos de municípios limítrofes, para integrar a organização, o planejamento e a execução de funções públicas de interessecomum. Competência legislativa: Competência remanescente ou residual (art. 25, §§ 1º e 3º - CF): Criar leis sobre matérias que não competem à União; Competência delegada pela União (art. 22, parágrafo único – CF): A União delegou uma tarefa de criação de leis para os estados-membros (ex: criação de um salário mínimo diferente do piso instituído pela União); Competência concorrente (art. 24 – CF): Competência suplementar-complementar (art. 24, § 2º - CF): § 1º No âmbito da legislação concorrente, a competência da União limitar-se-á a estabelecer normas gerais. § 2º A competência da União para legislar sobre normas gerais não exclui a competência suplementar dos Estados. Competência suplementar-supletiva (art. 24, § 3º - CF): § 3º Inexistindo lei federal sobre normas gerais, os Estados exercerão a competência legislativa plena, para atender a suas peculiaridades. Se, com o passar do tempo, a União cria uma lei que deveria ser criada anteriormente. Essa norma geral criada pela União, posterior a uma norma geral criada por um estado-membro, prevalece em relação à esta nos casos em que houver incompatibilidade entre tais dispositivos normativos. Não há uma revogação, mas sim uma suspensão das partes incompatíveis. Superveniência de lei federal (art. 24, § 4º - CF): § 4º A superveniência de lei federal sobre normas gerais suspende a eficácia da lei estadual, no que lhe for contrário. 8. Municípios: Competência material Competência enumerada (art. 30, III, IV, V, VI, VII e VIII; art. 144, § 8º; art. 182 – CF) Art. 30. Compete aos Municípios: III - instituir e arrecadar os tributos de sua competência, bem como aplicar suas rendas, sem prejuízo da obrigatoriedade de prestar contas e publicar balancetes nos prazos fixados em lei; IV - criar, organizar e suprimir distritos, observada a legislação estadual; V - organizar e prestar, diretamente ou sob regime de concessão ou permissão, os serviços públicos de interesse local, incluído o de transporte coletivo, que tem caráter essencial; VI - manter, com a cooperação técnica e financeira da União e do Estado, programas de educação infantil e de ensino fundamental; VII - prestar, com a cooperação técnica e financeira da União e do Estado, serviços de atendimento à saúde da população; VIII - promover, no que couber, adequado ordenamento territorial, mediante planejamento e controle do uso, do parcelamento e da ocupação do solo urbano; No que tange ao transporte intermunicipal, a competência material para tal é do estado- membro. Art. 144, § 8º - CF: Os Municípios poderão constituir guardas municipais destinadas à proteção de seus bens, serviços e instalações, conforme dispuser a lei. Essa guarda municipal protege o patrimônio do município, não apresentando legitimidade para proteger pessoas. Esporadicamente, essa competência tem sido deslocada para outros âmbitos – como a guarda municipal policiando na época de Carnaval. Art. 182 – CF: A política de desenvolvimento urbano, executada pelo Poder Público municipal, conforme diretrizes gerais fixadas em lei, tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus habitantes. (...) O município cria toda a legislação urbanística local de acordo com a sua conveniência. Salvador, por exemplo, tem um Código de Ordem que regulamenta formas de construção no município (ex: a portaria deve estar a X metros do solo). O Direito Urbanístico é uma área extremamente rentável e complexa. Competência comum (art. 23; art. 30, VI, VII e IX – CF) VI - manter, com a cooperação técnica e financeira da União e do Estado, programas de educação infantil e de ensino fundamental; VII - prestar, com a cooperação técnica e financeira da União e do Estado, serviços de atendimento à saúde da população; IX - promover a proteção do patrimônio histórico-cultural local, observada a legislação e a ação fiscalizadora federal e estadual. Competência legislativa: Competência exclusiva (art. 30, I a IX – CF): ordenar o território (mudar nomes de avenidas), transporte local, etc... (interesses locais). Competência suplementar-complementar (art. 30, II – CF): Art. 30 – CF: Compete aos Municípios: II - suplementar a legislação federal e a estadual no que couber; (Vide ADPF 672) Os municípios podem suplementar, ou seja, trazer para a sua realidade, uma lei federal ou uma lei estadual sempre que existir um interesse. Por exemplo, a União tem uma Lei de Licitações. A Bahia adaptou tal lei para compras públicas. Salvador fez algumas adaptações para a sua realidade, criando normas no munícipio que regulamentam as licitações públicas aqui. Salvador se baseou no art. 30, II para suplementar uma norma federal. Competência suplementar-supletiva? (correntes doutrinárias): No caso de omissão de lei federal e estadual, pode o município legislar sobre determinadas questões (como o uso de plástico em estabelecimentos comerciais)? Alguns doutrinadores defendem que sim com base na autonomia política; outros defendem que sim pelo fato dos “interesses locais” proporcionar significativa liberdade; outros defendem que não em virtude da inexistência de uma norma geral criada pela União e pelos estados-membros, o que veda a possibilidade do município suprir ausência (uma vez que esse não é detentor de competência concorrente). Em síntese, não há um consenso na doutrina contemporânea. Competência para criar o plano Diretor (art. 182, § 1º - CF): § 1º O plano diretor, aprovado pela Câmara Municipal, obrigatório para cidades com mais de vinte mil habitantes, é o instrumento básico da política de desenvolvimento e de expansão urbana. 9. Distrito Federal: Competência material Competência Comum (art. 23 – CF); Competência legislativa Competência expressa (art. 32, caput); Competência residual (art. 25, §1º - CF); Competência delegada (art. 22, parágrafo único); Competência concorrente (art. 24 - CF); Competência suplementar (art. 24, §§ 2º e 3º); Competência privativa (art. 30, I a IX); Referências: CUNHA Jr. Dirley. Curso de Direito Constitucional NOVELINO, Marcelo. Direito Constitucional TAVARES, André Ramos. Curso de Direito Constitucional Texto no sagres: Normas gerais MATERIAL COMPLEMENTAR: RESENHA DO TEXTO “REPARTIÇÃO DE COMPETÊNCIAS” – ANDRÉ RAMO TAVARES RESENHA “REPARTIÇÃO DE COMPETÊNCIAS” – ANDRÉ RAMO TAVARES O texto em questão, redigido por André Ramo Tavares, é extremamente interessante e nos permite, a partir da análise de 18 decisões proferidas pelo STF, uma compreensão acerca do pensamento de tais juristas no que concerne à repartição de competências. Em primeira análise, buscou-se diferenciar norma geral de norma especial através da óptica de três doutrinadores. Normas gerais seriam aquelas que demandam aplicação federativa uniforme; normais gerais seriam aquelas dotadas de maior abstração; normas gerais são aquelas que proíbem ou admitem certas condutas. A terceira perspectiva, sintetizada pela Min. Ellen Grace parece ser a mais plausível e menos equivocada. Ademais, realizou-se um debate com intuito de identificar matérias nas quais há competência legislativa privativa e concorrente. O primeiro elemento identificado foi a especificidade da eventual (sendo os assuntos mais abrangentes - como os que envolvem o comércio interestadual - competência privativa da União). Esse critério, porém, dotado de grande teor subjetivista, não soluciona possíveis dúvidas. Do universo de dezoito decisões examinadas no artigo, apenas seis foram favoráveis à constitucionalidade das Leis Estaduais, o que demonstra uma leitura pró-federal por parte do STF (o que faz o ministro Ricardo Lewandowskiquestionar o caminho do país em direção a um "Estado unitário descentralizado"). Thiago Coelho – T3A – 2022.1 @taj_studies
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