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195195 Capítulo 12Capítulo 12 As bases teóricas e filosóficas das abordagens cognitivo-As bases teóricas e filosóficas das abordagens cognitivo- comportamentaiscomportamentais Eliane M. O. FalconeEliane M. O. Falcone “A dúvida não é um estado agradável, mas a certeza é absurda.” Voltaire O avanço das ciências físicas e biológicas ocorrido no século XIX, cujas características marcantes foram a experimentação e os métodos objetivos de investigação, contribuiu fortemente para o surgimento das bases empíricas das abordagens cognitivo-comportamentais. Nessa época, a física se desenvolvia com o avanço de teorias que permitiam maior compreensão da matéria. A biologia, por sua vez, estava progredindo na descoberta da etiologia de determinadas doenças orgânicas e do tratamento destas. Juntando-se a esses fatos, os estudos de Darwin, que defendiam uma continuidade entre a espécie humana e a dos outros animais, incentivaram a investigação do comportamento animal para o entendimento do comportamento humano (Kazdin, 1983). Os estudos com condicionamento se srcinaram primeiramente entre os investigadores russos, que começaram a aplicar os métodos objetivos da siologia aos problemas da psicologia. Dentre estes, o mais conhecido foi Ivan P. Pavlov (1849-1936), que realizou várias experiências com cães, a partir das quais deu srcem à teoria dos reexos condicionados. O mesmo modelo de condicionamento também foi realizado para eliciar respostas condicionadas de medo, onde uma luz vermelha, após alguns emparelhamentos com um estímulo incondicionado (choque elétrico), transformava-se em um estímulo condicionado, provocando respostas de medo nos animais. A partir desses achados, o paradigma de condicionamento clássico ou pavloviano passou a ter implicações para a compreensão de fenômenos psicopatológicos. 196196 Os estudos dos investigadores russos passaram a influenciar os pesquisadores norte-americanos e, no nal do século XIX, surgiu a psicologia experimental animal, que forneceu as bases para um outro modelo de condicionamento, conhecido como condicionamento operante, desenvolvido a partir de observações feitas por Edward L. Thorndike. Ao realizar uma série de experimentos com gatos, Thorndike encontrou que, após emitirem várias respostas, esses animais passavam a manifestar apenas uma: aquela que era seguida da possibilidade de acesso ao alimento. Esse fenômeno couconhecido como a “Lei do Efeito”, segundo a qual, dentre as várias respostas emitidas em uma mesma situação, aquela que é seguida de satisfação do desejo do animal será a mais fortemente conectada com a situação (Baldwin e Baldwin, 1998). Burrhus Frederic Skinner (1904-1990) ampliou os estudos de Thorndike denindo o reforço como um estímulo que aumenta a probabilidade de ocorrência de uma resposta (Skinner, 1981). Diferentemente do modelo pavloviano, onde o reforço (estímulo incondicionado) está associado a um estímulo neutro, eliciando uma resposta condicionada, o reforço no condicionamento operante é contingente a uma resposta dada. Ele só ocorre após o comportamento se manifestar. A psicologia experimental animal, surgida no nal do século XIX, deusrcem ao behaviorismo, que representou uma revolução metodológica, na medida em que se propunha a estabelecer as bases cientícas da psicologia. Os behaviorismos metafísico, radical e metodológicoOs behaviorismos metafísico, radical e metodológico John Broadus Watson (1878-1958), ao fundar o behaviorismo, exerceu grande importância na claricação e formalização da losoa desta orientação. Embora seja reconhecido na literatura como representante do behaviorismo metodológico, sua rejeição ao conceito de “mente” fez com que o seu nome estivesse principalmente associado ao behaviorismo metafísico (Mahoney, 1974). O behaviorismo metafísico negava a existência da “mente” e dos “estados mentais”. Aceitar o conceito de “mente” implicaria aceitar uma teoria dualista, onde uma entidade espiritual (mente) inuenciaria uma física (corpo) e vice-versa. Além disso, o mundo privado, por não ser diretamente observável, não poderia ser um foco de estudo. Assim, para não aderir ao dualismo mente-corpo, Watson adotou uma posição estrita de monismo 197197 materialista onde todo comportamento humano, incluindo o pensamento, é o resultado de secreções glandulares e movimentos musculares. O behaviorismo metafísico, por ser considerado ortodoxo até pelos behavioristas, não sobreviveu. Em vez deste, manteve-se o behaviorismo radical, representado por Skinner, que enfatizava a importância das relações empíricas entre os acontecimentos ambientais e o comportamento. Sua proposta era descrever essas relações e não gerar teorias e modelos de comportamento. Embora reconhecendo que os enunciados empíricosnunca estão totalmente livres de teoria, Skinner rejeitava aquelas teorias que expressavam os achados empíricos em termos não conrmados pelos mesmos métodos de observação utilizados para obtê-los. Assim, para se entender o comportamento não se deveria recorrer às ciências naturais tais como a siologia, nem a noções teóricas abstratas dentro da psicologia. A teoria, neste sentido, seria algo construído para compensar a inadequação dos dados, ou o controle imperfeito ou insuciente sobre o objeto de estudo. Em outras palavras, a teoria representava para Skinner uma conseqüência da falta de compreensão dos fenômenos estudados. A rejeição de Skinner era dirigida principalmente às teorias que utilizavam variáveis intervenientes e construtos hipotéticos localizados no organismo. Assim, Skinner criticava os teóricos que propunham uma interpretação da aprendizagem em termos deE-O-R, em que O se referia a aspectos do organismo, em vez de componentes do estímulo e da resposta (E-R) bem fundamentados (Kazdin, 1983), tema a que voltaremos mais à frente. O behaviorismo radical, representado por Skinner, manteve a posição de monismo materialista ao não aceitar o conceito de “mente”, porém admitiu o estudo cientíco dos fenômenos privados. Assim, “[…] pensamentos não são substancialmente diferentes em virtude de sua natureza privada. Eles podem ter propriedades especiais porque são verbais, mas ainda são comportamentos” (Hayes, 1987: 330). Com base nesta proposição, o behaviorismo radical encontrou uma saída para estudar as reações humanas fazendo uma distinção entre público e privado, em vez de físico e mental, considerando este último como falso e dualista. Por rejeitar os processos mentais como recursos conáveis de estudo na mediação do comportamento, o behaviorismo radical foi chamado de não mediacional (Mahoney, 1974). O behaviorismo metodológico, ao contrário do behaviorismo radical, não estava preocupado com os impasses relacionados à aceitação da existência da mente. Michael Mahoney (1974) arma que lósofos como Gilbert Ryle (1900-1976) já haviam convencido muitos cientistas comportamentais de que 198198 o problema corpo-mente era apenas uma questão semântica. Desse modo, o behaviorismo metodológico estava mais preocupado com o método cientíco, que incluía a identicação de variáveis independentes e dependentes, além da inferência do que existe dentro do organismo (variáveis intervenientes). Os modelos de condicionamento clássico de Pavlov, além do condicionamento por contigüidade de Edwin R. Guthrie (1886-1959), do comportamentalismo propositivo de Edward C. Tolman (1896-1961) e da teoria hipotético-dedutiva do comportamento de Clark L. Hull (1884-1952), constituem exemplos quecaracterizam o behaviorismo metodológico, uma vez que estes pressupõem um estado de consciência ou processamento cognitivo, mediando a aprendizagem. Os investigadores russos já haviam reconhecido que o condicionamento clássico em seres humanos envolve muito mais do que o simples estabelecimento de vínculos estímulo-resposta. O modelo de condicionamento pavloviano, por exemplo, inclui a linguagem como um “segundo sistema de sinais”, que fornece ao ser humano, de modo único, uma fonte innita de estímulos condicionadose a capacidade de aprendizagem complexa. Mahoney (1974) cita vários experimentos realizados por esses investigadores demonstrando que as palavras podem não só estimular a ativação diretamente como também podem se transformar em elementos em cadeias de condicionamento de ordemmais elevada. O autor arma: O papel crítico dos estímulos verbal e imaginário no comportamento humano é dramaticamente aumentado pelo fato dos seres humanos serem criaturas auto-estimuladoras. Logo após adquirir as habilidades de linguagem na infância, os seres humanos iniciam uma vida onde a fala coberta e encoberta dirigida a si mesmo é raramente interrompida. Os monólogos audíveis auto-instrucionais da criança são gradualmente substituídos por solilóquios inaudíveis que continuam a dirigir e inuenciar o comportamento. Esta “internalização” gradual do comportamento da linguagem pode ser um desenvolvimento recente nas espécies (Mahoney, 1974: 40). As especulações de Pavlov sobre a linguagem constituíram a basepara o desenvolvimento do interesse dirigido ao estudo dos processos mentais complexos inerentes à aprendizagem humana. A insuciência do modelo E-R obrigou os investigadores à necessidade de incluir variáveis intervenientes, fenômenos privados e processos conscientes em geral no estudo do comportamento. Tal necessidade, segundo Kazdin, “já havia sido evidente desde os primórdios do comportamentalismo e da teoria estímulo- resposta” (p. 253). Guthrie, que iniciou o seu trabalho dentro da tradição E-R, 199199 admitiu que a especicação dos estímulos não era suciente por si só para explicar o comportamento. Esse autor concluiu que o estudo dos processos de aprendizagem nos seres humanos necessitava explicar como o indivíduo percebia os estímulos e que signicado tinha essa percepção. Tolman, por sua vez, propunha que os organismos desenvolvem cognições sobre diferentes estímulos e que a formação dessas cognições constituía a aprendizagem. O organismo aprendia estratégias de resposta e percebia relações gerais em seu ambiente. Assim, para que os animais aprendessem a solucionar um labirinto,desenvolviam mapas cognitivos dos estímulos ambientais e essas cognições eram responsáveis pelo comportamento (Kazdin, 1983). A despeito das diferenças entre os behaviorismos radical e metodológico, a integração dos paradigmas de condicionamento pavloviano e skinneriano foi proposta por Hobart Mowrer (1928-1982), que descreveu um modelo de dois fatores para explicar o medo e o comportamento de evitação. A aquisição do medo aconteceria por meio do condicionamento clássico e, por ser o medo um estímulo aversivo, o animal aprende a reduzi-lo evitando os estímulos condicionados (reforçamento negativo). Primeiras aplicações dos princípios de Primeiras aplicações dos princípios de condicionamentocondicionamento Condicionamento pavlovianoCondicionamento pavloviano Dentre as primeiras tentativas de utilização dos princípios de condicio- namento para os problemas de ansiedade, a mais famosa refere-se aos procedimentos de condicionamento realizados por Watson e Rayner, em 1920, com o “Pequeno Albert”, um bebê de 11 meses. O objetivo desse experimento era demonstrar que as reações fóbicas eram aprendidas por meio de condicionamento. Albert era uma criança saudável que, ao ser colocada diante de um rato branco, não manifestou nenhuma reação de medo. Entretanto, após algumas sessões de condicionamento em que o aparecimento de um rato cava associado a um barulho forte, Albert começou a manifestar medo do rato branco e de outros objetos semelhantes ao animal, tais como algodão, casaco de pele etc. Posteriormente, Mary Cover Jones (1896-1987), em 1924, começou a aplicar os princípios de extinção para ajudar crianças com fobia a perder o medo. Dois métodos demonstraram ser ecazes. O primeiro foi realizado a partir da associação do objeto temido com uma resposta agradável (ex., 200200 comer uma barra de chocolate); o segundo consistiu na apresentação do estímulo fóbico na presença de outras crianças que não manifestavam nenhum temor. Em 1935, Hobart Mowrer e Willie Mowrer desenvolveram um tratamento para a enurese noturna utilizando os princípios de condicionamento clássico em 30 crianças enuréticas com idades entre três e 13 anos. Partindo do princípio de que o controle da micção corresponde a uma reação aprendida e que as crianças com enurese noturna apresentam uma falha na resposta aossinais (distensão da bexiga) que precedem à micção, os Mowrer aplicaram um método de tratamento baseado no condicionamento pavloviano, onde a distensão da bexiga corresponde ao estímulo condicionado ao controle do esfíncter e à inibição da micção. Um ruído forte servia como estímulo incondicionado e o despertar (acompanhado da contração do esfíncter) era a resposta incondicionada. Para a realização do experimento foi construído um colchão contendo em seu interior os elétricos que se conectavam ao som de uma campainha. Quando a criança, dormindo, começava a urinar, esta molhava o colchão, ativando o circuito elétrico, que por sua vez acionava a campainha, provocando o despertar da criança. Após algumas repetições dessa experiência, a criança começava a acordar antes da micção e, posteriormente, passava a controlar o esfíncter sem precisar despertar. O procedimentoconseguiu eliminar a enurese nos 30 participantes do estudo. No início da década de 1950, na África do Sul, Joseph Wolpe (1915 - 1997) começou a realizar experimentos sobre “neurose experimental” em gatos, baseado nas pesquisas de Masserman (1943). Nesses experimentos, os gatos aprendiam a sentir medo do alimento, após alguns emparelhamentos com estímulos aversivos. Posteriormente, após aproximações sucessivas onde o gato era empurrado em direção à comida, na ausência da estimulação aversiva, a ansiedade se reduzia até a extinção. Wolpe concluiu que o medo condicionado e o ato de comer eram mutuamente antagônicos, ou seja, parecia haver uma inibição recíproca entre ambos. Wolpe testou essa hipótese alimentando os animais em locais cada vez mais próximos de onde eles haviam recebido o choque. Vericou então que o medo poderia ser reduzido mediante a apresentação concomitante de estímulos provocadores de ansiedade e estímulos que produziriam uma resposta antagônica e mais forte do que a ansiedade. Assim, os estímulos provocadores de ansiedade eram produzidos de forma gradual, dentro de uma hierarquia, começando por aqueles que provocassem ansiedade mais leve. 201201 Para utilizar o seu trabalho em seres humanos, Wolpe criou a técnica de dessensibilização sistemática para tratar pacientes com fobia. Utilizou como resposta antagônica ao medo o relaxamento. Inicialmente, o paciente aprendia o exercício de relaxamento e, posteriormente, começava a enfrentar, passo a passo, as etapas da hierarquia de situações temidas, mantendo-se em relaxamento para inibir reciprocamente a reação de medo. As exposições ao estímulo temido poderiam ocorrer ao vivo ou pela imaginação. Os procedimentos detalhados da técnica de Wolpe podem ser encontrados emuma publicação traduzida para o português em 1981, com o título Prática da terapia comportamental . A contribuição de Wolpe exerceu grande inuência na prática da terapia comportamental. Entretanto, a base teórica da inibição recíproca deixou de exercer inuência, uma vez que a exposição em situações na vida real foi vista como a forma mais ecaz de produzir reduções na ansiedade condicionada. Além disso, a exposição gradual e o uso de inibidores recíprocos, tais como o relaxamento, são desnecessários. Por outro lado, a técnica da dessensibilização sistemática incentivou as pesquisas que levaram ao desenvolvimento atual das terapias baseadas na exposição (Hawton, Salkovskis, Kirk e Clark, 1997). Outros investigadores que contribuíram para o desenvolvimento da terapia comportamental na África do Sul foram James G. Taylor e Leo J.Reyna, os quais exerceram inuência sobre os estudos de Wolpe. Stanley J. Rachman e Arnold A. Lazarus trabalharam diretamentecom Wolpe após o desenvolvimento da técnica de dessensibilização sistemática (Kazdin, 1983). Na mesma época em que Wolpe realizava as suas pesquisas, Hans J. Eysenck (1916-1997) publicava na Inglaterra, em 1952, um trabalho com o título The Effects of Psychotherapy: An Evaluation. Nessa publicação, Eysenck avaliou a ecácia das terapias de orientação psicanalítica e a conabilidade do diagnóstico psiquiátrico através da revisão da literatura psicoterápica. Eysenck não encontrou provas conclusivas de que a psicoterapia psicanalítica fosse mais efetiva do que a remissão espontânea (melhora produzida sem nenhum tratamento especíco). Essa revisão tornou-se famosa e bastante polêmica, já que colocava em questão a ecácia da terapia psicanalítica. Os estudos de Eysenck despertaram maior preocupação com a vericação de ecácia psicoterápica em geral e com as possíveis limitações da terapia tradicional (Kazdin, 1983). Eysenck fundou, em 1963, a revista Behaviour Research and Therapy, a primeira dedicada à terapia do comportamento. Outros autores que deram contribuições relevantes para a terapia comportamental na Inglaterra foram Shapiro, que chamou atenção para o 202202 trabalho com o paciente individual, mais do que com as técnicas de mudança em geral; Meyer, que tratou do medo de espaços abertos e de lugares fechados utilizando métodos de aproximação sucessiva; e Yates, que desenvolveu técnicas de tratamento de tics (Kazdin, 1983). Trabalhos com terapia de aversão foram também utilizados para tratar problemas de alcoolismo e desvios do comportamento sexual. Os estímulos, pensamentos ou comportamentos externos relacionados à resposta indesejada eram associados a um estímulo aversivo, tal como um choque elétrico.Esperava-se que esse tipo de condicionamento promovesse uma resposta de desagrado diante da bebida ou da estimulação sexual desviante. Entretanto, tais procedimentos foram desestimulados, tanto por razões éticas quanto pela sua inecácia (Hawton et al ., 1997). No início da década de 1960, os tratamentos comportamentais começaram a se expandir para uma variedade de problemas além da redução do medo, graças aos estudos de Shapiro que empregava uma metodologia de casos isolados, envolvendo repetição de medidas de variável clinicamente relevante, feita em intervalos regulares (série temporal). Condicionamento operanteCondicionamento operante As aplicações dos procedimentos do condicionamento operante aos problemas clínicos tornaram-se conhecidas pelo nome de análise do comportamento aplicado e tiveram início no nal dos anos 1950. As primeiras técnicas concentraram-se na modicação do comporta- mento de pessoas com deciência mental e de crianças decientes. Com relação à modicação de comportamentos psicóticos tais como atos violentos, delírios e comportamento alimentar inadequado, assim como hábitos de higiene, Ayllon utilizou cigarros e elogios como reforçadores de comportamentos sadios e supressão da atenção ao paciente como extinção de comportamentos inadequados. Em 1961, Ayllon e Azrin criaram um esquema de reforçamentodenominado sistema de chas, as quais funcionavam como reforçadores que poderiam ser trocados por uma série de privilégios à escolha do paciente. Esse trabalho demonstrou a ecácia da intervenção psicológica em pacientes psicóticos (especialmente aqueles com esquizofrenia crônica), que antes não eram considerados passíveis de mudança. Posteriormente, foi ressaltada a importância do reforço social e do feedback como fatores mais importantes 203203 nesses programas. O uso de reforçadores sociais estruturados (elogio e atenção do terapeuta) passou a ser mais amplamente adotado, assim como uma maior valorização das interações sociais na ajuda a pacientes com esquizofrenia (Hawton et al ., 1997). Vários estudos citados por Kazdin (1983) realizados em crianças decientes e autistas foram implementados com êxito na década de 1960, na Rainier School e na Universidade de Washington. Os princípios do condicionamento operante também foram aplicados naárea da educação, através do ensino programado, onde o material acadêmico era apresentado de forma individual para cada estudante, proporcionando reforço imediato às suas respostas. No início dos anos 1960, vários editores começaram a publicar uma grande quantidade de material programado para uso em aula e uma elevada percentagem de escolas nos Estados Unidos começou a utilizar material educativo programado. Surgimento e evolução das abordagens cognitivo-comportamentaisSurgimento e evolução das abordagens cognitivo-comportamentais Ao nal dos anos 1960, iniciou-se um movimento de insatisfação com os modelos estritamente comportamentais (E-R) ou não mediacionais de abordagem ao comportamento humano. Embora – como foi mencionado no início deste capítulo – muitos modelos de condicionamento tenham apontado a existência de processos cognitivos como mediadores de estímulos, o auge desse fenômeno ocorreu no nal dos anos 1960 e início dos 1970 (Dobson e Scherrer, 2004). Albert Bandura (1925- ) foi um dos críticos mais poderosos do modelo operante de condicionamento e suas contribuições neste sentido serviram de base para o movimento mediacional. Para Bandura (1969), um dos problemas da aprendizagem pelas conseqüências refere-se ao fato de que o indivíduo deve se comportar antes de aprender. O modelo operante pressupõe que o indivíduo somente aprenderá após a ocorrência de reforçadores que se sucedem a sua resposta. Assim, se toda aprendizagem ocorresse através do condicionamento operante, poucas pessoas sobreviveriam. Como seria, por exemplo, aprender a nadar ou a pilotar um avião pelo modelo operante? Bandura propôs uma teoria da aprendizagem sem tentativa, conhecida como modelação, que é altamente freqüente entre os seres humanos e que se dá pela simples observação, sem a necessária reprodução do comportamento. Uma parte considerável da aprendizagem social é desenvolvida pela exposição a 204204 modelos da vida real que desempenham, intencionalmente ou não, padrões de comportamento que podem ser imitados pelos outros. Depois que a pessoa desenvolve um repertório verbal adequado, os modelos podem ser verbais. Assim, personagens de lmes, de propagandas, guras históricas etc. podem funcionar como modelos poderosos. Os pais, professores e irmãos mais velhos costumam ser modelos para as crianças. Nos grupos sociais, estamos constantemente imitando atitudes de algumas pessoas e, ao mesmo tempo, somos modelo para outras.A modelação implica processos cognitivos importantes que envolvem atenção, julgamento sobre o modelo e as conseqüências do comportamento deste etc. indicando que a mediação cognitiva inuencia o comportamento. Para Bandura, a conseqüência da resposta não exerce uma inuência puramente instrumental sobre o comportamento. Ela também é conceituada como um processo cognitivo. A partir da observação de suas próprias ações, o indivíduo vai discernir respostas apropriadas e inapropriadas e vai se conduzir de acordo com esse julgamento. A concepção de resposta apropriada é construída pelo próprio indivíduo, a partir da observação de seu comportamento. Em outras palavras, o reforço aumenta a probabilidade de ocorrência de uma resposta pela sua função preditiva, e não porque ele esteja automaticamente conectado à resposta. Assim, a motivação também tem base cognitiva e é inuenciadapela previsão das conseqüências futuras. Dentre os conceitos mais importantes da teoria de aprendizagem social de Bandura, que contraria a explicação operante sobre o poder da contingência, encontra-se o de auto-ecácia, que se refere à crença que uma pessoa tem de que será capaz de realizar um determinado comportamento. A força da convicção da pessoa sobre a própria ecácia inuencia no quanto ela vai tentar enfrentar as situações dadas. Isso irá determinar tanto a iniciação quanto a persistência do comportamento. As contribuições de Bandura sobre auto-ecácia se estendem hoje a uma variedade de pesquisas, tanto na psicologiasocial, em estudos sobre idosos e sobre evasão acadêmica, como na clínica e na saúde, no entendimento das dependências químicas, na depressão e em outros transtornos psicológicos. Em 1974, Michael Mahoney publicou um livro intitulado Cognition and Behavior Modication, em que defendeu a cognição como mediadora do comportamento. Um dos motivos da rejeição ao estudo dos fenômenos cognitivos por parte dos behavioristas radicais devia-se ao fato de que este era baseado em inferências, signicando que o que é inferido não poderia se aplicar ao estudo do comportamento. Mahoney sustentou que o que caracteriza 205205 um conhecimento cientíco não é a sua ausência de inferências, mas sim a sua capacidade preditiva: A questão básica nas explicações mediacionais versus não-mediacionais do comportamento não é se as inferências são justicáveis, mas sim quais inferências são legítimas e úteis. Como foi referido antes, a aceitação de uma hipótese ou teoria é determinada por sua adequação e força preditiva, e não por sua parcimônia ou falta de inferências. Muitos behavioristas, é claro, presumem que há uma forte correlação positiva entre estas características – ou seja, que as explicações não inferenciais e parcimoniosas do comportamento são mais capazes de precisão preditiva e amplitude explicativa. Esta é, de fato, a base da interpretação errônea da postura de Skinner acerca da mediação e da inferência (Mahoney, 1974: 26). Outros autores também desaaram os princípios estritamente compor- tamentais. Dobson e Scherrer (2004) citam o trabalho de Vygotsky realizado em 1962 com crianças que estavam aprendendo regras gramaticais com sucesso, independentemente da habilidade de pais e educadores para usarem reforço discriminativamente. Esses autores citam também o trabalho de Mischel, Ebbesen e Zeiss (1972) sobre retardo na graticação. Além da insatisfação com os modelos E-R, outros fatores históricos e contextuais contribuíram para o desenvolvimento das abordagens cognitivo- comportamentais. O primeiro desses fatores refere-se à rejeição dos modelos psicodinâmicos e ao questionamento de sua ecácia. Rachman e Wilson (1980, citados por Dobson e Block, 1988) armaram não haver indícios aceitáveis que sustentassem a visão da psicanálise como uma abordagem de tratamento ecaz. Dobson e Scherrer (2004) mencionam trabalhos de Albert Ellis (1973) e Aaron Beck (1967) em que ambos, embora vindos de uma tradição psicodinâmica, revelaram divergências losócas para com diversos princípios básicos desse modelo. No prefácio de uma publicação traduzida para o português intitulada Terapia cognitiva da depressão, Beck (Beck, Rush, Shaw e Emery,1982) relata que seus questionamentos ao modelo psicanalítico tiveram início em 1956, quando este tentava validar a formulação psicanalítica da depressão. Ao vericar que a hipótese da raiva retroetidanão se conrmara em seus estudos, levando-o a outras descobertas (como, por exemplo, a tríade negativista da depressão), Beck procurou embasamento nas teorias cognitivas para explicar a depressão. Outro fator histórico-contextual que culminou no desenvolvimento das abordagens cognitivo-comportamentais refere-se a uma atenção crescente dada aos aspectos cognitivos do funcionamento humano na psicologia geral, aliados ao desenvolvimento, pesquisa e estabelecimento 206206 de diversos conceitos mediacionais na psicologia experimental. Os modelos de processamento de informação (cf. capítulo 13) passaram a ser cada vez mais aplicados em construtos clínicos, tal como se pode ver nas publicações sobre mediação cognitiva da ansiedade referidas em uma revisão de estudos feita por Dobson e Scherrer (2004). Assim, tanto a psicologia cognitiva em geral quanto a psicologia cognitiva aplicada acumularam evidências que desaavam os modelos estritamente comportamentais a explicar esses dados pela incorporação de fenômenos cognitivos. Todas essas evidências levaramos teóricos comportamentais a redenirem os seus limites e a incorporarem fenômenos cognitivos dentro dos modelos de mecanismo comportamental (Dobson e Block, 1988). Finalmente, a crescente identicação de diversos terapeutas e teóricos como de orientação cognitivo-comportamental, aliada às pesquisas de resultados, na maioria positivos, das intervenções clínicas cognitivo-comportamentais, constituiu mais um fator contextual de desenvolvimento dessa abordagem. Dobson e Scherrer (2004: 45) armam que a autodenominação de muitos prossionais como cognitivo-comportamentais “resultou em um zeitgeist que chamava cada vez mais atenção para o campo crescente da TCC” (terapia cognitivo-comportamental). Todo esse movimento gerou a criação da revista cientíca Cognitive Therapy and Research, em 1977, que abriu mais espaço paraa divulgação desse enfoque. Princípios das abordagens cognitivo-comportamentais: o foco na cognição, naPrincípios das abordagens cognitivo-comportamentais: o foco na cognição, na emoção e implicações para o emoção e implicações para o tratamentotratamento As abordagens cognitivo-comportamentais compartilham diversas características fundamentais, mas também manifestam considerável diversidade de princípios e de procedimentos. Dobson e Scherrer (2004) explicam essa diversidade pelas diferentes srcens teóricas de seus representantes. Eles citam Beck e Ellis, por exemplo, como vindos de uma tradição psicanalítica,enquanto apontam Marvin R. Goldfried, Donald Meichenbaum e Mahoney como treinados na abordagem comportamental. A premissa básica das abordagens cognitivo-comportamentais refere-se à existência de um processo interno e oculto de cognição, sendo o compor- tamento mediado por eventos cognitivos. Um mesmo evento pode ser considerado como agradável para uma pessoa, gerando um comportamento 207207 de se manter na situação, ou ameaçador para outra, provocando nesta intensa ansiedade e retraimento. Assim, não é o evento em si que gera emoções e comportamentos, mas sim a nossa interpretação do mesmo. Uma das diferenças existentes entre os diversos modelos teóricos cognitivo-comportamentais está no papel das cognições e das emoções. Para alguns autores, tais como Beck e Ellis, existe uma ênfase na explicação das cognições como mediadoras do comportamento e como inuenciadoras das emoções, embora estas últimas também possam inuenciar as cognições. Poroutro lado, autores de enfoque cognitivo-construtivista defendem o papel das emoções como preponderantes na inuência do comportamento. Embora existam várias formas de abordagens cognitivo-comportamen- tais, a terapia racional emotivo-comportamental de Ellis e a terapia cognitiva de Beck são consideradas como as mais conhecidas e inuentes. O modelo ABC de Ellis, por exemplo, propõe que os sintomas ou conseqüências neuróticas (C – consequences ) são determinados pelos sistemas de crença do indivíduo (B – believes ) com relação às experiências ou fatos ativadores (A – activatics) ). Os indivíduos tendem a preservar vigorosamente os seus padrões de pensamentos irracionais, formados a partir de tendências inatas e adquiridas. A intervenção baseada nesse modelo teórico visa identicar e contestar as crenças irracionais através de um automonitoramento, em quea pessoa contesta o seu próprio sistema de crenças para manter um estado de saúde emocional. Técnicas cognitivas, de imagem, de relaxamento e desenvolvimento de habilidades são empregadas para atingir esse objetivo (Rangé, 2001). Estudos avaliando a ecácia da terapia racional emotivo- comportamental estão surgindo mais recentemente (Dobson e Scherrer, 2004). O modelo cognitivo de Beck enfatiza que os pensamentos inuenciam as nossas emoções e comportamentos. Os pensamentos ocorrem em três diferentes níveis. Em um nível mais supercial, encontram-se os pensamentos automáticos, que correspondem às avaliações de eventos especícos (por exemplo, “acho que vou me ferrar nessa prova”). Embora não estejamos conscientes desses pensamentos, eles podem ser facilmente acessíveis mediante treinamento. Em um segundonível estão as suposições e regras, que são mais globais, menos diretamente associadas a um evento especíco e menos acessíveis à nossa consciência (exemplo, “para ser competente, eu não posso falhar”, ou “se cometer um erro, signica que sou incapaz”). Finalmente, as crenças centrais constituem o nível mais global da cognição. São construídas no início do desenvolvimento e fortalecidas com as experiências da vida. 208208 As crenças centrais, as suposições e regras, e os pensamentos automáticos estão interligados no processamento cognitivo dos transtornos psicológicos. Se um indivíduo possui uma crença central (por ex., “sou incompetente”), ele criará suposições para enfrentar essa crença (por ex., “se eu der o melhor de mim e me esforçar ao máximo, serei aceito pelos outros”; “se eu demonstrar ansiedade, signica que sou incapaz”). Tais crenças predispõem esse indivíduo a desenvolver estratégias (por ex., estabelecer padrões irrealistas de desempenho, monitorar exageradamente as próprias reações pessoais) que provavelmenteo tornarão predisposto a conrmar a crença central, através de uma forma tendenciosa de interpretar os acontecimentos. Ao estabelecer padrões irrealistas de desempenho, por exemplo, ele tenderá a supervalorizar as próprias falhas, a ignorar os seus sucessos e a prestar atenção excessiva em suas manifestações de ansiedade, levando à conrmação de que é incompetente (para leitura mais detalhada do assunto, ver Falcone, 2001; J. Beck, 1997). O modelo de Beck tem sido aperfeiçoado para dar conta de um me- lhor entendimento de transtornos psicológicos mais graves, tais como os transtornos de personalidade, para os quais tem sido sugerido o papel dos esquemas, denidos como “estruturas internas relativamente duradouras de características genéricas ou prototípicas armazenadas de estímulos, idéias ou experiências que são utilizados para organizar novas informações deum modo signicativo, deste modo determinando como os fenômenos são percebidos e conceitualizados” (Dobson e Scherrer, 2004: 47). Os esquemas são desenvolvidos no início da infância e atuam como “ltros” pelos quais as informações são processadas. Os esquemas adaptativos possibilitam avaliações exíveis, realistas, enquanto os desadaptativos são rígidos e levam à distorção da realidade. O objetivo da terapia cognitiva é ajudar o cliente a desenvolver habilidades para identicar as suas distorções cognitivas e explorar novas formas de entender as suas experiências. A estratégia da abordagem é colaborativa, de modo a ajudar o indivíduo a construir os próprios recursos para testar a validade de suas interpretações. Dattilio e Padesky (1995) realizaram uma revisão de estudos para avaliar os resultados da terapia cognitiva e constataram ser esta tão ecaz quanto os medicamentos para o alívio da depressão maior, além de apresentar uma taxa inferior de recaídas em comparação com medicamentos. Outra revisão feita por Beck (1997) revelou a ecácia da terapia cognitiva no tratamento de transtornos da ansiedade, transtornos alimentares, abuso de substâncias, problemas conjugais e depressão de pacientes internados. Atualmente, 209209 resultados positivos da terapia cognitiva têm sido encontrados no tratamento do transtorno bipolar (Juruena, 2004) e da esquizofrenia (Barretto e Elkis, 2004). Além da terapia racional emotivo-comportamental de Ellis e da terapia cognitiva de Beck, outras abordagens cognitivo-comportamentais surgiram com o passar dos anos, embora não tenham atingido uma posição tão inuente. Entre estas se incluem: a reestruturação sistemática de Goldfried (1974); o treinamento de auto-instrução e de inoculação de estresse desenvolvido por Donald Meichenbaum nos anos 1970; a terapia de resolução de problemasde D’Zurilla e Goldfried, na década de 1970; e a terapia de autocontrole, construída por Fuchs e Rehm, em 1977 (citados por Dobson e Scherrer, 2004). Desenvolvimentos mais recentes da abordagem cognitivo-comportamen- tal referem-se às terapias estruturais e construtivistas. Guidano e Liotti criaram na década de 1980 uma abordagem estrutural da psicoterapia, em razão do potencial explicativo limitado da teoria da aprendizagem. Para esses autores, a organização cognitiva de um indivíduo, incluindo teorias causais, pressupostos básicos e regras tácitas de inferência que determinam o conteúdo dos pensa- mentos, desempenha um papel causal nos comportamentos problemáticos. Para mudar essas estruturas cognitivas disfuncionais, a terapia começa com a identicação e modicação de estruturas cognitivas superciais e depois, dasmais profundas (teorias causais implícitas mantidas pelo paciente) (Dobson e Scherrer, 2004). Embora existam aspectos comuns entre a terapia estrutural de Guidano e Liotti e as outras formas de abordagem cognitivo-comportamental quanto à identicação e modicação de estruturas cognitivas, estas últimas são consideradas racionais, uma vez que o seu pressuposto losóco é o de que existe um mundo externo que pode ser percebido de forma correta ou incorreta. Por outro lado, Guidano mostrou-se mais preocupado com o “valor de validade” das estruturas cognitivas do que com o seu “valor de verdade” (Dobson e Scherrer, 2004). Para os terapeutas de enfoque construtivista, que têm atualmente Mahoney como um dos principais defensores, a terapia consiste em enfatizar o processo de dar signicado à experiência, em oposição ao conteúdo do que está sendo pensado. Assim, as estratégias focalizam-se em exercícios facilitadores que enfatizam o processo do pensamento e a produção de signicado, em oposição aos exercícios corretivos em torno do conteúdo do pensamento (Dobson e Scherrer, 2004). 210210 Enquanto alguns autores (por ex., Neimeyer e Raskin, 2001) questionam a compatibilidade teórica entre as terapias construtivistas e cognitivo-comportamentais, outros defensores das terapias cognitivo- comportamentais adotaram, em graus variados, tratamentos com base em princípios construtivistas (por ex., Mahoney, 1991; Meichenbaum, 1994; Young, 1994, citados por Dobson e Scherrer, 2004). Assim, as questões sobre a compatibilidade teórica entre os enfoques cognitivo, construtivista e pós- racionalista ainda não são conclusivas. Popularidade e abrangência das abordagens cognitivo-comportamentaisPopularidade e abrangência das abordagens cognitivo-comportamentais Em uma pesquisa realizada por Robins, Gosling e Craik (1999), a abor- dagem cognitivo-comportamental é apontada como a que mais obteve popu- laridade nos últimos 20 anos. Embora esse estudo não faça menção aos locais onde essa popularidade se manifesta, sua metodologia baseou-se em uma meta- análise de publicações existentes em um determinado período sobre as diversas abordagens teóricas, o que permite perceber o avanço crescente das abordagens cognitivo-comportamentais em todo o mundo. Outro estudo realizado por Buela-Casal, Alvarez-Castro e Sierra (1993), para avaliar as preferências dos psicólogos na Espanha, concluiu que os psicólogos espanhóis manifestam uma clara preferência pela abordagem cognitivo-comportamental. Parece existir um consenso na literatura sobre a popularidade da abordagem cognitivo-comportamental na psicologia clínica e na psicologia da saúde, nos Estados Unidos e na Europa. Paul M. Salkovskis (2005), em seu livro recentemente traduzido para o português com o título: Fronteiras da terapia cognitiva propõe que “[…] a terapia cognitiva se tornou a abordagem psicoterápica mais importante e a melhor validada entre as demais. É o tratamento psicológico de escolha para uma ampla variedade de problemas psicológicos” (p. 15). Em entrevista concedida a uma revista argentina (1999), esse autor arma: Um avanço na Inglaterra consistiu em que o Colégio de Psiquiatras exige que os psiquiatras tratem vários casos com terapia cognitiva em seu treinamento, de tal maneira que eles não podem converter-se em psiquiatras sem haver recebido supervisão em terapia cognitiva (p. 187). Para Dobson e Scherrer (2004), as abordagens cognitivo-comportamentais“têm aumentado de escopo e popularidade, adquirindo sua atual condição de ‘paradigmas dominantes’ na área da psicologia clínica” (p. 42). Em publicação 211211 recente traduzida para o português com o título Ciência psicológica: mente, cérebro e comportamento (2005), os autores Michael S. Gazzaniga (neurocientista) e Todd F. Heatherton (psicólogo social e da personalidade) apontam a terapia cognitivo-comportamental como a mais ecaz no tratamento dos transtornos da ansiedade, do humor e da personalidade. No Brasil, a popularidade das abordagens cognitivo-comportamentais está apenas começando e pode ser identicada principalmente pela crescente publicação de livros organizados por autores brasileiros nos últimos cincoanos. Alguns desses autores são de São Paulo (Abreu e Roso, 2003; Lipp, 2004; Silvares, 2000), Rio de Janeiro (Range, 2001) e Rio Grande do Sul (Caminha, 2005; Caminha, Wainer, Oliveira e Piccoloto, 2003; Knapp, 2004). Além dos livros nacionais, a quantidade de publicações traduzidas para o português tem aumentado consideravelmente. Uma variedade de publicações em periódicos nacionais pode ser também encontrada. A popularidade das abordagens cognitivo-comportamentais tem aumentado em parte graças à fundação de associações itinerantes que organizam congressos anuais (Associação Brasileira de Psicoterapia e Medicina Comportamental – ABPMC, fundada no Rio de Janeiro em 1991) e a cada dois anos (Sociedade Brasileira de Terapias Cognitivas – SBTC, fundada no Rio Grande do Sul em 1997). A primeira publica a Revista Brasileira de TerapiaComportamental e Cognitiva, desde 1999. A segunda publica a Revista Brasileira de Terapias Cognitivas, fundada em 2005. Associações regionais também têm surgido, como a Associação de Terapias Cognitivas do Estado do Rio de Janeiro (ATC-RIO), que organiza, juntamente com a Universidade do Estado do Rio de Janeiro, um evento anual (Mostra de Terapia Cognitivo- Comportamental). Os prossionais brasileiros de orientação cognitivo-comportamental têm se dedicado a intervenções em consultórios, além de pesquisa, ensino, orientação e supervisão clínica. A prática clínica institucional tem sido realizada por um grupo do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas, em um ambulatório de ansiedade (ANBAM), onde psicólogos e psiquiatras exercem atividades de ensino, pesquisa e intervenção cognitivo-comportamental. No campo da psicologia da saúde, tem se destacado o trabalho de um grupo de psicólogos de São José do Rio Preto, que desenvolveram o Serviço de Psicologia do Hospital de Base da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (FAMERP), iniciado em 1981 com a contratação de uma psicóloga para atuar na enfermaria de pediatria e contando atualmente com 40 psicólogos (docentes, contratados e aprimorandos) que desenvolvem atividades de extensão de serviços à comunidade, ensino e pesquisa em psicologia da saúde. A história 212212 e estrutura desse serviço está publicada em detalhes na revista Psicologia USP (Miyazaky, Domingos, Valério, Santos e da Rosa, 2002). ConclusõesConclusões Embora compartilhando de pressupostos básicos, as abordagens cognitivo-comportamentais abrangem uma variedade de mais de 20 modelos (Mahoney e Lydoon, 1988, citados em Knapp, 2004). Além disso, mudanças losócas, teóricas e práticas importantes têm ocorrido na sua trajetória. Assim, relatar a sua história e seus princípios teóricos e losócos em um capítulo não constitui uma tarefa fácil. Contrariamente às armações de que as abordagens cognitivo-compor- tamentais são de srcem estadunidense, pode-se vericar, na revisão deste capítulo, que os investigadores russos foram tão importantes (ou mais) para o behaviorismo (pelo menos para o behaviorismo metodológico) do que os próprios americanos, e que os estudos de Pavlov servem de base até hoje para os estudos da neuropsicologia, através da relação entre áreas do cérebro e o comportamento (Caminha, 2003). A preocupação com a ecácia dos procedimentos de intervenção e com a revisão de princípios teóricos faz com que as abordagens cognitivo- comportamentais sejam alvo de reformulações através do tempo, o que provavelmente constitui a sua característica mais marcante. Indicação bibliográficaIndicação bibliográfica O livro organizado por Knapp –Terapia cognitivo-comportamental na prática psiquiátrica.Porto Alegre: Artmed. – é uma boa apresentação do tema. ReferênciasReferências Abreu, C. N. e Roso, M. (orgs.) (2003) Psicoterapias cognitiva e construtivista. Novas fronteiras na prática clínica. Porto Alegre: Artmed. Baldwin, J. D. e Baldwin, J. I. (1998) Behavior Principles in Everyday Life. 3rd ed. New Jersey: Prentice-Hall. Bandura, A. (1969) Modicação do comportamento. Rio de Janeiro: Editora Interamericana. N • • • • • INTRODUÇÃO À TERAPIA COGNITIVO- COMPORTAMENTAL o começo da década de 1960, Aaron T. Beck, M.D., na época professor assistente de psiquiatria na University of Pennsylvania, deu início a uma revolução no campo da saúde mental. Dr. Beck era psicanalista com formação completa e atuante. Fundamentalmente um cientista, ele acreditava que, para que a psicanálise fosse aceita pela comunidade médica, suas teorias precisariam ter demonstração de validação empírica. No final da década de 1960 e início dos anos de 1970, dedicou-se a uma série de experimentos que, esperava ele, comprovassem perfeitamente essa validação. Ao invés disso, aconteceu o contrário. Os resultados de seus experimentos levaram-no à busca de outras explicações para a depressão. Ele identificou cognições negativas e distorcidas (principalmente pensamentos e crenças) como característica primária da depressão e desenvolveu um tratamento de curta duração, no qual um dos objetivos principais era o teste de realidade do pensamento depressivo do paciente. Neste capítulo, você encontrará respostas para as seguintes perguntas: O que é terapia cognitivo-comportamental? Como ela foi desenvolvida? O que as pesquisas nos dizem sobre sua eficácia? Quais são seus princípios básicos? Como você pode se tornar um terapeuta cognitivo-comportamental eficaz? O QUE É TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL? Aaron Beck desenvolveu uma forma de psicoterapia no início da década de 1960, a qual denominou originalmente “terapia cognitiva”. O termo “terapia cognitiva” hoje é usado por muitos da nossa área como sinônimo de “terapia cognitivo-comportamental”, e é este último termo que será utilizado ao longo deste livro. Para o tratamento da depressão, Beck concebeu uma psicoterapia estruturada, de curta duração, voltada para o presente, direcionada para a solução de problemas atuais e a modificação de pensamentos e comportamentos disfuncionais (inadequados e/ou inúteis) (Beck, 1964). Desde aquela época, ele e outros autores tiveram sucesso na adaptação dessa terapia a populações surpreendentemente diversas e com uma ampla abrangência de transtornos e problemas. Essas adaptações alteraram o foco, as técnicas e a duração do tratamento, porém os pressupostos teóricos em si permaneceram constantes. Em todas as formas de terapia cognitivo-comportamental derivadas do modelo de Beck, o tratamento está baseado em uma formulação cognitiva, as crenças e estratégias comportamentais que caracterizam um transtorno específico (Alford e Beck, 1997). O tratamento também está baseado em uma conceituação, ou compreensão, de cada paciente (suas crenças específicas e padrões de comportamento). O terapeuta procura produzir de várias formas uma mudança cognitiva – modificação no pensamento e no sistema de crenças do paciente – para produzir uma mudança emocional e comportamental duradoura. Beck lançou mão de inúmeras e diferentes fontes quando desenvolveu essa forma de psicoterapia, incluindo os primeiros filósofos, como Epiteto, e teóricos como Karen Horney, Alfred Adler, George Kelly, Albert Ellis, Richard Lazarus e Albert Bandura. O trabalho de Beck, por sua vez, foi ampliado por pesquisadores e teóricos atuais dos Estados Unidos e doexterior, numerosos demais para serem aqui mencionados. Existem muitas formas de terapia cognitivo-comportamental que compartilham características da terapia de Beck, mas cujas conceitualizações e ênfases no tratamento variam até certo ponto. Elas incluem a terapia racional-emotiva comportamental (Ellis, 1962), a terapia comportamental dialética (Linehan, 1993), a terapia de solução de problemas (D’Zurilla e Nezu, 2006), a terapia de aceitação e compromisso (Hayes, Follette e Linehan, 2004), a terapia de exposição (Foa e Rothbaum, 1998), a terapia de processamento cognitivo (Resick e Schnicke, 1993), o sistema de psicoterapia de análise cognitivo-comportamental (McCullough, 1999), a ativação comportamental (Lewinsohn, Sullivan e Grosscup, 1980; Martell, Addis e Jacobson, 2001), a modificação cognitivo-comportamental (Meichenbaum, 1977) e outras. A terapia cognitivo- comportamental de Beck frequentemente incorpora técnicas de todas estas e outras psicoterapias, dentro de uma estrutura cognitiva. O panorama histórico da área apresenta uma descrição rica de como se originaram e se desenvolveram as diferentes correntes da terapia cognitivo-comportamental (Arnkoff e Glass, 1992; A. Beck, 2005; Clark, Beck e Alford, 1999; Dobson e Dozois, 2009; Hollon e Beck, 1993). A terapia cognitivo-comportamental tem sido adaptada a pacientes com diferentes níveis de educação e renda, bem como a uma variedade de culturas e idades, desde crianças pequenas até adultos com idade mais avançada. É usada atualmente em cuidados primários e outras especializações da saúde, escolas, programas vocacionais e prisões, entre outros contextos. É utilizada nos formatos de grupo, casal e família. Embora o tratamento descrito neste livro esteja focado nas sessões individuais de 45 minutos, elas podem ser mais curtas. Alguns pacientes, como os que sofrem de esquizofrenia, frequentemente não conseguem tolerar uma sessão inteira, e certos profissionais podem vir a utilizar técnicas da terapia cognitiva sem realizar uma sessão completa de terapia, seja durante uma consulta clínica ou de reabilitação, seja na revisão da medicação. QUAL A TEORIA SUBJACENTE À TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL? Em poucas palavras, o modelo cognitivo propõe que o pensamento disfuncional (que influencia o humor e o pensamento do paciente) é comum a todos os transtornos psicológicos. Quando as pessoas aprendem a avaliar seu pensamento de forma mais realista e adaptativa, elas obtêm uma melhora em seu estado emocional e no comportamento. Por exemplo, se você estivesse muito deprimido e emitisse alguns cheques sem fundos, poderia ter um pensamento automático, uma ideia que simplesmente apareceria em sua mente: “Eu não faço nada direito”. Esse pensamento poderia, então, conduzir a uma reação específica: você se sentiria triste (emoção) e se refugiaria na cama (comportamento). Se, então, examinasse a validade dessa ideia, poderia concluir que fez uma generalização e que, na verdade, você faz muitas coisas bem. Encarar a sua experiência a partir dessa nova perspectiva provavelmente faria você se sentir melhor e levaria a um comportamento mais funcional. Para que haja melhora duradoura no humor e no comportamento do paciente, os terapeutas cognitivos trabalham em um nível mais profundo de cognição: as crenças básicas do paciente sobre si mesmo, seu mundo e as outras pessoas. A modificação das crenças disfuncionais subjacentes produz uma mudança mais duradoura. Por exemplo, se você continuamente subestima suas habilidades, pode ser que tenha uma crença subjacente de incompetência. A modificação dessa crença geral (isto é, ver a si mesmo de forma mais realista, como alguém que tem pontos fortes e pontos fracos) pode alterar a sua percepção de situações específicas com que se defronta diariamente. Você não terá mais tantos pensamentos com o tema: “Eu não faço nada direito”. Em vez disso, em situações específicas em que comete erros, você provavelmente pensará: “Eu não sou bom nisto [tarefa específica]”. O QUE DIZEM AS PESQUISAS? A terapia cognitivo-comportamental tem sido amplamente testada desde que foram publicados os primeiros estudos científicos, em 1977 (Rush, Beck, Kovacs e Hollon, 1977). Até o momento, mais de 500 estudos científicos demonstraram a eficácia da terapia cognitivo-comportamental para uma ampla gama de transtornos psiquiátricos, problemas psicológicos e problemas médicos com componentes psicológicos (veja, p. ex., Butler, Chapman, Forman e Beck, 2005; Chambless e Ollendick, 2001). A Tabela 1.1 lista muitos dos transtornos e problemas que foram tratados com sucesso com a terapia cognitivo-comportamental. Uma lista mais completa pode ser encontrada em www.beckinstitute.org. Foram realizados estudos para demonstrar a eficácia da terapia cognitivo-comportamental na comunidade (veja, p. ex., Shadish, Matt, Navarro e Philips, 2000; Simons et al., 2010; Stirman, Buchhofer, McLaulin, Evans e Beck, 2009). Outros estudos concluíram ser efetiva a terapia cognitivo-comportamental assistida por computador (veja, p. ex., Khanna e Kendall, 2010; Wright et al., 2002). E diversos pesquisadores demonstraram que existem alterações neurobiológicas associadas ao tratamento com terapia cognitivo-comportamental para vários transtornos (veja, p. ex., Goldapple et al., 2004). Centenas de estudos científicos também validaram o modelo cognitivo da depressão e da ansiedade. Uma ampla revisão desses estudos pode ser encontrada em Clark e colaboradores (1999) e em Clark e Beck (2010). TABELA 1.1. Lista Parcial de Transtornos Tratados com Sucesso pela Terapia Cognitivo-comportamental Transtornos psiquiátricos Problemas psicológicos Problemas médicos com componentes psicológicos Transtorno depressivo maior Problemas conjugais Dor lombar crônica Depressão geriátrica Problemas familiares Crises de dor da anemia Transtorno de ansiedade generalizada Jogo patológico Enxaqueca Ansiedade geriátrica Luto complicado Tinnitus (Zunido) Transtorno de pânico Angústia do cuidador Dor do câncer Agorafobia Raiva e hostilidade Transtornos somatoformes Fobia social Síndrome do intestino irritável Transtorno obsessivo-compulsivo Síndrome da fadiga crônica Transtorno da conduta Dor de doença reumática Abuso de substância Disfunção erétil Transtorno de déficit de atenção/ hiperatividade Insônia Obesidade Ansiedade pela saúde Vulvodínea Transtorno dismórfico corporal Hipertensão Transtornos da alimentação Síndrome da Guerra do Golfo Transtornos da personalidade Agressores sexuais Transtornos de hábitos e dos impulsos Transtorno bipolar (com medicação) Esquizofrenia (com medicação) http://www.beckinstitute.org COMO FOI DESENVOLVIDA A TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL DE BECK? No fim da década de 1950 e início da década de 1960, o Dr. Beck decidiu testar o conceito psicanalítico de que a depressão é resultante de hostilidade voltada contra si mesmo. Investigou os sonhos dos pacientes deprimidos, os quais, segundo sua previsão, manifestariam mais temas de hostilidade do que os sonhos dos controles normais. Para sua surpresa, acabou descobrindo que os sonhos dos pacientes deprimidos continham menos temas de hostilidade e muito mais temas relacionados a fracasso, privação e perda. Ele identificou que esses temas eram similares ao pensamento dos seus pacientes quando estavam acordados. Os resultados de outros estudos conduzidos por Beck levaram-no a acreditar que uma ideia psicanalítica – que os pacientes deprimidos têm necessidade de sofrer – poderia ser incorreta (Beck, 1967). Naquele ponto, era quase como se uma imensa fileira de dominós começasse a cair. Se esses conceitos psicanalíticos não fossem válidos, como é que a depressão poderia ser entendida, então? Enquanto o Dr. Beck ouvia seus pacientes no divã, percebia que eles ocasionalmente relatavam duas vertentes de pensamento: uma vertente de livre associação e outra de pensamentos rápidos de qualificações sobre si mesmos. Uma mulher, por exemplo, detalhava suas façanhas sexuais. A seguir, relatava sentir-se ansiosa.O Dr. Beck fez uma interpretação: “Você achou que eu estava lhe criticando”. A paciente discordou: “Não, eu estava com medo de estar chateando você”. Ao questionar seus outros pacientes deprimidos, o Dr. Beck percebeu que todos eles tinham pensamentos “automáticos” negativos como esses e que essa segunda vertente de pensamentos estava intimamente ligada às suas emoções. Começou, então, a ajudar seus pacientes a identificar, avaliar e responder ao seu pensamento irrealista e desadaptativo. Quando fez isso, eles melhoraram rapidamente. O Dr. Beck começou, então, a ensinar seus residentes psiquiátricos na University of Pennsylvania a usar essa forma de tratamento. Também eles descobriram que seus pacientes respondiam bem. O residente-chefe, médico psiquiatra A. John Rush, atualmente grande autoridade no campo da depressão, discutiu a possibilidade de conduzir uma pesquisa científica com o Dr. Beck. Eles concordaram que tal estudo era necessário para demonstrar aos outros a eficácia da terapia cognitiva. O ensaio clínico controlado randomizado que foi conduzido por eles com pacientes deprimidos, publicado em 1977, constatou que a terapia cognitiva era tão efetiva quanto a imipramina, um antidepressivo comum. Este foi um estudo surpreendente. Foi uma das primeiras vezes em que uma terapia da palavra havia sido comparada a uma medicação. Beck, Rush, Shaw e Emery (1979) publicaram o primeiro manual de terapia cognitiva dois anos depois. Os componentes importantes da psicoterapia cognitivo-comportamental para depressão incluem foco na ajuda aos pacientes para solucionarem problemas, tornarem-se comportalmente ativados e identificarem, avaliarem e responderem ao seu pensamento depressivo, especialmente pensamentos negativos sobre si mesmos, seu mundo e seu futuro. No fim da década de 1970, Dr. Beck e seus colegas de pós-doutorado na University of Pennsylvania começaram a estudar a ansiedade e descobriram que era necessário um foco um pouco diferente. Os pacientes com ansiedade precisavam avaliar melhor o risco das situações que temiam, levar em consideração seus recursos internos e externos, além de melhorar tais recursos. Eles também precisavam reduzir a evitação e enfrentar as situações que temiam para que pudessem testar comportamentalmente as suas predições negativas. Desde aquela época, o modelo cognitivo da ansiedade tem sido aperfeiçoado para cada um dos vários transtornos de ansiedade; a psicologia cognitiva confirmou esses modelos, e estudos científicos demonstraram a eficácia da terapia cognitivo-comportamental para transtornos de ansiedade (Clark e Beck, 2010). Avançando várias décadas, Dr. Beck, seus colegas e outros pesquisadores por todo o mundo continuam a estudar, teorizar, adaptar e testar tratamentos para pacientes que padecem de uma lista crescente de problemas. A terapia cognitiva, ou terapia cognitivo-comportamental, é ensinada agora na maioria das escolas de graduação nos Estados Unidos e em muitos outros países. QUAIS OS PRINCÍPIOS BÁSICOS DO TRATAMENTO? Embora a terapia deva se adequar a cada indivíduo, existem determinados princípios que estão presentes na terapia cognitivo-comportamental para todos os pacientes. Ao logo de todo este livro, uso uma paciente depressiva, Sally, para ilustrar esses princípios centrais, demonstrar como usar a teoria cognitiva para entender as dificuldades dos pacientes e como utilizar esse entendimento para planejar o tratamento e conduzir as sessões de terapia. Sally é uma paciente quase ideal e me possibilita apresentar a terapia cognitivo-comportamental de uma maneira simples. Faço algumas observações sobre como variar o tratamento com pacientes que não respondem tão bem quanto ela, mas o leitor deverá buscar outras fontes (p. ex., J. S. Beck, 2005; Kuyken, Padesky e Dudley, 2009; Needleman, 1999) para aprender a conceituar, montar estratégias e implementar técnicas para pacientes com diagnósticos diferentes da depressão ou pacientes cujos problemas impõem um desafio no tratamento. “Sally” era uma moça solteira de 18 anos quando procurou tratamento comigo durante seu segundo semestre na universidade. Vinha se sentindo deprimida e ansiosa nos últimos quatro meses e estava tendo dificuldades com suas atividades diárias. Ela preenchia os critérios de um episódio de transtorno depressivo maior moderado, de acordo com o Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais, quarta edição, texto revisado (DSM- IV-R; American Psychiatric Association, 2000). Uma descrição mais completa de Sally é apresentada no Apêndice A. Os princípios básicos da terapia cognitivo-comportamental são os seguintes: Princípio no 1. A terapia cognitivo-comportamental está baseada em uma formulação em desenvolvimento contínuo dos problemas dos pacientes e em uma conceituação individual de cada paciente em termos cognitivos. Considero as dificuldades de Sally a partir de três estruturas. Desde o início, identifico seu pensamento atual que contribui para seus sentimentos de tristeza (“Eu sou um fracasso, eu não consigo fazer nada direito, eu nunca vou ser feliz”) e seus comportamentos problemáticos (isolando-se, passando muito tempo improdutivo em seu quarto, evitando pedir ajuda). Esses comportamentos problemáticos se originam no e, por sua vez, reforçam o pensamento disfuncional de Sally. Em segundo lugar, identifico fatores precipitantes que influenciaram as percepções de Sally no começo da sua depressão (p. ex., estar longe de casa pela primeira vez e sua dificuldade nos estudos contribuíram para a crença de que era incompetente). Em terceiro lugar, levanto hipóteses a respeito dos eventos-chave do desenvolvimento e os padrões constantes de interpretação desses eventos que podem tê-la predisposto à depressão (p. ex., Sally tem uma antiga tendência a atribuir à sorte os seus pontos fortes e conquistas, porém encara seus pontos fracos como um reflexo do seu verdadeiro “eu”). Baseio minha conceituação de Sally na formulação cognitiva da depressão e nos dados que ela fornece durante a sessão de avaliação. Continuo a aprimorar essa conceituação a cada sessão, à medida que vou obtendo mais dados. Em momentos estratégicos, compartilho a conceituação com Sally para me assegurar de que isso lhe “soa verdadeiro”. Além do mais, durante a terapia, ajudo Sally a examinar sua experiência por meio do modelo cognitivo. Ela aprende, por exemplo, a identificar os pensamentos associados ao seu afeto ansioso e a avaliar e formular respostas mais adaptativas ao seu pensamento. Fazer isso melhora a forma como se sente e geralmente faz ela se comportar de um modo mais funcional. Princípio no 2. A terapia cognitivo-comportamental requer uma aliança terapêutica sólida. Sally, assim como muitos pacientes com depressão não complicada e transtornos de ansiedade, tem um pouco de dificuldade em confiar e trabalhar comigo. Eu me esforço para demonstrar todos os ingredientes básicos necessários em uma situação de aconselhamento: afeto, empatia, atenção, interesse genuíno e competência. Demonstro meu interesse por Sally fazendo comentários empáticos, ouvindo atenta e cuidadosamente e resumindo de forma adequada seus pensamentos e sentimentos. Assinalo seus sucessos, sejam eles pequenos ou maiores, e mantenho um ponto de vista realisticamente otimista e bem-humorado. Também peço a Sally um feedback no fim de cada sessão para me certificar de que ela se sente compreendida e positiva em relação à sessão. Veja o Capítulo 2 para uma descrição mais longa da relação terapêutica na terapia cognitivo- comportamental. Princípio no 3. A terapia cognitivo-comportamental enfatiza a colaboração e a participação ativa. Eu encorajo Sally a encarar a terapia como um trabalho em equipe; juntas nós decidimos o que trabalhar em cada sessão, a frequência com que devemos nos encontrar e o que ela pode fazer entre as sessões como exercício da terapia. Inicialmente sou mais ativa, sugerindo uma direção para as sessões e resumindo o que discutimos durante uma sessão. À medida que Sally vai ficando menos deprimidae mais familiarizada com o tratamento, eu a encorajo a se tornar cada vez mais ativa na sessão: decidindo sobre quais problemas falar, identificando as distorções no seu pensamento, resumindo pontos importantes e planejando a prescrição dos exercícios a serem realizados em casa. Princípio no 4. A terapia cognitivo-comportamental é orientada para os objetivos e focada nos problemas. Em nossa primeira sessão, peço a Sally para enumerar seus problemas e estabelecer objetivos específicos, de modo que ela e eu compartilhemos o entendimento de para onde estamos nos dirigindo. Por exemplo, Sally menciona na sessão de avaliação que se sente isolada. Com a minha orientação, ela define um objetivo em termos comportamentais: começar novas amizades e passar mais tempo com os amigos atuais. Posteriormente, ao discutirmos como melhorar sua rotina diária, ajudo-a a avaliar e responder aos pensamentos que interferem em seu objetivo, tais como: Os meus amigos não vão querer sair comigo. Eu estou muito cansada para sair com eles. Primeiramente, ajudo Sally a avaliar a validade dos seus pensamentos por meio de um exame das evidências. Então Sally se dispõe a testar seus pensamentos mais diretamente por meio de experimentos comportamentais (p. 238-239), em que toma a iniciativa de fazer planos com os amigos. Depois de reconhecer e corrigir a distorção em seu pensamento, Sally consegue se beneficiar com a solução objetiva e direta do problema para reduzir seu isolamento. Princípio no 5. A terapia cognitivo-comportamental enfatiza inicialmente o presente. O tratamento da maioria dos pacientes envolve um foco intenso nos problemas atuais e em situações específicas que são angustiantes para eles. Sally começa a se sentir melhor depois que consegue responder ao seu pensamento negativo e tomar atitudes para melhorar sua vida. A terapia começa por um exame dos seus problemas no aqui e agora, independentemente do diagnóstico. A atenção se volta para o passado em duas circunstâncias. A primeira, quando o paciente expressa uma forte preferência por fazer assim e quando não fazer isso possa colocar em perigo a aliança terapêutica. A segunda, quando os pacientes ficam “emperrados” no seu pensamento disfuncional, quando um entendimento das raízes infantis de suas crenças poderá ajudar a modificar suas ideias rígidas. (“Bem, não é de admirar que você ainda acredite que é incompetente. Você consegue perceber que qualquer criança – que tivesse tido as mesmas experiências que você – cresceria se achando incompetente, e mesmo assim isso poderia não ser verdadeiro, ou certamente não completamente verdadeiro?”) Por exemplo, volto-me brevemente para o passado na metade do tratamento a fim de ajudar Sally a identificar um conjunto de crenças que aprendeu quando criança: “Se eu tiver grandes conquistas, isso significa que eu tenho valor. Se eu não tiver grandes conquistas, isso significa que eu sou um fracasso”. Eu a auxilio a avaliar a validade dessas crenças, tanto no passado quanto no presente. Fazer isso leva Sally, em parte, a desenvolver crenças mais funcionais e mais razoáveis. Se ela tivesse um transtorno da personalidade, eu teria passado proporcionalmente mais tempo discutindo a história do seu desenvolvimento e a origem na infância das crenças e os comportamentos de enfrentamento. Princípio no 6. A terapia cognitivo-comportamental é educativa, tem como objetivo ensinar o paciente a ser seu próprio terapeuta e enfatiza a prevenção de recaída. Em nossa primeira sessão, educo Sally quanto à natureza e ao curso do seu transtorno, sobre o processo da terapia cognitivo-comportamental e sobre o modelo cognitivo (i. e., como seus pensamentos influenciam suas emoções e comportamento). Eu não só ajudo Sally a definir objetivos, identificar e avaliar pensamentos e crenças e a planejar a mudança comportamental, mas também a ensino como fazer. A cada sessão faço com que ela leve para casa algumas anotações sobre a terapia – ideias importantes que aprendeu – para que possa se beneficiar desse novo entendimento nas semanas seguintes e depois que terminar o tratamento. Princípio no 7. A terapia cognitivo-comportamental visa ser limitada no tempo. Muitos pacientes com depressão e transtornos de ansiedade são tratados em um espaço de 6 a 14 sessões. Os objetivos do terapeuta são promover o alívio dos sintomas, facilitar a remissão do transtorno, ajudar o paciente a resolver seus problemas mais urgentes e ensinar habilidades para evitar a recaída. Sally, inicialmente, tem sessões semanais. (Se sua depressão fosse mais grave ou ela tivesse risco de suicídio, eu teria marcado sessões mais frequentes.) Após dois meses, decidimos colaborativamente experimentar sessões quinzenais e depois sessões mensais. Mesmo após o término, planejamos sessões periódicas de “reforço” a cada três meses por um ano. No entanto, nem todos os pacientes têm sucesso suficiente em alguns poucos meses. Alguns deles precisam de um ou dois anos de terapia (ou possivelmente mais) para modificarem crenças disfuncionais muito rígidas e padrões de comportamento que contribuem para seu sofrimento crônico. Outros pacientes, com doença mental grave, podem precisar de tratamento periódico por um tempo muito longo para manterem a estabilização. Princípio no 8. As sessões de terapia cognitivo-comportamental são estruturadas. Independentemente do diagnóstico ou do estágio do tratamento, seguir uma determinada estrutura em cada sessão maximiza a eficiência e a eficácia. Essa estrutura inclui uma parte introdutória (fazer uma verificação do humor, examinar rapidamente a semana, definir colaborativamente uma pauta para a sessão), uma parte intermediária (examinar o exercício de casa, discutir os problemas da pauta, definir um novo exercício de casa, fazer resumos) e uma parte final (eliciar um feedback). Seguir esse formato faz o processo da terapia ser mais compreensível para os pacientes e aumenta a probabilidade de eles serem capazes de fazer a autoterapia após o término. Princípio no 9. A terapia cognitivo-comportamental ensina os pacientes a identificar, avaliar e responder aos seus pensamentos e crenças disfuncionais. Os pacientes podem ter dúzias ou até mesmo centenas de pensamentos automáticos por dia que afetam seu humor, comportamento e/ou fisiologia (a última é especialmente pertinente para a ansiedade). O terapeuta ajuda o paciente a identificar as principais cognições e a adotar perspectivas mais realistas e adaptativas, o que leva o paciente a se sentir melhor emocionalmente, se comportar com mais funcionalidade e/ou diminuir sua excitação psicológica. Isso é feito por meio do processo da descoberta guiada, usando o questionamento (frequentemente denominado, ou mal denominado, “questionamento socrático”) para avaliar seu pensamento (em vez da persuasão, do debate ou do convencimento). O terapeuta também cria experiências, chamadas experimentos comportamentais, para que o paciente teste diretamente seu pensamento (p. ex., “Basta olhar para a imagem de uma aranha e eu vou ficar tão ansioso que não vou conseguir pensar”). Dessa forma, o terapeuta se engaja no empirismo colaborativo. O terapeuta, em geral, não sabe antecipadamente até que ponto o pensamento automático de um paciente é válido ou inválido, mas juntos eles testam esse pensamento para desenvolver respostas mais úteis e adequadas. Quando Sally estava bem deprimida, tinha muitos pensamentos automáticos durante o dia, alguns dos quais ela relatava espontaneamente e outros que eu investigava (perguntando-lhe o que estava passando pela sua mente quando se sentiu perturbada ou agiu de uma maneira disfuncional). Com frequência, descobríamos pensamentos automáticos importantes enquanto estávamos discutindo um dos problemas específicos de Sally, e juntas investigávamos sua validade e utilidade. Eu lhe pedia que resumisse seus novos pontos de vista, e nós os registrávamos por escrito de modo que ela pudesse ler essas respostas adaptativas durante a semana para se preparar para esses ou outros pensamentos semelhantes.Eu não a encorajava a adotar sem crítica um ponto de vista mais positivo, nem questionava a validade dos seus pensamentos automáticos ou tentava convencê-la de que seu pensamento era irrealisticamente pessimista. Em vez disso, nós nos envolvíamos em uma exploração colaborativa das evidências. Princípio no 10. A terapia cognitivo-comportamental usa uma variedade de técnicas para mudar o pensamento, o humor e o comportamento. Embora estratégias cognitivas como o questionamento socrático e a descoberta guiada sejam centrais para a terapia cognitivo-comportamental, as técnicas comportamentais e de solução de problemas são essenciais, assim como são as técnicas de outras orientações que são implementadas dentro de uma estrutura cognitiva. Por exemplo, usei técnicas inspiradas na Gestalt para ajudar Sally a entender como sua família contribuiu para o desenvolvimento da sua crença de que era incompetente. Utilizo técnicas inspiradas na psicodinâmica com alguns pacientes do Eixo II que aplicam suas ideias distorcidas sobre as pessoas na relação terapêutica. Os tipos de técnicas que você escolhe serão influenciados pela sua conceituação do paciente, pelo problema que vocês estão discutindo e pelos seus objetivos para a sessão. Esses princípios básicos se aplicam a todos os pacientes. No entanto, a terapia varia consideravelmente de acordo com cada paciente, com a natureza das suas dificuldades e seu momento de vida, assim como seu nível intelectual e de desenvolvimento, seu gênero e origem cultural. O tratamento também varia dependendo dos objetivos do paciente, da sua capacidade para desenvolver um vínculo terapêutico consistente, da sua motivação para mudar, sua experiência prévia com terapia e suas preferências de tratamento, entre outros fatores. A ênfase no tratamento também depende do(s) transtorno(s) específico(s) do paciente. A terapia cognitivo-comportamental para o transtorno de pânico envolve o teste das falsas interpretações catastróficas do paciente (geralmente predições errôneas de ameaça à vida ou à sanidade) de sensações corporais ou mentais (Clark, 1989). A anorexia requer uma modificação de crenças sobre valor pessoal e controle (Garner e Bemis, 1985). O tratamento do abuso de substância tem seu foco nas crenças negativas sobre si e na facilitação ou concordância com algumas crenças que justificam o abuso de substância (Back, Wright, Newman e Liese, 1993). COMO É UMA SESSÃO? A estrutura das sessões terapêuticas é bem parecida para os vários transtornos, mas as intervenções podem variar consideravelmente de paciente para paciente. (O site da Academia de Terapia Cognitiva [www.academyofct.org] apresenta uma lista de livros que descrevem a formulação cognitiva, as principais ênfases, estratégias e técnicas para uma ampla gama de diagnósticos, variáveis dos pacientes e formatos e contextos de tratamento.) A seguir, é feita uma descrição geral de sessões de tratamento e do curso deste, especialmente com pacientes que estão deprimidos. No início das sessões, você irá restabelecer a aliança terapêutica, checar o humor, os sintomas e experiências do paciente durante a semana que passou e pedir que nomeie os problemas que mais deseja ajuda para resolver. Essas dificuldades podem ter surgido durante a semana e/ou podem ser problemas que ele espera encontrar na(s) próxima(s) semana(s). Você também irá examinar as atividades de autoajuda (“exercícios de casa” ou “plano de ação”) em que o paciente se envolveu desde a última sessão. A seguir, na discussão de um problema específico que o paciente colocou na pauta, você vai coletar dados a respeito do problema, conceituar cognitivamente as dificuldades do paciente (perguntando sobre seus pensamentos, emoções e comportamentos específicos associados ao problema) e planejar colaborativamente uma estratégia. Na maioria das vezes, a estratégia inclui a solução objetiva e direta do problema, avaliação do pensamento negativo associado ao problema e/ou mudança no comportamento. Por exemplo, Sally, uma estudante universitária, está tendo dificuldades com os estudos. Ela precisa de ajuda para avaliar e responder aos seus pensamentos (“De que adianta? De qualquer forma eu vou ser reprovada.”) antes de ser capaz de se engajar inteiramente na solução do seu problema com os estudos. Eu me asseguro de que Sally tenha adotado uma visão mais adequada e adaptativa das situações e tenha decidido quais as soluções a implementar na semana seguinte (p. ex., começar por exercícios relativamente mais fáceis, resumir mentalmente o que leu após a cada página ou duas de leitura, planejar sessões de estudo mais curtas, fazer caminhadas quando faz intervalos e pedir ajuda ao professor assistente). A nossa sessão prepara as condições para que Sally faça as mudanças no seu pensamento e comportamento durante a semana seguinte, o que, por sua vez, levará a uma melhora no seu humor e funcionamento. Após discutirmos um problema e definirmos colaborativamente um exercício para fazer em casa, Sally e eu nos voltamos para um segundo problema que ela colocou na pauta e repetimos o processo. Ao fim de cada sessão, revisamos os pontos importantes. Eu me asseguro de que Sally muito provavelmente realizará os exercícios de casa prescritos e solicito seu feedback sobre a sessão. http://www.academyofct.org O DESENVOLVIMENTO DE UM TERAPEUTA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL Para um observador não treinado, a terapia cognitivo-comportamental às vezes dá a falsa impressão de ser muito simples. O modelo cognitivo, a proposição de que o pensamento de um indivíduo influencia as suas emoções e seu comportamento, é bastante simples. Entretanto, os terapeutas cognitivo-comportamentais experientes realizam muitas tarefas de uma vez: conceituam o caso, desenvolvem o rapport, familiarizam e educam o paciente, identificam problemas, coletam dados, testam hipóteses e fazem resumos periódicos. O terapeuta cognitivo- comportamental iniciante, em contraste, geralmente precisa ser mais cuidadoso e estruturado, concentrando-se em menos elementos por vez. Embora o objetivo final seja entrelaçar esses elementos e conduzir a terapia da forma mais efetiva e eficiente possível, os iniciantes devem primeiro aprender a habilidade de desenvolvimento da relação terapêutica, a habilidade de conceituação e as técnicas da terapia cognitivo-comportamental; todas elas serão mais bem realizadas se feitas gradualmente. O desenvolvimento de expertise como terapeuta cognitivo-comportamental pode ser visto em três estágios. (Essas descrições presumem que o terapeuta já seja proficiente em habilidades de aconselhamento básico: escuta, empatia, preocupação, respeito e autenticidade, bem como compreensão adequada, reflexão e capacidade de resumir. Os terapeutas que ainda não têm essas habilidades frequentemente provocam uma reação negativa por parte dos pacientes.) No Estágio 1, você aprende as habilidades básicas de conceituação de caso em termos cognitivos com base na avaliação inicial e em dados coletados na sessão. Você também aprende a estruturar a sessão, a usar sua conceituação do paciente e o bom senso para planejar o tratamento e ajudá-lo a resolver problemas e a encarar seus pensamentos disfuncionais de forma diferente. Você também aprende a usar técnicas cognitivas e comportamentais básicas. No Estágio 2, você se torna mais proficiente na integração da sua conceituação ao seu conhecimento das técnicas. Você fortalece sua habilidade para compreender o fluxo da terapia. Passa a identificar com maior facilidade os objetivos principais do tratamento e torna-se mais hábil na conceituação dos pacientes, aprimorando sua conceituação durante a própria sessão e usando a conceituação para tomar decisões quanto às intervenções. Você amplia seu repertório de técnicas e torna-se mais proficiente na seleção, identificação do momento adequado e implementação de técnicas apropriadas. No Estágio 3, você integra mais automaticamente os dados novos à conceituação. Você aperfeiçoa sua habilidade de formulação de hipóteses para confirmar
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