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COMPANHIA CEARENSE DE TRANSPORTES METROPOLITANOS METRÔ DE SOBRAL AUXILIAR OPERACIONAL ASSISTENTE OPERACIONAL ASSISTENTE CONDUTOR ASSISTENTE CONTROLADOR DE MOVIMENTO LÍNGUA PORTUGUESA Prof. Yvantelmack MATEMÁTICA Prof. Oscar Queiroz CONHECIMENTOS GERAIS Prof. Ávila CONTÉM: Teoria Dicas Exercícios por assunto 2019 Copyright 2019 – DIN.CE Edições Técnicas. Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei nº 9.610/98. Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio, sem autorização expressa e por escrito dos autores e da editora. METROFOR SOBRAL – 240p Capa: Irisena Diagramação: Irisena / Carlos Ilustração: Organizadores Impressão: Gráfica DIN.CE Editoração Gráfica: Arisson Acabamento: Joilson / Toião Revisão: Organizadores Supervisão editorial: Vanques de Melo NOTA DA EDITORA: As informações e opiniões apresentadas nesta apostila são de inteira responsabilidade dos autores e/ou organizadores das respectivas matérias. A Editora DIN.CE se responsabiliza apenas pelos vícios do produto no que se refere à sua edição, considerando a impressão e apresentação. Vícios de atualização, revisão ou opiniões são de responsabilidade do(s) autor(res) ou organizador(res), respondendo este(s) pelas sanções previstas na lei. NOTA DO(S) AUTOR(ES) ORGANIZADOR(ES) A matéria ora apresentada nesta apostila tem como objetivo auxiliar ao candidato na preparação ao cargo almejado. Todo o seu conteúdo é abordado de forma objetiva e resumida. O que nem sempre é suficiente para lograr o êxito almejado, qual seja, a aprovação. Sendo assim, sugerimos ao candidato que, sempre que possível, busque outras fontes de consulta. ATENÇÃO!! Possíveis alterações e correções deste material estarão disponíveis no site: www.editorardince.com.br ATENDIMENTO AO CONSUMIDOR: Dúvidas, reclamações e sugestões (85) 3231.6298/ 9.8632.4802 (WatsApp) din.ce@hotmail.com / publicvendas@hotmail.com Rua Barão do Rio Branco, 1620 - Centro CEP: 60.025-060 - Fortaleza - Ceará http://www.editorardince.com.br/ mailto:din.ce@hotmail.com mailto:publicvendas@hotmail.com PREZADO(A) CONCURSANDO(A), Você está adquirindo um produto elaborado por professores que atuam em cursinhos preparatório nas respectivas áreas, portanto, confiável e de procedência. Todavia, por se tratar de apostila, é um material resumindo, porém, de significativa importância. No entanto, sugerimos, como forma de melhor preparo, a leitura de outras fontes tais como livros específicos, resumos e exercícios. Nosso objetivo é prepara-lo(a) para uma aprovação. Possíveis falhas de impressão ou mesmo de digitação podem ocorrer. Assim, caso o(a) prezado(a) constate ou mesmo tenha dúvida em algum conteúdo ou gabarito, entre em contato pelo e-mail dos professores ou diretamente pelo da editora din.ce@hotmial.com que lhe responderemos imediatamente. Também existe site www.editoradince.com.br onde serão disponibilizadas possíveis correções ou atualizações deste material. No mais, desejamos boa sorte e que Deus lhe abençoe. Fale conosco: din.ce@hotmail.com / publicvendas@hotmail.com Ou ainda: (85) 3231.6298/ 98632.4802 (WatsApp) NOSSOS PROFESSORES Prof. Adeildo Oliveira Prof. Augusto Sá Prof. Augusto César Prof. Àvila Queiroz Prof. Brando Pro. Italo Trigueiro Prof. Ilan Rodrigues Prof. Janilson Santos Prof. Joanilson Jr. Profª. Lúcia Sena Prof. Oscar Queiroz Profa. Nádia Vasconcelos Prof. Pedro Evaristo Prof. Sérgio Feitosa Prof. Valdeci Cunha Prof. Wezeck Nogueira Prof. Walber Siqueira Tens tu fé? Tem-na em ti mesmo diante de Deus. Bem-aventurado aquele que não se condena a si mesmo naquilo que aprova. (Romanos 14) Bem aventura o homem que não anda segundo o caminho dos ímpios, nem se detém no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores. Antes tem o seu prazer na lei do SENHOR, e na sua lei medita de dia e de noite. (Salmo, 1.2 e 2) Por isso vos digo que todas as coisas que pedires, orando, crede receber e tê-las-ei (Marcos, 11.24) mailto:din.ce@hotmial.com http://www.editoradince.com.br/ mailto:din.ce@hotmail.com mailto:publicvendas@hotmail.com LÍNGUA PORTUGUESA 1 www.editoradince.com.br. Acesse e veja se há novidades a respeito deste material LL ÍÍNNGGUU AA PPOORRTTUUGGUUEESSAA Teoria, dicas e exercícios por assunto (inclusive de provas da banca UVANET) Prof. Ms.Yvantelmack Dantas Graduado em Letras e Mestre em Linguística pela Universidade Federal do Ceará. CONTEÚDO PROGRAMÁTICO: Compreensão de textos. .................................................. 1 Reescrita de passagens do texto. .................................... 2 Denotação e conotação. .................................................. 1 Ortografia: emprego das letras e acentuação gráfica. ... 13 Classes de palavras e suas flexões. .............................. 10 Processo de formação de palavras. ............................... 13 Verbos: conjugação, emprego dos tempos, modos e vo- zes verbais. .............................................................. 32 Concordâncias nominal e verbal. ................................... 50 Regências nominal e verbal. .......................................... 58 Emprego do acento indicativo da crase. ........................ 44 Colocação dos pronomes. .............................................. 25 Emprego dos sinais de pontuação. ................................ 48 Semântica: sinonímia, antonímia, homonímia, paronímia, polissemia e figuras de linguagem. .......................... 61 Coletivos. ....................................................................... 53 Funções sintáticas de termos e de orações. .................. 45 Processos sintáticos: subordinação e coordenação. ..... 45 Questões de provas UVANET ...................................... 64 COMPREENSÃO E INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS. Os concursos apresentam questões interpretativas que têm por finalidade a identificação de um leitor autô- nomo. Portanto, o candidato deve compreender os níveis estruturais da língua por meio da lógica, além de necessi- tar de um bom léxico internalizado. As frases produzem significados diferentes de acordo com o contexto em que estão inseridas. Torna-se, assim, necessário sempre fazer um confronto entre todas as partes que compõem o texto. Além disso, é fundamental apreender as informações apresentadas por trás do texto e as inferências a que ele remete. Este procedimento justifica-se por um texto ser sempre produto de uma postura ideológica do autor diante de uma temática qualquer. DENOTAÇÃO E CONOTAÇÃO Sabe-se que não há associação necessária entre significante (expressão gráfica, palavra) e significado, por esta ligação representar uma convenção. É baseado neste conceito de signo linguístico (significante + signifi- cado) que se constroem as noções de denotação e cono- tação. O sentido denotativo das palavras é aquele en- contrado nos dicionários, o chamado sentido verdadeiro, real. Já o uso conotativo das palavras é a atribuição de um sentido figurado, fantasioso e que, para sua compre- ensão, depende do contexto. Sendo assim, estabelece- se, numa determinada construção frasal, uma nova rela- ção entre significante e significado. Os textos literários exploram bastante as constru- ções de base conotativa, numa tentativa de extrapolar o espaço do texto e provocar reações diferenciadas em seus leitores. Ainda com base no signo linguístico, encon- tra-se o conceito de polissemia (que tem muitas significa- ções). Algumas palavras, dependendo do contexto, as- sumem múltiplos significados, como, por exemplo, a pala- vra ponto: ponto de ônibus, ponto de vista, ponto final, ponto de cruz ... Neste caso, não se está atribuindo um sentido fantasiosoà palavra ponto, e sim ampliando sua significação através de expressões que lhe completem e esclareçam o sentido. COMO LER E ENTENDER BEM UM TEXTO Basicamente, deve-se alcançar a dois níveis de lei- tura: a informativa e de reconhecimento e a interpretativa. A primeira deve ser feita de maneira cautelosa por ser o primeiro contato com o novo texto. Desta leitura, extraem- se informações sobre o conteúdo abordado e prepara-se o próximo nível de leitura. Durante a interpretação propri- amente dita, cabe destacar palavras-chave, passagens importantes, bem como usar uma palavra para resumir a ideia central de cada parágrafo. Este tipo de procedimento aguça a memória visual, favorecendo o entendimento. Não se pode desconsiderar que, embora a inter- pretação seja subjetiva, há limites. A preocupação deve ser a captação da essência do texto, a fim de responder às interpretações que a banca considerou como pertinen- tes. No caso de textos literários, é preciso conhecer a ligação daquele texto com outras formas de cultura, ou- tros textos e manifestações de arte da época em que o autor viveu. Se não houver esta visão global dos momen- tos literários e dos escritores, a interpretação pode ficar comprometida. Aqui não se podem dispensar as dicas que aparecem na referência bibliográfica da fonte e na identificação do autor. A última fase da interpretação con- centra-se nas perguntas e opções de resposta. Aqui são fundamentais marcações de palavras como não, exceto, errada, respectivamente etc. que fazem diferença na escolha adequada. Muitas vezes, em interpretação, trabalha-se com o conceito do "mais adequado", isto é, o que responde melhor ao questionamento proposto. Por isso, uma res- posta pode estar certa para responder à pergunta, mas não ser a adotada como gabarito pela banca examinadora por haver uma outra alternativa mais completa. Ainda cabe ressaltar que algumas questões apresentam um fragmento do texto transcrito para ser a base de análise. Nunca deixe de retornar ao texto, mesmo que apa- rentemente pareça ser perda de tempo. A descontextuali- zação de palavras ou frases, certas vezes, são também um recurso para instaurar a dúvida no candidato. Leia a frase anterior e a posterior para ter ideia do sentido global proposto pelo autor, desta maneira a resposta será mais consciente e segura. NÍVEL LITERAL E INFERENCIAL Observe a seguinte frase: Fiz faculdade, mas aprendi algumas coisas. Nela o falante transmite duas informações de ma- neira explícita: a) que ele frequentou um curso superior; b) que ele aprendeu algumas coisas. Ao ligar essas duas informações com um ―mas‖ comunica também de modo implícito sua crítica ao siste- ma de ensino superior, pois a frase passa a transmitir a ideia de que nas faculdades não se aprende nada. Um dos aspectos mais intrigantes da leitura de um texto é a verificação de que ele pode dizer coisas que parece não estar dizendo: além das informações explici- http://concursos.uvanet.br/ 2 LÍNGUA PORTUGUESA www.editoradince.com.br. Acesse e veja se há novidades a respeito deste material tamente enunciadas, existem outras que ficam subenten- didas ou pressupostas. Para realizar uma leitura eficiente, o leitor deve captar tanto os dados explícitos quanto os implícitos. Leitor perspicaz é aquele que consegue ler nas en- trelinhas. Caso contrário, ele pode passar por cima de significados importantes e decisivos ou – o que é pior – pode concordar com coisas que rejeitaria se as percebes- se. Não é preciso dizer que alguns tipos de texto ex- ploram, com malícia e com intenções falaciosas, esses aspectos subentendidos e pressupostos. Que são pressupostos? São aquelas ideias não expressas de maneira explícita, mas que o leitor pode perceber a partir de certas palavras ou expressões conti- das na frase. Assim, quando se diz ―O tempo continua chuvoso‖, comunica-se de maneira explícita que no momento da fala o tempo é de chuva, mas, ao mesmo tempo, o verbo ―continuar‖ deixa perceber a informação implícita de que antes o tempo já estava chuvoso. Na frase ―Pedro deixou de fumar‖ diz-se explicita- mente que, no momento da fala, Pedro não fuma. O verbo ―deixar‖, todavia, transmite a informação implícita de que Pedro fumava antes. A informação explícita pode ser questionada pelo ouvinte, que pode ou não concordar com ela. Os pressu- postos, no entanto, têm que ser verdadeiros ou pelo me- nos admitidos como verdadeiros, porque é a partir deles que se constroem as informações explícitas. Se o pressu- posto é falso, a informação não tem cabimento. No exem- plo acima, se Pedro não fumava antes, não tem cabimen- to afirmar que ele deixou de fumar. Na leitura e interpretação de um texto, é muito im- portante detectar os pressupostos, pois seu uso é um dos recursos argumentativos utilizados com vistas a levar o ouvinte ou o leitor a aceitar o que está sendo comunicado. Ao introduzir uma ideia sob a forma de pressuposto, o falante transforma o ouvinte em cúmplice, uma vez que essa ideia não é posta em discussão e todos os argumen- tos subsequentes só contribuem para confirmá-la. Por isso pode-se dizer que o pressuposto aprisiona o ouvinte ao sistema de pensamento montado pelo falan- te. A demonstração disso pode ser encontrada em muitas dessas ―verdades‖ incontestáveis postas como base de muitas alegações do discurso político. Tomemos como exemplo a seguinte frase: É preciso construir mísseis nucleares para defen- der o Ocidente de um ataque soviético. O conteúdo explícito afirma: - a necessidade de construção de mísseis; - com a finalidade de defesa contra o ataque sovié- tico. O pressuposto, isto é, o dado que não se põe em discussão é: os soviéticos pretendem atacar o Ocidente. Os argumentos contra o que foi informado explici- tamente nessa frase podem ser: - os mísseis não são eficientes para conter o ata- que soviético; - uma guerra de mísseis vai destruir o mundo intei- ro e não apenas os soviéticos; - a negociação com os soviéticos é o único meio de dissuadi-los de um a taque ao Ocidente. Como se pode notar, os argumentos são contrários ao que está dito explicitamente, mas todos eles confir- mam o pressuposto, isto é, todos os argumentos aceitam que os soviéticos pretendem atacar o Ocidente. A aceitação do pressuposto é o que permite levar à frente o debate. Se o ouvinte disser que os soviéticos não têm intenção nenhuma de atacar o Ocidente, estará negando o pressuposto lançado pelo falante e então a possibilidade de diálogo fica comprometida irreparavel- mente. Qualquer argumento entre os citados não teria nenhuma razão de ser. Isso quer dizer que, com pressu- postos distintos, não é possível o diálogo ou não tem ele sentido algum. Pode-se contornar esse problema tornan- do os pressupostos afirmações explícitas, que então po- dem ser discutidas. Os pressupostos são marcados, nas frases, por meio de vários indicadores linguísticos, como, por exem- plo: a) certos advérbios Os resultados da pesquisa ainda não chegaram até nós. Pressuposto: Os resultados já deviam ter chega- do. ou Os resultados vão chegar mais tarde. b) certos verbos O caso do contrabando tornou-se público. Pressuposto: O caso não era público antes. c) as orações adjetivas Os candidatos a prefeito, que só querem defender seus interesses, não pensam no povo. Pressuposto: Todos os candidatos a prefeito têm interesses individuais. Mas a mesma frase poderia ser redigida assim: Os candidatos a prefeito que só querem defender seus interesses não pensam no povo. No caso, o pressuposto seria outro: Nem todos os candidatos a prefeito têm interesses individuais. No primeiro caso, a oração é explicativa; no se- gundo, é restritiva. As explicativas pressupõem que o que elas expressam refere-se a todos os elementos de um dado conjunto; as restritivas, que o que elas dizem con- cerne a parte dos elementos de um dado conjunto.d) os adjetivos Os partidos radicais acabarão com a democracia no Brasil. Pressuposto: Existem partidos radicais no Brasil. REESCRITA DE PASSAGENS DO TEXTO Reescrever um texto significa moldá-lo, visando a perfeição. Antes de discorrermos acerca de um assunto tão importante, convidamos você, caro (a) usuário (a), a se enlevar mediante as palavras do grandioso mestre de nossas letras, João Cabral de Melo Neto, que, por meio de uma metalinguagem, cumpre bem seu trabalho de lidar com as palavras e deixar claro para nós, leitores, quão grandioso e magnífico é o exercício da escrita. Voltemo- nos a elas, portanto: Catar feijão 1. Catar feijão se limita com escrever: joga-se os grãos na água do alguidar e as palavras na folha de papel; e depois, joga-se fora o que boiar. LÍNGUA PORTUGUESA 3 www.editoradince.com.br. Acesse e veja se há novidades a respeito deste materialw Certo, toda palavra boiará no papel, água congelada, por chumbo seu verbo: pois para catar esse feijão, soprar nele, e jogar fora o leve e oco, palha e eco. 2. Ora, nesse catar feijão entra um risco: o de que entre os grãos pesados entre um grão qualquer, pedra ou indigesto, um grão imastigável, de quebrar dente. Certo não, quando ao catar palavras: a pedra dá à frase seu grão mais vivo: obstrui a leitura fluviante, flutual, açula a atenção, isca-a como o risco. Poema intitulado “Catar feijão”, parte consti- tuinte do livro “Educação pela pedra”, publicado em 1965. A comparação ora estabelecida parece casar per- feitamente diante daquele momento em que as ideias são elencadas. No entanto, é preciso ser hábil para escolher palavra por palavra, de modo a fazer com que o discurso (as orações, os períodos, os parágrafos) torne-se claro e preciso, atendendo às expectativas de nosso interlocutor. Dessa forma, como aqueles grãos que boiam fora, desne- cessários por sinal, algumas palavras também parecem não se encaixar, pois por um motivo ou outro acabam escapando aos nossos olhos. O porquê de escaparem? É simples, haja vista que nesse momento essa habilidade antes mencionada entra em ação e, em meio a esse ínterim, conhecimentos de toda ordem parecem se relacionar, sejam eles de ordem ortográfica, semântica, sintática e, sobretudo, aqueles indispensáveis a todo bom redator: o conhecimento de mundo. Dada essa manifestação, é impossível não abordar um procedimento, tão útil quanto necessário: a reescrita textual. Acredite que, por meio dele, você, enquanto emissor, encontrará os grãos pesados entre um grão qualquer, pedra ou indigesto, um grão imastigável, de quebrar dente. Vale dizer, contudo, que essa reescrita não deve se dar somente no âmbito de corrigir aqueles possíveis erros... digamos assim... gramaticais. Importan- tes eles? Sim, sem dúvida alguma, mas não são tudo. Cumpre afirmar que a reescrita deve ir além, haja vista que nos permite reconhecer aquelas ―falhas‖ que certa- mente seriam reconhecidas por outra pessoa, sobretudo em se tratando do ―teor‖, da ―essência‖ discursiva. Tendo em vista que a coesão representa um dos principais aspectos na produção textual, muitas vezes, mediante a leitura daquilo que escrevemos, constatamos que os parágrafos não se encontram assim tão harmonio- samente ligados como deveriam. Às vezes, uma conjun- ção ali, um advérbio acolá e um pronome adiante não se encontram bem distribuídos. Outras vezes, perce- bemos uma quebra de simetria (revelada pela falta de paralelismo), em que uma ideia poderia ter sido ex- pressa de outra forma. Assim, de modo a constatar como esse aspecto assimétrico se manifesta na prática, analise o seguinte enunciado: A leitura é importante, necessária, útil e traz be- nefícios a todo emissor que deseja aprimorar ainda mais a competência discursiva. Inferimos que com o uso de ―traz benefícios‖ houve uma quebra de simetria dos adjetivos explicitados (impor- tante, necessária, útil...). Não que isso seja considerado uma falha de grande extensão, mas a ideia ficaria mais clara se outro adjetivo tivesse sido utilizado, justamente para acompanhar o raciocínio antes firmado, ou seja: A leitura é importante, necessária, útil e benéfi- ca a todo emissor que deseja aprimorar ainda mais a competência discursiva. Outro aspecto, não menos importante, materializa- se pela ―abundância‖ de orações intercaladas, as quais corroboram para a extensão da ideia, fazendo com que o interlocutor perca o ―fio da meada‖ e passe a não enten- der mais o que se afirma no início da oração. Dessa for- ma, para que fique um pouco mais claro, analisemos o parágrafo que segue, revelando ser um bom exemplo da ocorrência em questão: A leitura, esse importante instrumento – o qual o torna mais culto, mais apto a expressar seus pen- samentos –, pois amplia significativamente seu voca- bulário, contribui para o aperfeiçoamento da escrita. Tudo aquilo que se afirma acerca da eficácia da leitura, ainda que relevante, tornou extensa e cansativa a ideia abordada. Dessa forma, retificando a oração, pode- ríamos obter como essencial somente estes dizeres, os quais seguem expressos: A leitura contribui para o aperfeiçoamento da escrita. Mediante os pressupostos aqui elencados, acredi- tamos ter contribuído de forma significativa para que você aprimore ainda mais suas habilidades no que tange à construção textual. E que, por meio da reescrita de suas ideias, possa ser hábil em jogar fora o leve o oco, assim mesmo como ressalta nosso grande mestre, e reelabore seu discurso pautando-se na concretude das palavras, tornando-as claras, precisas, objetivas. EXERCÍCIOS 1 5 10 15 20 25 30 O tempo não é experiência. Pode ser escle- rose. Numa visão ligeira, envelhecer seria um caminhar no sentido do futuro - o que não corresponde à verdade. Caminhar em direção ao futuro é a característica do jo- vem, ocorrendo envelhecimento quando se inicia o processo inverso: a volta ao passado, sua preservação, dele se fazendo sempre mais dependente. No que envelhece, o risco é o hábito - a infindável repetição daquilo que foi antes uma resposta criadora. O perigo é a tensão inerente ao passado em buscar perpetuar-se, oferecendo as mesmas respostas a questões que agora são outras. Esta, a ameaça do passado. Mas há outro ângulo. O passado não se acumula somente sob a forma de hábito, mas, virtualmente, introduz a possibilidade da memória. E se o hábito faz com que se repitam mecanicamente respos- tas caducas, a memória é o potencial criador sempre disponível com o qual a história pode contar. O jovem está, num certo limite, livre de um passado que ameace escravizá-lo - simples- mente por não existir ou por não ter atingido a intensidade necessária. Na aparência - como se isso não dependesse de uma posi- ção do espírito - sendo o Brasil um país jo- vem, estaríamos menos próximos dos peri- gos da esclerose. Mas com o que podemos contar? Já foi dito, de resto, ser o Brasil um 4 LÍNGUA PORTUGUESA www.editoradince.com.br. Acesse e veja se há novidades a respeito deste material 35 país sem memória. Nosso ceticismo destruiria esta considera- ção - no sentido de levar em conta - com relação ao passado. Parece que estamos condenados a sempre partir do zero. (GOMES, Roberto. Crítica da Razão Tupiniquim. Porto Alegre, RS: Mercado Aberto, 7ª ed. 1984) Em relação às ideias do texto, julgue os itens que se se- guem. 001 ( ) O autor estabelece uma visão antitética em rela- ção ao conceito usual de tempo. 002 ( ) Envelhecimento é a dependência em relação ao passado. 003 ( ) Pode-se inferir que o jovem, para manter-se fiel a suas características, preserva incólumes os valores herdados dos antepassados. 004 ( ) Hábito e memória excluem-se, na medida em que o hábito é pura repetição, enquanto a memória abre possibilidades criadoras. 005 ( ) Experiência, esclerose,passado, futuro e enve- lhecer, no texto, pertencem ao mesmo campo semân- tico. 006 ( ) Virtualmente (linha 18) poderia ser substituído por potencialmente ou factivelmente, sem alterar subs- tancialmente o sentido do texto. 007 ( ) "Sendo o Brasil um país jovem", linhas 29-30, instaura uma condição concessiva em relação à ora- ção seguinte. 008 ( ) Ceticismo, linha 34, liga-se semanticamente a sem memória, na linha 33. 1 5 10 15 20 25 30 35 Em 10 de dezembro de 1948, a Assembléia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) aprovou a Declaração Universal dos Direitos Humanos, ainda como parte das atividades inaugurais da organização, funda- da em 1945, visando construir um tempo novo para a humanidade. A Declaração está aí, porém quantos a co- nhecem na íntegra? No Brasil, por exemplo, o infeliz e absurdo slogan praticado por mui- tos, afirmando que ―direitos humanos são direitos de bandidos‖, tem servido para a justificação de todo tipo de absurdo cometi- do, negando o que é, na essência, ligado à proteção da vida e da dignidade humanas. ―Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos‖, enunciado do artigo primeiro, é, em si, um programa de trabalho praticamente inesgotável. Os desafios da construção solidária — porque trabalhada em conjunto, fortalecida, sólida — da liberdade e da igualdade, sob as oscila- ções decorrentes da ordem mundial, passan- do da bipolaridade para as polaridades difu- sas ou múltiplas polaridades, demonstram que a Declaração estabeleceu apenas dire- ções, que têm ajudado a humanidade a manter-se, minimamente, no caminho da sobrevivência. Em tempos de violência, tão globalizada como a economia, há os que colocam sob suspeita e risco o respeito aos direitos hu- manos. Erro brutal, porque, se faltarem até os mínimos que a consciência humana esta- beleceu para si mesma, não se terá mais a 40 base comum sobre a qual caminhar. Roseli Fischmann. Correio Braziliense, 10/12/2001 (com adaptações). Em relação às ideias do texto, julgue os itens que se se- guem. 009 ( ) Pela argumentação do texto, depreende-se que a autora considera a Declaração Universal dos Direitos Humanos uma ideia insuficiente para construir um tempo de paz e que deve ser substituída por outro do- cumento mais radical contra a violência. 010 ( ) Segundo o texto, a Declaração Universal dos Direitos Humanos é abrangente, mas detalhada e mi- nuciosa, de modo a oferecer diretrizes específicas e concretas para aplicação localizada e imediata. 011 ( ) De acordo com a argumentação do texto, infere- se que o conceito de globalização restringe-se aos as- pectos financeiros e econômicos das diversas nações. 012 ( ) Conforme o texto, a humanidade, para preservar suas possibilidades de sobrevivência, precisa respeitar os objetivos mínimos de liberdade e igualdade que es- tabeleceu para si como uma base comum. 013 ( ) Infere-se do texto que muitos acreditam que os marginais, os delinquentes, os transgressores da lei não são dignos de exigirem para si os direitos huma- nos aplicáveis aos cidadãos honestos. 1 5 10 15 20 25 30 35 A maioria dos comentários sobre crimes ou se limitam a pedir de volta o autorita- rismo ou a culpar a violência do cinema e da televisão, por excitar a imaginação criminosa dos jovens. Poucos pensam que vivemos em uma sociedade que estimula, de forma sistemática, a passividade, o rancor, a impotência, a inveja e o senti- mento de nulidade nas pessoas. Não po- demos interferir na política, porque nos ensinaram a perder o gosto pelo bem comum; não podemos tentar mudar nos- sas relações afetivas, porque isso é as- sunto de cientistas; não podemos, enfim, imaginar modos de viver mais dignos, mais cooperativos e solidários, porque isso é coisa de ―obscurantista, idealista, perdedor ou ideólogo fanático‖, e o mun- do é dos fazedores de dinheiro. Somos uma espécie que possui o poder da imaginação, da criatividade, da afirma- ção e da agressividade. Se isso não pode aparecer, surge, no lugar, a reação cega ao que nos impede de criar, de colocar no mundo algo de nossa marca, de nosso desejo, de nossa vontade de poder. Quem sabe e pode usar — com firmeza, agressi- vidade, criatividade e afirmatividade — a sua capacidade de doar e transformar a vida, raramente precisa matar inocentes, de maneira bruta. Existem mil outras ma- neiras de nos sentirmos potentes, de nos sentirmos capazes de imprimir um curso à vida que não seja pela força das armas, da violência física ou da evasão pelas drogas, legais ou ilegais, pouco importa. Jurandir Freire Costa. In: Quatro autores em busca do Brasil. Rio de Janeiro: Rocco, 2000, p. 43 (com adaptações). Acerca das ideias do texto, julgue os seguintes itens. LÍNGUA PORTUGUESA 5 www.editoradince.com.br. Acesse e veja se há novidades a respeito deste materialw 014 ( ) Muitos acreditam que a censura aos meios de comunicação seria uma forma de reduzir a violência entre jovens. 015 ( ) A argumentação do texto põe em confronto atitu- des possíveis: uma que se caracteriza por passividade e impotência, outra, por resistência criativa. 016 ( ) O trecho ―Não podemos (...) dinheiro‖ (linhas 9-19) apresenta exemplificações que funcionam como ar- gumentos para a afirmação do período que o antece- de. 017 ( ) Infere-se do texto que o autor culpa a violência do cinema e da televisão pela disseminação da violência nos dias atuais. 018 ( ) De acordo com as ideias defendidas no texto, as formas positivas de dar sentido à vida e experimentar a sensação de poder vinculam-se à maneira como se usa a capacidade de doação e de transformação. PARÁFRASE Em poucas palavras poderíamos dizer que a pará- frase é a sinonímia frasal. Assim como ocorre de algumas palavras apresentarem sentidos bastante aproximados (querer/desejar, preceisar/necessitar etc), percebemos a ocorrência desse fenômeno entre frases, eis aí a paráfra- se. Tomemos< por exemplo, a seguinte frase: Márcio construiu duas casas no ano passado. Como sabemos temos aí o verbo na voz ativa. Se transpusermos a frase acima para a voz passiva: Duas casas foram construídas por Márcio no ano passado. alteraremos as relações sintáticas, no entanto manteremos as relações semânticas (sentido). Explicando melhor: no primeiro exemplo temos um agente (Márcio), uma ação (construir) e um paciente (produto da ação: duas casas). Todas essas relações se mantêm no segun- do exemplo. Podemos afirmar então que ambas as frases apresentam os mesmos valores semânticos, embora apresentem estruturas gramaticais diferentes. Vale lem- brar que qualquer mudança na estrutura gramatical impli- cará mudança de sentido por mínima e imperceptível que seja, não há; portanto, paráfrases perfeitas. Vejamos alguns casos em que ocorre paráfrase: a) a relação voz ativa/voz passiva: Pedro matou João./João foi morto por Pedro. b) a construção de comparativo de igualdade: Pedro é tão bom quanto José./José é tão bom quanto Pedro. c) a construção dos comparativos de superiodade e inferi- oridade, formulados nos dois sentidos: Pedro é mais esperto do que José./José é menos esperto que Pedro. d) a construção com ter/a construção com ser de: Pedro tem João como amigo./João é amigo de Pedro. e) construções nominalizadas/construções não- nominalizadas: Primeiro o coral cantou o hino, depois a banda executou a marcha fúnebre./ O canto do hino pelo coral foi seguido pela execução da marcha fúnebre pela banda. f) construção com mesmo: Wladimir Zatopek corre 3000 metros no mesmo tempo que o irmão do João./O irmão do João corre os 3000 metros no mesmo tempo que Wladimir Zatopek. g) paráfrase lexical e estrutural ao mesmo tempo: O camelô vendeu-me este descascador de batatas que não funciona./Compreido camelô este descascador de batatas que não funciona. PERÍFRASE A perífrase consiste, basicamente, em dizer o mesmo com mais palavras. Assim temos perífrase nas relações entre: a. Tempos simples e compostos Paulo comprara um carro. Paulo havia comprado um carro. b. Adjetivo e locução adjetiva Minha irmã tem um gênio diabólico. Minha irmã tem um gênio de diabo c. Adjetivo e oração subordinada adjetiva Pessoas provenientes das camadas sociais inferiores. Pessoas que provêm das camadas sociais inferiores. d. Antonomásias Tiradentes morreu enforcado. O mártir da independência morreu enforcado. Não é possível fazermos uma lista exaustiva dos casos de perífrase, portanto, lembremos do princípio: dizer o mesmo com mais palavras. RESUMO O resumo consiste em reduzir o texto às informa- ções principais nele contidas, em certa medida, é o con- trário da perífrase. É evidente que um resumo não mante- rá os mesmos sentidos do texto original, no entanto ele deve dar uma ideia clara daquilo que é central no texto resumido. Veja o texto seguinte: Acompanhado por seus assistentes, o famoso ci- rurgião, personalidade respeitada em todo o mundo, de- sembarcou, nas primeiras horas da manhã, na cidade de Santos, convidado pelas mais altas autoridades do país. Poderíamos resumi-lo em: O famoso cirurgião desembarcou na cidade de Santos. Observe que expressões explicativas, adverbiais, apositivas constituem especificações importantes para o texto, no entanto dispensáveis no resumo. Resumindo: o resumo mantém as ideias originais do texto sem seus acessórios. EXERCÍCIOS 1 5 Um traço que deve caracterizar o ser humano, ainda não embrutecido pela pró- pria fraqueza ou pela realidade tremenda, é a liberdade que ele se reserva de opor ao evento defeituoso, à situação decepcionan- 6 LÍNGUA PORTUGUESA www.editoradince.com.br. Acesse e veja se há novidades a respeito deste material 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 te, uma força contraditória. Essa força poderia chamar-se esperança; esperança de que aquilo que não é, que não existe, possa vir a ser; uma espera, no sonho, de que algo se mova para a frente, para o futuro, tornando realidade aquilo que pre- cisa acontecer, aquilo que tem de passar a existir. Essa força talvez pudesse ser chamada, também, de sonho. Mas esse também seria um nome inadequado, porque um sonho escapa a nosso controle, impõe-se a nós tanto quanto se insinua sobre nós essa realidade manca ou sufocante que precisa ser mudada. E é necessário termos o con- trole dessa mudança, algum controle. So- nhar, apenas, não serve. Estaríamos mais perto do nome adequa- do a essa força de contradição se pensás- semos na imaginação, essa capacidade de superar os limites frequentemente medío- cres da realidade e penetrar no mundo do possível. Mas a imaginação necessária à execução daquilo que deve vir a existir não é a imaginação digamos comum, aquela que se alimenta apenas da vontade subje- tiva da pessoa e se volta unicamente para seu restrito campo individual. Tem de ser uma imaginação exigente, capaz de pro- longar o real existente na direção do futu- ro, das possibilidades; capaz de antecipar este futuro como projeção de um presente a partir daquilo que neste existe e é passí- vel de ser transformado. Mais: de ser me- lhorado. Essa imaginação exigente tem um no- me: é a imaginação utópica, ponto de con- tato entre a vida e o sonho. É ela que, até hoje pelo menos, sempre esteve presente nas sociedades humanas, apresentando-se como o elemento de impulso das inven- ções, das descobertas, mas, também, das revoluções. É ela que aponta para a pe- quena brecha por onde o sucesso pode surgir, é ela que mantém em pé a crença em uma outra vida. Explodindo os quadros minimizadores da rotina, dos hábitos circu- lares, é ela que, militando pelo otimismo, levanta a única hipótese capaz de nos manter vivos: mudar de vida. Teixeira Coelho. O que é utopia. São Paulo: Brasiliense, 1980, p. 7-9 (com adaptações). Julgue se os itens seguintes apresentam, por meio de estruturas gramaticalmente corretas, informações do texto. 019 ( ) São traços característicos da juventude: a liberda- de, a oposição à frágil realidade e a força contraditória de suas ações, além do sonho e da utopia. 020 ( ) Poder-se-ia chamar de esperança essa força que move o ser humano para a frente, para o futuro, em busca daquilo que precisaria acontecer, daquilo que passaria a existir. 021 ( ) Deveria-se nomear a imaginação comum de exi- gente, referindo à capacidade de superar os limites reais e de penetrar no mundo possível, do restrito campo individual. 022 ( ) É possível intitular-se de imaginação exigente a capacidade de antecipar um futuro mais promissor, a partir da projeção de um presente transformado. 023 ( ) Ponto de contato entre vida e sonho, a imagina- ção utópica esteve sempre presente nas sociedades humanas, como elemento de impulso das invenções, das descobertas e das revoluções. 1 5 10 Todos os direitos humanos são universais, indivisíveis, interdependentes e inter- relacionados. Esses são alguns dos princípios fundamentais da Declaração de Viena sobre os Direitos Humanos, fruto de conferência realizada naquela cidade, em 1993. A partir dessa conferência, várias ações para o forta- lecimento da cooperação internacional na área de direitos humanos vêm sendo consi- deradas como essenciais para a realização plena da cidadania nos planos nacional e internacional. Com base na visão atual dos direitos huma- nos, julgue os itens que se seguem. 024 ( ) Já não se pode mais justificar a inobservância dos direitos humanos com base em argumentos como o do relativismo cultural ou o de que os direitos humanos são valores ocidentais. 025 ( ) Não é possível garantir os direitos civis sem que haja a garantia dos direitos sociais. É preciso entender que os direitos humanos, apesar de separados por ar- tigos, em declarações, convenções e pactos, devem transmitir a noção do conjunto de condições para a sobrevivência e a dignidade do homem. 026 ( ) O direito ao desenvolvimento é também um direito humano e deve ser realizado de modo a satisfazer equitativamente as necessidades ambientais e de de- senvolvimento de gerações presentes e futuras. 027 ( ) A existência generalizada de situações de extre- ma pobreza e a insanidade econômica destrutiva que prioriza o lucro a qualquer custo inibem o pleno e efe- tivo exercício dos direitos humanos. 028 ( ) No Brasil, país dos mais violentos e com graves problemas no campo da preservação dos direitos hu- manos, tem havido ações no sentido de mudança desse quadro, constituindo exemplo disso a criação de uma Secretaria Nacional dos Direitos Humanos. 1 5 A educação vem a ser um dos eixos funda- mentais da construção da cidadania e da afirmação positiva de uma nação perante as demais. No Brasil, os padrões educacionais da população, ainda bastante limitados, vêm sofrendo alterações positivas e negativas nos últimos anos. A respeito dessa matéria, julgue os itens abaixo. 029 ( ) A herança histórica da escravidão, o crescente endividamento social interno e o desleixo das elites em relação à incorporação positiva daqueles posicio- nados na base da pirâmide social geraram a perver- são de se dotar o país com um sofisticado sistema de pós-graduação ao lado de uma educação básica ca- rente. 030 ( ) Apesar dos esforços da sociedade e do Estado nas últimas décadas, os índices de analfabetismo for- mal permaneceram estagnados. LÍNGUA PORTUGUESA 7 www.editoradince.com.br. Acesse e veja se há novidades a respeito deste materialw 031 ( ) A educação superior de bom nível está localizada, predominantemente, nas instituições públicas, mas a relação se invertequando se trata da educação bási- ca. 032 ( ) O sistema de avaliação implantado pelo Exame Nacional de Cursos (Provão), apesar das críticas que vêm sendo feitas à sua concepção e à sua metodolo- gia, vem permitindo a construção de uma certa radio- grafia dos resultados dos investimentos feitos pela so- ciedade e pelo Estado. PROCESSOS COESIVOS (COESÃO E COERÊN- CIA) Um texto não é um aglomerado de frases. Para que um conjunto de frases constitua um texto é necessá- rio que elas mantenham entre si uma ligação de sentido (coerência) e uma ligação material indicativa da ligação de sentido (coesão). É evidente que coerência e coesão são interdependentes, isto é, uma não existe sem a outra, dizendo de outro modo uma é causa e consequência da outra. Para realizarmos a ligação entre as diferentes par- tes do texto dispomos de diversos meios, um dos mais importantes é a referência, apontar para o que já foi dito ou para o que seria dito é o princípio básico da referência. A classe de palavra que melhor desempenha essa função é a dos pronomes, contudo outras classes também podem desempenhar essa função. Vejamos alguns casos importantes. a) a elipse – consiste em substituir, por nada, um termo ou expressão já apresentada. Muitos homens não sabem o que fazer com o dinheiro que têm, outros Ø não têm dinheiro para fazer o que sabem. c) a sinonímia – consiste em substituir, por um sinônimo, um termo ou expressão já citada. Um matador de aluguel foi preso em Jaguaruana. A polícia afirma que o pistoleiro é o responsável pela morte do prefeito daquela cidade. d) a hiponímia e a hiperonímia – acontecem quando substituímos um termo ou expressão por outra de sentido mais amplo (hiperônimo) ou mais restrito (hipônimo). Vimos o carro do ministro aproximar-se. Alguns minutos depois, o veículo estacionava diante do Palácio do Governo. O professor mandou os alunos desenharem qua- drados, retângulos e trapézios. Os quadriláteros en- contravam-se empilhados uns sobre os outros na mesa dianteira da sala... e) os pronomes – essas palavras são as que mais se prestam para a referência, na verdade a natureza do pronome é referencial. Os pais têm a esperança de que seus filhos lhes darão um futuro melhor que seu presente. Quando um elemento coesivo faz referência a dois ou mais elementos de tal modo que não possamos espe- cificar a qual dos dois a referência é feita, temos ambi- guidade. Sempre que viajava para a casa de Cristina, Marí- lia levava seus livros. (a quem pertencem os livros? A Cristina ou a Marília?) Quando diversos elementos de coesão fazem refe- rência a um mesmo termo ou expressão, temos uma cadeia coesiva. O escorpião sempre exerceu um estranho fascínio sobre os homens. Ø Já foi venerado por alguns povos da antiguidade e tem sua forma associada a um dos signos zodiacais. Sua capacidade de sobreviver até dois anos sem se alimentar, encerrado num vidro de laboratório, confere-lhe alguns recordes entre os seres vivos. Sua antiguidade também causa admiração: ele existe há cerca de 400 milhões de anos – e Ø pouco mudou desde aquela época. Quando molestado, Ø desfere uma terrí- vel ferroada com o aguilhão que tem dependurado na extremidade de sua cauda anelada. No texto acima, os elementos coesivos destacados referem-se todos ao termo O escorpião constituindo uma cadeia coesiva. Quando o referente de um elemento coesivo já foi citado, temos referência anafórica (anáfora); quando o referente surge no texto depois do elemento coesivo te- mos referência catafórica (catáfora). Morreremos no auge de nossa sabedoria. Essa angústia sempre nos acompanhará. (anáfora). Esta angústia sempre nos acompanhará: morre- remos no auge de nossa sabedoria. (catáfora) EXERCÍCIOS 1 5 10 15 20 25 30 35 Píndaro nos preveniu de que o futuro é muralha espessa, além da qual não pode- mos vislumbrar um só segundo. O poeta tanto admirava a força, a agilidade e a coragem de seus contemporâneos nas competições dos estádios quanto compre- endia a fragilidade dos seres humanos no curto instante da vida. Dele é a constata- ção de que o homem é apenas o sonho de uma sombra. Apesar de tudo, ele se conso- lará no mesmo poema: e como a vida é bela! O século XX, que para alguns foi curto, para outros foi dilatado em seu sofrimento. Foi o século da mais renhida luta entre a opressão totalitária e a dignidade dos seres humanos. É provável que nele não tenha havido um só dia sem algum confronto bélico. Mas, em que século os seres huma- nos conheceram a paz? Todos os tempos são opressivos, mas o nosso tempo é o mais pesado de todos, e não só porque nele nos toca viver. A tecno- logia nunca serviu tanto à tortura, ao vili- pêndio e à morte quanto serve hoje. Não há mais liberdade em nenhum lugar do mundo: os satélites nos ouvem e nos se- guem pelas câmeras de televisão, pelo telefone celular, pelo uso do cartão de cré- dito, pelo desenho de nossos olhos. Po- demos morrer, ao atender a uma chamada telefônica, e grilhões explosíveis por con- trole remoto impedem aos prisioneiros um direito sempre reconhecido, o de buscar a própria liberdade. Mauro Santayana. Sonhos e sombras. In: Cor- reio Braziliense. ―Opinião‖, 1.º/1/2003 (com adaptações). 8 LÍNGUA PORTUGUESA www.editoradince.com.br. Acesse e veja se há novidades a respeito deste material Com relação ao emprego das estruturas linguísticas do texto acima julgue os itens a seguir. 033 ( ) Pelo emprego dos pronomes na primeira pessoa do plural —―nos‖ (linhas 1, 23 e 27), ―nosso‖ (linha 22) e ―nossos‖ (linha 30) — e da forma verbal ―Po- demos‖ (linhas 30-31) o autor procura compartilhar as ideias com o leitor, inserindo-o no texto. 034 ( ) As expressões ―O poeta‖ (linha 3), ―Dele‖ (linha 8) e ―ele‖ (linha 10) constituem uma cadeia anafórica re- lativa a um mesmo referente: ―Píndaro‖ (linha 1). 035 ( ) Ao se substituir ―quanto‖ (linha 6) por como, o período torna-se incoerente. 036 ( ) Nas linhas 19-20, subentende-se da interrogação a ideia de que, em nenhum século, os seres humanos conheceram a paz. 1 5 10 A grande crise econômica dos anos 80 reduziu a taxa de crescimento dos países centrais à metade do que foram nos vinte anos que se seguiram à Segunda Guerra Mundial, levou os países em desenvolvimento a terem sua ren- da estagnada por 15 anos e intensificou o colapso dos regimes estatistas do bloco sovié- tico. Quando dizemos que esta grande crise teve como causa fundamental a crise do Esta- do - uma crise fiscal do Estado, uma crise do modo de intervenção do Estado no econômico e no social e uma crise da forma burocrática de administrar o Estado - está pressuposto Julgue os itens a seguir quanto à possibilidade ou não de darem continuidade ao texto que acima. 037 ( ) o sistema econômico no capitalismo contemporâ- neo, cuja coordenação é de fato realizada não apenas pelo mercado, como quer tal neoliberalismo conserva- dor desse notável economista neoclássico, mas tam- bém pelo Estado. 038 ( ) que o Estado, além de garantir a ordem interna, a estabilidade da moeda e o funcionamento dos merca- dos, tem um papel fundamental de coordenação eco- nômica. 039 ( ) de que o primeiro coordena a economia por meio de trocas, o segundo, por meio de transferências para os setores que esse não logra remunerar adequada- mente segundo o julgamento político da sociedade. 040 ( ) que, quando haveria uma crise importante no sistema, sua origem deverá ser encontrada ou no mercado, ou no Estado. 041 ( ) de que o mercado é o mecanismo de alocação eficiente de recursos por excelência, mas mesmo nes- ta tarefa sua ação deixa muitas vezes a desejar, dada não apenas a formação de monopólios, mas princi- palmente a existência de economias externas que es- capam ao mecanismo dos preços. (Adaptado de LuizCarlos Bresser Pereira) TEXTO 1 5 A força da História A História caprichosamente ofereceu aos brasileiros um símbolo de forte densidade, o de Tiradentes, para concretizar o mito do herói nacional. O lado generoso do chefe da rebelião anticolonial vem do transbor- damento de seus objetivos, no sentido de tornar coletiva a aspiração de ruptura e de liberdade. Não apenas um ato de particular conveniência no mundo das relações hu- 10 15 20 25 manas, mas uma articulação de vulto naci- onal. Enquanto os ativistas da Inconfidência (Tiradentes o maior e o mais lúcido de todos) e os ideólogos lidavam com catego- rias universais, que pressupunham os inte- resses da coletividade brasileira, outros aderentes circunstanciais, os magnatas e os devedores da fazenda Real, ingressa- ram no processo de luta a fim de resguar- dar vantagens particulares. Com efeito, a figura de Tiradentes implan- ta, na memória e no coração da nacionali- dade, o sentimento de poder e de grande- za que torna cada um de nós um íntimo dos seres sobrenaturais, um parceiro dos deuses. (Fábio Lucas, Luzes e trevas – Minas Gerais no século XVIII. Belo Horizonte: UFMG, 1998, p. 150-1; com adaptações) 042 ( ) O primeiro período sintático do texto constitui a frase-núcleo, a ideia central a ser desenvolvida no res- tante do texto. 043 ( ) O primeiro período sintático do texto admite a seguinte paráfrase: Ao concretizar o mito do herói na- cional, Tiradentes ofereceu à História e aos brasileiros um símbolo de forte densidade. 044 ( ) As seguintes expressões do texto têm ―Tiraden- tes‖ como referente: ―herói nacional‖ (linha 4), ―chefe da rebelião anticolonial‖ (linhas 4-5), ―vulto nacio- nal‖ (linha 10) e ―ativistas da Inconfidência‖ (linha 12). 045 ( ) As ideias de ―coletiva a aspiração de ruptura e de liberdade‖ (linhas 7-8), ―articulação de vulto nacional‖ (linhas 10-11), ―categorias universais‖ (linhas 14-15) e ―interesses da coletividade brasileira‖ (linhas 15-16) desenvolvem e explicam a ideia de ―transbordamento de seus objetivos‖. (linhas 5-6). 046 ( ) O segundo parágrafo estrutura-se sobre uma oposição: ativistas e ideólogos versus magnatas e devedores, correspondendo, respectivamente, a ―in- teresses da coletividade‖ e ―vantagens particula- res‖. TIPOLOGIA TEXTUAL. Observe os dois textos que seguem: Texto 1 1 5 10 15 A mata que cobria uma das margens de um rio estava em chamas. Um escorpião, vendo que iria morrer carbonizado, pede a um sapo, que se preparava para ir para a outra margem, que o leve nas costas. O sapo recusa-se, dizendo que o escorpião poderia picá-lo, este diz que não haveria nenhuma razão para isso, pois se o aguilhoasse, morreria afogado. Continua dizendo que ele poderia estar tranquilo, pois aferroá-lo era ir contra sua própria vida. O sapo consente, então, em transportá-lo. O escorpião pica-o. Sentindo a ação do veneno, o sapo indaga o porquê daquela atitude, já que ambos iriam mor- rer. O escorpião responde que não podia resistir à vontade de ferroar os outros. Texto 2 A índole das pessoas é imutável. Nenhuma cir- cunstância pode alterar a natureza do ser huma- no. LÍNGUA PORTUGUESA 9 www.editoradince.com.br. Acesse e veja se há novidades a respeito deste materialw Os dois textos dizem basicamente a mesma coisa. Expressam o ponto de vista daqueles que não crêem na possibilidade de transformação do homem por meio do processo educativo, dos que acreditam que as condições em que o ser humano vive não exercem nenhum papel no forjamento de suas características. Se os dois textos são semelhantes do ponto de vista do conteúdo, são comple- tamente diferentes no que diz respeito à composição. Em que reside essa diferença? O primeiro é mais concreto e o segundo, mais abstrato. Antes de prosseguirmos, vamos precisar o signifi- cado dos termos concreto e abstrato. Nossa tradição gramatical ensina que concretude e abstração são propri- edades dos substantivos: concreto é o que existe por si mesmo num dado universo de discurso; abstrato, o que só tem existência própria num outro ser. Enquanto ho- mem, mulher, fada, e saci têm existência própria num dado universo de discurso (por exemplo, a fada no uni- verso dos contos maravilhosos), orgulho, amor e ira só existem nas pessoas orgulhosas, que amam ou ficam iradas, não tendo, portanto, existência própria. Poderíamos alterar esse conceito e dizer que é concreto o que remete a algo presente no mundo natural, entendendo como mundo natural os mundo criados pela linguagem (assim não só casa pertence ao mundo natu- ral, mas também saci, pois é ele um ser que é parte do mundo natural delineado pelo nosso folclore). Abstrato seria, então, o que remete a algo não presente no mundo natural ( a tristeza, a imutabilidade, o ódio). Esse conceito não se restringe aos substantivos, mas se estende aos adjetivos e verbos: vermelho e abanar-se apresentam, do ponto de vista manifestado acima, mais concretude do que tolerante e invejar. Na verdade, concreto e abstrato não são dois pólos absolutamente opostos, mas formam um contínuo que vai do mais concreto ao mais abstrato. Voltemos aos nossos textos. O primeiro é mais concreto. Será chamado texto figurativo, pois é constituí- do de figuras, que são, então, termos concretos, ou seja, que remetem a algo presente no mundo natural. No pri- meiro texto, temos mata, rio, escorpião, picar, carboniza- do, etc. O segundo é mais abstrato. Será denominado texto temático, pois é organizado com temas, que são, pois, termos abstratos, isto é, que não remetem a algo presente no mundo natural, mas a categorias explicativas do que nele existe. No segundo texto, trabalhamos com termos como índole, imutável, circunstância, natureza. Os textos dividem-se, pois, em duas grandes cate- gorias: os figurativos e os temáticos. Uma observação impõe-se. Quando falamos textos figurativos e temáticos, pensamos em textos predominantemente, mas não exclu- sivamente, compostos de figuras ou temas. Com efeito, num texto figurativo podem aparecer termos abstratos e num temático, termos concretos. O que importa é que no figurativo predominam os concretos e no temático, os abstratos. Esses textos têm finalidades completamente dife- rentes. Os figurativos servem para simular, representar, figurar o mundo e as ações do homem. Têm pois uma função representativa. Graciliano Ramos representa com Fabiano e Sinhá Vitória, cujos maiores desejos eram, respectivamente, falar com seu Tomás da bolandeira e ter uma cama de couro como a dele, tantos fabianos e sinhás vitórias que, despossuídos de todos os bens materiais e espirituais estão colocados num nível infra-humano. Os textos temáticos têm uma função predicativa, isto é, destinam-se a explicar, a interpretar, a dar sentido ao mundo. Muitas vezes, textos figurativos e temáticos ver- sam sobre o mesmo assunto, um representando-o o outro explicando-o. Assim, o mito de Narciso, que narra a histó- ria de um belo moço, que, condenado a apaixonar-se por si mesmo, quando visse sua imagem, enamora-se de si mesmo no momento em que, curvando-se para tomar água numa fonte, vê sua imagem refletida, é um texto figurativo. Ele simula a atitude narcisística. Já o texto de Freud sobre o narcisismo explica uma determinada dire- ção da libido. Sob todo texto figurativo há temas. As figuras en- cadeiam-se nele com vistas a manifestar um dado tema. Assim, a compreensão desse tipo de texto passa pela apreensão dos temas subjacentes. São eles que dão sentido ao texto figurativo. Não se pode entender o texto abaixo sem apreender o tema do eternizar a vida, igno- rando sua fugacidade. 1 5 10 ―As rosas amo dos jardins de Adônis, Essas volucres amo, Lídia, rosas Que em o dia em que nascem Em esse dia morrem. A luz para elas é eterna, porque Nascem nascido já o sol, e acabam Antes que Apolodeixe O seu curso visível. Assim façamos nossa vida um dia, Inscientes, Lídia, voluntariamente Que há noites antes e após O pouco que duramos. PESSOA, Fernando. Odes de Ricardo Reis. Lisboa: Ática, p.30 Depois dos conceitos de texto temático e figurati- vo, deve-se introduzir o de narratividade. Deve ser enten- dida a narratividade como uma transformação de estado. Assim, em ―a amizade de Escobar fez-se grande e fecun- da‖, temos um enunciado narrativo porque ocorre a trans- formação de um estado de amizade ainda pequena para um estado de amizade grande e fecunda. Há dois tipos de transformações narrativas: a de aquisição e a de perda. A primeira é aquela em que se passa a ter algo; a segunda é aquela em que se é despo- jado de algo que se tem. Por exemplo. a) ―O Padre Cabral recebera na véspera um reca- do do internúcio; foi ter com ele, e soube que, por decreto pontifício, acabava de ser nomeado protonotário apostóli- co.‖ Aqui ha várias aquisições: o saber relativo ao recado, o saber concernete à nomeação, a obtenção do título. b) ―Dito isto, expirei às duas horas da tarde de uma sexta-feira do mês de agosto de 1869, na minha chácara do Catumbi.‖ Aqui temos uma perda: a passagem da vida à não-vida. Ao longo de nossa vida, entramos em contacto com múltiplos tipos de texto: poesia e prosa; literários e utilitários; políticos, religiosos e jornalísticos, etc. Podem- se fazer muitas classificações de textos. Cada uma delas tem base num dado critério. Nossa tradição escolar usa bastante uma determi- nada classificação e com base nela pretende que os alu- nos aprendam a redigir três tipos de textos: a dissertação, a narração e a descrição. No entanto, embora muito utili- zados, o conhecimento de cada um desses tipos é intuiti- vo. Eles não são definidos com muito rigor. Apesar disso, nas provas e nos vestibulares exige-se que os alunos componham redações utilizando, com precisão, cada um deles. Com base nos conceitos expostos acima (figura, tema e narratividade) vamos delinear as característica básicas desses tipos de texto com que, em geral, a escola trabalha. Antes de começar a estudar cada um deles, é pre- ciso ressaltar que dificilmente eles são encontrados em 10 LÍNGUA PORTUGUESA www.editoradince.com.br. Acesse e veja se há novidades a respeito deste material estado puro. Pode haver uma escala de narração, descri- ção e dissertação num mesmo texto. A primeira característica para elaborar a distinção é a oposição temáticoXfigurativo. A dissertação é um texto temático, enquanto a narração e a descrição são figurativos. A segunda característica a ser levada em conta é a narratividade. Tanto a dissertação quanto a narração apresentam mudanças de situação. Já a descri- ção não. Ao contrário, ela mostra propriedades e aspectos simultâneos do que é descrito, considerados, pois numa única situação. É preciso detalhar o que foi dito. Observe o texto que segue: 1 5 10 ―Mozart no céu No dia 5 de dezembro de 1791, Wolfgang Amadeus Mozart entrou no céu, como um artista de circo, fazendo piruetas extraordi- nárias sobre um mirabolante cavalo branco. Os anjinhos atônitos diziam: Que foi? Que foi? Melodias jamais ouvidas voavam nas linhas suplementares superiores da pauta. Um momento se suspendeu a contemplação inefável. A Virgem beijou-o na testa E desde então Wolfgang Amadeus Mozart foi o mais moço dos anjos.‖ BANDEIRA, Manuel. Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1983. p. 255. Observe que: a) o texto é figurativo, pois fala de Mozart, piruetas, anjinhos, branco, pauta, melodias, Virgem, etc. b) contém um conjunto de transformações de es- tado (a passagem da não-presença à presença no céu, alteração da atitude de contemplação inefável, etc.); c) as mudanças relatadas estão organizadas de tal maneira que entre elas existem relações de concomitân- cia, anterioridade e posterioridade (por exemplo, a entra- da de Mozart no céu é anterior ao beijo da Virgem; ser o mais moço dos anjos é posterior a esse beijo; o vôo das melodias é concomitante à entrada de Mozart no céu). Por essas razões, o texto acima é uma narração. As três características do texto narrativo são: a) é figurativo; b) mostra transformações de estado; c) apresenta variações de concomitância, anterio- ridade e posterioridade entre os episódios relatados. Essas relações temporais (concomitância, anterio- ridade e posterioridade) são sempre necessárias à consti- tuição de uma narração, mesmo que sua linearidade este- ja alterada no texto. O leitor, para compreender a narrati- va, precisa reconstituir essas relações: saber o que acon- teceu antes, ao mesmo tempo e depois. Note que estamos distinguindo narratividade e nar- ração. A primeira é uma transformação de situação, que pode estar presente também no texto dissertativo. A se- gunda é um texto figurativo em que há transformações. A narração tem a finalidade de constituir um simu- lacro da ação do homem no mundo. Há basicamente dois modos de narrar: em 3ª pes- soa e em 1ª. No primeiro, o narrador se ausenta do texto; no segundo, introduz-se nele dizendo eu. No trecho abaixo o narrador não está presente.è um texto em 3ª pessoa: Um crioulo trouxe o café. Rubião pegou na xícara e, enquanto lhe deitava o açúcar, ia disfarçadamente mirando a bandeja, que era de prata lavrada. Prata, ouro, eram os metais que amava de coração; não gostava de bronze, mas o amigo Palha disse-lhe que era matéria de preço, e assim se explica este par de figuras que aqui está na sala, um Menfistófeles e um Fausto. Tivesse, porém, de escolher, escolheria a bandeja, - primor de argentaria, execução fina e acabada.‖ ASSIS, Machado de. Obras completas. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1979 V 1, p.643. Neste outro o narrador conta o que acontece com ele. Por isso, diz eu. ―Marcela amou-me durante quinze meses e onze contos de réis, nada menos. Meu pai, logo que teve a aragem dos onze contos, sobressaltou-se deveras; achou que o caso excedia as raias de um capricho juvenil.‖ ASSIS, Machado de. Obras completas. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1979 V 1, p.536 Não é indiferente narrar em 1ª ou 3ª pessoa. Cada um desses modos cria um determinado efeito de sentido. Narrar em 3ª pessoa dá objetividade ao texto; contar em 1ª pessoa confere subjetividade ao texto. Se o texto é construído em 3ª pessoa, os fatos parecem narrar-se por si mesmos, parecem ser do jeito que são, parece que ninguém interferiu neles. Por isso, o texto científico não admite a 1ª pessoa. Se alguém dissesse: ―Eu afirmo que a Terra é redonda‖, poderia dar a entender que esse é um ponto de vista particular. Mas no enunciado ―A Terra é redonda‖ deixa-se implícito que isso é uma verdade uni- versal. Nada é gratuito na composição dos textos. Observe agora o texto que segue: 1 5 10 15 20 25 ―O fogo crescia ímpetos de entusiasmo, como alegrado dos próprios clarões, des- feiteando a noite com a vergasta das laba- redas. Sobre o pátio, sobre o jardim, por toda a circunvizinhança choviam fagulhas, con- trastando a mansidão da queda com os tempestuosos arrojos do incêndio. Por toda a parte caiam escórias incineradas, que a atmosfera flagrante repetia para longe como folhas secas de imensa árvore sacu- dida. (...) Às vezes, a um novo alento das chamas, a coluna ardente desenvolvia-se muito, e avistavam-se as árvores terrificadas, imó- veis, as mais próximas crestadas pelas ondas de ar tórrido que o incêndio despe- dia. As alamedas, subitamente esclareci- das, multiplicavam as caras lívidas, olhan- do. Na rua, ouvia-se arquejar pressurosa- mente uma bomba a vapor; as manguei- ras, como intermináveis serpentes, insinu- avam-se pelo chão, colavam-se às pare- des, desapareciam por uma janela. Nas cimalhas, destacando-se em silhueta, so- bre as cores terríveis do incêndio, moviam- se os bombeiros.‖ POMPÉIA, Raul.O Ateneu. Rio de Janeiro: Tecnoprint, 1965. p.185. (Edições de Ouro) Esse texto que descreve o incêndio no Ateneu, apresenta as seguintes características: a) é figurativo, pois fala de pátio, jardim, fagulhas, crestado, colar-se, etc.; b) todas as frases apresentam ocorrências simul- tâneas (ao mesmo tempo que se multiplicavam caras lívidas, ouvia-se o arquejar de uma bomba a vapor); por isso, não existem no relato relações de anterioridade e LÍNGUA PORTUGUESA 11 www.editoradince.com.br. Acesse e veja se há novidades a respeito deste materialw posterioridade (por não haver esse tipo de relação crono- lógica, a sequência dos enunciados poderia ser alterada); c) não há no texto transformações de estado (por exemplo, nada indica a passagem da ausência do fogo para sua presença: o incêndio já está lá); d)ainda que o texto apresente ações e processos verbais, todos eles estão no pretérito imperfeito, que indi- ca concomitância durativa em relação a um marco pretéri- to instalado no texto (no caso, um dia do passado em que ocorreu o incêndio) e, por isso, não indicam nenhuma transformação. Por essas características, pode-se dizer que o tex- to em questão é descritivo. Descrição é o tipo de texto em que se expõem características de seres e fatos concretos (pessoas, objetos, situações, etc.) considerados fora da relação de anterioridade e posterioridade. Constrói um simulacro do mundo. As características do texto descritivo são: a) é figurativo; b) não relata mudanças de situação, mas proprie- dades e aspectos simultâneos dos elementos descritos, considerados, pois, numa única situação; c) como o que se apresenta numa situação é si- multâneo, a concomitância é a única relação presente num texto descritivo. A característica fundamental da descrição é a ine- xistência de progressão temporal, isto é, que o que se diz é simultâneo e que, portanto, não se pode estabelecer relação de anterioridade e posterioridade entre os enunci- ados. Numa descrição, podem perfeitamente ser expostos movimentos e ações, desde que sejam simultâneos, não indicando, pois, progressão de uma situação anterior a uma posterior. Uma das marcas linguísticas da descrição é o predomínio absoluto de verbos no presente e no pre- térito imperfeito do indicativo, uma vez que ambos indi- cam concomitância, o primeiro em relação ao momento da fala, o segundo em relação a um momento pretérito instalado no texto. O segundo indica uma simultaneidade durativa em relação ao passado. Para transformar uma descrição numa narração basta introduzir nela a indicação de passagem de um estado antecedente para um subsequente. Por exemplo, se na primeira frase do texto acima trocarmos o pretérito imperfeito ―crescia‖ pelo pretérito perfeito ―cresceu‖ já estaremos introduzindo uma transformação de estado: o fogo passou de pequeno a grande. Observe o texto que segue: 1 5 10 15 ―E a História do Brasil é, para Paulo Prado, o desenvolvimento desordenado dessas obsessões – a luxúria e a cobiça – que do- minam o espírito e o corpo de suas vítimas. Dos excessos da vida sensual ficaram tra- ços no caráter do brasileiro, pois ‗os fenô- menos de comportamento não se limitam a funções sensoriais e vegetativas; esten- dem-se até o domínio da inteligência e dos sentimentos. Produzem no organismo per- turbações somáticas e psíquicas, acompa- nhadas de uma profunda fadiga, que facil- mente toma aspectos patológicos, indo do nojo até o ódio‘. Como ao lado da sensuali- dade havia a cobiça, a luta entre esses apetites iria criar uma raça triste: ‗a triste- za sucedeu à intensa vida sexual do colono, desviado para as perversões eróticas, de um fundo acentuadamente atávico‘; de 20 outro lado, a cobiça não permite saciedade e ‗no anseio da procura afanosa, na desilu- são do ouro, esse sentimento é também melancólico, pela inutilidade do esforço e pelo ressaibo da desilusão‘.‖ LEITE, Dante Moreira. O caráter nacional brasi- leiro: história de uma ideologia. 3ªed. São Paulo: Pioneira, 1976. p.263. Esse texto explica a concepção de Paulo Prado de que a História do Brasil é o desenvolvimento da luxúria e da cobiça e que isso deixou traços no caráter nacional. Observe que: a) o texto é temático, pois analisa e observa o mundo, usando, para tanto, termos abstratos. Fala ele de desenvolvimento, obsessões, luxú- ria, cobiça, perversões, eróticas, somáticas, psíquicas, etc. (sua função é explicar fatos da realidade); b) o texto apresenta mudanças de situação, em geral implícitas (por exemplo, da inexistência de uma raça triste à sua existência, pela luta entre a luxúria e a cobiça; a passagem de um estado de intensa vida sexual a um estado de tristeza); c) a progressão temporal dos enunciados não tem qualquer importância, pois o que interessa no texto são as relações de causalidade (o brasi- leiro é triste porque...). Esse é um texto dissertativo. Dissertação é o tipo de texto que se destina a analisar, interpretar e explicar os dados da realidade. Suas características são: a) é temático; b) apresenta mudanças de situação; c) não têm nele maior importância as relações de anterioridade e posterioridade dos enunciados, mas sim suas relações lógicas: analogia, perti- nência, causalidade, coexistência, implicação, correspondência, etc. Resumindo, podemos dizer que os textos narrati- vos e descritivos são figurativos. Os primeiros mostram as mudanças de estado de um ser particular, com os enunci- ados encadeados numa progressão temporal, isto é, nu- ma relação de anterioridade e posterioridade. Os segun- dos expõem propriedades e aspectos de um ser ou um fato particular organizados numa relação de simultaneida- de. O texto dissertativo é temático. Busca explicar e ordenar a realidade. Por isso, trabalha com conceitos abstratos, com modelos gerais, muitas vezes abstraídos do tempo e do espaço. Nele, as relações de anterioridade e posterioridade ombreiam-se com as demais relações lógicas. A dissertação também aborda mudanças de es- tado, mas o faz de maneira diferente da narração. En- quanto o centro desta é o relato das mudanças, o daquela é a explicação e a interpretação das transformações rela- tadas. O estudo das características dos textos narrativos, descritivos e dissertativos tem uma dupla função: de um lado, determinar o tipo de texto que se analisa ajuda a compreender melhor os sentidos que ele veicula, uma vez que cada uma das classes de texto se destina a apresen- tar significados de uma certa maneira; de outro, tomar consciência das diferenças constitutivas dos diversos tipos de texto auxilia a tornar a produção textual mais eficiente. Assim, o estabelecimento de uma tipologia tex- tual não concerne somente à recepção do texto, mas também a sua produção. Esse duplo objetivo deve ficar bem marcado para que não se pense que o ensino da 12 LÍNGUA PORTUGUESA www.editoradince.com.br. Acesse e veja se há novidades a respeito deste material leitura e o da redação são coisas completamente diver- sas. Ao contrário, são indissociáveis. Embora de pontos de vista diferentes, os mecanismos são levados em conta tanto no ato de ler quanto no de redigir. Há um último ponto a discutir. Geralmente se pen- sa que é só na dissertação que o produtor do texto mani- festa um ponto de vista sobre um determinado assunto. Isso é errôneo. Também na descrição e na narração es- tão presentes os pontos de vista de quem elabora o texto. O que varia é a maneira como esses pontos de vista são manifestados em cada tipo de texto. No texto dissertativo, por ser um texto temático, eles são expressos explícita e diretamente. Assim por exemplo: Texto 1 5 10 ―Apesar do empenho inegável que o sr. de- dica à tarefa de desmantelar os partidos, abater as entidades empresariais e os sindi- catos, sufocar as organizações culturais e intimidar a imprensa, prevalecendo-se dadesordem ideológica de nossa época, açam- barcando a torto e a direito bandeiras, que vão do moralismo mais tacanho à ecologia, inspirando-se em estereótipos aqui do fa- cismo, acolá da social-democracia, mas lan- çando sempre uma névoa cintilante de con- fusão sobre a sociedade - apesar disso tudo o sr. é obrigado a ouvir vozes capazes de dizer não.‖ FRIAS FILHO, Otávio. Carta aberta ao sr. presidente da República. Folha de São Paulo, São Paulo, 25/4/91, p.1. Numa descrição, quem faz o texto manifesta seus pontos de vista, entre outros recursos, pela adjetivação escolhida e pelos aspectos selecionados. Observe no texto abaixo como há uma reticência do produtor em rela- ção ao Gallery: 1 5 10 ―Saindo-se dele (do pequeno hall de entra- da), há uma encruzilhada. À direita, por uma escada, sobe-se ao bufê. Pela esquer- da, entra-se no bar e, depois, no restauran- te. (Um belo piano-bar, onde o cantor Jorge Rodrigues, acompanhado ao teclado por Pachá, enleva pares românticos, com sua voz de Bob Short. É um bom restaurante, no qual os cristais, como as porcelanas, são finos e os talheres, a exemplo dos preços, são pesados.) Em frente, vai à boate. Há telas, esculturas, grades, colunas e tapeça- rias por todos os lados, formando um ambi- ente que é um misto de trem fantasma, museu e boate.‖ VEJA EM SÃO PAULO. São Paulo: Ed. Abril, 6- 12/5/1991, p. 17-18 Na narração há muitos meios de manifestar pontos de vista, um deles é a seleção de figuras. Dizer ―sem terras ocupam terreno na zona leste‖ expressa uma visão de mundo diferente de ―Bando de desocupados invade propriedade na zona leste‖. Quando se narra a história de um presidente que dizia trabalhar pelos pobres e caçar marajás e que aprovava um generosa doação do Tesouro aos usineiros e que admitia que um ministro mantivesse uma acumulação irregular de cargos, o confronto entre o dizer e o fazer revela um ponto de vista sobre esse presi- dente. Aqui estão algumas características do dissertar, do narrar e do descrever. Essas características não constitu- em uma fôrma que limita o engenho humano. Ao contrá- rio, o homem serve-se delas para criar textos muito varia- dos. Misturando diferentes tipos, forja o novo o inusitado. A criatividade consiste em juntar ingredientes idênticos de maneira diferente. No poema ―O ferrageiro de Carmona‖, de João Cabral, o ferrageiro ensina ao poeta que há duas maneiras de trabalhar o ferro: a fundição e o forjamento. Na primeira, é uma fôrma que dá forma ao ferro; na se- gunda, é a mão do homem. O ferrageiro diz que o ferro não deve fundir-se, pois o verdadeiro trabalho com o ferro é o forjamento. 1 5 ―Só trabalho em ferro forjado que é quando se trabalha o ferro: então, corpo a corpo com ele, domo-o, dobro-o, até o onde eu quero. O ferro fundido é sem luta, é só derramá-lo na fôrma. Não há nele a queda-de-braço e o cara-a-cara de uma forja.‖. MELO NETO, João Cabral de. ―O ferrageiro de Carmo- na‖. In _____. Crime na calle Relator. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1987, p. 31-32. O fero é figura da linguagem. Não se trabalha com ela por meio de fôrmas, mas, num cara-a-cara, domando- a, dobrando-a, até que ela expresse o sentido que se quer. O estudo dos tipos não pode ser usado para cercar a criação (o forjamento), mas para ajudá-la. O trabalho pedagógico não é um freio à experimentação, mas um acicate a ela. A importância da tipologia é permitir uma melhor expressão dos sentidos e não restringi-la. Talvez este texto suscite muitas dúvidas, muitas questões, muitas perguntas. Mas como dizia Guimarães Rosa: ―Vivendo, se aprende; mas o que se aprende, mais, é só fazer outras maiores perguntas‖. FIORIN, José Luiz (1991). ―Tipologia dos textos‖. In LOPES, Harry Vieira et alii (org.) Língua Portuguesa – O currículo e a compreensão da realidade. São Paulo, Secretaria de Estado de Educação/Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas, 1991: 33-42. EXERCÍCIOS 1 5 10 15 20 25 A Revolução Industrial provocou a dissoci- ação entre dois pensamentos: o científico e tecnológico e o humanista. A partir do século XIX, a liberdade do homem começa a ser identificada com a eficiência em do- minar e transformar a natureza em bens e serviços. O conceito de liberdade começa a ser sinônimo de consumo. Perde importân- cia a prática das artes e consolidam-se a ciência e a tecnologia. Relega-se a preocu- pação ética. A procura da liberdade social se faz sem considerar-se sua distribuição. A militância política passa a ser tolerada, mas como opção pessoal de cada um. Essa ruptura teve o importante papel de contribuir para a revolução do conheci- mento científico e tecnológico. A sociedade humana se transformou, com a eficiência técnica e a consequente redução do tempo social necessário à produção dos bens de sobrevivência. O privilégio da eficiência na dominação da natureza gerou, contudo, as distorções hoje conhecidas: em vez de usar o tempo livre para a prática da liberdade, o homem reorganizou seu projeto e refez seu objeti- vo no sentido de ampliar o consumo. O avanço técnico e científico, de instrumento LÍNGUA PORTUGUESA 13 www.editoradince.com.br. Acesse e veja se há novidades a respeito deste materialw 30 35 40 da liberdade, adquiriu autonomia e passou a determinar uma estrutura social opressi- va, que servisse ao avanço técnico e cien- tífico. A liberdade identificou-se com a ideia de consumo. Os meios de produção, que surgiram no avanço técnico, visam ampliar o nível dos meios de produção. Graças a essa especialização e priorização, foi possível obter-se o elevado nível do potencial-de-liberdade que o final do sécu- lo XX oferece à humanidade. O sistema capitalista permitiu que o homem atingisse as vésperas da liberdade em relação ao trabalho alienado, às doenças e à escas- sez. Mas não consegue permitir que o po- tencial criado pela ciência e tecnologia seja usado com a eficiência desejada. (Cristovam Buarque, Na fronteira do futuro. Brasília: EDUnB, 1989, p. 13; com adaptações) Julgue os itens abaixo, relativos às ideias do texto 047 ( ) O conceito de ―liberdade‖ é tomado como sinôni- mo de consumo e de eficiência no domínio e na trans- formação da natureza em bens e serviços. 048 ( ) O autor sugere que o sistema capitalista apresen- ta a seguinte correlação: quanto mais tempo livre, mais consumo, mais lazer e menos opressão. 049 ( ) Depreende-se do primeiro parágrafo que a ética foi abolida a partir do século XIX. 050 ( ) No segundo parágrafo, a expressão ―Essa ruptu- ra‖ retoma e resume a ideia central do parágrafo ante- rior. 051 ( ) O emprego da expressão ―as vésperas da liber- dade‖ (linha 41) sugere que a humanidade ainda não atingiu a liberdade desejada. Quanto à organização do texto, julgue os itens a seguir. 052 ( ) A argumentação do texto estrutura-se em três eixos principais: ciência e tecnologia, busca da liber- dade e militância política. 053 ( ) A tese para esse texto argumentativo pode assim ser resumida: nem todo ―potencial-de-liberdade‖ gera liberdade com a eficiência desejada. 054 ( ) Para organizar o texto, predominantemente argu- mentativo, o autor recorre a ilustrações temáticas e trechos descritivos sobre condições das sociedades. 055 ( ) A ideia de melhor aproveitamento do tempo como resultado da eficiência técnica é um argumento utiliza- do para provar a necessidade de lazer e descanso dos homens. 056 ( ) O fragmento a seguir, caso fosse utilizado como continuidade do texto, manteria a coerência da argu- mentação: Existe, assim, uma ambiguidade entre a ampliação dos horizontes da liberdade e os resulta- dos, de fato, alcançados pelo homem. PROCESSO DE FORMAÇÃO DAS PALAVRAS A língua portuguesa dispõe de diferentes proces- sos de combinação de morfemas para formar novas pala- vras. Para compreender
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