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Comunicação Comunitária e Terceiro Setor Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof.ª Dr.ª Regina Tavares de Menezes Conceituação de Comunicação Comunitária • Conceituação de Comunicação Comunitária. • Estudar sobre o conceito da comunicação comunitária; • Conhecer o seu surgimento e seus principais instrumentos. OBJETIVOS DE APRENDIZADO Conceituação de Comunicação Comunitária Orientações de estudo Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua formação acadêmica e atuação profissional, siga algumas recomendações básicas: Assim: Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e horário fixos como seu “momento do estudo”; Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo; No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você tam- bém encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados; Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus- são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e de aprendizagem. Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Determine um horário fixo para estudar. Aproveite as indicações de Material Complementar. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma Não se esqueça de se alimentar e de se manter hidratado. Aproveite as Conserve seu material e local de estudos sempre organizados. Procure manter contato com seus colegas e tutores para trocar ideias! Isso amplia a aprendizagem. Seja original! Nunca plagie trabalhos. UNIDADE Conceituação de Comunicação Comunitária Conceituação de Comunicação Comunitária Até o momento, tudo que vocês viram na graduação dizia respeito à comunica- ção de massa, não é mesmo?! Ou seja, uma comunicação feita por profissionais da área para um público homogêneo, imensurável e que nem sempre interage de forma direta com o emissor da mensagem. Figura 1 Fonte: Getty Images Mensagem ReceptorEmissor Figura 2 Muito bem, na comunicação comunitária a situação muda. A comunicação co- munitária ou comunicação popular e alternativa como também é chamada surgiu durante o regime militar como uma alternativa aos movimentos sociais interessa- dos na democratização da comunicação. Isso mesmo, já que os meios de comu- nicação estavam censurados e nem sempre podiam declarar a real situação pela qual o país enfrentava; inúmeras comunidades encontraram formas diferenciadas de se comunicar. Seus principais instrumentos são: o boletim, o jornal de bairro, o “jornal poste”, a rádio comunitária, a TV comunitária, o vídeo-documentário e, mais recentemente, a internet e suas redes sociais. A comunicação comunitária conta com a participação direta do povo na produ- ção de produtos midiáticos, na divulgação de notícias, informações, serviços e na valorização da cultura local. Segundo a Prof.ª Cecília Peruzzo, uma das maiores estudiosas da área, “O par- ticipante, além de contribuir formulando conteúdos, tem o poder de atuar no pro- cesso de decisões relativas aos conteúdos dos meios e à sua gestão” (PERUZZO, 2003, p. 248). 8 9 Por ser comunitária, este tipo de comunicação tem alcance limitado e procura identificação com o público ao qual se destina. Isso não significa que um movimen- to social mundial não possa se utilizar de redes sociais como Orkut, Facebook e Youtube para se manifestar, ok?! Note que a compreensão da comunicação comunitária está estritamente relacio- nada com a distinção dos termos “comunidade” e “sociedade”. Confira as princi- pais diferenças no quadro abaixo: Tabela 1 COMUNIDADE SOCIEDADE Característica social Confraternização Troca Relação social dominante Parentesco e boa vizinhança Cálculo racional Instituições fundamentais Família, amizade, ideal Estado Capitalista O indivíduo na ordem social Parte do coletivo Indivíduo Forma de riqueza característica Terra Dinheiro Tipo de Direito Familiar, de amizade etc Contratual Ordenação das instituições Vida familiar, rural e urbana Vida de cidade, racional e cosmopolita Tipo de controle social Concórdia ou harmonia, morais e costumes populares e da religião Convênio, legislação e opinião pública Comunidade não diz respeito a um pequeno grupo de objetos ou pessoas em comum num determinado espaço limitado. Comunidade subentende uma proximi- dade e um forte elo entre os membros, que muitas vezes não se limita a ligações geográficas. Um exemplo claro são as comunidades “virtuais”. Grupos que se re- únem em sites ou fóruns na Internet e que, apesar de viverem em comunidades físicas diferentes, compactuam de mesma opinião, ideologia, necessidade. A comunicação comunitária pode ser caracterizada seguindo os parâmetros abaixo: • A mensagem é de...: » Interesse público/comunitário x Interesses particulares. • A mensagem faz...: » Prestação de um serviço: Informes, Avisos, Campanhas etc. Ex.: Anúncio de campanhas de saúde, matrícula nas escolas, vagas de em- prego, manifestações por moradia/educação/cultura/tolerância etc. • A mensagem trata de...: » Dilemas e desafios da comunidade; » Participação dos moradores na solução dos problemas (mobilização social). • A mensagem procura...: » Valorização da cultura local (História, Artistas, Tradições, Religiões, Festas, Memória etc). 9 UNIDADE Conceituação de Comunicação Comunitária • O público-alvo: » A própria comunidade (todos os moradores); » Meus vizinhos, minhas amigas, meus amigos, meus inimigos etc. • A linguagem: » A mais adequada para que a comunidade compreenda da melhor forma os conteúdos locais e globais; » Gírias locais, pensamento embasado – geralmente – no senso comum. Pre- tende-se também educar/conscientizar etc. • A sustentabilidade financeira desses veículos: » Anúncios de comerciantes locais; » Patrocínio de agências financiadoras de projetos sociais; » Festas, promoções, bingos, colaboração dos moradores, apoio de universitários. COMUNICAÇÃO COMUNITÁRIA PARA PELA – DA – COM – a COMUNIDADE Ao total, até o final da década de 1980, havia mais de 33 definições diferentes para o termo “comunicação popular”. Para alguns autores, a comunicação popular não pode ser identificada pela clas- se social daquele que a realiza, na medida em que qualquer indivíduo de classe so- cial adversa pode estar comprometido com os ideais das classes populares. Carlos Eduardo Lins da Silva ressalta: (...) podemos dizer que alguns jornais defendem os interesses das classes populares, mas não são feitos por elas nem a elas se destinam. Outros, embora tenham as classes populares como destinatárias principais, defen- dem os seus interesses, não são feitos por elas. Outros, ainda defendem os interesses das classes populares, são por elas produzidos e a elas diri- gidos. (GOMES, 1987, p. 46) Não podemos negar, contudo, que a comunicação popular tem a ver com o povo e seus próprios códigos e que seu principal objetivo deve ser a promoção da justiça social. A linguagem também não serve como parâmetro na definição do que é comu- nicação popular, tendo em vista que a linguagem pode ser lexicalmente popular e não servir aos ideais das classes populares, como era o caso do jornal Notícias Populares, marcado na história da imprensa como um jornal sensacionalista. 10 11 Figura 3 E a mensagem? Bom, autores como Gomes acreditamna importância de se vincular a mensagem à realidade social. Para o autor, a comunicação popular não anda sozinha, sempre está aliada a um movimento organizado e interessado em enfrentar a manipulação e a opressão de classes dominantes: “Sozinha, a comuni- cação não vai modificar a sociedade, por melhor que se realize; ela pertence à instância superestrutural”. (ibidem, p. 51) A condição histórica na qual a prática comunicativa está inserida também diz muito. Para Regina Festa - outra autora significativa em Comunicação Comunitária - o Brasil carrega, marcadamente, esta característica: No campo da comunicação (alternativa e popular) no Brasil, e ao contrá- rio do que ocorre na Europa ou Estados Unidos, a principal característica da produção cultural é a identidade com as formas de opressão social. (FESTA, 1986, p. 29) Sendo assim, a ditadura militar na história latino-americana e em especial no Brasil foi determinante para o surgimento da comunicação comunitária em con- traponto aos grandes conglomerados da comunicação de massa. Ou seja, a co- municação é um fenômeno social por excelência, cuja forma varia de acordo com as possibilidades do ambiente. Nas próximas unidades, compreenderemos esse período histórico conturbado no Brasil e no mundo. Após avaliar o argumento de inúmeros pesquisadores, podemos entender que a comunicação é popular pela “(...) forma como se conduz o processo e o contexto no qual se insere. O problema da comunicação não é tanto o que dizer, mas como dizê-lo.” (GOMES, 1987, p. 114) Em relação ao conceito de 11 UNIDADE Conceituação de Comunicação Comunitária alternativo: “O contexto alternativo não é a comunicação alternativa, mas apenas o que torna uma comunicação popular.” (GOMES, 1987, p. 58). Deu para entender? Ex pl or Então a comunicação é popular ou comunitária, de acordo com a organização da mensagem. Ou seja, como ela é transmitida, preparada, compreendida e assim por diante. Contudo, é o contexto de um país e – em tempos de globalização, do mundo – que dá o tom de “alternativo” desse tipo de comunicação. E não precisa haver uma ditadura militar para as pessoas se unirem e montarem seus próprios veículos de comunicação. Hoje, as comunidades mais diversas se identificam com seus próprios jornais, seus blogs, suas revistas etc. Estamos falando dos Punks, dos Emos, dos Homossexuais, dos Músicos, dos Vegetarianos e assim por diante. E você em qual comunidade está inserido? Com qual veículo comunitário você se identifica ou até participa ativamente? E você em qual comunidade está inserido? Com qual veículo comunitário você se identifica ou até participa ativamente?Ex pl or Para Peruzzo, na atualidade, pós-ditadura militar, a comunicação popular se identifica com a cultura. Como escreveu Canclini, trata-se de uma nova maneira de pensar o po- pular, ligando comunicação e cultura. Ela ocupa-se da comunicação no contexto de organizações e movimentos sociais vinculados às classes su- balternas ou, como dizem enfaticamente, da comunicação “ligada à luta do povo” por melhores condições de existência e pela sua emancipação, mediante movimentos de base organizados. (PERUZZO, 1998, p. 119) Nesse sentido, a autora identificou três correntes de estudo. A primeira diz respeito ao popular-folclórico. Trata-se das expressões culturais tradicionais do povo, como os ritos, os mitos, as festas e as crenças. Exemplo: a Festa do Divino. A segunda seria o popular-massivo. Ela refere-se à ocasião em que a comunica- ção de massa se apropria da cultura popular, de sua linguagem e de outras ca- racterísticas em busca de altos índices de audiência. Exemplo: o carnaval. Como foi citado anteriormente, o jornal Notícias Populares também é um exemplo notório. Por fim, a terceira corrente refere-se ao popular-alternativo. Como é o caso do jornal abaixo (GRITA POVO, nº 4, nov. 1982. p. 8): 12 13 Figura 4 Os estudos de comunicação popular também suscitaram questões pertinentes à Teoria da Comunicação, a começar pela valorização do receptor (Ver esquema do processo da comunicação anteriormente), por muito tempo, ele foi des- prezado pelos pesquisadores em comunicação, uma vez que não era considerado como sujeito de atitudes autônomas e imprevisíveis. Antes, acreditavam que o receptor era incapaz de escapar às imposições da Indústria Cultural. 13 UNIDADE Conceituação de Comunicação Comunitária O receptor deixava de ser identificado com a massa amorfa e uniforme, pas- siva e manipulável, passando a ocupar o lugar do dominador - o trabalhador organizado, a feminista, o militante -, cujas apropriações expressavam um receptor crítico. (HOHLFELDT; MARTINO; FRANÇA, 2001, p. 264) Atualmente, assumiu-se, então, que o “sujeito-receptor” (não profissional da área de comunicação) era capaz de ser produtor da mensagem midiática, de acordo com as condições que o seu ambiente sócio-político e cultural lhe oferece, assim como também pode refletir criticamente sobre a mensagem que a comunicação de massa lhe impunha. Isso mesmo! Também faz parte das atribuições da comunica- ção comunitária, refletir sobre a comunicação de massa, como podemos conferir no exemplo abaixo. Figura 5 14 15 Alguns estudiosos acreditam que a comunicação comunitária atingiu seu ápice em períodos críticos como o regime militar. Há uma sensação de apatia no ar, inclusive no que diz respeito à formação de novos líderes populares. Hoje, apa- rentemente, o ambiente democrático forja uma liberdade de expressão no setor da comunicação, entretanto isso não se confirma, quando pensamos na natureza da comunicação de massa no Brasil. Vale dizer que, em pleno século XXI, a concessão de veículos de comunica- ção tornou-se “barganha eleitoral” na mão do governo. Oligopólios formam-se no país, a fim de impor à população uma visão de mundo manipulada.1 Em última instância, iniciativas de comunicação popular que têm tido ressonân- cia em comunidades por todo o país são combatidas severamente pelo Estado com proibições e regulamentações. Um bom exemplo estaria no constante conflito entre rádios comunitárias e a Anatel. Obviamente, há muitos exemplos que expõem a distorção do objetivo das necessi- dades locais e se maquiam sob outros interesses. É o caso de rádios ditas comunitárias, mas que na verdade transmitem mensagens de uma única vertente religiosa ou política. “(...) por exemplo, a existência de meios de comunicação que se dizem comunitários, mas que de fato servem a outros interesses - políticos eleitorais, religiosos, financeiros e personalísticos.” (PERUZZO, 2003, p. 249). Mas, dificilmente encontra-se uma saída para esses problemas. Sabe por quê? A fiscalização É FALHA! Portanto, precisamos ser CRÍTICOS! Figura 6 1 “Presente em todos os estados, a maioria dos principais grupos regionais de mídia são afiliados à Globo, o que não impede que 86% dos seus veículos estejam concentrados na região de maior circulação de verba publicitária, o Su- deste. Do total da verba publicitária, abocanha US$ 1,5 milhão, deixando US$ 600 milhões para o SBT e 300 para a BanDom O resultado é uma audiência de 54% , contra 23% dos índices alcançados pelo SBT, sua concorrente mais próxima. Subordinados às cabeças-de-rede, que dominam os principais mercados, os grupos afiliados à Re- cord, Band, SBT e Globo também reproduzem a concentração do mercado, ficando restritos a pequenos mercados regionais.”(WANDELLI, R. Pesquisa mostra cartelização da mídia brasileira. São Paulo: INSTITUTO GUTEMBERG - CENTRO DE ESTUDOS DA IMPRENSA, 2002) 15 UNIDADE Conceituação de Comunicação Comunitária Neste caso, cabe ao público ter o discernimento e perceber quando as informa- ções estão sendo tendenciosas e se escondem atrás do espaço comunitário para tentar impor ideologias e opiniões que não refletem, em momento algum, os inte- resses de determinada comunidade. Apesar dos impasses já citados acima, como a oligopolização da mídia brasileira e a punição do governo às rádios comunitárias;eu acredito que a comunicação popular ainda se mantém ao longo da história, como alternativa, dialógica, comu- nitária e revolucionária. Já sei... Você deve estar se perguntando: Por que uma disciplina como essa faz parte de um curso dito profissional? Então, não estou me formando para atuar na comunicação de massa? Pois é, eu lhe respondo o seguinte: o mundo mudou e a comunicação comuni- tária nos desperta um novo olhar diante dos produtos de comunicação de massa. Trata-se de um olhar crítico e consciente. Trata-se de nossa responsabilidade social como profissionais da comunicação. Afinal, você não será um mero “apertador de botões” no mercado de trabalho e sim um verdadeiro “agente histórico”; capaz de interferir no curso da história do seu país, da sua cidade, do seu bairro, da sua rua... Como disse, Paulo Freire, “É impossível tocar a realidade de luvas”. É como se em comunicação comunitária, tirássemos as luvas. Por outro lado, a comunicação comunitária deixou os movimentos sociais de combate à ditadura para trás e hoje faz parte do repertório do 3º setor. Na atu- alidade, as mais variadas ações de comunicação comunitária empenhadas nesse novo nicho de trabalho abrigam inúmeros profissionais de nossa área e você deve desenvolver uma série de competências e habilidades para lidar com ela. Mas, esse é um assunto para a nossa próxima unidade. Até lá! 16 17 Referências BELTRÃO, L. Comunicação popular e religião no Brasil. 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